quinta-feira, 1 de novembro de 2007

.: Entrevista com Alaní Santiago e Ricardo Fernandez, atores

Nem só de terríveis sustos vive o homem, mas de boas conversas

Por: Mary Ellen Farias dos Santos e Helder Miranda

Em novembro de 2007


Eles te assustaram nos 20 anos das Noites do Terror do Playcenter e agora estão aqui para mostrar o quão humanos são.


Zumbis, vampiros, serial-killers, bruxas, mortos-vivos, estátuas macabras, guardiões do mal e até personagens universais que fazem parte do imaginário tenebroso da população estiveram à solta no mês de setembro e outubro de 2007 perambulando em São Paulo. Todo dizem que quem procura, acha. Este é o "X" da questão: encontrar! Porque é no cair da noite que você vê muitos e muitos monstros por toda parte de um parque que beira 40 anos de existência, localizado no meio da agitada cidade de São Paulo, na Barra Funda: o Playcenter.

Não há como fugir destes seres da escuridão! Escapar do Necrotério, da Passagem Nosferatus e da Vila das Trevas algo tão impossível de fazer quanto sair impune do Rio Estige, do Portal do Inferno, da Cidade de Dite e da Masmorra, além de não adiantar ter boas e longas pernas para correr o mais rápido possível por dentro do Pavilhão dos Condenados, do Cemitério, do Cine Terror, da Peste Negra, dos Vampiros do Rio Douro e do Santuário Satânico. O que fazer? Você é um intruso no habitat destes governantes do mal. A dica é: una diversão e sustos, e assim, tire muitas fotos!

2007: Neste ano o parque abrigou terríveis monstros para celebrar os 20 anos das Noites do Terror. Tanta produção não poderia ficar somente na lembrança daqueles que puderam viver momentos de tensão, de descontração, e claro, do maior e mais profundo terror. 

O site cultural Resenhando.com busca eternizar esta grandiosa festa e, para tanto, traz no mês de novembro um R.G. especial com dois atores que fizeram parte deste grande evento: eles que deram vida aos seres de outro mundo. 

Um foi o Zumbi Rodolfo que rastejava com o bolo dos 20 anos de Noites do Terror nas mãos (Alaní Santiago), enquanto que o maléfico Guardião do Cemitério (Ricardo Fernandez) deu uma nova "cara" para Fernandez, ator que participa das Noites do Terror do Playcenter desde a primeira edição do evento.

Confira agora o R.G. especial com os atores Alaní e Ricardo dois integrantes desta equipe que divertiram a todos os visitantes do Playcenter nesta festa do outro mundo. Saiba mais daqueles que ajudaram a fazer destes 20 anos de Noites do Terror algo para ser lembrado para sempre. Seja curioso e siga em frente nesta viagem sem volta!



RESENHANDO - Fale um pouco sobre a sua trajetória, antes de tornar-se "monstro" das "Noites do Terror".
Alaní/Zumbi 20 anos - Comecei a atuar aos treze anos de idade, e desde de então procurei me especializar na área. Acho que aos 15,16 anos eu fui pela primeira vez ao Playcenter - "Noites do Terror" - e gostei muito do que vi lá, então coloquei na cabeça que gostaria muito de um dia poder participar, pois achava tudo aquilo muito lúdico, lindo e encantador. Enfim, eu queria fazer Noites do Terror. Era um objetivo, um sonho!
Em 2005 soube que a Agência Space estaria fazendo os testes para o evento Noites do Terror. Não pensei duas vezes. Lá estava eu, com mais 200 pessoas e somente quatro vagas. Sem contar que no dia anterior já havia tido outros testes. Lembro que eu fiz o teste para fazer o Diabo, as outras pessoas que também fizeram eram ótimas. No término dos testes eles anunciaram quatro pessoas, eu lembro até hoje. Aprovados: eu, Ligia Campos, Borba e o Ezequiel. Nossa, na hora eu nem acreditei, fiquei super feliz saí pulando na rua de tanta alegria. Então, ali, começou a minha carreira de monstro do Playcenter. Em 2006, fui chamado para trabalhar com a Energia e diretamente com o diretor Valter Seben. Foi muito, mas muito gratificante poder trabalhar com esse diretor maravilhoso, "realmente uma aula" e estou até hoje com eles e muito feliz!!
Ricardo Fernandez/Guardião do Cemitério - Bem eu era uma pessoa comum. Sempre gostei do lado artístico, estava no meu sangue. Eu trabalhava na Secretaria da Cultura, Assessoria de Imprensa. Eu fazia de tudo, mas o que mais gostava era quando tinha que cobrir algum show e me escalavam. Estava no meu mundo, mesmo estando na coxia. Trabalhei também em uma estamparia, era legal por causa dos amigos, mas não era isso que eu queria, e, sim o lado artístico... sempre gostei de assistir filmes de terror, suspense. 
  

RESENHANDO - As "Noites do Terror" do parque de diversões, Playcenter, completou 20 anos de existência neste ano. Como foi trabalhar nesta comemoração de arrepiar?
Alaní/Zumbi 20 anos - Para mim foi ótimo, principalmente por estar carregando o tema do evento! Foi muito bom, mas ao mesmo tempo um grande desafio, aliás o evento girava em torno do meu personagem, né... Graças a Deus eu consegui criar um personagem onde eu tive um grande retorno do público do parque e do próprio Valter Seben. Não poderia ser melhor!
Ricardo Fernandez/Guardião do Cemitério -  É uma vida, é uma satisfação e uma honra. Você faz tantos amigos, você vê tantos amigos irem embora, mas para quem gosta, tira de letra. Uma dica vou dar para quem sonha em atuar nas Noites do Terror... Não vá querer trabalhar pensando no dinheiro e sim se realmente está no seu sangue entrar para uma família de atores, pois lá dentro não é para qualquer um... Entrar pode até ser, mas o difícil é permanecer...


RESENHANDO - Já participou de outras edições das "Noites do Terror" e/ou eventos similares em outros parques? Como foi esta participação? 
Alaní/Zumbi 20 anos - Participo deste evento desde 2005, e pra mim é sempre um desafio diferente, um personagem diferente, uma vida diferente! É sempre ótimo, porque uma coisa eu digo... "Noites do Terror" não é pra qualquer um, é pra quem gosta meeeesmo. Para quem ama!
Ricardo Fernandez/Guardião do Cemitério -  Não, sempre fui fiel ao Playcenter.


RESENHANDO - Que personagem e/ou de que outra forma participou das "Noites do Terror"? Dentre tais colaborações para o evento, qual mais lhe agradou fazer? Por que?
Alaní/Zumbi 20 anos - Olha para mim. Todos os personagens foram gostosos de trabalhar, ideologias, criações, figurinos, objetivos diferentes. Acho que o Rodolfo - "Zumbi Rodolfo" - personagem que eu fiz esse ano de 2007, foi o que mais marcou pra mim. Foi um desafio maior, pois os outros personagens anteriores a ele tinham adereços, eu podia falar, enfim era outra idéia. Agora o Rodolfo não, ele era totalmente expressão corporal, era um zumbi, eles não falam, eu tinha que mostrar todo o sofrimento dele, o porque dele estar com um bolo na mão, mostrar para as pessoas um verdadeiro zumbi. Acho que consegui passar isso para as pessoas, então, o Rodolfo marcou!!
Ricardo Fernandez/Guardião do Cemitério -  Cada ano é diferente, uns dos outros. Como eu falei, eu amo o que faço e curto todas as personagens, porque até agora não repeti nenhum e já vi outro ator fazer o meu personagem do passado... fiquei muito feliz e honrado...   


RESENHANDO - Para você, como foi toda a preparação ao transformar-se em "monstro"? Quanto tempo leva para chegar à um resultado plausível, entre maquiagem e figurino?
Alaní/Zumbi 20 anos - Eu digo que a preparação para todo esse espetáculo é um ritual. (risos) Eu adoro! Olha quem foi meu maquiador desse ano de 2007! Rogério Maldonato! Ele era super ágil e fantástico, adorava o trabalho que fazia, ele deixava minha make pronta em torno de uns 15, 20 minutos, e ficava muito bom, era exatamente o que eu queria. Agora para por o figurino, ai já era um pouco mais demorado (risos), eu colocava uma peça, conversava, colocava outra e ia dar uma volta, e ai iaaaa... (risos) como eu disse era todo um ritual que só pra quem ama mesmo. (risos)
Ricardo Fernandez/Guardião do Cemitério -  Faço pesquisa, assisto filmes e faço laboratório, leio bastante e se não tem onde encontrar eu mesmo construo de como deveria de fazê-lo e como o público iria recebe-lo. Depende da personagem que vou fazer, pois vai de um para outro, já fiz maquiagem que fiquei na cadeira do maquiador mais de 30 minutos. Quero destacar que o meu maquiador deste ano (Rodrigo Uchoa) está me maquiando há 5 anos. E voltando ao assunto em pauta: Este ano eu ficava pronto para atuar em 1:30 horas....


RESENHANDO - No dia 28 de setembro de 2007, um garoto de 15 anos teve problemas de saúde no parque de diversões, Hopi Hari, veio a falecer e a causa da morte ainda não foi explicada. Após este acontecido você passou a ter receio em assustar os visitantes? Por que?
Alaní/Zumbi 20 anos - Não me causou receio em assustar ninguém, pois quando eu me 
concentrava na minha personagem, não conseguia pensar em mais nada do que no mundo do Rodolfo. (risos)
Ricardo Fernandez/Guardião do Cemitério -  Não. Sabe de uma coisa, quando estamos na personagem, não pensamos como nós e sim como o Monstro. Acidentes acontecem em qualquer lugar, com qualquer um, sabe pode até acontecer com você. (risos)


RESENHANDO - Enquanto "monstro" no parque já lhe ocorreram momentos curiosos? Comente alguma curiosidade que lhe aconteceu.
Alaní/Zumbi 20 anos - Sim uma vez em 2005 uma criança que tinha um problema de 
paralisia ficou encantada com a minha personagem. Ela queria por que queria ficar do meu lado, e começou a tirar fotos e queria me abraçar toda hora. Disse que gostava de mim, falava que eu era bonito, ficou me elogiando muito e passou a noite toda ali na sua cadeiras de roda observando o meu trabalho, só foi embora quando eu fui. Isso marcou muito. Foi lindo!
Ricardo Fernandez/Guardião do Cemitério -  Muitas vezes, vou lhe contar uma deste ano que foi hilário. Como sabe eu era o Guardião do Cemitério e comigo sempre estava o Portela, ele que fazia a Pirofagia. Um dia estávamos eu e o Portela no túmulo, ele de pé e eu sentado nos pés dele, quando chegou um visitante e perguntou ao Portela: Quem é você? Ele respondeu: Eu sou Jesus Cristo! O visitante olhou para mim e não contente me perguntou: E você? Eu rapidamente apontei para o Portela e respondi: Maria... Mãe dele... E ai não deu saímos da personagem e entramos no Mausoléu para cair na gargalhada, isso porque logo em seguida a Dama de Vermelho veio até nós e disse que tinham atirado pedra nela. Bastou. O grupo estava feito... Jesus, Maria e Maria Madalena. Bem, pena que o espaço é pequeno pois tenho um arquivo dentro de mim de 20 anos e muitas histórias... Quando precisar sabe onde me achar!

