segunda-feira, 7 de junho de 2021

.: Capítulo 1: "As Winsherburgs" em "A cidadezinha de São Franciso de Assis"


Por: Mary Ellen Farias dos Santos

A Cidade de São Francisco de Assis era o lugar ideal para se viver, ao menos era o que todos os turistas pensavam ao aproveitar um final de semana no lugar que mais parecia uma pintura realista pronta para ganhar pinceladas impressionistas de Claude Monet. Parecido com “O Campo de Papoulas perto de Giverny”, “Ilha das Flores” ou “Paisagem de Vétheuil”.

As grandes montanhas arborizadas e floridas, com caminhos de terra, mesmo quando se afinavam, indicavam o caminho exato para chegar até o topo.

Era de lá do alto dessas montanhas que se via muito da vida alheia, cada um representado por uma formiguinha trabalhadeira. Saindo de suas casas ainda antes de o Sol nascer, de fato, para retornar quando a Lua já brilhava enquanto subia. No entanto, era lá no bairro de Santa Terezinha em que estava a família Winsherburg.

- Vamos, Mary! Levante-se o café da manhã já está na mesa e você ainda precisa colocar o uniforme! -gritou Ellen na cozinha. Eu não posso me atrasar, filhinha! Venha! –Insistiu mais uma vez, mas com a voz amorosa e sem sair do lugar.

Ao longe, o som misto de resmungos indecifráveis e chinelos de quarto arrastados ecoavam por todo o corredor da casa. Isso já era um bom sinal, pois o fim do corredor dava exatamente na cozinha.

Naquele finalzinho do corredor, Mary parou de olhos fechados, decidindo brincar de estátua descabelada.

Ao ver a cena, Ellen simplesmente soltou a respiração mais forte pelo nariz e virou os olhos como que procurando por paciência, o que ela já estava prestes a perder. Contudo, segurou-se.

- Aãããããn!, mãe eu madruguei ontem. A senhora sabe! Por que eu não posso ficar? Preciso descansar a minha mente, meu corpo. O que acha?, propôs mary.

Ellen também fechou os olhos e disse:

- Você vive debaixo do meu teto, mocinha! Eu não permiti que ficasse até a madrugada brincando no celular. Agora, estamos perto da hora de ir para a escola, eu vou dar aula e você estudar. Está pensando que é fácil...

Mary completou a fala da mãe: “ser professora?”

- Eu sei, mãe! Mas a live ficou tão boa. Todos! Eu disse que TODOS os meus amigos da escola estavam e eu fui ficando... ficando! Os meus olhos cada vez mais abertos... perdi o sono!

Enquanto falava, Mary escorregava pela cadeira da mesa que servia um farto café da manhã com suco de laranja puro, donuts, pães e seus acompanhamentos prediletos: requeijão, manteiga, queijo e peito de frango fatiados. Tudo colocado com capricho numa linda toalha de mesa com bordas azuis e flores arroxeadas no centro.

Mary, sabe o que eu vou fazer?, perguntou a mãe.

Não! Nãããão! Por favor! Por favorzinho!, suplicou a filha, mas Ellen a impediu que dissesse mais qualquer outra coisa.

- Eu declaro aberta a semana de confisco ao celular. Todo dia, quando voltarmos juntas da escola, o seu aparelho ultramoderno ficará sob meus cuidados. Seja solene ao avisar aos seus amiguinhos da live! Agora, encerro o meu pronunciamento a respeito do assunto. –concluiu Ellen enquanto enchia um copo d´água diante do filtro branquinho.

Mary sabia que não deveria abrir mais o bico, pois a mãe dela era a lei em casa. Benjamin, era dono do posto de amado papai Winsherburg, mas também sabia que, no final das contas, quem sacudia as rédeas com as meninas, era Ellen. Nunca ninguém ousava contestar.

Mamãe é chata, mas sabe o que é melhor. Ao menos é o que vivem dizendo Lolita e Samantha, pensou Mary enquanto degustava seu pão com muito requeijão, uma fatia de queijo e duas de peito de frango.

* * * 

Lola gargalha e aponta com uma das mãos para Sam, embora segure a barriga com a outra mão, enquanto se curva, mesmo estando sentada na cadeira do escritório que as duas dividiam.

- Não! Você não tem moral para me repreender por ter chorado com a cena de Ferris Buller no desfile de “Curtindo a Vida Adoidado”, Sam! Tu não tem mesmo!, sentenciou Lola.

Lola, que reclama sentir dor nas bochechas de tanto rir, completa:

- Maninha, tu chora sempre quando assiste o final de “Guardiões da Galáxia Vol. 2”. Gosta tanto assim do Yondu, é? Ou fica derretida pelo baby Groot quando ouve “Father and Son” no colinho de Peter Quill?

Lola era do tipo impaciente e séria, mas com Samantha ela agia diferente. Ela se soltava, era mais livre como se pudesse ser como gostaria, mas tinha medo. Afinal, desde criança na escola, para todos, Lola era a irmã estudiosa e centrada, enquanto que Sam era sonhadora até. Ah, Petra que o diga! As tristes histórias escolares das gêmeas foram marcadas por essa garota com coração de pedra.

Com cara emburrada, mas querendo rir, Sam rebate:

- Tá! Tá! Aguarde a sua hora vai chegar! Nada como um dia após o outro, Lolinha querida.

De repente, um vento forte invade a agência, enquanto um barulho ensurdecedor vem junto com um clarão.

* * * 


*~~~~ Capítulo 2: "As Winsherburgs" em "Parte 1: Anjos choram" ~~~~*

*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura, licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos e formada em Pedagogia pela Universidade Cruzeiro do Sul. Twitter: @maryellenfsm

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