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terça-feira, 27 de julho de 2021

.: Capítulo 4: "As Winsherburgs" em "Um Passo Mais Perto"

Por: Mary Ellen Farias dos Santos


Enquanto esperavam Ellen para uma carona, Mary e a amiga analisavam a pedra, com carinho e adoração, igualzinho ao Gollum.

- Amiga, onde exatamente você pegou isso?, perguntou Tarissa.

- Ah, Tatá! Estava no lixo da Agência das minhas irmãs. Eu até perguntei se era de alguém, mas a Lolita riu e disse que era só um pedaço de plástico brilhante. Mas... Como plástico iria brilhar assim, né?! Claro que eu guardei na minha bolsa!

Foi quando Tarissa brincou:

- Bom... Só não vai começar a repetir “My Precious”!!

*  *  *

- Mary, venha aqui!, grita Ellen chamando a filha que voltou da escola com a amiga.

Com a mesma agilidade de uma lesma abandonada numa renovadora preguiça. Sem qualquer pressa, em movimentos arrastados, Mary chegou pertinho da mãe e antes que soltasse um resmungo indefinido, Ellen disse:

- Menina, olha isso! Fui seguindo o carreiro e pá! Encontrei um formigueiro que estava se criando dentro desse DVD da Mariah Carey! Em busca de aventuras, talvez.

Ao juntar a informação devastadora e ver o estado do papelão, Mary foi capaz de promover uma resposta física e vocal muito rápida, mas sem a ideia da possível resposta que viria da mãe.

- Meu Deus! O que a senhora fez no meu DVD?!, reclamou Mary pousando as mãos nas laterais do rosto, numa imitação involuntária do célebre quadro “O Grito”, de Edvard Munch.

Ellen, como toda mãe dramática de plantão, respirou fundo e devolveu:

- Eu? Não fiz nada nas suas coisas. Sabe o que é isso que você faz? É por não me amar. Sou sua mãe. E você só sabe me agredir com respostinhas grosseiras. Está pensando que é quem? Vive debaixo do meu teto! Come da minha comida! Da próxima vez eu jogo é tudo fora. Não duvide! Estou farta da sua ingratidão!

Para fechar a cena com chave de ouro, Ellen saiu andando bem cabisbaixa e até simulando um choro, enquanto que Mary ficou parada, no quarto, sem entender toda aquela reação da mãe. Um tanto exagerada mesmo, por sinal.

Sem o intuito de piorar o clima em casa, Mary pensou no quão estressante havia sido aquela manhã após sete aulas seguidas dadas no Colégio Santa Helena. Fora que naquele dia ela tinha aula dupla com o último ano do Ensino Médio, a classe do Adilsinho, menino irritante que fazia perguntas aleatórias para tumultuar as aulas e desestabilizar os professores. E, geralmente, ele conseguia.

Sem saber bem como confortar a mãe, Mary preferiu deixa-la um pouco sozinha e chamou Tarissa para ver as formigas que ainda estavam seguindo o trajeto: tomada e encarte do DVD de “The Adventures of Mimi”.

De repente, a imagem do DVD foi apagada para Mary. Ela só lembrava do rosto do homem que a abordou na saída da escola, enquanto Tarissa foi ao banheiro. Na verdade, a conversa rápida, com o homem misterioso, foi marcante, a ponto de precisar contar sobre o ocorrido.

- Amiga, um cara lindo veio falar comigo e até me xavecou.

- Quando isso?, retrucou Tarissa muito animada. E completou:

- Conte-me mais sobre isso... Aliás, conte-me tudo!

*  *  *

Na agência de roteiros, o clima era de alegria, pois Apollo havia iluminado o final do túnel de Samantha e Lolita. O trio já tinha a data de um encontro com o roteirista e empresário Helder Lee para estabelecerem os critérios da futura sociedade.

Enquanto Sam, com um fone de ouvido ao som das canções dos “Backstreet Boys”, em volume baixinho, escrevia o roteiro para um vídeo encomendado pelo canal “Histórias do Passado”, Lolla e Apollo pesquisavam sobre a morte da socialite Ângela Diniz, o próximo roteiro a ser escrito por eles.

- Esse documentário tem tudo para ficar redondinho. História terrível, mas cheia de conteúdo. Parece que ela foi inspiração do escritor e jornalista Roberto Drummond, para Hilda Furacão. Roberto Drummond cria toda uma narrativa para brincar de 1º de abril!, comentou Lolla.

