sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

.: Análise sobre crítica literária e alguns dos vieses que a compõem

Por: Mary Ellen Farias dos Santos*
Em janeiro de 2015*


O juiz do tribunal das letras, assim pode ser definido o papel do crítico literário, aquele que lê, avalia a obra e lhe dá uma sentença, positiva ou negativa, e por fim, contribui para a propagação da obra, ou não. Na visão de alguns escritores este é um empecilho, para outros, importante colaborador para o aperfeiçoamento da escrita e até um veículo para a produção de uma nova obra como resposta ao crítico. Contudo, em meio a mal-entendidos e atritos, sabe-se o quão é necessária à função do crítico literário, ao fazer o intermediário: escritor e leitor.
 Antes de explanar o assunto, é de extrema importância saber um pouco do que é leitura, tendo em vista que esta é grande válvula propulsora da crítica literária. De acordo com o Dicionário enciclopédico Focus ilustrado, ler é ver o que está escrito, proferindo ou não, mas conhecendo as respectivas palavras, interpretar por meio da leitura. Este dado é comprovado no livro Histórias da Leitura, de Albert Manguel. A publicação mostra que, dentro da história da mentalidade, está a história da leitura.
Este processo o qual a leitura está ligada, envolve o conhecimento da linguagem e a da língua, sendo que toda leitura é plural, isto é, possibilita diferentes interpretações em um mesmo texto. Entretanto, é importante salientar que este procedimento somente ocorre devido à formação intelectual do leitor.
No Dicionário enciclopédico Focus ilustrado, literatura está classificada como “conjunto das composições de uma língua, com preocupação estética; de trabalhos literários de um país ou de uma época, os homens de letras”. (1983, p.328).
Para tanto, é válido fazer uma breve citação do filósofo Gerd Bornheim: “a crítica vive da morte da comunicação”, isto é, solicita um intérprete, principalmente ao saber que o surgimento da crítica que acontece em função da alteração do estatuto da arte, que se aprimora tornando-se mais complexa, problemática e expressiva.
Afinal, o que é crítica literária?
Esta consiste na análise de uma obra à luz de pressupostos teóricos, a fim de emitir juízos de valor. De acordo com uma leitura devidamente fundamentada, o sujeito pensante estabelece uma postura diante do que leu, tendo (cons)ciência de que este procedimento não abarca a grandeza do fenômeno literário.
É então, a partir de uma produção textual criada inicialmente pelo autor, que o crítico literário tem a possibilidade de interpretar, de julgar, de discutir, de recriar a obra, e por fim, de gerar multiplicadas visões e impressões, o que o torna um “novo autor” da mesma obra, como se ele fosse o criador do produto inicial.
Tendo em vista que a crítica é considerada como ciência e não como gênero literário, Fidelino de Figueiredo, expõe que as obras são, pois o componente de estudo do crítico literário. “O que busca ele por esse estudo? O mesmo que os outros investigadores em todas as ciências”.  (FIGUEIREDO, 1962, p. 30)
“A crítica literária tem um campo de investigações próprio [...] tem também o seu método próprio, mas não consegue formular leis, que organizem as conclusões obtidas pela prática desse método”. (FIGUEIREDO, 1962, p. 40)
Com a obra criada e devidamente criticada, pode-se chegar então, no leitor. Ele que por sua vez é o epicentro de todo este processo, logo que a publicação é construída para o consumo de leitores. Neste grupo estão inclusos o público formado por leitores comuns e críticos, isto é, duplicam a ligação com o escritor e sua obra.
Por conseqüência, estes estudos, finalizam no sentido de que “os conhecimentos gerais adquiridos através dos estudos de Literatura trazem sempre para todo indivíduo novos horizontes e um anseio permanente para fugir à mediocridade”. (MEIRA, 1974, p. 13).
“Isolados ou em grupo, nós exercitamos bem cedo os sentidos, janelas abertas sobre o mundo externo, na imagem dum filósofo; interessamo-nos primeiramente pelo que nos rodeia”. (FIGUEIREDO, 1962, p. 38)
Como resultado é importante ressaltar:

“A crítica não conclui o seu trabalho, logo que tenha explicado a obra; deve também avaliá-la, como obra estética, julgar, medir o seu grau de poder emocional, e, como todo o juízo implica um segundo termo de comparação, torna-se nesta altura uma questão prévia o problema da estética absoluta, do belo absoluto”. (FIGUEIREDO, 1962, p. 32)

Na evasão do mediano, a função do crítico engrandece e enriquece a concepção da crítica, pois este procura conhecer em profundidade o processo de desenvolvimento da obra, a personalidade do escritor e a atmosfera cultural e social que envolvem tais elementos.
Ao problematizar a ligação visceral entre a literatura e o homem, é possível estabelecer uma diferença entre leitores, tendo em vista que a grande característica do crítico seja a eterna busca de um nível acima, diferenciando-o do leitor comum.
Em virtude desta investigação, causada anteriormente pelo inconformismo da leitura do que foi produzido por outro escritor. É então que a força da argumentação é uma ponte entre leitor comum e escritor. Com a argumentação bem conduzida, esta fundamenta hipóteses, colhe razões, analisa a realidade e não abafa ou apaga o seu objetivo, comunicar e fazer-se entender e até convencer.
Qual a diferença entre um crítico e um leitor comum, então? É certo que ambos lêem e avaliam a obra, dão o seu valor, seja positivo ou negativo, e acabam propagando a produção, no muito conhecido “boca-a-boca”, que muito colaboram na venda dos mesmos. Mas a diferença entre o leitor comum e o crítico está na necessidade cultural que o segundo tem para o público em geral: o de expor a sua leitura do intervalo da obra, pois este tem mais ciência da importância da Literatura para a formação cultural de seu povo.

“A Literatura é o fio luminoso que nos conduz a todas as terras, a todos os climas, a todos os tempos, nos desvenda os mistérios, fala-nos da glória, da guerra, da beleza e do amor. Para o espírito impregnado desse alto sentido tudo mais lhe parecerá estéril, sem energia, sem vida”. (MEIRA, 1974, p. 13)

Tendo em vista esta magia da Literatura exercida sobre o público, a necessidade de um crítico literário torna-se mais forte. Esclarecida esta necessidade, logo, percebe-se que a crítica literária desempenha o seu papel de extrema importância para o crescimento, o amadurecimento e melhor fundamentação da argumentação.

“A Literatura brasileira, pelo muito que já fizemos, é uma realidade que nos encanta e consola. E se o destino dos povos está vinculado à sua literatura nos tem legado, simples alvorecer de um futuro, que não está longe, e que há de conduzir-nos, em sua fatalidade histórica, à vanguarda de todos os povos”. (MEIRA, 1974, p. 278)

Com o valor da Literatura para a formação cultural, sabe-se também que há a leitura dos espaços brancos, os intervalos. Para destruir a idéia (fechada) de que sempre há um emissor e um receptor, criou-se a crítica literária, isto é, por meio desta, a mediadora do autor e do público, formou-se e continua a forma-se um quociente (pelo menos) mínimo de integração com a obra. Para tanto, volta-se a função do crítico literário.