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

.: Resenha da adaptação de "Dom Quixote", de Miguel de Cervantes

Devaneios ricos de modernidade literária. Adaptação de Dom Quixote publicada pela Editora Ática tem apresentação da escritora Ana Maria Machado.

Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em outubro de 2007



Um clássico da literatura escrito há 400 anos em linguagem acessível. Pode parecer algo impossível de se encontrar nos dias de hoje, mas não é. Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, teve adaptação de Michael Harrison, publicada pela Editora Ática. Resultado: uma das obras-primas da literatura universal de todos os tempos reduzida a 120 páginas sem perder a qualidade, além de ainda conservar a inovação de Cervantes ao criar personagens comentando o próprio livro.

É claro que o mais aconselhável é ir em busca de exemplares originais ou traduções desta obra, porém a falta de interesse dos novos leitores pode-se perder e talvez, até fazer com que a leitura de Dom Quixote caia no esquecimento. Então, nada melhor que lançar a isca ao peixe e assim, atiçar a vontade e o prazer da leitura, iniciando-os no longo e fabuloso caminho da fantasia por meio desta simples e empolgante adaptação.

Em
 Dom Quixote há um fidalgo admirador das histórias de cavalaria que após tanto ler sobre os feitos dos cavaleiros medievais, ele decide se tornar um cavaleiro andante e viver sua própria história como herói, apesar de estar no século XVI. "O tio de Maria vivia numa aldeia de um canto empoeirado da Espanha. Era um homem ossudo, de uns cinqüenta anos, o tipo de fidalgo às antigas que ornamenta sua biblioteca com uma lança enferrujada e um escudo bichado, artefatos que o ajudam a viver no passado. Ele não era casado, naturalmente, mas acolhera a sobrinha em sua casa. Esta era uma moça sensível, e tinha seus dezoito anos. Uma velha ama dispensava aos dois cuidados de mãe. Os amigos que o fidalgo tinha na cidade eram as duas únicas pessoas instruídas: Tomás, o padre, e Nicolau, o barbeiro".

No entanto, o nobre senhor queria mais da vida, apesar de estar numa idade um tanto que avançada. Antes de sair em busca de aventuras medievais, ele ajeita sua armadura que fica perfeitamente pronta (em sucata e papelão) e o poderoso Rocinante (seu cavalo, um decrépito pangaré).

A primeira partida de nosso herói não acontece como o planejado por Dom Quixote de La Mancha. Por sorte, após viver uma desventura, o herói com o corpo moído, encontra um homem da mesma aldeia em que vivia e este o ajuda a chegar em casa. "A sobrinha e a ama ficaram muito contentes com sua volta. Elas lhe tiraram a armadura, limparam suas feridas e o colocaram na cama. Lá ele sonhou tais sonhos que as teriam assustado, se as duas pudessem ver o que se passava em sua pobre cabeça machucada".

A solução de tudo? Fazer com que todos os preciosos livros de Dom Quixote virassem cinzas. "Mais que depressa emparedaram e caiaram a porta de sua biblioteca". Como qualquer lorde, Dom Quixote nada disse, pois ele sabia que aquilo era uma obra de feiticeiro. "Ele haveria de sair pelo mundo para procurá-lo e destruí-lo. Só então seus livros e sua biblioteca iriam reaparecer".

Assim, o fidalgo espanhol parte em nova jornada, desta vez acompanhado por Sancho Pança, um ingênuo lavrador. Sancho usa sua esperteza e "entra" nas histórias inventadas por Dom Quixote, as viagens se sucedem sob a alucinação de quem deseja combater as injustiças do mundo. Contudo, o lavrador que o acompanha mostra não ser bobo como parece inicialmente, afinal, seu objetivo é o pagamento prometido por Dom Quixote: uma ilha, só de Sancho.

A parte não tão divertida está na terceira expedição, pois os devaneios de Dom Quixote simplesmente acabam, apesar de ainda ter em mente que precisa salvar donzelas, vencer o Cavaleiro dos Espelhos e o Cavaleiro da Lua Cheia.

É no retorno final para casa que Dom Quixote descobre o quanto os livros são perigosos, e diz: "Os livros deviam ser queimados numa grande fogueira para evitar que desencaminhem as pessoas". Em contraponto o padre Tomás argumenta: "A culpa não é só dos livros, mas sim da nossa fraqueza, que nos faz acreditar naquilo que não deveria passar de um passatempo de uma noite de inverno. Não existe nenhum livro tão ruim que não tenha algo de bom".

Miguel de Cervantes: Nasceu em 1547, em Alcalá de Henares, cidade perto de Madri. Ainda jovem, viajou para a Itália e lutou contra os turcos na batalha de Lepanto, ferindo-se na mão esquerda, que ficou inutilizada. Aprisionado por piratas, só se libertou cinco anos depois. Mais tarde passou a residir em Lisboa. Em 1580, voltou à Espanha e chegou a trabalhar como cobrador de impostos. Devido a essa profissão, viajou por toda a Espanha, conhecendo de perto as dificuldades de seus conterrâneos. Lançou a primeira parte de Dom Quixote em 1605, obtendo sucesso imediato. Em 1615 publicou a segunda parte do livro. Morreu no ano seguinte, muito conhecido mas ainda sem recursos.

Dom Quixote publicado pela Ática: Faz parte da coleção O Tesouro dos Clássicos Juvenil que apresenta algumas das obras mais importantes da literatura mundial, adaptadas para o leitor jovem. A edição brasileira não se resume apenas ao texto adaptado e apresenta uma seção, "Por trás da história", ricamente ilustrada, com informações sobre o autor e seu contexto histórico. A coleção conta também com Odisséia, de Homero. Sua coleção-irmã lançou: O Tesouro dos Clássicos, tem livros mais curtos e conta com os títulos: O médico e o monstro, Ali Babá e os quarenta ladrões e A ilha do tesouro. As três publicações ganharam o prêmio "Altamente recomendável", categoria Tradução Criança, dado pela FNLIJ/2002. 

Você pode comprar o livro Dom Quixote, de Miguel de Cervantes em amzn.to/2ZL4kZu


Livro: Dom Quixote
Autor: Miguel de Cervantes
Adaptação: Michael Harrison
120 páginas
Ano: 2003
Ilustração: Victor G. Ambrus
Coleção: O Tesouro dos Clássicos Juvenil
Editora: 
Ática

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

.: Resenha de "O Amor É Uma Coisa Feia" e "Violências"

Contos de amor e brutalidades são temas centrais de dois lançamentos da 7 Letras. O Amor É Uma Coisa Feia e Violências, da editora 7 Letras, evidenciam os novos rumos da literatura brasileira

Por: Cadorno Teles

Em outubro de 2007



Discutíamos em uma roda, com alguns amigos, sobre a literatura que vemos se desenvolver no Brasil de hoje. Era uma reunião do Canto da Leitura, e o assunto tendeu aos blogs literários e aos novos autores que recentemente foram alvos de análises, reportagens e críticas. Essa grande fornada, como alguns críticos chamam, de novos autores, virtuais ou não, conseguiu despertar as editoras para publicarem seus trabalhos.

Uma destas editora é a carioca 7 Letras, de pequeno porte, mas que sempre traz ao público uma literatura nova com novíssimos autores brasileiros, que se tornaram conhecidos e premiados, como o Leonardo Brasiliense, que acaba de ganhar o Jabuti 2007 para Melhor Livro Juvenil com Adeus Contos de Fadas, de minicontos, e agora lança uma nova coleção Rocinante, em formato diferente, mas com a mesma visão em divulgar o que há de melhor na literatura em prosa.

Publicada deste 1993, a coleção sempre acompanhou a nova produção literária brasileira. E agora lança O Amor É Uma Coisa Feia, do baiano Gustavo Rios, e Violências, do paulista Igor Galante. Em O Amor É Uma Coisa Feia, o autor traz em seu livro de estréia 32 contos, que nos fala do amor amargo, da desilusão, do cinismo em negar o amor romântico, do amor como coisa disforme, que cresce e arrebata, mas, desmistificado, cai aflito em choro e tristeza.

Em contos felinos e outros tantos melancólicos, o autor caminha por trilhas das mais diversas, compartilhando com o leitor momentos de "amor desonesto", ou de pura desilusão, como em "Todo poeta é um perdedor", mas escreve de maneira consciente sua idéia de amor. Gustavo o trata com humor e ceticismo, não há rosas e nem espinhos, mas sombras sofridas e grotescas do amor romântico. Seria o amor coisa de literatos e adolescentes? Seria algo idiota? São perguntas que podemos fazer ao ler esse pequeno livro de leitura debochada e se, pensarmos bem, é bem real. Gustavo Rios, nascido em 1974, mora em Salvador e escreve regularmente nos blogs www.cozinhadocao.blogspot.com e www.feioamor.zip.net.