- Lembro de ver o kit de imprensa do seriado Hilda Furacão na casa de vocês. Fica até ao lado dos livros e DVDs de “O Senhor dos Anéis” e “Harry Potter”, né?!, falou Apollo.

- Sim! Mas saiba que os livros de Roberto Drummond e os DVDs do seriado Hilda, meu primo, são de mamãe. Então, se precisarmos, para mexer só com autorização escrita e assinada por Dona Ellen. Já deixo você avisado, avisadíssimo.

Os dois sorriem da brincadeira, mas focam no trabalho. Após alguns minutos de silêncio... O aparelho de som fez o barulho estridente mais uma vez.

- Encontrei um podcast sobre a Ângela, prima!

- Legal, Apollo! Pode ouvir?

- Sim! É pra já! Siga na pesquisa. Depois ouvimos todos juntos, nós três. O que acha?, questionou Apollo.

- Tá certo!, falou Lolla enquanto ergueu o polegar com um joinha.

*  *  *

Após dar fim ao ninho de formigas que estava em fase de emancipação na capa do DVD, Mary e Tarissa finalmente relaxaram. Tarissa, direta como sempre foi logo perguntando:

- Qual era o nome do xavecador?

Foi quando Mary esboçou um sorriso nos lábios e um brilho brotou nos olhos da jovem Winsherburg que falou de modo meloso:

- Ah! Ele nem disse, mas aviso que estou apaixonada. Acho que encontrei o amor da minha vida, Tatá! Ele foi tão gentil, tinha uma voz de arrepiar e estava tão, tão perfumado. Fora que parecia ator de filme de Hollywood de agora. Talvez um misto de Robert Downey Jr. e Christopher Hemsworth.

- Mas você percebeu tudo isso enquanto eu fui rapidinho ao banheiro da escola... Como ele se aproximou?, perguntou Tarrisa.

- Foi dentro da escola. Bem onde nós sempre ficamos sentadas esperando a minha mãe, respondeu Mary. Enquanto isso, Tarissa não conseguia entender tudo o que aconteceu em um intervalo tão curto de tempo. Foi quando ela, assombrada, perguntou:

- Você foi iludida pelo pai de alguém?

Mary gargalhou e rebateu rapidamente:

- Tarissa, Tarissa... Ele não é um velho! Pode ser no máximo o tio de alguém, mas aposto que é irmão de um algum aluno. E como eu estava dizendo... O meu gato falou comigo só para confirmar. Já sabia quem eu era, inclusive. Depois sumiu.

- Hein?! Como é que alguém some, amiga?, quis saber Tarissa, enquanto no grupo das meninas no WhatsApp, Juliette compartilhou o novo vídeo do TikTok e fez os aparelhos das amigas sacudirem.

Após um silêncio devastador, sem ter uma resposta plausível, Mary suspirou e determinou:

- Era um anjo!


One step closer

I have died every day waiting for you

Darling, don't be afraid

I have loved you for a thousand years

I'll love you for a thousand more

A Thousand Years. Christina Perri


*~~~~ Capítulo 5: "As Winsherburgs" em "Elétrico" ~~~~*


*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura, licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos e formada em Pedagogia pela Universidade Cruzeiro do Sul. Twitter: @maryellenfsm


Assista em vídeo como história ilustrada




segunda-feira, 12 de julho de 2021

.: Capítulo 3: "As Winsherburgs" em "Anjos Choram - Maus Hábitos"


Por: 
Mary Ellen Farias dos Santos


O episódio do clarão e do zunido em altos decibéis estava praticamente esquecido na mente de Samantha. Enquanto observava Sam fazer um lanchinho de guloseimas diversas, como se não houvesse amanhã, Lolita estava num turbilhão interno, pensando mil e uma coisas. E o último item da lista era justamente aquela aparição. Vendo a tranquilidade no olhar de Samantha, Lola decidiu tirar o pensamento da figura confusa que se formou diante dos olhos dela.

- Vou me distrair no Tiktok da Donatella Fisherburg!

*  *  *

Meia hora depois, na Agência Winsherburg, o ambiente de trabalho era descontraído e totalmente calmo. Em busca de inspiração para a escrita, as gêmeas ouviam, em som ambiente, no modo repetição, o álbum “Never Gone”, dos Backstreet Boys que era da mãe delas quando jovem. Lola e Sam eram meninas vintage. Curtiam ter tudo o que a modernidade e a tecnologia ofereciam, mas sem largar o que amavam, ainda que, de certa forma fosse visto como obsoleto. Lá, no escritório, o antigo aparelho de som em uso ainda era um daqueles com leitor de CD. Fora presente de aniversário das meninas, quando ainda eram pequetitas, dado pelos avós paternos.

