Mostrando postagens com marcador Entrevistas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Entrevistas. Mostrar todas as postagens

domingo, 3 de setembro de 2023

.: #ResenhaRápida: Litta Mogoff, atriz: "Tenho nojo de gente careta"


Por 
Helder Moraes Miranda, editor do portal Resenhando.com. 

Prestes a estrear o espetáculo "Aviso Prévio", que na primeira montagem  foi encenado por Nicette Bruno e Paulo Goulart, a atriz Litta Mogoff tem um quê de revolucionária no melhor sentido que essa palavra possa ter.  A partir do dia 13 de setembro, no Teatro Contêiner, ela passa a dividir até dia 5 de outubro o palco com o ator Lisandro Di Prospero, como parte de um casal onírico que se desdobra em vários outros. Corajosa, ensolarada e ruiva, esta destemida artista respondeu as perguntas que lhe foram direcionadas sem medo de julgamentos. Esta entrevista marca o retorno da coluna #ResenhaRápida, agora aos domingos, no Resenhando.com.


Nome completo:
Litta Mogoff.
Apelido: Litta.
Data de nascimento: 19 de agosto de 1985.
Altura: 1,66m.
Qualidade: leal.
Defeito: perfeccionista (risos)... Brincadeira... Meu defeito é a procrastinação.
Signo: leão.
Ascendente: escorpião.
Uma mania: tomar café preto depois do almoço.
Religião: católica com mil e um sincretismos.
Time: Palmeiras.
Amor: cachorros.
Sexo: delícia compartilhada com quem se gosta.
Mulher bonita: Paola Oliveira.
Homem bonito: Cauã Reymond.
Família é: base, fortaleza.
Ídolo: Glenn Close.
Inspiração: minha mãe, Marly Moura.
Arte é: o respiro e a alma.
Brasil: um país belo e forte com um povo guerreiro e inspirador.
Fé: Deus e Nossa Senhora.
Deus é: bondoso e está em tudo lugar.
Política é: necessária.
Personalidade histórica favorita: Margarida Maria Alves.
Hobby: pintura.
Lugar: minha casa.
O que não pode faltar na geladeira: manteiga.
Prato predileto: cuscuz.
Sobremesa: creme brûlée.
Fruta: caqui.
Bebida favorita: vinho rosé.
Cor favorita: laranja.
Medo de: injustiça.
Uma peça de teatro: "Aviso Prévio".
Um ator: Raul Cortez.
Uma atriz: Maria Alice Vergueiro e Fernanda Montenegro.
Um cantor: Criolo.
Uma cantora: Rita Lee.
Um escritor: Pedro Bandeira.
Uma escritora: Sylvia Plath.
Um filme: "Entre Mulheres", dirigido por Sarah Polley, Confira a crítica do filme neste link.
Um livro: "A Redoma de Vidro", de Sylvia Plath.
Uma música: "Nada Como Um Dia Após O Outro Dia" - Racionais.
Um disco: "Sobre Viver", de Criolo.
Um personagem: V, de "V de Vingança".
Uma novela: "Rainha da Sucata", de Silvio de Abreu.
Uma série: "Mad Men".
Um programa de TV: "Rá-Tim-Bum".
Uma saudade: conversar com minhas avós.
Algo que me irrita: machismo.
Algo que me deixa feliz é: café da manhã.
Uma lembrança querida: na infância, fazer bolinha de sabão com minha mãe.
Um arrependimento: acreditar mais em críticas do que em elogios.
Quem levaria para uma ilha deserta? Anitta Para quê? Segredo...
Se pudesse ressuscitar qualquer pessoa do mundo, seria... Elza Soares. Porque o mundo ainda precisa do olhar dela.
Se pudesse fazer uma pergunta a qualquer pessoa do mundo, seria... A Ary de Carvalho, como conseguiu vencer o medo e salvar a vida de tantas pessoas.
Um talento oculto: fazer panqueca doce.
Você tem fome de quê? Arte.
Você tem nojo de quê? Gente careta.
Se tivesse que ser um bicho, seria: uma onça pintada. Porque consegue ser sedutora, ágil e respeitada.
Um sonho: atuar num filme.
Cinema em uma palavra: objetivo.
Teatro em uma palavra: vida.
Televisão em uma palavra: desejo.
O que seria se não fosse atriz: professora.
Ser atriz é: dar vida a muitas outras personalidades que já existem em mim.
O que me tira do sério: pessoas que são grosseiras com pessoas gentis.
Democracia é: até agora, o melhor sistema político.
Ser mulher, hoje, é: ser sobrevivente.
Palavra favorita: sol.


Sobre Litta Mogoff
Atriz, 27156/SP, pós graduada pela Universidade de São Paulo em Psicologia Política, formada atriz pelo Teatro escola Macunaíma. Atriz há dez anos, integra a Cia Dois, Cia Guarda Chuva e o Grupo RIA. Fez parte do núcleo TUSP em 2016, integrou a Cia Ocamorana de Teatro por três anos de 2015 a 2018. Realizou diversos espetáculos teatrais desde 2009, sendo os três últimos “Gomorra” com o grupo PalcoMeu, “Coriolano” com a Cia Ocamorana e “Senhor K” com o núcleo TUSP. Integrante do Grupo Ria sob a direção de José Paulo Rosa nos espetáculos “Campo Geral - A Sensível História de Miguilim” e “Dois Irmãos” . É produtora executiva da CiaDois e fundadora da Cia GuardaChuva.

sábado, 2 de setembro de 2023

.: Regina Casé: bastidores das gravações como a vilã de "Todas as Flores"


A atriz Regina Casé já está a postos para acompanhar a trama e revela. Foto: Globo/Estevam Avellar
 

Uma mulher capaz de qualquer coisa para conseguir o que quer, mas que é atravessada pelas surpresas que a maternidade pode apresentar. A partir do dia 4, de segunda a sexta-feira, após "Terra e Paixão", o público da TV Globo acompanha as vilanias e armadilhas criadas por Zoé (Regina Casé). Ela é mãe de Vanessa (Letícia Colin), sua fiel escudeira, com quem traça os mais duvidosos planos para manter a boa condição financeira que conseguiu alcançar. Só que tudo se torna uma preocupação na vida das duas quando Vanessa é diagnosticada com leucemia e precisa de um doador de medula compatível para se salvar. Sem pensar duas vezes, Zoé recorre a um trunfo guardado há mais de 20 anos: Maíra (Sophie Charlotte), a filha que não viu crescer. 

Quando "Todas as Flores" começa, Zoé está na porta de Maíra fingindo arrependimento por tê-la abandonado ainda bebê. Tudo não passa de uma forma de sensibilizar a jovem para que ela doe a medula e ajude Vanessa. O plano dá certo. Zoé só não espera encontrar em Maíra uma doçura e altruísmo admiráveis, capazes de despertar os lados mais afetuosos de sua maternidade. “É muito fácil você embarcar naquela vilã com cara de malvada e que tem o tempo todo a mesma conduta. Já eu me surpreendia nas cenas”, entrega Regina Casé ao falar sobre as nuances de sua personagem. 

Também nos primeiros capítulos da novela, exibidos a partir de segunda-feira, Maíra, já morando no Rio de Janeiro com a mãe, consegue um emprego como perfumista na Rhodes & Co. Tailleur. Lá conhece Rafael (Humberto Carrão), por quem se encanta imediatamente sem saber que se trata do namorado de sua irmã. E na saída de uma das festas da empresa, Olavo (André Loddi), genro de Luis Felipe (Cassio Gabus Mendes), acaba provocando um grave acidente de carro com uma vítima fatal. Para livrar sua barra, Luis Felipe oferece a Diego (Nicolas Prattes) um alto valor em dinheiro para que ele assuma a culpa pelo atropelamento. O rapaz aceita, vendo na oferta uma chance de proporcionar melhores condições para sua família, mas termina preso. A seguir, confira entrevista completa com a atriz Regina Casé.


"Todas as Flores" chega à TV Globo no dia 4 de setembro, e será mais uma oportunidade de o grande público conhecer a Zoé, sua primeira vilã. Como está a sua expectativa?
Regina Casé - Eu estou superfeliz com esta exibição na TV aberta porque sou uma artista que sempre teve a ambição, a utopia e a vontade de falar com todo mundo. Me surpreendeu o resultado da novela já no streaming. Muito mais gente do que eu imaginava assistiu. Acho que isso serviu como uma grande propaganda e um boca a boca para esta exibição na TV Globo (risos). Muita gente me diz: “Soube que ‘Todas as Flores’ está indo para a TV Aberta; vou assistir de tanto que ouvi falar, todo mundo adorou”. E eu acho que vai ser muito, muito legal mesmo. Também vai ser muito legal o público que me viu em trabalhos como o "Esquenta", em "Amor de Mãe", me ver fazendo uma vilã em "Todas as Flores".  

  

Que traços ou aspectos da trajetória de Zoé mais te marcaram e você acredita que merecem a atenção de quem vai assistir à novela?
Regina Casé - Eu gosto da complexidade dela. A Zoé não é linear. Muita gente, no começo, dizia que não sabia nem apontar se ela era má ou boa, e eu acho isso muito bom. Ela se surpreende com a filha que ela não criou, com quem não conviveu, e isso a humaniza. Em muitas tramas isso acontece no final, há uma humanização ou uma redenção do vilão ou da vilã. No caso da Zoé, como ela encontra com essa filha logo no primeiro capítulo, ela divide o lado da vilania com o lado “mãezona” do início ao fim, é algo que o tempo todo está em conflito com ela, até o último capítulo.

 

Zoé ocupa o lugar de vilã, mas a relação de maternidade dela com Vanessa e Maíra, em alguns momentos da trama, também revela um lado mais sensível da personagem. Enquanto intérprete, quais foram seus desafios no processo de construção da Zoé?
Regina Casé - Foi muito difícil, talvez o trabalho mais difícil que eu já tenha feito. É muito fácil você embarcar naquela vilã com cara de malvada e que tem o tempo todo a mesma conduta. Já eu me surpreendia nas cenas. Foi maravilhoso contracenar com a Letícia Colin e com a Sophie Charlotte, que de alguma maneira viraram minhas filhas mesmo. Eu me emocionava de verdade. Algumas cenas foram muito difíceis. Sem dar muito spoiler, apesar de estar no Globoplay, mas entregar o filho da Maíra na instituição (de tráfico humano) foi muito difícil. Eu estava tão apegada ao bebezinho que participava das cenas, era como uma relação de avó com ele... Eu sabia que a personagem tinha que fazer aquilo, mas eu, Regina, sofri muito. Em muitas cenas fiquei dividida de verdade. 

