sexta-feira, 17 de agosto de 2007

.: Resenha de "O Cerne da Questão", de Graham Greene

Por: Cadorno Teles

Em agosto de 2007


A morte em suas várias formas: Obra séria e bem amarrada ao estilo Greene.


Considerado um "romancista católico" pela crítica, uma alcunha que não gostava, preferia se chamado de escritor que tem como religião o catolicismo, o escritor inglês Henry Graham Greene (1904-1991) deixou diversos livros de ficção que marcaram a literatura mundial. Greene agrupava sua obra em duas categorias: romances e entretenimentos. Sua marca pessoal era tratar de questões morais e políticas do seu tempo por meio de histórias de suspense, mistério e drama, desenvolvidas em cima de uma meditação subliminar sobre os pecados. Bem que mereceu o Nobel de Literatura, premiação a qual foi indicado algumas vezes, mas que nunca levou.

Um autor que caprichou na ação e enveredou em conjunto as angústias do ser humano. Escritor tão popular, que era difícil de imaginar que há algum tempo não se via obras suas nas prateleiras dos lançamentos. Contudo, após o sucesso da adaptação para o cinema Fim de Caso, com Julianne Moore e Ralph Fiennes, seus títulos ganharam reedições.

Entre os quais, o livro "O Cerne da Questão" (The heart of the matter, tradução de Otacílio Nunes, 400 páginas, R$ 34,00) que a editora Globo publicou recentemente. Uma de suas obras mais marcantes, por mostrar os conflitos humanos em seus personagens – outro aspecto de sua obra – e que travam uma guerra impessoal em torno de questões como o livre arbítrio ou a graça. Algo que remete ao catolicismo, religião que Greene abraçou em 1926. Sentidos ocultos em lugares distantes seria uma crítica resumida de suas características narrativas.

Com o brilhante prefácio do critico e professor Carlos Vogt, O Cerne da Questão é uma obra séria, bem amarrada ao estilo claro que Greene construiu. Publicado originalmente em 1948, ganha agora uma nova tradução, bem reformulada deste o seu título, anteriormente O Coração da Matéria ao final da narrativa.

Ambientada num país africano da África Ocidental, que sabemos ser Serra Leoa, por meio das memórias escritas pelo autor, O Cerne da Questão, narra os problemas enfrentados por Henry Scobie, major da policia colonial inglesa, durante o período da II Guerra Mundial.

 Vivendo naquele local com sua esposa, Louise, uma mulher solitária que adora poesia, que se sente estranha e isolada naquela sociedade. O major inglês sente-se responsável por sua felicidade, e tenta ajudá-la, mas traumatizado com a morte da filha em um naufrágio e descontente com tudo ao seu redor, sente-se incapaz de amar alguém, somente a Deus.

 Católico, Scobie prefere enviar sua esposa para a África do Sul, para não a ver sofrer. Principalmente após perder a chance de ser nomeado Comissário, afligindo mais ainda Louise, por suas esperanças pessoais. Nesse ínterim, um novo naufrágio faz reaparecer a dor da perda em Scobie ao testemunhar a morte de uma menina, entre os sobreviventes estão um garoto para quem lê histórias no hospital e Helen Rolt, que fica viúva no acidente e se torna amante do major.

A chegada do novo inspetor, Wilson, que se apaixona por Louise e a chantagem de Yusef, contrabandista sério que descobre o seu adultério são elementos perturbadores do enredo deste romance. Scobie se encerra em seu desejo de perfeição à sua esposa, a sua amante, ao mundo, e nesse anseio em ser virtuoso a todo custo se rivaliza com Deus, em seu interior e a punição são a culpa e o castigo.

Um romance realista e na carreira de Greene, o romance é um livro capital. A temática do suicídio no final, colocado em dúvida aos personagens, e que para o leitor seja uma asserção de que o suicídio do protagonista é uma confissão do fracasso diante dos desígnios divinos ou um derradeiro ato de soberba de quem quer governar a própria morte.

Scobie é um personagem que lembra outras figuras que Greene construiu, como o jovem delator de contrabandistas em O Outro Eu (The man within, 1929), ou o desesperado Pinkie de O Condenado (Brighton Rock, ) ou ainda o sacerdote indigno de O Poder e a Glória (The Power and the Glory). Todas perseguidas por seus infortúnios, com a diferença que o perseguidor e a vítima são uma só pessoa; a caça aqui é simbَólica, ou serve, como uma intriga opaca que Greene desenvolve em seu convencionalismo. Um livro que culpa e expiação são os fios condutores de suas personagens. Vale a pena ler.

Graham Greene: foi um escritor inglês, com uma obra composta de novelas, contos, peças teatrais e críticas literárias e de cinema. Formou-se na Oxford University e começou sua carreira como jornalista, trabalhando como repórter e subeditor do Times. Publicou cerca de 60 romances. E fluiu com eles, com belas descrições visuais para as telas rapidamente, e muitas de suas obras marcaram a história do cinema, O Terceiro Homem, O Americano Tranqüilo, O expresso do Oriente , tornando um dos autores mais adaptados de todos os tempos.


Livro: O cerne da questão

Título Original: The heart of the matter

Autor: Graham Greene

400 páginas

Ano: 2007

Tradução: Otacílio Nunes

Editora: Globo

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

.: Resenha de "A Libélula no Âmbar", de Diana Gabaldon

Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em agosto de 2007


Romance continua em algum lugar do passado. Em "A Libélula no Âmbar", Diana Gabaldon, embarca na história e usa muita criatividade para cruzar a imaginação com a realidade do século XVIII.


Em um ambiente mágico e surpreendente por si só, o romance A Libélula no Âmbar, de Diana Gabaldon, acontece na Paris do século XVIII. Neste volume que dá sequência ao livro A viajante do tempo, que apresentou a protagonista inesquecível, Claire, uma mulher de personalidade forte, que busca o amor verdadeiro em meio a importantes acontecimentos históricos. Separada do marido poucos depois da lua-de-mel, quando ele foi convocado para lutar na Segunda Guerra Mundial, alistou-se como enfermeira na Cruz Vermelha, o que mudou sua visão de mundo. Ao "viajar" no tempo chega em 1793 e conhece o jovem guerreiro escocês Jamie Fraser, com quem vive uma inesperada e intensa paixão.

Ufa! Porque contei toda essa história do primeiro volume da série Outlander? Simples. Em A Libélula no Âmbar temos novamente o par Claire e Jamie. Contudo, nem sempre é possível viver de amor e alegria. Desta vez o escocês de Claire está em "ação" e precisa ajudar o príncipe Carlos Stuart a formar alianças que o apoiassem na retomada do trono da Inglaterra, que se encontrava nas mãos dos protestantes.

Contudo, Claire sabia que a rebelião estava fadada ao fracasso. A tentativa de devolver o Reino aos católicos resultaria num banho de sangue que ficaria conhecido como a Batalha de Culloden, e deixaria os clãs escoceses em ruínas. Em meio a intrigas da corte parisiense, enfrentando novamente um velho rival, ela tenta impedir o morticínio cruel e salvar a vida do homem que ama.

Para escrever A Libélula no Âmbar a autora embasou-se em uma extensa pesquisa histórica e em sua poderosa imaginação. Neste volume, Gabaldon reitera as razões de seu sucesso internacional. Para aqueles que amam ler a realidade e a imaginação lado a lado e interferindo entre si, este romance é uma perfeita viagem.


Confira o prólogo de A Libélula no Âmbar

"Acordei três vezes de madrugada. Na primeira, de tristeza, depois de alegria e, finalmente, de solidão. As lágrimas de uma profunda perda acordaram-me devagar, banhando meu rosto como o toque reconfortante de um pano úmido em mãos tranquilizadoras. Virei o rosto no travesseiro molhado e naveguei por um rio salgado, para dentro das cavernas da dor relembrada, para as profundezas subterrâneas do sono.