Sam ainda beliscava um docinho trazido por ela da Cafeteria Dollywood ao perguntar para Lola:

E o caso da Rua Bolívia? Encontrou algo interessante para começarmos o roteiro para “Minutos de medo”?

Antes que surgisse a resposta, o telefone tocou, mas um som agudo, saído do som, sobrepôs até mesmo a música por completo...

Lola tomou um grande susto, mas rapidamente percebeu que só precisava mexer um pouco no fio do aparelho por estar com mal contato pelo envelhecimento.

- Precisamos comprar outro cabo, Sam!

Samantha e Lolita tinham apoio do primo Apollo, professor de Língua Inglesa no “Cursinho Valença”. Ele era o braço direito das duas e trabalhava com elas na camaradagem, uma vez que manter o aluguel da salinha comercial estava muito pesado, por conta da pandemia de Covid-19. Os trabalhos congelaram por pelo menos três meses, menos as contas que continuaram chegando assiduamente. Para resolver a situação prestes a virar periclitante, Lola e Sam tinham o plano de buscar um sócio para a Agência.

Eis que Apollo, prestes a entrar no escritório, bem antes de desejar “boa tarde” para as duas, tropeçou no tapetinho da entrada. Resmungou algo que nenhuma das gêmeas entenderam, mas foi o suficiente para que Lola e Sam trocassem olhares e soubessem de quem se tratava.

- É o Apollo! – falaram juntas em meio a gargalhadas.

Ao abrir a porta, Apollo lançou um sorriso para as duas e deu o habitual cumprimento cheio de entusiasmo e com maior entonação do que o habitual.

- Boa tarde, primo!, respondeu Sam.

- Tudo bem, Apollo? Percebi que já chegou se embolando no capacho da entrada, né?, brincou Lola com a voz bastante sarcástica.

- Foi mal, meninas! Cheguei atrapalhado, mas trago coisa boa. Supimpa!

Sem conseguir segurar a empolgação, Apollo revela ter conversado com um amigo de longa data, da Universidade Santa Clara, com quem havia estudado há alguns anos.

- Esse bro não é fã de redes sociais. Acredita que teve o Orkut, na época, e agora usa, tipo que por obrigação, o WhatsApp?

As meninas acabaram trocando olhares por não entenderam bem onde essa conversa prometia chegar, até que Apollo parte para o fim da história.

- Primas, vou resumir: o cara, meu amigo Helder Lee, disse que quer ser sócio da Agência de Roteiros Winsherburgs! Ele é muito influente, tem conhecimento. Vocês sabem, né? Fora que ele tem nome. Tudo pode melhorar e não corremos mais o risco de, em último caso, trabalhar num quartinho pequeno na casa da tia Ellen.

As Winsherburgs adoravam blockbusters e sabiam muito bem que Helder foi o roteirista de recentes produções de sucesso absoluto como "Loucamente em fuga", “Para sempre Bela, sem a Fera” e "Ariel em perigo".

- Ele é muito famoso!, gritou Sam de modo esfuziante. E logo fez uma correção: - O texto dele!

Boquiabertas, a duas se abraçaram com os olhos cheios de lágrimas, enquanto Apollo, com um afago, se juntou no abraço. Após beijar a testa delas, disse como quem está em paz:

- Encontrei o sócio que precisávamos!

Assim que Apollo terminou a fala, Lola sentiu um arrepio na espinha.

Um vento forte fez a janela abrir bruscamente, levando todos os papeis que estavam empilhados na mesa do escritório para o chão. Foi quando Sam gritou abrindo os braços:

- Vento, ventania, me leve para os quatro cantos do mundo!

*  *  *

Na escola, quando Mary fazia com a amiga a aula optativa do dia que era sobre a História da Humanidade.

- Amiga, estou empolgada por causa dessa aula de História. Não vejo a hora de chegar em casa para pesquisar no computador sobre a relação entre os neandertais e o homo sapiens. Só de saber que os neandertais não foram dizimados pelo homo sapiens e só estavam em menor quantidade, é algo surreal. Na verdade, eles até se envolveram com os homo sapiens, mas não resistiram por muito tempo aqui na Terra.

