quarta-feira, 6 de agosto de 2025

.: Novo “Drácula - Uma História de Amor Eterno” traz nova abordagem ao clássico


Por 
Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com. 

O filme “Drácula - Uma História de Amor Eterno” (“Dracula: A Love Tale") estreia nos cinemas brasileiros em 7 de agosto de 2025, trazendo uma nova abordagem ao clássico personagem criado por Bram Stoker. Com direção e roteiro de Luc Besson, a produção franco-britânica reimagina a trajetória do lendário vampiro, agora interpretado por Caleb Landry Jones.

Na trama, Drácula é um príncipe do século XV que, devastado pela morte da esposa, entrega-se à escuridão e à imortalidade. Séculos mais tarde, já na Londres da Belle Époque, ele encontra uma jovem idêntica à amada perdida, vivida por Zoë Bleu, e passa a persegui-la em nome de um amor que desafia o tempo.

O elenco também conta com Christoph Waltz, no papel de um sacerdote enigmático, Matilda De Angelis como Maria e Ewens Abid como Jonathan Harker. As filmagens começaram em março de 2024, em paisagens nevadas da região de Kainuu, na Finlândia, escolhidas pela atmosfera sombria e melancólica. A trilha sonora é assinada por Danny Elfman, e a fotografia é de Colin Wandersman.

Mais voltado ao romance sombrio do que ao horror explícito, o longa propõe uma releitura emocional e estética do mito de Drácula, apostando na construção de uma figura trágica e apaixonada. A parceria entre Luc Besson e Caleb Landry Jones, que começou em "Dogman" (2023), é retomada nesta obra, que aposta em densidade dramática e visual refinado. A escolha de Christoph Waltz acrescenta ainda mais peso à narrativa, que equilibra mistério, obsessão e paixão em uma história de amor marcada pela eternidade.

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As principais estreias da semana e os melhores filmes em cartaz podem ser assistidos na rede Cineflix CinemasPara acompanhar as novidades da Cineflix mais perto de você, acesse a programação completa da sua cidade no app ou site a partir deste link. No litoral de São Paulo, as estreias dos filmes acontecem no Cineflix Santos, que fica no Miramar Shopping, à rua Euclides da Cunha, 21, no Gonzaga. Consulta de programação e compra de ingressos neste link: https://vendaonline.cineflix.com.br/cinema/SANO Resenhando.com é parceiro da rede Cineflix Cinemas desde 2021.


Programação do 
Cineflix Santos
“Drácula - Uma História de Amor Eterno” | “Dracula  A Love Tale” | “Dracula: A Love Tale” | Sala 1
Classificação indicativa: 16 anos. Ano de produção: 2025. Idioma: inglês. Direção: Luc Besson. Roteiro: Luc Besson (baseado no romance de Bram Stoker). Elenco: Caleb Landry Jones como Drácula, Zoë Bleu como Elisabeta/Mina, Christoph Waltz como sacerdote, Matilda De Angelis como Maria, Ewens Abid como Jonathan Harker. Distribuição no Brasil: Paris Filmes em parceria com EuropaCorp / SND. Duração: 129 minutos. Cenas pós‑créditos: não.


Sinopse resumida de 
“Drácula - Uma História de Amor Eterno”
Após perder a esposa no século XV, um príncipe se torna vampiro; quatro séculos depois, ao encontrar uma mulher que lembra sua amada, ele embarca numa paixão obsessiva que desafia o tempo e a morte.


Legendado
7/8/2025 - Quinta-feira: 15h50 e 20h50
8/8/2025 - Sexta-feira: 15h50 e 20h50
9/8/2025 - Sábado: 15h50 e 20h50
10/8/2025 - Domingo: 15h50 e 20h50
11/8/2025 - Segunda-feira: 15h50 e 20h50
12/8/2025 - Terça-feira: 15h50 e 20h50
13/8/2025 - Quarta-feira: 15h50 e 20h50

.: Sensação em Cannes, “A Prisioneira de Bordeaux” estreia nos cinemas


Por 
Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com. 

A estreia de “A Prisioneira de Bordeaux” (“La Prisonnière de Bordeaux”) - em Portugal foi exibido como “A Prisioneira de Bordéus” - ganhou os cinemas brasileiros em 7 de agosto de 2025 pela distribuidora Autoral Filmes. Dirigido por Patricia Mazuy, o drama reúne no roteiro François Bégaudeau, Pierre Courrège e a própria Mazuy, com colaboração de Émilie Deleuze 

O elenco é liderado por Isabelle Huppert como Alma Lund, mulher de classe alta que vive à sombra da prisão do marido, e Hafsia Herzi como Mina Hirti, jovem mãe solteira de origem modesta. O filme conta a história da amizade improvável entre duas mulheres em uma sociedade desigual. No elenco, também estão Magne‑Håvard Brekke, Noor Elasri, Jean Guerre Souye, Lionel Dray, Jana Bittnerová e outros. Exibido na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes em 2024, o filme atraiu críticas elogiosas de veículos como Le Parisien, que saudou o “dueto de altíssimo nível” entre Huppert e Herzi, e Libération, que o descreveu como “cheio de ternura e leveza”. 

Em entrevistas, Mazuy comenta que a amizade entre as protagonistas foi cuidadosamente construída para ser o coração da narrativa, regulando o tempo de convívio para menos de um mês e evitando golpes narrativos que soassem didáticos. Já Isabelle Huppert disse ter aceitado o papel por admirar a cineasta e sua visão política sutil, reconhecendo a força das histórias que Mazuy conta. O filme promove o reencontro entre a atriz com a diretora após o longa "Saint‑Cyr" (2000). Mazuy voltou a Cannes com o sétimo longa‑metragem, confirmando a reputação de ser uma das vozes mais relevantes do cinema francês contemporâneo. Distribuído no Brasil pela recém‑lançada Autoral Filmes, que  estreia no mercado com este drama e outros títulos de arte e independentes.


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Programação do 
Cineflix Santos
“A Prisioneira de Bordeaux” | “La Prisonnière de Bordeaux” | “A Prisioneira de Bordéus” (em Portugal) | Sala 1
Classificação indicativa: 14 anos. Ano de produção: 2024. Idioma: francês. Direção: Patricia Mazuy. Roteiro: François Bégaudeau, Pierre Courrège e Patricia Mazuy (com colaboração de Émilie Deleuze). Elenco: Isabelle Huppert (Alma Lund), Hafsia Herzi (Mina Hirti); também Noor Elasri, Magne‑Håvard Brekke, Jean Guerre Souye, Lionel Dray, Jana Bittnerová, Robert Plagnol, entre outros.  Distribuição no Brasil: Autoral Filmes. Duração: aproximadamente 108 minutos (1h48).Cenas pós‑créditos: não.


Sinopse resumida de “A Prisioneira de Bordeaux”

Alma, mulher elegante da elite rumo à solidão desde o encarceramento do marido, encontra Mina, jovem mãe de origem humilde, na sala de espera da prisão. Ao descobrir que Mina não poderá fazer a visita naquele dia, oferece a ela estadia em sua casa - e dali nasce uma intensa e improvável amizade que atravessa diferenças de classe e reflete sobre o papel da mulher em uma sociedade desigual.


Legendado
7/8/2025 - Quinta-feira: 18h30
8/8/2025 - Sexta-feira: 18h30
9/8/2025 - Sábado: 18h30
10/8/2025 - Domingo: 18h30
11/8/2025 - Segunda-feira: 18h30
12/8/2025 - Terça-feira: 18h30
13/8/2025 - Quarta-feira: 18h30

terça-feira, 5 de agosto de 2025

.: Fernanda Emediato fala sobre o livro que devolve a infância ao Brasil


Por 
Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com. Foto: divulgação

Em um tempo em que infância e poesia parecem cada vez mais deslocadas da paisagem cotidiana, o livro "As Pipas de Portinari" surge como um gesto raro: não é apenas um livro, mas uma travessia entre a arte e as brincadeiras de criança. A obra organizada por Fernanda Emediato e Leo Cunha reúne dez autores brasileiros em um voo poético sobre as telas do pintor Candido Portinari. São textos de Cíntia Barreto, Dilan Camargo, Henrique Rodrigues, João Bosco Bezerra Bonfim, José Carlos Aragão, Marco Haurélio, Roseana Murray e Sônia Barros. Mais do que uma antologia, o livro é um gesto de reconexão com o Brasil que brinca, sonha e sobrevive. 

Com formas diversas - haicais, cordéis, sonetos, parlendas, poemas visuais e limeriques - a obra transforma o olhar do artista em linguagem acessível, multiforme e profundamente brasileira. Nesta entrevista exclusiva ao Resenhando.com, Fernanda Emediato, que começou a trajetória editorial ainda menina - ela é filha do escritor Luiz Fernando Emediato - e hoje dirige a Tróia Editora, fala sobre a gênese do projeto, a relação entre arte e literatura, o papel da infância e os riscos de tentar voar com uma pipa em um país em que o vento, às vezes, sopra contra. Compre o livro "As Pipas de Portinari" neste link.


Resenhando.com - Se Portinari pintava o Brasil que doía e sonhava, “As Pipas de Portinari” pinta um Brasil que ainda se permite brincar? Ou é um suspiro poético diante de um país que insiste em cortar as linhas da infância?
Fernanda Emediato - Vejo "As Pipas de Portinari" como uma ode à infância. A ideia do livro nasceu em 2022, quando visitei a exposição “Portinari para Todos”. Havia um espaço encantador chamado “Quintal do Portinari”, voltado especialmente às crianças. Naquele dia, fui com meu filho Raul, então com cinco anos, e minha irmã Serena, de seis. Começamos a visita por esse quintal lúdico, onde as crianças corriam de um lado para o outro, encantadas, interagindo com as obras do artista. Uma das estações convidava os pequenos a desenhar sua própria pipa, que depois ganhava vida em uma das telas de Portinari - um momento mágico. Mas o mais surpreendente foi o que veio depois: avançamos para a parte principal da exposição e, mesmo diante das obras mais densas e simbólicas, as crianças continuaram engajadas, comentando, observando, se emocionando. Foi comovente perceber que a arte, quando acessível, toca todas as idades. Ali, antes mesmo de sairmos da mostra, nasceu a ideia de unir poesia e pintura em uma obra literária que resgatasse a potência sensível da infância brasileira. Este livro é um suspiro poético, sim, mas é também um grito de urgência. Um apelo para que a infância não seja esquecida. Que não cortemos as linhas que a fazem voar. A arte, o brincar, o encontro entre crianças precisam ser preservados. Precisamos tirá-las das telas, devolvê-las ao vento, ao chão, às pipas. Nós - pais, educadores, cuidadores - temos a responsabilidade de manter viva essa essência. Não podemos continuar tentando silenciar nossas crianças com tecnologia. Elas têm direito à alegria, à poesia, ao sonho - e também ao tédio. Sim, ao tédio de contar palitos no restaurante durante conversas que não as interessam, de observar formigas no chão, de contar postes pela janela do carro durante longos trajetos.