“O texto está, pois entremeado de espaços brancos, de interstícios a serem preenchidos, e quem o emitiu previa que esses espaços e interstícios seriam preenchidos e os deixou brancos por duas razões. Antes de tudo, porque o texto é um mecanismo preguiçoso (ou econômico) que vive da valorização de sentido que o destinatário ali introduziu; e somente em casos de extremo formalismo, de extrema preocupação didática ou de extrema repressividade o texto se complica com redundâncias e especificações ulteriores – até o limite em que se violam as regras normais de conversação. Em segundo lugar, porque à medida que passa da função didática para a estética, o texto quer deixar ao leitor a iniciativa interpretativa, embora costume ser interpretado com uma margem suficiente de univocidade. Todo texto que alguém o ajude a funcionar”. (ECO, 1979, p. 37)

Para fazer esta máquina cheia de engrenagens trabalhar, isto é, (tentar) decifrar o enigma que envolve a Literatura, o crítico utiliza a interpretação e faz possíveis leituras de seu objeto de estudo: as obras. Em contraponto, neste processo de ler o intervalo, o crítico literário examina a linguagem e/ou forma da obra e tentar notar as perfeições e as imperfeições. Algo não muito fácil de realizar, dependendo da produção textual em estudo.

“E ler é impossível, ler integralmente, penetrar com todo o nosso mundo interior dum escritor, que já, ao construir a sua obra, lutou desesperadamente com a impotência dos seus meios de expressão, limitados e gastos por serem do uso de toda gente, delidos com as efígies das moedas há muito em curso, apáticos como lugares comuns, caixilhos de medida fixa em que se enquadra a realidade movente”. (FIGUEIREDO, 1962, p. 41)

Seria então o texto algo fechado, como um quebra-cabeça que após ser resolvido não guarda a mesma ansiedade para ser concluído do que outro jamais terminado? Tudo depende do texto. Alguns sugerem interpretações e podem ser lidos de mil e uma maneiras, ou mais, ou seja, são textos abertos, enquanto que outros não.
No entanto, o escritor Umberto Eco explica bem os “textos abertos” e “textos fechados” na obra Lector in Fábula, dedicando um capítulo para o tema, sendo que na página 42 diz: “Não há nada mais aberto que um texto fechado. Só que a sua abertura é efeito de iniciativa externa, de um modo de usar o texto, e não de ser suavemente usado por ele”.
É o que ocorre com o crítico literário, deixa-se “usar” e por dedicar-se bastante a olhar a criação de outro com novo olhar, o que para ele, anteriormente, era uma obra fechada, torna-se aberta. Conquanto que o leitor comum tem dificuldades de chegar a este olhar, o texto continua fechado.
A verdade é que (para o crítico literário) “só uma coisa ele tentará com sagaz estratégia: que por maior que seja o número de interpretações possíveis, uma ecoe a outra, de modo que não se excluam, mas antes, se reforcem mutuamente”. (ECO, 1979, p. 42)
“Para o crítico a realidade é a obra literária, que por vezes tem tal autonomia, que se destaca por completo das suas razões circunstanciais para seguir uma carreira própria, através dos anos e dos séculos”. (FIGUEIREDO, 1962, p. 41)
Dentro desta astúcia está o autor-modelo, citado por Umberto Eco, que é aquele que coopera com o texto com o intuito de atualizar ou preencher os vazios e os índices que o texto carrega, pois “a obra de arte usa, com quem lhe fala, a linguagem com que este pode escutá-la melhor. [...] Cabe ao intérprete interrogar a obra de modo a obter dela a resposta mais reveladora para ele, daquele seu ponto de vista”. (PAREYSON, p. 173)

“A configuração do Autor-Modelo depende de traços textuais, mas põe em jogo o universo do que está atrás do texto, atrás do destinatário e provavelmente diante do texto e do processo de cooperação (no sentido de que depende da pergunta: ‘Que quero fazer com esse texto?’)”. (ECO, 1979, p. 49).

A persona ao criar seu universo ficcional pressupõe um leitor-modelo com a competência necessária para decodificar os variados significados de seu texto, tornam-se então em estratégias discursivas nas quais o texto prevê o leitor-modelo e o autor-modelo. Resultado: ambos cooperam e desempenham seus papéis importantes e enriquecedores no processo de construção textual.
Pode-se perceber, então, que o texto estabelece o seu destinatário, pois ele é emitido por alguém que o atualiza e/ou moderniza, ou seja, o “vê” (interpreta) de outra forma, que o diferencia da visão do autor. Às vezes, esta atualização é de fato grande colaboradora para o aperfeiçoamento do texto, outras não.
Por meio das várias leituras organizadas e compatíveis, o crítico, estabelece uma ligação (autor e leitor) que seduz a ler o que não foi lido e a reler o que já foi lido. Embora tenhamos conhecimento de que são muitos os sentidos, é preciso que seja dada apenas uma definição ao que foi lido, para que desta forma o texto comunique e exponha novas idéias que colaborem para o crescimento de conhecimento e amadurecimento intelectual do leitor.
Contudo, “na leitura e na crítica, interpretação e juízo são inseparáveis, e se chega à avaliação universal da obra através da pessoalidade do gosto: e isto torna difícil a formulação e a comunicação do juízo”. (PAREYSON, p. 180)
Para ler literariamente é preciso ler o que está no intervalo (aquilo que o autor quis dizer), mas é preciso ser rápido e sagaz para entender e não deixar escapar esta possível interpretação das entrelinhas.
Contudo, há ciência de que toda crítica “deve” ser muito bem-vinda pelo criador da obra, embora não seja muito bem aceita, algumas vezes.

“O significado de uma proposição, assim como o seu interpretante não exaure a possibilidade que a proposição tem de ser desenvolvida em outras proposições e, em tal sentido, é ‘uma lei, uma regularidade de futuro indefinido’. O significado de uma proposição abrange ‘toda sua necessária e óbvia dedução’”. (ECO, 1979, p. 18)

A crítica literária tem a função de possibilitar novas leituras e releituras de um mesmo texto, é uma viagem estimulante para fruir, pensar, concordar ou contrariar, situação semelhante à de uma conversa.
A crítica literária deve se ocupar do real, do discurso, da obra, enquanto universo de palavras e formas e, sobretudo, deve analisar o exercício combinatório que o escritor desempenha.
A Literatura é vida, parte da vida, por meio das obras literárias toma-se contato com a vida, seja mesmo nas suas verdades eternas, comuns a todos os homens e lugares, porque são as verdades da mesma condição humana.
O artista literário cria e recria um universo de verdades que não são mensuráveis pelos mesmos padrões das verdades factuais. A Literatura é uma transfiguração do real, é a realidade recriada através do espírito do artista e retransmitida por meio da língua para as formas, que são os gêneros, e com os quais ela toma corpo e nova realidade.
O mesmo acontece com o ato de criticar. O caminho da crítica é o do estudo do texto, a análise da obra como criação artística. Caso não houvesse esse mediador, seria lamentável, pois haveria a ausência na comunicação. Certamente, muitas narrativas seriam simplesmente lidas e esquecidas. Sem comunicar, não teriam a oportunidade de ser motivo para discussões, leituras e releituras, que conseqüentemente resistem ao tempo e passam de geração em geração.

