domingo, 28 de dezembro de 2025

.: "A Teoria da Bolsa de Ficção", ensaio de Ursula K. Le Guin sobre a construção de narrativas de ficção, é publicado pela Cobogó


"A Teoria da Bolsa de Ficção", de Ursula K. Le Guin (1929-2018), um texto de grande influência nos estudos literários e sociais, chega às livrarias pela editora Cobogó. Neste breve e poderoso ensaio, Le Guin, escritora norte-americana que se notabilizou pelos romances de ficção científica e especulativa, põe em revista a história da humanidade e certa forma predominante de contar histórias. A tradução é de Isabel Diegues, e a capa e ilustrações são de Cecilia Carvalhosa.

Ao destronar a figura do Herói do seu pedestal na cultura ocidental, com suas narrativas de triunfo, dominação e morte, a autora propõe a possibilidade de contarmos uma “outra história, a história não contada, a história da vida”. Uma história que se parece menos com os relatos de caçadores de mamutes – e mais com as bolsas usadas pelos primeiros seres humanos para coletar, armazenar e partilhar alimentos. E afirma: “É por isso que gosto de romances: no lugar de heróis, eles contêm pessoas”.

Isabel Diegues, tradutora da obra, explica que “ao tomar a teoria da antropóloga americana Elizabeth Fisher de que o que permitiu a evolução dos hominídeos em 'Homo Sapiens' foi a criação de uma das primeiras invenções da cultura - o recipiente, a bolsa - Ursula Le Guin constrói uma saborosa teoria sobre a bolsa de ficção, que além de transportar os alimentos colhidos no campo, na mata, e compartilhados na volta à casa, carrega as histórias de vida das pessoas. Para a evolução humana ‘É a história que faz diferença’”. O livro conta também com textos da filósofa Donna Haraway e da Carola Saavedra, além de ilustrações de Cecilia Carvalhosa.


Trecho do livro
“Se é humano colocar algo que se quer — porque é útil, comestível ou belo — dentro de uma bolsa, ou cesto, ou em um pedaço de casca de árvore ou folha enrolada, ou numa rede feita com seu próprio cabelo, ou no que mais você tiver, e, assim, levar para casa contigo — sendo casa outro tipo maior de bolsa ou saco, um recipiente para pessoas —, e depois, mais tarde, retirar e comer, ou partilhar ou armazenar para o inverno num recipiente mais resistente ou colocar na bandoleira ritual ou no santuário ou no museu, lugar sagrado, local que guarda o que é sagrado, e no dia seguinte, provavelmente, fazer tudo de novo — se isso é ser humano, se isso é o que é preciso, então, no fim das contas, eu sou um ser humano. Completa, livre e alegre, pela primeira vez.”


O que disseram sobre o livro
“Cada mochila origina-se de questões ur­gentes sobre os modos de criar narrativas que refaçam a história para os tipos de vida e morte que merecem presentes densos e futuros ricos, e cada mochila exige uma resposta para essas questões. No espírito da visão de Le Guin de que o formato adequado de uma histó­ria é o de um saco, um recipiente cavado para conter coisas que carregam significados e permitem relações, cada mochila é uma bolsa para as histórias instigantes e o realismo estranho – a ficção séria, a ficção cientí­fica, a FC – necessários para habitar os mundos das sementes e estrelas. Estes são mundos repletos de humanos e mais-que-humanos de muitos tipos, de espé­cies com coisas melhores a fazer do que matar umas às outras enquanto esgotam seu planeta.” - Donna Haraway no posfácio do livro

“Entre as muitas ideias de Le Guin, me interessa de­senvolver aqui a do romance enquanto bolsa, enquan­to receptáculo. Afinal, o que seria isso na prática? Ima­ginemos algumas possibilidades. Le Guin nos lembra que o herói, o protagonista do romance como o conhecemos, perderia todo seu aprumo dentro da bolsa, “ao ser colocado em uma bolsa, ele fica parecendo um coelho, uma batata”. Ou seja, ficaria ali dentro sem um lugar possível de destaque, junto a outros personagens menos importantes, figurantes, personagens planos, e não só isso, junto a desimportantes ‘objetos’, como uma mesa, um rio ou uma árvore.”  - Carola Saavedra no posfácio da edição brasileira


Sobre a autora
Ursula Kroeber Le Guin (1929–2018)
publicou 23 romances, 12 livros de contos, 11 de poesia, 13 infantis, cinco coleções de ensaios, além de traduções. Consagrada escritora de ficção científica e especulativa, a amplitude e a imaginação de seu trabalho lhe renderam seis Prêmios Nebula, sete Prêmios Hugo e o título de Grande Mestre da SFWA [Associação de Autores de Ficção Científica e Fantasia], além do Prêmio PEN/Malamud, dentre outros. Em 2014, recebeu a Medalha da National Book Foudation por Contribuição Distinta às Letras Americanas e, em 2016, entrou para a lista seleta de autores publicados em vida pela Library of America.

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