quinta-feira, 15 de novembro de 2018

.: "O Sétimo Guardião": a verdade por trás de Aguinaldo Silva e Dias Gomes


Por André Araújo*, em outubro de 2018.

Dias Gomes inovou a linguagem da teledramaturgia. Isso todo mundo sabe. Não que fosse um gênio, mas sim um homem de muito talento, dono de um estilo único e diferente que, sob sua inteligência, encantou a todos; mas como todos os outros escritores, seguia sempre a mesma linha e quando uma novela sua estava para estrear, já se sabia que teríamos Paulo Gracindo, adversários políticos, beatas sedentas por sexo, muita safadeza no meio de uma penca de adultérios e humor ácido, cheio de “recado” (indiretas) aos censores de sua época. 

Eram assim as novelas do criador de “O Bem- Amado” e, como todos sabem, chamava mesmo a atenção, mesmo que às avessas, uma vez que nem todas as tramas escritas por ele tiveram esse sucesso todo de audiência. Dias era um visionário e seu texto era de arrepiar, mas não chegou a ser um sucessivo autor de sucessos. Vi algumas de suas obras e me encantei por “Roque Santeiro” (TV Globo, 1985/1986) que, na realidade, atingiu seu auge quando caiu nas mãos de Aguinaldo Silva, causando uma ciumeira em seu criador, o que fez com que Dias exigisse ele mesmo concluir sua história. 


Intrigas à parte, os telespectadores viriam a conhecer o lado autor (solo) de novelas do Sr. Aguinaldo Silva (já li algumas notas onde ele se diz o melhor no gênero!) com a trama de “O Outro”, novela protagonizada por Francisco Cuoco, que a mesma Rede Globo levou ao ar entre março e outubro de 1987, sendo substituída por “Mandala”, outra obra de Dias Gomes, mas que foi escrita por Marcílio Moraes, que levou a trama de Jocasta ( “Minha Deusa” Vera Fischer) sem a interferência do Dias, talvez pelo fracasso da trama, segundo revistas da época. 

Enfim, Aguinaldo Silva não bombou com sua novela “O Outro”, como todos sabem; assim como todos sabem também que da história dos homens idênticos só se salvou mesmo a trilha sonora internacional, que bateu todos os recordes de vendagens. A novela era insossa e andava em círculos. Em 1987, segundo diziam, novela boa era “Corpo Santo”, na Rede Manchete, que estreara um semana após o início da história protagonizada pelo velho Cuoco (disseram que o ator estava tão canastrão que conseguira ressuscitar o “Carlão”, personagem central de "Pecado Capital", de Janete Clair, exibida 11 anos antes!). A bem da verdade, quem viu as duas novelas teve essa sensação de “interpretação requentada"!).

Aguinaldo Silva não foi o grande nome da teledramaturgia com sua novela “O Outro”, mas se saiu muito bem em 1989, quando adaptou o livro “Tieta do Agreste”, de Jorge Amado, para a TV. E “Tieta” foi mesmo a grande novela de 1989, mas era uma adaptação, e nessa nova viagem, Aguinaldo juntou a genialidade da trama do velho baiano Jorge com alguma coisa que Dias Gomes já nos apresentara em outras obras. Eu, inclusive, quando vi a tal de “mulher de branco” atacando os homens em Santana do Agreste, cidade onde se desenrolava o enredo de “Tieta”, me perguntei: “É novela do Dias Gomes?”. Que mistura! Mas deu certo! 


No Brasil inteiro a história tornara-se popular e o autor Aguinaldo Silva recebeu todos os louros. Quase três anos depois, o auto retoma ao horário nobre (ele se orgulha de nunca ter escrito novela para outro horário!) com “Pedra Sobre Pedra”, e lá estava o velho Dias Gomes incutido na história que se passava em “Resplendor”... Daí por diante, se a novela do Aguinaldo era de cunho, digamos, rural, o autor voltava a beber na fonte do criador de "Roque Santeiro" e o sucesso popular era certeiro! 

Aguinaldo Silva, totalmente autoral, fez novelas ótimas, como “Senhora do Destino”, “Duas Caras” e “Império”... E no último dia 12 de novembro (2018!), voltou ao ar com o velho estilo copiado das tramas de Dias Gomes... Mas será “O Sétimo Guardião” uma história de terror no horário mais nobre da televisão brasileira?... Não sei dizer; mas li que a audiência da estreia ficou aquém do esperado... Que o autor tenha desejado fazer uma novela longe da realidade que temos visto nos últimos anos, mas que o primeiro capítulo não empolgou... não há como negar.

Ainda assim, boa sorte ao autor. Ainda faltam 170 capítulos!... Que venha a aceitação do público e muito anunciante disposto a faturar em cima de mais um sucesso com a assinatura do melhor autor de novelas (?) de todos os tempos! — com Well D'Marques e Auxi Carvalho.


*André Araújo é um apaixonado por telenovelas. Tanto que ele escreve algumas por aí e publica pela internet, arrebatando fãs e distribuindo inspiração. Da cabeça dele já saíram grandes personagens. Entre as novelas virtuais, é autor de "Uma Vez Na Vida! e "Flor de Cera".

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