Resenhando.com - Você cresceu em meio a livros, editores e ideias. O que a pequena Fernanda, que publicou seu primeiro livro aos nove anos, diria ao ver que um projeto seu agora dialoga com um gigante das artes como Portinari?
Fernanda Emediato - De fato, eu passei a vida cercada por livros - mesmo antes de saber ler, já abria meus exemplares e recriava as histórias a partir das ilustrações. Aos 14 anos, comecei a trabalhar com meu pai, na Geração Editorial, e quando chegou a hora de me formar em Publicidade, precisei decidir: seguir no caminho da comunicação ou continuar aprendendo o ofício de editar livros. Um momento marcante foi quando ajudei meu pai a editar a obra "As Maluquices do Imperador", de Paulo Setúbal. Fizemos uma edição especial, com pinturas da época, e mesmo sendo uma obra em domínio público, ela se destacou justamente pela escolha das imagens. Ali eu aprendi que as pinturas também contam histórias - e que a união entre palavra e imagem pode transformar uma leitura. Hoje, como editora, gosto muito de usar essa estratégia em obras de domínio público: resgatar não só a literatura clássica, mas também as artes visuais. Trabalhar com as obras de Candido Portinari foi uma experiência profundamente tocante. E ter o apoio, a generosidade e a confiança de João Candido Portinari foi essencial para tornar esse projeto possível. Sou imensamente grata por isso. Portinari se importava com as crianças. E isso é algo que temos em comum. Esse projeto é todo voltado a elas. É uma ponte entre o olhar da arte e o olhar da infância - e acredito que a pequena Fernanda de nove anos, que publicou seu primeiro livro ainda criança, se emocionaria ao ver que sua paixão por palavras e imagens a levou até aqui.


Resenhando.com - Há algo de contrarrevolucionário em apostar em poesia para crianças num tempo de TikTok, fake news e hiperconectividade?
Fernanda Emediato - Olha, hoje em dia, lançar qualquer obra literária já é, por si só, um ato contrarrevolucionário. O mercado editorial vive um momento muito delicado. As vendas caíram cerca de 45% e, segundo a 6ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, 53% dos entrevistados não leram sequer um trecho de livro no último ano. Onde estão os nossos leitores? As listas de mais vendidos seguem dominadas por livros de colorir - o que não é um problema em si, mas revela uma busca por algo rápido, efêmero. E eu me pergunto: cadê os leitores que amam palavras? Cadê as crianças e os jovens que mergulham nas histórias com o mesmo brilho nos olhos que têm ao abrir um aplicativo? As pessoas precisam se reconectar com a leitura. Precisam lembrar que um livro pode trazer muito mais satisfação - e transformação - do que um vídeo de 15 segundos. O que falta, muitas vezes, é só encontrar o gênero certo. Tem literatura para todo mundo: de Sabrina a Agatha Christie, dos clássicos “cabeças” à ficção leve, da não-ficção à fantasia, autores internacionais e nacionais - é impossível que alguém não encontre seu gênero favorito e se divirta com ele. E o mais triste é perceber que até quem já era leitor está se afastando dos livros, como se esquecesse da própria essência. Hoje, eu vivo essa agonia. 


“As Pipas de Portinari” é também um manifesto?
Fernanda Emediato - O mercado editorial parece estar murchando diante dos nossos olhos. Os programas de aquisição pública de livros estão desaparecendo. Os editais estão sendo encerrados. Muitas editoras estão vivendo uma fase melancólica - quase uma resistência silenciosa. Por isso, sim,  "As Pipas de Portinari" é também um manifesto. Um grito poético. Uma aposta radical na infância, na arte e na palavra. É dizer: "ainda dá tempo! Ainda podemos voar!".


Resenhando.com - Por que reunir tantos estilos poéticos e formas tão distintas? Foi uma escolha estética, política ou um desejo de descomplicar a arte para todos os públicos - inclusive os que têm medo de poesia?
Fernanda Emediato - Quando tive a ideia do projeto, meu objetivo era unir arte e poesia. Sempre acreditei que um poema pode contar a história de uma pintura de forma mais sensível, mais ampla - criando pontes entre palavra e imagem, entre memória e imaginação. Também queria que o livro pudesse ser usado como ferramenta pedagógica nas escolas, tocando leitores de diferentes idades e repertórios. Para me ajudar nessa missão, convidei o escritor Leo Cunha para organizar a obra comigo. Conversamos bastante sobre qual seria a melhor faixa etária para dialogar com as pipas - e foi ele quem assumiu com sensibilidade e inteligência a curadoria dos poetas. Leo foi brilhante ao trazer diversidade geográfica, estética e afetiva para a seleção. Reunimos vozes de diferentes cantos do Brasil, e cada poeta pôde escolher a tela que mais o tocava e o estilo poético com que desejava conversar com ela. O resultado foi uma coletânea rica, vibrante e plural. Há cordel, haicai, soneto, verso livre, adivinha, parlenda, quadrinha, décima, limerique e poema visual - cada forma com sua própria melodia e o seu modo único de tocar o leitor. E quem dá vida a esse arco-íris de linguagem, além de mim e de Leo Cunha, são poetas contemporâneos que admiro profundamente: Cíntia Barreto, Dilan Camargo, Henrique Rodrigues, João Bosco Bezerra Bonfim, José Carlos Aragão, Marco Haurélio, Roseana Murray e Sônia Barros. Sim, essa escolha foi estética, pedagógica e também política: porque é urgente descomplicar a poesia, torná-la acessível, brincante, viva. Há muita gente que tem medo de poesia - como se fosse difícil demais, ou elitista demais. Mas a poesia pode ser simples, leve, divertida. Pode emocionar sem explicar tudo. E é isso que queremos mostrar com "As Pipas de Portinari".


Resenhando.com - Em um país em que as políticas públicas de cultura são tão instáveis, como foi lidar com três frentes de fomento (ProAC, Aldir Blanc e Lei Rouanet)?
Fernanda Emediato - O projeto demorou quase três anos para se concretizar. Eu poderia ter lançado a obra sem apoio de políticas públicas, mas, justamente pela importância do conteúdo e pelo apelo simbólico, decidi aguardar e insistir. A primeira vez que o inscrevi no ProAC, ele foi reprovado - teve uma boa pontuação, mas não foi suficiente para aprovação. Mesmo assim, não desisti. Aprimorei o projeto, esperei mais um ano e, nesse meio-tempo, também consegui viabilizá-lo pela Lei Rouanet. A espera valeu a pena. Hoje, boa parte da tiragem impressa está sendo distribuída gratuitamente. E no próximo mês, o livro estará disponível também em formato digital com descrição de imagens, gratuito para download pela Amazon. Além disso, a obra está sendo adaptada para audiolivro com acessibilidade, que será disponibilizado gratuitamente no YouTube. Também teremos um vídeo-aula sobre Portinari e poesia, disponível para qualquer pessoa, e um caderno de atividades para crianças, tanto impresso quanto digital, para download livre. Mesmo com acabamento de luxo e capa dura, o livro físico também tem um preço acessível: está à venda por R$ 49,90. Isso é fruto de uma escolha consciente: acessibilidade em todos os sentidos - estética, econômica, pedagógica e tecnológica.


Ainda dá para sonhar em alto nível com incentivo público ou é preciso ser contorcionista cultural?
Fernanda Emediato - Acho que o maior segredo para trabalhar com incentivo público é manter o foco no público. O papel do produtor cultural é distribuir cultura com qualidade - e se empenhar para que ela chegue, de fato, às pessoas. Sim, as políticas públicas são instáveis, nem sempre justas e quase nunca fáceis de acessar. Mas com amor, persistência e compromisso com o bem comum, a gente chega lá.


Resenhando.com - Se o Brasil fosse uma tela de Portinari hoje, que cores estariam mais gastas? E que verso você escreveria sobre ela?
Fernanda Emediato - As cores mais gastas seriam justamente o verde, o amarelo e o azul - e isso me entristece profundamente. Durante muito tempo, essas cores eram celebradas com orgulho, especialmente nos esportes, como símbolo de união. Mas hoje, elas carregam disputas, bandeiras ideológicas, rupturas. Perderam o brilho, o afeto. O que antes era de todos, agora parece dividido. O verso que eu escreveria seria uma paráfrase do início da minha parlenda no livro: “Um, dois... ela se foi?” Como quem pergunta: e a nossa alegria? E o nosso Brasil? Mas eu sigo acreditando. Ainda dá tempo de resgatar o amor pelo país - e não um amor vazio ou de ocasião, mas aquele que valoriza nossos artistas, escritores, professores, atores, artesãos, agricultores, cuidadores. O Brasil tem tudo o que precisamos: alma, talento e beleza. Só falta devolver às nossas cores o que elas sempre representaram: esperança, criação e pertencimento.


