quinta-feira, 3 de junho de 2004

.: Resenha de "Adeus às Armas", de Ernest Hemingway

O amor em forma de livro
Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em junho de 2004


Imagine um casal de jovens vivendo momentos inesquecíveis, tendo a guerra como pano de fundo. Expectativas, sonhos e muito amor. Tal fato, parece lúdico, mas Adeus às Armas (A Farewell to Arms), de Ernest Hemingway conta essa história de amor.

Contudo, esta história traz algo muito peculiar: as coincidências com a vida de Ernest e a do casal do livro. Este romance é auto-biográfico, mas tem um final feliz, ao contrário da história do autor.

A obra de Ernest mistura realidade e ficção. No romance, os protagonistas acreditam que podem se isolar em seu amor, simplesmente afastando-se da guerra. Entretanto, Hemingway viveu uma história diferente. Em 1918, ferido em combate, ele foi internado em um hospital em Milão, conheceu Agnes von Kurowsky, e se apaixonou. Ela, não aceitou casar-se, o que o deixou desiludido.

O livro editado pela Bertrand Brasil em 2002 representa a volta deste escritor de importante carreira literária. Traduzida por Monteiro Lobato, a leitura da obra é agradável e deixa a obra acontecer com suavidade. A descrição do ambiente da guerra e os momentos de muito amor tornam-se mais profundas ao passar das palavras lidas, e dando uma dimensão mais real e significativa.

Com emoção, Ernest narra em primeira pessoa a "história de amor" entre Henry (ele próprio) e Catherine (Agnes von Kurowsky). A história comove e mostra o porque de ter sido aclamada pela crítica como melhor livro de ficção produzido sobre a Primeira Guerra Mundial.

Este é um livro indicado para ser lido mais de uma vez, pois a leitura da obra não é cansativa, pois é reveladora a cada capítulo lido. Os detalhes narrados por Hemingway lançam o leitor para o mundo apaixonante e cheio de aventuras de Henry e Catherine.

HISTÓRIA: Romance americano, ambientado na I Guerra Mundial, consolidou Ernest Hemingway como um dos mais importantes ficcionistas do século XX. A história tem pontos em comum com a biografia do escritor. Um motorista de ambulância voluntário, ferido no 'front' italiano, Henry e a linda enfermeira escocesa, Catherine, por quem o jovem se apaixona.

Livro: Adeus às Armas
Título Original: A Farewell to Arms
Autor: Ernest Hemingway
352 páginas
Ano: 2002
Tradução: Monteiro Lobato
Editora: Bertrand Brasil

quarta-feira, 2 de junho de 2004

.: Resenha de "História da Fotorreportagem no Brasil", Joaquim Marçal Ferreira de Andrade

Um registro histórico
Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em junho de 2004


Vamos tirar uma fotografia para guardar de lembrança”. Quantas vezes ouvimos e até falamos esta frase. Paisagens, monumentos e pessoas. A fotografia é uma forma de registrar o que acontece em nossas vidas. Contudo, a história da fotografia é longa e cheia de curiosidades.

Em "História da Fotorreportagem no Brasil: A fotografia na imprensa do Rio de Janeiro de 1839 a 1900", de Joaquim Marçal Ferreira de Andrade mostra os principais aspectos técnicos da foto, sem se prender apenas no Rio de Janeiro. “O jornalismo fotográfico, devido ao enorme alcança das publicações que o utilizam, exerce maior influência sobre o pensamento e a opinião pública do que qualquer outro ramo da fotografia”, diz W. Eugen Smith, em frase citada no livro.

Na introdução o autor conta que poucos anos após a sua descoberta e rápida disseminação, a fotografia já se fazia presente nas páginas de muitos jornais ilustrados estrangeiros. O tempo passou, o fenômeno alcançou a imprensa brasileira. No entanto, ter uma fotografia significava ter a mediação de mão do artista ou artesão.

O conteúdo deste livro tem importância não só para repórteres fotográficos, mas para quem gosta de apreciar a fotografia como um todo. A obra é divida em cinco capítulos que tratam a fotografia e a imprensa ilustrada brasileira no século XIX, além de comentar o design da página impressa: os processos de criação das imagens, a paginação e a impressão, a fotografia na imprensa ilustrada do Rio de Janeiro, 1839-1879, a fotorreportagem e as novas conquistas da imprensa ilustrada com fotografias, na Europa e nos Estados Unidos, além da imprensa carioca.

A publicação da editora Campus, lançada em 2004 (281 páginas) resgata a história da fotografia que com o avanço da tecnologia perde cada vez mais a credibilidade. Este livro dá a oportunidade de voltar ao passado e reviver os fatos que já fizeram história.

