quarta-feira, 2 de agosto de 2006

.: Entrevista com Ruy Castro, escritor, autor de "O Anjo Pornográfico"

“Carmen Miranda me fez voltar atrás quanto a não escrever mais biografias. Era irresistível como artista, como mulher e como personagem” - Ruy Castro

Da Redação do Resenhando
Em agosto de 2006



Carmen era independente, falava palavrão e todo mundo sabia que tinha vida sexual com o namorado, mas ninguém lhe faltava ao respeito.


“O anjo biográfico”, Jornal do Brasil 

“O repórter por excelência do século XX brasileiro e um criador de heróis”, O Globo

“Um dos mais respeitados biógrafos”, Paulo Francis, O Estado de S. Paulo


Ele é um dos escritores brasileiros mais versáteis da atualidade. Seus livros "Chega de Saudade" (90), "O Anjo Pornográfico" (92), "Estrela Solitária" (95) e "Ela é Carioca" (99) ajudaram a redefinir o gêneros como biografia e levantamento histórico de um lugar, ou época. Outros, como A onda que se ergueu no mar (01) e "Carnaval de Fogo" (03), caminham pela fronteira entre a crônica, com todas as liberdades que ela permite, e o ensaio, muito mais rigoroso.

Para o público jovem, escreveu o romance "Bilac vê estrelas" (00) e a novela "O pai que era mãe" (01). É também autor de Saudades do Século 20 (94), sobre treze figuras mais amadas do show business da época. Todos pela Companhia das Letras. Publicou, também, "Amestrando Orgasmos" (04), pela Objetiva, e "Flamengo", pela Ediouro (04), livros que tratam, respectivamente, sobre crônicas de humor e a história de seu clube de coração. O personagem em questão é Ruy Castro, reconhecido como um dos mais importantes biógrafos e escritores da atualidade. Castro é casado com a escritora Heloísa Seixas.



RESENHANDO – Quando e como surgiu a ideia de biografar Carmen Miranda?
RUY CASTRO – Foi há dez anos, quando terminei de escrever Estrela Solitária. De livro para livro, SEMPRE GOSTEI DE VARIAR DE PERSONAGEM. Depois de escrever sobre um teatrólogo (Nelson Rodrigues) e um jogador de futebol (Garrincha), achei que gostaria de biografar uma mulher. Pensei logo em Leila Diniz e em Carmen. O foco sobre Leila espalhou-se por Ipanema e se transformou no livro Ela é Carioca. Mas Carmen merecia um livro só para ela. Hoje está claro para mim que, além de fabulosa cantora, ela foi uma das moças mais modernas e revolucionárias de seu tempo. Carmen era independente, falava palavrão e todo mundo sabia que tinha vida sexual com o namorado, mas ninguém lhe faltava ao respeito. E isso em pleno ano de, digamos, 1930! 


RESENHANDO – Você já afirmou que não escreveria mais biografias. O que o fez mudar de idéia? 
RUY CASTRO – A própria Carmen. Era irresistível como artista, como mulher e como personagem. Gosto dela desde que nasci, e talvez até antes. Meu pai, solteiro no Rio dos anos 30, morava na Lapa, era boêmio, tocava violão e freqüentava as estações de rádio. Era fã de Carmen, de Mário Reis, de Chico Alves, e tinha centenas de discos de 78 rpm. Cresci ouvindo esse repertório. Lembro-me, muito bem da morte de Carmen, em agosto de 55 – tinha sete anos, mas vi como a notícia abalou minha família. E eu próprio sempre achei a melhor cantora brasileira de todos os tempos.