Despertei, então, de pura alegria, o corpo arqueado nos espasmos da união física, sentindo o toque de seu corpo ainda na minha pele, morrendo ao longo doscaminhos do meu ser. Repeli a consciência, virando-me outra vez, buscando o cheiro pungente e penetrante de desejo satisfeito de um homem e, nos braços reconfortantes do meu amado, dormi.

Na terceira vez, acordei sozinha, além do alcance do amor ou do sofrimento. A visão das rochas estava nítida em minha mente. Um pequeno círculo, pedras em pé no topo de uma colina verde e íngreme. O nome da colina é Craigh na Dun; a colina das fadas. Alguns dizem que a colina é encantada, outros que é amaldiçoada. Todos têm razão. Mas ninguém sabe a função ou o propósito das pedras.

Exceto eu.".


Diana Gabaldon: A escritora americana formou-se em zoologia, tem mestrado em biologia marinha e é Ph.D em ecologia. Trabalhou como resenhista em revistas de informática e começou a escrever por acaso, quando, para um de seus artigos, precisou analisar um site na Internet dedicado á troca de idéias entre escritores. Diana se apaixonou pela literatura e tornou-se escritora em tempo integral. Diana vive em Scottsdale, no Arizona. Ela é casada e tem três filhos.


Livro: A Libélula no Âmbar

Título Original: Dragonfly in Amber

Autora: Diana Gabaldon

890 páginas

Ano: 2006

Tradução: Geni Hirata

Editora: Rocco

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

.: Resenha de "Maligna – Para os que Amam ou Odeiam o Mágico de Oz"

Por: Helder Moraes Miranda

Em agosto de 2007


O Mágico de Oz para adultos. Livro traz universo de "O Mágico de Oz" de uma maneira como você nunca leu


Uma ativista pela igualdade social, assim é retratada a principal rival da doce e ingênua Dorothy, Ephalba, mais conhecida como Bruxa do Oeste, no livro "Maligna – Para os que Amam ou Odeiam o Mágico de Oz", de Gregory Maguire, publicado no Brasil pela Ediouro. Com mais de dois milhões de exemplares vendidos, o best seller chega ao país prometendo barulho e muita polêmica: traz a versão de uma mulher injustiçada pela vida e, por que não, pela versão do clássico infantil. Afinal, quem é Ephalba?

Ao relatar as circunstâncias da personagem que ficou conhecida como Bruxa do Oeste, Maguire traz uma narrativa envolvente e rica em descrições de qualidade, comuns apenas para um grupo seleto de escritores que produzem, hoje, boa literatura. Cheio de intrigas, reviravoltas, grandes paixões e adultérios, o romance é um folhetim temperado com temas incapazes de serem imaginados em um universo voltado para crianças, como poligamia, preconceitos e disputa por terras.

Filha de um pastor de vida simples que defende valores além das aparências e de uma mulher de moral duvidosa que se casa porque o homem é bom de cama, Ephalba nasce verde, talvez como castigo pela infidelidade de sua mãe. Por ser da tonalidade verde e ter dentes vorazes, é rejeitada pelos pais e, mais tarde, pelos colegas de universidade. Incompreendida, conquista amigos, apesar da repulsa e do pavor que causa, sem abrir mão de suas observações irônicas a respeito da vida. Com o tempo, torna-se cada vez mais importante por diversos fatores da história local.

Com belas ilustrações e um mapa para situar o leitor, cada capítulo do livro gira em torno de uma fase da vida da Bruxa do Oeste. Apenas no último capítulo, a menina Dorothy é trazida pelos ventos de um tornado ao mundo de Oz. Quando começa a perseguição de Ephalba à meiga garotinha da história infantil, o leitor terá bases concretas para avaliar se a mulher, estigmatizada como bruxa, é culpada ou inocente, maligna ou benigna.

Gregory Maguire: Doutor em literatura inglesa e americana, o escritor tem mais de 20 livros infantis publicados. Maligna – que virou musical da Broadway e rendeu a ele um Tony Awards em 2004 – é seu primeiro livro para adultos. Com o sucesso (de vendas e de crítica) de sua primeira obra adulta, publicou mais quatro ficções para esse público. O próximo livro a ser lançado pela Ediouro é Filho da Bruxa, continuação de Maligna.


Livro: Maligna – Para os que Amam ou Odeiam o Mágico de Oz (Wicked)

Autor: Gregory Maguire

416 páginas

Ano: 2007

Tradução: Chico Lopes

Editora: Ediouro

.: Dossiê Autran Dourado, escritor

"A única maneira de saber se você tem talento é escrevendo." - Autran Dourado

Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em agosto de 2007


Um escritor e novelista que mostra a verdade sobre a vida e ressalta que neste mundo nada é definitivo.


As produções de um excelente escritor não são encontradas nas "páginas amarelas". Talvez por meio da indicação de um bom amigo ou pelo próprio impulso de conhecer o novo. Eu, infelizmente, conheci Autran Dourado somente na Pós-Graduação em Literatura. O fascínio pelo autor não foi algo imediato, mas ao ler cada palavra "dourada" pude perceber a importância deste autor brasileiro e o quanto havia perdido, antes de conhecê-lo melhor.

Autran Dourado, isto é, Waldomiro Autran Dourado nasceu em Patos de Minas, Minas Gerais, no ano de 1926. Estudante de Direito em Belo Horizonte, publicava contos e artigos em jornais de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Integrou o grupo de jovens mineiros que criaram a revista Edifício em 1945.

Formou-se em Direito, em 1954, quando se mudou para o Rio de Janeiro, onde mora há mais de 40 anos. Foi secretário de Imprensa do Presidente Kubitschek de 1955 a 1960. Este grande ficcionista dos anos de 1960 e 70 possui mais prêmios e honrarias do que qualquer outro escritor brasileiro. 

Atualmente, conta com vários livros traduzidos e trinta teses de mestrado e doutorado sobre sua obra, no Brasil e no exterior. Entre suas grandes obras está o livro de contos, Solidão, solitude (1972), além dos romances importantes como Uma vida em segredo (1964), filmado pela cineasta Suzana Amaral, A barca dos homens (1961), Ópera dos mortos (1967), O risco do bordado (1970) e Os sinos da agonia (1974).

O romance Ópera dos mortos foi escolhido pela Unesco para integrar a Coleção de Obras Representativas da Literatura Universal e Os sinos da agonia, adotado para os exames de Agregação das Universidades Francesas. Estas obras envolvem uma linguagem obsessivamente trabalhada, principalmente pelo fato da revelação de mundos espectrais e doentios em que os indivíduos são arrastados pela forças dos instintos rumo à destruição.

Ópera dos mortos: Neste romance há um sobrado decadente da família Honório Cota. Nele, vive Rosalina, a última remanescente de uma estirpe em extinção, acompanhada apenas de uma empregada muda, Quiquina, e de um agregado, Juca Passarinho. A paixão erótica que a patroa nutre por Juca Passarinho é proporcional ao desprezo que ela vota a esse subalterno social. Todavia a gravidez da orgulhosa Rosalina surge como um golpe terrível na vida dos três, desencadeando o crime e a loucura.

Os sinos da agonia: De acordo com o crítico Flávio L. Chaves, em Os sinos da agonia “a vida das criaturas está cifrada numa sucessão labiríntica que vai do adultério ao assassinato, da ambição dissimulada à loucura e ao suicídio, das secretas intrigas familiares à delação pública. Autran Dourado escreveu o romance da traição”. Contudo, a ação transcorre na Vila Rica do século XVIII, mas a circunstância histórica (a decadência da sociedade aurífera) é meramente circunstancial. Este não é apenas um romance histórico e sim de uma narrativa voltada para a análise e o contraste dos caracteres individuais, especialmente os de Malvina e os de Gaspar. 