 

Quais foram as contribuições mais importantes deste trabalho em sua carreira?
Regina Casé - Antes de mais nada, o convívio com um elenco que parecia um grupo de teatro. Fábio Assunção, Humberto Carrão, Letícia Colin, Sophie Charlotte - esse meu núcleo, com quem eu gravava quase todo dia - e eu desenvolvemos um compromisso com a novela, uma vontade de acertar, um cuidado com assuntos tão importantes. Houve um movimento muito bonito tanto para isso quanto para encontrarmos o equilíbrio e as nuances de cada personagem e a relação entre eles. Nos encontrávamos nas casas uns dos outros, ensaiávamos, chegávamos mais cedo aos Estúdios Globo para estudar. Isso foi muito rico! Isso nem sempre acontece, nem sempre é possível, nem sempre existe esse encontro entre os atores, mas nesse caso houve. E foi muito intenso, muito profundo. Eu sou muito grata a todos esses colegas. Foi um sonho trabalhar com Fábio pela primeira vez, ele me ajudou muito. As meninas também. Com o Humberto eu já tinha trabalhado, tínhamos um vínculo maravilhoso desde ‘Amor de Mãe’. Da novela, o que eu levo de mais precioso – e a que eu atribuo o sucesso e a surpresa das pessoas – foi esse elenco comprometido, querendo muito acertar. Isso aparece no resultado do produto. 

 

"Todas as Flores" é criada e escrita por João Emanuel Carneiro com direção artística de Carlos Araujo. A novela Original Globoplay é escrita com Vincent Villari, Eliane Garcia e Daisy Chaves. A direção é de Luiz Antonio Pilar, Carla Bohler, Fellipe Barbosa, Guilherme Azevedo e Oscar Francisco. A produção é de Betina Paulon e Gustavo Rebelo e a direção de gênero é de José Luiz Villamarim. A estreia na TV Globo será exibida a partir desta segunda-feira, dia 4 de setembro, indo ao ar de segunda a sexta-feira, logo após "Terra e Paixão".

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

.: Entrevista: Mu Carvalho fala sobre A Cor do Som em Santos


Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Um dos grupos mais respeitados na nossa MPB, A Cor do Som marcou uma trajetória de mais de 40 anos mesclando elementos de nossa música tradicional com diversos outros estilos, promovendo uma fusão bem interessante que chegou a tocar bastante nas rádios nos anos 70 e 80. De uma certa forma, a banda ajudou a abrir as portas para o movimento do rock nacional que tomaria de assalto a rádios durante os anos 80. 

O fato é que Mu Carvalho (teclados), Armandinho (guitarra), Dadi Carvalho (baixo), Ary Dias (percussão) e Gustavo (bateria) conseguiram criar uma sonoridade que se tornou uma marca registrada da banda. E continua a atrair um público fiel em todos os seus shows. Nesta quinta-feira, dia 31 de agosto, eles estarão no palco do Festival Som das Palafitas, do Arte do Dique, a partir das 15h00, tocando seus sucessos cantados e instrumentais. Em entrevista para o Resenhando.com, Mu Carvalho conta como está a fase atual da banda, que acabou de conquistar o Grammy Latino com um elogiado álbum instrumental. E dá a sua opinião sobre a longevidade da banda. “Acho que conseguimos criar juntos um tipo de som que nos definiu como músicos”.

Resenhando.com - Qual é a receita para manter a mesma formação da banda há mais de 40 anos?
Mu Carvalho - No nosso caso, há realmente uma amizade sincera. Eu e o Dadi somos irmãos de sangue. Mas nós consideramos Ary, Armandinho e Gustavo como nossos irmãos também. Agora, se não houvesse uma empatia musical, isso não teria durado tanto tempo. É fato que nós, juntos, conseguimos criar um tipo de sonoridade que se tornou uma marca registrada da Cor do Som. Se você ouvir a gravação do Hino de Duran com o Chico Buarque na trilha da Opera do Malandro, vai perceber logo que o acompanhamento é da Cor do Som.


Resenhando.com - Há uma lenda sobre o início da banda. É verdade que vocês começaram a cantar por imposição da gravadora na época (Warner)?
Mu Carvalho Não foi bem assim. Já havia algumas faixas que cantávamos no terceiro disco. Com o tempo, percebeu-se na gravadora que algumas canções poderiam ser trabalhadas nas rádios. Foi um processo natural, que amadureceu aos poucos.


Resenhando.com - O último disco, chamado de Álbum Rosa, ganhou um Grammy Latino, só com peças instrumentais no repertório. Como foi a repercussão dessa premiação?
Mu Carvalho Foi uma surpresa muito agradável. Há tempos tínhamos esse desejo de gravar composições instrumentais, incluindo a regravação de duas canções que só tinham sido lançadas no disco ao vivo em Montreux, de 1977. Além de outras que foram importantes em nossa trajetória. O Grammy serviu como um reconhecimento dessa nossa área instrumental. É sempre um estímulo para continuar desenvolvendo a carreira.

Resenhando.com - Para o show de Santos vocês vão tocar esse repertório instrumental?
Mu Carvalho Vamos fazer meio a meio. Teremos uma parte instrumental e no final tocaremos algumas canções que foram sucesso de nosso repertório. Hits como "Beleza Pura", "Abri a Porta" entre outros

Resenhando.com - Além de A Cor do Som, você trabalhou na Rede Globo como produtor musical. Como foi essa experiência?
Mu Carvalho Foi importante demais para mim. Fiquei lá de 1994 a 2021. Fiz peças musicais para várias produções da TV. Isso me deu uma experiência incrível.

Resenhando.com - Além disso, você trabalhou com vários outros artistas e bandas?
Mu Carvalho Assim com o Dadi, fui muito requisitado para gravações em estúdio. E teve uma turnê da Legião Urbana na qual participei como músico de apoio da banda. Lembro com carinho a recepção do Renato Russo, que colocou um tapete vermelho para minha chegada no ensaio. Ele confessou que ia nos shows da Cor do Som antes de tocar profissionalmente. O Dadi também integrou por um tempo o Barão Vermelho. Gravou até um disco com eles.

Resenhando.com - De uma certa forma, A Cor do Som abriu portas para aquela geração do rock nacional nos anos 80.
Mu Carvalho Abrimos portas e acabamos atropelados por todas aquelas bandas (risos). Mas é interessante notar que muitos daquela geração 80 falam com carinho de nossa música. Tem um documentário sobre a Cor do Som no Canal Music Box Brasil que confirma isso.

Resenhando.com - Vocês já tocaram várias vezes aqui, no litoral paulista. Lembra de alguma passagem que te marcou?
Mu Carvalho Lembro de um show que fizemos na praia, em Santos, no início dos anos 80. Eu estava com um teclado novo, que havia acabado de adquirir. Aí, no meio do show, alguém da plateia cismou de jogar areia para cima. Em pouco tempo era areia pra todo o lado. Quando voltamos para o Rio de Janeiro, levei o teclado no técnico que fazia a manutenção nele. E ele ficou assustado com a quantidade de areia que havia entrado dentro do instrumento. Nunca me esqueci dessa passagem. Mas é preciso dizer que o público do Litoral sempre nos recebeu de forma calorosa. Toda vez que tocamos aí é sempre um prazer enorme.

Resenhando.com - Vocês têm canal de comunicação na rede social?
Mu Carvalho A banda está sempre atualizando informações nos canais das redes. No Instagram, Facebook e YouTube é só acessar @acordosomoficial, Eu também tenho um canal no YouTube : @MooCarvalho.

Serviço:
Festival Som das Palafitas. Instituto Arte no Dique - Av. Brigadeiro Faria Lima - Rádio Clube - Santos. Horário: 15h. Entrada Franca

"Beleza Pura"

"Abri a Porta"

"Frutificar"

domingo, 27 de agosto de 2023

.: Entrevista: Clara Bezerra, a enigmática autora de "Roupa de Ganho"


Composto por um pouco mais de 100 poemas e aforismos, “Roupa de Ganho”, lançado pela editora Paraquedas, é o primeiro livro de Clara Bezerra. Os versos descrevem as dores, os prazeres e os desencontros do crescimento. Para revestir as emoções, a autora se vale de um vocabulário ancorado na geografia marítima. As águas, portanto, são abundantes na escrita, e povoam o livro em suas mais diferentes formas, trazendo consigo um sem número de metáforas possíveis. 

A nomenclatura dos capítulos, inclusive, fazem alusão a esse universo. São eles: "Córrego", "Correnteza", "Travessia", "Mergulho" e "Fôlego". Em cada um, a escritora busca agrupar poemas relacionados e que de alguma forma conversam entre si. A cadência da escrita segue a metáfora dos nomes dados a cada parte do livro com a dramaticidade dos versos dilatando à medida que as páginas são viradas, como se fosse a metamorfose da inocência para consciência.

Potiguar nascida em Acari e criada em Cruzeta, municípios vizinhos e que ficam a cerca de 215 km de Natal, ela vive na capital do Rio Grande do Norte. Formada em Letras - Língua Portuguesa e em Comunicação Social - Publicidade, ela também estuda psicanálise e dança por prazer. Confira a entrevista completa com a autora. Compre o livro "Roupa de Ganho", de Clara Bezerra, neste link.


O que motivou a escrita de "Roupa de Ganho"? 
Clara Bezerra -
Este livro é a reunião de textos que escrevi desde os 20 anos, portanto, são os registros de processos de vida que se passaram em mim nos últimos 15 anos. Eles falam do meu amadurecimento, do meu caminho de me tornar adulta e mulher, das coisas que perdi, dos lugares por onde passei, dos meus medos, mas principalmente da minha coragem porque também é uma exposição muito íntima. 

Como foi o processo de escrita?
Clara Bezerra - 
Como poesia, não é linear, não conta uma história com início, meio e fim e o processo de decisão em fazê-lo também não foi assim. Pensei em fazê-lo inicialmente há uns cinco anos. Reuni o que tinha e desisti. Há dois anos decidi retomar o projeto. Filtrei os textos que já tinha escolhido, adicionei outros, pedi a uma amiga que me ajudasse com a ordem e a estrutura. No final de 2022 entrei em contato com algumas editoras e decidi publicá-lo pela Paraquedas.


Se você pudesse resumir os temas centrais do livro, quais seriam?
Clara Bezerra - 
Acho que a palavra que mais tem neste livro é água. A segunda é casa. Não são os temas, mas são significantes que dão uma certa condução ao livro. Eu diria que ele fala dos caminhos que uma mulher fez para validar sua existência, com fluidez como a água, mas na busca do abrigo que encontramos em uma casa. É uma mulher nordestina que sai do seu lugar de origem e passa por muitos outros, buscando construir um lugar de morada dentro de si. 