Resenhando.com - Por que ainda é tão difícil unir literatura e artes visuais de forma realmente integrada nas escolas?
Fernanda Emediato - Essa é realmente uma batalha difícil. Na minha opinião, mais do que medo ou teimosia institucional, o que existe é despreparo - e isso só se resolve com formação e valorização dos professores. É preciso investir mais em quem está na ponta: oferecer treinamento de qualidade, incentivo, tempo para estudar, liberdade criativa. Não adianta exigir inovação se os educadores estão sobrecarregados, mal remunerados ou sem apoio. Sou apaixonada pela filosofia Waldorf, e meu filho estuda em uma escola assim desde a Educação Infantil. Lá, a arte é usada como pano de fundo para tudo: matemática, linguagem, ciências, história. E isso faz uma diferença imensa na forma como as crianças aprendem e se relacionam com o mundo. Se as escolas tradicionais tivessem um pouco mais disso - mais espaço para o sensível, para o estético, para o simbólico - seria maravilhoso. Acredito, sim, que um dia chegaremos lá. Acompanho de perto o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e sei que há boas intenções. Mas também vejo com preocupação a aposta excessiva em livros digitais convertidos em HTML. Sou totalmente a favor da tecnologia quando ela é uma ponte de acessibilidade. Mas sou crítica do uso de conteúdos digitais como substitutos do livro físico em sala de aula. Nada substitui o vínculo concreto com o objeto-livro - com o virar da página, com o toque, com a presença da arte no papel. Literatura e artes visuais nasceram juntas. Separá-las foi um erro do sistema. Reuni-las exige coragem, preparo e, acima de tudo, confiança na sensibilidade das crianças.

Resenhando.com - “As Pipas de Portinari” traz uma carta emocionante do filho do pintor. Para você, que cresceu com a figura paterna tão presente no mundo editorial, o que significa esse gesto de João Candido Portinari? Foi também um aceno simbólico de pai para filho?
Fernanda Emediato - A carta do João Candido Portinari para seu pai é emocionante em muitos aspectos. É um texto que carrega amor, memória e uma busca sincera por reconexão. Já assisti a diversas palestras do João, e todas me tocaram profundamente - são sempre generosas, inspiradoras e carregadas de afeto. O trabalho de resgate que ele faz da obra e da figura de Portinari é um gesto de amor filial, mas também de amor ao Brasil. Ele não está apenas preservando a memória de um artista - está dizendo: este país tem raízes, tem arte, tem beleza que não podemos esquecer. Meu trecho favorito da carta é este: "Até que, no ano passado, comecei a te reencontrar. Aos poucos, foi se esboçando em mim a necessidade de te buscar. Buscar você, buscar o Brasil". Esse trecho me tocou profundamente. Eu me identifiquei. Como filha de um escritor e editor muito conhecido, também carrego essa herança com orgulho. Os prêmios que meu pai recebeu, as obras que escreveu, o que ele construiu - tudo isso me acompanha. Muitas vezes discordamos (aliás, acho que discordamos de quase tudo! risos), mas temos algo essencial em comum: o amor pelos livros e a vontade de fazer a literatura chegar às pessoas. Vivendo no mundo editorial, vejo muitos herdeiros apagarem as vozes dos seus pais - deixando de autorizar o uso de seus textos ou ilustrações, muitas vezes pensando apenas em questões monetárias. Isso me entristece, porque acredito que todo artista carrega, no fundo, o desejo de ver sua obra difundida, compartilhada, viva. Por isso, sim - vejo essa carta também como um aceno simbólico de pai para filho. E, para mim, poder ter esse gesto dentro da obra "As Pipas de Portinari" é um presente. Porque é, no fundo, uma carta sobre pertencimento, reconciliação e continuidade - valores que eu também carrego, como filha, como mãe, como editora.


Resenhando.com - A arte pode ser libertadora - mas também pode ser domesticada. Como você evita que um projeto como este vire apenas “conteúdo pedagógico” e perca sua alma poética?
Fernanda Emediato - A arte pode - e deve - entrar nas escolas. Mas ela precisa chegar como experiência sensível, não apenas como tarefa ou prova. Para mim, o maior cuidado é esse: preservar a alma da obra. A poesia não é feita para ser decodificada como fórmula, mas para ser sentida, lida em voz alta, desenhada, reinventada. "As Pipas de Portinari" foi pensada para dialogar com o universo escolar, sim - mas como uma ponte, não como uma cartilha. Sou totalmente a favor de que a literatura esteja nas escolas - desde que respeite a infância, a subjetividade e o tempo de cada leitor. A arte não deve ser domesticada, nem usada como um “treinamento para o Enem”. Ela precisa provocar, encantar, abrir perguntas. Acredito, sim, que uma obra pode ser usada pedagogicamente sem perder a força poética - desde que o educador esteja comprometido com isso. Por isso, insisto tanto em produzir também materiais de apoio com sensibilidade, como os cadernos de mediação, os audiolivros acessíveis, as videoaulas criativas.


Resenhando.com - Se você tivesse que resumir o livro em um bilhete que voasse preso na rabiola de uma pipa, o que escreveria para os leitores do futuro?
Fernanda Emediato - Se eu tivesse que resumir o livro em um bilhete preso na rabiola de uma pipa, eu escreveria: “Nem toda linha aprisiona. Algumas ensinam a voar”. E, logo abaixo: “Saiam das telas, entrem nos livros”. Porque "As Pipas de Portinari" é exatamente isso: um convite ao voo. Um chamado para que as crianças e os leitores do futuro não se esqueçam do corpo, do vento, da arte, da palavra. Que saibam que há outros caminhos - mais lentos, mais belos, mais vivos - do que os oferecidos pelas telas.

.: "Nise em Nós" comemora os 120 anos da psiquiatra Nise da Silveira em SP


Escrito e dirigido por Duda Rios, espetáculo proporciona uma rica reflexão sobre a relação entre arte e saúde mental. Foto: Andressa Baldoni

A trajetória e as enormes contribuições da alagoana Nise da Silveira (1905-1999) para o campo da psiquiatria são revisitadas no espetáculo "Nise em Nós - Uma Ode ao Delírio", dirigido e escrito por Duda Rios, que, recentemente, foi indicado ao Prêmio Shell de Teatro, pela direção de “Azira’i”. O espetáculo da Dupla Companhia ganha uma curtíssima temporada de estreia no Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo, em comemoração aos 120 anos da homenageada, de 7 a 23 de agosto.

Em uma espécie de gesto de escuta dos artistas, a peça propõe uma travessia entre o passado e o presente, entre a ciência e a arte, entre a lucidez e o delírio que nos cura. Em cena, estão Lucas Gonzaga, Rafaele Breves, Gabriela Carriel, Victor Mota e Hugo Muneratto. A direção musical é assinada por Dessa Ferreira.

Inspirada na trajetória da médica psiquiatra, uma mulher nordestina, revolucionária e profundamente humana, a peça propõe uma reflexão sensível sobre o afeto como metodologia e o cuidado como revolução. A montagem costura memórias pessoais do elenco com histórias reais dos clientes, artistas e pensadores que cruzaram o caminho de Nise, como Graciliano Ramos, Carl Gustav Jung, Martha Pires Ferreira e Dona Ivone Lara.

Tudo isso se encontra em cena por meio de uma linguagem híbrida que mistura teatro, poesia, música e folguedos brasileiros. A obra não apenas celebra os 120 anos de nascimento de Silveira como lança o olhar adiante — para o futuro da saúde mental, para o direito ao delírio e para a construção de um Brasil mais sensível, onde o amor não seja exceção, mas método. 

Neste delírio, a Dupla Companhia resiste, se reinventa, mas sobretudo se reencanta com o mundo. "Nise em Nós" é memória, é política, é poesia. E está à espera do encontro com o público. Compre os livros de Nise da Silveira neste link.


Sinopse de "Nise em Nós - Uma Ode ao Delírio"
Eis aqui nosso gesto de escuta: mais uma travessia entre o passado e o presente, entre a ciência e a arte, entre a lucidez e o delírio que nos cura. Inspirado na trajetória da médica psiquiatra Nise da Silveira - mulher nordestina, revolucionária e profundamente humana - o espetáculo propõe uma reflexão sensível sobre o afeto como metodologia e o cuidado como revolução. A obra celebra os 120 anos de nascimento de Nise da Silveira e lança o olhar adiante - para o futuro da saúde mental, para o direito ao delírio e para a construção de um Brasil mais sensível, onde o amor não seja exceção, mas método.


Ficha técnica
Espetáculo "Nise em Nós - Uma Ode ao Delírio"
Direção e dramaturgia: Duda Rios
Elenco e dramaturgia: Lucas Gonzaga, Rafaele Breves, Gabriela Carriel, Victor Mota e Hugo Muneratto
Provocação: Viviane Mosé
Direção de produção e idealização: Lucas Gonzaga
Direção de comunicação: Rafaele Breves
Direção musical e trilha sonora: Dessa Ferreira
Direção de arte: Mariana Villas-Bôas
Cenotécnica: Bruna Boliveira e Hugo Muneratto
Ilustradoras convidadas: Franciéle da Silva Pinto e Liliane Janaina Cruz
Assistente de adereços: Kadu Dias
Iluminação: Gabriele Souza
Visagismo: Claudinei Hidalgo
Design de som: Jess Melo
Modelista e costureiro: Cristian Lourenço
Equipe de costura: Ubiraci Ribeiro (UR Cenografia), Adriana do Nascimento, Heloisa Trigueiros, Maria de Lourdes do Vale, Ana Paula Mattos, Providenciando (Por um fio), Marcilene Máximo (Casa Lourenço Ateliê) e Aparecida Correia (Casa Lourenço Ateliê).
Voz off: Martha Pires Ferreira
Canções originais: Dessa Ferreira e Duda Rios
Produção executiva: Miranda Gonçalves
Assessoria de imprensa: Pombo Correio
Direção audiovisual: Paulo Julião
Fotógrafa: Andressa Baldoni
Produção Original: Dupla Companhia


Serviço
Espetáculo "Nise em Nós - Uma Ode ao Delírio"
Temporada: 7 a 23 de agosto de 2025
Horário: quintas e sextas, às 19h00; sábados, às 18h00
Local: Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo
Rua Álvares Penteado, 112 - Centro Histórico/São Paulo
Gratuitos, disponíveis em bb.com.br/cultura ou na bilheteria física, uma hora antes de cada sessão.
Capacidade: 120 lugares
Duração: 80 minutos
Classificação: 14 anos
Acessibilidade: teatro acessível a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida. Todas as sessões contam com tradução simultânea para LIBRAS.
Entrada acessível: Pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida e outras pessoas que necessitem da rampa de acesso podem utilizar a porta lateral localizada à esquerda da entrada principal. 
Funcionamento CCBB SP: aberto todos os dias, das 9h00 às 20h00, exceto às terças  
Informações: (11) 4297-0600 
Estacionamento: o CCBB possui estacionamento conveniado na Rua da Consolação, 228 (R$ 14 pelo período de 6 horas - necessário validar o ticket na bilheteria do CCBB). O traslado é gratuito para o trajeto de ida e volta ao estacionamento e funciona das 12h às 21h. 
Transporte público: o CCBB fica a 5 minutos da estação São Bento do Metrô. Pesquise linhas de ônibus com embarque e desembarque nas Ruas Líbero Badaró e Boa Vista.  
Táxi ou aplicativo: desembarque na Praça do Patriarca e siga a pé pela Rua da Quitanda até o CCBB (200 m). 
Van: ida e volta gratuita, saindo da Rua da Consolação, 228. No trajeto de volta, há também uma parada no metrô República. Das 12h00 às 21h00.