Prêmios: Autran Dourado já recebeu vários prêmios no Brasil, inclusive um na Alemanha, o Prêmio Goethe de Literatura. Em agosto de 2000, recebeu o Prêmio Camões pelo conjunto de sua obra, prêmio atribuído anualmente ao melhor autor de língua portuguesa. A Rocco está reeditando as obras selecionadas e revistas pelo autor, entre romances, contos e ensaios. As capas das reedições são feitas especialmente pelo gravurista Ciro Fernandes.

Para Autran Dourado "tudo é literatura, mesmo a filosofia, pois nenhum de seus problemas foi até hoje resolvido". Em entrevista ao site Guia do Livro, o escritor disse que "a única maneira de saber se você tem talento é escrevendo" .


 Novo livro: O Senhor das Horas é composto por duas novelas e quatro contos inéditos, protagonizados por personagens que vêem suas vidas em retrospecto, isto é, uma sucessão de perdas - da infãncia, da inocência, da virgindade, da juventude, da mulher amada, das tradições. Todos fazem parte de um passado distante. Autran Dourado pega o leitor pela mão e o faz acompanhar vidas movimentadas e sonolentas, algumas bem-vividas outras desperdiçadas, longas e breves. Embora O Senhor das Horas nada tenha de erótico, o sexo é tema constante nas páginas da obra, como por exemplo, há um coronel que prefere seduzir suas serviçais a satisfazer a libido de sua belíssima esposa.



Obras publicadas
A barca dos homens, romance
Ópera dos mortos, romance
O risco do bordado, romance
Os sinos da agonia, romance
A serviço del-rei, romance
Tempo de amar, romance
Uma vida em segredo, romance
Novelário de Donga Novais, romance
Lucas Procópio, romance
Um artista aprendiz, romance
Monte da alegria, romance
Um cavalheiro de antigamente, romance
Ópera dos fantoches, romance
Confissões de Narciso, romance
Novelas de aprendizado, romance
Gaiola aberta, memorial
Solidão solitude, contos
Armas e corações, contos
As imaginações pecaminosas, contos
Violetas e caracóis, contos
Uma poética de romance: matéria de carpintaria, ensaio
Meu mestre imaginário, ensaio



Obras reeditadas pela Rocco
Ópera dos mortos, romance
Os sinos da agonia, romance
A barca dos homens, romance
O risco do bordado, romance
Um artista aprendiz, romance
Uma poética de romance: matéria de carpintaria, ensaio
Novelário de Donga Novais, romance
A serviço del-Rei, romance
As imaginações pecaminosas, contos



Obras editadas pela Rocco
Gaiola aberta, memórias 
O Senhor das Horas, novelas e contos

terça-feira, 17 de julho de 2007

.: Resenha de "Na Hora do Sol", de Adelaide Carraro

Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em julho de 2007


Sonhos que se tornam crimes brutais. Uma criança em busca do pai e um ladrão estuprador sem pudores. Confira Na Hora do Sol, de Adelaide Carraro!

 

Sensualidade à flor da pele, uma linguagem direta, sem palavras requintadas e a história do detento Ubirajara. Este é "Na Hora do Sol", de Adelaide Carraro, publicação de 1977, da Coleção Gama, com selo da Global Editora.

Um livro não muito indicado para leitores mais experientes (e porque não, exigentes!). Digo isto pelo fato de o mercado literário atual oferecer livros de grande qualidade como por exemplo, "Rota 66: A História da Polícia que Mata" e "Abusado: O Dono do Morro Dona Marta", ambos do jornalista Caco Barcellos, publicados pela Editora Record. Em contraponto, "Na Hora do Sol", pode ser encontrado em sebos a preços bem mais acessíveis, porém ao considerarmos o período da produção e sua publicação, percebe-se que publicações neste segmento foram grandes impulsionadores para conquistar novos leitores. Afinal de contas uma capa apelativa, fatalmente colaborava nas vendas destes.

Ok! Vamos ao conteúdo do livro. Já no início temos: Trecho da Carta Enviada por um Detento a Adelaide Carraro. "Eis que isto é Brasil. Brasil de tanto orgulho bem merecido. Mas, nele existem tantos homens manchando esforços por heróis que jamais fariam isto, pois, os nomes deles só figuram como exemplo. Só de exemplo, porque os mais favorecidos pela lei fazem questão de transgredir e saciar o desejo de destruir seres humanos como nós presos" e finaliza "Ao lembrar que ainda existem pessoas como você, tenho esperança de um dia ver estourar nos corredores dos presídios  multidão de homens famintos, gritando seu nome. Dia haverá em que ex-detentos erguerão sua estátua, não em praça pública e sim no coração. Haverá um dia em que mães, irmãs, mulheres e amantes de presos gritarão bem forte seu nome como sendo a madrinha dos menos visados...". - Detentos/Brasil, 1976.

"Na Hora do Sol" conta a história de Ubirajara, apelidado ao longo do livro de Bira. Ele que começou a vida criminosa aos cinco anos e tornou-se ladrão e estuprador, antes tinha pai e vivia em uma casa rodeada de flores. "Tinha rua de verdade com calçamento e eu tinha meus amigos e meu cachorrinho e também podia assistir a televisão na casa de meus amigos". A realidade de Bira muda drasticamente quando seu pai "some" e a mãe dele lê a reportagem: "DOPS Passa a Investigar Espancamento de Operários".

Sem pai, a vida criminosa o acolheu de maneira convidativa, porém ao chegar na prisão muda de personalidade. Toda reviravolta acontece na vida de Bira após matar uma antiga amiga de sua família e mãe de Adriana, garota a quem amava e planejava um belo futuro. Arrependido ele "entrega-se" nas mãos de Deus. "Algum dia nós todos vamos aprender que, do dedão do pé ao couro cabeludo, somos o próprio caminho para conhecermos o mundo que Jesus disse antes de ser pregado na cruz: O Reino de Meu Pai".

Com tanto amor no coração e desejo de ter a alma limpa dos crimes cometidos, ele chega a ouvir dos outros presidiários comentários dos mais variados, como por exemplo o de Zé: "Chiii, Bira acho que você vai sair daqui padre. Sabe que você fala mais bonito que o Capelão, o Pastor e o Macumbeiro?".

Ao leitor curioso: "Por que Na Hora do Sol?". Calma! Acredito que ler é importante, embora a obra não seja muito instigante... blá blá blá blá blá blá. Até que o título é bastante interessante (e por que não inteligente?). Entretanto, o leitor só poderá descobrir o motivo de tal título quando estiver lá pelas últimas páginas do livro.

Apesar de a história não ser bem escrita é possível identificar pontos positivos como por exemplo, o desejo do eu-narrador de colocar fim à criminalidade e tudo, tudo o que a envolve. Eis que entramos na teoria do caos, uma coisa leva à outra e como se diz por aí: "Quem rouba um alfinete, rouba muito mais". Contudo, deseja-se muito que esta frase mude. A vontade de ordem no Brasil também fica expressa na página 154, em que há uma exaltação ao ex-presidente do Brasil Jânio Quadros "que visitava tudo de sopetão, prisões, repartições públicas, escolas, e até o próprio palácio. Moralizou tudo. É o passado... O preso tinha voz".

Enfim, "Na Hora do Sol", de Adelaide Carraro, retrata de maneira modesta, porém bastante engajada, o descaso com as classes desfavorecidas. Mostra o brasileiro que cresce com sonhos que se tornam pesadelos na favela, numa casa de quarto e cozinha, feita de madeiras velhas e papelões. A criminalidade, para quase todos é a grande aliada para uma vida "feliz". Eis que isto (ainda) é Brasil.


Livro: Na Hora do Sol

Autora: Adelaide Carraro

204 páginas

Ano: 1977

Coleção: Gama

Editora: Global

domingo, 1 de julho de 2007

.: Perfil: especial com escritor Walcyr Carrasco

"Quando comecei a escrever, me interessei pela vida das pessoas que, de alguma maneira tinham algum tipo de contradição com o mundo." - Walcyr Carrasco
Da Redação do Resenhando

Em julho de 2007


Um escritor e novelista que mostra a verdade sobre a vida e ressalta que neste mundo nada é definitivo.