Como surgiu o título do livro?
Clara Bezerra - O nome “Roupa de Ganho” veio de uma inspiração nas lavadeiras que conheci na minha infância. Essa expressão era usada na cidade onde cresci para designar as mulheres que lavavam roupa como trabalho. Quando postei a capa do livro uma amiga historiadora perguntou se tinha a ver com “escravos de ganho”. Fui pesquisar o que era e descobri que lavagem de roupa era um dos serviços que esses escravos prestavam a fim de receber renda, a qual era revertida em parte para os “seus donos”. A capa do livro é uma foto de 1886, de lavadeiras, e imagino que poderiam ser escravas. Alguns textos do livro trazem essa temática, especialmente o da página 57 (óvulo). Essa coincidência me lembra também o misticismo e a intuição que estão no poema “água de anil”, na página 16. Este título, inclusive, seria o nome do livro. Mudei em uma conversa com uma amiga, quando falei a expressão “Roupa de ganho” e ela perguntou do que se tratava. A partir daquele momento considerei que esse outro título dava mais concretude ao livro. Por se tratar de caminhos, busca, também o vejo como um processo de libertação. 


Explique como foi dividido o livro.
Clara Bezerra - Ele está dividido em cinco partes: "Córrego", que traz o início desse percurso; "Correnteza", quando essas águas que vão seguir começam a ficar mais fortes, mais volumosas e mais claras do que são; "Travessia", que marca os lugares atravessados; "Mergulho", tocando a busca pelo amor, e "Fôlego", dedicado ao trabalho com a palavra, que dá forma a isso tudo.

Por que escolher esses temas?
Clara Bezerra - 
Eles não foram escolhidos, foram percebidos e extraídos dos textos escritos nesses últimos 15 anos. Como uma admiradora da psicanálise, é como se fossem a leitura extraída do inconsciente, que aos poucos vai construindo uma história e um conhecimento não conhecido. Eles foram sendo construídos no meu percurso de vida e de escrita.

Quais são as suas principais influências literárias?
Clara Bezerra - 
Cresci lendo os livros da biblioteca pública da cidade onde morava e do armário da minha mãe, que era professora de Língua Portuguesa. Meus primeiros contatos foram quase que diretamente com os clássicos da literatura brasileira e portuguesa: li uma coleção inteira de Aluísio de Azevedo com cerca de 12 anos, se não me engano, além de Machado de Assis, José de Alencar, Eça de Queiroz e por aí vai. Uma paixão dessa época é José Mauro de Vasconcelos e "O Meu Pé de Laranja Lima". Minha mãe não gostava muito de poesia, lembro de apenas um livro de poemas entre os que ela guardava: "Pauliceia Desvairada", de Mário de Andrade. Encontrei a poesia nos trechos que vinham nos livros didáticos da escola e em outros materiais. Desde o início me fisgaram. Eu saltava as páginas dos livros de Língua Portuguesa no início do ano para ver o que encontrava. Então, inicialmente, foram os poetas brasileiros, principalmente os do Modernismo, que costumavam estar mais presentes nesses materiais. Depois fui encontrando aos poucos, aleatoriamente, e construindo um caminho de leitura que me levou a Cecília Meireles, Hilda Hilst, Ana Cristina Cesar, Manoel de Barros, Drummond, Orides Fontela, entre outras e outros.


Que livros influenciaram diretamente “Roupa de Ganho”?
Clara Bezerra - 
Os que li nesse percurso, mas alguns de forma mais forte. Penso que existe nele as marcas de uma melancolia que encontrei em um José Mauro de Vasconcelos e em um Manuel Bandeira, de uma certa coragem e transgressão de uma Ana Cristina Cesar, de um misticismo que vi em Hilda Hilst, de uma certa doçura que encontrei em Cecília Meireles, de uma força transformadora que vejo em Drummond e de uma simplicidade que aprendi com Manoel de Barros.


Como começou a escrever?
Clara Bezerra - 
A primeira lembrança de escrita que tenho é de quando eu tinha oito anos. Estava na segunda série e a professora trouxe um poema para a gente copiar em um cartão para o Dia das Mães. De forma muito espontânea, sem nem perguntar se podia, eu não copiei o poema: fiz os meus próprios versos. Lembro até hoje: “Mamãe, mamãezinha, / Me ensina por favor / Esse mistério tão bonito / Que é o amor”. O cartão eu dei para minha mãe e ela perdeu, mas também lembra até hoje das palavras. Depois disso, a escrita sempre foi minha companheira, mas era algo muito secreto, que eu não mostrava a ninguém. Com as redes sociais, comecei a compartilhar algumas coisas, mas sempre de uma forma muito espontânea também, como legendas de fotos e reações a coisas que sentia. Lançar este livro é dar concretude à pessoa que venho me tornando, mas também de dizer para mim mesma: sim, eu escrevo.

Como você definiria seu estilo de escrita?
Clara Bezerra - 
Difícil dizer isso. Como água, acho que é fluido, mas consistente, formando imagens fortes, mas de forma cuidadosa e delicada. Ele se aprofunda nos dilemas de uma mulher, mas faz isso de uma forma simples, ao passo que leitoras e leitores de diferentes formações podem se atrair e se identificar.

Como é o seu processo de escrita?
Clara Bezerra - 
Espontâneo, acho que essa é a melhor palavra. Quando o texto vem não espera e também não dificulta a escrita (talvez por isso também seja fluido). Posso trabalhar também de uma forma determinada e objetiva, mas a grande maioria dos textos que estão neste livro surgiram de forma espontânea, sem planejamento: como se eles simplesmente saíssem de mim, claro que com um trabalho posterior de burilamento, às vezes até reescrita.

Você tem algum ritual de preparação para a escrita? Tem alguma meta diária de escrita?
Clara Bezerra - 
Não. Pretendo experimentar uma rotina de escrita para ver o que sai disso, mas até agora, tudo o que escrevi de forma paralela ao trabalho de comunicadora veio de forma espontânea. Garanta o seu exemplar de "Roupa de Ganho", escrito por Clara Bezerra, neste link.

sábado, 26 de agosto de 2023

.: Entrevista: Aline Calixto resgata a obra de Clara Nunes em disco


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. 

Carioca de nascimento e radicada em Minas Gerais desde os seis anos, a cantora Aline Calixto vem desenvolvendo uma carreira consistente, baseada principalmente no samba. Desde o seu primeiro disco, lançado em 2009, ela realizou diversos projetos, incluindo o DVD “10 Anos de Aline Calixto – Ao Vivo em BH”, com arranjos e produção musical de Thiago Delegado, e participações especiais de Monarco e Velha Guarda da Portela, Mauricio Tizumba e Tambor Mineiro; dos cantores mineiros Tavinho Leoni, Isadora Ferreira, Marina Gomes e Cinara Ribeiro e de Beth Carvalho, sendo esse o último registro audiovisual da madrinha do samba.

O seu mais recente lançamento é o disco "Clara Viva", no qual revive a rica obra da cantora Clara Nunes, que faleceu há 40 anos. Em entrevista para o Resenhando.com, Aline conta como se deu o processo de elaboração desse trabalho mais recente e sobre outros projetos, como o CD "Pontinhos de Amor", dedicado ao segmento infantil sobre o universo mitológico dos Orixás, além de sua relação afetiva com o estado mineiro. “Minas Gerais tem uma força musical que me encanta sempre”

Resenhando - Sua carreira traz a marca do samba em vários momentos. De onde veio essa identificação com esse estilo?
Aline Calixto - É muito difícil responder. Lembro na infância ter visto alguém cantando Clara Nunes na TV. Aquilo me despertou a atenção para a obra dela pela primeira vez. Mais tarde passei a conhecer a fundo a sua obra, bem como as de outros nomes do samba, como Martinho da Vila, só pra citar um exemplo. E morando em Minas Gerais, percebi que esse estado tem uma força musical que sempre me encanta e continua me encantando. Tem grupos musicais de samba maravilhosos aqui.


Resenhando - E como foi reviver a obra de Clara Nunes?
Aline Calixto - Foi uma felicidade imensa. Ela tinha um poder de interpretação sem igual. Cantava qualquer estilo musical com uma desenvoltura convincente. Seu timbre vocal me arrepia até hoje. Buscamos mostrar nesse trabalho uma pequena amostra da sua riqueza musical. Fiz questão de manter a essência das canções, muito embora eu tenha um estilo próprio de cantar. Pude fazer uma releitura respeitosa dessa obra e o melhor foi perceber que as pessoas ainda conseguem admirar essas canções. Tem até "Feira de Mangaio", um xote do Sivuca, que foi um sucesso dela naquela época.

Resenhando -  Como estão os planos para shows?
Aline Calixto - Temos uma banda definida. O repertório é basicamente o disco "Clara Viva", com algumas inserções de canções que não entraram no disco mas que funcionam bem ao vivo. Estou muito contente com o que estamos ensaiando. Começamos em Belo Horizonte e depois levamos para outros estados.

Resenhando - Por que você optou por permanecer em Minas Gerais ao invés de explorar o eixo Rio-São Paulo?
Aline Calixto - Foi uma opção pessoal. Desde que fiquei aqui, passei a ter público cativo e também encontrei músicos incrivelmente talentosos aqui. Se houver possibilidade de levar o show para o eixo Rio-São Paulo ou até para outros estados, eu levarei, com certeza. Mas não encaro isso como uma obrigação. Eu já tenho um público cativo em Minas Gerais.

Resenhando - Clara Nunes era ligada a Umbanda, assim como você. Fale sobre essa relação.
Aline Calixto - Ela tinha canções belíssimas que exploravam temas da Umbanda e do Candomblé. Foi mais uma identificação que tive com sua obra. Eu cheguei a lançar um disco autoral voltado para o segmento infantil, apresentando o universo dos orixás para as crianças. O trabalho chamou-se "Pontinhos de Amor" e teve uma boa repercussão na mídia.

Resenhando - Você pensa em gravar um disco autoral de samba no futuro?
Aline Calixto - Tenho essa meta no futuro. Mas nesse momento estou focada no papel de intérprete. "Reviver" a obra da Clara Nunes me abriu um horizonte incrível. Nós temos um material riquíssimo na nossa MPB, sobretudo na área do samba, que merece ser redescoberto pelas novas gerações.

