segunda-feira, 1 de outubro de 2007

.: Entrevista com Fábio Lamachia, escritor

Vida nova com o pé na estrada

Da Redação do Resenhando

Em outubro de 2007


Conheça Fábio Lamachia, um jovem insatisfeito com a agitação da cidade grande que aprendeu a viver e achou um sentido para a vida ao lado de um cão labrador.



Em setembro de 2003, Fábio Lamachia ainda não havia completado 29 anos quando, frustrado com uma desilusão amorosa e o sucesso relativo de seu primeiro livro, Sonho Verde – sobre a experiência de quatro meses em uma mina de esmeraldas – decidiu deixar um emprego promissor na área de marketing e cair na estrada sem rumo.

Fábio era um jovem escritor paulistano de um livro só, o coração dilacerado por um amor frustrado e inconformado com a rotina alucinante da cidade grande quando decidiu largar tudo – inclusive uma carreira promissora – para cair na estrada em busca de aventuras e de um sentido para a vida. Encontrou um cachorro labrador preto, um filhote amarelo sensato e calmo e uma sueca aventureira, que acabou dando a ele uma filha no meio de aventuras engraçadíssimas, enquanto cruzavam, de jipe, as mais improváveis e surpreendentes paisagens do território brasileiro, do litoral ao sertão.

É a história de como uma pessoa descobre o Brasil e a si mesmo, em um exemplo de superação. Meu Chapa (Geração Editorial-Ediouro, 224 págs., mais caderno fotográfico colorido, R$ 29,90) não é apenas outro livro sobre cachorros e como os seres humanos se relacionam com eles. Mais do que isso, é a história de como uma pessoa em conflito resolve seus dramas interiores e encontra a felicidade enquanto vive aventuras engraçadas e envolventes.

Fábio Lamachia, rejeitado pela ex-namorada, insatisfeito e inconformado com a vida, e no limiar dos 30 anos, resolve romper com tudo e começar de novo. De espírito aventureiro – já passara quatro meses trabalhando numa mina de esmeraldas, aventura que narrou em seu primeiro livro, Sonho Verde – ele pega a estrada outra vez, agora definitivamente. Quer ser um andarilho, nada mais, e dedicar-se a seu projeto de vida: escrever sobre o que viveu.

A solidão o leva a buscar uma companhia – um cão, que ele comprou com o dinheiro da venda de sua prancha de surfe. Um cão cheio de defeitos, que vai ensiná-lo a viver. É na companhia desse bicho desengonçado e trapalhão que Fábio começa sua aventura rumo à felicidade e ao autoconhecimento. Chapa é pouco disciplinado, rebelde, travesso, e sempre apronta confusões, mas é com esse cachorro travesso – e com o companheiro sereno que surge no meio da história, o labrador amarelo Farofa – que Fábio descobre o que significa dedicar-se a um ser vivo integralmente. O jovem insatisfeito que fugiu da cidade grande em busca de um caminho acaba encontrando vários.

É Chapa – o companheiro constante – que vai jogá-lo nos braços de Jenny, uma arquiteta sueca que também abandona tudo para seguir o namorado de quem está grávida. Ancorado atualmente em Trancoso, do lado de Porto Seguro, na Bahia, com seus cães já adultos, a mulher e a filha Lorena, Fábio explora o turismo e começa a dedicar-se a seu projeto de vida.


RESENHANDO - Tanto em Sonho Verde quanto em Meu Chapa, você busca realizações. No primeiro, a busca é debaixo da terra, no interior de uma mina de esmeraldas. No outro, ao ar livre, com seu cão, estrada afora. Quais as diferenças e semelhanças entre os dois livros? 
FL – Nas duas aventuras, saí em busca de algo diferente da rotina estressante de uma cidade grande como São Paulo. Quando fui para a Bahia garimpar esmeraldas, além de viver no alto de uma montanha maravilhosa, almejava ganhar dinheiro de um jeito mágico para poder começar uma vida investindo os rendimentos em uma pousada ou algo parecido, o que não ocorreu. Quando eu estava lá, descendo em cabos de aço num poço de 75 metros, convivendo com um povo ímpar, percebi que o que mais valia era a história que vivenciava, e comecei a relatá-la em um caderninho, dia a dia. No livro Meu Chapa parti também com destino à Bahia. Queria promover mais o meu livro Sonho Verde e tive a idéia e iniciativa de distribuí-lo nos pontos turísticos da Chapada Diamantina, local em que pretendia morar. Para tanto, ter uma companhia era a questão. Depois de pouco tempo que peguei o Chapa, ele já me deixava descabelado com suas estripulias. Aquele cão de temperamento bombástico me dava motivos para escrever algumas coisas todos os dias! 


RESENHANDO - O processo de criação e redação dos dois livros foi igual? 
FL – Sim, nos dois livros anotava palavras-chave depois do ocorrido e desenvolvia posteriormente os textos.