A literatura é fonte de inspiração para a vida e vice-versa. Lugares distantes, amores proibidos, duelos de espadas e muitos outros temas são destaque em obras literárias que encantam aqueles que tem fome e muita sede de um bom livro.

Walcyr Carrasco, escritor de muitas obras literárias e de novelas de grande sucesso da Rede Globo, como por exemplo, Chocolate com Pimenta, Alma Gêmea, O Cravo e a Rosa e a da atual novela do horário das sete horas da noite, Sete Pecados, há 10 anos escreveu a história inquietante de uma jovem chamada Marcella. 

Ela, após sofrer um acidente de carro, fica paraplégica e passa a viver uma batalha cotidiana cheia de vitórias e novas formas de ver tudo o que cerca o mundo. Marcella é conhecida pelos leitores por meio de vários personagens que convivem ou tentam conviver com a garota. Juntos, familiares e amigos, descobrem o quanto é difícil perder, e o quanto é precioso aprender a ganhar. 

Ter vontade de viver é um item importantíssimo para todos que passam por variados problemas. É justamente nesta busca da realidade que o autor cria uma sadia e forte relação com a obra. Confira o relacionamento autor e obra de Estrelas Tortas!



"Há muito tempo, descobri que olhava o mundo como se cada coisa fosse definitiva. Como se a felicidade fosse definitiva, e a tragédia também. Mais tarde, quando comecei a escrever, me interessei pela vida das pessoas que, de alguma maneira, tinham algum tipo de contradição com o mundo. Pela vida de quem, enfim, não tem uma existência fácil. Em meus livros falo de aids, preconceito racial e das diferenças entre o modo de ser e o de viver, que é o caso de Estrelas Tortas, no qual me dediquei não só ao problema de uma menina que fica paraplégica, mas também ao impacto desse acontecimento nas pessoas que a cercam.
Para escrever o livro, falei com médicos e também com alguns paraplégicos. A extensão da paraplegia varia muito. Há pessoas que perdem os movimentos do corpo inteiro. Um rapaz me impressionou muito: paraplégico há quinze anos, com lesões muito graves, conseguiu reaprender alguns movimentos básicos, casou-se e trabalha para sustentar a família.

Nessa convivência não só com os paraplégicos mas com todas as minhas personagens, que, por assim dizer, não tem vida fácil, aprendi muito. Verifiquei, por exemplo, que existem dois tipos de problema. Um é o problema em si, que pode ser desde uma lesão física a uma crise financeira; o outro é a forma como a pessoa encara as coisas. 

Para alguns, pequenas tragédias se tornam grandes, tal a incapacidade de enfrentar qualquer adversidade. Para outros, grandes problemas são enfrentados com leveza e otimismo. E é a maneira de enfrentá-los que muda tudo. Felicidade e tragédia não são, assim, definitivas. São situações que dependem de cada um para serem atingidas ou superadas.

Em Estrelas Tortas, quis falar da vida de uma paraplégica, mas quis mostrar, também, como todos nós somos livres para voar. Só quem tem força interior supera as dificuldades do dia-a-dia e brilha, enfim, como estrela."
Walcyr Carrasco


Fonte: Livro Estrelas Tortas, de Walcyr Carrasco. Editora Moderna.

domingo, 17 de junho de 2007

.: Literatura de qualidade é o melhor remédio para todas as dores do mundo

Literatura de qualidade é o melhor remédio para todas as dores do mundo

Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em junho de 2007


Três livros que podem e devem ser lidos por muitas e muitas vezes. Confira as dicas e sabia mais sobre as obras clicando nos links abaixo!
 


Em meio a um terrível cenário de guerra nasce uma história de amor inesquecível. 
Expectativas e sonhos despontando na vida deste jovem casal. Este é o enredo de Adeus às Armas, de Ernest Hemingway, isto é, livro que conta uma história de amor verdadeira: "o romance entre o escritor e uma enfermeira".

O final do romance auto-biográfico traz um final feliz, ao contrário da história do autor, isto é, Ernest mistura realidade e ficção. Na obra as personagens são Henry (ele próprio) e Catherine (Agnes von Kurowsky). A história comove e mostra o porque de ter sido aclamada pela crítica como melhor livro de ficção produzido sobre a Primeira Guerra Mundial. Não há como resistir, este livro pode ser lido muito mais de uma vez. Vale a pena conferir!


Livro: Adeus às Armas
Título Original: A Farewell to Arms
Autor: Ernest Hemingway
352 páginas
Ano: 2002
Tradução: 
Monteiro Lobato
Editora: Bertrand Brasil


Uma literatura mais solta e moderna fazem parte do livro O Segredo de Emma Corrigan, de Sophie Kinsella, publicado pela Editora Record. Com uma linguagem bem escrita, mas totalmente bem humorada, a obra cria com rapidez uma identificação imediata do leitor com a personagem, principalmente com a inserção de alguns pensamentos e atos de Emma ao longo do texto, no resto, faz rir e muito.

A personagem Emma Corrigan é uma mulher super moderna, mas não foge dos "padrões": tem os seus segredos, independente do tamanho e grau de importância destes. Entre eles estão usar calcinha fio-dental, apesar de achá-la desconfortável, também não revela ao namorado que detesta jazz ou ainda o fato de ter perdido a virgindade enquanto os pais assistiam ao filme Ben-Hur na sala de TV, além guardar a sete chaves o seu peso verdadeiro.
 


Livro: O Segredo de Emma Corrigan
Título Original Inglês: Can You Keep a Secret?
Autora: Sophie Kinsella
384 páginas
Tradução: Alves Calado
Editora: Record

Um texto de qualidade narrando uma rede de intrigas e desentendimentos. É desta forma que a narrativa de Marçal Aquino na obra O Invasor pode ser definida. Dois sócios de uma empreiteira se desentendem com o terceiro, resolvidos, ele contratam um matador profissional para eliminá-lo. O que dizer de um enredo brilhante? É neste emaranhado de sensações que conhecemos Alaor, Estevão e Ivan.

A obra publicada pela Geração Editorial, de filme homônimo de Beto Brant, traz um suspense policial de arrepiar permitindo ao leitor viver momentos de extrema emoção. Intrigas, morte, desprezo e sangue estão presentes no livro que conta também com o roteiro do longa-metragem.


Livro: O Invasor
Autor: Marçal Aquino
232 páginas

Editora: Geração Editorial

sexta-feira, 1 de junho de 2007

.: Presentes para os internautas do portal Resenhando.com

Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em junho de 2007



O cartunista Angeli, a escritora Ana Miranda, a atriz Taís Araújo, o cantor Afonso Nigro, a atriz Léa Garcia, o escritor Ruy Castro, o ator Romeu Evaristo e o escritor Roberto Torero presenteiam os internautas do Resenhando.com no 4º aniversário do site. Confira e aproveite!



Nada de entrevistas longas! O 4º aniversário do site cultural Resenhando.com será comemorado com autógrafos e mensagens de gente de peso. No decorrer destes quarto anos foram muitas dificuldades e muitos momentos de pleno sabor e satisfação à equipe Resenhando. 

Tivemos o orgulho de um dia estar frente a frente com o cartunista Angeli, a escritora Ana Miranda, a atriz Taís Araújo, o cantor Afonso Nigro, a atriz Léa Garcia, o escritor Ruy Castro, o ator Romeu Evaristo e o escritor Roberto Torero. Nestes "encontros" foram trocadas algumas palavras ou somente poucos, porém interessantes idéias. Confira agora o resultado!

 





O primeiro a nos presentear com seu autógrafo totalmente personalizado e diferente dos vistos por toda parte do mundo foi o cartunista Angeli.

Ele deixou sua mensagem sem cortar o seu lado satírico, é claro!















