segunda-feira, 4 de agosto de 2025

.: Abertura da exposição World Press Photo 2025 será nesta terça em SP


A abertura da exposição contará com a presença dos fotógrafos brasileiro premiados, Anselmo Cunha e Amanda Perobelli, e do presidente do júri Sulamericano, o também brasileiro, Lalo Almeida. Foto: Aeronave em Pista Inundada, registrada durante a enchente histórica que atingiu o Rio Grande do Sul em maio de 2024 | Anselmo Cunha - Agence France-Presse


A exposição itinerante "World Press Photo 2025", que apresenta os vencedores do 68º Concurso Anual, chega na CAIXA Cultural de São Paulo nesta terça-feira, dia 5 de agosto. Este ano, a mostra, que reúne o melhor do fotojornalismo, traz 42 projetos vencedores que refletem os temas mais urgentes da atualidade: política, gênero, migração, conflitos armados e a crise climática, reunindo histórias captadas por fotógrafos de 31 países. 

Entre os premiados, estão três profissionais brasileiros: Amanda Perobelli, André Coelho e Anselmo Cunha. O Brasil também ganhou protagonismo na lente de profissionais internacionais, o mexicano Musuk Nolte com imagens da seca na Amazônia e Jerome Brouillet com a foto do atleta olímpico Gabriel Medina. Depois de uma temporada de sucesso no Rio de Janeiro, a mostra segue em cartaz em São Paulo até o dia 28 de setembro, depois segue para Brasília, Curitiba e Salvador.

Em 2025, as imagens documentam desde protestos e levantes em países como Quênia, Myanmar, Haiti, El Salvador e Geórgia, até retratos inesperados de figuras políticas nos Estados Unidos e na Alemanha. Também revelam histórias comoventes de jovens ao redor do mundo – como um homem trans de 21 anos nos Países Baixos, uma jovem ucraniana traumatizada pela guerra e a foto do ano que mostra uma criança palestina vivendo com amputações após bombardeios em Gaza, captada por uma fotógrafa da mesma nacionalidade.

Outro destaque desta edição é o impacto das mudanças climáticas em diferentes partes do mundo, com registros de desastres no Peru, Brasil e Filipinas. Há ainda um retrato potente da comunidade LGBTQIAPN+ celebrando o orgulho em um local secreto em Lagos, Nigéria, onde atos dessa natureza podem ser criminalizados. Destaque também para Tamale Safale, o primeiro atleta com deficiência a competir com atletas não deficientes em Uganda.

“Uma foto vencedora no World Press Photo não é apenas um registro histórico, é arte. Ela documenta, mas também fica na memória. O prêmio valoriza os projetos que jogam luz a questões urgentes e relevantes, que estão em debate em todo o mundo. E enxergar o nosso país nesse lugar de potência traz ainda mais satisfação em representar a exposição aqui”, explica Flávia Moretti, representante do World Press Photo no Brasil. 


Brasil
Três fotógrafos brasileiros estão entre os premiados da América do Sul no World Press Photo 2025. Na categoria Individual, Anselmo Cunha foi reconhecido pela imagem Aeronave em Pista Inundada, registrada durante a enchente histórica que atingiu o Rio Grande do Sul em maio de 2024. Com o mesmo tema, Amanda Perobelli venceu na categoria Reportagem com a série As Piores Enchentes do Brasil, que retrata os impactos das chuvas na cidade de Canoas, uma das mais afetadas pelo desastre climático. Também na categoria Individual, o fotógrafo André Coelho foi premiado com a imagem Torcida do Botafogo: Orgulho e Glória, que mostra a comemoração dos torcedores do clube carioca após a conquista inédita da Copa Libertadores da CONMEBOL, em novembro de 2024. 

O Brasil também se destacou em outros dois projetos internacionais. O mexicano Musuk Nolte retratou os efeitos socioambientais da redução do nível dos rios na região norte do país. A série Seca no Rio Amazonas foi uma das vencedoras na categoria Reportagem da América do Sul. Já o fotógrafo francês Jerome Brouillet, da AFP, venceu na categoria Individual da região Ásia-Pacífico e Oceania, com a imagem de grande repercussão que  mostra o surfista brasileiro Gabriel Medina emergindo triunfante de uma onda em Teahupo’o, no Taiti, quando garantiu a medalha de bronze  nas Olimpíadas de Paris

O fotógrafo Lalo de Almeida, vencedor na categoria Individual da América do Sul na edição de 2024, foi escolhido para presidir o júri na América do Sul. “Ter a experiência de estar do outro lado do balcão é uma honra. É uma grande responsabilidade, pois todas as histórias são importantes e todas as fotografias selecionadas eram impressionantes. Há muitos fotógrafos trabalhando em histórias profundas e foi incrível ver a forma como a América do Sul produz boas histórias”, afirma ele, que também integrou o júri global.


Campanha Feminicídio Zero
Durante o período de exibição no Brasil, a  "World Press Photo 2025" adere à campanha "Feminicídio Zero" para ampliar o debate sobre violência de gênero e os desafios enfrentados por mulheres em diferentes contextos ao redor do mundo. As histórias retratadas em diversas imagens vencedoras da mostra nesta edição, tais como Corpos Femininos Como Campos de Batalha (Cinzia Canneri), Maria (Maria Abranches), Jaide (Santiago Mesa), Terra Sem Mulheres (Kiana Hayeri) e Crise no Haiti (Clarens Siffroy) evidenciam como o corpo e a vida das mulheres continuam sendo alvos de opressão, controle e violência. Ao conectar essas narrativas visuais com os objetivos da campanha, a mostra convida o público a refletir sobre os direitos das mulheres, a urgência do enfrentamento ao feminicídio e o papel da arte na promoção da conscientização social.


Concurso
Desde 1955, o Concurso Anual World Press Photo reconhece e celebra o melhor do fotojornalismo e da fotografia documental produzidos ao longo do último ano. Em 2021, o concurso passou a adotar um modelo regional de premiação, o que o tornou mais representativo globalmente. A edição de 2025 mantém esta estrutura, com seis regiões globais: África; América do Norte e Central; América do Sul; Ásia Ocidental, Central e Sul Asiático; Ásia-Pacífico e Oceania; e Europa. 

Neste ano, a novidade é a mudança de um para três vencedores nas categorias Fotografia Individual e Reportagem em cada região do mundo, além de um vencedor por região na categoria Projeto de Longo Prazo. A exposição será apresentada em mais de 60 cidades, incluindo a estreia mundial em Amsterdã, seguida de Londres, Roma, Berlim, Viena, Budapeste, Cidade do México, Montreal, Jacarta e Sydney. 

As inscrições são julgadas e premiadas de acordo com a região onde as fotografias e histórias foram produzidas — e não pela nacionalidade do fotógrafo. Cada região contempla três categorias baseadas em formato: Individual (Singles), Reportagem (Stories) e Projetos de Longo Prazo (Long-Term Projects). 

Em 2025, o concurso, que acontece em meio às comemorações de 70 anos da Fundação World Press Photo, realizadora da premiação, ampliou o número de fotógrafos e projetos premiados – de 33, em 2024, para 42. Foram recebidas 59.320 inscrições, enviadas por 3.778 fotógrafos, de 141 países. As inscrições sempre são avaliadas de forma anônima. A primeira etapa da seleção foi realizada por júris regionais, que fizeram a pré-seleção dos trabalhos. Em seguida, os vencedores foram definidos por um júri global independente, composto pelos presidentes dos júris regionais e o presidente global.

A exposição no Brasil é patrocinada pela CAIXA e pelo Governo Federal, e tem o apoio do Jornal Folha de S. Paulo. A organização sem fins lucrativos Repórteres Sem Fronteiras (RSF) é apoiadora da programação paralela da World Press Photo. 


Serviço
Exposição "World Press Photo 2025"
CAIXA Cultural São Paulo
De 5 de agosto a 28 de setembro de 2025
Praça da Sé, 111 - Centro – Próximo à estação Sé do Metrô
Horário de visitação: de terça a domingo, de 8h00 às 19h00
Entrada gratuita
Classificação etária: 12 anos
Mais informações: https://www.caixacultural.gov.br/Paginas/default.aspx /@caixalculturalsp/tel: (11) 3321-4400
Importante: A exposição terá visitas mediadas com Libras e todas as imagens contarão com audiodescrição.

.: Entrevista com Cassiana Pérola Negra, filha de Jovelina, joia rara do samba


Por 
Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com. Foto: Claudia Ribeiro

Filha de Jovelina Pérola Negra, Cassiana Belfort, mais conhecida como Cassiana Pérola Negra, poderia ter sido apenas “a continuação” ou a sombra respeitosa de um mito. Preferiu o risco: tirou a sandália, botou o pé no chão e fez da rua o próprio batismo artístico. Vinte anos depois daquele primeiro tributo inocente no Espírito Santo, ela grava a segunda parte de um registro audiovisual repleto de autenticidade. 