.: Musical "Brenda Lee e o Palácio das Princesas" faz nova temporada


Considerada referência na luta pelos direitos LGBTQIA+, a ativista Brenda Lee (1948–1996) é homenageada no musical, que ganhou os prêmios APCA de melhor peça, Bibi Ferreira de melhor roteiro e atriz revelação em musicais, além do Prêmio Shell de melhor atriz para Verónica Valenttino: Laerte Késsimos 


Com uma trajetória de muito sucesso, o musical "Brenda Lee e o Palácio das Princesas" faz nova temporada em São Paulo no Teatro Vivo a partir do dia 5 de agosto de 2025. O trabalho tem dramaturgia e letras de Fernanda Maia, direção e figurinos de Zé Henrique de Paula e música original e direção musical de Rafa Miranda.  O musical traz em cena seis atrizes transvestigêneres: Verónica Valenttino, Olivia Lopes, Tyller Antunes, Andrea Rosa Sá, Elix e Leona Jhovs, além do ator cisgênero Fabio Redkowicz. A orquestra é formada por Rafa Miranda (piano), Juma Passa (contrabaixo), Rafael Lourenço (bateria) e Carlos Augusto (guitarra e violão). Já a preparação de atores é assinada por Inês Aranha e a coreografia por Gabriel Malo.

Ao contar a história da travesti Caetana, que ficaria conhecida como Brenda Lee, o espetáculo cria uma discussão sobre a luta das travestis nas ruas de São Paulo, a escassez de oportunidades que as impele à prostituição e como foram apoiadas pela protagonista. Brenda nasceu em Bodocó (PE) em 1948, e mudou-se, aos 14 anos, para São Paulo, onde trabalhou com a prostituição até meados dos anos 1980, quando decidiu comprar um sobrado no Bixiga e abrir uma pensão para acolher travestis em situação de vulnerabilidade, muitas das quais estavam infectadas pelo vírus HIV/AIDS. 

O espaço foi muito importante porque, na época, como se sabia muito pouco sobre a epidemia, a maioria das travestis soropositivas estava condenada ao preconceito, à violência, ao abandono e à solidão. E, por esse trabalho essencial, a ativista passaria a ser conhecida como “anjo da guarda das travestis”. Mais tarde, o centro de apoio à população trans seria reconhecido como a primeira casa de acolhimento a pessoas com HIV/Aids no Brasil. Chamada de Palácio das Princesas, a instituição firmou convênios com a Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo e com o Hospital Emílio Ribas. E graças a um trabalho conjunto, essas entidades aprimoraram a forma de atender pacientes soropositivos, independentemente de gênero, sexo, orientação sexual e etnia.

Aos 48 anos, em 28 de maio de 1996, no auge de seu projeto, Brenda foi assassinada e encontrada no interior de uma Kombi estacionada em um terreno baldio, com tiros na região da boca e no peitoral. O crime teria sido motivado por um golpe financeiro cometido por um funcionário da casa. Em 2008, foi criado o “Prêmio Brenda Lee”, que contempla personalidades que se destacam na luta contra o HIV e prevenção da Aids.

A criação deste musical é uma continuidade das pesquisas do Núcleo Experimental sobre as possibilidades de interação entre música e teatro. Além disso, consolida a trajetória do grupo como criador de musicais originais brasileiros e comemorou os 10 anos de existência da sede do grupo na Barra Funda

“Contar a história do 'Palácio das Princesas' é não só manter viva a memória de Brenda Lee, mas retratar uma mulher trans protagonista em sua luta e ativismo. Com a criação deste musical, também pretendemos diversificar o grupo de artistas que trabalham com o Núcleo Experimental, empregando musicistas, atrizes, criativos e técnicos transexuais e transgêneros. Este projeto significa mais oportunidades para uma população discriminada no mercado de trabalho”, conta Fernanda Maia.

E a dramaturga ainda completa: “O Núcleo Experimental tem consolidado uma obra em que o musical aparece não somente como diversão, mas como uma forma de arte que pode também refletir e discutir a sociedade. Um espetáculo composto por atrizes transvestigêneres, sobre uma importante travesti no panorama do surgimento da Aids e do fim da ditadura militar nos anos 80 significa colocar no centro do processo artístico criativo quem sempre esteve às margens. Fazer isso sob forma de musical significa atingir um tipo de público não habituado às histórias da população trans, contribuindo para a diminuição do apartheid social em que nos encontramos”. Compre o livro "Brenda Lee e o Palácio das Princesas", de Fernanda Maia, neste link.


Concepção
A dramaturgia alia três planos. O primeiro deles é o dos números musicais, que faz uma homenagem às antigas boates da noite paulistana que nos anos 80 foram um porto seguro da população transgênero e geraram oportunidades de trabalho para as travestis. Neste plano, as meninas da casa da Brenda contam suas histórias pregressas e falam de seus sonhos e objetivos através de canções. Há também o plano da história cronológica em que Brenda abre mão do sonho de ter seu “Palácio das Princesas” para poder acolher as amigas que estavam doentes, e o plano das entrevistas.

“Na dramaturgia, inserimos transcrições de entrevistas reais de Brenda Lee colhidas de registros em vídeo na internet. Nestas entrevistas ela conta quem é, fala sobre sua família, sobre a prostituição, sobre como amealhou um patrimônio e o colocou à disposição de outras amigas. Fala sobre o trabalho na casa e sua relação com a morte. As moradoras da casa de Brenda Lee (Isabelle Labete, Ariela del Mare, Blanche de Niège, Raíssa e Cynthia Minelli) foram inspiradas pelas princesas de contos de fadas, em alusão ao apelido da casa. Suas histórias foram construídas a partir dos relatos de travestis reais através da nossa pesquisa”, explica Fernanda Maia.

“Conseguimos um material bibliográfico de apoio, além de depoimentos de pessoas que conheceram pessoalmente Brenda Lee, foram moradoras ou trabalharam na casa. Duas dessas pessoas foram os médicos Jamal Suleiman e Paulo Roberto Teixeira. O Dr. Jamal Suleiman é infectologista e ainda trabalha no Hospital Emílio Ribas. Ele conheceu Brenda Lee quando ela levava suas moradoras ao hospital, no início da epidemia. Como o Hospital ainda não possuía uma estrutura especializada no atendimento de HIV/Aids e como os médicos e enfermeiros não possuíam preparo para o atendimento da população transvestigênere, ainda muito marginalizada, ofereceu-se para atender dentro da casa de Brenda. O Dr. Paulo Roberto Teixeira, infectologista, atualmente aposentado, foi um dos pioneiros no enfrentamento da epidemia de Aids no Brasil. Graças ao seu esforço incansável e à sua luta pela quebra de patentes, os medicamentos antirretrovirais são distribuídos gratuitamente pelo SUS”, acrescenta.

As canções originais do musical têm elementos de brasilidade aliados à contemporaneidade, tendo como referência compositores queer, transgêneros e não binários. Bases eletrônicas deverão aludir à boate, mas as canções das personagens terão contornos melódicos elaborados e harmonias que reforcem o aspecto afetivo da canção. Num grande número final, as “filhas de Caetana” cantam suas vitórias e celebram sua grande protetora, que abriu caminho para que elas pudessem ter uma vida melhor.


Sinopse de "Brenda Lee e o Palácio das Princesas"
O musical "Brenda Lee e o Palácio das Princesas" é uma obra de ficção, inspirada na história de Brenda Lee.  O musical acompanha a mudança da pensão para travestis de Brenda, para a primeira casa de apoio para pessoas com HIV/Aids do Brasil, um local de acolhimento e segurança para pessoas tratadas com violência pela sociedade. Seu trabalho e dedicação deram a Brenda o título de o “anjo da guarda das travestis”.


Ficha técnica
Musical "Brenda Lee e o Palácio das Princesas"
Dramaturgia e letras: Fernanda Maia
Direção: Zé Henrique de Paula
Direção musical, música original e preparação vocal: Rafa Miranda
Elenco: Verónica Valenttino, Olivia Lopes, Tyller Antunes, Andrea Rosa Sá, Elix, Leona Jhovs e Fabio Redkowicz
Orquestra: Rafa Miranda (piano), Juma Passa (contrabaixo), Rafael Lourenço (bateria) e Carlos Augusto (guitarra e violão)
Design de som: João Baracho
Operação de som: João Baracho e Guilherme Zomer
Microfonista: Mateus Dantas
Design de luz e operação: Fran Barros
Figurinos: Ùga AgÚ
Preparação de atores: Inês Aranha
Coreografia: Gabriel Malo
Cenografia: Bruno Anselmo
Cenotécnico: Jhonatta Moura
Visagismo (cabelos e maquiagem): Dhiego D’urso
Coordenação de produção: Laura Sciulli
Produção: Victor Edwards
Design gráfico e artes: Laerte Késsimos
Assessoria de imprensa: Pombo Correio
Mídias sociais: 1812 comunicação


Serviço
Musical "Brenda Lee e o Palácio das Princesas"
Teatro Vivo: Avenida Dr. Chucri Zaidan, 2460
Terças e quartas, às 20h00
De 5 de agosto a 1° de outubro
* não haverá sessões nos dias 6, 26 e 27 de agosto
Vendas: Sympla
Ingressos: R$ 100,00
10 ingressos grátis por dia para pessoas trans. O formulário para solicitação dos ingressos será disponibilizado na rede social oficial do Núcleo Experimental todas as sextas-feiras anteriores às sessões da semana seguinte.