Na sequência, saímos do lado humorístico dos livros e partimos a todo vapor para o ambiente televiso. Encontramos a primeiro protagonista negra da Rede Globo, a atriz Taís Araújo.

"Uma mensagem para os internautas do site Resenhando, por favor!".













A atriz Léa Garcia que interpretou com tanta determinação a vilã da novela "Escrava Isaura" deu à equipe Resenhando.com um terceiro presente que será sempre muito bem guardado. 

Talento? Ela tem de sobra. Fato este que pode ser comprovado. Na época em que tal novela das 18 horas (Escrava Isaura) era exibida, chegou a apanhar de uma telespectadora.












O ator Romeu Evaristo dividiu sua simpatia com a equipe Resenhando.com e deixou um conselho aos internautas:

"Saber o sabor de ser gente"






Em seguida tivemos o prazer de conhecer aquele que com voz melódica embalou os anos 80 liderando o grupo Dominó, o cantor Afonso Nigro.

Na época o grupo emplacou hits como Manequim, Companheiro, "P" da Vida, Ela Não Gosta de Mim, Jura de Amor e ainda fizeram uma parceria com Angélica em As Palavras. Já na carreira solo, Afonso, ficou nas paradas de sucesso com Talvez Seja Amor e Com Todos Menos Comigo. Bons tempos!





O escritor Roberto Torero presenteou os internautas do Resenhando.com duplamente: entrevista e mensagem!

Eis a grande vantagem: Morar na Baixada Santista é estar próximo de um escritor de Santos, mesmo que ele esteja (quase) sempre por outras partes do mundo.










Trocar palavras e ideias com um escritor talentoso como Ruy Castro é uma grande oportunidade.

É claro que os internautas não ficariam de fora deste privilégio.






A escritora de Fortaleza, Ana Miranda, que estreou o link R.G. também deixou uma mensagem de carinho aos internautas, além de uma super entrevista.

"Muito obrigado, Ana"

quinta-feira, 17 de maio de 2007

.: Resenha de "Contos", de Machado de Assis

Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em maio de 2007


O veneno que gera prazer intenso. O sarcasmo da humanidade narrado com ironia pelo grande mestre da literatura brasileira.


Não importa a quantidade de personagens, mas a infinita qualidade. O forte de seus contos está no cenário e nas atitudes destas personagens. Refiro-me a "Contos", de Machado de Assis, obra de grande valor para os iniciantes e amantes da literatura. A publicação da Editora Paulus traz os contos O Enfermeiro, A causa secreta, A cartomante, Missa do Galo, Um apólogo, Teoria do medalhão, O caso da vara e O alienista, no total de 112 páginas. Há também uma breve apresentação do autor nas páginas iniciais: "Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 1839, na cidade do Rio de Janeiro, e aí morreu em 1908. De origem humilde, trabalhou como tipógrafo e revisor, passando depois a colaborar na imprensa carioca, vindo a tornar-se um dos mais importantes escritores da nossa literatura, escrevendo romances, contos, poesias, crônicas, crítica literária e peças de teatro".

É claro que há muito mais sobre este formidável autor, digo no verdadeiro sentido da palavra isto é, formidável "que causa pavor; muito bom (popular)". Como assim? Simples. A literatura de Machado nestes contos é requintada e traz um toque aprofundado de malícia. Um bom exemplo é encontrado em "O Enfermeiro", com personagens podem fazer e dizer o que bem entendem, há um misto de prazer cruel no Coronel (ferir o outro de formas possíveis e diversificadas), enquanto que Procópio José Gomes Valongo traz à tona o prazer da vingança.

O insuportável e estúrdio coronel, de tão  exigente, não era suportado pelos outros, até mesmo por seus amigos. Eis que entra em cena Procópio, assim chamado pelo paciente impaciente (o coronel). Juntos, ele vivem setes dias em "lua-de-mel".

"No oitavo dia, entrei na vida dos meus predecessores, uma vida de cão, não dormir, não pensar em mais nada, recolher injúrias e, às vezes, rir delas, com um ar de resignação e conformidade; reparei que era um modo de lhe fazer corte. Tudo impertinência da moléstia e do temperamento. A moléstia era um rosário delas, padecia de aneurisma, de reumatismo e de três ou quatro afecções menores. Tinha perto de sessenta anos, e desde os cinco toda a gente lhe fazia a vontade. Se fosse só rabugento, vá; mas ele era também mau, deleitava-se com a dor e humilhação dos outros. No fim de três meses estava farto de o aturar".

Nesta relação de "amor e ódio" há um estopim o sujeito-narrador esgana o coronel durante uma briga e... passa por maus bocados. Em contraponto, tanta dedicação foi merecedora de recompensa. "Assim, por um ironia da sorte, os bens do coronel vinham parar às minhas mãos. Cogitei em recusar a herança. Parecia-me odioso receber um vintém do tal espólio; era pior do que fazer-me esbirro alugado".

Contos com uma narrativa inteligente e de finais surpreendentes, que podem ser lidos e relidos por infinitas vezes. Não deixe esta leitura para depois!


Livro: Contos

Autor: Machado de Assis

112 páginas

Ano: 2005

Coleção: Nossa Literatura

Editora: Paulus

terça-feira, 1 de maio de 2007

.: Confira as entrevistas mais acessadas do seu site cultural

Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em maio de 2007


Marina Elali, Déo Garcez, Sidney Sheldon, Moacyr Scliar, Gabriel O Pensador, Darlan Cunha, Wanessa Camargo, Regina Drummond, Maurício Manieri e Ana Miranda. O que eles tem em comum? São os dez entrevistados do Resenhando.com mais acessados. Confira e deleite-se!


O mês de junho está a caminho. É neste sexto mês de 2007 que grandes novidades culturais despontam nas prateleiras das lojas ou ainda em eventos com lançamento mais requintados. Entre tais feitos há o dia 7 de junho, isto é, o 4º aniversário do site cultural Resenhando.com.

Tendo  em vista que 4 anos é um bom tempo de vida para um site, principalmente se levarmos em conta que este é um veículo cultural brasileiro e que somente conta com informações fornecidas por editoras/distribuidoras, sem apoio financeiro. Nós do Resenhando.com fizemos um levantamento das entrevistas publicadas no site, ou seja, as 10 entrevistas mais acessadas.


A grande recordista de acessos é a cantora Marina Elali, principalmente quando a música One Last Cry, entrou nas paradas de sucesso, canção que intensificou o sofrimento da personagem Nanda (Fernanda Vasconcelos, atriz), na novela das oito, Páginas da Vida. Em segundo lugar está o ator Déo Garcez, o qual com tanto carinho nos tratou, chegando a conceder nova entrevista no mês de fevereiro de 2007, devido a grande quantidade de acessos em seu primeiro R.G. (julho de 2005) para a equipe do Resenhando.com.


Na terceira colocação do nosso Top 10 está o escritor internacional, Sidney Sheldon, o qual deu ao mês de janeiro de 2007 um encerramento um tanto que amargo para seus fãs e leitores assíduos, pois ao ter complicações por conta de uma pneumonia, acabou não resistindo e falecendo, no dia 30. Entretanto, deixou muitas obras publicadas, como por exemplo, O Outro Lado da Meia Noite, O Mestre do Jogo e Se Houver Amanhã.


Na sequência deste ranking está o escritor brasileiro cheio de talento, atenção e respeito (ao entrevistador e fã): Moacyr Scliar. Ele, que no mês de março completou mais um ano de vida, aumentando a alegria de seus leitores, revelou em entrevista que dentre suas grandes obras publicadas, gosta muito de "O Centauro no Jardim", "A Majestade do Xingu" e "A Mulher que escreveu a Bíblia".


A quinta entrevista mais acessada está com o popular e carismático cantor, escritor e poeta, Gabriel O Pensador. O versátil rapper e pensador por vocação, foi criado na classe média alta e desde cedo foi acostumado com o universo da fama já que sua mãe, Belisa Ribeiro, era apresentadora do “Jornal Hoje” na década de 80 e casada com o ator Marcos Paulo, um de seus padrastos. No entanto, Gabriel não seguiu a burguesia carioca: ainda jovem, fez amizade com garotos da favela da Rocinha, parceiros de surf nas praias do Rio.