Definitivamente, ela não é a cópia da mãe, mas como intérprete de si mesma - com banjo, suor, partido alto e um público que responde no estalo da palma. Cassiana não canta por protocolo. No palco, ela mistura raiz e reinvenção, tradição e desobediência, abrindo espaço para perguntas que incomodam: o samba sobrevive ao algoritmo? Qual o limite entre herança e autonomia? Quem dita o ritmo: o tamborim ou o streaming

Recentemente, ela gravou na quadra do Império Serrano, em cuja ala das baianas Jovelina desfilava, a  segunda parte do audiovisual "Cassiana 20 Anos”, projeto contemplado no edital Fluxos Fluminense, da Secretaria do de Cultura e Economia Criativa do Estado do Rio de Janeiro. No repertório, além do repertório da própria mãe, obras de Dona Ivone Lara, Arlindo Cruz e Almir Guineto. Também foi oferecida uma oficina de banjo com o músico e Luthier Márcio Vandelei, Em entrevista exclusiva para o portal Resenhando.com, a cantora falou com a objetividade de quem canta entre o peso do nome e a leveza de ser o que se é.


Resenhando.com - Cassiana, sua carreira começou meio que sem intenção de seguir os passos de sua mãe, Jovelina Pérola Negra. Hoje, como você lida com o peso dessa herança tão forte?
Cassiana Pérola Negra - É uma benção! Uma herança única, algo inexplicável. Lido muito bem, hoje está mais tranquilo.


Resenhando.com - Você já declarou que “quem faz o artista é a rua”. Em tempos digitais, com lives e redes sociais dominando, como você vê a importância da rua e da presença física no samba e no seu trabalho?
Cassiana Pérola Negra - Eu vejo isso como algo importante, pois a presença na rede social é agregador para o nosso trabalho. Porém, para mim a rua continua sendo extremamente essencial. Na rua, você está cara a cara com o público, é mais quente. As redes sociais são um veículo de extensão. 


Resenhando.com - O samba partido alto tem uma tradição oral e coletiva muito forte. Como você enxerga o desafio de preservar essa essência em um mundo cada vez mais individualista e digitalizado?
Cassiana Pérola Negra - O desafio é grande, porém, precisamos preservar essa cultura que é do nosso povo preto, que tanto luta para manter esse vertente.  


Resenhando.com - A gravação da segunda parte do audiovisual aconteceu na quadra do Império Serrano, local onde sua mãe desfilava. Como é para você transitar entre esses dois espaços - o palco e o universo da escola de samba?
Cassiana Pérola Negra - Para mim é ótimo, pois posso eternizar os caminhos que minha mãe trilhou! 


Resenhando.com - A oficina de banjo ministrada por Márcio Vandelei reforça a importância dos instrumentos tradicionais. Como você avalia o papel do instrumental no samba hoje, especialmente para artistas jovens que talvez nunca tenham visto um banjo de perto?
Cassiana Pérola Negra - Essa oficina é essencial e importante para abrir caminhos para jovens e adolescentes conhecerem, aprofundarem e sentirem esse instrumento com som tão único e ensinado por um grande mestre e referência do ramo, chamado Márcio Vanderlei. 


Resenhando.com - Existe um estigma ou resistência em torno do samba partido alto por não ser “comercial” o suficiente? Como você encara essa percepção e o que gostaria de mudar no cenário da música popular brasileira?
Cassiana Pérola Negra - Na Música Popular Brasileira, não mudaria nada. Porém, nós trabalhamos para que o partido alto seja reconhecido como merece ser conhecido. 


Resenhando.com - Em 20 anos de carreira, qual foi o momento mais difícil de se manter fiel à sua arte e às suas raízes, mesmo diante das pressões do mercado ou da indústria?
Cassiana Pérola Negra - Nenhum, a fidelidade foi do início até hoje. É isso que eu gosto. 


Resenhando.com - Se pudesse dar um conselho para sua Cassiana de 20 anos atrás, no começo da carreira, o que seria? E qual conselho daria para os jovens sambistas que hoje começam a trilhar seu caminho?
Cassiana Pérola Negra - O conselho que eu me daria é: continue que vai valer a pena. O que eu falaria para os jovens é: estude, ame o que você faz e dedique-se! 


Resenhando.com - Olhando para o futuro, quais novos territórios musicais ou artísticos você gostaria de explorar - e o que ainda resta para ser desbravado dentro do samba para você?
Cassiana Pérola Negra - Sinto-me bem confortável onde estou. Amo o que faço.

domingo, 3 de agosto de 2025

.: Mouhamed Harfouch revela a história por trás do espetáculo mais pessoal


Por 
Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com. Foto: Claudia Ribeiro

Um nome pode ser destino, fardo, bandeira ou metáfora. No caso de Mouhamed Harfouch, foi ponto de partida para um mergulho teatral - e existencial. Após rodar por cinco palcos no Rio de Janeiro, o monólogo "Meu Remédio" estreia em São Paulo no Teatro Santos Augusta, com sessões aos sábados e domingos, entre os dias 30 de agosto e 28 de setembro.

Escrito, produzido e protagonizado por Harfouch, com direção de João Fonseca, o espetáculo mistura memórias, músicas e ancestralidade em 75 minutos de pura exposição - do ator ao homem, do filho ao artista. Com humor, lágrimas e acordes tocados ao vivo, o texto revela não só uma trajetória marcada pela reinvenção, mas também o peso e a força que cabem em um nome.

Nesta entrevista exclusiva para o Resenhando.com, o ator que brilhou em novelas como "Cordel Encantado" e "Órfãos da Terra", e em musicais como "Querido Evan Hansen", fala sobre coragem, pertencimento e os bastidores emocionais da peça mais íntima da vida dele. Entre feridas, risos e confissões, Mouhamed abre espaço para aquilo que ainda está em processo. Porque, como ele mesmo afirma em cena, "aceitar quem somos é curativo".

Resenhando.com - “Meu Remédio” surge de um nome difícil de carregar. Que tipo de cura você acredita que um nome pode atrasar, ou apressar, na vida de alguém?
Mouhamed Harfouch - Se você pensar que o nome é aquilo que te individualiza num primeiro momento, é o teu cartão de visita, e que esse nome é algo que você não escolhe quando nasce, você recebe, de certa forma, de maneira imposta, isso tem um peso. Quando há um casamento perfeito e você gosta é uma maravilha. Mas isso nem sempre ocorre, e com minha peça tenho visto que muita gente teve ou tem dificuldades com o próprio nome. E as razões são diversas. Mas o interessante é que pensar sobre nosso nome pode nos levar a uma viagem muito transformadora sobre quem somos, de onde viemos e para onde vamos. É uma oportunidade de nos revisitarmos. A peça sugere esse diálogo consigo mesmo. Agora sobre atrasar ou apressar, não penso assim. Tudo tem seu tempo correto e faz parte do processo de amadurecimento de cada indivíduo. A cura, muitas vezes, pode vir do resultado deste processo de amadurecimento e isso, sim, é libertador! 


Resenhando.com - A peça é uma travessia íntima embalada por humor e dor. Você teve medo de se expor demais ou, pior, de ser confundido com as caricaturas que também interpreta?
Mouhamed Harfouch - Tive muito medo, por isto levei dois anos escrevendo, ou melhor, maturando. Escrevia uma parte e parava meses. Tinha medo da exposição, tinha dúvidas sobre levar algo tão íntimo para o palco e se isso poderia ser interessante para alguém. Meu diretor João Fonseca foi fundamental nesse processo, pois me deu a mão e me motivou a seguir em frente. Não me deixou desistir. O resultado me deixou realmente muito feliz. Fomos acolhidos pelo público e a crítica carioca de uma maneira muito linda.


Resenhando.com - Ao se lançar como autor, ator e produtor, qual foi o momento mais tentador para desistir, e o que impediu você?
Mouhamed Harfouch - Já tinha produzido e atuar é o meu ofício. Agora escrever é um desafio enorme, ainda mais quando é sobre sua própria história. Sempre tive em mente o título e o como gostaria de terminar a peça, mas como chegar até lá? Como desenvolver isso de forma teatral? Isso foi, sem dúvida,  meu maior desafio, mas tive que vencer um por vez. Vencida a etapa da escrita, veio a de produzir, levantar recursos, viabilizar! Levei quase três anos com uma ideia na cabeça para conseguir materializar. Quando consegui levantar recursos e pautar o espetáculo para a estreia, veio o medo absurdo, o do ator. Afinal, é o primeiro monólogo que levo aos palcos. Para conseguir vencer tantos desafios, foi fundamental contar com uma equipe maravilhosa como a minha. Mas preciso agradecer aos meus filhos, minha primeira plateia e escuta. Eles riam e adoravam ouvir a leitura do meu texto, das minhas histórias que fazem parte deles, e ver meus primeiros ensaios….Isso me deu muita força e coragem.