.: Espetáculo "Rumboldo", adaptação da obra de Eva Furnari, no Sesc Bom Retiro


Com direção de Rhena de Faria e texto de Eloisa Elena, espetáculo narra saga de um reizinho autoritário e com mania de poder. Fotos: Andréa Pasquini

Os delírios e manias de um pequeno monarca autoritário são mote de "Rumboldo", novo espetáculo infantil da premiada companhia Barracão Cultural, que, desta vez, adapta a obra homônima de Eva Furnari. O espetáculo estreia no Sesc Bom Retiro no dia 10 de agosto de 2025.

A peça tem texto de Eloisa Elena e direção de Rhena de Faria. E, no elenco, estão Caio Teixeira, Eloisa Elena, Leandro Goulart e William Simplício. A produção é possível graças ao ProAC 2024 - Montagem para público infantojuvenil, por meio da Secretaria de Cultura, do Governo do Estado de São Paulo. 

A trama narra a história de um príncipe que, ao herdar o trono, após a morte repentina de seu pai, o respeitado e querido Rei Rusbão, perde-se em seus desmandos e delírios de poder, criando leis absurdas e condenando à prisão todos aqueles que contestam suas decisões. Após levar à cadeia todo o reino, Rumboldo se vê sozinho, desprotegido e percebe que todos os seus súditos estão vivendo bem e felizes na Torre de Pedra, onde foram presos. 

A narrativa de Furnari se apresenta como um mote perfeito para pôr em pauta os perigos e consequências do exercício autoritário do poder. “Nos últimos anos vimos o fortalecimento de discursos anti-democráticos na esfera política mundial, gerando efeitos transversais que perpassam as relações interpessoais e coletivas, moldando e validando atitudes de intolerância e segregação na sociedade. Diante disto, acreditamos que se faz necessário trazer a reflexão sobre os efeitos do poder autoritário para o público infantil”, comenta Eloisa Elena.

A dramaturgia traz uma linguagem leve e ágil, que serve de base para o jogo da encenação, que explora as técnicas de improviso e os jogos de palhaçaria. Em cena, quatro intérpretes se revezam nas personagens, manipulam e conduzem a cenografia e cantam e tocam os instrumentos da trilha sonora de Morris, composta por canções executadas ao vivo. Compre o livro "Rumboldo", de Eva Furnari, neste link.


Sobre a Barracão Cultural
A Barracão Cultural é um núcleo de criação e produção que tem como proposta realizar projetos que priorizem a pesquisa de temas e de linguagem, que sejam acessíveis e atendam a diferentes públicos. Formado por alguns parceiros fixos e outros convidados a integrar cada trabalho, desenvolve há 24 anos um exercício permanente de criação e produção de espetáculos, que obtiveram excelente acolhida de crítica e público. 

Entre os espetáculos que fazem parte do repertório do grupo, estão “Trilha para as Estrelas” (2024),  “O Passarinho que Não Sabia Voar” (2023), “Jogo de Imaginar” (2022), “Um Arco-íris Colorindo o Céu” (2022), “Nós” (2019), “Entre” (2019), “On Love” (2017), “Já Pra Cama!”  (2015), “A Condessa e o Bandoleiro” (2014), “Facas nas Galinhas” (2012), “O Tribunal de Salomão e o Julgamento das Meias-verdades Inteiras” (2011), “Cacoete” (2008) e “A Mulher que Ri” (2008).


Ficha técnica
Espetáculo infantil "Rumbolo"
Texto: Eloisa Elena
Direção: Rhena de Faria
Elenco:  Caio Teixeira, Eloisa Elena, Leandro Goulart e William Simplício
Canções e direção musical: Morris
Cenário e Iluminação: Marisa Bentivegna
Figurino: Marichilene Artisevskis
Coordenação técnica e operação de som: Maurício Mateus
Operação de luz: Le Carmona
Preparação Corporal: Maurício Flórez
Adereços: Tetê Ribeiro
Bonecos: Ivaldo de Melo
Assistência de produção: Ale Picciotto
Produção e Realização: Barracão Cultural


Serviço
Espetáculo infantil "Rumbolo", com Cia. Barracão Cultural
Sesc Bom Retiro
Apresentações: 10 de agosto a 21 de setembro de 2025
Domingos, às 12h00
*Sessão extra no dia 18 de setembro, às 15h00
Inteira R$ 40,00 / Meia-entrada R$ 20,00 / Credencial Plena: R$ 12,00
Classificação: livre
Duração: 55 minutos

.: Livro transforma a eterna batalha pelo descanso em divertida odisseia familiar


Indicado como um presente inusitado para o Dia dos Pais, o livro "O Cochilo do Papai", publicado pela VR Editora, autora e ilustrador Vanessa BarbaraLalan Bessoni narram uma história que todo pai, em algum momento, já viveu: a eterna batalha entre tirar uma soneca e cuidar de uma filha com energia suficiente para atravessar continentes e até planetas. Lelé, a pequena protagonista, não aceita a ideia de ver alguém dormindo numa tarde preguiçosa. A partir daí, a imaginação dela entra em ação e começa uma perseguição hilária: do sofá à poltrona do vovô, da rede da titia ao trono do Rei da Inglaterra, até culminar em uma missão espacial que desafia a gravidade.

Com texto afetivo, leve e bem-humorado, Vanessa, premiada autora conhecida por transitar entre o jornalismo e a literatura, cria diálogos espertos e situações que divertem crianças e arrancam sorrisos dos adultos. As ilustrações de Lalan acompanham o ritmo com charme e inventividade, acendendo as peripécias encantadoras de Lelé com cores intensas e cenas mirabolantes. Este lançamento da VR Editora é daqueles livros que fazem pais e filhos rirem juntos, além de ser um lembrete aos adultos sobre o poder das pequenas presenças.

Indicado para leitura compartilhada a partir dos quatro anos, "O Cochilo do Papai "é um retrato afetuoso de uma relação paternal especial – daquelas em que até o cansaço entra na brincadeira e vira uma oportunidade de conexão. Afinal, quem precisa de descanso quando se pode brincar de nave espacial? Compre o o livro "O Cochilo do Papai", de Vanessa Barbara e Lalan Bessoni, neste link. 


Sobre a autora
Vanessa Barbara nasceu em São Paulo, em 1982. É jornalista e escritora, autora de onze livros de diferentes gêneros, como Noites de Alface (Prix du Premier Roman Étranger, na França), Operação Impensável (Prêmio Biblioteca do Paraná) e O Livro Amarelo do Terminal (Prêmio Jabuti). Entre os infantis, publicou Mamãe Está Cansada (Companhia das Letrinhas, 2023) e A Grande Invenção (FTD, 2025), entre outros. É colaboradora do The New York Review of Books e do The New York Times. Compre os livros de Vanessa Barbara neste link.

Sobre o ilustrador
Lalan Bessoni
é ilustrador e trabalha em casa, cercado de papéis, tintas e lápis de cor e muitas plantinhas. A parte que ele mais gosta em seu trabalho é a de desenhar para crianças, pois sabe que sua arte incentiva a imaginação e a descoberta de si e do outro. Desde criança, sonhava em ser desenhista e, hoje, seus desenhos estão espalhados por vários países. Tem livro na Turquia e na Argentina e tem livro que foi semifinalista do prêmio Jabuti em 2024. Lalan acredita que a arte torna o mundo um lugar um pouquinho mais divertido e colorido. Compre os livros ilustrados por Lalan Bessoni neste link.


segunda-feira, 4 de agosto de 2025

.: Filme "Amores Materialistas" destaca relacionamento preferido por 36%


“Qual a viagem dos seus sonhos?”
Com essa pergunta, Lucy, personagem de Dakota Johnson no filme "Amores Materialistas" ("Materialists"), acorda pela manhã ao lado do namorado Harry, vivido por Pedro Pascal, após passarem sua primeira noite juntos no apartamento dele de 12 milhões de dólares. O casal protagoniza o filme "Amores Materialistas", que acaba de estrear no cinema e vem gerando debates sobre relacionamentos modernos, com destaque para a hipergamia feminina, em que a mulher procura um homem que tenha status econômico e social superior ao seu, também conhecido como relacionamento Sugar, o famoso "Sugar Daddy".

Todo o enredo é vivido em torno da profissão de Lucy, que é casamenteira e, por isso, entende as características essenciais que seus clientes buscam em alguém para se relacionar, na tentativa de proporcionar um match ideal. Em uma festa de casamento de um de seus clientes, Lucy conhece Harry e ambos acabam engatando em um relacionamento que a deixa encantada. Isso por conta da raridade do perfil de Harry, que chega a ser chamado de "unicórnio" na trama por reunir muitos dos atributos mais importantes nas listas que Lucy costuma elaborar para suas clientes. “Eu me sinto valorizada por você” , ela afirma em um momento-chave do roteiro.

A empresa em que Lucy trabalha cumpre um papel social semelhante ao dos sites de relacionamento. Se no filme, a própria casamenteira afirma querer um homem que seja em primeiro lugar rico, na vida real os números não negam que essa é a intenção de muitas brasileiras: pioneiro em relacionamento Sugar, o site de relacionamento MeuPatrocínio tem hoje 16 milhões de inscritos, sendo 11 milhões de usuárias em busca de um Sugar Daddy dos sonhos, que tenha atributos semelhantes aos de Harry.