“Dissemos que o texto postula a cooperação do leitor como condição própria de atualização. Podemos dizer melhor que o texto é um produto cujo destino interpretativo deve fazer parte do próprio mecanismo gerativo. Gerar um texto significa executar uma estratégia de que fazem parte as previsões dos movimentos de outros – como aliás, em que qualquer estratégia”. (ECO, 1979, p. 39)

Ao ser um gênero auxiliar, a crítica literária, alcança o rigor analítico, por esse motivo sabe-se que “o interpretante não é somente o significado de um termo, mas também a conclusão de um argumento inferido das premissas”. (ECO, 1979, p. 18). Por esse motivo, é necessário ressaltar o juízo do escritor Umberto Eco de que os textos são máquinas preguiçosas que carecem da cooperação e interpretação dos leitores a todo o momento.
Desta forma, é importante tentar compreender quais são os aspectos mais relevantes que atuam durante a atividade interpretativa dos leitores. Por esse motivo, faz-se necessária uma ligação entre o texto e o leitor, pois “se não houvesse certa identidade de linguagem entre o autor e o público, não seria possível a comunicação entre um e outro”. (FIGUEIREDO, 1979, p. 41).
Partindo do pressuposto que a crítica literária é um acontecimento historicamente recente e cronologicamente localizável, isto é, em um universo em que não havia conhecimento (ciência) de indivíduo ou de subjetividade, em que tudo parecia estar submetido a uma ordem superior, houve o rompimento desta tradição por meio da modernidade.

“Foi só no fim do século XIX que se começou a discutir o problema do método científico da história literária. Até então apenas se trabalhara na investigação das causas gerais da obra artística, fazendo-se portanto estética e teoria da arte literária e não teoria do método”. (FIGUEIREDO, 1962, p. 34)

A partir do momento em que as idéias de progresso ou revolução aceleraram o ritmo das mudanças sociais, econômicas e cultural. Surge então a idéia de autoria e da obra como expressão de experiências subjetivas. É quando o que antes era comunicação de conteúdos compartilhados pelos artistas e pela comunidade passar a ser expressão estética de conteúdos inventados por um homem singular, que de seu isolamento fala para outros homens igualmente distantes da alienação.
A dessacralização da obra pelo crítico instala-se justamente nesse modo de ver aquilo que no passado nem precisava ser dito. O início da crítica literária se apóia na energia de uma devastação na própria razão de ser da evolução geral das artes, isto é, por em crise os níveis possíveis de comunicação entre a arte e o seu público; altera o curso de um momento decisivo.
O enigma inaugural da crítica se fixa neste lugar exato, ou seja, saber decifrar as ocorrências que se verificam através da alucinação dessa instância formadora de mundos, e daí deriva a criatividade da crítica, pois investigar o ato da crítica é saber inventar a si próprio.
A crítica pressupõe justamente na crise de comunicação, a ponto de esgotar o próprio tema, como que a medir a distância entre a vida e a morte, pois este fenômeno prolifera-se de inúmeras maneiras, isto é, o esplendor daquele entendimento universal desaparece, ela deixa de ser nova e se faz simplesmente antiga; desponta então um outro princípio: a impossibilidade de a arte ser expressão do fundamento, neste ponto é que está, de certa forma, a razão de ser de toda a crítica de arte.
É a atividade do crítico que implica na explicitação se faça mediada pela obra. Eis a crítica literária que tenta quebrar as barreiras e inclui um intermediário entre criador e público.
Atualmente, com a evolução temos o fenômeno tecnológico, a internet, a popularização de “novos” críticos literários vem crescendo exageradamente, o que pode ser observado no extenso número de sites e blogs voltados a resenhas críticas de livros atuais e antigos. É certo que tais produções são feitas por leitores comuns muitas vezes leigos no assunto, mas que querem expressar a sua opinião.
Por conseqüência a crítica tem como pressuposto fundamental o âmago da própria cultura ocidental, sabe-se que é grande a necessidade de questionar e opinar. Não obstante, quando as posições são invertidas, ou seja, quando o crítico literário decide publicar o seu material fictício, este, nem sempre é aclamado pelo público.
Um exemplo recente é o dos professores de literatura Davi Arriguci Jr., autor de O Rocambole e Silviano Santiago, autor de Histórias Mal Contadas, que nestes seus últimos lançamentos não tiveram o privilégio de receber elogios, pelo menos pelo crítico literário Jerônimo Teixeira, da revista Veja. “Por melhor que seja, a crítica sempre será secundária. Pode até mudar o modo de ler e interpretar uma obra literária – mas nunca poderá tomar o lugar dessa obra”.
Ao reconhecer esta premissa, Teixeira conclui seu pensamento sobre esta inversão de papéis e diz: “Talvez isso explique a tentação que alguns críticos têm de ocupar o centro do palco, produzindo eles mesmos poesia ou ficção”.
Também é de conhecimento público que muitas obras rejeitadas, posteriormente ganharam o seu valor, enquanto que muitas que agradaram o público em seu momento, ao longo dos anos, acabaram sendo esquecidas.
O mestre da literatura Machado de Assis viveu este dilema com algumas obras, como por exemplo, Helena, sendo que com Memórias Póstumas de Brás Cubas obteve o reconhecimento merecido. Hoje em dia a leitura dos dois são solicitadas para que estudantes prestem vestibular em universidades estaduais, por exemplo. Atualmente, Memórias Póstumas de Brás Cubas é a obra de Machado mais popular, apesar de contar com reflexões metalingüísticas, que criticam a linguagem e a estrutura da narrativa tradicional, além de questionar o próprio processo de criação literária.
O escritor italiano Umberto Eco, que fez muito sucesso com o romance O Nome da Rosa, no ano de 1981, não obteve o mesmo êxito de crítica e público, com os seus romances seguintes: O Pêndulo de Foucault e A Ilha do Dia Anterior. Somente em 2001, com Baudolino, que (re)conquistou o seu espaço e este (livro) foi considerado seu melhor romance desde O Nome da Rosa.
A escrita transforma, indiferente de quem quer que tenha realizado essa viagem sem volta em direção ao mundo da escrita e dos livros, a aventura de todos os leitores do mundo, sabe o poder que os textos representam em nossas vidas. O fato é que se ganha sentido, dimensão e intensidade na medida em que a leitura de textos são feitas.
Com o auxílio destas leituras, o leitor, transforma-se e amadurece ao ter uma visão de mundo que se escolhe entre linguagem, humor, estilo e vocabulário. Por esse motivo, criticar é analisar as características de uma obra literária, dar-lhe um valor de juízo, pois é o crítico aquele que “ouve” o que a obra tem a dizer e se encarrega de que este intervalo seja exposto ao público.

Enfim, o crítico ilumina ao julgar as produções literárias, abre o caminho para o leitor questionar e fazer novas leituras, pois a ciência da literatura deve estudar a literariedade, tendo em vista que o texto crítico não deve se afastar desta que análoga ao objeto de estudo, o texto crítico, compõe, num ato de semiose ilimitada, uma literatura que se reinventa. 