Livro: O Amor É Uma Coisa Feia
Autor: Gustavo Rios
85 páginas
Ano: 2007
Editora: 7 Letras

Violências, do jornalista Igor Galante, recentemente recomendado por um dos grandes escritores de nossa literatura, Moacyr Scliar, é bem mais curto e com outro âmbito: a violência, em seis contos, alguns esboços de um romance, que o autor coloca como uma preparação futura, ou como ele mesmo analisa, "ainda é o momento de conhecer, experimentar, aprender com a linguagem, testar narrativas, no tiro curto do conto, essa forma literária que eu não pretendo abandonar tão cedo".

Seu livro, de poucas mais de 60 páginas, traz histórias que denotam o binômio ternura/crueldade de uma forma instigante, mas terna. Fazendo arte literária, bem diferente da linguagem jornalística que usa normalmente. Mistério à la Poe, decadência, morte, brutalidade são ingredientes que Igor serve em uma linguagem hábil e medonhamente esmerada no ponto central do brutalismo, uma das tendências da literatura contemporânea. O apocalipse é o próprio mundo, está nas pessoas, está em tudo. Igor Galante nasceu em 1979, mora em São José do rio Preto, em que é repórter do jornal Diário da Região.
 


Livro: Violências
Autor: Igor Galante
64 páginas
Ano: 2007
Editora: 7 Letras

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

.: Resenha de " O Veado e a Onça", recontada por Ana Maria Machado

Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em outubro de 2007


A inteligência na hora de lidar com uma onça: Clássico da literatura infantil recontado por Ana Maria Machado ensina aos pequenos que nem toda sociedade é viável, até mesmo entre os animais da floresta.


Grandes histórias para os pequenos leitores do século XXI. Publicação da Editora FTD traz uma divertida história clássica da literatura infantil recontada por Ana Maria Machado em O Veado e a Onça.

Toda história começa há muitos e muitos anos num povoado indígena, quando um veado decidiu construir uma casa. Logo encontrou um terreno dos sonhos: era bom, perto do rio, no alto de um barranco e protegido por árvores. Trabalhou o dia inteiro e, cansado, voltou para casa dos pais para dormir.

Em contraponto, ainda na mesma noite, uma onça, que também tinha o sonho de construir uma casa apareceu por lá, viu o mesmo terreno e também o achou perfeito. Aproveitou e trabalhou a noite inteira pensando que o deus da mata a estava ajudando a realizar seu sonho, depois cansada, foi para a casa dos pais para dormir.

E assim a história vai, enquanto o veado trabalhava na casa de dia, a onça no período noturno. Ambos sempre pensando que o trabalho "adiantado" era uma ajuda do deus da mata. Contudo, quando o veado termina de construir sua casa, ele decide ficar e, passar a primeira noite em seu novo lar. Eis que a onça chega no começo da noite, olha a casa e fica furiosa por ter gente lá. O veado e a onça começam a discutir e percebem que os dois construíram a casa, um de dia e outro à noite.


"- Tenho uma idéia! - exclamou a Onça. - Se nós fizemos a casa juntos, podemos morar juntos. Somos sócios...
'Morar com uma onça', pensou o Veado. 'Não pode dar certo...'
- Acho até que vai ser muito bom - insistia ela. - você sai de dia para pastar, eu saio de noite para caçar. Nós não vamos nos encontrar nunca. E a casa vai estar sempre com alguém, sempre bem cuidadinha...
'Vai se perfeito', pensava a Onça. 'Fico com uma casa ótima, que nem deu muito trabalho, e ainda guardo uma reserva de comida dentro dela. Se algum dia não encontrar caça, créu! É só comer o sócio!'"



É claro que o veado fica receoso, mas acaba aceitando a proposta. A Onça, que não é nada boba, logo começa a assustar o veado para que ele vá embora e a deixe morando sozinha. Entretanto é a vez do Veado ser mais esperto e põe em prática sua brilhante idéia que faz com que a Onça vá embora para bem longe e o deixe em paz.

O Veado e a Onça faz parte da Coleção Lê pra mim, série de livros que contam histórias clássicas da literatura infantil contadas por duas damas brasileiras da literatura infanto-juvenil Ana Maria Machado e Ruth Rocha. Outros títulos da coleção: Joãozinho e Maria, Joãozinho e o Pé de Feijão, O Patinho Feio, O Barba-Azul, Os Músicos de Bremen, Dona Baratinha, Cachinhos de Ouro, João Bobo.

A autora: Ana Maria Machado é uma das maiores escritoras nacionais. Em 33 anos de carreira, escreveu mais de 100 livros – a maioria voltada para o público infanto-juvenil. Com essa vasta obra, não é de se estranhar a marca invejável de 14 milhões de exemplares vendidos no Brasil e em mais de 17 países, onde suas obras são publicadas. Sua prosa vigorosa coleciona incontáveis prêmios. Entre eles, um dos mais festejados foi o Hans Christian Andersen, considerado o Nobel da literatura infantil mundial, concedido à escritora em 2000. No ano seguinte, Ana Maria Machado também foi contemplada com o prêmio Machado de Assis, pelo conjunto de sua obra. Concedido pela Academia Brasileira de Letra, da qual ela é membro, esse é o prêmio máximo da literatura nacional. Site da autora: www.anamariamachado.com.br

Ilustradora: Suppa formou-se em arquitetura e morou um ano em Paris. Estudou francês e desenhou suas aventuras. Garantiu uma vaga na École d´Arts Appliqués Duperre, no curso de história em quadrinhos. Fez vários estágios enquanto estudava, entre eles o de colunista das histórias em quadrinhos do comandante Jacques Cousteau, e trabalhou quatro anos na Fundação Cousteau. Ilustrou revistas, campanhas publicitárias e livros infantis. Voltou ao Brasil vinte anos depois.


Livro: O Veado e a Onça
Autora: Ana Maria Machado
32 páginas
Ano: 2004
Ilustração: Suppa
Coleção: Lê Pra Mim
Editora: FTD

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

.: Resenha crítica de "Carrie", de Stephen King

Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em outubro de 2007


Uma garota atormentada por seus mistérios: Após tanta repressão de amigos, garota descobre ter uma natureza misteriosa. Conheça Carrie, de Stephen King!


Todos os fãs de Stephen King conhecem a personagem Carrie, uma adolescente problemática, que é humilhada pelos colegas e perseguida por professores. Ela, por azar do destino, tem uma mãe fanática religiosa que a impede de levar uma vida normal, como as garotas de sua idade. Vítima da neurose da mãe que pensa que todo sinal de vida é pecado, e de seus colegas de escola, que não suportam nenhuma pessoa que não compartilhe os hábitos e gostos de "grupo", Carrie vive numa sufocante e triste solidão.

É castigada pela mãe porque ao se tornar mulher, inicia-se no suplício das maldições que Stephen divide em "A Maldição do Sangue", "A Maldição da Concepção" e "A Maldição do Homicídio". Rejeitada pelos colegas porque não é bonita, não sabe nada sobre sexo e é "estranha" sofre intermináveis humilhações. "Carrie seguindo-as obtinadamente nos passeios de bicicleta, um ano conhecida como baleia, no outro como cara-de-bonde, sempre cheirando a suor, incapaz de acompanhar a turma, pegando urticária de urinar no mato e todo mundo descobrindo (ei! coça-bunda, seu traseiro está comichando?). [...] Os beliscões, as pernas esticadas pelos corredores da escola para lhes passar rasteiras, os livros varridos de sua carteira, os cartões obscenos que metiam em sua pasta!".

Após este esvaziamento final, ela rompe com tudo e passa a ter uma força que ninguém conseguiria advinhar, uma força secreta com a qual poderia punir os seus agressores: a feia tem poderes telecinéticos. Contudo, um dia Carrie resolve se vingar de tudo e todos após ser humilhada na frente de todos da escola durante o Baile da Primavera.

Esta história é muito conhecida, fato que pode ser comprovado por meio de traduções do livro para vários idiomas. Em contraponto, a escrita de Carrie é bastante rasa, não que a culpa seja da tradução de Erika R. Engert Rizzo, mas é um todo, inclusive, as seqüências de acontecimentos escatológicos são terríveis, além de em certos momentos Stephen enveredar pela literatura "estilo Nora Roberts". Um exemplo é o seguinte trecho, logo no início do livro.



"- Pelo amor de Deus, Carrie, sua regra chegou! - exclamou ela. - Limpa isso!

- Ahn?

Lançou um olhar bovino à sua volta. Seu cabelo grudava-lhe no rosto como se fosse um elmo curvo; no ombro um monte de acne. Aos dezesseis anos, já trazia claramente estampada nos olhos a marca enganadora da mágoa.

- Ela acha que serve para pintar os lábios! - gritou de repente Ruth Regan em secreto regozijo, para depois estourar em alta gargalhada. Mais tarde Sue se lembrou do comentário e o encaixou no quadro geral, mas agora era apenas outro som sem sentido em meio a toda a confusão. 
Dezesseis anos? Pensava ela. Ela deve saber o que está acontecendo, ela...

Mais pingos de sangue. Carrie continuava a piscar olhando em volta para as colegas em lento aturdimento.

- Você está sangrando! - berrou Sue de repente furiosa. Você está sangrando, sua gorda balofa, idiota!

[...]

Súbito um Modess lhe foi acertado no peito e caiu no chão - plop! Uma flor rubra mancha o algodão absorvente e se espalhou
".



Sem comentários! Outro fator que torna o livro "fraquinho" é o grande desejo de o autor dar credibilidade para a história que conta, por esse motivo, mostra as fontes de trechos de "livros" e "jornais" que aparecem na história.

Enfim, fama não é sinônimo de qualidade, porém a história que intitulada (no Brasil) como Carrie, a estranha, virou filme que teve adaptação de Brian de Palma em 1976. Até novelas brasileiras tiveram os seus momentos "Carrie". A protagonista de "A Rainha da Sucata" e a também protagonista de "Chocolate com Pimenta", Ana Francisca, foram presenteadas pelos amigos com um banho de "sujeira" e a humilhação somente serviu para alimentar a força interior destas personagens que conseguiram vencer todas as barreiras da vida.

Stephen King: Tornou-se mundialmente famoso e próspero. Uma de suas casas no Maine, Estados Unidos. Stephen Edwin King (nascido em Portland, Maine, 21 de Setembro de 1947) é um escritor americano, reconhecido como um dos mais notáveis escritores de contos de horror fantástico e ficção de sua geração. Seus livros foram publicados em mais de 40 países e muitas das suas obras foram adaptadas para o cinema.