"Nação"

"Conto de Areia"

"O Mar Serenou/Coroa de Areia"

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

.: Entrevista: Vera Holtz fala sobre a Santana de "Mulheres Apaixonadas"

Vera Holtz é Santana em "Mulheres Apaixonadas". Foto: Rede Globo/Divulgação


Passados 20 anos da marcante interpretação de Santana, em "Mulheres Apaixonadas", a novela escrita por Manoel Carlos e seus desdobramentos permanecem vivos na memória de Vera Holtz, atriz que deu vida à personagem. Vera passou por uma intensa experiência de preparação para o papel e lembra de cenas emblemáticas que protagonizou na novela, agora no ar no ‘Vale a Pena Ver de Novo’. “Todo esse processo, as fases do alcoolismo, isso tudo era muito presente na personagem. Quando terminou a novela, eu fui pra Curitiba, para a uma universidade onde estava tendo um curso de preparação para profissionais que faziam acompanhamento de adictos. Lá, a criação da personagem Santana foi, de alguma forma, homenageada como um exemplo de todas as fases da doença”, conta.

Na entrevista a seguir, a atriz também relembra o processo de laboratório no qual mergulhou para dar vida a Santana, avalia o impacto do trabalho em sua carreira e fala sobre o retorno do público na época e ainda hoje. Confira a entrevista com a atriz Vera Holtz!

 

Em ‘Mulheres Apaixonadas’, a Santana é uma professora que luta contra o alcoolismo. Como foi entrar no universo da personagem?

VERA HOLTZ: O alcoolimo no Brasil não é estranho a ninguém. Até hoje há dificuldade em relação ao processo de reconhecer que é uma doença e que precisa de tratamento. Na época, nós fizemos uma preparação no sentido de conhecer que havia formas diferentes de tratar o alcoolismo, como por meio do trabalho do A.A. (Alcoólicos Anônimos), pautado pelas conversas nas reuniões presenciais, por exemplo. Nós fomos a um grupo para conhecer mulheres em processo de alcoolismo. Conversamos com estas mulheres sobre como lidavam com a doença e o porquê da busca pelo tratamento.

 

Que cenas foram mais marcantes durante as gravações?

VERA HOLTZ: Todas as cenas da Santana escondendo a bebida ou pendurando do lado de fora da janela, com uma cordinha para tapear as pessoas... Todo esse processo, as fases do alcoolismo, isso tudo era muito presente na personagem. Quando terminou a novela, eu fui pra Curitiba, para a uma Universidade onde estava tendo um curso de preparação para profissionais que faziam acompanhamento de adictos. Lá, a criação da personagem Santana foi, de alguma forma, homenageada como um exemplo de todas as fases da doença. Houve cenas bastante dramáticas. Normalmente, essas cenas eram dirigidas pelo José Luiz Villamarim, que tinha muito cuidado para fazer. Ele nos preparava, preparava a Santana emocionalmente; colocava uma música para chegar no tom da cena; e orientava bastante a gente para as cenas terem cuidado e delicadeza ao tratar de um assunto tão humano. 

 

O que foi mais desafiador neste trabalho? Naquela época, você já havia interpretado algum personagem semelhante à Santana?

VERA HOLTZ: Olha, eu já tinha trabalhado com alguns personagens que falavam um pouco sobre esse universo secreto feminino. Mas, o que eu percebi na Santana é a importância que tem uma personagem mostrar esse tema para a sociedade e como alguém pode se refletir nela. As pessoas conversavam comigo na rua e algumas vinham confessar para mim que bebiam escondido e que estavam se vendo nela. Isso numa ida ao supermercado, por exemplo. As pessoas paravam para falar comigo e davam retorno sobre a personagem, algumas falavam da importância da novela para elas. Filhos falaram para mim que parentes próximos tinham se enxergado na personagem e estavam fazendo tratamento para parar de beber.  Nessa dimensão, a personagem cumpriu o seu papel, que é o de ajudar a ver.

 

Ainda recebe retorno do público sobre a Santana?

VERA HOLTZ: A Santana continua no imaginário das pessoas, assim como a Heleninha Roitman, que foi uma personagem brilhantemente interpretada pela Renata Sorrah. Tinha uma comparação da Heleninha Roitman com a Santana, então ela segue no imaginário por muito tempo, até hoje. Vira e mexe, alguém manda para mim as repercussões. Eu estou viajando em turnê e, com a novela no ar, as pessoas estão acompanhando e falam da importância dela. Não só da personagem Santana, mas de outras questões, como o amor obsessivo, a violência doméstica, o alcoolismo, a homossexualidade. São os dramas e os dilemas que o Manoel Carlos escreve e todo esse universo de questões femininas que 'Mulheres Apaixonadas' levanta. 

 

Que lembranças guarda da troca com o elenco da novela, especialmente do núcleo da escola?

VERA HOLTZ: Na escola, eu lembro da Carolina [Dieckmann], da Susana [Vieira], que era a dona do colégio, da [Christiane] Torloni, que era a diretora, da Maria Padilha... a maravilhosa parceria com a Lica Oliveira, que fazia a amiga da Santana. Elas protegiam a Santana, era muito interessante essa relação entre as personagens. Também o namorado da Santana, o Lobato, interpretado pelo Roberto Frota. Nos bastidores, sempre houve um clima de cordialidade, de cooperação entre nós todas. Era um ambiente agradável "trabalhar" em escola, sempre com muita gente, muitos alunos. Foi um tempo bastante feliz, apesar do drama da personagem. À medida em que você vai fazendo a novela, vai saindo da ficção para entrar na realidade; a realidade começa a se misturar com a novela; as pessoas vão te vendo... Tanto é que, logo depois que terminou a novela, me chamaram para uma outra e eu preferi deixar a Santana reverberar um pouco mais. 

 

Qual foi o impacto dessa personagem na sua carreira?

VERA HOLTZ: Eu trabalhei em outras novelas do Manoel Carlos. Ele escreve no fluxo emocional da gente: ‘Presença de Anita’, ‘Por Amor’, ‘Mulheres Apaixonadas’. As obras dele são muito importantes na minha carreira na teledramaturgia brasileira. E o que me toca mais é esse retorno, ainda hoje, 20 anos depois. Às vezes eu estou andando na rua e ouço “Professora Santana!”. A novela realmente está muito presente no inconsciente do povo brasileiro. O povo brasileiro sabe ver novela. A Santana é sempre uma personagem lembrada.


Exibida no "Vale a Pena Ver de Novo", "Mulheres Apaixonadas" tem autoria de Manoel Carlos, com colaboração de Fausto Galvão, Vinícius Vianna e Maria Carolina. A novela tem direção de núcleo e geral de Ricardo Waddington e direção geral de José Luiz Villamarim e Rogério Gomes, com direção de Ary Coslov e Marcelo Travesso. "Mulheres Apaixonadas" vai ao ar de segunda a sexta-feira, logo após "Sessão da Tarde".




domingo, 20 de agosto de 2023

.: Entrevista: Maya Eigenmann: "A gente precisa olhar para os nossos traumas"


Por Helder Moraes Miranda, editor do portal Resenhando.com. Foto: Carol Bassolli

Ao contrário do que se fala por aí, as pessoas não aprendem pela dor. A teoria da pedagoga Maya Eigenmann, autora dos livros "Pais Feridos, Filhos Sobreviventes e como Quebrar Este Ciclo" e "A Raiva Não Educa. A Calma Educa", é justamente ao contrário: por incrível que pareça, as pessoas aprendem pelo amor. Best-seller nacional, ela propõe uma verdadeira revolução amorosa, tão necessária para combater a sociedade em que estamos inseridos, quanto benéfica para corpo e alma. 

E o que uma relação baseada no afeto, respeito e acolhimento, pode trazer às crianças de hoje? Em entrevista exclusiva para o Resenhando.com, Maya Eigenmann, que é educadora parental, pós-graduada em neurociências e em Educação Positiva, responde a esta pergunta e muitas outras questões que podem despertar insights e transformar vidas. Compre o livro "Pais Feridos, Filhos Sobreviventes e como Quebrar Este Ciclo", de Maya Eigenmann, neste link.


Resenhando.com - Como surgiu a ideia de escrever o livro “Pais Feridos, Filhos Sobreviventes e como Quebrar Este Ciclo”?
Maya Eigenmann - Esse livro veio com a intenção de dar um passo a mais em relação ao primeiro livro, de se aprofundar mais no autoconhecimento e guiar os leitores para reflexões específicas, para chegar a conclusões de maneira mais estruturada. Por isso, separei espaços de autorreflexão no livro. Queria também trazer um pouquinho mais de prática e faço isso com relatos pessoais, que foi um pedido dos leitores em relação ao primeiro livro. Queria mostrar para as pessoas que educar amorosamente e respeitosamente não é um luxo, mas uma necessidade básica do ser humano.

Resenhando.com - O que torna as pessoas feridas, ao longo da vida?
Maya Eigenmann - As feridas acontecem na nossa infância, principalmente, por causa dessa grande desconexão que há entre os pais e filhos. Os próprios pais também são filhos feridos, que se tornaram adultos feridos, e acontece todo esse ciclo transgeracional de trauma. Então, as feridas vêm principalmente dessa desconexão: a criança que chora e não é acolhida, a que dorme sozinha no escuro com medo, a com a qual gritam e essa criança não tem para onde fugir. Enfim, os casos são muitos, mas normalmente é quando os filhos não são respeitados nem vistos por quem eles realmente são.


Resenhando.com - O que isso pode refletir nos filhos dessas pessoas?
Maya Eigenmann - O reflexo disso é que vamos, querendo ou não, replicar esses acontecimentos também nos nossos filhos, porque é o que recebemos. Eu sempre gosto de dar um exemplo, que é da comida que fica sobrando no prato: vamos supor que você era uma criança que tinha que comer tudo que estava no prato ou, senão, apanhava. Você associou que comida no prato é igual a perigo. Seu cérebro registra isso. Quando você cresce, tem filhos e eles não comem o que está no prato, o teu cérebro também fica em alerta. Claro que isso é um processo inconsciente, mas eu começo a querer controlar essa minha criança, obrigá-la a comer tudo para eliminar a sensação de perigo que eu sinto. E se eu não me conscientizar disso, meu filho acaba pagando o preço que eu também paguei lá na infância.