RESENHANDO – Quanto tempo levou para investigar e escrever Carmen?
RUY CASTRO – Comecei a trabalhar no livro em janeiro de 2001, recolhendo material em arquivos, sebos e leilões – enquanto isso, escrevia Carnaval de Fogo. Em 2003, assim que entreguei esse livro à editora, mergulhei para valer em Carmen. Entre investigar e escrever, foram quase três anos de dedicação integral, que eu não trocaria por nada. Falei com cerca de 170 fontes diretas, em um total de mais de mil entrevistas, incluindo grande quantidade de contemporâneos de Carmen – homens e mulheres na faixa dos 90 anos, perfeitamente lúcidos e ativos. Nunca deixei de me comover com o amor que sentiam por Carmen. Em certos casos, foi uma corrida contra o tempo – e perdi alguns por uma questão de dias. Graças à ajuda de amigos, ouvi todos os discos citados no livro, e vi todos os filmes – os de Carmen, inúmeras vezes. Fui à Várzea de Ovelha, onde Carmen nasceu, perto da cidade do Porto, e conversei com seus parentes, inclusive uma prima-irmã.


RESENHANDO – Há descobertas de que você se orgulha, particularmente? 
RUY CASTRO – Muitas. A primeira foi a reconstituição da infância de Carmen na colônia portuguesa no Rio, no começo do século XX. Outra foi a de que a lapa, onde ela morou dos seis aos dezesseis anos, de 1915 a 1925, foi fundamental para sua formação. Carmen estava no lugar certo quando muitas coisas importantes começaram: a Lapa, a Cinelândia, a praia, o disco e o cinema. Tudo isso é inédito. Outra passagem de que me orgulho é a reconstituição do show do Cassino da Urca em 1940 com a presença de tanta gente do governo na platéia, a maioria simpatizante de Hitler –foi por isso que hostilizaram carmen e disseram que ela voltara “americanizada”... E, finalmente, a relativização da famosa Política da Boa Vizinhança – que só teve alguma importância porque contou com Carmen, e não o contrário.


RESENHANDO – Você diria que Carmen é sua melhor biografia, até pela experiência acumulada?
RUY CASTRO – Sim. Mesmo porque não é só uma biografia. É também o levantamento de uma época maravilhosa e uma história de como as drogas ditas “legais” acabaram com a vida do cinema, como Carmen, Marilyn Monroe, Judy Garland. Não sei se devo confessar, mas eu próprio chorei ao escrever o final do livro. 


Livros de Ruy Castro

Chega de Saudade – A História e as Histórias da Bossa Nova
Narrativa que se lê como romance, cheia de paixões e traições, amores e desamores, lances cômicos e trágicos, protagoniados por João Gilberto, Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Nara Leão, Carlinhos Lyra, João Doanto, Elis Regina e pelos jovens que seduziram com charme e música.


O Anjo Pornográfico – A Vida de Nelson Rodrigues
Uma vida até mais espantosa do que as peças que o autor escreveu. Foi dela – e da vida de sua trágica família– que Nelson Rodrigues extraiu a obsessão pelo sexo e pela morte. Gênio ou louco? Tarado ou santo? Reacionário ou revolucionário? Nenhum outro escritor brasileiro foi tão polêmico em seu tempo.


Estrela Solitária – Um Brasileiro Chamado Garrincha
Garrincha fez o mundo rir. Neste livro, ele faz o leitor rir – e chorar. Esta é a história de um ídolo, amado por uma mulher e por um povo inteiro, mas destruído por um inimigo implacável. Para os brasileiros que só conheciam o seu mito, Garrincha renasce aqui como um herói tragicamente humano.


Ela é carioca – Uma Enciclopédia de Ipanema
De Tom Jobim e Leila Diniz e de jaguar e do cachorro Barbado à Bossa Nova, a Banda de Ipanema e ao Pasquim. Tudo isso é Ipanema, em 231 perfis descrevendo as figuras e instituições que, naquele estreito território a beira-mar e banhado por bares, marcaram a cultura brasileira de, pelo menos, 1910 a 1970.


Carnaval no Fogo – Crônica de Uma Cidade Excitante Demais
Este não é um livro sobre o Carnaval. Sua ação se passa em todos os quinhentos anos da história do Rio, uma cidade que, mesmo nos períodos de calmaria, viveu uma excitante agitação –um “Carnaval no fogo”–, da primeira índia tupinambá que namorou um pirata francês ao último reveillon em Copacabana.
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