Homem dos sonhos: qual tipo de relacionamento e características elas mais buscam
Em um momento crucial do filme, Lucy expressa claramente suas intenções a Harry e afirma que busca um homem que seja rico. Essa preferência não é só dela: no Brasil, uma pesquisa do MeuPatrocínio, em parceria com o Instituto QualiBest, entrevistou mulheres de 18 a 29 anos de todo o país e mostrou o quanto a hipergamia - relacionamento em que há o interesse por alguém mais rico que você - atrai o interesse das mulheres. Ao serem questionadas sobre diferentes tipos de relacionamentos modernos, 36% afirmaram ter algum tipo de interesse em uma relação em que o homem seja mais rico.

A mesma pesquisa ressalta as principais qualidades buscadas pelas jovens brasileiras em um parceiro. As respondentes podiam escolher até três opções em primeiro, segundo e terceiro lugares. O mais votado? A gentileza, que é expressa por Harry em diversos momentos de Amores Materialistas, teve 42% de votos das mulheres em primeiro lugar, 16% em segundo lugar e mais 9% como terceira opção. A segurança emocional também aparece em destaque, com 20% dos votos como primeira opção, 13% em segundo lugar, e 11% em terceiro. E a estabilidade financeira também não pode faltar: como primeira opção, foram 7% de votos; como segunda opção, mais 18%; e em terceiro lugar, outros 14%.

Caio Bittencourt é especialista em relacionamento do MeuPatrocínio e comenta: “A relação com alguém mais rico, experiente e gentil, um cavalheiro, sempre foi a escolha de pessoas que procuram se cercar de quem soma na vida. O fato de muitas mulheres sentirem falta do cavalheirismo à moda antiga também as levou para uma nova realidade na busca por alguém; elas estão à procura de relacionamentos sinceros, leves e maduros”, contextualiza.

Sobre as preferências apontadas pela pesquisa da plataforma, o especialista é enfático: "Muitas pessoas hoje estão descobrindo que a busca pela felicidade pode estar mais intimamente ligada à estabilidade financeira do que se imaginava. O dinheiro não só traz felicidade mas a falta dele muito provavelmente vai trazer problemas para a vida conjugal, 57% dos divórcios no Brasil ocorrem devido a dificuldades financeiras. Por isso, mulheres hoje buscam homens bem-sucedidos, mais maduros e experientes, o famoso Sugar Daddy”.

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Programação do Cineflix Santos
“Amores Materialistas” | “Materialists” | Sala 3
Classificação indicativa: 
14 anos. Ano de produção: 2025. Idioma: inglês. Direção: Celine Song. Roteiro: Celine Song. Elenco: Dakota Johnson, Chris Evans, Pedro Pascal, Zoë Winters, Marin Ireland, Dasha Nekrasova, Louisa Jacobson, Sawyer Spielberg, Eddie Cahill, John Magaro (voz), entre outros. Distribuição: Sony Pictures. Duração: 1h57. Cenas pós-créditos: não.

Sinopse resumida de "Amores Materialistas"
Lucy, uma casamenteira de elite em Nova York, vive unindo casais. Na véspera de seu décimo casamento de sucesso, conhece Harry, um verdadeiro “par perfeito”, mas reencontra John, seu ex-namorado garçom e aspirante a ator. Dividida entre conforto e paixão, ela precisa questionar se o amor pode ou deve ser quantificado a partir de status e segurança emocional, ou se ainda vale deixar-se levar pelo sentimento.

Dublado
4/8/2025 - Segunda-feira: 15h10
5/8/2025 - Terça-feira: 15h10
6/8/2025 - Quarta-feira: 15h10

Legendado
4/8/2025 - Segunda-feira: 17h40 e 20h10
5/8/2025 - Terça-feira: 17h40 e 20h10
6/8/2025 - Quarta-feira: 17h40 e 20h10

.: Abertura da exposição World Press Photo 2025 será nesta terça em SP


A abertura da exposição contará com a presença dos fotógrafos brasileiro premiados, Anselmo Cunha e Amanda Perobelli, e do presidente do júri Sulamericano, o também brasileiro, Lalo Almeida. Foto: Aeronave em Pista Inundada, registrada durante a enchente histórica que atingiu o Rio Grande do Sul em maio de 2024 | Anselmo Cunha - Agence France-Presse


A exposição itinerante "World Press Photo 2025", que apresenta os vencedores do 68º Concurso Anual, chega na CAIXA Cultural de São Paulo nesta terça-feira, dia 5 de agosto. Este ano, a mostra, que reúne o melhor do fotojornalismo, traz 42 projetos vencedores que refletem os temas mais urgentes da atualidade: política, gênero, migração, conflitos armados e a crise climática, reunindo histórias captadas por fotógrafos de 31 países. 

Entre os premiados, estão três profissionais brasileiros: Amanda Perobelli, André Coelho e Anselmo Cunha. O Brasil também ganhou protagonismo na lente de profissionais internacionais, o mexicano Musuk Nolte com imagens da seca na Amazônia e Jerome Brouillet com a foto do atleta olímpico Gabriel Medina. Depois de uma temporada de sucesso no Rio de Janeiro, a mostra segue em cartaz em São Paulo até o dia 28 de setembro, depois segue para Brasília, Curitiba e Salvador.

Em 2025, as imagens documentam desde protestos e levantes em países como Quênia, Myanmar, Haiti, El Salvador e Geórgia, até retratos inesperados de figuras políticas nos Estados Unidos e na Alemanha. Também revelam histórias comoventes de jovens ao redor do mundo – como um homem trans de 21 anos nos Países Baixos, uma jovem ucraniana traumatizada pela guerra e a foto do ano que mostra uma criança palestina vivendo com amputações após bombardeios em Gaza, captada por uma fotógrafa da mesma nacionalidade.

Outro destaque desta edição é o impacto das mudanças climáticas em diferentes partes do mundo, com registros de desastres no Peru, Brasil e Filipinas. Há ainda um retrato potente da comunidade LGBTQIAPN+ celebrando o orgulho em um local secreto em Lagos, Nigéria, onde atos dessa natureza podem ser criminalizados. Destaque também para Tamale Safale, o primeiro atleta com deficiência a competir com atletas não deficientes em Uganda.

“Uma foto vencedora no World Press Photo não é apenas um registro histórico, é arte. Ela documenta, mas também fica na memória. O prêmio valoriza os projetos que jogam luz a questões urgentes e relevantes, que estão em debate em todo o mundo. E enxergar o nosso país nesse lugar de potência traz ainda mais satisfação em representar a exposição aqui”, explica Flávia Moretti, representante do World Press Photo no Brasil. 


Brasil
Três fotógrafos brasileiros estão entre os premiados da América do Sul no World Press Photo 2025. Na categoria Individual, Anselmo Cunha foi reconhecido pela imagem Aeronave em Pista Inundada, registrada durante a enchente histórica que atingiu o Rio Grande do Sul em maio de 2024. Com o mesmo tema, Amanda Perobelli venceu na categoria Reportagem com a série As Piores Enchentes do Brasil, que retrata os impactos das chuvas na cidade de Canoas, uma das mais afetadas pelo desastre climático. Também na categoria Individual, o fotógrafo André Coelho foi premiado com a imagem Torcida do Botafogo: Orgulho e Glória, que mostra a comemoração dos torcedores do clube carioca após a conquista inédita da Copa Libertadores da CONMEBOL, em novembro de 2024. 

O Brasil também se destacou em outros dois projetos internacionais. O mexicano Musuk Nolte retratou os efeitos socioambientais da redução do nível dos rios na região norte do país. A série Seca no Rio Amazonas foi uma das vencedoras na categoria Reportagem da América do Sul. Já o fotógrafo francês Jerome Brouillet, da AFP, venceu na categoria Individual da região Ásia-Pacífico e Oceania, com a imagem de grande repercussão que  mostra o surfista brasileiro Gabriel Medina emergindo triunfante de uma onda em Teahupo’o, no Taiti, quando garantiu a medalha de bronze  nas Olimpíadas de Paris

O fotógrafo Lalo de Almeida, vencedor na categoria Individual da América do Sul na edição de 2024, foi escolhido para presidir o júri na América do Sul. “Ter a experiência de estar do outro lado do balcão é uma honra. É uma grande responsabilidade, pois todas as histórias são importantes e todas as fotografias selecionadas eram impressionantes. Há muitos fotógrafos trabalhando em histórias profundas e foi incrível ver a forma como a América do Sul produz boas histórias”, afirma ele, que também integrou o júri global.


Campanha Feminicídio Zero
Durante o período de exibição no Brasil, a  "World Press Photo 2025" adere à campanha "Feminicídio Zero" para ampliar o debate sobre violência de gênero e os desafios enfrentados por mulheres em diferentes contextos ao redor do mundo. As histórias retratadas em diversas imagens vencedoras da mostra nesta edição, tais como Corpos Femininos Como Campos de Batalha (Cinzia Canneri), Maria (Maria Abranches), Jaide (Santiago Mesa), Terra Sem Mulheres (Kiana Hayeri) e Crise no Haiti (Clarens Siffroy) evidenciam como o corpo e a vida das mulheres continuam sendo alvos de opressão, controle e violência. Ao conectar essas narrativas visuais com os objetivos da campanha, a mostra convida o público a refletir sobre os direitos das mulheres, a urgência do enfrentamento ao feminicídio e o papel da arte na promoção da conscientização social.


Concurso
Desde 1955, o Concurso Anual World Press Photo reconhece e celebra o melhor do fotojornalismo e da fotografia documental produzidos ao longo do último ano. Em 2021, o concurso passou a adotar um modelo regional de premiação, o que o tornou mais representativo globalmente. A edição de 2025 mantém esta estrutura, com seis regiões globais: África; América do Norte e Central; América do Sul; Ásia Ocidental, Central e Sul Asiático; Ásia-Pacífico e Oceania; e Europa. 