Livro: História da Fotorreportagem no Brasil: A fotografia na imprensa do Rio de Janeiro de 1839 a 1900
Autor: Joaquim Marçal Ferreira de Andrade 
Editora: Campus

.: A Bíblia como literatura, por Eduardo Caetano

Por: Eduardo Caetano
Em junho de 2004


Durante milênios, a linguagem da Bíblia desperta curiosidade e fascínio na sociedade. O livro é venerado, temido e incompreendido por cristãos de todo planeta. Já os céticos, não o consideram um livro de fé, mas celebram o fato de ser a mais bela reunião de estilos literários. A Palavra de Deus não foi escrita por Ele (lógico!). Muitas mãos redigiram a Bíblia, inspiradas pelo Pai. O intuito era registrar o monoteísmo e seu contexto histórico. Narra a caminhada do povo de Deus, iniciada pelos hebreus.

A primeira divisão é feita entre Antigo e Novo Testamento. O primeiro narra a origem do mundo e a aliança de Deus com seu povo. Já o segundo, o início do cristianismo. A Bíblia judaica não possui o Novo Testamento.

Afinal, não acreditam que Jesus seja o Messias. Por isso, devem estar quase o ano 6000. Os judeus não zeraram o calendário com o nascimento o Filho e Maria e Nazaré. Cada Testamento é subdividido em pequenos livretos, escritos por autores diferentes. O papel utilizado na época, o papiro, não possibilitava a paginação porque uma folha era colada na outra. O livro era uma espécie de rolo, por isso eram tão curtos. Os diversos textos ou livros têm os mais diferentes objetivos como formar comunidades, denunciar a exploração do Império Romano ou apresentar a pessoa de Jesus Cristo.

Moisés - A figura mais marcante do Antigo Testamento é o profeta Moisés. Líder da lei judaica e representante popular, também é autor do Pentateuco (os cinco primeiros livros bíblicos). Neles, Moisés narra a origem do homem e do mundo por meio de histórias lendárias e metáforas (no Gênesis) e a luta do povo hebreu pela terra (Êxodo).

Para o padre Waldemar Valle Martins, um dos fundadores da Universidade Católica de Santos e professor de Filosofia e Cultura Religiosa, não se deve fazer uma interpretação ao pé da letra. "Cada época oferece uma linguagem, pela qual nos manifestamos. A Bíblia trabalha com metáforas e ideologias. Na criação do mundo, Deus não contou até três e o tudo surgiu num piscar de olhos. Nem pegou seu martelinho e foi esculpindo passo a passo".

Ele esclarece que o mundo tende a um desenvolvimento natural. Desde a biosfera até o surgimento do homem. Evolução do homem à semelhança de Cristo. "Ainda estamos neste processo. O homem exprime da língua o que admite ser divino. Moisés não falaria jamais de células e átomos porque nem sequer sabia que isso existia".
Revelando a palavra de Deus (e dos homens): Em um tempo de tirania, culto ao poder e seus representantes, Cristo foi um preso político. Foi condenado e assassinado pelo sistema opressor porque fez sua opção de vida pelo povo marginalizado.

Então, cada um dos quatro evangelistas o retratou de uma forma para iniciar o registro da história das primeiras comunidades cristãs. João Evangelista, pescador e melhor amigo de Jesus, foi um dos que mais se destacou por apresentar a Boa-Nova utilizando sete milagres ou sete sinais de fé.
Os números também são simbólicos. Sete é a plenitude, o infinito, a perfeição. João também é autor do Apocalipse, o livro da Revelação, escrito durante seu exílio na Ilha de Patmus. O livro narra a história cristã e a perseguição do Império Romano de forma sensacional, quase que por códigos metafóricos. No trecho em que narra a mulher vestida de sol com uma coroa com doze estrelas, ele diz que ela é perseguida por um dragão com sete cabeças e dez chifres. A mulher representa Maria de Nazaré e a própria Igreja. Maria precisou se retirar, ir para a margem da sociedade para dar à luz. A Igreja também foi perseguida. As doze estrelas podem ser as doze tribos do Antigo Testamento ou os doze apóstolos do novo. O dragão é Roma, construída sobre sete colinas, as sete cabeças do dragão.