O ator Darlan Cunha, o sexto desta lista, em seu R.G. contou como foi o início de sua carreira: "Eu tinha nove anos quando uma vizinha nossa da época comentou sobre um grupo de teatro lá da comunidade, do Ernesto Piccolo. Aí eu fui, meio assim de brincadeira. Só que aí eu fui gostando e continuei. Aí fiz minha primeira peça, que foi um musical. Depois veio a segunda peça e quando chegou a vez da terceira o José Celso (do grupo Nós do Morro) assistiu e gostou de mim e me convidou para fazer um teste para o filme Cidade de Deus".


"Quem não gostar, só tem que respeitar", afirmou a sétima integrante deste ranking, a cantora Wanessa Camargo. Ela que concedeu uma entrevista bastante fria e nada fora do padrão disse: "Eu respeito a opinião dos outros. Só acho que para criticar, tem que ter fundamento, tem que conhecer".


Para abrilhantar o nosso Top 10, na oitava posição, está a sobrinha do grande autor brasileiro Carlos Drummond de Andrade: Regina Drummond. Ela que tem uma paixão especial pela literatura francesa, disse que seu estilo literário depende muito do dia, da hora, do humor e do tempo que dispõe. "Gosto de tudo que seja bem feito e interessante. Atualmente, ando lendo muita literatura sul-americana e brasileira. Neste momento estou apaixonada pela Leticia Wierzchowski e leio 'Um Farol no Pampa', mas estou sempre relendo os clássicos da literatura universal".


Música de qualidade, educação e talento de sobra compõem o nono entrevistado mais acessado do Resenhando.com. Refiro-me ao cantor Maurício Manieri. O cantor que mantém um blog, sempre atualizado, escreveu: "Quão sem propósito é a nossa falta de humildade, e quão imbecil é ficarmos presos a coisas que simplesmente não nos acrescentam nada. Olha lá na foto!!! A terra!!! Só um pontinho de nada!!!! Hummmmmm, deve ser uma escola!! Obrigado Deus por ter me presenteado com a música!! Ela me aproxima de ti!! Mesmo eu estando aqui, neste pequeno ponto no universo!!! Ela tem me auxiliado muito!!! Que ela seja sempre um canal de onde o amor possa fluir entre eu e as pessoas!!! Oras, se Deus é amor, você então vai estar com a gente também!! Valeu, Deus!!!". Bom, acredito que não seja necessário diz mais nada. não há como deixar de conferir a entrevista deste talentoso músico.

Por fim, e não menos importante, está a nossa primeira entrevistada, a escritora Ana Miranda. Como foi a entrevistada com a equipe? Carinhosa e verdadeira. O que disse? Ao falar sobre o que a literatura representa disse: "É o meu trabalho, é o meu alimento espiritual, é a minha vida, não poderia mais viver sem literatura, seja lendo, seja escrevendo". Não há sombras de dúvidas que estas entrevistas devem ser lidas e relidas infinitas vezes. Confira o R.G. de cada um dos integrantes deste Top 10 e deleite-se!












terça-feira, 17 de abril de 2007

.: Resenha de "Mitos e Arquétipos do Homem Contemporâneo"

Por: Helder Bentes

Em abril de 2007


Uma viagem no tempo por meio do conto "Eros e Psiqué", da mitologia clássica, escrito pela primeira vez por Lúcio Apuleio. Disponível na versão em Espanhol para download em dominiopublico.gov.br, e ainda, na versão impressa: BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia grega. Petrópolis, Vozes, 1987, vol.II

 

Havia um casal de rei e rainha que tinham três filhas, sendo que a mais jovem era a mais bela das mortais e estava sendo adorada no lugar de Afrodite, como deusa do amor e da beleza. Afrodite com ciúmes ordenou a seu filho Eros que fizesse Psiqué se apaixonar pelo homem mais monstruoso. O pai de Psiqué consultou o oráculo de Apolo sobre o destino de sua filha, e a resposta foi que ela deveria ser levada ao alto de um rochedo onde se uniria a um monstro horrível.

Eros, no entanto, ao tentar atingir Psiqué com uma de suas flechas, acabou se ferindo e se apaixonando por ela. Pediu então ao vento Zéfiro que a transportasse para o seu palácio. No palácio de Eros, Psiqué foi servida, nos seus desejos, por vozes. Eros vinha à noite, se unia a Psiqué, sem se deixar ver, e desaparecia antes do amanhecer.

 As duas irmãs de Psiqué foram à montanha chorar a ausência desta, que, entristecida, pediu a Eros que as trouxesse ao palácio. As irmãs foram trazidas ao palácio, mas ao verem-na tão rica e feliz sentiram muita inveja e quiseram conhecer o marido de Psiqué. Esta, prevenida por Eros, não respondeu às perguntas e mandou-as de volta.

As duas irmãs eram infelizes com os maridos – um deles era feio e avarento, e o outro era velho e doente. Psiqué, pouco tempo depois, já estava chorando novamente de saudades das irmãs e pedindo a Eros que as deixasse visitá-la de novo. Novamente as irmãs foram levadas pelo vento Zéfiro ao palácio, e desta vez foram mais convincentes e conseguiram fazer Psiqué acreditar que seu marido seria uma serpente gigantesca e monstruosa. Psiqué estava grávida, mas segundo suas irmãs, o marido monstruoso não tardaria a devorá-la.

Psiqué, então, confusa com a conversa das irmãs, acabou lhes confessando não saber quem era seu marido. As irmãs então a fizeram preparar uma lamparina e um punhal. Com a lamparina ela deveria iluminar o rosto de seu esposo e com o punhal cortar-lhe fora a cabeça. À noite, quando Eros já dormia, Psiqué acendeu a lamparina e viu o rosto do marido – um homem belíssimo. Não conseguindo mais pensar em matá-lo, deixou cair o punhal. Ao ver sua aljava, foi tocá-la e se feriu numa das flechas, desta maneira, ficando perdida e eternamente apaixonada por ele. Sem se dar conta, deixou pingar uma gota de óleo quente da lamparina no ombro de Eros, acordando-o e fazendo-o fugir do palácio.

Psiqué, desesperada com a ausência do marido, tenta se matar, jogando-se num rio, mas as águas a devolvem a terra. Pan, que estava por perto, aconselha-a que chame e procure pelo esposo. Enquanto isso, Afrodite fica sabendo que Eros está ferido, e pior ainda, apaixonado por sua rival Psiqué. Curiosa, vai ao encontro do filho. Psiqué, depois de pedir em vão ajuda às deusas Hera e Deméter, e cansada de procurar por Eros, resolve ir ao encontro de Afrodite, para lhe pedir perdão.

 Afrodite, no entanto, a recebe muito mal, humilha-a, espanca-a e ainda lhe impõe quatro tarefas: A primeira tarefa seria separar uma montanha de sementes por espécie, durante o período de uma noite. Psiqué sabia ser uma tarefa impossível para ela, mas vê aparecerem várias formigas que a ajudam e as sementes são rapidamente separadas.

Afrodite, furiosa, lhe passa a segunda tarefa: exige que Psiqué lhe traga, sem falta, flocos da lã de ouro dos carneiros ferozes que existiam ali perto.

Psiqué pensa mais uma vez em se jogar no rio, mas um caniço da beira do rio lhe sugere uma solução para o problema – ela não deveria se aproximar dos carneiros com o sol a pino porque eles estariam enfurecidos e poderiam matá-la. Ela deveria aguardar o calor diminuir, os carneiros, indo descansar, deixariam flocos de lã presos nas árvores do bosque. Seria então fácil para Psiqué colher a lã de ouro que precisasse. E assim foi feito.

