Por Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com. Foto: divulgação
Morreu neste sábado, dia 12 de julho, aos 74 anos, o poeta e editor santista Valdir Alvarenga. Vítima de um AVC, Alvarenga deixa não só um legado literário, mas uma postura diante da cultura que se tornou cada vez mais rara: a de quem acredita que a poesia se escreve para pessoas.
Valdir nasceu no Morro da Penha e passou a vida movido por uma espécie de fidelidade à sua origem. Isso não significa exaltação romântica da periferia, mas consciência social. Poeta sem afetação, editor sem patrocínio, funcionário público desde os anos 1980, ele se notabilizou por fazer da precariedade uma estética — e da persistência, uma política cultural.
Foi idealizador do Projeto Leia Santos, projeto de fomento à leitura que leva livros gratuitamente à população. Também criou o Varal de Poesia, que literalmente pendurava versos nas ruas da cidade, e do Ciclo de Poesia Falada, que motivou muita gente a expor textos. Iniciativas que não dependiam da vontade do poder público, mas da disposição de Alvarenga de furar o asfalto com papel.
À frente da revista Mirante desde 1982 manteve por mais de quatro décadas uma publicação artesanal, independente, resistente e desinteressada em agradar aos círculos literários. Publicava tanto autores famosos quanto desconhecidos do grande público.
Valdir não terminou a faculdade de Letras. Mas falava com precisão sobre Camus, Hesse e Sartre - esse último, lido não como fetiche de intelectual, mas como instrumento de leitura do mundo. Seu livro favorito, "Demian", de Hermann Hesse, foi descrito por ele como um companheiro de adolescência - uma fase em que não conversava com ninguém, a não ser com seu mundo interior.
Casado com a poeta Irene Estrela Bulhões, dividiu com ela não apenas os últimos anos de vida, mas a autoria de "Dupla Face", um dos seus últimos livros. Não teve filhos. Plantou árvores e escreveu poemas — mais de uma vez afirmou que isso bastava.
A cultura de Santos perde uma de suas vozes mais autênticas. E, talvez, um dos poucos que ainda compreendiam que fazer literatura é menos sobre falar bonito e mais sobre dizer o que precisa ser dito.
Velório
Funerária Santa Casa de Santos
Sala: Velório Nº 04
Início: domingo, 13 de julho de 2025, das 7h30 às 13h30
Sepultamento
Cemitério da Filosofia - Santos/SP
Domingo, dia 13 de julho de 2025, às 13h30
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