quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

.: Nara Leão 80 anos: porque ninguém pode com ela até hoje em 20 motivos


A série documental Original Globoplay "O Canto Livre de Nara Leão", disponível na plataforma desde o último dia 7, ajuda a explicar como o talento e a personalidade de Nara Leão se combinaram para provocar uma transformação na música e no comportamento. Foto: Globoplay / Divulgação.

Na biografia "Ninguém Pode com Nara Leão", lançada pela editora Planeta, Tom Cardoso reconstrói a vida da artista que participou ativamente dos mais importantes movimentos musicais surgidos a partir da década de 1960, que, tratada como "café com leite" pela patota que se reunia no apartamento da família em Copacabana.

Também deixou a bossa nova para se juntar à turma politizada do CPC e do Cinema Novo e foi a primeira estrela da MPB a falar abertamente contra a ditadura militar. Autor do livro que homenageia Nara Leão, Tom Cardoso listou 20 motivos para justificar porque ninguém podia com esta artista única, que completaria 80 anos nesta quarta-feira, dia 19 de janeiro de 2022.


1. A despeito do ar de desencanto e da quase displicência, Nara Leão participou ativamente dos mais importantes movimentos musicais surgidos a partir da década de 1960 - e saiu de todos eles sem se despedir.

2. Ela foi a primeira artista de sua geração a ridicularizar a passeata contra a guitarra elétrica, liderada por Elis Regina e Geraldo Vandré e endossada por Gilberto Gil.


3. Filha de um advogado excêntrico, fez tudo que uma pré-adolescente de classe média alta carioca nos anos 1950 jamais sonhou fazer: como ir ao cinema, ao teatro e ter aulas de violão com um professor negro.


4. Ela foi uma das primeiras adolescentes do Rio a fazer análise, por necessidade e curiosidade.


5. Tratada como bibelô pelos machos alfas da bossa nova, deixou o movimento para se juntar à turma politizada do CPC e do Cinema Novo.


6. No disco de estreia, recusou-se a pegar carona no sucesso da bossa nova e gravou um disco com sambas de CartolaZé Keti Nelson Cavaquinho.

7. Apesar da decisão de dar um caráter mais político ao disco de estreia, tendo como fio condutor um gênero que estava associado diretamente às massas, ela se recusou a gravar uma letra machista de Cartola.


8. Lançado sete meses após o Golpe de 1964, “Opinião de Nara” foi o primeiro trabalho de uma estrela da MPB a colocar o dedo no nariz da ditadura. Sem rodeios, sem metáforas. Um disco-manifesto, inserido no contexto político-social e em sintonia com o que se ouvia nas favelas do Rio, marginalizadas e discriminadas pela política higienista do governador Carlos Lacerda.


9. O demolidor segundo disco serviu de inspiração para um dos mais revolucionários espetáculos musicais da história do país: o “Opinião”.


10. Foi ela, em pesquisa musical pelo Brasil, quem abriu as portas do sudeste para os talentos do Teatro Vila Velha, CaetanoGil, Gal e Bethânia - essa última, com 17 anos, foi convocada para substituí-la no show “Opinião”.


11. Foi a primeira estrela da MPB a falar abertamente e de forma mais contundente contra a ditadura militar, ao afirmar, em 1966, que o “Exército não servia para nada”.

12. Ao ver nascer a expressão “Esquerda Narista”, ela, que sempre rejeitou ser porta-voz de qualquer coisa, decidiu gravar, só por provocação, uma singela marchinha de um compositor iniciante, que mal abria a boca: Chico Buarque.


13. Atendendo a um pedido de Nara Leão, Chico compôs “Com Açúcar, Com Afeto”, a primeira de muitas canções em que a mulher assume a narrativa na primeira pessoa. Preso aos preceitos machistas da época, Chico recusou-se a interpretá-la, passando a tarefa para a cantora Jane Moraes. Nara, sempre na vanguarda, achou a atitude ridícula.


14. Primeira artista da MPB a gravar no mesmo disco Ernesto Nazareth e Lamartine Babo, Villa-Lobos e Custódio Mesquita, Nara nasceu tropicalista antes do movimento existir - e ser gestado com a sua ajuda.


15. Presidente do júri da polêmica e histórica edição do FIC 1972, o festival que revelou Raul Seixas, Sérgio Sampaio e Walter Franco, pediu demissão por não aceitar a ingerência dos militares.


16. Cansada de tudo e de todos, decidiu dar um tempo, no auge da carreira: “Uma hora eu sou a musa da bossa nova, outra a cantora de protesto e ainda tem essa coisa ridícula do joelho. Então me recuso a virar um sabonete e vou dar uma parada”.


17. Decidida a estudar Psicologia na PUC, por um bom tempo não foi reconhecida pelos colegas de classe, dez anos mais novos.


18. De volta aos estúdios, decidiu gravar um disco inteiramente dedicado ao cancioneiro de Roberto e Erasmo, ainda vistos como artistas menores por alguns medalhões da MPB.

19. No fim da década de 1970, rodou o país numa perua kombi, fazendo shows nos rincões do Brasil, ao lado de uma nova e renovadora turma do choro carioca, entre eles o violonista Raphael Rabello, de 15 anos.

20. Diagnosticada com um tumor no cérebro, que lhe impôs uma série de complicações, nunca deixou de produzir compulsivamente, gravando praticamente um disco autoral por ano. Você pode comprar o livro neste link.

Sobre o autor
Tom Cardoso, nascido no Rio de Janeiro, é jornalista, com vasta passagem pela imprensa paulistana. Autor, entre outras obras, das biografias do jornalista Tarso de Castro, do jogador Sócrates e do político Sérgio Cabral, foi um dos vencedores do Prêmio Jabuti 2012 com o livro-reportagem "O Cofre do Dr. Rui", que narra o assalto ao cofre de Adhemar de Barros, em 1969, comandado pela VAR-Palmares.

Livro: "Ninguém Pode com Nara Leão - Uma Biografia"
Autor: Tom Cardoso
240 páginas
Editora Planeta


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