*Trabalho originalmente realizado para o módulo Crítica Literária, do curso de Pós-graduação em Literatura, da Universidade Católica de Santos, em 24 de julho de 2005.
* Mary Ellen é editora do site cultural www.resenhando.com. É jornalista, professora e roteirista. Twitter: @maryellenfsm



.: Um dia diferente para Cachinhos Dourados e Chapeuzinho Vermelho

Um dia diferente
Por: Mary Ellen Farias dos Santos*
Em janeiro de 2015*


Um dia ensolarado e de clima agradável, enquanto a pequena Maria Eduarda passeava pelo bosque das fadas, sentiu uma vontade imensa de visitar a sua tia-avó, Ana Miranda, que morava bastante próximo. 

A garotinha apelidada de Cachinhos Dourados tinha como prima a encantadora Chapeuzinho Vermelho, que estava passando as férias na casa de sua avó Ana Miranda. Por estar próximo da casa de sua querida tia-avó, Maria Eduarda pensou em como seria maravilhoso passar o dia com Chapeuzinho Vermelho. 

No entanto, sentou-se sobre a relva e começou a planejar tudo o que as duas menininhas iriam fazer antes do almoço saboroso. Inteligente e cheia de criatividade, ela até imaginou tudo o que iriam conversar, enquanto a refeição as deixasse um pouco sonolentas. E, claro, para finalizar o dia, Chapeuzinho e Cachinhos iriam sentar no chão ao lado de Ana Miranda e escutar os mais fabulosos contos de fadas.


Sem perceber que a manhã daquele dia já havia terminado Cachinhos Dourados começou a sentir muita fome, e por esse motivo, decidiu correr o mais rápido que pode, antes que perdesse o almoço delicioso de sua tia-avó.
Ao chegar à casa da velhinha, a menina olhou fixamente para a priminha. Chapeuzinho respondeu com um sorriso nos lábios. De supetão, Cachinhos Dourados perguntou para a priminha:

- Gostou das nossas brincadeiras desta manhã? Quando vamos brincar de novo?


*Texto originalmente escrito em 22 de abril de 2010.



* Mary Ellen é editora do site cultural www.resenhando.com. É jornalista, professora e roteirista. Twitter: @maryellenfsm 

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

.: 2º Festival Brasileiro de Nanometragem distribuirá R$ 5 mil

Estão abertas até dia 9 as inscrições para o 2º Festival Brasileiro de Nanometragem. Idealizado pela Incubadora de Artistas, o festival tem como foco o incentivo à produção audiovisual e é aberto a realizadores de todo o Brasil. Qualquer tipo de produção - documentário, ficção, animação, experimental - pode participar, desde que sua duração máxima seja de 45 segundos. Serão distribuídos R$ 5000,00 em prêmios. Além da premiação em dinheiro, os vencedores terão seus filmes exibidos no Festival de Contis, na França.

O limite de tempo (45 segundos) possibilita que um número maior de jovens produtores e amadores participem do evento, fazendo uso de aparelhos de celular, tablets e câmeras fotográficas, entre outros. Com isso, o destaque das obras deverá ficar por conta da capacidade criativa de seus realizadores.

O 2º Festival Brasileiro de Nanometragem terá exibição única, com entrada franca, no Centerplex - Cine Atibaia, no dia 31 de Janeiro de 2015, às 17h. 

As inscrições são gratuitas. Confira o regulamento e a ficha de inscrição no site www.festivaldenanometragem.com.br . Outras informações: 11-2427 5345 / contato@incubadoradeartistas.com.br.

.: Aliados: Tudo sobre a banda santista

Mais do que acordes bem tocados, letras com conteúdo e muita atitude no palco, a banda Aliados se tornou um elo entre milhares de fãs que seguem juntos com a mesma filosofia. Com letras cheias de atitudes positivas, a banda de rock vem se destacando no cenário musical, agregando, com isso, cada vez mais fãs, que lotam as casas por onde se apresentam.
A banda foi formada em novembro de 2000, em Santos, e inicialmente se chamava Aliados 13. Na atual formação, integram o vocalista Fildz, o baterista Rafa Borba, o baixista Oliver Kivitz e o guitarrista Gugu Golzi. 

Desde o início, o nome “Aliados”   teve o objetivo de demonstrar a essência da banda, a cumplicidade entre os integrantes, traduzidas nas letras repletas de positividade e inspiração, revelando verdadeiros hinos do bem e da paz.
A primeira demo teve produção de Thiago Castanho que, na época, por estar fora da banda Charlie Brown Jr., acabou participando, também como músico, e se juntando aos Aliados, como músico, até 2003. 

O primeiro CD, “Aliados 13”, foi lançado em 2002. A primeira música de trabalho foi “Sem Sair do Lugar”, foi veiculada nas principais rádios do Brasil e teve o videoclipe exibido na MTV Brasil e na Multishow. Já a segunda canção, “Sorrindo”, integrou a trilha sonora do seriado infanto-juvenil “Malhação”.
O segundo CD, “Dose Certa”, foi lançado em 2004, e o sucesso do single “Seria” levava a banda para o mesmo caminho do sucesso conquistado com o primeiro trabalho. Mas um câncer nos rins do vocalista, Fildz, interrompeu temporariamente a trajetória da banda, que ressurgiu, após a superação da doença, com o CD e DVD independente “Te Encontro Por Aí”.  

Em 2008, lançaram o quarto CD, uma coletânea com as regravações das principais músicas dos três primeiros discos, acrescida de cinco músicas inéditas. Um ano depois, os Aliados gravam a abertura da série “Beijo, me Liga”, do canal Multishow, e tem a música “Direto no Assunto”, anexada à trilha sonora do mesmo programa.

Em 2010, com a presença de cinco mil pessoas, a banda lança o DVD “Somos Todos Nós”, gravado em Santos e, no mesmo ano, lançaram o CD “5º  Elemento”, produzido por Tadeu Patolla, que vem sendo divulgado pela turnê que os Aliados tem realizado por diversas cidades do Brasil. 


Os vídeos da banda, no canal oficial do YouTube, já passaram de dois milhões de visualizações, tornando a banda um fenômeno virtual. Tanto que, apostando nesta força, lançaram pelo Itunes a música “Esperança” , nas versões original e acústica, cuja renda é revertida para o apoio às crianças com câncer que fazem parte da instituição Casa Ronald McDonald, em São Paulo. 

Entre os fãs famosos, está Marcos Mion. “Dá para identificar a música dos Aliados nos primeiros acordes, eles são capazes de juntar das ‘patricinhas’ aos ´jiu-jiteiros’. É magnético vê-los no palco! São capazes de levar a plateia da loucura às lágrimas, de uma música para outra. Raras vezes vi isto na minha vida”, conta o apresentador, que dirigiu o clipe da música “Águas Passadas” e atua nele, ao lado da atriz Thayla Ayalla.

A música integra o CD “5º Elemento”, e o clipe foi gravado no porto abandonado de Guatrujá e em Alphaville, São Paulo. 