Resenhando.com - Você cresceu entre sírios e portugueses num Brasil ainda mais pouco preparado para lidar com o “outro”. Já sentiu que era preciso performar uma brasilidade mais palatável para ser aceito?
Mouhamed Harfouch - Nunca pensei sobre. Sempre fui extremamente brasileiro, nasci e cresci aqui, estudei em um colégio católico e só o que destoava da aparente normalidade era justamente o meu nome, porque era onde as pessoas codificavam a minha diferença. Então, minha luta era me entender enquanto parte desta mistura, e não ter vergonha de ser diferente. Saber carregar um nome tão forte e repleto de significados. Se tivesse adotado um outro nome, isto sim, poderia ser parte de um processo para me tornar mais palatável talvez.


Resenhando.com - Há uma cena ou uma canção em "Meu Remédio" que, até hoje, ainda dói apresentar? O que você poupa da plateia?
Mouhamed Harfouch - Meu espetáculo não transita  pela dor, mas pela alegria e emoção. Sempre me emociona a cena onde falo da mala que a gente abria quando meu pai voltava da Síria, ou quando algum primo trazia para meu pai. Era abrir a mala e subir o cheiro de um outro continente, outra cultura, outro povo. Essa cena sempre me faz lembrar da minha infância junto aos meus irmãos, meus pais e isso me emociona muito. Minha mãe acabou falecendo depois que escrevi e estreei a peça. Foi logo depois que estreei, na verdade. Escrevi a peça e me referia a ela presente, e agora me refiro a ela em lembrança. Então, a cena em que falo sobre ela, sobre como ela preparava pratos e mais pratos para nós e também o chancliche, queijo árabe maravilhoso, que cito na peça. Acabou virando um momento que me toca muito e que tenho que respirar para seguir com a história. Mas revivê-la todos os dias no teatro me faz muito feliz. E essa é a tônica da peça: as pessoas saem felizes. E isso é a minha alegria.  


Resenhando.com - Você já deu vida a muitos personagens na TV, no cinema e no teatro. Quem é mais difícil de encarar: o protagonista da própria história ou os papéis que exigem negar quem se é?
Mouhamed Harfouch - Como artista, quero provocar, tocar as pessoas, emocionar, divertir e ampliar horizontes. Então, contar uma boa história é minha busca. Quando cheguei a ao ponto final de “Meu Remédio” fiquei muito empolgado, muito feliz mesmo, achava que tinha uma boa história para contar. Os seis meses de temporada no Rio nos mostraram que sim. Mergulhar na nossa verdade não é tarefa fácil, ter coragem para se revisitar é um processo delicado, mas muito libertador. Sempre tentei achar a verdade de cada personagem, comigo não poderia ser diferente (risos). 


Resenhando.com - Seu espetáculo defende que “aceitar quem somos é curativo”. Mas o que você ainda não aceita em si e que talvez ainda esteja em tratamento?
Mouhamed Harfouch - No momento, tento curar a ausência da minha mãe e me entender sem ela. Neste ponto, o teatro me ajuda mais uma vez. Mas não só isso, não somos uma coisa só. Algo definitivo. A medida que crescemos, amadurecemos, vencemos algumas barreiras, alguns desafios, lidamos com vitórias, derrotas, frustrações, sonho, medos e desejos. A vida não é corrida de cem metros, é maratona, e eu tô correndo, sem pressa de chegar. Que venham os novos desafios. 

Resenhando.com - João Fonseca dirigiu nomes como Cazuza, Tim Maia, Cássia Eller. O que ele revelou de Mouhamed que nem você sabia que estava guardado?
Mouhamed Harfouch - Acho que, ao não me deixar desistir,  pude me entender melhor. Entender  o quanto o teatro me salvou e me deu pertencimento. A entender minha relação com meu nome, minha família e minha própria história. A gente vai vivendo, realizando as costuras da vida, fazendo nossas escolhas e os caminhos, somos atropelados pela correria do agora, então, de certa forma, João me mostrou o quanto as minhas escolhas construíram aquilo que me fez chegar até aqui. Ele me mostrou o quanto tive consciência dessas escolhas, mesmo sem fazer ideia que eu tinha essa consciência. Hoje vejo que sempre fui fiel ao que acredito. 


Resenhando.com - A plateia ri, chora, se identifica. Mas houve alguma reação do público que te desmontou completamente?
Mouhamed Harfouch - Não esperava que a plateia se identificasse tanto com minha história, de verdade.  Que participasse tanto... Teve uma senhora, no Rio, que foi cinco vezes ao meu espetáculo e pagando, tá? Na quinta vez, eu virei para ela e disse: "Agora você não paga mais! É minha convidada tá?" (risos). Tudo isso me surpreendeu positivamente.


Resenhando.com - Depois de olhar tão profundamente para dentro, que tipo de personagem você nunca mais aceitaria interpretar?
Mouhamed Harfouch - Não gosto de personagens vazios. Não gosto de caricatura. Não tenho tesão em fazer algo gratuito, sem alma, sem propósito… por que somos tocados pelo o que é humano. E isso só vem quando é de verdade.

.:"'O Mar, o Rio e a Tempestade", reúne ensaios de Pedro Süssekind


O livro "O Mar, O Rio e A Tempestade: sobre Homero, Rosa e Shakespeare", do professor e escritor Pedro Süssekind, foi finalista da 2ª edição do Prêmio Jabuti Acadêmico no eixo Ciência e Cultura na categoria Letras, Linguística e Estudos Literários. A obra, publicada pela Tinta-da-China Brasil, estabelece um diálogo entre três pilares da literatura universal: a Odisseia de Homero, Rei Lear de Shakespeare e Grande sertão: veredas de Guimarães Rosa.

Com a filosofia como ponto de partida, Süssekind constrói uma ponte intelectual que atravessa milênios e culturas, oferecendo uma leitura que percorre a história das ideias desde a Grécia Antiga, passando pela Inglaterra moderna, até chegar ao Brasil contemporâneo. O livro combina diferentes perspectivas críticas para revelar conexões surpreendentes entre essas três obras. 

"O Mar, O Rio e A Tempestade" se divide em três partes: na primeira, dois ensaios dedicados à "Odisseia" exploram a busca da verdade na Telemaquia e a narrativa do episódio das sereias através da lente da Dialética do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer. A segunda parte mergulha em "Rei Lear", extraindo da tragédia shakespeariana questões que atravessam história, matemática, antropologia e filosofia, além de abordar sua controversa recepção crítica. A terceira parte examina como Guimarães Rosa se apropria de temas tradicionais da filosofia e literatura em sua obra-prima, analisando o romance modernista e regionalista.

Nas palavras dos coordenadores da coleção Ensaio Aberto, Pedro Duarte e Tatiana Salem Levy, o livro oferece "uma viagem pelo mar de versos de Homero, pela tempestade da dramaturgia de Shakespeare e pelo rio de literatura de Guimarães Rosa". A cerimônia de entrega dos prêmios será realizada no dia 5 de agosto, no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo, reunindo autores, editores, pesquisadores e representantes das principais instituições científicas e acadêmicas do país. 

Criado em 2024, o Prêmio Jabuti Acadêmico pretende reconhecer a excelência da produção científica, técnica e profissional nacional, além de dar visibilidade às contribuições desses campos para o desenvolvimento do Brasil. Compre o livro "O Mar, O Rio e A Tempestade: sobre Homero, Rosa e Shakespeare", de Pedro Süssekind, neste link.


Sobre o autor
Pedro Süssekind Viveiros de Castro
(Rio de Janeiro, 1973) é professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador do CNPq. Doutor em filosofia pela UFRJ, com estágio de pesquisa na Freie Universität de Berlim, é autor de importantes estudos sobre estética e literatura, incluindo "Shakespeare, o Gênio Original" (Zahar, 2008), "Teoria do Fim da Arte" (7Letras, 2017) e "Hamlet e a Filosofia" (7Letras, 2021). Como ficcionista, publicou o livro de contos "Litoral" (7Letras, 2004) e os romances "Triz" (Editora 34, 2011) e "Anistia" (HarperCollins Brasil, 2022). Compre os livros de Pedro Süssekind, neste link.


Sobre a Coleção Ensaio Aberto
A Coleção Ensaio Aberto é resultado de uma parceria originada no âmbito do Programa de Internacionalização da Capes (Capes‑Print) entre a Universidade Nova de Lisboa e a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Os livros são publicados simultaneamente pela Tinta-da-china em Lisboa e pela Tinta-da-China Brasil em São Paulo, com apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT - Portugal).