Resenhando.com - Qual é o primeiro passo para quebrar o ciclo de pais feridos e filhos sobreviventes?
Maya Eigenmann - O primeiro passo é os adultos se conscientizarem dos próprios traumas e das próprias feridas. Isso, às vezes, vai significar perceber que a infância não foi tão florida como a gente imagina. Não de um lugar assim de acusação para com os pais, porque, como falei, eles também são pessoas feridas. Mas, sim, de entender que houve violência e negligência emocional, e isso ficou marcado. Se não olhar para isso, não vou cuidar e vou, querendo ou não, passar para frente


Resenhando.com - No seu livro você defende que não se prospera por meio da dor, mas sim pelo amor. Como se aproximar, então, de temperamentos mais resistentes?
Maya Eigenmann - Quero citar um especialista maravilhoso, o Dr. Steven Porges, criador da Teoria Polivagal, que fala que muitos de nós estamos em um estado de alerta, resistência e agressividade, justamente, porque nos faltou acolhimento na infância. Não tivemos um apego seguro. Nos tornamos resistentes a tudo e a todos, inclusive, ao amor. Então, vamos supor que sou casada com uma pessoa que é resistente à ideia de educar pelo amor. Vou precisar entender que ela está hiper alerta, que é uma pessoa ferida e que só vou conseguir construir um diálogo em um espaço de muita segurança, porque é isso que nos desarma. É a sensação de segurança que nos torna generosos e amorosos. Talvez, a gente possa começar essa conversa com: "Nossa, meu bem, hoje de manhã nosso filho chorou, eu o acolhi enquanto chorava no meu colo e tive uma sensação tão estranha, porque, de um lado, me fazia tão bem vê-lo confiar no meu colo e, por outro, fiquei triste por lembrar que nunca recebi esse colo assim. Como é que você se sente com isso? Como é que era na sua infância? Como é que você se sente quando nosso filho chora?". É desse lugar de vulnerabilidade, honestidade emocional e amorosidade que a gente vai conseguir abrir um diálogo com pessoas que talvez tenham mais resistência.

Resenhando.com - Como a educação positiva pode mudar alguém?
Maya Eigenmann - Então, essa pergunta é capciosa. Acredito que só muda quem quer. Não adianta impor isso a ninguém. Mas não acho que a educação positiva muda; na verdade, é a pessoa que vai mudar. O indivíduo que escolhe olhar para dentro de si e perceber as suas feridas. A educação positiva vai trazer o conhecimento, o conforto e a segurança de que o caminho é esse, que nós precisamos, sim, prosperar no amor, que precisamos dar amor, ser generosos e dar segurança uns aos outros. A gente precisa olhar para os nossos traumas. A educação positiva é uma placa, mas quem faz o caminho somos nós mesmos.

Resenhando.com - Como podemos usar a educação positiva em nosso favor?
Maya Eigenmann - A educação positiva é o nosso caminho de volta para casa. É a sensação de se reencontrar com quem realmente somos. É um presente que temos hoje nessa geração, especificamente de ter acesso a essas informações para poder fazer diferente. É nesse sentido de como posso mudar, me transformar e, por consequência, modificar uma sociedade inteira, se todo mundo se envolvesse com educação positiva. Mas, mesmo que não sejam todos, muitos estão fazendo esse caminho.


Resenhando.com - Em sala de aula, sem apoio dos responsáveis, é possível fazer um trabalho com estudantes que apresentam temperamentos agressivos ou desinteressados?
Maya Eigenmann - Primeiro, temos que entender que o sistema escolar é violento no sentido de que não colocamos a criança no centro, colocamos o conteúdo no centro. Então, precisamos entender isso antes de qualquer coisa, porque, senão, não colocaríamos um adulto apenas para cuidar de 30 crianças numa sala de aula. Isso é totalmente destrutivo para o professor e para o aluno. Não faz nenhum sentido funcionar dessa maneira. Mas, levando em consideração que temos essa realidade, o mais potente é o professor saber que tem muito poder de influência quando cuida do próprio estado emocional. Se ele entra desregulado em sala de aula, vai desregular os seus alunos também. Sei que isso é difícil, porque muitas vezes o professor trabalha três turnos por dia. O que pode ser feito nessa realidade é o professor tentar reduzir danos dentro do que é possível de se regular para estar disponível para os alunos. Mas sem políticas públicas também é muito mais difícil, porque vamos encontrar muita resistência, muito bloqueio e muita injustiça. O professor ganha pouco e tem que fazer muitos turnos. Se fossemos construir uma distopia, um professor poderia dar aula em espaços mais verdes, talvez, até mesmo sem parede alguma com dez alunos em cada turma durante a metade do dia. Seria muito mais proveitoso para o professor e para o aluno, mas a realidade é que colocamos 30 alunos dentro de uma caixinha, que são as paredes das salas de aulas, com um professor apenas. 


Resenhando.com - Como pais, mães e educadores podem melhorar os vínculos afetivos com os mais jovens?
Maya Eigenmann - A melhor maneira de aprimorar o nosso vínculo é cuidando dos nossos trabalhos, porque, na verdade, o que me impede de criar um vínculo saudável são as minhas sombras, os meus traumas e as minhas feridas. Por esse motivo, interpreto o comportamento da criança como algo perigoso, assim como o exemplo da comida, que a criança deixa o alimento no prato, e se ela chora ou faz birra, entendo que tenho que controlar. Isso gera desconexão. Se não me deixo ativar por esses comportamentos, a conexão permanece e o vínculo afetivo continua também, esse é justamente o “X” da questão.


Resenhando.com - Em que os vínculos fortalecidos entre pais e filhos podem melhorar - para melhor - uma personalidade?
Maya Eigenmann - Na verdade, todos nós nascemos com uma autenticidade, cada um nasce com um eu próprio muito verdadeiro e cada um é diferente. Esse vínculo afetivo, amoroso e respeitoso vai fazer com que não precise maquiar quem sou para existir. Não é que vai melhorar a personalidade, mas uma relação afetuosa e respeitosa vai fazer com que essa criança não tenha que ser outra pessoa para agradar - ela não vai precisar performar para agradar. Ela não tem que mudar a sua autenticidade e a sua essência para que alguém goste dela. Então, não é que vai melhorar, mas vai dar a liberdade da criança ser quem ela é.

Resenhando.com - Em um mundo repleto de intolerância e narcisismo, quais são os benefícios físicos e emocionais de uma relação baseada no afeto?
Maya Eigenmann - A intolerância, o narcisismo e o preconceito vêm da nossa infância na qual não fomos genuinamente amados. Assim, começa a projetar a raiva nas outras pessoas, porque, no fundo, a criança não pode odiar e ter raiva dos pais. Ela vai ter que achar outro objeto e outra pessoa para projetar essa raiva. Uma frase importantíssima da psicóloga espanhola Ivonne Laborda diz: "Quando vivemos criticando os nossos filhos, eles não deixam de nos amar, deixam de amar a si próprios". Eles vão começar a não gostar de si mesmos e projetar essa raiva em outras pessoas.

Resenhando.com - A revolução que o mundo de hoje precisa é pelo amor?
Maya Eigenmann - Sim. É totalmente uma revolução amorosa, porque quando entendemos que é no amor que prosperamos, sentimos segurança e ficamos bem e que dar amor não vai fazer uma criança ficar mal acostumada. Na verdade, dar amor vai construir sua personalidade em termos de poder ser autêntica. Quando entendo isso, crio uma pessoa para ser honesta, amorosa, generosa e que não vai só olhar para o próprio umbigo. Se muitos fizerem isso com os próprios filhos, vamos começar a ter uma pequena revolução acontecendo de fato. Garanta o seu exemplar de "Pais Feridos, Filhos Sobreviventes e como Quebrar Este Ciclo", escrito por Maya Eigenmann, neste link.


sábado, 19 de agosto de 2023

.: Entrevista: Dedé Macedo, o campeão do "No Limite - Amazônia" celebra


Disputando a final com Raiana Bertoso e Yuri Fulý, o paratleta foi o mais rápido no circuito e se consagrou o vencedor da temporada. Foto: Globo/Mauricio Fidalgo


Da repescagem ao topo do pódio, Dedé Macedo chegou ao "No Limite - Amazônia" querendo provar que a deficiência não é limitadora; e na noite da última quinta-feira, dia 17, o paratleta se consagrou o grande campeão da temporada. Ele foi o mais rápido a completar o desafio final com o tempo de 7m46s, contra Raiana Bertoso e Yuri Fulý, 2° e 3° colocados, respectivamente. No fim, Fernando Fernandes confirmou a vitória do paulista, que levou para casa o prêmio de R$500 mil. 

O programa começou com a decisão do júri dos eliminados. Simoni, Guilherme, Claudio Heinrich, Amanda, Marcus, Euclides e Paulinha votaram para escolher qual dos jogadores do top 5 iria direto para a final. Dedé e Fulý não tiveram votos, enquanto Carol Nakamura e Greici receberam dois e Raiana, três, garantindo a vaga. O desafio da semifinal foi tenso, exigindo muito foco, equilíbrio e paciência dos quatro competidores. Fulý e Dedé foram os primeiros a concluir, e disputaram a final com Raiana.

Logo nos primeiros desafios, Dedé se mostrou um competidor com muita determinação, força, agilidade e resistência. No jogo social, o paulista, a princípio, não se deu tão bem; fez poucas alianças e acabou eliminado pela equipe Jenipapo no quinto Portal da temporada – mas ainda teria uma segunda chance. Dedé foi para a Ocuīride, batalhou (literalmente) pela vaga para retornar à competição e venceu. Voltou e conseguiu se manter no jogo. No último Portal da edição, quase foi eliminado após um empate eletrizante que o colocou no top 5 ao lado de Carol Nakamura, Fulý, Greici e Raiana. 

Transmitido pela TV Globo, "No Limite - Amazônia" teve apresentação de Fernando Fernandes, direção geral de Rodrigo Giannetto, com direção de Vivian Alano e Padu Estevão. O reality é licenciado e produzido pela Endemol Shine Brasil. Confira a entrevista com o campeão do "No Limite - Amazônia", Dedé.

 
Qual é a sensação de vencer o "No Limite"?
Dedé Macedo -
Para mim, essa vitória é como se eu estivesse ganhando uma Copa do Mundo, um campeonato mundial de ciclismo. Era algo que me faltava, nessa grandiosidade. Então, foi muito bacana e estou vivenciando tudo isso com muita intensidade. Por muito tempo ainda, espero que fique assim, mas a ficha ainda não caiu totalmente.

 
Analisando tudo o que viveu no reality, o que foi mais difícil?
Dedé Macedo - 
Eu nunca tinha sentido fome na minha vida. Isso foi realmente muito difícil e acabou influenciando muito na convivência. Se fosse do lado de fora, ia ser pior esse acampamento (risos), mas ali precisamos abaixar a temperatura entre nós. Foi bem difícil passar por essa limitação de comida e conviver com pessoas tão diferentes ao mesmo tempo. 
 

