terça-feira, 20 de setembro de 2016

.: Entrevista com Mick Jagger: “Eu não queria decepcionar os cubanos”

“Eu não queria decepcionar os cubanos”,
Mick Jagger

Em setembro de 2016

Dia 25 de março de 2016 foi um histórico em Cuba: o dia em que os Rolling Stones tocaram ao vivo e gratuitamente para milhares de fãs na ilha. O show virou o filme “Havana Moon - The Rolling Stone Live in Cuba”, dirigido por Paul Dugale. O longa terá uma única exibição mundial no dia 6 de outubro. No Brasil, a exibição será nos cinemas das redes Cinemark, Cinépolis e UCI. Nesta entrevista, Mick Jagger fala sobre suas impressões sobre Cuba e sobre a emoção de cantar juntamente com um coral cubano.

Vocês algum dia receberam cartas de fãs cubanos?
MICK JAGGER: Não, eu não me lembro de nenhuma. É muito próximo aos Estados Unidos, então a rádio se sobrepõe e acaba acontecendo muita troca de música. As pessoas conheciam os Beatles e os Rolling Stones e todas essas coisas, não era tão isolado. Quero dizer, isolado sim, e era difícil obter coisas, mas na Polônia também era assim. As pessoas conseguiam as coisas que lhes interessavam. Fomos à Polônia em 1966, e foi bem estranho. Aquele era um Estado muito mais reprimido que Cuba. Mas se você for falar da parte séria, o mês de março foi maravilhoso em Cuba. Eles tiveram o Papa, o Obama e finalmente os Stones: todos indo lá. Mas você teria que perguntar para os cubanos - eu não sei se eles sentem algo diferente depois de tudo isso ou não. Não é um lugar livre, você ainda não pode dizer o que pensa, você ainda não pode se juntar com pessoas, não é permitido muito acesso à internet, só um pouquinho aqui e ali. Então, para as pessoas de fora parece um lugar livre. Eu não tenho a resposta para isso, eu só estou levantando a questão. Em outro filme que fizemos sobre a América Latina, que se chama “Olé Olé Olé!”, há muito desta história. Havia repressão em muitos dos países latino-americanos, porque eram ditaduras militares de direita. Também sucedeu na Espanha de Franco, eles proibiram o rock ‘n’ roll, e nos países satélites soviéticos e na União Soviética. Então Fidel Castro copiou o método da União Soviética, proibindo a música burguesa e decadente. Isso não durou para sempre. O rock ‘n’ roll é somente uma parte do quebra-cabeça cultural. Você precisa de todas estas partes, você precisa de trocas culturais e políticas em todos os níveis, e você precisa de pessoas trocando ideias. Cultura popular, filmes, música e televisão são todos parte do diálogo.

Você teve a oportunidade de explorar a cidade antes ou depois do show?
M.J.: Não tivemos tempo. Você chega num dia, é um "bafafá" de imprensa, você vai, come, faz o show e no dia seguinte, vai embora. É praticamente impossível ter alguma impressão da cidade. Houve uma festa na Embaixada Britânica. Mas você está tentando se concentrar no show. Eu me diverti muito, porque eu já havia estado lá por algumas semanas no passado e tudo continuava vivo na minha memória. E me encontrei com pessoas que conheci antes. Mas se eu não tivesse estado lá antes, eu estaria nessa pressa de ter tudo perfeito para o show, o que ainda estava meio indefinido.

O show aconteceu oito dias depois da data anterior na Cidade do México, no tour latino-americano "América Latina Olé". Oito dias são suficientes para estar perfeitamente pronto para o próximo show?
M.J. - É um intervalo pequeno, mas você tem que continuar, tem que fazer todos os seus treinos vocais e exercícios. Acho que fui para as Antilhas (nesse meio tempo) e todos os outros foram para Miami, acho. Eu tinha que estar bem para aquele show, eu não queria decepcionar os cubanos.

Você falou bastante espanhol no show. Você fala a língua?
M.J. - Não muito. Eu a considero fácil, e se eu me preparo, eu consigo. Estive em países hispanos por quase todo o tour, além do tour no Brasil, que é em português e mais difícil. Então eu estive mais ou menos bem. Até minha filha Jade me deu um elogio meio hesitante. O espanhol dela é muito bom e ela disse: “Seu espanhol não foi assim tão ruim”. Eu disse: “Bem, eu venho falando há mais ou menos três meses”. Acho que você tem que fazer um esforço para se comunicar com as pessoas na língua deles. Mesmo que seja um desastre, não importa. As pessoas te agradecem por tentar. Muitas pessoas falam inglês, mas não em todas as partes, então é bom saber frases. O que acontece com o espanhol é que é diferente em cada país. Eles têm palavras e gírias diferentes e também pronúncias diferentes. Alguém me disse: “Você não pode pronunciar assim, você soa como um chileno”. E eu disse: “E o que tem de errado nisso?”.

A participação do coral local, Entrevoces, no coro de “You Can’t Always Get What You Want” foi muito comovente.
M.J. - Eles foram muito bons. Nós temos uma rede de corais com os quais mantemos uma ligação por todas as partes do mundo. Nós fazemos um ensaio com eles no dia anterior, e se podemos, nós fazemos mais um no dia do show, nos bastidores ou no palco.

Vocês já foram capturados em filme em vários palcos ao redor do mundo nas últimas décadas, mas deve ser bom ter uma memória permanente deste show em particular.
M.J. - Sim, creio que sim. Foi uma noite muito especial para os cubanos e algumas pessoas mais velhas disseram que pensaram que isso nunca iria acontecer, que aquele tipo de mundo já não os alcançaria mais. As pessoas mais jovens não pensam necessariamente assim, eles só querem se divertir e estão felizes que pessoas estão vindo e, quem sabe, outras virão. Não há necessidade de serem sempre shows grátis ao ar livre, porque isso é bem complicado de fazer. Mas eles gostam de um show grátis ao ar livre! Espero que outras pessoas venham e superem as dificuldades para que Cuba se torne mais uma parada no caminho, porque os cubanos iriam amar. Eles tiveram uma noite especial e foi maravilhoso para nós também.

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