Sobre a Tinta-da-China Brasil
É uma editora de livros independente, sediada em São Paulo, gerida desde 2022 pela Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos. Sua missão é a difusão da cultura do livro.

.: Em "Bet Balanço", Érico Brás mistura stand-up, banda ao vivo e escândalos


Em "Bet Balanço", Érico Brás mistura stand-up, banda ao vivo e escândalos reais em comédia musical sobre dinheiro, influência e honestidade no Brasil. Foto: Ronald Cruz

Qual o preço de se manter honesto em uma sociedade que cada vez mais premia os atalhos, os escândalos e os discursos vazios? Essa é a provocação que dá partida ao espetáculo inédito "Bet Balanço", com texto e direção de Giovani Tozi, em cartaz no Teatro Itália, em temporada aos sábados, às 23h00. Na trama, Érico Brás interpreta Jurandir, um homem íntegro, mas sufocado pelas contradições de um país onde o sucesso parece estar sempre ligado à esperteza, e não ao mérito. O ponto de partida dramatúrgico é o conto "A Teoria do Medalhão", de Machado de Assis, que Tozi atualiza para o contexto de 2025.

“Desde que li esse texto no colégio, fiquei impressionado com o humor do Machado, e aquilo me despertou pra obra dele. Sempre quis levar esse conto ao palco, mas foi só agora, que a vontade encontrou o momento certo”, conta Tozi. No conto, Machado apresenta a figura do “medalhão”, um sujeito que conquista notoriedade sem ter feito nada de relevante. Ele é respeitado, ouvido, homenageado, apenas porque representa uma imagem de virtude. “Hoje, o medalhão de Machado é o influencer que aparece em campanhas, acumula seguidores e vira referência, muitas vezes sem ter dito absolutamente nada com substância. E é sobre isso que 'Bet Balanço' fala, fama sem mérito, dinheiro sem trabalho, e um país onde o maior talento parece ser o de parecer importante”.

Mais de uma década após trabalharem juntos no Rio de Janeiro, o reencontro entre Érico Brás e Giovani Tozi marca o nascimento de um espetáculo que une humor ácido, crítica social e música ao vivo. Durante esse tempo, Tozi chegou a procurar Érico para integrar o elenco de uma comédia americana, projeto que ainda não saiu. Mas foi o convite de Érico, esse ano, que deu origem à parceria atual. “Fiquei muito feliz com o contato do Érico porque admiro muito a história dele, como ser humano e artista. Pra além de um ator cheio de recursos, é um cara que tem uma energia muito boa, e isso faz toda a diferença num processo criativo”, afirma Tozi. “Quando ele me procurou pra esse trabalho e me contou sobre os temas que interessavam a ele, eu pedi uma semana e revirei minha ‘gaveta das vontades’. São projetos ou fragmentos que ainda quero realizar. E lá estava esse: a atualização do conto 'Teoria do Medalhão', do Machado de Assis”.

A proposta foi justamente essa: falar sobre o poder do dinheiro, como ele molda comportamentos, impõe silêncios e transforma a ideia de sucesso. No conto, um pai aconselha o filho a se tornar um medalhão, alguém admirado e respeitável sem precisar se comprometer com ideias próprias. No mundo de hoje, esse medalhão é o influencer. E é nesse salto que o espetáculo mergulha. "Bet Balanço" traz Érico Brás em um solo tragicômico, musicado, que mistura elementos de stand-up comedy, teatro político e show musical. Em cena, uma banda ao vivo acompanha o ator, que canta clássicos da música brasileira sobre dinheiro, poder e vaidade. Canções populares de artistas como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Ivete Sangalo e Cartola ajudam a costurar as passagens mais intensas do espetáculo.

Além do humor e da música, o texto toca em feridas muito atuais, como o racismo estrutural — especialmente no universo da publicidade — e o escândalo das casas de apostas online, que aliciam artistas e influenciadores para promover um sistema onde, quase sempre, o pobre é quem perde. "Bet Balanço" propõe uma reflexão urgente: em um tempo em que a influência vale mais do que o conteúdo, e o sucesso pode ser medido em curtidas, o que ainda tem valor?


Sinopse de "Bet Balanço"
Jurandir é um homem comum, íntegro, batalhador, que um dia vê sua vida mudar após recusar, e depois aceitar, uma proposta milionária para divulgar uma casa de apostas online. A partir dessa escolha, ele mergulha numa espiral de lembranças, dilemas morais e questionamentos sobre sucesso, fama e dinheiro. Partindo da Teoria do Medalhão, de Machado de Assis, a história atualiza o conto para expor os bastidores de uma sociedade onde parecer vale mais do que ser, e onde a linha ética entre ganância e ambição é cada vez mais turva. Tudo isso costurado por música ao vivo, bom humor e uma linguagem que mistura stand-up, teatro e crítica social. BET BALANÇO é uma tragicomédia contemporânea sobre o preço das escolhas num mundo que transformou a influência em moeda e a vaidade em virtude.

 
Serviço
Espetáculo "Bet Balanço". 
Sábados, às 23h00. Teatro Itália - Av. Ipiranga, 344 ,  República / São Paulo. Ingressos: R$ 80,00 (inteira) R$ 40,00 (meia). Classificação: 12 anos.

.: Cine Dom José, no centro de São Paulo, é palco para peça “Sinfonia Capital"


O Cine Dom José é um cinema com exibições de conteúdo adulto, ativo, localizado no centro de São Paulo e abriga há 15 anos a Cia. Les Commediens Tropicales. Cena do espetáculo. Foto de Cia. LCT


Celebrando 20 anos de atuação na cidade de São Paulo, o grupo teatral Cia. LCT e o quarteto à Deriva estreiam o espetáculo “Sinfonia Capital - Em Tempos de Segunda Mão”. A temporada acontece no Cine Dom José, até dia 31 de agosto, com sessões de quinta a domingo, às 20h, totalizando 20 apresentações. O ponto de encontro com o público é na Galeria Olido, em São Paulo.

A peça é livremente inspirada no livro “O Fim do Homem Soviético” (2013), da escritora bielorrussa, vencedora do Nobel de Literatura de 2015, Svetlana Alexijévich. A dramaturgia foi construída por Carlos Canhameiro, que está em cena ao lado de Beto Sporleder, Daniel Gonzalez, Daniel Muller, Guilherme Marques, Michele Navarro, Paula Mirhan, Rodrigo Bianchini e Rui Barossi.

Para explorar os escombros afetivos e ideológicos do pós-socialismo, a montagem recria, dentro do cinema, uma típica cozinha soviética, transformando o espaço íntimo em um território também político, onde vozes, memórias e fantasmas dividem o pão com o presente. O cenário é assinado por José Valdir Albuquerque e aposta na cor vermelha, inspirado na obra Desvio para o Vermelho, de Cildo Meireles. Ao longo do espetáculo, o grupo prepara conservas de tomate ao vivo, em referência à tradição russa; ao final, os potes podem ser adquiridos pelo público.

Em funcionamento desde 1976, o Cine Dom José é um conhecido cinema adulto. “Estamos hospedados no Cine Dom José desde 2009, e realizar uma peça dentro da sala de cinema é um sonho antigo. Acredito que, para o público, será um encontro inusitado entre linguagens artísticas distintas - arquitetura, teatro, música, cinema - além de gerações e histórias quase esquecidas”, comenta Canhameiro.


Sobre a encenação
A narrativa do espetáculo se organiza como uma sinfonia em quatro movimentos - ideia que, inclusive, inspirou o título da obra. Nesse contexto, a música não serve apenas como trilha, mas conduz a encenação. “Uma sinfonia costuma ser composta por quatro movimentos. Seguimos essa estrutura para criar a peça, variando os temas presentes no livro de Svetlana. Há um prólogo, seguido por movimentos que exploram a cozinha política - espaço de conspiração e reflexão soviética -, o amor, a cultura e, por fim, um réquiem”, explica o dramaturgo.

 A Cia. LCT e o quarteto À Deriva mantêm uma parceria criativa há 13 anos, e em Sinfonia Capital é a música que estrutura a dramaturgia da peça. A montagem explora as características estéticas do quarteto - com ênfase na improvisação sonora - em diálogo com a voz da cantora Paula Mirhan, combinando canções experimentais e atmosferas que transitam entre o épico e o intimista. Neste contexto, o cinema se transforma também em palco para um concerto musical.