Tarissa, amiga de Mary sorriu e suspirou antes de dizer baixinho:

- Amiga, você tem que usar seu interesse para ganhar dinheiro!

- Caraca! Os meus dados móveis acabaram justamente agora!, gritou Mary extremamente empolgada enquanto bateu a mão direita na mesa e foi baixando o tom da fala por perceber onde ainda estava.

O professor Cláudio, mesmo estando na outra ponta da sala repreendeu a dupla:

- As duas aí... Que gritaria é essa?

Todos na sala olharam para elas. Se existisse um buraco de tamanho suficiente para elas enfiarem as suas cabeças, seria pra lá de bem-vindo. O mais insano é que Mary conversava com Tarissa, mas sobre o conteúdo da aula. Mas, quem iria acreditar, né?!

Cláudio aproveitou o silêncio constrangedor e avisou: - Vocês têm cinco minutinhos para guardar o material. Nosso encontro de hoje fica por aqui. Os estudantes da única sala de 1º ano do Ensino Médio do Colégio Santa Helena ficaram a postos, ansiosos para serem liberados, mas Mary permaneceu parada olhando fixamente para a pedra que tinha pegado lá na Agência das irmãs.

- Que brilho!

*  *  *

My bad habits lead to wide eyes starin' at space

And I know I'll lose control of the things that I say

 

Bad Habits. Ed Sheeran


*~~~~ Capítulo 4: "As Winsherburgs" em "Um Passo Mais Perto" ~~~~*


*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura, licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos e formada em Pedagogia pela Universidade Cruzeiro do Sul. Twitter: @maryellenfsm



Assista como história ilustrada


segunda-feira, 28 de junho de 2021

.: Capítulo 2: "As Winsherburgs" em "Parte 1: Anjos choram"

Por: Mary Ellen Farias dos Santos


Tudo parecia normal no bairro de Santa Terezinha.

Pássaros seguiam em disparada no alto do céu azul e limpo, como que partindo numa fuga coordenada, logo abaixo, na Agência Winsherburg, algo diante de Sam e Lola, de certa forma, materializou-se.

Sam desmaiada ao chão, fez com que Lola se desesperasse ainda mais. Sabia que estava sozinha para proteger as duas. Contudo, o medo a forçou permanecer na pose de incrédula. Então, com a mesma agilidade que vieram, o som ensurdecedor e o clarão na sala, deram espaço ao silêncio e a luz natural dali. 

Afinal, o que fora aquilo?

*  *  *

Ellen, mesmo sendo de manhãzinha, já tinha perdido o celular dentro de casa. Lembrou que antes de preparar a mesa para o café-da-manhã, tinha estado na sala, para pegar um papel em branco e montar a próxima lista de compras. Precisava urgentemente de manteiga.

Determinada, como se estivesse certa de onde havia deixado o celular, saiu da cozinha e foi até a sala. Seguiu firme, agarrou uma banda das cortinas cor creme, na grande janela do ambiente, empurrou um lado e depois o outro para os cantos, a fim de clarear todo o espaço.

E se fez a luz!, pensou Ellen enquanto dava meia volta para iniciar a caçada.

Tal qual o Visão, passou os olhos em tudo o que estava ali –exatamente do jeito que ela havia deixado. Focou em duas poltronas e duas namoradeiras, impecavelmente arrumadas, cobertas por mantinhas finas, com franjas e almofadas combinando, também cheias de detalhes. E ali, na namoradeira perto da televisão, entre uma almofada e outra, foi para onde o celular havia escorregado, deixando de fora, somente uma pontinha da carteira protetora de um rosa gritante que Ellen usava no aparelho. 

- Temos que maneirar aí na manteiga, hein!, gritou Ellen ali da sala, enquanto se deu conta de que não tinha anotado no papel das compras a palavra “manteiga”, embora já tivesse escrito “barras de chocolate”, “marrom glacê” e “leite condensado”. Itens que não estavam perto de acabar, mas que para ela, não poderiam faltar de modo algum. 

De que adiantou dar o alerta somente para Mary?, concluiu. Afinal, Benjamin, Lolita e Samantha já tinham saído para trabalhar.

Ao retornar para a cozinha comemorando o achado, erguendo o celular como que se fosse um troféu, fazendo Mary se apressar, Ellen percebeu que a filha conversava alegremente.

- Com quem você está falando, Mary?, perguntou a mãe estranhando tanta alegria logo cedo.

Mary que já lavava a louça do café, virou-se pálida, com os olhos arregalados e antes de falar, engoliu em seco até gaguejar:

- Com a senhora! Estava aqui bem atrás de mim, agorinha!