RESENHANDO - Você escrevia sempre logo depois dos fatos? Tudo neles aconteceu, ou há um pouco de ficção?
FL – Tudo ocorreu mesmo, apenas alterei a ordem cronológica em algumas passagens, isso nos dois livros. No livro sobre o garimpo, usei nomes fictícios para vários personagens, depois que muitos garimpeiros me pediram anonimato. Já no Meu Chapa, os nomes das personagens permaneceram reais. 


RESENHANDO - Qual deles deu mais trabalho? E mais alegria? Por quê?
FL – Tive muito mais trabalho no primeiro livro. Escrevi totalmente solitário e demorei muito mais tempo. Tive de ler, reler e reescrever milhões de vezes. No Meu Chapa, meu terceiro livro, a escrita já corria mais solta e Jenny me ajudou muito ao opinar sobre o que pôr ou não no texto. Tive muito mais alegria em fazer o Meu Chapa com a Jenny grávida ao meu lado, e posteriormente com a Lorena, me olhando docemente da cadeirinha. Cada parágrafo foi feito com muito carinho.


RESENHANDO - Em Meu Chapa, a busca do sonho e do autoconhecimento se realizou plenamente. Além do Chapa, você encontrou Jenny, com quem se casou e tem uma filha, Lorena, que ganhou o capítulo mais bonito do livro, sobre o amor e a paternidade. Agora, feliz, você tem planos de viajar com a família em busca de novas aventuras para escrever outros livros? 
FL – Esse é mais um projeto, lógico, incluindo a Lorena e os cães. Queremos agora desbravar toda a América de carro, e começaremos pelo extremo sul. A vida é uma só, temos que andar por aí, para conhecermos o mundo em que vivemos!


RESENHANDO - Como é o seu dia-a-dia na tranqüila Trancoso? 
FL - Trancoso é um pequeno paraíso, me proporciona enormes alegrias, como acordar ainda no escuro e rumar para a praia com os cachorros. Surfo, corro, e volto para casa de cabeça aberta para escrever e brincar com a minha filha. 


RESENHANDO - Quer viver aí para sempre? São Paulo nunca mais? 
FL – Gosto muito daqui, mas como sempre na minha vida de andarilho, não considero o lugar definitivo. 


RESENHANDO - O que você está escrevendo atualmente? 
FL – Estou sempre botando idéias no papel, agora se elas virarão outros livros isso ainda nem eu sei. Ao mesmo tempo, incentivo a Jenny a finalizar seu primeiro livro. Ela tem, assim como eu, idéias muito inovadoras a respeito de criar filhos sem frescuras, soltos em meio à natureza e aos animais.


RESENHANDO - Com apenas dois livros publicados (além de Sonho Verde, tem o Pedras Preciosas do Brasil, edição bilíngue), você já vivia de direitos autorais, algo raro no Brasil. Agora a situação deve melhorar mais ainda com a publicação de Meu Chapa. Como conseguiu isso?
FL – Por se tratar de livros de aventura e pedras preciosas, imaginei que o interesse pelos livros seria maior em locais relacionados diretamente com os assuntos. Distribuí então os exemplares em pontos que não são livrarias, normalmente locais de espera "forçada" em atrações turísticas pelo Brasil. Por incrível que pareça o local que mais vende Sonho Verde é no simplório boteco do Seu Gilmário, no Poço Encantado, atração imperdível da Chapada Diamantina. Os livros também têm razoável saída nas lojas especializadas em pedras preciosas em diversos estados brasileiros, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. Mas é muito difícil hoje em dia viver apenas de livros, por isso faço passeios turísticos de jipe pelas belas paisagens do sul da Bahia, e quando surge o interesse vendo algumas esmeraldas remanescentes da minha época de garimpo. Daí vem um extra. 


RESENHANDO - Em algumas passagens do Meu Chapa, vocês adotaram cachorros de rua. Isso continua? 
FL – Claro que sim. Esse "instinto" de protetor dos animais, que aprendi com a Jenny e sua família, hoje se enraizou em mim. Normalmente os cães que recolhemos das ruas vão para o sítio Vagalume, descrito no capítulo 26 do livro. Porém pegamos há alguns meses em Trancoso o Zé, um pointer que estava abandonado e doente em frente a uma padaria. Tratamos dele com tanto carinho, e ele nos cativou de tal forma com seu jeitão desengonçado, que hoje o Zé tem o seu cantinho na nossa casa e também um assento no jipe, virou mais um integrante da família.
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2 comentários:

  1. Sempre vejo Fabio em suas aventuras e me bateu a curiosidade" quem é esse cara"?rsrsrs. É um cara legal,simples autentico e o melhor escreve( adoro ler).Vou comprar seus livros .Um grande abraço! sua fã.

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  2. Sempre vejo Fabio em suas aventuras e me bateu a curiosidade" quem é esse cara"?rsrsrs. É um cara legal,simples autentico e o melhor escreve( adoro ler).Vou comprar seus livros .Um grande abraço! sua fã.

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