Afrodite agora mais furiosa, achando que Psiqué só conseguira se desincumbir das tarefas por estar sendo ajudada por Eros, ordenou-lhe que cumprisse mais uma: com um vaso de cristal dado por Afrodite, Psiqué deveria apanhar água da fonte dos rios Cocito e Estige (rios infernais – sua nascente era guardada por dois dragões).

 Psiqué novamente pensou em desistir de tudo, mas desta vez foi ajudada pela águia de Zeus, isto é, o próprio Zeus metamorfoseado em águia cumpriu a tarefa por ela.

Veio então a quarta tarefa, e a mais difícil de todas: Psiqué deveria buscar no Hades, o reino dos mortos, com Perséfone, sua rainha, uma caixa que continha a "poção da beleza imortal" para ser entregue a Afrodite.

Psiqué, totalmente desesperançada, subiu a uma torre alta para se jogar lá de cima. A torre, no entanto, aconselhou-a a como se desincumbir satisfatoriamente desta empreitada: deveria levar na boca duas moedas para pagar a passagem de ida e volta ao barqueiro Caronte. Em cada mão levaria um bolo de cevada para dar ao cão Cérbero que guardava a entrada e saída do Hades. Ela sofreria quatro tentações ao longo do caminho: primeiro passaria por um homem coxo, puxando um asno também coxo que carregava lenha. Deveria recusar-se a ajudá-los. Depois, já no barco de Caronte, um velho surgiria da água e lhe pediria "carona" no barco. Psiqué não poderia ajudá-lo. A terceira tentação seria quando passasse por tecedeiras que também lhe pediriam ajuda, e mais uma vez deveria se negar em ajudar.

Por fim, a quarta tentação seria quando encontrasse Perséfone, não deveria aceitar o seu convite para jantar, o mais importante de tudo: logo que conseguisse a caixa, teria que retornar rapidamente sem abri-la. Psiqué seguiu as instruções da torre em quase tudo, mas não resistindo à curiosidade sobre a caixa da beleza, acabou por abri-la e caiu num sono mortal.

Eros então, penalizado, vem agora em socorro de sua esposa. Guarda de novo o conteúdo na caixa e desperta Psiqué novamente para a vida. Zeus eleva Psiqué à imortalidade do Olimpo. Do casamento nasce uma menina chamada Volúpia.


EROS E PSIQUÉ – SOBRE A INDIVIDUAÇÃO DA MULHER

Para entender melhor a leitura deste artigo, você precisa primeiro conhecer o conto "Eros e Psiqué", pois aqui se propõe um rastreamento simbólico da formação individual da mulher, a partir deste conto, que usa atributos de deuses mitológicos, para criar uma história arquetípica. Recompondo-a, compreendemos o eu feminino individual e socialmente.

Há um conflito no processo de individuação do feminino. Este conflito parte das expectativas da sociedade sobre a mulher, dos papéis que lhe são reservados, e de seus anseios individuais.

Ao lermos o mito de Eros e Psiqué, podemos interpretar instâncias relacionadas ao universo social feminino, tais como o casamento e os papéis de filha e de mãe.

O casamento é um rito que marca a transição entre papéis tipicamente femininos: os de filha, de esposa e de mãe. Toda mulher, ao vivenciar o amor com um homem, rompe o cordão umbilical que a liga à sua mãe. Esse rompimento compara-se à morte simbólica da filha e à passagem para as condições de esposa e de mãe, para as quais a menina deve tornar-se mulher.

A evolução narrativa do mito de Psiqué corresponde ao processo de individuação da mulher, que parte da condição de filha para a disputa com Afrodite (mãe de Eros), motivada pela vaidade ou busca de um ideal de beleza, como condição para encontrar seu próprio caminho. Para perceber isto, basta ao leitor fazer correlações entre a simbologia do conto e os processos psíquicos de formação do eu.

Psiqué: personagem feminina cuja beleza provoca os ciúmes de Afrodite. Representa a mulher que, motivada pela competição feminina em benefício da vaidade, parte em busca de seu próprio eu.

Vozes: servem Psiqué no Palácio de Eros, depois deste haver se apaixonado por ela, ao tentar atingi-la com uma flecha, para cumprir as determinações de Afrodite e fazer Psiqué apaixonar-se por um monstro. Como o feitiço volta-se contra o feiticeiro, Eros apaixona-se por Psiqué e arrebata-a ao seu Palácio, onde vozes a atendem em todos os seus desejos. Essas vozes representam à fase ideal do enamoramento por que passam as relações amorosas.

A chegada de Psiqué ao Palácio de Eros: representa a descida ao inconsciente. A auto-análise requer uma fase em que há vozes a serviço do eu, em que a felicidade parece haver sido encontrada definitivamente. Isto corresponderia à fase imediata ao já referido rompimento do cordão umbilical, em que a menina torna-se mulher pela experiência de enamoramento, pela sensação de casamento, sem estar necessária e legitimamente casada, mas apta a assumir os papéis de esposa e mãe.

As duas irmãs invejosas: exercem os papéis de filha e mãe dentro de seus casamentos, em relação a seus maridos, pois um é velho e feio (filha), e o outro é doente (mãe). Somente Psiqué parece não haver estagnado no papel de filha ou pulado para o de mãe, mas vive uma fase ideal importantíssima no processo de individuação da mulher, em que o ideal de felicidade se lhe afigura na presença amorosa de um homem provedor/protetor, para o qual a mulher parece predestinada.

O punhal e a lamparina: Psiqué, induzida pelas irmãs, aproxima-se de Eros com um punhal e uma lamparina, enquanto ele dorme, a fim de desvendar seu mistério e assassiná-lo. Porém, descobre nele um homem lindo e, ferida por uma flecha de sua aljava, apaixona-se por ele também. Mas deixa cair óleo quente da lamparina sobre seu ombro e o desperta. Ele foge, deixando-a sozinha. O punhal é o elemento que corta e separa, representa o corte racional necessário para a individuação da mulher, o distanciamento emocional necessário à compreensão de sua própria condição feminina, independente da figura masculina ou de qualquer outra. A lamparina é a luz da consciência, não dissociada do punhal.

A saída do Palácio: representa a busca independente da mulher por seu próprio eu, através do amor personificado em Eros.

A partir deste momento, na narrativa, a mulher enfrentará obstáculos, mas contará com o auxílio de outras entidades em benefício da auto-superação. Essas entidades são representações de virtudes essenciais no processo de individuação, tais como, o deus Pan (representa o instinto), Hera, Deméter e Afrodite (representam à rivalidade, a indiferença e a própria violência intrínseca ao processo de individuação, pois essas entidades negam ajuda a Psiqué, aumentando-lhe a dor e o sofrimento necessários à maturação individual).

Afrodite lhe impõe quatro tarefas impossíveis que representam situações de auto-superação:

1. Separar uma montanha de sementes por espécie, durante o período de uma noite: tarefa onde Psiqué conta com a ajuda das formigas. A montanha de sementes por espécie simboliza os complexos inconscientes que, individualmente, constituem elaboração e crescimento virtuais. As formigas representam à paciência, a diligência e a sabedoria instintiva para distinguir os complexos amontoados.

2. Trazer flocos da lã de ouro de carneiros ferozes: representam à impulsividade agressiva, irreflexiva e negativa. Esta tarefa leva Psiqué a pensar em suicídio pela segunda vez, mas ela conta com a ajuda de um caniço, que representa a salvação e a sabedoria, a necessidade de esperar para agir, de meditar primeiro para não agir precipitadamente.

3. Apanhar água da fonte dos rios Cócito e Estige, com um vaso de cristal dado por Afrodite: esses rios referidos são infernais e guardados por dois dragões, mas Psiqué conta com a ajuda do próprio Zeus que se transforma numa águia e cumpre a tarefa por ela. A água representa a vida no seu fluir até a morte que, por não poder ser retida ou controlada pela humanidade, deve ser manipulada apenas pela divindade, donde a intervenção de Zeus na narrativa.