Embora seu talento se destaque na literatura de terror/horror, escreveu algumas obras de qualidade reconhecida fora desse gênero e cuja popularidade aumentou ao serem levadas ao cinema, como nos filmes "Conta Comigo", "Um Sonho de Liberdade" (contos retirados do livro "As quatro estações"), "Lembranças de um Verão" e "À Espera de Um Milagre".

Biografia: Quando Stephen tinha apenas dois anos, seu pai, Donald Edwin King, desertou sua família. Sua mãe, Nellie Ruth Pillsbury, criou sozinha King e seu irmão mais velho adotivo David, muitas vezes passando por graves dificuldades financeiras. A família se mudou para a cidade natal de Ruth, Durham, Maine mas também passaram vários períodos em Fort Wayne, Indiana e Stratford, Connecticut.

Ainda criança, testemunhou um acidente horrível - um de seus amigos ficou preso em uma ferrovia e foi atropelado por um trem. Muitas pessoas falam que isso inspirou seu lado negro e suas criações perturbadoras, mas ele mesmo descarta essa idéia.

King era um leitor fanático dos quadrinhos EC's horror comics incluindo Tales from the Crypt, que estimulou seu amor pelo terror. Na escola, ele escrevia histórias baseadas nos filmes que assistia e as copiava com a ajuda de seu irmão David. King as vendia aos amigos, mas seus professores desaprovaram e o forçaram a parar.

De 1966 à 1971, Stephen estudou Inglês na Universidade do Maine em Orono, onde ele escrevia uma coluna entitulada "King's Garbage Truck" para o jornal estudantil, o Maine Campus. Ele conheceu Tabitha Spruce lá e se casaram em 1971. O período que passou no campus influênciou muito em suas histórias, e os trabalhos que ele aceitava para poder pagar pelos seus estudos insipiraram histórias como "The Mangler" e o romance "Roadwork" (como Richard Bachman).

King ensinou inglês na Academia Hampden em Hampden, Maine. Ele e sua família moravam em um trailer, e ele escreveu histórias curtas, a maioria para revistas masculinas. Como é relatado na introdução de Carrie, se um de seus filhos ficassem resfriados, Tabitha brincaria, "Qual é, Steve, pense nisso como um de seus monstros." Stephen também desenvolveu um problema com bebidas, que levou mais de uma década para ser resolvido.

Ficando famoso: Stephen logo começou vários romances. Uma de suas primeiras idéias era uma moça jovem com poderes psíquicos, mas ele descartou a idéia. Sua esposa resgatou os esboços do lixo e o encorajou a voltar a escrever sobre isso. Após terminar o romance, ele o intitulou "Carrie" e mandou para o Doubleday. Ele recebeu $2,500 dólares adiantados (não muito para um romance, mesmo naquela época) mas os direitos autorais fizeram com que ele recebesse $400,000 posteriormente. Pouco antes do livro ser publicado, sua mãe morreu de Câncer no Útero. Sua tia Emrine leu o romance para ela antes de sua morte.

King admitiu que nessa época ele estava constantemente bêbado e que foi alcoolotra por mais de uma década. Ele também constatou que baseou o personagem Jack, do livro O Iluminado, nele mesmo. Sua família e amigos interviram, jogando fora, na sua frente, todos os seus vícios. Stephen cortou o alcool e qualquer tipo de droga por volta de 1980 e se mantêm sóbrio desde então.


Obras
1963 "The Aftermath" (romance não publicado)
1970 "Sword in the Darkness" (romance não publicado)
1973 "Blaze" (romance não publicado)
1974 "Carrie" filme; "Carrie a estranha", 1976
1975 "Salem's Lot" - A Hora do Vampiro - filme; A Mansão Marsten
1977 "Rage" - Fúria (sob o pseudônimo Richard Bachman)
"The Shining" - O Iluminado
1978 "Night Shift" - "O Túnel do Horror" (conto do livro Sombras da Noite)
"The Stand" - "A Dança da Morte"
1979 "The Dead Zone" - "A Zona Morta", "A Hora da Zona Morta"
The Long Walk - A Longa Marcha (sob o pseudônimo de Richard Bachman)
1980 "Firestarter" - "A Incendiária" filme; "Vingança em Chamas"
1981 "Cujo" - "Cão Raivoso"
"Danse Macabre" - "Dança Macabra"
"Roadwork" - "A Auto-Estrada" (sob o pseudônimo de Richard Bachman)
1982 "Creepshow" - "Show de horrores" (banda desenhada, ilustrada por "Bernie Wrightson")
"The Dark Tower I: The Gunslinger" - "A Torre Negra Vol. I - O Pistoleiro" (originalmente publicado na revista The Magazine of Fantasy and Science Fiction, dividido em cinco partes: "The Gunslinger", "The Way Station", "The Oracle and the Mountains", "The Slow Mutants" e "The Gunslinger and the Dark Man")
"Different Seasons" - "As Quatro Estações" (contos que deram origem aos filmes; "Conta Comigo", "O Aprendiz", e "Um Sonho de Liberdade").
"The Running Man" - "O Sobrevivente" (sob o pseudônimo Richard Bachman)
1983 "Christine" - "Christine"; filme: "Christine, o Carro Assassino"
"Pet Sematary" - "O Cemitério"; filme: "Cemitério Maldito"
"Cycle of the Werewolf" - "A Hora do Lobisomem" (ilustrado por Bernie Wrightson), filme; "Bala de prata"
1984 "The Talisman" - "O Talismã" (escrito em parceria com Peter Straub)
"Thinner" - "Maldição do Cigano" (sob o pseudônimo de Richard Bachman), filme; "A Maldição do Cigano"
1985 "Skeleton Crew" - "Tripulação de esqueletos"
"The Bachman Books" - "Os Livros de Bachman" (livro que reune os contos: "A Longa Marcha", "Fúria", "A Auto-Estrada", "O Sobrevivente")
1986 "It" - "A Coisa"
1987 "The Eyes of the Dragon" - "Os Olhos do Dragão"
"Misery" - "Angústia", filme; "Louca Obsessão"
"The Dark Tower II: The Drawing of the Three" - "A Torre Negra Vol. II - A Escolha dos Três"
1988 "The Tommyknockers" - "Os Estranhos"
1989 "The Dark Half" - "A Metade Negra"
"Dolan's Cadillac" (edição limitada)
"My Pretty Pony" (edição limitada)
1990 "The Stand: The Complete & Uncut Edition"
"Four Past Midnight" - "Depois da Meia Noite"
1991 "Needful Things" - "Trocas Macabras"
"The Dark Tower III: The Waste Lands" - "A Torre Negra Vol. III - As Terras Devastadas"
1992 "Gerald's Game" - "Jogo Perigoso"
1992 "The Lawnmower Man" - "O Passageiro do Futuro"
1993 "Dolores Claiborne" - "Eclipse Total"
"Nightmares & Dreamscapes" - "Pesadelos e Paisagens Noturnas" (livro(s) de contos)
1994 "Insomnia" - "Insônia"
1995 "Rose Madder" - "Rose Madder"
"Umney's Last Case"
1996 "The Green Mile" - "À Espera de um Milagre (publicado originalmente numa série mensal, com o nome de "O Corredor da Morte", dividida em seis partes: "The Two Dead Girls", "The Mouse on the Mile", "Coffey's Hands", "The Bad Death of Eduard Delacroix", "Night Journey", e "Coffey on the Mile")
"Desperation" - "Desespero" filme: "Desespero"
"The Regulators" - "Os Justiceiros" (sob o pseudônimo de Richard Bachman)
1997 "Six Stories" (contos) (não publicado)
"The Dark Tower IV: Wizard and Glass" - "A Torre Negra Vol. IV - Mago e Vidro"
1998 "Bag of Bones" - "Saco de Ossos"
1999 "Storm of the Century" - "Tempestade do Século"
"The Girl Who Loved Tom Gordon"
"The New Lieutenant's Rap" (edição limitada)
"Hearts in Atlantis"
"Blood and Smoke" (audio-livro)
2000 "Riding the Bullet" - "Montado Na Bala" (lançado originalmente como e-book), conto do livro "Tudo é Eventual"
"The Plant" - "A Planta" (lançado como e-book)
"Secret Windows" - "A Janela Secreta"
"On Writing: A Memoir of the Craft" (autobiografia)
"Dreamcatcher" - "O Apanhador de Sonhos"
2001 "Black House" - "A Casa Negra" (seqüência de "O Talismã"; escrita em parceria com Peter Straub)
2002 "From a Buick 8" - "Buick 8"
"Everything's Eventual: 14 Dark Tales" - "Tudo é Eventual"
2003 "The Dark Tower I: The Gunslinger" - "A Torre Negra Vol. I - O Pistoleiro" (versão revista e expandida)
"The Dark Tower V: Wolves of the Calla" - "A Torre Negra Vol. V - Lobos de Calla"
2004 "The Dark Tower VI: Song of Susannah" - "A Torre Negra Vol. VI - Canção de Susannah"
"The Dark Tower VII: The Dark Tower" - "A Torre Negra Vol. VII - A Torre Negra"
"Faithful: Two Diehard Boston Red Sox Fans Chronicle the Historic 2004 Season"
2005 "The Colorado Kid"
2006 "Celular (Cell)"
"The Secretary of Dreams" (edição limitada em dois volumes)
"Lisey's Story"
2008 "Duma Key" (Previsto para Janeiro de 2008)

:: Fonte da biografia: Wikipedia


Livro: Carrie
Autor: Stephen King
344 páginas
Ano: 1985
Editora: Abril Cultural

.: Entrevista com Fábio Lamachia, escritor

Vida nova com o pé na estrada

Da Redação do Resenhando

Em outubro de 2007


Conheça Fábio Lamachia, um jovem insatisfeito com a agitação da cidade grande que aprendeu a viver e achou um sentido para a vida ao lado de um cão labrador.



Em setembro de 2003, Fábio Lamachia ainda não havia completado 29 anos quando, frustrado com uma desilusão amorosa e o sucesso relativo de seu primeiro livro, Sonho Verde – sobre a experiência de quatro meses em uma mina de esmeraldas – decidiu deixar um emprego promissor na área de marketing e cair na estrada sem rumo.