 Definida como uma ficção documental, “Sinfonia Capital” investiga o que resta após o colapso do mundo soviético e de um modo de vida - e o que ainda resiste a desaparecer. A cada movimento da sinfonia, tensionam-se as fronteiras entre política, intimidade e arte. Com esse mosaico de vozes, a Cia. LCT e o quarteto À Deriva reforçam a ideia de que a memória coletiva se constrói, sobretudo, a partir das experiências individuais e dos relatos de pessoas comuns - mais do que pelos grandes acontecimentos históricos. “Svetlana desenvolve em seus livros um trabalho minucioso de escuta e reconstrução da memória e do passado. Como seria inviável levar todos os depoimentos do livro O fim do homem soviético para o palco, buscamos compreender o método da autora e criar nossa própria experiência cênica, partindo da ideia de que o fim, na verdade, é uma ilusão”, explica Canhameiro.

 O trabalho conta com interlocuções cênicas de Maria Thaís, Jé Oliveira e Janaina Leite. O projeto foi contemplado pela 43ª Edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo - Secretaria Municipal de Cultura.


Atividade paralela - Cine Conserto
A Cia. LCT também se destaca por suas produções audiovisuais em parceria com a Brutaflor Filmes. Como parte das comemorações de seus 20 anos, a companhia exibirá gratuitamente quatro obras cinematográficas na sala de cinema do Cine Dom José.

 As exibições contarão com trilha sonora ao vivo do quarteto À Deriva e intervenções cênicas dos atores e atrizes da companhia. As obras escolhidas são o documentário Medusa in Conserto e as videoartes Música para Poltronas Vazias, in.verter à deriva e omuroreverorumo. Cada título terá três sessões, sempre às segundas, terças e quartas-feiras, às 20h, ao longo do mês de agosto. O ponto de encontro com o público será na Galeria Olido. Entrada gratuita.


Sinopse
"Sinfonia Capital - Em Tempos de Segunda Mão" é a nova criação da Cia. LCT com o quarteto À Deriva, celebrando 20 anos de trajetória conjunta. Livremente inspirada em "O Fim do Homem Soviético", de Svetlana Aleksiévitch, a peça ocupa o Cine Dom José, transformado em cozinha soviética, e propõe uma sinfonia em quatro movimentos onde música e memória constroem a cena. Entre ruínas afetivas e ecos históricos, a peça é uma elegia documental sobre o que resiste a desaparecer em tempos de vidas de segunda mão.


Ficha técnica
Espetáculo "Sinfonia Capital - Em Tempos de Segunda Mão" 
Encenação: Cia. LCT & quarteto À Deriva
Dramaturgia: Carlos Canhameiro a partir do livro "O Fim do Homem Soviético", de Svetlana Aleksiévitch
Elenco: Beto Sporleder, Carlos Canhameiro, Daniel Gonzalez, Daniel Muller, Guilherme Marques, Michele Navarro, Paula Mirhan, Rodrigo Bianchini e Rui Barossi
Criação musical e música ao vivo: quarteto À Deriva e Paula Mirhan
Iluminação: Daniel Gonzalez
Cenário: José Valdir Albuquerque
Figurinos: Anuro e Cacau Francisco
Interlocução cênica: Janaina leite, Jé Oliveira e Maria Thaís
Pensamento corporal: Andreia Yonashiro
Preparação vocal e canto: Yantó
Videocenografia: Vic von Poser
Técnico de som: Pedro Canales
Técnico de luz: Cauê Gouveia
Produção: Mariana Pessoa
Assistência de produção: Leonardo Inocêncio
Estagiária: Beatriz Guelfi
Estudos teóricos: Elena Vassina, Jean Tible, Marcela Morgana e Mario Ramos Francisco
Apoio: FJ Cines
Este projeto foi contemplado pela 43ª Edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo - Secretaria Municipal de Cultura


Serviço
Espetáculo "Sinfonia Capital - Em Tempos de Segunda Mão" 
Até dia 31 de agosto, de quinta a domingo, às 20h
Local: Cine Dom José - ponto de encontro: Galeria Olido (entrada lateral)
Endereço: Rua Dom José de Barros, 312 - República / São Paulo
Atenção - Ingressos reservados somente pela Sympla. Não há bilheteria física no local e não poderá entrar após o início do espetáculo. A meia-entrada é R$ 20,00 ; a inteira R$ 40,00 (inteira)
Duração: 90 minutos
Classificação: 14 anos
Capacidade: 50 lugares
Acessibilidade: o espaço não conta com infraestrutura acessível para pessoas com dificuldade de locomoção.

.: "São Paulo Surrealista" faz Teatro do Incêndio confrontar o conservadorismo


Sucesso no repertório da companhia, a peça questiona um mundo em ruínas, e integra a programação dos 30 anos de trajetória que o Teatro do Incêndio comemora em 2026. Foto: André Pottes

O Teatro do Incêndio, agora sob gestão da Colmeia Produções, volta em cartaz com "São Paulo Surrealista - Corpo Antifascista", até dia 31 de agosto de 2025. As sessões ocorrem aos sábados e domingos, às 20h00. O espetáculo é um ritual teatral dirigido por Marcelo Marcus Fonseca, que mergulha no surreal para retratar símbolos e fantasias de São Paulo. É uma ode à cidade e seus personagens, confrontando - em um jogo de imagens sobrepostas - as contradições e fantasias da metrópole.

A peça, que cumpriu temporadas com ingressos esgotados em 2012, 2013, 2014 e 2019, retornou atualizada em 31 de maio de 2025, debochando da atual onda de conservadorismo, tendo no movimento surrealista a inspiração política de provocar as estruturas pela imagem poética. Claudio Willer (1940 - 2023) - escritor e poeta, cujos vínculos literários são com a criação mais rebelde e transgressiva, como o surrealismo e geração beat - foi consultor da companhia para esse projeto. Willer será homenageado nessa versão 2025.

O espetáculo não conta necessariamente uma história. O que não significa que a peça não tenha uma dramaturgia sólida e uma linha narrativa. Para revelar a cidade real, nada é realista. Os textos são colagens emolduradas por imagens e figuras da metrópole, sejam elas reais ou distorcidas, tendo na música ao vivo um elemento essencial para traduzir sua pulsação.

Mário de Andrade, Roberto Piva, Pagu, nativos, cidadãos comuns, ninfas e animais recebem o surrealista André Breton, observado por Antonin Artaud (dramaturgo francês, surrealista), para um mergulho na capital paulista, percorrendo Os Nove Círculos do Inferno de Dante Alighieri. “Esta montagem propõe também que o espectador perceba a cidade pelos olhos de André Breton, um dos criadores do surrealismo, em um jogo que ressalta pontos turísticos, monumentos, terreiros, restaurantes e bordeis paulistanos”, explica Marcelo Marcus Fonseca.

O público precisa, invariavelmente, ir fantasiado ao teatro ou não será permitido seu ingresso. “Como em um carnaval estendido, o público deve chegar ao teatro com figurinos para compor a plateia como personagem. Vale tudo”, afirma o diretor Marcelo Marcus Fonseca, liberando os espectadores usarem a criatividade. Em cena estão 25 artistas em uma celebração musical da cidade com alusões ao cinema de Pier Paolo Pasolini e Frederico Fellini e textos escritos durante o processo e com colaboração do elenco da primeira montagem, com base na escrita automática característica do Surrealismo. Todas as canções foram compostas por Marcelo Fonseca e Wanderley Martins especialmente para o espetáculo, algumas delas “em parceria” com Arthur Rimbaud e Charles Baudelaire.


O projeto
Esta temporada integra o projeto Aumentar É Aumentar-se, que dá início às comemorações dos 30 anos de trajetória que a Companhia Teatro do Incêndio completa em 2026, agora com toda a sua programação sob gestão da Colmeia Produções. Completam a programação: montagens de dois espetáculos inéditos - "Dois Perdidos Numa Noite Suja", de Plínio Marcos, e "Vocês Não Entenderam Nada", de Marcelo Marcus Fonseca, livremente inspirado em René de Obaldia (15/11 a 15/12); "Incêndios da Memória - Rodas de Conversa e Vivências" (2/8 a 6/9, sábados, às 15h) e show "Com o Coração na Boca", de Cida Moreira e Rodrigo Vellozo;  ações de projeto permanente "A Aurora É Coletiva - Iluminar" (curso de iluminação para jovens maiores de 18 anos), "Vivência Artística" (para jovens maiores de 18 anos) e "Residência Artística" (para um grupo, coletivo ou coletividade desenvolver suas atividades artísticas e de pesquisa na sede do Teatro do Incêndio).