- Claro que não, menina! Acabei de voltar da sala, rebateu Ellen. E continuou:

- Sabe o que é isso, mocinha? Eu sei. É resultado de mais uma noite mal dormida. Eu vi a claridade por debaixo da sua porta e sei que era algum filme de terror! Era uma gritaria desesperada e aquelas musiquinhas esquisitas...

Mary engoliu em seco e acabou revelando.

- Estava assistindo “Colheita Maldita” na live da galera da escola, mãe! Ai, a senhora não deixa nada passar batido.

- Claro, minha filha! Eu já tive a sua idade... Ou acha que eu nasci adulta, casada e mãe de três?! Mas se isso der problema no seu rendimento escolar, vou ter que contar para o seu pai.

*  *  *

Mãe e filha seguiram no carro da família para a escola, sem comentar a respeito do que havia acontecido na cozinha, minutos antes. Ellen, gostava de repassar o conteúdo de Língua Portuguesa com a filha, durante o trajeto. Geralmente, as duas se divertiam, mas também se estranhavam, tal qual mãe e filha. 

Mary amava escrever e dizia querer ser professora, mas Ellen logo falava que era melhor estudar jornalismo, pois tinha a oportunidade de trabalhar com as irmãs, na Agência Winsherburg.

- Nananinanão! Ser professor é só desrespeito de todos os lados. É lindo em filmes, filha! Já viu o filme “Entre Os Muros da Escola”? Super recomendo! Olha, independentemente de ser escola particular ou pública. Não! Todas são pesadelos. Ou por alunos sem educação ou pela diretoria que só cobra e pouquíssimo oferece, incluindo um pagamento até abaixo do piso. Olha eu aqui, não vivo ouvindo gracinhas abusivas da diretora Nana? Ela me faz pensar que ser professora em escola pública é um sonho. Aliás, não vejo a hora de sair dali. Só estou esperando você se formar!

- Eu sei! Eu sei, mãe!, falou Ellen bem baixinho.

- Você gosta de escrever! Melhor pesquisar mais sobre jornalismo. Fale com a Lolita e a Samantha!

- Boa! Mãe, hoje eu posso ficar com elas, na agência? Deixa?!

*  *  *

Lola continuou estática enquanto Sam despertava totalmente confusa... Foi quando ambas trocaram um olhar que parecia infinito.

- Lola, o que aconteceu?

Lolita apenas balbuciou palavras embaralhadas e sem sentido.

Após dar uma golada na garrafinha de Fanta Laranja, Lola sentenciou:

- Mana, veio um vento forte acompanhado de um clarão e um zunido enlouquecedor! Tu teve a sorte de apagar, mas eu vi. Era uma figura indecifrável!

*  *  *


"I know I can stand just pull me back up

Like there ain't no hurricane it's just us"


Angels Cry. Mariah Carey feat Ne-Yo


*~~~~ Capítulo 3: "As Winsherburgs" em Anjos Choram - Maus Hábitos" ~~~~*


*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura, licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos e formada em Pedagogia pela Universidade Cruzeiro do Sul. Twitter: @maryellenfsm

Assista:



segunda-feira, 7 de junho de 2021

.: Capítulo 1: "As Winsherburgs" em "A cidadezinha de São Franciso de Assis"


Por: Mary Ellen Farias dos Santos

A Cidade de São Francisco de Assis era o lugar ideal para se viver, ao menos era o que todos os turistas pensavam ao aproveitar um final de semana no lugar que mais parecia uma pintura realista pronta para ganhar pinceladas impressionistas de Claude Monet. Parecido com “O Campo de Papoulas perto de Giverny”, “Ilha das Flores” ou “Paisagem de Vétheuil”.

As grandes montanhas arborizadas e floridas, com caminhos de terra, mesmo quando se afinavam, indicavam o caminho exato para chegar até o topo.

Era de lá do alto dessas montanhas que se via muito da vida alheia, cada um representado por uma formiguinha trabalhadeira. Saindo de suas casas ainda antes de o Sol nascer, de fato, para retornar quando a Lua já brilhava enquanto subia. No entanto, era lá no bairro de Santa Terezinha em que estava a família Winsherburg.

- Vamos, Mary! Levante-se o café da manhã já está na mesa e você ainda precisa colocar o uniforme! -gritou Ellen na cozinha. Eu não posso me atrasar, filhinha! Venha! –Insistiu mais uma vez, mas com a voz amorosa e sem sair do lugar.