4. Buscar a caixa da beleza imortal para entregá-la a Afrodite: essa caixa estava com a rainha Perséfone, no reino dos mortos (Hades). Mas desta vez Psiqué conta com a ajuda da própria torre na qual sobe para suicidar-se diante da dificuldade da tarefa. A torre simboliza uma construção humana como sua própria consciência, a introversão e o isolamento necessários à amplitude da mesma consciência.

Essas quatro tarefas têm em comum o grau de dificuldade desanimador que culmina com o desespero da personagem, sendo, no entanto, compensado pelo auxílio das formigas, do caniço, de Zeus e da torre que representam instâncias reguladoras do processo de maturação feminina.


As tentações de Psiqué:

A torre a aconselha a munir-se de duas moedas para pagar a passagem de ida e volta do Hades a Caronte, e de bolos de cevada e mel para dar a Cérbero, mas a alerta para tentações que têm em comum a motivação do lado bom de Psiqué. O processo de maturação do eu feminino requer, às vezes, uma renúncia à bondade, uma indiferença às necessidades alheias e periféricas diante da necessidade individual da mulher, por isso a torre pede a Psiqué que tenha forças para resistir à tentação de ser piedosa. Essas tentações estão representadas no conto por:

1. Um homem e um asno coxos: Este homem chama-se Ocnus e deixa cair a corda com que puxava o asno. Ele seria a representação da hesitação à medida que, naquelas circunstâncias, não se poderia sair do lugar (a busca da perfeição feminina não pode desobstinar-se diante da imperfeição humana ou animal).

2. Um velho que lhe pediria carona no barco de Caronte: esse velho representa neuroses, que às vezes dominam a consciência. Há pessoas que surgem no caminho da individuação feminina e cuja aparência madura pode indicar benefícios a este processo pessoal, mas deve haver resistência por parte da mulher, pois se tal processo é individual, a ajuda mútua recorrente pode não ser útil. Digo recorrente porque, em outros momentos do conto, Psiqué já fora ajudada por entidades mais experientes, estando inclusive gozando desta ajuda para discernir a tentação do velho. Quando você ajuda alguém, você tende a identificar-se com este alguém e Psiqué não poderia identificar-se com a maturidade do velho, como não o pôde com as limitações físicas do homem e do asno, e como não o poderá com o enredamento dispersivo das tecedeiras.

3. Um grupo de tecedeiras: essas tecedeiras seriam em número de três e estariam associadas às três moiras (Cloto, Láquesis e Átropo), as divindades do destino na Grécia. A lição aqui seria não dar atenção ao destino, não tentar entendê-lo e nem manipulá-lo, mas deixar que as coisas aconteçam. As tecedeiras poderiam representar, entre os fios de tecidos de seu trabalho, caminhos que poderiam dispersar Psiqué de sua tarefa principal àquele momento.

4. O convite de Perséfone para jantar: nada, por mais prazenteiro que seja, deve atrapalhar o alcance de sua meta. Estabelecer relações com as pessoas no seu caminho pode desviá-la de sua meta.

Finalmente, todas essas categorias de tentação são vencidas, cada uma com seu próprio ensinamento. Apesar de serem uma luta contra a própria natureza. Há, porém, uma tentação relativa à curiosidade feminina, que leva Psiqué a abrir a caixa da beleza e cair em sono mortal.

Isto lhe vulnerabiliza e a condiciona à intervenção masculina e divina personificadas respectivamente em Eros, que a ajuda e a desperta para a vida, e Zeus, que a imortaliza no Olimpo, dando origem à outra entidade feminina que recebe o nome de Volúpia.

Psiqué, ao desincumbir-se das tarefas e manter sua beleza, desperta medo em Eros por parecer com Afrodite. Mas, ao vulnerabilizar-se, reacende os cuidados de Eros.

Ser mulher é isto: um entre-lugar onde força, vaidade, autoridade e fragilidade se misturam para provocar o imaginário masculino.

Indicação de leitura:

BOECHAT, Paula Pantoja. Eros e Psiqué – sob o ponto de vista da individuação da mulher (p.97-112) In: BOECHAT, Walter (Org.). Mitos e arquétipos do homem contemporâneo. Petrópolis, Vozes, 1995, 198 págs.

Um estudo da mitologia à luz da psicologia junguiana. Os símbolos mitológicos ou literários tratados neste livro representam arquétipos de nossa formação individual. O símbolo pode iluminar o desenvolvimento psicológico do indivíduo e os problemas sociais da cultura atual.


Livro: Mitos e Arquétipos do Homem Contemporâneo

Ano: 1987

Editora: Petrópolis e Vozes

domingo, 1 de abril de 2007

.: Resenha de "O Livro dos Contos Enfeitiçados", de Marta Argel

Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em abril de 2007


A magia em estado puro: Os fenômenos inexplicáveis são o recheio de O Livro dos Contos Enfeitiçados, de Marta Argel, publicado pela Landy Editora.

 

Misterioso e surpreendente! "O Livro dos Contos Enfeitiçados", de Marta Argel, publicado pela Landy Editora trazem a magia em estado simples e puro. Magia esta, que com poder, revira o universo dos leitores interessados em desafiar o seu lado adormecido do fantástico.

Como entender os fenômenos do cotidiano que interferem no decorrer da sua vida? Esta é uma pergunta bastante complexa, a qual exige bastante conhecimento para uma resposta plausível. Em contraponto, é certo que existem inúmeras suposições para esta incógnita e, até, muitas pessoas interessadas em explicá-las. Contudo, ainda sim, não há uma boa resposta para tal pergunta.

Entretanto, a verdade importante é que a literatura possibilita estabelecer inúmeras relações entre a magia e a realidade. Surge então, com grande força, o universo mágico da escrita fantástica. É exatamente neste campo que Martha Argel transita com grande talento fazendo com que os contos enfeitiçados tornem-se verdadeiros na mente de seus leitores.

Amarelo... Amarelo é o primeiro dos 7 contos desta obra que brota magia em suas formas mais variadas. De que modo? Simples. Seja pelo pensamento de uma garotinha que ama ver tudo na cor amarela ou por meio de palavras premonitórias de um sábio que habita a floresta tropical. Não há o que questionar-se, deixe-se guiar pela universo enfeitiçado destes contos. Confira!

Autora: É autora de diversos livros de literatura fantástica. Seus temas passeiam pela ficção científica, terror, fantasia e vampiros. Relações de Sangue (Novo Século, 2002) é um romance policial com vampiros, ambientado na cidade de São Paulo. Contos Improváveis (Writers, 2000), O Vampiro de Cada Um (edição da autora, 2003) e Olhos de Gato (Writers, 2005) são coletâneas de contos. Organizou a antologia Lugar de mulher é na cozinha (Writers, 2000), reunindo contos fantásticos de onze autoras brasileiras e uma portuguesa.

Participou de várias antologias e seus contos já foram publicados em revistas, jornais zines e sites de literatura. Em parceria com Giulia Moon edita o FicZine, que reúne contos fantásticos. Doutora em Ecologia e ornitóloga, atua como consultora em Meio Ambiente e em divulgação cientifica. Publicou Voando pelo Brasil (Cuca Fresca, 2004), um livro sobre as aves brasileiras voltado para o públiço infanto-juveniL, e é autora dos textos do livro Maravilhas do Brasil: Aves (Escrituras, 2005), com fotos de Fábio Colombini. Tem artigos científicos e de divulgação publicados no Brasil e no exterior. Atualmente trabalha para o Wildlife Conservation Society, desenvolvendo o Projeto Aves do Brasil, cujo objetivo é incentivar o amor e o interesse dos brasileiros pelo rico patrimônio natural do país.


Livro: O Livro dos Contos Enfeitiçados

Autora: Marta Argel

166 páginas

Ano: 2006

Coleção: Novos Caminhos

Editora: Landy

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