Fábio era um jovem escritor paulistano de um livro só, o coração dilacerado por um amor frustrado e inconformado com a rotina alucinante da cidade grande quando decidiu largar tudo – inclusive uma carreira promissora – para cair na estrada em busca de aventuras e de um sentido para a vida. Encontrou um cachorro labrador preto, um filhote amarelo sensato e calmo e uma sueca aventureira, que acabou dando a ele uma filha no meio de aventuras engraçadíssimas, enquanto cruzavam, de jipe, as mais improváveis e surpreendentes paisagens do território brasileiro, do litoral ao sertão.

É a história de como uma pessoa descobre o Brasil e a si mesmo, em um exemplo de superação. Meu Chapa (Geração Editorial-Ediouro, 224 págs., mais caderno fotográfico colorido, R$ 29,90) não é apenas outro livro sobre cachorros e como os seres humanos se relacionam com eles. Mais do que isso, é a história de como uma pessoa em conflito resolve seus dramas interiores e encontra a felicidade enquanto vive aventuras engraçadas e envolventes.

Fábio Lamachia, rejeitado pela ex-namorada, insatisfeito e inconformado com a vida, e no limiar dos 30 anos, resolve romper com tudo e começar de novo. De espírito aventureiro – já passara quatro meses trabalhando numa mina de esmeraldas, aventura que narrou em seu primeiro livro, Sonho Verde – ele pega a estrada outra vez, agora definitivamente. Quer ser um andarilho, nada mais, e dedicar-se a seu projeto de vida: escrever sobre o que viveu.

A solidão o leva a buscar uma companhia – um cão, que ele comprou com o dinheiro da venda de sua prancha de surfe. Um cão cheio de defeitos, que vai ensiná-lo a viver. É na companhia desse bicho desengonçado e trapalhão que Fábio começa sua aventura rumo à felicidade e ao autoconhecimento. Chapa é pouco disciplinado, rebelde, travesso, e sempre apronta confusões, mas é com esse cachorro travesso – e com o companheiro sereno que surge no meio da história, o labrador amarelo Farofa – que Fábio descobre o que significa dedicar-se a um ser vivo integralmente. O jovem insatisfeito que fugiu da cidade grande em busca de um caminho acaba encontrando vários.

É Chapa – o companheiro constante – que vai jogá-lo nos braços de Jenny, uma arquiteta sueca que também abandona tudo para seguir o namorado de quem está grávida. Ancorado atualmente em Trancoso, do lado de Porto Seguro, na Bahia, com seus cães já adultos, a mulher e a filha Lorena, Fábio explora o turismo e começa a dedicar-se a seu projeto de vida.


RESENHANDO - Tanto em Sonho Verde quanto em Meu Chapa, você busca realizações. No primeiro, a busca é debaixo da terra, no interior de uma mina de esmeraldas. No outro, ao ar livre, com seu cão, estrada afora. Quais as diferenças e semelhanças entre os dois livros? 
FL – Nas duas aventuras, saí em busca de algo diferente da rotina estressante de uma cidade grande como São Paulo. Quando fui para a Bahia garimpar esmeraldas, além de viver no alto de uma montanha maravilhosa, almejava ganhar dinheiro de um jeito mágico para poder começar uma vida investindo os rendimentos em uma pousada ou algo parecido, o que não ocorreu. Quando eu estava lá, descendo em cabos de aço num poço de 75 metros, convivendo com um povo ímpar, percebi que o que mais valia era a história que vivenciava, e comecei a relatá-la em um caderninho, dia a dia. No livro Meu Chapa parti também com destino à Bahia. Queria promover mais o meu livro Sonho Verde e tive a idéia e iniciativa de distribuí-lo nos pontos turísticos da Chapada Diamantina, local em que pretendia morar. Para tanto, ter uma companhia era a questão. Depois de pouco tempo que peguei o Chapa, ele já me deixava descabelado com suas estripulias. Aquele cão de temperamento bombástico me dava motivos para escrever algumas coisas todos os dias! 


RESENHANDO - O processo de criação e redação dos dois livros foi igual? 
FL – Sim, nos dois livros anotava palavras-chave depois do ocorrido e desenvolvia posteriormente os textos.


RESENHANDO - Você escrevia sempre logo depois dos fatos? Tudo neles aconteceu, ou há um pouco de ficção?
FL – Tudo ocorreu mesmo, apenas alterei a ordem cronológica em algumas passagens, isso nos dois livros. No livro sobre o garimpo, usei nomes fictícios para vários personagens, depois que muitos garimpeiros me pediram anonimato. Já no Meu Chapa, os nomes das personagens permaneceram reais. 


RESENHANDO - Qual deles deu mais trabalho? E mais alegria? Por quê?
FL – Tive muito mais trabalho no primeiro livro. Escrevi totalmente solitário e demorei muito mais tempo. Tive de ler, reler e reescrever milhões de vezes. No Meu Chapa, meu terceiro livro, a escrita já corria mais solta e Jenny me ajudou muito ao opinar sobre o que pôr ou não no texto. Tive muito mais alegria em fazer o Meu Chapa com a Jenny grávida ao meu lado, e posteriormente com a Lorena, me olhando docemente da cadeirinha. Cada parágrafo foi feito com muito carinho.


RESENHANDO - Em Meu Chapa, a busca do sonho e do autoconhecimento se realizou plenamente. Além do Chapa, você encontrou Jenny, com quem se casou e tem uma filha, Lorena, que ganhou o capítulo mais bonito do livro, sobre o amor e a paternidade. Agora, feliz, você tem planos de viajar com a família em busca de novas aventuras para escrever outros livros? 
FL – Esse é mais um projeto, lógico, incluindo a Lorena e os cães. Queremos agora desbravar toda a América de carro, e começaremos pelo extremo sul. A vida é uma só, temos que andar por aí, para conhecermos o mundo em que vivemos!


RESENHANDO - Como é o seu dia-a-dia na tranqüila Trancoso? 
FL - Trancoso é um pequeno paraíso, me proporciona enormes alegrias, como acordar ainda no escuro e rumar para a praia com os cachorros. Surfo, corro, e volto para casa de cabeça aberta para escrever e brincar com a minha filha. 


RESENHANDO - Quer viver aí para sempre? São Paulo nunca mais? 
FL – Gosto muito daqui, mas como sempre na minha vida de andarilho, não considero o lugar definitivo. 


RESENHANDO - O que você está escrevendo atualmente? 
FL – Estou sempre botando idéias no papel, agora se elas virarão outros livros isso ainda nem eu sei. Ao mesmo tempo, incentivo a Jenny a finalizar seu primeiro livro. Ela tem, assim como eu, idéias muito inovadoras a respeito de criar filhos sem frescuras, soltos em meio à natureza e aos animais.


RESENHANDO - Com apenas dois livros publicados (além de Sonho Verde, tem o Pedras Preciosas do Brasil, edição bilíngue), você já vivia de direitos autorais, algo raro no Brasil. Agora a situação deve melhorar mais ainda com a publicação de Meu Chapa. Como conseguiu isso?
FL – Por se tratar de livros de aventura e pedras preciosas, imaginei que o interesse pelos livros seria maior em locais relacionados diretamente com os assuntos. Distribuí então os exemplares em pontos que não são livrarias, normalmente locais de espera "forçada" em atrações turísticas pelo Brasil. Por incrível que pareça o local que mais vende Sonho Verde é no simplório boteco do Seu Gilmário, no Poço Encantado, atração imperdível da Chapada Diamantina. Os livros também têm razoável saída nas lojas especializadas em pedras preciosas em diversos estados brasileiros, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. Mas é muito difícil hoje em dia viver apenas de livros, por isso faço passeios turísticos de jipe pelas belas paisagens do sul da Bahia, e quando surge o interesse vendo algumas esmeraldas remanescentes da minha época de garimpo. Daí vem um extra. 


RESENHANDO - Em algumas passagens do Meu Chapa, vocês adotaram cachorros de rua. Isso continua? 
FL – Claro que sim. Esse "instinto" de protetor dos animais, que aprendi com a Jenny e sua família, hoje se enraizou em mim. Normalmente os cães que recolhemos das ruas vão para o sítio Vagalume, descrito no capítulo 26 do livro. Porém pegamos há alguns meses em Trancoso o Zé, um pointer que estava abandonado e doente em frente a uma padaria. Tratamos dele com tanto carinho, e ele nos cativou de tal forma com seu jeitão desengonçado, que hoje o Zé tem o seu cantinho na nossa casa e também um assento no jipe, virou mais um integrante da família.

domingo, 30 de setembro de 2007

.: Resenha de "O Dia do Curinga", de Jostein Gaarder

Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em setembro de 2007


Viagem no tempo revela um universo maravilhoso. Viagens ao passado e personagens conhecidas dão agilidade ao texto de "O Dia do Curinga", deixando toda a história de Jostein Gaarder ainda mais intrigante e irresistível.


Um livro com capítulos nomeados de Espadas, Paus, Curinga, Ouros e Copas, sendo que cada um dos citados contém subcapítulos de títulos bastante curiosos como por exemplo o primeiro e o último: "Ás de espadas ... um soldado alemão passou pedalando pela estrada..." e "Rei de copas ...as lembranças se afastando mais e mais daquilo que um dia as criou...". É desta forma que o leitor irá perceber em suas mãos o livro "O Dia do Curinga", de Jostein Gaarder.

É certo que aqueles que já leram algo de Jostein Gaarder não terão algum estranhamento quanto a esta forma criativa do autor de "anunciar" o que há melhor nos próprios livros. Já em O Mundo de Sofia, também publicado pela Companhia das Letras, o autor mostra este seu dom ao trazer para o público uma garota às vésperas de seu aniversário de quinze anos. Sofia Amundsen começa a receber bilhetes e cartões postais bastante estranhos. Os bilhetes são anônimos e perguntam a Sofia quem é ela e de onde vem o mundo em que vivemos. Os postais foram mandados do Líbano, por um major desconhecido, para uma tal de Hilde Knag, jovem que Sofia igualmente desconhecia. Em meio a tanto mistério e "lições" o leitor trilha a história da filosofia ocidental.