Ficha técnica | "São Paulo Surrealista - Corpo Antifascista". Com: Cia. Teatro do Incêndio. Projeto: Aumentar é Aumentar-se. Roteiro e direção geral: Marcelo Marcus Fonseca. Elenco: Josemir Kowalick, André Pottes, Amy Campos, Marcelo Marcus Fonseca, Isabela Alonço, Livia Melo, Sabrina Sartori, Mariana Peixoto, João Paulo Villela, Anna Bia Viana, Thauany Mascarenhas, Camilo Guadalupe, Sabrina Rodriguez, Bruno Vizzotto, Ana Ferrari, Stefanie Araruna, João Victor Silva, Giovanna Garcia, Fiore Scheide e Joviana Venture. Direção musical: Dedéco (André Pereira Lindemberg). Direção musical original: Wanderley Martins. Música ao vivo: Xantilee Jesus, Bruno Vizzotto, Ricardo Martins e Dedéco. Iluminação: Rodrigo Sawl. Cenografia: Marcelo Marcus Fonseca. Figurino: Sabrina Sartori. Aderecista: Vyvy Vanazzi. Fotos: Kym Kobayashi e Cristiano Pepi. Designer gráfico: Livia Melo. Assessoria de mídias sociais: Amy Campos. Assessoria de imprensa: Verbena Comunicação. Direção de produção: Vanda Dantas. Gestão: Colmeia Produções. Realização: Cooperativa Paulista de Teatro - CPT, Edital Fomento CULTSP PNAB Nº 38/2024 Manutenção e Modernização de Espaços Culturais - Programa de Ação Cultural - ProAC São Paulo, da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo, do Ministério da Cultura e do Governo Federal e Cia. Teatro do Incêndio.


Serviço
Espetáculo "São Paulo Surrealista - Corpo Antifascista"
Temporada: 2 a 31 de agosto - Sábados e domingos, às 20h
Ingressos: R$ 40,00 (inteira) e R$ 20,00 (meia-entrada)
Vendas on-line - https://www.sympla.com.br/evento/sao-paulo-surrealista-corpo-antifascista-temporada-popular/2998801 
Bilheteria: uma hora antes das sessões. Aceita dinheiro, PIX e cartão.
Gênero: surrealismo. Duração: 70 minutos. Classificação: 18 anos.
Importante: É obrigatório ao público ir com figurino (criação livre).
Local: Teatro do Incêndio
Rua Treze de Maio, 48 - Bela Vista/Bixiga. São Paulo/SP.
Tel.: (11) 2609-3730. Na Rede: @teatrodoincendiooficial
Estacionamento pago em frente ou entorno ao Teatro.

.: “Aonde Está Você Agora?”, inspirada em música da Legião Urbana, em cartaz


Os atores Felipe Camacho e Marcos Moraes no espetáculo retrata o poder da amizade e da memória, com inspiração na música “Vento no Litoral”, da banda Legião Urbana. Foto: divulgação


A peça “Aonde Está Você Agora?” chega aos palcos de São Paulo está em cartaz até o dia 28 de agosto, sempre às quintas-feiras, às 20h30, na Casa de Artes SP. O texto é de Regiana Antonini, direção de Marinho Moraes e no elenco Felipe Camacho e Marcos Moraes. O espetáculo retrata o poder da amizade e da memória, com inspiração na música “Vento no Litoral”, da banda Legião Urbana.

A trama acompanha a trajetória de Pedro e Gabriel, dois garotos que apesar das diferenças sociais, desenvolvem uma profunda amizade, mas se separam na juventude, mantendo contato apenas através de memórias, pensamentos e um “Livro da Sorte”. A história se desenrola ao longo de sete anos, com passagens entre as cidades de Vila Velha, no Espírito Santo, e Nova Iorque, nos Estados Unidos, nas décadas de 80 e 90. Os flashbacks revelam momentos marcantes da juventude e os sonhos que os uniram.

Esta é a primeira vez que a autora Regiana Antonini, conhecida por seu olhar poético e delicado sobre as relações humanas, apresenta esta montagem na cidade de São Paulo, que já passou por diversas cidades brasileiras e algumas cidades no exterior. A produção também marca a estreia do diretor Marinho Moraes, que dirige sua primeira peça teatral, Marinho é conhecido por dirigir diversas novelas infanto-juvenis no SBT, como Cúmplices de um Resgate, Poliana e A Infância de Romeu e Julieta.

No palco, Felipe Camacho estreia no teatro dando vida ao personagem Gabriel. Natural de Niterói , o cantor e ator de 28 anos iniciou a carreira artística após atuar como jogador de futebol profissional. Hoje se divide entre a música e o teatro, com formação em instituições como CAL, Tablado e Escola de Atores Wolf Maya.

Marcos Moraes, 38 anos, dá vida ao personagem Pedro. Com uma carreira teatral e passagens pela TV, Marcos é formado pelo Teatro Escola Macunaíma e soma mais de 12 espetáculos no currículo, além de experiências como assistente de direção e diretor de curta-metragem. A montagem tem duração de 60 minutos, com classificação livre e é uma realização da produtora Sonhos em Ação, em parceria com a empresa de assessoria MM Estratégia de Imagem. A primeira versão do espetáculo foi montada em 1995 e, desde então, a peça já ganhou 12 montagens diferentes, emocionando plateias de várias regiões do país.


Serviço
Peça: “Aonde Está Você Agora?”
Texto: Regiana Antonini
Direção geral: Marinho Moraes
Elenco: Felipe Camacho e Marcos Moraes
Curta temporada: 31/07 a 28/08
Dias: Quintas-feiras, às 20:30h
Duração: 60 minutos
Classificação: 12 anos.
Produção: Sonhos em Ação e MM Estratégia de Imagem.
Local: Casa de Artes SP - Rua Major Sertório, 476, - Vila Buarque - São Paulo / SP.
Valor: À partir de R$ 40,00
Ingressos disponíveis em: Link
Cupom de desconto (10% OFF): AONDEESTAVOCEAGORA

sábado, 2 de agosto de 2025

.: Flavia Garrafa diante do abismo entre falar e fazer alguma coisa a respeito


Por Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com. Foto: João Neto

Existe algo de perigoso em transformar sofrimento em risadas e Flavia Garrafa sabe disso. Psicóloga por formação, atriz por vocação e escritora por necessidade de se expressar, ela circula há mais de 30 anos por esse terreno movediço em que o comportamento humano serve de matéria-prima para a comédia que, por sua vez, revela o que as pessoas preferem varrer para debaixo do tapete.

Nos solos "Fale Mais Sobre Isso" e "Faça Mais Sobre Isso", ambos dirigidos pelo irmão dela, Pedro Garrafa, a atriz dá corpo, voz e crise à terapeuta Laura: uma mulher de 40 e poucos anos, exausta de atender o mundo, mas ainda tentando escutar a si própria. A personagem, que virou uma espécie de alter ego cênico da autora, volta aos palcos agora no Teatro Multiplan, no MorumbiShopping, em São Paulo - com sessões duplas: "Fale Mais Sobre Isso", às quintas-feiras, às 20h30 (de 7 de agosto a 25 de setembro), e "Faça Mais Sobre Isso" aos sábados, às 22h00 (de 2 de agosto a 27 de setembro).

Embora compartilhem a mesma protagonista e a mesma lente analítica sobre as dores contemporâneas, as peças não são exatamente uma sequência. "Fale Mais Sobre Isso" marca o primeiro passo: o de reconhecer e verbalizar o desconforto. Já "Faça Mais Sobre Isso" propõe o mergulho posterior - a difícil arte de agir, de sair do discurso e encarar a vida com suas lacunas e tentações de fuga. Ao completar dez anos em cartaz, "Fale Mais Sobre Isso" ganhará uma adaptação para o formato romance. O livro trará a dramaturgia original e passagens inéditas que ficaram de fora da encenação. Neste diálogo exclusivo com o Resenhando.com, Flavia fala sobre terapia, humor, esgotamento, ser paciente da própria história e o que significa fazer comédia quando o mundo parece ter esquecido de rir de si mesmo.

Resenhando.com - ⁠Você se divide entre o palco e o divã, mas se tivesse que escolher: o que cura mais,  a catarse do teatro ou o silêncio cúmplice da terapia?
Flavia Garrafa Ah... assim não vale! São coisas diferentes. Eu sou muito mais feliz quando estou no palco. É meu lugar preferido no mundo, mas não acho que ele resolva todas as questões. A terapia possibilita, entre outras coisas, um mergulho fundo em si mesmo e uma quebra de ciclos que são incomparáveis. Agora, tenho que admitir que estar longe dos palcos já me levou à terapia tamanho o meu desassossego.

Resenhando.com - ⁠⁠Laura, sua personagem, é uma terapeuta sobrecarregada. E a Flavia, onde guarda os próprios colapsos quando não há ninguém para ouvir?
Flavia Garrafa Flávia é uma pessoa que vai à terapia e que faz atividade física. Pior do que ser sobrecarregada é deixar o sistema nervoso e o emocional à mercê das pressões e agendas. Olhar para dentro e exercitar-se para mim são ferramentas essenciais para não pirar… muito , né? Porque um pouco todo mundo pira.