.: Entrevista com Deolinda Fabietti, Arteterapeuta

“Um movimento, um gesto, uma cor podem dizer mais do que mil palavras.” - Deolinda Fabietti

Por Helder Miranda
Em janeiro de 2015


Graduada em Letras, em 1975, e Mestre em Gerontologia Social pela PUCSP, em 2002), Deolinda Maria da Costa Florim Fabietti é arteterapeuta e fala ao Resenhando sobre a Arteterapia, uma interessante maneira de exercitar a arte dentro de um consultório psicológico.


RESENHANDO - O que uma obra de arte pode dizer a respeito de seu criador? 
DEOLINDA FABIETTI - A obra de arte vai revelar ao seu criador o que ele é, o que deseja e que caminhos percorrer. É como abrir um livro e ter ali as respostas. 


RESENHANDO - Por que levar a arte para dentro dos consultórios? 
D. F. - Desde muitos anos, Freud, estudando e analisando os grandes pintores e depois Jung, reconheceram o quanto a arte ajudava e facilitava o diálogo com seus pacientes. Falar a partir de uma pintura ou outra expressão artística é mais uma opção. Imagens e símbolos emergem e trazem à tona uma verdade às vezes difícil de ser elaborada somente pela verbalização. 


RESENHANDO - De que maneira a interação entre o paciente (criador), o objeto de arte (criação) e o terapeuta podem ajudar nos questionamentos que levaram uma pessoa ao divã? 
D. F. - O papel do terapeuta é o de facilitador. Ele tem uma escuta aguçada para “ouvir” o que realmente seu paciente e a obra realizada estão dizendo. Esta escuta vai possibilitar que algumas questões sejam respondidas, que outros materiais sejam oferecidos e que outras soluções possam ser encontradas. O encontro terapêutico se dá em um clima de absoluto respeito e acolhimento. Imagine-se deslizando seu pincel em uma aquarela e imagens vão tomando formas, contornos. Um diálogo íntimo se estabelece e o que é mais importante, um contato rico entre criador, criação e terapeuta. 


RESENHANDO - Que resultados a Arteterapia pode alcançar durante um tratamento terapêutico? 
D. F. - Os resultados são trazidos pelo próprio paciente. É ele quem nos conta como está agindo, como suas atitudes têm mudado em situações de desconforto, como o “outro” tem sentido sua presença. Sem dúvida, o contato e o despertar do seu lado criativo fazem dele uma pessoa diferenciada. Seu olhar para o mundo tem outro tom, as coisas que o cercam têm outras formas, sua presença tem outra qualidade. 


RESENHANDO - Quais as diferenças entre Arteterapia e terapia convencional? 
D. F. - Na Arteterapia, o paciente conduz seu processo no seu tempo, no seu ritmo. O uso da arte é o grande diferencial. Um movimento, um gesto, uma cor podem dizer mais do que mil palavras. O uso dos recursos expressivos além de desencadearem o potencial criativo do paciente, dá a ele uma condição especial de poder trocar uma cor, mudar um movimento, desfazer uma imagem, transportá-la para outro lugar, enfim, com o processo criativo ativado, o paciente toma posse do seu fazer, de sua ação, de suas escolhas e consequências. A flexibilização e possibilidade de mudança trazem a luz. 


RESENHANDO - A Arteterapia é considerada uma arte livre, unida ao processo terapêutico. Dentro desse contexto, todos são artistas? 
D. F. - Não devemos considerar o paciente como o artista conforme entendemos no senso comum, em que a arte é imbuída de um senso estético para a admiração pública. Em se tratando de um processo terapêutico, o que damos a ele é a possibilidade de ele se sentir sim, o artista de sua vida, pintando ou esculpindo com toda sua força interna resgatada. 


RESENHANDO - Se a resposta for positiva, nesse caso, a arte não se tornaria banalizada? Por que? 
D. F. - Não devemos julgar, aliás, em nenhum momento podemos fazê-lo. Não se fala em belo ou feio, mas em processos intensos ou não, sofridos ou não. A arte realizada dentro do setting terapêutico é por si só única. Ela não vai às galerias para ser exibida e comercializada, ela fica no íntimo de cada paciente e pertence só a ele. 


RESENHANDO - Você é autora de um livro chamado “Arteterapia e Envelhecimento”. Qual a relação? E de que forma a arteterapia pode ser usada para envelhecermos melhor? 
D. F. - Esse livro é o resultado de minha pesquisa de mestrado em Gerontologia Social. Ao trabalhar com senhoras idosas usei os procedimentos da Arteterapia para desenvolver meu trabalho. A Arteterapia trouxe a essas mulheres o encontro com a vida. Trouxe-lhes a possibilidade de uma nova postura frente à família e sociedade, uma melhor qualidade de vida. 

.: Crônica: A temporada de filmes está aberta!

Por Mary Ellen Farias dos Santos*
Em janeiro de 2015


Filmes, filmes e... mais filmes! Amo as férias, não só por poder colocar a leitura de meus livros em dia, mas por ter a chance de ver e rever todo filme que der na telha. Para a minha alegria tive a chance de aproveitar melhor o restinho do mês de dezembro. A Rede Cinemark trouxe alguns clássicos para a telona e... curti o meu filme favorito, o musical "Grease - Nos tempos da brilhantina", com John Travolta e Olivia Newton-John.

Em uma experiência que eu jamais pensei viver um dia, lá estava eu assistindo um filme de 1978, época distante do meu ano de nascimento. Feliz e ainda incrédula, entrei na
 sala de cinema, ao lado do meu maridão. Numa resolução belíssima de imagem e um som perfeito, reencontrei Sandy e Danny Zuko e, mais uma vez, fiquei apaixonada pela película dirigida por Randal Kleiser. 

Permitir ser emergido profundamente, durante um espaço de tempo determinado, em uma história recortada é um incrível exercício. Seja no cinema ou em casa, durante aqueles minutos, as exigências podem ser: 
lágrimas, gargalhadas, tensão ou até um certo medo.

Enfim, ajeite um cantinho da sua casa, prepare aquele lanchinho incrível ou corra para a sala de cinema mais próxima de você, garanta o seu potão de pipoca e divirta-se!! 



* Mary Ellen é editora do site cultural www.resenhando.com. É jornalista, professora e roteirista. Twitter: @maryellenfsm

.: "A pasta" transforma a teoria em prática

Todos temos boas lembranças, momentos especiais. Um almoço de domingo com toda a família ao redor da mesa, uma avó que cozinha como um anjo, o restaurante que faz aquele prato inesquecível… Se você se identificou com alguma delas, com certeza há um bom prato de pasta nas suas lembranças.

Este, aliás, é o mote do saboroso texto do escritor Ignácio de Loyola Brandão, que inicia o livro contando sobre as delícias dos tempos em que era criança em Araraquara e que continua a provar mundo afora.

O jornalista Jacques Schop sai do campo das lembranças e mergulha no da história, contando a incrível trajetória de quase 5 mil anos da pasta, e como a engenhosidade chinesa, a praticidade dos mercadores árabes, o trabalho inventivo dos japoneses e muita, mas muita criatividade italiana em tempos difíceis, transformaram a pasta em um dos maiores fenômenos gastronômicos na história da civilização.