Ok. O livro em questão é "O Dia do Curinga" que tem como protagonista o jovem Hans-Thomas. Entretanto, nesta história, ele também mergulha no túnel do tempo e viaja no passado e não deixa sua vida naufragar. Tudo começa quando o garoto e seu pai, seguem à procura da mulher que os deixou oito anos antes, e assim, cruzam a Europa, da Noruega à Grécia.


"Há seis anos, em frente às ruínas do antigo temo de Posêidon, no cabo Súnio, eu olhava para o mar Egeu. Há cento e cinqüenta anos o padeiro Hans chegava á misteriosa ilha no Atlântico. E há duzentos anos o navio da Frode naufragava na viagem entre o México e a Espanha.

Tenho de voltar tantos anos no tempo para entender por que mamãe nos deixou e fugiu para Atenas...

Gostaria muito de pensar em outra coisa. Mas sei que preciso tentar escrever tudo enquanto restar em mim um pouco da criança que fui.

Sentado à janela da sala de Hisoy, observo as folhas caindo das árvores. Elas planam no ar e pousam na rua formando um acolchoado macio. Uma garotinha brinca lá fora, amassando com os pés as folhas e as castanhas que caem das árvoes por entre as cercas dos jardins.

Nada parece ter sentido.

Quando penso nas cartas da paciência de Frode, tenho a impressão de que o equilíbrio da natureza desapareceu por completo".


Reflexões sobre a própria história, como por exemplo, ao analisar a história de vida dos avós de Hans-Thomas que seu pai contava quando pararam em um posto de estrada, perto de Hamburgo. Chegar a entender quem ele é, passa a ser interessante, pois caso seus avós não tivessem encontrado-se por causa de um pneu furado e anos depois, seus pais não tivessem permitido que Hans-Thomas nascesse ele não seria ele, e sim, uma outra pessoa.

É no meio desta viagem em família (e na história desta família), que surge um livro misterioso que desencadeia uma narrativa paralela, em que mitos gregos, maldições de família, náufragos e cartas de baralho que ganham vida transformam a viagem de Hans-Thomas numa autêntica iniciação à busca do conhecimento - ou à filosofia. Também pudera o pai do garoto adorava filosofar e se interessava por robôs, pois para ele um dia a ciência conseguiria produzir seres artificiais e pensantes.


"Achei um tanto estranho que a padaria estivesse aberta à tarde. Antes de tomar qualquer decisão, olhei para a estalagem Zum Schönem Waldemar, só para ver se por acaso meu já não tinha saído, satisfeito com a degustação da aguardentes dos Alpes. Como não o vi, abri a porta da padaria e entrei. [...]

O velho padeiro entrou num outro cômodo que havia nos fundos da padaria. Pouco depois, voltou com quatro pãezinhos, que colocou num saco de papel. Entregou-me o embrulho e disse, num tom sério e solene:

- Você precisa prometer uma coisa. Uma coisa muito importante, meu filho. Prometa-se que deixar o pãozinho maior por último e que só vai comê-lo quando estiver sozinho. E não conte nada a ninguém, entendeu?".


O que dizer desta passagem do livro? Pura magia literária. Já no primeiro subcapítulo quando pai e filho estão em Legoland, local em que há enormes bonecos feitos de peças de Lego o pai comenta: "- Imagine se de repente tudo isso ganhasse vida, Hans-thomas - disse ele. - Imagine se, de uma hora para outra, todos esses bonecos saíssem andando no meio dessas casinhas de plástico. O que nós faríamos?", e ainda conclui seu pensamento dizendo: "No fundo somos todos figuras de Lego, só que vivas".

"O Dia do Curinga" é a história de muitas viagens fantásticas que se entrelaçam numa viagem única e ainda mais fantástica - e que só pode ser feita por um grande aventureiro: o leitor. Seja um curinga, diferente, "pois ele veio ao mundo com defeito de ver coisas demais e de ver todas elas em profundidade".

Agora não lhe restam dúvidas se deve ou não ler O Dia do Curinga, não é? Espero que não, pois este é um dos pouquíssimos livros que garantem com tranqüilidade 100% no quesito qualidade de texto aliada à uma excelente criatividade. Faça como Hans-Thomas, entre na sua casa, pegue o seu volume e comece a ler, pois é certa a "sensação de estar entrando num outro mundo". Alguma dúvida? A única que ainda resta é em saber porque nenhum dos fantásticos livros de Jostein Gaarder foram transpostos para a telona, nem mesmo O Mundo de Sofia!

O Autor: Jostein Gaarder nasceu em 1952, na Noruega. Estudou filosofia, teologia e literatura, e foi professor no ensino médio durante dez anos. Estreou como escritor em 1986, tornando-se logo um dos autores de maior destaque em seu país, e a partir de 1991 ganhou projeção internacional com O Mundo de Sofia, já traduzido para 42 línguas. Pela Companhia das Letras publicou ainda Através do Espelho, A Biblioteca Mágica de Bibbi Bokken, O Castelo do Príncipe Sapo, Ei! Tem Alguém aí?, A Garota das Laranjas, Maya, Mistério de Natal, O Pássaro Raro, O Vendedor de Histórias e Vita Brevis. Mora em Oslo, com a mulher e dois filhos.


Livro: O Dia do Curinga

Autor: Jostein Gaarder

140 páginas

Ano: 2007

Editora: Companhia das Letras 

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

.: Resenha de "O Grande Líder", de Fernando Jorge

Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em setembro de 2007


O retorno do cenário surreal da política brasileira: A corrupção política brasileira de 1910 a 1964 envolta de uma sátira mordaz


Ao ter em mãos o livro relançado que ficou marcado como a sátira da corrupção brasileira que causou barulho nos anos 1970, isto é, "O Grande Líder - Romance satírico, bárbaro, picaresco, baseado em fatos reais, nas cenas surrealistas da vida social, cultural e política de um país latino-americano chamado Brasil", de Fernando Jorge, tem-se a sensação de emprenhar-se em um caminho polêmico, porém muito curioso e interessante, seja para alguns relembrarem ou para outros conhecerem a história nua e crua do Brasil desta época, que sempre está em seu percurso repetitivo.

O livro traz uma sátira mordaz da história política brasileira de 1910 até o golpe de 1964. Na época do seu lançamento, 1970, o biógrafo Fernando Jorge espantou a muitos. Como o fez? Simples. Trouxe para o universo de todos a história de um certo Piranha Albuquerque, político corrupto e safado, porém muito amado pelo povo. Entretanto, tal livro ainda causa furor, pois apesar de ter passado tantos anos os políticos continuam com o mesmo comportamento.

Nesta obra o autor mostra a saga de Piranha da Fonseca Albuquerque, grande nome da corrupção imperante no Brasil de 1910 até o golpe de 64. Para dar veracidade Fernando Jorge baseou-se em fatos reais – e em pessoas reais, dispensando pseudônimos, uma ousadia que gerou alguns processos. O Grande Líder é tão impecável que não deixa ninguém de fora, até mesmo nomes intocáveis da literatura brasileira, como Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto e Guimarães Rosa.

Em entrevista publicada no site da Editora Geração Editorial (geracaobooks.locaweb.com.br/releases/?entrevista=123), o autor diz:


Geração Editorial - Como surgiu "O Grande Líder"?

Fernando Jorge: A idéia para o livro surgiu quando eu estava trabalhando como chefe da divisão técnica da biblioteca da Assembléia Legislativa de São Paulo (minha formação é em Biblioteconomia).

Ficava chocado ao ver as safadezas do Legislativo e resolvi escrever um romance satírico para mostrar minha revolta contra os políticos corruptos. A figura do Piranha da Fonseca Albuquerque foi inspirada em diversos políticos da época e em suas safadezas — políticos como Moisés Lupion, então governador do Paraná e o político corrupto mais famoso; Ademar de Barros, popularmente conhecido como “Ademar de Barros, de Berros e de Burros”, que foi o primeiro a receber o epíteto de “o que rouba, mas faz” e que foi minha maior fonte de inspiração; Jânio Quadros — de quem peguei o histrionismo (e ele nunca percebeu, tanto que chegou a me pedir que eu fosse seu biógrafo, dizendo “Fernando Jorge, se for o meu biógrafo, meus ossos descansarão em paz”); e em muitos outros protagonistas de patifarias. Além do que eu via no meu dia-a-dia na assembléia, colhi histórias de pilantragens observadas por amigos jornalistas meus. Muitos dos episódios narrados no livro, que podem parecer anedotários, são verdadeiros.


GE - Piranha Albuquerque da Fonseca ainda tem voz e vez hoje?

FJ: Meu livro permanece atualíssimo. Cheguei a essa conclusão por causa de todos os escândalos envolvendo políticos corruptos que estão aparecendo por aí. Basta citar o exemplo do governador de Roraima, preso recentemente. É a mesma coisa, ele e Piranha. O outro nome do Brasil foi e continua sendo Corruptolândia. É o que o Jânio Quadros observou sobre meu livro — que, apesar de ser satírico, ele merece reflexão por ser um grito de revolta contra a desonestidade.

Seu livro teve um sucesso estrondoso quando foi lançado, superando Jorge Amado e Lygia Fagundes Telles nas listas de mais vendidos. Por que não escreveu mais nenhum romance?

Porque me dediquei mais às biografias. Tenho paixão por elas. A de Getúlio Vargas, a de Aleijadinho, a de Santos Dumont, todas me exigiram muitos anos de pesquisa. Mas gostaria de escrever outro romance sim, ele se chamaria “O País dos Generais Linha Dura” e seria sobre a corrupção no Brasil durante a ditadura. Mas, enfim, já sou um pré-cadáver (risos).


GE - Por que Paulo Setúbal?

FJ: A vida dele é muito interessante — viveu pouco, 44 anos. Foi uma figura pitoresca, extraordinária, e vindo de uma família pobre, tornou-se o autor mais popular de seu tempo, ao lado de Monteiro Lobato. Foi um dos principais participantes da Revolução de 32, apesar de já estar tuberculoso na época. Era um grande orador, e foi deputado por dois anos. Era muito lido, muito popular, muito excêntrico. Era excelente escritor, conhecia muito a língua portuguesa, ao contrário de nosso mais popular Paulo atualmente, o Paulo Coelho. Há um grande contraste entre Paulo Setúbal e Paulo Coelho (risos). Paulo Coelho é um literaticida, um assassino da língua portuguesa. E um plagiário, reescreve lendas orientais e as publica como se fossem criações dele.


