quinta-feira, 2 de março de 2017

.: “As Invernas” transporta o leitor à Galícia rural dos anos 1950

Em seu primeiro romance publicado no Brasil, pela editora Tordesilhas, Cristina Sánchez-Andrade, considerada uma das vozes femininas mais poderosas da literatura espanhola, narra a trajetória obscura e singular das irmãs Dolores e Saladina, no retorno à sua aldeia natal, após anos de ausência.

 “O ordenamento dos elementos da história é impecável, e a mescla de ternura e ferocidade é completamente equilibrada. Algo semelhante tem que ser dito sobre a elocução, as expressões verbais, que é onde, mais brilhantemente, a intuição da autora se destaca – ela espalha as páginas com emparelhamentos inesperados e surpreendente sinestesia” - Ricardo Senabre, renomado crítico literário espanhol e ex-colunista do jornal El Mundo.

Duas irmãs: Dolores e Saladina. Em nada se parecem. Uma linda e graciosa, outra feia e desdentada, vivendo uma relação fraternal em que o amor e o conflito caminham juntos. Unidas por um passado em comum e um segredo obscuro que carregam consigo, as irmãs, apelidadas de “As Invernas”, retornam à sua aldeia de origem, Terra Chã, após terem passado anos em exílio. Seu falecido avô, Dom Reinaldo, temendo a perseguição das forças nacionalistas com o início da Guerra Civil Espanhola, havia mandado as meninas fugirem, fazendo com que elas acabassem indo parar na Inglaterra como refugiadas ainda pequenas, fato que traçou um novo e inesperado rumo na vida das duas.

É partindo dessa trama inicial que se desenvolve a narrativa de “As Invernas”, romance de Cristina Sánchez-Andrade que acaba de ser lançado no Brasil pela Editora Tordesilhas. Numa simbiose entre o poético e o narrativo, a autora circula em seu livro por temas como o mistério, a fantasia, o drama familiar, a hierarquização pela beleza e a relação entre individualidade e coletivismo, utilizando a tradição oral galega – das histórias contadas de uma geração para outra - e até mesmo de um certo tom cômico para nos entregar sua envolvente história. 

Para as irmãs Dolores e Saladina, em seu retorno à Terra Chã, nada parece ter mudado. Porém, debaixo da aparente normalidade, os moradores da pequena aldeia guardam seus próprios segredos. A volta das irmãs causa um alvoroço entre os habitantes locais, por razões que o leitor vai desvendando página a página, a cada personagem que lhes é apresentado, conforme as protagonistas vão se reintegrando à comunidade e trazendo à tona histórias que todos ali querem esquecer.

Mais que um conto com cunho histórico ou um retrato de um estilo de vida que não se encontra mais, “As Invernas” trata da individualidade das suas personagens principais, seus sonhos e ambições – incluindo aqui a paixão compartilhada pelo cinema hollywoodiano – enquanto mostra a busca das irmãs para se reintegrarem à comunidade em que voltaram a viver, tornando-se parte do rebanho de ovelhas, mesmo tendo se tornado distintas dos demais.

“— Talvez não seja tão ruim ser ovelha, como disse o padre.
E a outra, tentando abrir uma gaveta:
— Como assim?
— As ovelhas camuflam umas às outras. ”

Sobre a autora:
Cristina Sánchez-Andrade (Santiago de Compostela, 1968) é escritora, crítica literária, tradutora e coordenadora de vários seminários de narração. Formada em ciências da informação e em direito, é autora dos romances "Las Lagartijas Huelen a Hierba" (1999), "Bueyes y Rosas Dormían" (2001), "Ya No Pisa La Tierra Tu Rey" (Anagrama, Prêmio Sor Juana Inés de la Cruz 2004), "Alas" (2005), "Coco" (2007), "Los Escarpines de Kristina de Noruega" (finalista do Prêmio Espartaco de Novela Histórica 2011) e "El Libro de Julieta" (2011). 

Sua obra foi traduzida para o inglês, português, italiano, polonês e russo, e sobre ela os críticos espanhóis disseram: “Uma escrita que trabalha com os sentidos, uma lenda rude, selvagem e feroz... algo radicalmente novo na literatura em espanhol, original e insólito” (Manuel Rivas); “Guardem este nome: Cristina Sánchez-Andrade. É nada menos que uma das vozes femininas mais poderosas que a literatura espanhola nos deu” (Nuria Martínez Deaño, La Razón); “No caso de Cristina Sánchez-Andrade, pode-se falar, é claro, em uma escritora com um mundo próprio e insólito e um estilo que surpreende” (Luis García Jambrina, ABC).

Sobre a editora:
Revisitando os clássicos com criatividade, lançando autores consagrados de tradições literárias pouco ou nada conhecidas por aqui, buscando novos talentos e disponibilizando literatura de entretenimento sem perder de vista a qualidade, a Tordesilhas oferece um catálogo nada convencional e persegue o apuro na produção de seus livros, aparatando as edições, fixando textos com rigor, convidando especialistas e tradutores renomados. Seu compromisso é com a sensibilidade curiosa e investigativa.

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