Para você, qual é o saldo dessa experiência? Quais são os aprendizados?
Dedé Macedo - 
Aprendi que a fome é uma coisa que dói bastante, e a gente passa a rever algumas coisas. Daqui para frente, quero realmente poder ajudar muitas pessoas nessa situação. É algo que vou levar para vida. E ter vivido essa experiência na Floresta Amazônica também me agregou em muita coisa. Ali conseguimos nos desconectar desse mundo urbano e, então, olhar um pouco mais para dentro da imensidão da Amazônia. E ver o quanto a gente precisa cuidar dessa floresta e sua cultura. 

 
Você foi eliminado pela Jenipapo, foi para a Ocuīride, voltou para o jogo e se consagrou campeão. Como você avalia a sua trajetória no programa?
Dedé Macedo - 
Quando eu saí do jogo pela primeira vez, fiquei muito frustrado, bravo, desanimado, bem triste. Com a notícia de que teria uma chance de voltar, comecei a repensar tudo e precisei logo colocar em prática, pra já, porque lá não dá para esperar nenhum minuto, as coisas acontecem muito rápido. Quando você se expõe muito no jogo, as pessoas passam a desconfiar de você. No momento que eu dei uma bobeada, já fui eliminado. Então, tive que voltar com muita força, queria muito ir até a final. Analisando a minha trajetória, deu tudo certo. Acho que era para ter sido exatamente como aconteceu: ter sido eliminado e ter voltado. Sinto como se o programa tivesse sido feito para mim. 

 
Qual foi a sua estratégia de jogo, como você escolheu jogar? Foi surpreendido em algum momento ou precisou recalcular rotas nas alianças?
Dedé Macedo - 
Quando eu cheguei no programa, vi que todo mundo queria muito falar, saber um do outro. Isso é normal. Mas eu procurei ficar um pouco mais na minha, mais imparcial, ser aquela incógnita do jogo, sabe? Aquele que deixa todo mundo em cima do muro, mas a partir do momento que eu saí do jogo, tive que repensar. Voltei um pouquinho mais aberto, mas não tanto, a formar novas alianças para poder chegar lá na frente. Principalmente com as meninas, que eram o grupo mais forte. No último Portal, quando deu o empate, eu sabia que qualquer coisa que eu falasse poderia se voltar para mim. Ali eu vi que a briga em si era entre a Paulinha, Raiana, Fulý e Carol, então tinha que deixá-los discutirem entre eles. Preferi ficar quietinho, rezar para todos os santos e deu tudo certo. 

 
Como você analisa o jogo da Raiana e Fulý, que chegaram com você até a final?
Dedé Macedo - 
O Fulý é um jogador nato, né? Assistiu a várias temporadas do programa ao redor do mundo, então ele estava bem focado no dele. Conseguiu confundir o pessoal por muito tempo e saiu grandão no jogo. É um cara muito esperto, racional, eu o admiro por ter chegado onde chegou, por toda sua trajetória. A Rai é uma pessoa mais quieta, parecida comigo. Veio construindo sua trajetória aos poucos, foi grandona nas provas e chegou onde chegou por muito mérito. Foram dois gigantes comigo na final. 

 
Você chegou dizendo que queria provar que a deficiência não era limitadora e fez isso tão bem que é o grande vencedor! Qual recado você quer deixar?
Dedé Macedo - 
Achei demais que o programa abriu as portas para mim. Espero inspirar mais pessoas com deficiência e mostrar que somos capazes de fazer qualquer coisa que quisermos. Talvez a gente não consiga fazer de primeira, o processo pode demorar um pouquinho mais, ou ser um pouco diferente, mas lá na frente você vai conseguir ser vitorioso. Outra coisa que fiquei muito feliz foi de conhecer o Fernando. Ele é meu ídolo, está sempre mostrando o quanto a gente é capaz. Espero passar esse recado para todo mundo e incentivar as pessoas a acreditarem nos seus sonhos.

O que pretende fazer com o prêmio? 
Dedé Macedo - 
Com certeza, a prioridade é ajudar a minha família. Depois, quero investir em alguns equipamentos de paraciclismo, que são bem caros. Quero ajudar a minha família e me ajudar no esporte.

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

.: Entrevista: Eliane Giardini conta tudo sobre a Agatha de "Terra e Paixão"


Agatha sai da prisão e volta a Nova Primavera em "Terra e Paixão". Quem é essa mulher? A atriz Eliane Giardini, que interpreta a personagem, abre o jogo sobre a personagem. Foto: Globo/ Manoella Mello

Na novela "Terra e Paixão", finalmente a personagem Agatha, interpretada por Eliane Giardini, reaparece viva. Angelina (Inez Viana) viaja para o Rio de Janeiro com a desculpa de que vai visitar uma amiga em Campo Grande e recebe Agatha na porta de um presídio. No encontro, a amiga diz que precisa ver o mar e afirma que quer voltar para Nova Primavera para acertar as contas com o passado. Na novela escrita por Walcyr Carrasco Thelma Guedes, a presença da personagem na cidade vai agitar a vida de todos. 

Até o momento, apenas Angelina e Gentil (Flávio Bauraqui) sabem que ela está viva. E o primeiro encontro será com o filho, Caio (Cauã Reymond). Ao longo de todos esses anos, ele foi culpado pela morte da mãe, afinal, seu pai, Antônio (Tony Ramos), acreditava que ela tinha morrido no parto do menino. Agatha explica o motivo pelo qual ficou tanto tempo sem dar notícias, e Caio, enfim, pode tirar o peso que carrega. Ela alega ter ficado 20 anos presa por um crime que não cometeu. Além disso, explica a simulação de sua própria morte para fugir de Antônio, pois não aguentava mais viver em uma relação abusiva. O encontro promete! Confira abaixo a entrevista com Eliane Giardini.


Fale um pouco sobre a personagem.
Eliane Giardini - É difícil por enquanto definir a Agatha. Eu acho que eu só vou conseguir ter essa definição no último capítulo. Ela chega como uma mulher muito boa querendo pedir desculpas a todas as pessoas que ela magoou no passado, querendo se explicar, querendo ser aceita por essas pessoas dessa cidade, principalmente pelos filhos. Isso em um primeiro momento. Em um segundo momento, acho que ela começa a mostrar os seus verdadeiros interesses e eu não acredito que seja só dinheiro, porque se fosse só dinheiro ela não teria se separado do Antônio. Acho que ela busca algo mais que a gente não sabe exatamente o que, e vai usar de meios ilícitos para conseguir as coisas dela.


Como se preparou para o papel?
Eliane Giardini - Na primeira conversa que eu tive com o Walcyr (Carrasco), quando ele me convidou para fazer essa personagem, ele me passou um filme que eu amei, que se chama “Minha Prima Raquel”, um filme de 1952, com Richard Burton e Olivia de Havilland. No filme, a personagem é bastante dúbia, tem os dois lados muito aflorados: ela é muito boa e muito interesseira ao mesmo tempo, mas a gente não sabe exatamente se ela é uma coisa ou se ela é outra. É uma personagem bem complexa, e eu estou com ela mais ou menos na cabeça. E tem as preparações todas que a gente faz na vida para se manter bem, preparada sempre para qualquer desafio. 

Quais os desafios dessa personagem?
Eliane Giardini - O desafiador nessa personagem é justamente isso: ela tem tintas fortes para os dois lados, não é uma pessoa totalmente boa, não é uma pessoa totalmente má, pelo menos nos capítulos que eu li até agora. Não sei para onde vai esse personagem, mas nesse momento ela é uma pessoa que tem emoções verdadeiras de carinho, de amor pelos filhos e ódios também verdadeiros. Enfim, uma personagem de tintas fortes, de emoções fortes. Isso é bem desafiador. 

Que conflitos Agatha enfrentará na trama?
Eliane Giardini - Os conflitos que eu tenho agora nesses dois primeiros blocos são os conflitos, basicamente, com os filhos, onde ela vai tentar se explicar e ser aceita por eles, convencê-los das reais motivações que fizeram com que ela abandonasse esses dois filhos, Caio e Jonatas. Ela também vai ter uma conversa muito séria com Antônio. Me parece que serão esses os primeiros conflitos dela, com os filhos e com o Antônio. 

Como foi recebida pela equipe da novela?
Eliane Giardini - Eu estou sendo extremamente bem acolhida pela direção, pelos colegas. É um elenco que está todo muito empolgado, é muito gostoso você trabalhar em um ambiente assim, onde todo mundo está querendo dar o seu melhor, está querendo fazer acontecer, está querendo que essa novela seja o maior sucesso. Então é gostoso, essa energia é muito boa e são extremamente carinhosos comigo, extremamente cuidadosos. E estou bem feliz.

Qual a expectativa para a entrada da personagem na novela?
Eliane Giardini - A expectativa é sempre a melhor possível. Gosto muito da minha profissão, eu amo fazer o que eu faço. Então a minha expectativa é gigantesca, eu quero muito que dê certo, que o público entenda a personagem, se emocione com ela e que fique com ódio dela também. Enfim, que todas as propostas que forem julgadas pelo texto, pela direção e por mim sejam compreendidas, aceitas e amadas. Essa é a minha expectativa.

Fale um pouco sobre as relações de Agatha com os personagens Angelina, Antônio e Gentil.
Eliane Giardini - A relação da Agatha com a Angelina me parece ser uma das melhores coisas tem para a personagem nesse momento. Inez Viana é uma atriz excepcional, uma mulher carinhosíssima, afetuosa e eu estou achando uma delícia iniciar esse trabalho com ela, ela acolhe muito a Agatha, entende a Agatha, ama a Agatha, então a Agatha se sente muito à vontade com ela. É claro que ela vai cometer já de cara alguns abusos com a personagem, mas, enfim, está sendo muito bom, acho que elas têm uma parceria boa. E com Antônio e com Gentil são coisas bem diversas. O Antônio é uma pessoa que ela tem uma relação complexa. Uma pessoa que ela amou muito no passado e que fugiu dele pelo caráter que ele foi adquirindo ao longo do tempo. Ele foi ficando muito ciumento, fechava ela no quarto, enfim, pelo que ela descreve era uma relação de abuso, uma relação muito grave e que ela fugiu disso, dessa violência do Antônio. O Gentil é exatamente o oposto, como o nome diz, o Gentil é um doce, é um mar de calmaria para ela, onde ela se sente muito acolhida também. Então são personagens bem diversos. Acho que o Gentil e a Angelina são os personagens que apoiam ela emocionalmente, pelo menos a princípio.