GE - Por que o sucesso dele, a seu ver?

FJ: A literatura de Paulo Coelho tem comunicação imediata com o leitor primário, desprovido de muita cultura literária, e que constitui a maioria de leitores do mundo todo. Ele tem sorte, no entanto, de os tradutores consertarem muito do estilo claudicante e dos erros gramaticais gravíssimos que ele comete, o que explica em parte por que a crítica internacional gosta tanto dele. Já publiquei um livro explicando por que Paulo Francis era um farsante; pois bem, estou com essa vontade de escrever sobre Paulo Coelho, que além de farsante é vigarista, porque se proclama capaz de fazer chover e ventar (o governo deveria contratá-lo para tentar minimizar o problema de nossas represas, não?). Parafraseando Lênin, para mim Paulo Coelho vai acabar na lata de lixo da literatura.


Fernando Jorge: escritor e jornalista. Entre suas obras de não-ficção mais conhecidas estão “Cale a Boca, Jornalista”, “Getúlio Vargas e o seu Tempo”, “Vida e Poesia de Olavo Bilac”, “As Lutas, a Glória e o Martírio de Santos-Dumont”. Dele, a Geração Editorial também publicou “Vida e Obra do Plagiário Paulo Francis” – “O Mergulho da Ignorância no Poço da Estupidez” (1996) e “A Academia do Fardão e da Confusão” (1999). “O Grande Líder” é seu primeiro e até então único romance.


Livro: O Grande Líder - Romance satírico, bárbaro, picaresco, baseado em fatos reais, nas cenas surrealistas da vida social, cultural e política de um país latino-americano chamado Brasil

Autor: Fernando Jorge

336 páginas

Ano: 2003

Editora: Geração Editorial


segunda-feira, 17 de setembro de 2007

.: Resenha de "Mumu, a Vaquinha Jururu", de Jeanne Willis e Tony Ross

Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em setembro de 2007


A verdadeira amizade vale mais do que um caro presente: Sabia que viver jururu pode ser contagiante para seus amiguinhos? Descubra em Mumu, a Vaquinha Jururu, de Jeanne Willis e Tony Ross.


Mumu é uma vaquinha bem velha que vivia jururu, apesar de ter como amigo, Bé, um carneirinho que consegue ver a beleza em tudo na vida. A protagonista de Mumu, a Vaquinha Jururu, de Jeanne Willis e Tony Ross, publicado pela Companhia das Letrinhas, é tão descontente que nem mesmo uma boa conversa era capaz de dar um pingo de felicidade na vida dela.

Os dias pareciam sempre belos somente para os outros, nunca para a vaquinha jururu. Nem mesmo em seu aniversário a situação mudou. "Por que está com esta cara, Mumu?, perguntou Bé. / É que é meu aniversário. Fiquei um ano mais velha, mugiu Mumu. / É daí? Aniversário é para festejar! Dê uma festa, você via ficar feliz!". A festa? Foi ótima, mas ainda sim, noutro dia, Mumu já estava jururu novamente.

Resultado: Ficar jururu é algo contagiante. De tanto conviver com Mumu, Bé vai para casa em prantos, pois nada que fazia alegrava a amiga. "Foi só depois de conhecer Mumu que ele percebeu como o mundo era horroroso, malfeito, desagradável. Não era à toa que Mumu vivia jururu".

O que fazer quando Bé e Mumu estão completamente jururu? Os autores de Mumu, a Vaquinha Jururu tem a solução para este "super problema" quando Bé diz: "Não posso me sentir feliz vendo você infeliz". Afinal de contas Bé sempre fazia de tudo para animar Mumu, embora esta vaquinha nunca tenha dado valor a estas tentativas, nem mesmo um sorriso. É neste momento que Mumu entra em ação e resolve tudo, para a alegria e continuidade desta amizade.

Sobre os autores: Jeanne Willis escreveu seu primeiro livro aos cinco anos, e não parou mais. Hoje escreve histórias para crianças e também para leitores mais velhos. Além disso, escreve roteiros para televisão e produtoras de vídeo. Foi finalista do Whitbread Awart em 2004. Tony Ross nasceu em Londres no ano de 1938. Estudou na Liverpool School of Art. Já foi cartunista, designer gráfico e diretor de arte de uma agência de publicade. Considerado um dos melhores ilustradores de livros infantis da Inglaterra, suas obras ganharam vários prêmios e foram publicadas em inúmeros países.


Livro: Mumu, a Vaquinha Jururu

Autores: Jeanne Willis e Tony Ross

32 páginas

Ano: 2007

Tradução: Eduardo Brandão

Editora: Companhia das Letrinhas

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

.: Resenha de "Os Treze Problemas", de Agatha Christie

Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em setembro de 2007


Contos bem amarrados e surpreendentes. Mistérios que parecem impossíveis de solucionar. Não tema! Agatha Christie é chave mestra para resolver todos os treze problemas.


Sabe quando você está com uma grande vontade de ler um super livro, mas pretende ficar entre os livros que tem em casa? Eu estava deste jeito quando decidi mexer nas minhas pilhas e pilhas de livros e encontrei um volume bem velhinho, praticamente aos pedaços (ainda bem que existe cola e durex) que fora comprado em um sebo da cidade há quatro anos pelo menos. Qual livro era este? Por sorte "Os Treze Problemas", de Agatha Christie.

Nossa como o tempo passa, não é mesmo?!?! Ele ficou esse tempo de um lado para outro. Sempre queria lê-lo, mas nunca conseguia chegar até ele, sempre tinha que estudar, fazer trabalhos, ler livros indicados e escrever para o Resenhando críticas de outros livros.

Eis que o momento aguardado chegou e claro a memória fez seu papel em destacar este livro. Tenho guardados outros livros de Agatha que comprei em sebos, troquei em bibliotecas ou ganhei de várias pessoas que sabem da minha paixão pela leitura. Fico com eles não sei se por pena de seu estado ou temendo o pior como seu destino. "Estes livros vão para a reciclagem/lixo limpo. Quer algum deles?". Quantas vezes escutei isso, óbvio, levava todos para casa, muitos consegui dar um jeito e rejuvenesceram.

Hoje tenho alguns destes livros velhinhos, alguns em casa e outros na minha avó que ficam bem guardadinhos no grande baú de meus bisavós, que veio diretamente de Arouca, Portugal. Ah, se este baú falasse (e lesse) teria muita história para contar!

Bom, vamos encarar de frente Os Treze Problemas que a melhor escritora policial nos entrega de bandeja: O Clube das Terças-Feiras, A Casa do Ídolo de Astartéia, As Barras de Ouro, A Calçada Tinta de Sangue, O Móvel do Crime, A Marca do Polegar de São Pedro, O Gerênio Azul, A Dama de Companhia, Os Quatro Suspeitos, Tragédia de Natal, A Erva da Morte, O Caso do Bangalô e Morte por Afogamento.

Neste volume, personagens distintas, mostram a sua forma de ver, viver a vida e seus acontecimentos. Entre estes há Miss Marple, mulher de idade madura que conhecer um pouco de tudo. Ela que junto aos seus amigos faz parte do Clube das Terças-Feiras. "Nós no reuniremos uma vez por semana, e cada sócio do clube terá de propor um problema. Algum mistério que conheça por experiência própria e do qual, naturalmente, saiba a solução".

O bom deste livro é a variedade de casos analisados e resolvidos, desde brigas por herança, casais que agem juntos para roubar, esposas envenenadas, empregados que não merecem a devida confiança, entre outros problemas apresentados. Será que Miss Marple irá acompanhar o pensamento e não perderá a meada das histórias contadas pelos integrantes do grupo que conta mistérios? Até porque ela não larga o seu tricô.

 

"Pairava no ar algo que só consigo descrever

como uma sensação sobrenatural.

Parecia que alguma coisa nos oprimia.

Uma sensação de desgraça iminente".


Agatha Christie: Escritora inglesa (1891-1976) de populares novelas e peças de teatro do gênero policial. Têm como personagens mais célebres o detetive belga Hercule Poirot e a senhora Jane Marple, provinciana de idade madura. Sua peça A Ratoeira, lançada em Londres em 1952, ainda estava sendo representada em 1976, o que constitui a maior exibição teatral contínua do mundo. Seus romances policiais põem em ação detetives antiquados e saborosos, assim como a sociedade na qual se envolvem. Em sua obra muito extensa, destacam-se: O Assassinato de Roger Ackroyd (1928), O Caso dos Dez Negrinhos (1943), A Morte no Espelho (1952) e Testemunha de Acusação (1958).


Livro: Tudo Que Você Não Soube

Autora: Fernanda Young

134 páginas

Ano: 2007

Editora: Ediouro

sábado, 1 de setembro de 2007

.: Resenha de "Quando Termina é Porque Acabou", de Greg Behrendt e Amiira Ruotola-Behrendt

Por: Helder Moraes Miranda

Em setembro de 2007


Quando termina é porque... começou!: Milk Shake ao invés de bebidas e cigarros. Colaborador de Sex And The City divulga os sete mandamentos para não perder a dignidade no término de um relacionamento em livro lançado pela Rocco


Acabou de levar um fora ou não consegue esquecer aquele cara que há tempos saiu de uma relação... Com você? Agora, pesquisa na Internet soluções para os seus problemas, mas sabe que o próximo passo é dar um telefonema, e se humilhar novamente? Calma, há uma luz no fim do túnel antes que você faça qualquer bobagem e coloque a perder tudo o que resta de sua dignidade: corra para a livraria mais próxima.

Tudo porque a editora Rocco lançou, recentemente, o livro "Quando Termina é Porque Acabou – Juntando os Caquinhos e Dando a Volta por Cima", de Greg Behrendt e Amiira Ruotola-Behrendt. Behrendt, um dos colaboradores de Sex And The City – que também lançou pela Rocco o bem-sucedido Ele Simplesmente Não Está a Fim de Você, em que divide a autoria com Liz Tuccillo.