Todo esse conhecimento está reunido em a base, um capítulo em que grandes mestres ensinam tudo que você precisa saber para fazer sua pasta caseira perfeita. Da massa à pasta, da escolha da farinha ao cozimento, passando pelos cortes e recheios, molhos e caldos básicos, combinações de molhos, e até como escolher a melhor pasta.

Existem inúmeros documentos, estudos e livros que contam a história e a evolução da pasta. A maior e mais completa contribuição vem da pesquisadora italiana Oretta Zanini de Vita. Ela passou dez anos reunindo documentos, ouvindo pessoas, pesquisando em vilarejos e com famílias centenárias, as tradições de cada receita e cada tipo de pasta. Em "A pasta", ela nos mostra algumas histórias e algumas das pastas que encontrou em suas viagens.

Para terminar, a melhor parte: nada como transformar a teoria em prática! Grandes chefs ensinam como fazer as melhores receitas, desde as tradicionais até as mais modernas e criativas. E os mais de 150 pratos vêm acompanhados de sugestões clássicas e ousadas de harmonização com vinhos e cervejas, elaboradas por mestres sommeliers.

Livro: Pasta
Autor: Carlos A. Andreotti
Categorias: Catalogo Geral, Gastronomia, Lançamento, Série Arte Culinária Especial
368 páginas
Editora: Melhoramentos

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

.: Entrevista com Eder Traskini, autor de Stânix

"Antes de ser um escritor eu sou um leitor compulsivo." - Eder Traskini

Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em janeiro de 2015



Eder A. S. Traskini nasceu em Marília, interior de São Paulo, em 1991. Em 2010, mudou-se para Ponta Grossa, Paraná, onde cursa Jornalismo na Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG. Sua paixão por livros começou aos sete anos. Desde então não parou, o que culminou na criação de seu próprio mundo presente em "Stânix – o poder dos elementos". Saiba mais deste escritor!


RESENHANDO - Você lê desde os seus 7 anos. O que gostava de ler? Por quê?
EDER TRASKINI - Eu comecei a ler com os livros indicados na escola, claro. O primeiro que realmente me pegou foi "O pequeno vampiro", quando terminei, neste belo dia às 17h30, disse à minha mãe que queria ir à livraria, pois queria algo para ler. A livraria fechava às 18h e minha mãe disse para irmos no dia seguinte, mas eu bati o pé. Queria ir naquele dia. Coisa de criança.


RESENHANDO - E como foi?
EDER TRASKINI - Quando chegamos, eu olhei a livraria inteira, revirei tudo, mas não encontrei nada. Estava indo embora quando minha mãe perguntou à moça do caixa se ela não tinha alguma indicação. Então, ela pegou na estante da frente um livro de mais de 200 páginas que minha mãe disse que eu nunca leria. O livro era "Harry Potter e a Pedra Filosofal" e eu li em uma semana. Sempre gostei de ler fantasia, coisas que tiram você da realidade, convidam a viajar por um mundo diferente, onde coisas impossíveis, de repente, não são tão impossíveis assim.



RESENHANDO - Você começou a escrever aos 19 anos. Desde aquela época já era "Stânix – O poder dos elementos"? Comente.
EDER T. - Sim. Na verdade eu tinha várias ideias, mas Stânix sempre foi o mais forte em minha cabeça. Comecei a escrever para colocar a ideia no papel e não perder. Escrevia para mim mesmo e por hobby apenas. Quando contei a um amigo ele insistiu para que mandasse a ele, depois insistiu para que eu continuasse a escrever. E foi assim que as coisas foram acontecendo.


RESENHANDO - Quem te apresentou para o fantástico universo da literatura?
EDER T. - Quem me apresentou de verdade foi a moça do caixa! (risos). Acredito que J.K. Rowling foi quem realmente me mostrou que aquilo ali era algo realmente fantástico. Foi com HP que aprendi a gostar de ler.


RESENHANDO - Quando percebeu que era bom na escrita?
EDER T. - Nunca havia pensado nisso... Uma vez, no primeiro colegial, meu professor de redação deu um "tema livre" para fazer em casa, o que era uma quebra de padrão já que todas as outras deviam ser feitas em classe e com tempo determinado. Nessa não. Eu escrevi 7 páginas de rascunho. Ele havia pedido 25 a 30 linhas. Quando passei a limpo ainda fiquei com 3 páginas. Ele não brigou comigo ou abaixou minha nota, na verdade não disse nada. Apenas me entregou o caderno. Quando abri ele tinha deixado uma anotação no final. Algo como "Desenvolva a história para um livro, você leva jeito, parabéns". Acho que foi ali.


RESENHANDO - Como foi a construção de "Stânix – O poder dos elementos" e seus personagens?
EDER T. - Acredito que primeiro surgiu Aaron. Sabia a história que ele teria e o contexto em que viveria. Quando comecei, ainda não tinha tudo definido. Tinha 4 pontos chave, pontos de virada. Conforme fui escrevendo foram surgindo os outros conflitos. Muitos perguntam de onde tirei os nomes ou em que me inspirei. Em nada. Na verdade, quando não tinha um bom nome eu simplesmente olhava para o teclado por alguns segundos e o nome me vinha à cabeça.


RESENHANDO - O que há de Eder A. S. Traskini em "Stânix – O poder dos elementos"? Comente.
EDER T. - Acho que tudo. Tenho influências de Tolkien, Paolini, Martin, Lewis, Rodda e mesmo Rowling, mas penso que Stânix é uma aventura completamente diferente. Tem uma resenha (do Vinicius Pimenta do Indique Um Livro) que acho que define bem isso que estou querendo dizer. "Quando pela primeira vez tomei o livro em minhas mãos, fiquei tentado a fazer intertextos com outros livros de fantasia que através da leitura, fica claro, não existem."


RESENHANDO - Você comentou que “alta-fantasia sem um mapa não é nada; já o guia de pronuncia visa ajudar o leitor a falar um nome complicado da forma como o autor o pensou”. Explique a importância do mapa e guia para o leitor.
EDER T. - Bom, é bem simples. Façamos um exercício. Se eu disser que Mharol fica ao lado de Dael, que fica abaixo do Deserto de Latsy, que fica ao lado das Florestas de Buckham, que por sua vez fica a esquerda de Guil, e abaixo disso tudo ainda temos Saprissa, Rhiannon, Chrol e Vedan. Você entende alguma coisa ou prefere que desenhe? Pelo sim e pelo não, eu desenhei. O guia de pronúncia é algo que realmente acho essencial, já que crio nomes a partir do nada, alguns são bastante claros para mim, mas podem não ser (e provavelmente não serão) para outras pessoas. Por isso, penso que é muito importante você ter um guia que lhe ajude a entender como pronunciar aquele nome e não haver discussões de como seria a sonoridade de algum nome.



RESENHANDO - Por que o seu livro recebeu o título de "Stânix – O poder dos elementos"?
EDER T. - Bom, Stânix é o nome do reino e é algo que vai se manter para identificar a trilogia (o próximo vai se chamar "Stânix: A Fúria dos Dragões"). "O poder dos elementos" é algo que só lendo mesmo para saber, não posso dar spoiler (risos).