Neste ano, a novidade é a mudança de um para três vencedores nas categorias Fotografia Individual e Reportagem em cada região do mundo, além de um vencedor por região na categoria Projeto de Longo Prazo. A exposição será apresentada em mais de 60 cidades, incluindo a estreia mundial em Amsterdã, seguida de Londres, Roma, Berlim, Viena, Budapeste, Cidade do México, Montreal, Jacarta e Sydney. 

As inscrições são julgadas e premiadas de acordo com a região onde as fotografias e histórias foram produzidas — e não pela nacionalidade do fotógrafo. Cada região contempla três categorias baseadas em formato: Individual (Singles), Reportagem (Stories) e Projetos de Longo Prazo (Long-Term Projects). 

Em 2025, o concurso, que acontece em meio às comemorações de 70 anos da Fundação World Press Photo, realizadora da premiação, ampliou o número de fotógrafos e projetos premiados – de 33, em 2024, para 42. Foram recebidas 59.320 inscrições, enviadas por 3.778 fotógrafos, de 141 países. As inscrições sempre são avaliadas de forma anônima. A primeira etapa da seleção foi realizada por júris regionais, que fizeram a pré-seleção dos trabalhos. Em seguida, os vencedores foram definidos por um júri global independente, composto pelos presidentes dos júris regionais e o presidente global.

A exposição no Brasil é patrocinada pela CAIXA e pelo Governo Federal, e tem o apoio do Jornal Folha de S. Paulo. A organização sem fins lucrativos Repórteres Sem Fronteiras (RSF) é apoiadora da programação paralela da World Press Photo. 


Serviço
Exposição "World Press Photo 2025"
CAIXA Cultural São Paulo
De 5 de agosto a 28 de setembro de 2025
Praça da Sé, 111 - Centro – Próximo à estação Sé do Metrô
Horário de visitação: de terça a domingo, de 8h00 às 19h00
Entrada gratuita
Classificação etária: 12 anos
Mais informações: https://www.caixacultural.gov.br/Paginas/default.aspx /@caixalculturalsp/tel: (11) 3321-4400
Importante: A exposição terá visitas mediadas com Libras e todas as imagens contarão com audiodescrição.

.: Entrevista com Cassiana Pérola Negra, filha de Jovelina, joia rara do samba


Por 
Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com. Foto: Claudia Ribeiro

Filha de Jovelina Pérola Negra, Cassiana Belfort, mais conhecida como Cassiana Pérola Negra, poderia ter sido apenas “a continuação” ou a sombra respeitosa de um mito. Preferiu o risco: tirou a sandália, botou o pé no chão e fez da rua o próprio batismo artístico. Vinte anos depois daquele primeiro tributo inocente no Espírito Santo, ela grava a segunda parte de um registro audiovisual repleto de autenticidade. 

Definitivamente, ela não é a cópia da mãe, mas como intérprete de si mesma - com banjo, suor, partido alto e um público que responde no estalo da palma. Cassiana não canta por protocolo. No palco, ela mistura raiz e reinvenção, tradição e desobediência, abrindo espaço para perguntas que incomodam: o samba sobrevive ao algoritmo? Qual o limite entre herança e autonomia? Quem dita o ritmo: o tamborim ou o streaming

Recentemente, ela gravou na quadra do Império Serrano, em cuja ala das baianas Jovelina desfilava, a  segunda parte do audiovisual "Cassiana 20 Anos”, projeto contemplado no edital Fluxos Fluminense, da Secretaria do de Cultura e Economia Criativa do Estado do Rio de Janeiro. No repertório, além do repertório da própria mãe, obras de Dona Ivone Lara, Arlindo Cruz e Almir Guineto. Também foi oferecida uma oficina de banjo com o músico e Luthier Márcio Vandelei, Em entrevista exclusiva para o portal Resenhando.com, a cantora falou com a objetividade de quem canta entre o peso do nome e a leveza de ser o que se é.


Resenhando.com - Cassiana, sua carreira começou meio que sem intenção de seguir os passos de sua mãe, Jovelina Pérola Negra. Hoje, como você lida com o peso dessa herança tão forte?
Cassiana Pérola Negra - É uma benção! Uma herança única, algo inexplicável. Lido muito bem, hoje está mais tranquilo.


Resenhando.com - Você já declarou que “quem faz o artista é a rua”. Em tempos digitais, com lives e redes sociais dominando, como você vê a importância da rua e da presença física no samba e no seu trabalho?
Cassiana Pérola Negra - Eu vejo isso como algo importante, pois a presença na rede social é agregador para o nosso trabalho. Porém, para mim a rua continua sendo extremamente essencial. Na rua, você está cara a cara com o público, é mais quente. As redes sociais são um veículo de extensão. 


Resenhando.com - O samba partido alto tem uma tradição oral e coletiva muito forte. Como você enxerga o desafio de preservar essa essência em um mundo cada vez mais individualista e digitalizado?
Cassiana Pérola Negra - O desafio é grande, porém, precisamos preservar essa cultura que é do nosso povo preto, que tanto luta para manter esse vertente.  


Resenhando.com - A gravação da segunda parte do audiovisual aconteceu na quadra do Império Serrano, local onde sua mãe desfilava. Como é para você transitar entre esses dois espaços - o palco e o universo da escola de samba?
Cassiana Pérola Negra - Para mim é ótimo, pois posso eternizar os caminhos que minha mãe trilhou! 


Resenhando.com - A oficina de banjo ministrada por Márcio Vandelei reforça a importância dos instrumentos tradicionais. Como você avalia o papel do instrumental no samba hoje, especialmente para artistas jovens que talvez nunca tenham visto um banjo de perto?
Cassiana Pérola Negra - Essa oficina é essencial e importante para abrir caminhos para jovens e adolescentes conhecerem, aprofundarem e sentirem esse instrumento com som tão único e ensinado por um grande mestre e referência do ramo, chamado Márcio Vanderlei. 


Resenhando.com - Existe um estigma ou resistência em torno do samba partido alto por não ser “comercial” o suficiente? Como você encara essa percepção e o que gostaria de mudar no cenário da música popular brasileira?
Cassiana Pérola Negra - Na Música Popular Brasileira, não mudaria nada. Porém, nós trabalhamos para que o partido alto seja reconhecido como merece ser conhecido. 


Resenhando.com - Em 20 anos de carreira, qual foi o momento mais difícil de se manter fiel à sua arte e às suas raízes, mesmo diante das pressões do mercado ou da indústria?
Cassiana Pérola Negra - Nenhum, a fidelidade foi do início até hoje. É isso que eu gosto. 


Resenhando.com - Se pudesse dar um conselho para sua Cassiana de 20 anos atrás, no começo da carreira, o que seria? E qual conselho daria para os jovens sambistas que hoje começam a trilhar seu caminho?
Cassiana Pérola Negra - O conselho que eu me daria é: continue que vai valer a pena. O que eu falaria para os jovens é: estude, ame o que você faz e dedique-se! 


Resenhando.com - Olhando para o futuro, quais novos territórios musicais ou artísticos você gostaria de explorar - e o que ainda resta para ser desbravado dentro do samba para você?
Cassiana Pérola Negra - Sinto-me bem confortável onde estou. Amo o que faço.

domingo, 3 de agosto de 2025

.: Mouhamed Harfouch revela a história por trás do espetáculo mais pessoal


Por 
Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com. Foto: Claudia Ribeiro

Um nome pode ser destino, fardo, bandeira ou metáfora. No caso de Mouhamed Harfouch, foi ponto de partida para um mergulho teatral - e existencial. Após rodar por cinco palcos no Rio de Janeiro, o monólogo "Meu Remédio" estreia em São Paulo no Teatro Santos Augusta, com sessões aos sábados e domingos, entre os dias 30 de agosto e 28 de setembro.

Escrito, produzido e protagonizado por Harfouch, com direção de João Fonseca, o espetáculo mistura memórias, músicas e ancestralidade em 75 minutos de pura exposição - do ator ao homem, do filho ao artista. Com humor, lágrimas e acordes tocados ao vivo, o texto revela não só uma trajetória marcada pela reinvenção, mas também o peso e a força que cabem em um nome.

Nesta entrevista exclusiva para o Resenhando.com, o ator que brilhou em novelas como "Cordel Encantado" e "Órfãos da Terra", e em musicais como "Querido Evan Hansen", fala sobre coragem, pertencimento e os bastidores emocionais da peça mais íntima da vida dele. Entre feridas, risos e confissões, Mouhamed abre espaço para aquilo que ainda está em processo. Porque, como ele mesmo afirma em cena, "aceitar quem somos é curativo".

Resenhando.com - “Meu Remédio” surge de um nome difícil de carregar. Que tipo de cura você acredita que um nome pode atrasar, ou apressar, na vida de alguém?
Mouhamed Harfouch - Se você pensar que o nome é aquilo que te individualiza num primeiro momento, é o teu cartão de visita, e que esse nome é algo que você não escolhe quando nasce, você recebe, de certa forma, de maneira imposta, isso tem um peso. Quando há um casamento perfeito e você gosta é uma maravilha. Mas isso nem sempre ocorre, e com minha peça tenho visto que muita gente teve ou tem dificuldades com o próprio nome. E as razões são diversas. Mas o interessante é que pensar sobre nosso nome pode nos levar a uma viagem muito transformadora sobre quem somos, de onde viemos e para onde vamos. É uma oportunidade de nos revisitarmos. A peça sugere esse diálogo consigo mesmo. Agora sobre atrasar ou apressar, não penso assim. Tudo tem seu tempo correto e faz parte do processo de amadurecimento de cada indivíduo. A cura, muitas vezes, pode vir do resultado deste processo de amadurecimento e isso, sim, é libertador! 


Resenhando.com - A peça é uma travessia íntima embalada por humor e dor. Você teve medo de se expor demais ou, pior, de ser confundido com as caricaturas que também interpreta?
Mouhamed Harfouch - Tive muito medo, por isto levei dois anos escrevendo, ou melhor, maturando. Escrevia uma parte e parava meses. Tinha medo da exposição, tinha dúvidas sobre levar algo tão íntimo para o palco e se isso poderia ser interessante para alguém. Meu diretor João Fonseca foi fundamental nesse processo, pois me deu a mão e me motivou a seguir em frente. Não me deixou desistir. O resultado me deixou realmente muito feliz. Fomos acolhidos pelo público e a crítica carioca de uma maneira muito linda.