Nesse livro, o autor volta falar de finais de relacionamentos e amores não-correspondidos de forma bem-humorada. Na prática, por meio de discas práticas e descoladas e exemplos reais, a publicação irá encorajar você a expulsar o ex de sua cabeça e memória e redescobrir a pessoa incrível que você sempre foi, mas esqueceu. Com um projeto gráfico de qualidade e belas ilustrações, que seguem a linha bem-humorada do livro, há diversas perguntas formuladas por mulheres (ou personagens femininos) que passam pela mesma situação – isto é, você não é a única – há ainda um caderno de exercícios e de coisas que você deve fazer antes de procurá-lo.

Na primeira parte, "Quando termina é Porque Acabou" gira em torno do fim da relação. Quando não existem novas mensagens e você se torna inconveniente com seus amigos a ponto de falar apenas sobre ele e relembrar momentos que, se fossem tão bons, o relacionamento não teria acabado. A segunda parte trata da superação em grande estilo, com os sete mandamentos para passar essa fase chata sem abalar (um pouco mais) sua auto-estima e um capítulo extra. No fim, você vai descobrir que, realmente, quando termina é porque acabou mas, a vida continua com muitas possibilidades de você ser feliz.


Livro: Quando Termina é Porque Acabou – Juntando os Caquinhos e Dando a Volta por Cima

Título Original: It`s Called a Breakup Because it`s Broken

Autores: Greg Behrendt e Amiira Ruotola-Behrendt

253 páginas

Ano: 2007

Tradução: Alyda Christina Sauer

Editora: Rocco

.: Entrevista com Falcão, cantor e humorista

"Quem acha que a família é algo morto e sem função é porque não teve família." - Falcão

Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em setembro de 2007




Ele foge dos padrões impostos pela mídia e diz que ser diferente é o segredo da longevidade de sua carreira. Descubra o outro lado de Falcão: humor e autenticidade na hora de uma boa conversa. Confira!



Ele foge dos padrões impostos pela mídia e contraria tudo o que há no mercado fonográfico da atualidade. Qual o segredo para permanecer neste cenário tão disputado? Este é exatamente o "x" da questão: ser diferente. Afinal, qual cantor com uma longa carreira teria coragem de lançar um CD chamado "What Porra Is This?"? Somente Falcão.

O oitavo CD de Falcão, lançado em 2005, traz um misto de indignação com certos acontecimentos da vida e bom humor exacerbado. Algumas da músicas têm nomes curiosos e chamativos, como por exemplo, Pato Donald no Tucupi, Amanhã Será Tomorrow, Fome Zero-A-Zero, Quem não tem Cão não Caça, Alguma Coisa acontece no meu Bucho, A Sociedade não Pode Viver sem as Pessoas,  Ordem e Progresso, entre outras. No site MUBI -Música Brasileira Independente- (mubi.com.br), este CD está descrito da seguinte maneira: "Se um dia existiu Mamonas e Raimundos, é graças a cara de pau do gigante Falcão. What Porra Is This apresenta todas as marcas registradas de Falcão. Filosofia para as massas, esculhambação da "inteligência nacional" e bom humor. São 11 composições próprias e uma regravação da espetacular It's Not Mole Não, Severina Cooper de Acioly Neto. Para ouvir de cabo a rabo".

Com seu estilo popular, muita naturalidade e humor canta tudo o que muitos brasileiros pensam, mas falam somente para poucos. Confira a entrevista do cantor Falcão!



RESENHANDO - Falcão não é somente um artista cômico. Por esse motivo, nós da equipe Resenhando.com e seus internautas gostaríamos de conhecê-lo um pouco mais, mesmo porque sua versatilidade envolve até formação acadêmica. Como e quando foi despertado o seu lado humorístico?
FALCÃO - Na verdade, eu nunca pretendi ser um artista cômico (E acho que não sou). O caso é que eu sou cearense, e no Ceará quase todo mundo é engraçado por natureza; na minha família, por exemplo, tem material humano para produzir umas duas "Escolinha do professor Raimundo" ou umas três "Zorra total". Por isso, talvez eu tenha enveredado pelo caminho do brega mais irreverente, embora esse gênero musical tenha sempre sido usado como trilha da dor de cotovelo e da cornagem. 



RESENHANDO - O que prefere: brincar com o que acontece no cotidiano ou encarar tudo em seu modo verdadeiro? Quais tipos de assuntos gosta mais de satirizar? Por que? 
FALCÃO - Brincar e satirizar o cotidiano da seriedade, para mim é a forma mais certeira de levar assuntos "difíceis" à reflexão do povo. Desse jeito, quando eu falo de chifre, de viadagem, dos problemas das minorias ou de temas políticos e sociais, as pessoas, que num primeiro instante sentiram-se atraídas pelo humor ou pela melodia simples, acabam captando melhor a mensagem ou a crítica.


RESENHANDO - Pode falar sobre sua infância? O que mais gostava de ler e escutar? 
FALCÃO - Sempre, desde a mais tenra (gostaram do "tenra"?) idade li e escutei tudo que caiu na minha mão, sem distinção do que fosse, lia dos clássicos da literatura às bulas dos remédios da farmácia do meu pai, lá em Pereiro - CE. Aliás, a primeira imagem, que eu me lembro, do meu pai foi ele lendo um livro... Além disso ele era grande amante 
da música em geral e, por tabela, eu acabei ouvindo toda a sua discoteca que ia da ópera ao brega de Waldick Soriano. 


RESENHANDO - Atualmente, com a modernidade a família está perdendo o seu verdadeiro valor, chegando a ser vista por muitos como algo indiferente e sem função. Para você, qual a importância da família nos dias de hoje? 
FALCÃO - Quem acha que a família é algo morto e sem função é porque não teve família... A família é tão importante em todos os tempos que (digo mesmo sem ver nenhuma pesquisa), nas áreas onde não há formação familiar (principalmente nas 
nossas grandes cidades), é onde a sociedade está mais degenerada.


RESENHANDO - O que diferencia o artista Falcão dos outros? 
FALCÃO - Cada artista é um mundo à parte. Claro que há artistas que são, digamos, mais previsíveis. Eu acho que a minha diferenciação dá-se pela autenticidade, pela 
naturalidade e pela sinceridade com que eu chego até meu público.


RESENHANDO - Conhecendo os bastidores, o que pensa atualmente sobre fazer parte do meio artístico? Existe rivalidade? 
FALCÃO - Trabalhar no meio artístico é como trabalhar em qualquer outra área. É claro que como nesse meio as coisas são muito mais públicas e mais glamurosas, as vaidades, as intrigas e as invejas sejam muito mais exacerbadas. No entanto, há uma vantagem: é pouco o contato que se tem uns com os outros, o que não deixa de também ser ruim pois isso nos priva da convivência com aqueles colegas mais chegados.


RESENHANDO - Entre os seus sucessos que vivem na boca do povo, há preferência por alguma música? Qual? Por que? 
FALCÃO - É claro que dentre as minhas músicas há aquelas das quais eu sou mais admirador, algumas nem são grandes sucessos de público. Mas, as que o público mais gosta me dão grande alegria de ouvi-las ou de cantá-las justamente pela energia que o povo nos manda a cada execução. Entre elas a que eu gosto mais é "Holiday foi muito", por que homem é homem, menino é menino, macaco é macaco é macaco e 
viado é viado... 


RESENHANDO - Como você analisa o cenário da música brasileira dos últimos anos? 
FALCÃO - A música brasileira, dita MPB, é de uma grande diversidade e riqueza melódica, literária, etc... e não deve ser confundida com a música que a mídia toca. Essa música que está no rádio e na TV é, digamos assim, a parte descartável da verdadeira MPB.


RESENHANDO - Ao navergarmos em seu site, o www.sitedofalcao.com.br, encontramos coisas interessantes, como por exemplo, o horóscopo que serve para todos os dias e o teste de corno. Qual a finalidade do site, além da divulgação de seu trabalho? Quem idealizou este espaço virtual? 
FALCÃO - O nosso "saite" foi idealizado por mim e minha equipe e tem como principal finalidade levar os conhecimentos bregorianos e a filosofia "falconética" a todos os fãs e interessados. Quando eu falo em filosofia, alguém pode até achar que seja brincadeira mas, das coisas mais bestas veio todo o pensamento ocidental e oriental, afinal a besteira é a base da sabedoria. Em tempo: eu fui o segundo cantor brasileiro a ter um espaço na internet, depois do ministro Gilberto Gil.


RESENHANDO - Disponibilizar uma música para download no "Bolachografia" é uma estratégia de marketing ou apenas uma forma de divulgação de seu trabalho, forma muito utilizada pelos artistas da atualidade? 
FALCÃO - As duas coisas, mas muito mais o desejo de que o fã que não conseguiu no disco possa ter alguma coisa para se deleitar, já que a minha discografia, por motivos operacionais das gravadoras, é muito difícil de ser encontrada em lojas do ramo.


RESENHANDO - Qual o segredo para manter-se na mídia, após tantos anos de estrada, sempre apostando num formato que não é muito bem aceito pelo público? 
FALCÃO - O segredo é exatamente o formato: Como é uma coisa que não é tão comum nem tão descartável, tem um público fiel que espera cada lançamento na certeza que pode ter um produto fora do padrão da mesmice reinante no mercado. 


RESENHANDO - Quais seus planos para a carreira artística? 
FALCÃO - Continuar como um cantor diferenciado na medida que o talento e a inspiração me coadjuvarem e, num futuro bem próximo, voltar a TV com um trabalho também "catilogênico". 


RESENHANDO - Deixe uma mensagem para os internautas do Resenhando.com 
FALCÃO - A mensagem, que nunca é demais, é de que cultivemos a cultura da paz com catilogência que é a soma da "catigoria" com a loucura e a inteligência. Sem esquecer que "gentileza gera gentileza".



PING-PONG: 
Gosto de: Ver TV e ficar sem fazer nada. 
Não gosto de: Chocolate 
Meus cantores favoritos são: Zé Ramalho, Fagner, Bob Dylan, Waldick Soriano, Raimundo Soldado.
Meus escritores favoritos são: Machado de Assis, Rubens Fonseca, Audifax Rios, Edgar Alan Poe.

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