RESENHANDO - O que você prefere: filmes ou livros?
EDER T. - Geralmente, prefiro livros. Mas acho legal o exercício de ver o filme após ler o livro, porém um pouco injusto. Como leitores já ficamos muito bravos se o filme muda algo do livro. Já vamos com um fosforo acesso e a centímetros do pavio. Não damos uma chance ao filme. Por isso também acho bacana o exercício contrário. O filme de "Jogos Vorazes", por exemplo, eu fiz isso e foi fantástico, principalmente por ele mostrar partes que o livro não tem como mostrar, mas que com certeza acontecem.


RESENHANDO - Você prefere ler ou escrever?
EDER T. - Ah, que pergunta cruel! Não sei responder, antes de ser um escritor eu sou um leitor compulsivo. Passo mais tempo lendo do que escrevendo se vocês querem saber. Acho muito legal entrar na história de alguém, sofrer por algo que você não tem controle nenhum. Quando escrevo já é o contrário, eu tenho o controle. Isso também é legal. Não sei definir o que prefiro.


RESENHANDO - Qual é o seu objetivo com a escrita?
EDER T. - Meu objetivo... Acho que é principalmente ajudar a quebrar algo que já está sendo MUITO quebrado: o preconceito com autores nacionais. Posso até dizer que ele quase não existe mais. O Brasil tem autores fantásticos e acho que é importante valoriza-los.


RESENHANDO - Quais os seus planos futuros na área da literatura?
EDER T. - Primeiro lançar o segundo livro o quanto antes, depois terminar a trilogia, no momento falta apenas o último para escrever. A longo prazo tenho outras história de Stânix para contar, além de, fora do reino, ideias para uma distopia que pretendo ambientar em Santos, cidade onde moro atualmente.



Conheça o https://www.facebook.com/reinodestanix e aproveite para comprar o seu exemplar de "Stânix – O poder dos elementos".


.: “Roda São Paulo” propõe viajar dia inteiro por R$ 10

“Bem Receber”, “Navegantes”, “Caminhos do Mar” e “Calor no Coração” são as quatro rotas desta edição do programa “Roda SP”, iniciativa da Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo que chega para facilitar a integração turística entre nove municípios da Região Metropolitana da Baixada Santista. 

Com a iniciativa, que ocorre até 1º de março, turistas e os moradores do litoral podem praticar a atividade turística com conforto e informação a bordo, por um preço único de R$ 10. 

Pelo programa, o passageiro viaja o dia todo com um só ingresso, de acordo com a rota que escolher, e subir novamente quando quiser. Para esta temporada, o Roda SP disponibiliza 26 veículos entre ônibus e vans, inclusive com ônibus double-deckers. Outras informações nos sites: www.turismo.sp.gov.br e www.rodasp.com.

Fanpage: https://www.facebook.com/programarodasp

.: Análise da letra musical de "Alegria, Alegria", de Caetano Veloso

Por: Mary Ellen Farias dos Santos*
Em janeiro de 2015 *


Caminhando contra o vento
Sem lenço e sem documento
No sol de quase dezembro,
Eu vou.

O sol se reparte em crimes
Espaço naves, guerrilhas
Em Cardinales bonitas,
Eu vou.

Em caras de presidente,
Em grandes beijos de amor,
Em dentes, pernas, bandeiras, 
Bomba e Brigitte Bardot.

O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça.
Quem lê tanta notícia?
Eu vou 

Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos.
Eu vou
Por que não? E por que não?

Ela pensa em casamento
E eu nunca mais fui à escola
Sem lenço e sem documento
Eu vou.

Eu tomo uma coca-cola
Ela pensa em casamento
Uma canção me consola
Eu vou.

Por entre fotos e nomes
Sem livros e sem fuzil
Sem fome, sem telefone,
No coração do Brasil.

Ela nem sabe até pensei 
Em cantar na televisão
O sol é tão bonito

Eu vou
Sem lenço, sem documento
Nada no bolso ou nas mãos 
Eu quero seguir vivendo amor.
Eu vou 
Por que não? E por que não?



Memória discursiva: A música Alegria, Alegria, de autoria de Caetano Veloso, sobre liberdade, é um dos marcos iniciais do movimento tropicalista da década de 1960. Datada de 1967, Alegria, Alegria, a canção modernista foi apresentada no Festival da Record em disputa pelo “Berimbau de Ouro”. 

Embora seja intitulada de Alegria, Alegria, sua letra nada tem de alegria, apenas reflete a repressão do período militar no Brasil, ou melhor, os “anos de chumbo”. De tão potente, a música de Caetano Veloso está incorporada na mente e na história do povo brasileiro, pois a marcha leve e alegre, com letra caleidoscópica e libertária, tem força nas palavras que a compõem. 

Entretanto, ao apresentá-la ao público, Caetano Veloso recebeu vaias (até porque fez a apresentação com os argentinos, Beat Boys). A gritaria foi tão infernal que nacionalistas o chamaram de traidor e oportunista. O talento e a performao nce de Caetano Veloso, aos poucos, ganhou o público e transformou as vaias em aplausos, mas ficou somente com o quarto lugar do festival.

Alegria, alegria é uma obra famosa e muito lembrada, é, pelo menos a mais emblemática do período militar do Brasil. Por esta e outras canções revolucionárias que usaram da metáfora para burlar o regime militar, Caetano Veloso foi o grande divulgador deste período de grande revolução popular e de tanta inquietação cultural.

Estrutura do texto: Em sua estrutura textual, Alegria, Alegria é simples, principalmente se comparada a outras de Caetano Veloso, utiliza basicamente elementos do Modernismo Brasileiro, da contra-cultura, da ironia, rebeldia, anarquismo e humor ou terror anárquico. Para salientar que a cultura importada era alienante, Caetano usa palavras como Brigitte Bardot, Cardinales  (Claudia Cardinale) e Coca-Cola (maior símbolo do império norte-americano que financiava os exércitos em toda a América Latina).

Pelo fato de ser uma canção escrita no período tropicalista, Alegria, Alegria tem nas entrelinhas uma crítica à esquerda intelectualizada, a negação a qualquer forma de censura, uma denúncia da sedução dos meios de comunicação de massa e um retrato direto da realidade urbana e industrial.

De acordo com o poeta, ensaísta, professor e tradutor brasileiro Décio Pignatari, a letra possui uma estrutura cinematográfica, trata-se de uma "letra-câmera-na-mão", citando o mote do Cinema Novo. Nesta canção há intertextualidade com a canção Para não dizer que não falei das flores e com uma pequena citação (modificada) do livro As Palavras, de Jean-Paul Sartre: "nada nos bolsos e nada nas mãos", que ficou, "nada no bolso ou nas mãos".

Marcadores da narrativa e da oralidade: A presença de muitas vírgulas na canção segue o ritmo da marcha, ou seja, há uma ebulição de ideias e ações acontecendo concomitantemente, por tanto não há abertura para pontos finais (que fecham estas ideias), mas apenas para as vírgulas. As vírgulas passam a ideia de aglutinação, como se representassem a pólvora, tão presente nas ruas neste período.