Ao longe, o som misto de resmungos indecifráveis e chinelos de quarto arrastados ecoavam por todo o corredor da casa. Isso já era um bom sinal, pois o fim do corredor dava exatamente na cozinha.

Naquele finalzinho do corredor, Mary parou de olhos fechados, decidindo brincar de estátua descabelada.

Ao ver a cena, Ellen simplesmente soltou a respiração mais forte pelo nariz e virou os olhos como que procurando por paciência, o que ela já estava prestes a perder. Contudo, segurou-se.

- Aãããããn!, mãe eu madruguei ontem. A senhora sabe! Por que eu não posso ficar? Preciso descansar a minha mente, meu corpo. O que acha?, propôs mary.

Ellen também fechou os olhos e disse:

- Você vive debaixo do meu teto, mocinha! Eu não permiti que ficasse até a madrugada brincando no celular. Agora, estamos perto da hora de ir para a escola, eu vou dar aula e você estudar. Está pensando que é fácil...

Mary completou a fala da mãe: “ser professora?”

- Eu sei, mãe! Mas a live ficou tão boa. Todos! Eu disse que TODOS os meus amigos da escola estavam e eu fui ficando... ficando! Os meus olhos cada vez mais abertos... perdi o sono!

Enquanto falava, Mary escorregava pela cadeira da mesa que servia um farto café da manhã com suco de laranja puro, donuts, pães e seus acompanhamentos prediletos: requeijão, manteiga, queijo e peito de frango fatiados. Tudo colocado com capricho numa linda toalha de mesa com bordas azuis e flores arroxeadas no centro.

Mary, sabe o que eu vou fazer?, perguntou a mãe.

Não! Nãããão! Por favor! Por favorzinho!, suplicou a filha, mas Ellen a impediu que dissesse mais qualquer outra coisa.

- Eu declaro aberta a semana de confisco ao celular. Todo dia, quando voltarmos juntas da escola, o seu aparelho ultramoderno ficará sob meus cuidados. Seja solene ao avisar aos seus amiguinhos da live! Agora, encerro o meu pronunciamento a respeito do assunto. –concluiu Ellen enquanto enchia um copo d´água diante do filtro branquinho.

Mary sabia que não deveria abrir mais o bico, pois a mãe dela era a lei em casa. Benjamin, era dono do posto de amado papai Winsherburg, mas também sabia que, no final das contas, quem sacudia as rédeas com as meninas, era Ellen. Nunca ninguém ousava contestar.

Mamãe é chata, mas sabe o que é melhor. Ao menos é o que vivem dizendo Lolita e Samantha, pensou Mary enquanto degustava seu pão com muito requeijão, uma fatia de queijo e duas de peito de frango.

* * * 

Lola gargalha e aponta com uma das mãos para Sam, embora segure a barriga com a outra mão, enquanto se curva, mesmo estando sentada na cadeira do escritório que as duas dividiam.

- Não! Você não tem moral para me repreender por ter chorado com a cena de Ferris Buller no desfile de “Curtindo a Vida Adoidado”, Sam! Tu não tem mesmo!, sentenciou Lola.

Lola, que reclama sentir dor nas bochechas de tanto rir, completa:

- Maninha, tu chora sempre quando assiste o final de “Guardiões da Galáxia Vol. 2”. Gosta tanto assim do Yondu, é? Ou fica derretida pelo baby Groot quando ouve “Father and Son” no colinho de Peter Quill?

Lola era do tipo impaciente e séria, mas com Samantha ela agia diferente. Ela se soltava, era mais livre como se pudesse ser como gostaria, mas tinha medo. Afinal, desde criança na escola, para todos, Lola era a irmã estudiosa e centrada, enquanto que Sam era sonhadora até. Ah, Petra que o diga! As tristes histórias escolares das gêmeas foram marcadas por essa garota com coração de pedra.

Com cara emburrada, mas querendo rir, Sam rebate:

- Tá! Tá! Aguarde a sua hora vai chegar! Nada como um dia após o outro, Lolinha querida.

De repente, um vento forte invade a agência, enquanto um barulho ensurdecedor vem junto com um clarão.

* * * 


*~~~~ Capítulo 2: "As Winsherburgs" em "Parte 1: Anjos choram" ~~~~*

*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura, licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos e formada em Pedagogia pela Universidade Cruzeiro do Sul. Twitter: @maryellenfsm

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