Resenhando.com - Ao se lançar como autor, ator e produtor, qual foi o momento mais tentador para desistir, e o que impediu você?
Mouhamed Harfouch - Já tinha produzido e atuar é o meu ofício. Agora escrever é um desafio enorme, ainda mais quando é sobre sua própria história. Sempre tive em mente o título e o como gostaria de terminar a peça, mas como chegar até lá? Como desenvolver isso de forma teatral? Isso foi, sem dúvida,  meu maior desafio, mas tive que vencer um por vez. Vencida a etapa da escrita, veio a de produzir, levantar recursos, viabilizar! Levei quase três anos com uma ideia na cabeça para conseguir materializar. Quando consegui levantar recursos e pautar o espetáculo para a estreia, veio o medo absurdo, o do ator. Afinal, é o primeiro monólogo que levo aos palcos. Para conseguir vencer tantos desafios, foi fundamental contar com uma equipe maravilhosa como a minha. Mas preciso agradecer aos meus filhos, minha primeira plateia e escuta. Eles riam e adoravam ouvir a leitura do meu texto, das minhas histórias que fazem parte deles, e ver meus primeiros ensaios….Isso me deu muita força e coragem.


Resenhando.com - Você cresceu entre sírios e portugueses num Brasil ainda mais pouco preparado para lidar com o “outro”. Já sentiu que era preciso performar uma brasilidade mais palatável para ser aceito?
Mouhamed Harfouch - Nunca pensei sobre. Sempre fui extremamente brasileiro, nasci e cresci aqui, estudei em um colégio católico e só o que destoava da aparente normalidade era justamente o meu nome, porque era onde as pessoas codificavam a minha diferença. Então, minha luta era me entender enquanto parte desta mistura, e não ter vergonha de ser diferente. Saber carregar um nome tão forte e repleto de significados. Se tivesse adotado um outro nome, isto sim, poderia ser parte de um processo para me tornar mais palatável talvez.


Resenhando.com - Há uma cena ou uma canção em "Meu Remédio" que, até hoje, ainda dói apresentar? O que você poupa da plateia?
Mouhamed Harfouch - Meu espetáculo não transita  pela dor, mas pela alegria e emoção. Sempre me emociona a cena onde falo da mala que a gente abria quando meu pai voltava da Síria, ou quando algum primo trazia para meu pai. Era abrir a mala e subir o cheiro de um outro continente, outra cultura, outro povo. Essa cena sempre me faz lembrar da minha infância junto aos meus irmãos, meus pais e isso me emociona muito. Minha mãe acabou falecendo depois que escrevi e estreei a peça. Foi logo depois que estreei, na verdade. Escrevi a peça e me referia a ela presente, e agora me refiro a ela em lembrança. Então, a cena em que falo sobre ela, sobre como ela preparava pratos e mais pratos para nós e também o chancliche, queijo árabe maravilhoso, que cito na peça. Acabou virando um momento que me toca muito e que tenho que respirar para seguir com a história. Mas revivê-la todos os dias no teatro me faz muito feliz. E essa é a tônica da peça: as pessoas saem felizes. E isso é a minha alegria.  


Resenhando.com - Você já deu vida a muitos personagens na TV, no cinema e no teatro. Quem é mais difícil de encarar: o protagonista da própria história ou os papéis que exigem negar quem se é?
Mouhamed Harfouch - Como artista, quero provocar, tocar as pessoas, emocionar, divertir e ampliar horizontes. Então, contar uma boa história é minha busca. Quando cheguei a ao ponto final de “Meu Remédio” fiquei muito empolgado, muito feliz mesmo, achava que tinha uma boa história para contar. Os seis meses de temporada no Rio nos mostraram que sim. Mergulhar na nossa verdade não é tarefa fácil, ter coragem para se revisitar é um processo delicado, mas muito libertador. Sempre tentei achar a verdade de cada personagem, comigo não poderia ser diferente (risos). 


Resenhando.com - Seu espetáculo defende que “aceitar quem somos é curativo”. Mas o que você ainda não aceita em si e que talvez ainda esteja em tratamento?
Mouhamed Harfouch - No momento, tento curar a ausência da minha mãe e me entender sem ela. Neste ponto, o teatro me ajuda mais uma vez. Mas não só isso, não somos uma coisa só. Algo definitivo. A medida que crescemos, amadurecemos, vencemos algumas barreiras, alguns desafios, lidamos com vitórias, derrotas, frustrações, sonho, medos e desejos. A vida não é corrida de cem metros, é maratona, e eu tô correndo, sem pressa de chegar. Que venham os novos desafios. 

Resenhando.com - João Fonseca dirigiu nomes como Cazuza, Tim Maia, Cássia Eller. O que ele revelou de Mouhamed que nem você sabia que estava guardado?
Mouhamed Harfouch - Acho que, ao não me deixar desistir,  pude me entender melhor. Entender  o quanto o teatro me salvou e me deu pertencimento. A entender minha relação com meu nome, minha família e minha própria história. A gente vai vivendo, realizando as costuras da vida, fazendo nossas escolhas e os caminhos, somos atropelados pela correria do agora, então, de certa forma, João me mostrou o quanto as minhas escolhas construíram aquilo que me fez chegar até aqui. Ele me mostrou o quanto tive consciência dessas escolhas, mesmo sem fazer ideia que eu tinha essa consciência. Hoje vejo que sempre fui fiel ao que acredito. 


Resenhando.com - A plateia ri, chora, se identifica. Mas houve alguma reação do público que te desmontou completamente?
Mouhamed Harfouch - Não esperava que a plateia se identificasse tanto com minha história, de verdade.  Que participasse tanto... Teve uma senhora, no Rio, que foi cinco vezes ao meu espetáculo e pagando, tá? Na quinta vez, eu virei para ela e disse: "Agora você não paga mais! É minha convidada tá?" (risos). Tudo isso me surpreendeu positivamente.


Resenhando.com - Depois de olhar tão profundamente para dentro, que tipo de personagem você nunca mais aceitaria interpretar?
Mouhamed Harfouch - Não gosto de personagens vazios. Não gosto de caricatura. Não tenho tesão em fazer algo gratuito, sem alma, sem propósito… por que somos tocados pelo o que é humano. E isso só vem quando é de verdade.

.:"'O Mar, o Rio e a Tempestade", reúne ensaios de Pedro Süssekind


O livro "O Mar, O Rio e A Tempestade: sobre Homero, Rosa e Shakespeare", do professor e escritor Pedro Süssekind, foi finalista da 2ª edição do Prêmio Jabuti Acadêmico no eixo Ciência e Cultura na categoria Letras, Linguística e Estudos Literários. A obra, publicada pela Tinta-da-China Brasil, estabelece um diálogo entre três pilares da literatura universal: a Odisseia de Homero, Rei Lear de Shakespeare e Grande sertão: veredas de Guimarães Rosa.

Com a filosofia como ponto de partida, Süssekind constrói uma ponte intelectual que atravessa milênios e culturas, oferecendo uma leitura que percorre a história das ideias desde a Grécia Antiga, passando pela Inglaterra moderna, até chegar ao Brasil contemporâneo. O livro combina diferentes perspectivas críticas para revelar conexões surpreendentes entre essas três obras. 

"O Mar, O Rio e A Tempestade" se divide em três partes: na primeira, dois ensaios dedicados à "Odisseia" exploram a busca da verdade na Telemaquia e a narrativa do episódio das sereias através da lente da Dialética do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer. A segunda parte mergulha em "Rei Lear", extraindo da tragédia shakespeariana questões que atravessam história, matemática, antropologia e filosofia, além de abordar sua controversa recepção crítica. A terceira parte examina como Guimarães Rosa se apropria de temas tradicionais da filosofia e literatura em sua obra-prima, analisando o romance modernista e regionalista.

Nas palavras dos coordenadores da coleção Ensaio Aberto, Pedro Duarte e Tatiana Salem Levy, o livro oferece "uma viagem pelo mar de versos de Homero, pela tempestade da dramaturgia de Shakespeare e pelo rio de literatura de Guimarães Rosa". A cerimônia de entrega dos prêmios será realizada no dia 5 de agosto, no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo, reunindo autores, editores, pesquisadores e representantes das principais instituições científicas e acadêmicas do país. 

Criado em 2024, o Prêmio Jabuti Acadêmico pretende reconhecer a excelência da produção científica, técnica e profissional nacional, além de dar visibilidade às contribuições desses campos para o desenvolvimento do Brasil. Compre o livro "O Mar, O Rio e A Tempestade: sobre Homero, Rosa e Shakespeare", de Pedro Süssekind, neste link.


Sobre o autor
Pedro Süssekind Viveiros de Castro
(Rio de Janeiro, 1973) é professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador do CNPq. Doutor em filosofia pela UFRJ, com estágio de pesquisa na Freie Universität de Berlim, é autor de importantes estudos sobre estética e literatura, incluindo "Shakespeare, o Gênio Original" (Zahar, 2008), "Teoria do Fim da Arte" (7Letras, 2017) e "Hamlet e a Filosofia" (7Letras, 2021). Como ficcionista, publicou o livro de contos "Litoral" (7Letras, 2004) e os romances "Triz" (Editora 34, 2011) e "Anistia" (HarperCollins Brasil, 2022). Compre os livros de Pedro Süssekind, neste link.


Sobre a Coleção Ensaio Aberto
A Coleção Ensaio Aberto é resultado de uma parceria originada no âmbito do Programa de Internacionalização da Capes (Capes‑Print) entre a Universidade Nova de Lisboa e a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Os livros são publicados simultaneamente pela Tinta-da-china em Lisboa e pela Tinta-da-China Brasil em São Paulo, com apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT - Portugal).


Sobre a Tinta-da-China Brasil
É uma editora de livros independente, sediada em São Paulo, gerida desde 2022 pela Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos. Sua missão é a difusão da cultura do livro.

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