Inicialmente, o verbo caminhar está no gerúndio, o que transmite a ideia de que este caminhar é contínuo e que nada será capaz de interrompê-lo, mesmo que lhe falte uma identidade e as impunidades dos crimes brasileiros permaneçam. Logo, o verbo está no presente: (eu) vou, (me) enche, (ela) pensa.

Da instância lexical: Os versos “Caminhando contra o vento” e “em Cardinales bonitas” têm o valor semântico da expressão popular “nadando contra a corrente”, com o significado de ser e manter-se contra. Ao considerar o período, este se refere ao lutar contra a Ditadura Militar.

Eixo paradigmático da canção: A luta pelos ideais ganham mais força ao colocar cada ação na primeira pessoa do singular: EU, estando este oculto, como em “Caminhando contra o vento”, ou quando este sujeito é simples, como nos últimos versos das estrofes: “Eu vou”. No contexto do momento histórico vivido pelo autor na época do Regime Militar, a expressão “caminhando contra o vento” vem reforçar a idéia central do texto: ser do contra, lutar contra as forças armadas pelo regime ditatorial, promover a união da população contra o governo imposto de forma indireta e arbitrária. Idéia corroborada pelo descumprimento das regras gramaticais da língua padrão, como no exemplo: “Me enche de alegria...”, em que a frase é iniciada pelo pronome oblíquo ME.

Métrica: Tomando como exemplo a primeira estrofe, é possível escandi-los e dar nomes aos metros da seguinte forma:

Ca/mi/nhan/do /con/tra o /ven/to - Verso Heptassílabo ou Redondilha Maior
Sem /len/ço e /sem /do/cu/men/to - Verso Heptassílabo ou Redondilha Maior 
No /sol /de /qua/se /de/zem/bro, - Verso Heptassílabo ou Redondilha Maior
Eu /vou. – Verso Dissílabo

Metáforas: Toda a opressão sofrida pelo cidadão comum, nas ruas, nos meios de comunicação, em sua cultura nativa, no seu próprio país é relatada na letra desta canção. Desta forma, Alegria, Alegria, denuncia os exageros dos militares, porém utilizando-se de metáforas. “Caminhando contra o vento/sem lenço e sem documento” que se refere à violência praticada pelo regime. Ao dizer “sem livros e sem fuzil,/ sem fome, sem telefone, no coração do Brasil” revela a precariedade na educação brasileira proporcionada pela ditadura que queria pessoas alienadas, e complementa: “O sol nas bancas de revista /me enche de alegria e preguiça/quem lê tanta notícia?”. 

Para evidenciar a alienação da massa, na letra há elementos externos à cultura nacional, como alguns símbolos impostos pelo cinema norte-americano da época, que são: Cardinales, Brigitte Bardot e a Coca-Cola, fortes representantes da imposição comercial da mídia na época.

Ao denunciar os desníveis sociais dos “anos de chumbo”, Caetano Veloso faz comparações metafóricas, com o intuito de destacar os contrastes regionais, sociais ou econômicos, o que fica evidente nos seguintes versos: “Eu tomo uma coca-cola,/Ela pensa em casamento”, “Em caras de presidente/em grandes beijos de amor/em dentes, pernas, bandeiras, bomba e Brigitte Bardot.”

Jogo das pressuposições: Alegria, Alegria, canção que ajudou a criar o estilo musical MPB, escrita, musicada e interpretada pelo cantor e compositor Caetano Veloso (em novembro de 1967) transformou a expressão artística musical brasileira em crítica social. Por esse motivo, Caetano Veloso teve grande parte de suas músicas censuradas pelo regime militar, sendo que algumas foram até banidas. Em 27 de dezembro de 1968, tanto Caetano Veloso quanto Gilberto Gil foram para a cadeia, acusados de terem desrespeitado o hino nacional e a bandeira brasileira. Os dois foram levados para o quartel do Exército de Marechal Deodoro, no Rio, e tiveram suas cabeças raspadas. Entretanto, ambos ficaram exilados em Londres até 1972.

É possível notar também que Alegria, Alegria faz intertextualidade com Para não dizer que não falei das flores, do cantor Geraldo Vandré. Ambas as músicas suscitam em sua letra os sentimentos daqueles tinham conhecimento (não eram alienados) do que de fato acontecia no Brasil e, assim convocam os brasileiros engajados a ir às ruas e lutar contra a ditadura vigente.

Ao convocar a todos para esta luta, fica evidente a crítica à alienação, pois o verso “Ela pensa em casamento” aparece duas vezes na canção, ou seja, evidencia que enquanto algumas brasileiros lutavam para dar fim à repressão militar outros estavam completamente desinformados e sob o domínio do governo.

Rima: Alegria, alegria é uma canção poética, considerando, inclusive, o título. A marcha compassada denuncia a presença do som do “O” precedido da letra “T” e “R”, ao mesmo tempo em que dá o ritmo a cada verso, também reflete a dureza da época e o disparar das armas, que pode ser notado na terminação dos três primeiros versos, da primeira estrofe, além da presença do fonema “K”: “Caminhando contra o vento/ Sem lenço e sem documento / No sol de quase dezembro”. 

As figuras de som predominam, pois o ritmo é constante, quebrado por palavras e/ou expressões como “eu vou”, no final de cada estrofe. A aliteração pode ser notada na repetição de sons consonantais (consonância) quanto de sons vocálicos (assonâncias), como nos versos: “Entre fotos e nomes, sem livros e sem fuzil, sem fone, sem telefone, no coração do Brasil.”: repetição do som do fonema “F”. Nos versos “Caminhando contra o vento, sem lenço sem documento, no sol de quase dezembro”, percebe-se a presença do fonema /k/. Também nos versos “entre fotos e nomes, sem livros e sem fuzil, sem fone, sem telefone, no coração do Brasil”, percebe-se a presença dos sons vocálicos de /em/. O que se repete também nos versos “sem lenço sem documento, no sol de quase dezembro”. 

Conclusão do ponto de vista estilístico: Alegria, Alegria é uma canção que pode ser definida como um poema. Sua história acontece no presente, sendo que o eu – lírico “desenha” a história por meio do pronome EU, 1ª pessoa do singular. No entanto, não tende ao egocentrismo ou narcisismo, apenas posiciona-se como um lutador contra a repressão militar. 

Para provocar a ideia de uma marcha contra a ditadura utiliza-se de fonemas duros que remetem ao marchar dos militares (e até dos civis unidos em direção aos repressores) e fonemas frios que remetem ao som dos tiros e bombas, itens bastante presentes nas ruas, neste período.

Em contrapartida, há também a denúncia da alienação a partir de ídolos impostos e fabricados pela mídia “exterior” (Brigitte Bardot, francesa e Claudia Cardinale, atriz italiana), que infundiam um comportamento novo. 

Texto originalmente escrito em 4 de maio de 2010
*Editora do site cultural www.resenhando.com. É jornalista, professora e roteirista. Twitter: @maryellenfsm


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