Quais foram seus últimos trabalhos?
Eliane Giardini - Desde que a gente voltou da pandemia eu fiz uma participação em "Amor de Mãe", depois eu fui para Portugal estrear um espetáculo, fiquei três meses lá fazendo Lisboa e depois excursionando pelo país e continuo com a peça "Intimidade Indecente". Então, desde janeiro do ano passado eu estou com essa peça. Nós já fizemos duas temporadas no Rio, duas temporadas em São Paulo, é um êxito muito grande. Estamos reestreando e não têm data para terminar. É um espetáculo que eu faço com Marcos Caruso. E fiz "Encantado’s", que eu fiquei realmente encantada. Uma delícia de série. Assisti à primeira temporada e fiquei superfeliz quando fui convidada para fazer a segunda, porque eu tinha amado a temporada, acho um humor muito inteligente, muito moderno, muito sagaz, muito bem dirigida, os atores são maravilhosos, um elenco delicioso. Enfim, foi também uma paixão fazer essa série, foi muito bom.

Como foi o convite para a participação na novela?
Eliane Giardini - Eu recebi o convite para fazer a novela há uns meses e já foi um exercício de manter isso a sete chaves porque eu sabia que não podia falar para ninguém que eu ia fazer essa personagem porque era um spoiler total. Até então ninguém desconfiava que a Agatha pudesse estar viva. Estava superfeliz com o convite, mas realmente mantive o supersegredo até o momento certo para divulgar.
 

Como tem sido trabalhar novamente com um texto do Walcyr Carrasco?
Eliane Giardini - Esse acho que é o quarto trabalho que eu faço com o Walcyr. É muito divertido fazer os trabalhos dele porque ele não tem pudor nenhum e vai da farsa ao drama, ao melodrama, passeia por todos os estilos, por todos os gêneros e é um desafio muito grande para os atores fazer tudo isso. É muito bom, eu gosto bastante. 


E como tem sido a experiência com o diretor artístico Luiz Henrique Rios?
Eliane Giardini - Acho que o Luiz Henrique também é de uma doçura, de uma inteligência, então é muito bom porque ele vai ajudando a gente a fazer as curvas, não abrir tanto para cá, não abrir tanto para lá e ir com calma, vai te dirigindo sussurrando no seu ouvido com a maior doçura. Está sendo muito bom. 

Como foi gravar o momento mais esperado pelo público? O encontro entre Agatha e Caio, mãe e filho.
Eliane Giardini - São duas cenas importantes, entre Caio e Agatha. Uma é mais o susto, o assombro que ele tem quando descobre que a mãe está viva. Não dá muito espaço para ela falar e já bota ela para fora. E em um segundo momento, quando ele vai procurar por ela na pousada, aí sim é um grande encontro. Eu fiz a primeira (até o momento dessa entrevista), só que foi bem intenso, bem forte. A gente se preparou bastante, ficamos um tempo no estúdio muito concentrados e muito focados. O Cauã, eu e a Inez em um silêncio, criando uma atmosfera propícia para que a gente fizesse a cena da melhor forma possível.


"Terra e Paixão" é uma novela criada por Walcyr Carrasco, escrita por Walcyr Carrasco Thelma Guedes. A obra é escrita com Márcio Haiduck, Vinícius Vianna, Nelson Nadotti e Cleissa Regina. A direção artística é de Luiz Henrique Rios com direção geral de João Paulo Jabur e direção de Tande Bressane, Jeferson De, Joana Clark, Felipe Herzog e Juliana Vicente. A direção de gênero é de José Luiz Villamarim e a produção é de Raphael Cavaco e Mauricio Quaresma.

domingo, 13 de agosto de 2023

.: Entrevista: Marcela Alves fala sobre a vida, o tempo e a poesia como sagrados


Estreia da psicóloga e poeta Marcela Alves, o livro “Da Costela do Impossível” trabalha a vida como ela é ao mesclar beleza e dor sob a ótica do sagrado e da poesia. Publicado pela editora Urutau, o livro conta com a orelha assinada pela escritora Aline Bei. Dividida em três seções, todas nomeadas com títulos relacionados com luz e sombra, a obra trabalha o amor, a perda, o tempo e os rastros desses três elementos na memória e na percepção de si e do mundo. 

A partir da observação do cotidiano, a autora valoriza as sutilezas das relações humanas e assim consegue transformá-las em material para a poesia. E nessa estranha alquimia está a busca pelo sagrado que move a autora e seu eu-lírico. Marcela Alves nasceu em 1991, na cidade de Divinópolis, em Minas Gerais. É psicóloga formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), especialista em psicologia da saúde e atua na prática clínica em Belo Horizonte. Confira a entrevista completa com a autora abaixo.

Se você pudesse resumir os temas centrais da obra “Da Costela do Impossível”, quais seriam? Por que escolher esses temas?
Marcela Alves -
O amor, a perda, o sagrado, o tempo. Porque são minhas obsessões, meu espinho na carne.

Em sua análise, quais as principais mensagens que podem ser transmitidas pelo livro?
Marcela Alves - 
De que na dor, na alegria, nas relações e na vida acontecendo com toda simplicidade e complexidade que tem, existe uma beleza e um mistério a ser reverenciado. Eu escrevo porque me espanto com a vida e queria que esse espanto chegasse aos leitores. Espero ter conseguido.

O que motivou a escrita do livro?
Marcela Alves - 
Escrevo, desde sempre, como forma de afirmar a vida em mim. Não apenas para documentar ou descrever minhas experiências, mas para vivê-las. Com 20 anos fiz um blog onde compartilhava alguns textos, em prosa. Não me aventurava a escrever poemas por ser este um terreno sagrado demais, para mim. A poesia é a minha ponte com o mistério, com tudo o que há. Então eu ficava como quem observa esse universo da janela. E aí, em 2016, com 25 anos, fiz um primeiro poema. Meio "do nada", em um momento de inspiração. Depois, vieram outros, ao longo dos anos, muito autobiográficos. Após um clube de escrita ministrado pela Aline Bei, passei a ter os poemas como projeto mesmo, e me dedicar a eles, visualizando um livro. Fiz um processo de preparação de original com a poeta Bruna Kalil Othero, já com a intenção de ter uma quantidade boa de poemas para um livro. Esse processo de acompanhamento com outras mulheres foi importante para eu ter coragem, perder o pudor e a vergonha. E assim nasceu.


Você escreve desde quando?
Marcela Alves - 
Escrevo desde a infância e esse início, esse "como", é meio borrado. Apenas me lembro de ter bastante facilidade com as palavras desde o processo de alfabetização, e de sempre ter sido muito incentivada pelas minhas professoras do ensino fundamental.


Como começou a escrever?
Marcela Alves - 
Escrevia redações para homenagens, participava de antologias na escola. Esses dias achei um exercício de história, num caderno, em que a gente precisava se apresentar. Nele eu falo: "Meu nome é Marcela, tenho 11 anos, sou tímida. Gosto de escrever...".

Como você definiria seu estilo de escrita?
Marcela Alves - 
Caótico e depois ordenado.


Como é o seu processo?
Marcela Alves - 
Anoto no celular e no papel alguns pensamentos ou frases que desenvolvo (ou não) depois. Quando estava no processo de escrita do livro eu me "forçava" a desenvolver, para não deixar a ideia sumir, perder força.


Como você se encontrou na poesia?
Marcela Alves - 
Percebi que tenho uma obsessão com a síntese. Quero dizer muito com pouco, atingir o coração da realidade num golpe só, com precisão. Obviamente, sempre falharei, porque a realidade vai me escapar. Mas essa falha, esse momento em que eu esbarro com a realidade, esse segundo de captura, é o que eu quero narrar. E a poesia pra mim é esse clarão de um encontro rápido mas irrepetível.


Já transitou em outros estilos?
Marcela Alves - 
Minha prosa é quase sempre poética, me importa muito a escolha das palavras, em frases que também digam muito sem precisar dizer tanto, com o rastro de beleza que a poesia deixa. Pensando em publicações, não sei se tenho fôlego para prosa, já comecei alguns romances que estão na gaveta. Quem sabe um dia? 


Quais são as suas principais influências literárias?
Marcela Alves - 
Adélia Prado, Ana Martins Marques, Carlos Drummond de Andrade e Wislawa Szymborska. 


Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Marcela Alves - 
Não tenho ritual. 

Tem alguma meta diária de escrita?
Marcela Alves - 
Tenho como meta escrever, nem que seja um pouco, todos os dias.

Quais são os seus projetos atuais de escrita?
Marcela Alves - 
Ainda estou me entendendo com esse momento pós-livro e investigando o que quero dizer. O que tem sido esboçado é um novo livro de poemas, bastante entrelaçado no tempo, na dor, e na morte. Mas é um início, um embrião.

segunda-feira, 7 de agosto de 2023

.: Entrevista: Sabrina Gottschlisch fala sobre as mulheres no álbum de família


Maternidade. Família. Amor entre mãe e filha. Saúde mental. Temas que fazem parte da vida da paulista Sabrina Gottschlisch e que agora se transformam em objeto literário. Contemplada no ProAC, edital cultural do estado de São Paulo, a escritora lançou pela editora Paraquedas o romance “Através de Nós”, uma saga focada nas mulheres de uma mesma família.

No livro, a história é rememorada por Matilda, que faz parte da quarta geração e que vive o luto pela morte de sua mãe. No avião, durante a viagem para cumprir os ritos fúnebres, a protagonista decide escrever a saga das mulheres que vieram antes dela. “Uma história que não tem começo nem fim, que simplesmente segue adiante, como todas nós seguimos. Grande parte dessa trama foi minha mãe quem me contou ou deixou escrita em cartas e cadernos que fui encontrando ao longo do tempo. Para ela, escrever era uma estratégia de sobrevivência”, diz um dos trechos no início da obra, que conta com posfácio de Aline Bei e orelha assinada por Tatiana Lazzarotto

Sabrina Gottschlisch é paulista de Santo André e mora há 16 anos em Jundiaí. É feminista, historiadora, professora, mãe, participante de Clubes de Leitura e Escrita, ama ler e escrever. Em 2020, lançou seu primeiro e-book, "Mãe de Atleta". No ano seguinte, teve um texto publicado na coletânea "Cartas de Uma Pandemia" (Editora Claraboia, 2021). No mesmo ano, teve textos selecionados no Prêmio Off Flip nas categorias contos e crônicas, entre outras antologias. Em 2022, lançou seu romance juvenil "Que Sorte a Minha", na Bienal do Livro de São Paulo. 

Já publicou em diversas revistas literárias, como "Cassandra" e "Contos de Samsara". Em 2021 foi contemplada pelo Programa de Ação Cultural da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo – ProAC/SP, por meio do qual lançou este romance, “Através de Nós”. Confira a entrevista completa com a autora e compre o livro "Através de Nós" neste link.