Resenhando.com - ⁠⁠“Fale Mais Sobre Isso” vai virar livro. O que ficou entalado na peça e só conseguiu sair no papel? Alguma censura interna foi vencida ali?
Flavia Garrafa A ideia do livro veio de tantos pedidos de trechos  da peça. As pessoas saiam do teatro depois do "Fale Mais Sobre Isso"  e me pediam, "onde posso ter o texto?". "Onde tem aquele trecho?". Então decidi, nesse aniversário de dez anos , fazer o livro. E na hora de fazer, de romancear a peça, percebi que precisava rechear um pouco mais… Mas nada que estivesse entalado. Entalada mesmo só a vontade de escrever o livro mesmo (risos).


Resenhando.com - ⁠Entre falar sobre o que dói e, de fato, fazer algo a respeito, há um abismo. Qual foi a dor da sua vida que você falou demais... mas demorou a enfrentar?
Flavia Garrafa Eu tenho um dor que toda hora me cutuca que é a pressa, o querer tudo agora, em querer resolver… Aí tenho épocas mais calmas que eu deixo a vida fazer por ela mesma, mas sempre volta esse imediatismo que me atrapalha tanto. É uma vigia constante e fazer um pouco todo dia para não perder a mão.

Resenhando.com - ⁠⁠Você já atendeu alguém na vida real que mereceria virar personagem?
Flavia Garrafa Agora uma surpresa: eu NUNCA atendi ninguém!! (Risos) Sou formada em psicologia , fiz até o fim, atendi na faculdade, mas depois fui ser atriz e nunca atendi ninguém, para o bem da humanidade, Mas... li sobre muitos atendimentos... e... nem precisa atender, né? Tem cada pessoa na vida real que é um prato cheio para dramaturgos. Algumas eu até conheço na vida real e estão na minha peça, mas aí... não posso dar nomes .


Resenhando.com - ⁠⁠Seu ex-marido, Pedro Vasconcelos, teve a ideia inicial de “Fale Mais Sobre Isso”. Hoje, com outro Pedro na direção - seu irmão -, o que mudou na maneira como você é conduzida em cena? É possível ser dirigida por um irmão sem querer fazer análise familiar em cada ensaio?
Flavia Garrafa Olha, nesse caso é tudo junto misturado mesmo. O Pedro Garrafa me conhece mais do que qualquer pessoa, então é fácil e difícil. Fácil porque sabe como me acessar, difícil porque sabe como me acessar! (Risos) Mas sabe que isso é bom? As duas peças são muito pessoais e o Pedro é muito respeitoso e criativo. Eu estou me jogando sem rede de proteção, mas sei que ele é uma pessoa e meu diretor que está absolutamente do meu lado e por mim. Vale ressaltar que ele só é o diretor porque é muito talentoso e não porque é meu irmão. Mas o fato de ser meu irmão numa construção familiar tão amorosa ajuda a ser feliz no processo.


Resenhando.com - ⁠A senhorinha Alice começa a falar o que sente aos 78. Que verdades você mesma adiou demais para dizer? Já foi Alice alguma vez?
Flavia Garrafa Tem muitas verdades que eu adio, muitas delas por falta de espaço, ou mesmo por ainda não ter tanta certeza e conhecimento. É um processo. Já fui a Alice muitas vezes. Sou mulher, né? Fui criada para ser amável e tentar agradar, uma herança do patriarcado  que carregamos muito. Mas teve uma época que falava tudo o que sentia, como se tivesse tirado uma tampa e, nesse caso, era igualmente ineficiente. Bom equilíbrio: quando falar e quando calar é o que busco. Às vezes encontro, às vezes perco de novo...


Resenhando.com - ⁠⁠Dra. Laura se equilibra entre cuidar dos outros e dar conta de si. Você já sabotou sua saúde mental em nome da arte?
Flavia Garrafa Minha saúde mental já foi muita sabotada, mas não diria em nome da arte, mas em nome de um sistema que as vezes ela é inserida. Competição por papéis, necessidade de ser magra, de estar num padrão, frustrações em testes. Ser atriz não é para amadores definitivamente. Mas o mesmo remédio que cura é o que envenena, né? Pois bem, já me curei muito na arte também. A “conta fecha” e ainda me dá um saldo muito positivo.


Resenhando.com - ⁠⁠Em um país que mal escuta seus terapeutas e muito menos suas atrizes, o que ainda move você a fazer comédia reflexiva em meio ao caos?
Flavia Garrafa É exatamente o caos que me move a fazer uma comédia reflexiva. Todos estamos no caos  e é nele que temos que recorrer de recurso para sermos felizes. Uma comédia reflexiva que fale sobre a vida e mudanças no teatro é um recurso e tanto.


Resenhando.com - ⁠⁠Se a Flavia de 2025 encontrasse a Flavia de 1992, prestes a estrear no teatro com “Noite Que Te Quero Dia”, o que diria: “fale mais sobre isso” ou “faça mais sobre isso”?
Flavia Garrafa Eu diria: "Faça mais sobre isso , Flávia… Vai dar certo!". E vai dar errado também… Então Faça mais… Fale mais, viva mais... sempre focando no agora!


Serviço
Espetáculo "Fale Mais Sobre Isso"
Teatro Multiplan – MorumbiShopping - Av. Roque Petroni Júnior, 1089 – Piso G1 – Jardim das Acácias / São Paulo
Quintas-feiras, de 8 de agosto a 26 de setembro de 2025, às 20h30
Ingressos à venda na bilheteria do teatro e pelo Sympla : R$ 90 (inteira) | R$ 45 (meia)
Classificação indicativa: 14 anos
Duração: 60 minutos


Espetáculo "Faça Mais Sobre Isso"
Teatro Multiplan – MorumbiShopping - Av. Roque Petroni Júnior, 1089 – Piso G1 – Jardim das Acácias / São Paulo
Sábados, de 3 de agosto a 27 de setembro de 2025, às 22h00
Ingressos à venda na bilheteria do teatro e pelo Sympla : R$ 90 (inteira) | R$ 45 (meia)
Classificação indicativa: 14 anos
Duração: 60 minutos

.: Pinóquio é trans? Edição da Maralto mostra o que você não viu na Disney


Por Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com.

Em italiano toscano, a palavra "pinocchio" significa “pinhão”. De acordo com o estudioso Gérard Génot, há algo nessa simbologia: o pinhão é a carne escondida dentro da madeira, a semente dura que precisa ser arrancada antes que a pinha seja jogada ao fogo. Pinóquio, então, é a promessa de carne dentro da madeira. Uma alma tentando nascer dentro de uma casca. Por isso, a verdadeira jornada de Pinóquio não é moral, mas existencial e por isso, talvez o personagem de Carlo Collodi, seja o primeiro trans da literatura universal. 

Pinóquio é, antes de tudo, um símbolo legítimo de metamorfose - madeira tentando virar carne e osso, como alguém que espreme a alma em um corpo a que não pertence. Ele é um boneco de madeira, mas se sente um menino. E é exatamente esse lado visceral, poético e inquietante que reaparece e agora pode ser observado mais atentamente na edição luxuosa de "As Aventuras de Pinóquio", lançada pela Maralto Edições. 

Pode parecer uma heresia vincular essa teoria a uma figura tão consagrada no imaginário infantil. Mas é um personagem que, aos olhares atentos, oferece diversas interpretações. Não se engane: Pinóquio nunca foi feito para agradar ou para mudar a personalidade de crianças desobedientes - pelo contrário: talvez até incentivasse a rebeldia. Tampouco surgiu para ser mascote de estúdio de animação, ícone da cultura pop e das lojas de brinquedo, ou estampa de camiseta descolada, como acabou se tornando ao longo de gerações. 

Visualmente, o livro é uma pequena obra de arte em formato narrativo. Com projeto editorial assinado por Raquel Matsushita, tradução primorosa de Vanessa C. Rodrigues, e ilustrações da argentina Juliana Bollini, essa edição é um clássico apresentado com o cuidado gráfico meticulosamente pensada para ser um objeto de desejo. Nascida em Buenos Aires e radicada em São Paulo, a ilustradora da obra transforma lixo em milagre. No ateliê que mantém desde os 24 anos, cria personagens a partir de papel, tecido, madeira, brinquedos quebrados, garrafas pet e toda sorte de material que carregue histórias e texturas esquecidas. 

Nessa obra, cada personagem foi literalmente construído. Mais que meros enfeites de uma edição bonita e bem cuidada, as imagens do livro são esculturas fotografadas, teatralizadas e vibrantes. O tubarão, por exemplo, foi feito com um pedaço de madeira trazido pelo mar. Há, nessa materialidade, um lúdico coerente com a história que vem sendo contada. É o clássico tratado com muito respeito e reverência que merece.