Se você pudesse resumir os temas centrais de “Através de Nós”, quais seriam?
Sabrina Gottschlisch  - Maternidade. Família. Amor entre mãe e filha. Saúde mental. São temas que me cercam e fazem parte da minha vida desde sempre. 


O que motivou a escrita do livro? 
Sabrina Gottschlisch
  - O que me motivou a escrever o livro foi contar a saga de partes da minha vida numa família de mulheres, ficcionalizada, claro, inspirada pelo livro de Allende, que adoro.


Como foi o processo de escrita?
Sabrina Gottschlisch
  - O processo foi bem caótico. Fui escrevendo conforme as lembranças e histórias vinham, e depois tive todo um trabalho de reescrita para organizar um pouco o caos.

Quais são as suas principais influências literárias?
Sabrina Gottschlisch
  - Para falar das contemporâneas, que é o que tenho lido mais atualmente, Aline Bei, Mariana Salomão Carrara, dia nobre, Maria Valéria Rezende, Bernardine Evaristo, Chimamanda Ngozie Adichie, Rosa Montero, Elena Ferrante, Annie Ernaux. Mas na vida toda, Simone de Beauvoir, bell hooks, Isabel Allende e Lygia Fagundes Telles.


Que livros influenciaram diretamente a obra?
Sabrina Gottschlisch
  - Todos os livros de Annie Ernaux publicados no Brasil, que têm a mesma pegada intimista que tentei imprimir ao meu, e Casa dos Espíritos e Paula, de Isabel Allende, que acendeu em mim a vontade de escrever um livro sobre uma família matriarcal, como a minha.  


Como começou a escrever?
Sabrina Gottschlisch
  - Escrevo desde 2019. Sempre fui uma leitora ávida e escrevia academicamente, tenho mestrado em História pela PUC/SP. Com a pandemia, me animei a escrever um livro sobre minha experiência com meu filho mais velho, que é atleta, que publiquei como e-book independente. Após isso não parei mais de escrever. Participei de várias coletâneas, revistas literárias, entrei para um coletivo de escritoras (Coletivo Escreviventes) e por fim ganhei o ProAc.

Como é o seu processo de escrita?
Sabrina Gottschlisch
  - Gosto de escrever quando estou sozinha, no silêncio. O que é um pouco difícil, com dois filhos e trabalhando como professora. Então escrevo nas brechas, sempre que consigo um tempo pra mim.


Você tem algum ritual de preparação para a escrita? Tem alguma meta diária de escrita?
Sabrina Gottschlisch
  - Quando eu não trabalhava fora eu começava a escrever assim que acordava e só parava depois de ter escrito pelo menos 2 mil palavras. Depois que voltei a lecionar, não existe mais ritual nem meta, eu faço o que dá mesmo.


Como foi a sua aproximação com a editora Paraquedas?
Sabrina Gottschlisch
  - Eu conheci a editora quando tive uma carta selecionada para fazer parte do livro Cartas de uma Pandemia, de 2021. Quando me inscrevi no ProAc foi uma escolha natural, elas me aceitaram e o trabalho de edição foi ótimo.


Como você enxerga o mercado editorial para uma escritora mulher independente? Quais são os principais desafios?
Sabrina Gottschlisch
  - Apesar dos avanços significativos que tivemos nos últimos tempos, em especial após a pandemia, com um verdadeiro boom de mulheres escritoras, os desafios infelizmente permanecem os mesmos: um mercado predominantemente masculino, machista, branco e de elite. Além disso, hoje, antes mesmo de ver a qualidade do seu texto, as editoras querem saber quantos seguidores a escritora tem nas redes sociais, qual seu potencial de lucro, o que só aumenta e dificulta nosso trabalho. Além de escritoras, temos que ser influenciadoras.


Quais são os seus projetos atuais de escrita? O que vem por aí?
Sabrina Gottschlisch
  - Estou lançando pela Editora Voz de Mulher o livro Eu Gostaria de Saber qual é a Sensação de ser Livre com vinte contos feministas que falam sobre temas caros a todas as mulheres: violência, abusos, maternidade, maternidade solo, racismo, gordofobia, machismo e misoginia, feminicídio, violência obstétrica, sexualidade, entre outros. É uma literatura mais engajada, que combina muito com a minha voz de historiadora que estuda o feminismo há mais de 20 anos, desde o mestrado. Garanta o seu exemplar de "Através de Nós", escrito por Sabrina Gottschlisch, neste link.

domingo, 6 de agosto de 2023

.: Entrevista: Raquel Campos, neta de Augusto de Campos, fala sobre poesia


Neta de Augusto de Campos, a poeta, ensaísta e professora de literatura presta homenagens e dialoga com ele e outros concretistas históricos em sua obra de estreia.

A brasiliense Raquel Campos nasceu em 1988, é poeta, ensaísta e professora de literatura. Atualmente, trabalha como editora na Relatar-se. Foi professora de Teoria Literária da Unesp (2021-2022) e co-organizou o livro “HC 21: leituras de Haroldo de Campos” (7Letras, 2021). Acadêmica, tem pós-doutorado em Estudos Literários pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) e doutorado em Literatura pela Universidade de Brasília (UNB).

“Sad Trip”(Corsário satã, 72 páginas) é o primeiro livro dela, que é neta do poeta Augusto de Campos. A obra mescla as atuais reflexões da vida adulta com uma linguagem divertida, repleta de construções poéticas, feitas com gírias e expressões coloquiais utilizadas por sua geração. A obra veio ao mundo por um convite de Natália Agra, poeta que junto Fabiano Calixto toca a editora independente Corsário Satã, e tem a orelha assinada pela tradutora, pesquisadora e também poeta Francesca Cricelli.

Alvaro Dutra, a quem o livro “Sad Trip” é dedicado, gravou um LP contendo cinco poemas de Raquel Campos musicados e o poeta, tradutor e crítico venezuelano Jesús Montoya traduziu onze poemas do livro de estreia de Raquel para a revista eletrônica de literatura "Círculo de Poesía". Confira abaixo a entrevista completa com Raquel Campos.

O que motivou a escrita do livro?
Raquel Campos -
A escrita do livro se iniciou durante a quarentena, num período bastante difícil e de muita desilusão. O livro, de alguma forma, reflete esse isolamento através de uma análise poética introspectiva sobre momentos importantes da minha própria vida, como a mudança de Brasília (a cidade que eu morei durante toda a minha vida) para São Paulo e a sensação de derrota imposta pela pandemia. 

Como foi o processo de escrita?
Raquel Campos - O processo de escrita se decorreu em aproximadamente um ano, quando senti que já havia selecionado os poemas para a publicação.

Quais são as suas principais influências literárias?
Raquel Campos - 
Minhas principais influências literárias são os poetas brasileiros, particularmente os concretistas de São Paulo, com quem convivi desde a minha infância através do contato pessoal e das leituras, sou neta do poeta Augusto de Campos. Além disso, desenvolvi durante a adolescência uma grande paixão pelo poeta Augusto dos Anjos e por outros como Fernando Pessoa e Cesário Verde. Atualmente, tenho estudado bastante poesia contemporânea, focando mais nas mulheres poetas, como Marília Garcia, Miriam Alves, Francesca Cricelli etc.

Que livros influenciaram diretamente a obra?
Raquel Campos - 
Acho que "Sad Trip" dialoga bastante com a obra poética do Paulo Leminski e da Hilda Hilst. São grandes influências que marcaram não só a escrita do livro, como também a minha produção como um todo. O livro "Sad Trip" é reflexo do seu tempo e inclui questões como a sexualidade feminina, a mudança de cidade e a frustração com os obstáculos mais dolorosos da vida, como a perda, o luto e a inadequação social.

Você escreve desde quando? 
Raquel Campos - 
Escrevo desde criança. Comento, na minha tese de doutorado, que um dos meus primeiros escritos foi um “poema concreto”, de 1994, quando eu tinha seis anos. Claro que ainda não havia nenhuma intenção formal no poema, apenas a sensação de liberdade de poder brincar com as palavras.


Como começou a escrever?
Raquel Campos - 
Experimentei muitas formas diferentes de escrita poética durante a minha adolescência e comecei a publicar poemas on-line, há aproximadamente uma década. Em 2020, publiquei uma plaquete com cinco poemas pela Galileu Edições e, mais recentemente, o livro "Sad Trip".

Se você pudesse resumir os temas centrais do livro, quais seriam?
Raquel Campos - 
A sensação de vivenciar derrotas e frustrações durante a vida. Algumas impressões pessoais sobre a vida em Brasília e a vida em São Paulo. Homenagens aos poetas que me influenciaram, tais como Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari, além de alguns escritos sobre amor e sexualidade.

Por que escolher esses temas?
Raquel Campos - 
São temas que atravessam a minha vida adulta e que fazem parte da minha vida e poesia. São formas de enxergar o mundo poeticamente, com suas belezas e suas dores, tentando transformar isso em algo maior que eu e algo que possa dialogar com possíveis leitores, criando identificações com o outro a partir da minha própria experiência.


Como você definiria seu estilo de escrita?
Raquel Campos - Acredito que seja um estilo de escrita sintético, autobiográfico, misturando temas complexos com palavras simples, palavrões e gírias. Existe também uma complexidade e um trabalho com a linguagem poética, mas que procuro intercalar com momentos mais coloquiais. Talvez esta mistura seja o que mais caracterize o meu estilo de escrita.

Como é o seu processo de escrita?
Raquel Campos - 
Gosto de me dedicar com mais afinco à escrita de um livro, concentrando o máximo de esforço e tempo possível a essa atividade. No entanto, a escrita do "Sad Trip" ocorreu mais lentamente, durante o período de um ano, o que refletiu também a própria lentidão e a confusão temporal causadas pela longa quarentena que enfrentamos em 2020 e ainda em 2021.

Tem alguma meta diária de escrita?
Raquel Campos - 
Não tenho nenhuma meta diária, gosto de contar com a indisciplina e o caos para me ajudar no processo criativo (risos).

Como foi a sua aproximação com a editora? 
Raquel Campos - 
Já conhecia o trabalho dos poetas Fabiano Calixto e Natália Agra, donos da editora Corsário-Satã. No entanto, a oportunidade de publicação de um livro foi um convite da própria Natália, o que me deixou muito surpresa e contente com a confiança. Sou uma grande admiradora de sua obra e da de Fabiano.

Quais são os seus projetos atuais de escrita?
Raquel Campos - 
Meu novo livro de poemas se chama “Meninas, Eu Vi”, publicado pela editora Relatar-se. O livro traz uma perspectiva feminista a respeito da sexualidade e prazer femininos.


← Postagens mais recentes Postagens mais antigas → Página inicial
Tecnologia do Blogger.