Isso faz todo o sentido, porque a obra italiana, publicada originalmente em 1883, não é a história suavizada que muitos conhecem pela animação da Disney. Trata-se de um folhetim áspero e filosófico escrito por Carlo Collodi (pseudônimo de Carlo Lorenzini, jornalista e crítico teatral envolvido nos movimentos de unificação da Itália), que criou um herói insuportável: egoísta, mentiroso, impulsivo, teimoso e inconsequente que só quer ser amado por quem quer que seja. 

A tradução de Vanessa C. Rodrigues não suaviza essa crudelidade da vida perante o personagem. Pelo contrário, ao manter a ironia madrasta do texto original, a tradutora devolve ao leitor a complexidade de um texto que se recusa a ser apenas uma “fábula da moralidade”. Quando a Maralto Edições publica esse clássico - à venda no e-commerce da Maralto Edições e em livrarias parceiras - com tanta força, respeito e beleza, ela faz mais do que um resgate editorial. Seja adulto ou jovem, quem lê esse livro sai diferente. É um clássico e, talvez, um livro infantil. Pinóquio, mesmo quando mente, obriga o leitor a encarar verdades. A luta por pertencimento - o mais moderno dos desejos - faz com que Pinóquio tente ser alguém melhor do que é. Isso é lindo. 

.: "Passos": peça teatral inspirada no dorama "Navillera" está em cartaz


Com dramaturgia de Renata Mizrahi e direção de Victoria Ariante, novo trabalho do grupo conta história de um homem que, aos 70 anos, decide realizar o sonho de dançar. Foto: Mari Jacinto


Depois de encenar sua trilogia de peças - "O Legítimo Pai da Bomba Atômica", "Desobediência" e "Os Três Sobreviventes de Hiroshima" - sobre os horrores e consequências da Segunda Guerra Mundial, o Coletivo Oriente-se e a Nagai Produções propõem uma reflexão sobre o envelhecimento, as diferenças geracionais e a exclusão da população idosa em seu novo trabalho. Passos é livremente inspirado no dorama (termo usado para se referir aos dramas coreanos) “Navillera”, disponível na Netflix.

Com dramaturgia de Renata Mizrahi e direção de Victoria Ariante, a peça tem sua temporada de estreia no Teatro Itália, de 1º a 31 de agosto, com apresentações às sextas-feiras, às 20h00; aos sábados, às 19h00; e aos domingos, às 18h00. O elenco conta com Edson Kameda, Caio Mutai, Gilberto Kido, Winnie Moriyama e Emilia Kiyohara.

A montagem conta a história de Aurélio, que sempre amou dançar, mas não pôde seguir essa paixão, porque precisava garantir o sustento de sua família. Quando finalmente se aposenta, aos 70 anos, decide se matricular em uma escola de dança. No entanto, o que ele não esperava era enfrentar o preconceito do próprio professor, o jovem Hugo, que o provoca constantemente sobre seus limites físicos.

Ao explorar esse embate entre gerações, a peça propõe uma série de reflexões sobre os sonhos, a resiliência, os preconceitos contra pessoas de 60+, a exclusão, o choque intergeracional, mas também sobre a possibilidade do encontro e aprendizado entre gerações, da empatia e da transformação através da arte.


Ficha técnica
Espetáculo "Passos"
Texto: Renata Mizrahi.
Direção: Victoria Ariante.
Elenco: Edson Kameda, Caio Mutai, Gilberto Kido, Winnie Moriyama e Emilia Kiyohara.
Produção executiva: Giuliana Pellegrini.
Idealização, direção de produção e coordenação geral: Rogério Nagai.
Criação e operação de luz: Ícaro Zanzini.
Locução, voz em off, video e operação de som: Alexandre Mercki.
Cenografia e figurinos: Telumi Hellen.
Visagismo: Claudinei Hidalgo.
Composição original: Yugo Sano Mani.
Preparação corporal e coreografia: Keila Fuke.
Fotografia: Mari Jacinto.
Design gráfico e mídias sociais: Lol Digital.
Assessoria de imprensa: Pombo Correio.
Produtores associados: Caio Mutai, Edson Kameda e Rogério Nagai.
Realização: Prefeitura Municipal de São Paulo, Secretaria Municipal de  Cultura e Economia Criativa, Lei de Fomento ao Teatro, Coletivo Oriente-se e NAGAI Produções.
Este projeto foi contemplado pela 44° edição do programa municipal de fomento ao teatro para a cidade de São Paulo - Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa.


Serviço
Espetáculo "Passos", com o Coletivo Oriente-se
Temporada: até dia 31 de agosto de 2025
Às sextas-feiras, às 20h00;  aos sábados, às 19h00; e aos domingos, às 18h00
Teatro Itália - Av. Ipiranga, 344 - Subsolo - República / São Paulo
Ingressos populares: R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia-entrada)
Bilheteria: abre duas horas antes de cada apresentação
Classificação: 10 anos
Duração: 80 minutos
Capacidade: 274 lugares (4 cadeiras para pessoas obesas)
Acessibilidade: teatro acessível a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida

.: Grátis: versão de “A Casa de Bernarda Alba”, dos Satyros, será apresentada


Espetáculo revisita clássico de Federico García Lorca em versão provocadora sobre repressão, gênero e desejo. Foto: André Stefano, Tai Zatolinni e Aloander Oliveira


O grupo Os Satyros leva aos palcos do Teatro Sérgio Cardoso o espetáculo "A Casa de Bernarda Alba", clássico de Federico García Lorca escrito em 1936. A montagem acontece nesta segunda-feira, dia 4 de agosto, às 20h00, com entrada gratuita. No espetáculo, após a morte do marido, Bernarda Alba impõe um rigoroso luto às cinco filhas, confinando-as dentro de casa sob uma disciplina inflexível. Neste espaço de reclusão e desejo contido, rivalidades, paixões proibidas e tensões crescentes anunciam uma tragédia prestes a eclodir. 

A versão dos Satyros atualiza a potência simbólica da obra ao propor múltiplas formações de elenco: exclusivamente feminina, exclusivamente masculina e elenco misto. Com isso, os criadores ampliam os sentidos da narrativa, abordando de forma crítica o patriarcado, o machismo estrutural e as normas de gênero. Com direção de Rodolfo García Vázquez e adaptação de Ivam Cabral, a encenação une drama intenso à investigação estética, vocal e corporal. A trilha sonora original é assinada por Felipe Zancanaro e as canções foram compostas por André Lu, que também integra o elenco. A proposta é provocar reflexões sobre poder, silenciamento e liberdade numa sociedade ainda marcada por opressões.


Ficha técnica
Espetáculo "A Casa de Bernarda Alba", com Os Satyros
Direção artística: Rodolfo García Vázquez
Assistente de direção: Renatto Moraes
Pesquisa: Ivam Cabral
Tradução: Rodolfo García Vázquez
Adaptação: Ivam Cabral
Cenografia: Caio Rosa
Aderecista: Elisa Barboza
Iluminação: Flavio Duarte
Desenho de som: Thiago Capella e Felipe Zancanaro
Canções originais: André Lu
Trilha sonora Original: Felipe Zancanaro
Voz Off: Ivam Cabral
Berimbau gravado: Zé Vieira
Operação de luz: Flavio Duarte
Operação de som: Jota Silva
Preparação vocal: André Lu
Direção de coreografia e Flamenco: Neni Benavente
Figurino: Senac Lapa Faustolo – Curso livre de criação e desenvolvimento de figurino
Docentes: Maíra D. Pingo e Fábio Martinez
Idealização: Os Satyros
Elenco: Alessandra Rinaldo, Alex de Felix, André Lu, Anna Paula Kuller, Augusto Luiz, Beatriz Diaféria, Diego Ribeiro, Eduardo Chagas, Elisa Barboza, Felipe Estevão, Gabriel Mello, Guilherme Andrade, Guilherme Colosio, Gustavo Ferreira, Heyde Sayama, Isa Tucci, Julia Bobrow, Karina Bastos, Luís Holiver, Marcia Dailyn, Mariana França, Tai Zatolinni, Tammy Aires, Vitor Lins e Wil Campos.


Serviço
Espetáculo "A Casa de Bernarda Alba", com Os Satyros
Segunda-feira, dia 4 de agosto, às 20h00
Ingressos: Gratuitos | Retirada na bilheteria 1 hora antes do início do espetáculo
Duração: 100 minutos
Capacidade: 143 lugares + 6 espaços para cadeirantes
Classificação indicativa: 16 anos
Local: Teatro Sérgio Cardoso – Sala Nydia Lícia - Rua Rui Barbosa, 153 – Bela Vista, São Paulo/SP

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