Traduções: Padre Waldemar recorda que a Bíblia é muito rica e diversa em mínimos conteúdos, o que torna sua leitura difícil. "É necessário estudo, envolvimento, dedicação. Sem contar as traduções pelas quais passou. Foi escrita em hebraico e aramaico. Depois, os judeus a traduziram em grego. No século IV, São Jerônimo a traduziu para o latim e, alguns séculos depois, foi traduzida pelas línguas neolatinas", finaliza.

terça-feira, 1 de junho de 2004

.: Entrevista com Ana Miranda, escritora de romances e poesias

"A literatura permeia tudo" -  Ana Miranda


Por: Helder Moraes Miranda
Em junho de 2004


A escritora de romances e poesias, Ana Miranda, contemplada pela segunda vez com o prêmio jabuti e premiada pela Biblioteca Nacional é a autora de Desmundo, romance recentemente adaptado para o cinema, Boca do Inferno e Dias e Dias. Ana Miranda colaboradora da revista Caros Amigos, mas começou na literatura por meio de poemas e poesias, surgindo seus dois primeiros livros: Anjos e Demônios (Editora José Olympio/INL, Rio de Janeiro, 1979) e Celebrações do Outro (Editora Antares, Rio, 1983).

Em 1989, publica seu primeiro romance, Boca do Inferno, uma visita literária ao passado colonial brasileiro pela recriação das vidas do poeta Gregório de Matos e do jesuíta Antonio Vieira. A obra foi bem recebida pelo público, pela crítica - recebeu o Prêmio Jabuti de 1990 - e por professores que a adotaram como fonte para estudos literários sobre o barroco brasileiro. O romance foi lançado também na França, Inglaterra, Itália, Estados Unidos, Argentina, Noruega, Espanha, Suécia, Dinamarca, Holanda e Alemanha.

Outro tema histórico é recriado em seu segundo romance, O Retrato do Rei, de 1991. A seguir, Sem pecado, de 1993, Sem Pecado traz a autora à ação contemporânea, mas em seu romance seguinte, A Última Quimera, de 1995, a Belle Époque do Rio de Janeiro é o cenário em que outro poeta, Augusto dos Anjos, tem sua vida ficcionalizada. A obra rendeu à autora uma bolsa da Biblioteca Nacional.

Desmundo (livro que originou o filme dirigido por Alain Fresnot) , outra ficção histórica, é de 1996. Com uma linguagem do século XVI, conta a história de órfãs mandadas de Portugal ao Brasil para se casar com os colonos. Todos os romances acima foram publicados pela Companhia das Letras, em São Paulo. Outra figura sagrada da literatura brasileira, desta vez Clarice Lispector, é transformada em personagem. A novela Clarice é lançada em 1996 na Alemanha e no Brasil pela Fundação Rio. A Companhia das Letras reeditou a obra em 1998. Ainda pela Companhia das Letras, é publicado em 1997 o romance Amrik, passado no fim do século 19, sobre os imigrantes libaneses em São Paulo. Em 1999 são publicados os primeiros contos de Ana Miranda, reunidos no volume Noturnos. Em 2002, outro poeta se transforma em personagem. Em Dias e Dias, Gonçalves Dias é aproveitado pela autora para dar voz à linguagem do romantismo.

Além da produção literária, Ana Miranda escreve artigos, resenhas e ensaios para jornais e revistas, roteiros de cinema e trabalha na edição de originais, organizando obras de nomes como Vinícius de Morais e Otto Lara Resende. Em 1998, reuniu para a editora Dantes uma coletânea de poesias de amor conventual, Que Seja em Segredo, e em 2000, uma antologia de sonhos intitulada Caderno de Sonhos. Foi escritora visitante na Universidade de Stanford em 1996, e faz palestras e leituras em universidades e instituições culturais de diversos países. Desde 1999 Ana Miranda faz parte do grupo de escritores que concede anualmente, em Roma, o Prêmio União Latina de Romance.

Ana Miranda nasceu em Fortaleza, Ceará, em 1951, e mudou-se para o Rio de Janeiro aos quatro anos de idade. Em 1959 foi para Brasília, ao encontro de seu pai, engenheiro, que trabalhava na construção da cidade. Em 1969 voltou para o Rio de Janeiro, a fim de prosseguir com seus estudos de artes. 

Vale lembrar que Ana Miranda tem uma longa história no cinema como atriz e roteirista. Foi uma índia em Como Era Gostoso o Meu Francês (1970/72) e protagonizou, com Jofre Soares, o longa-metragem A Faca e o Rio, que o holandês George Sluizer realizou no Brasil em 1972. Desde 1999 Ana Miranda mora em São Paulo. 



RESENHANDO - O que representa a literatura em sua vida?
ANA - É o meu trabalho, é o meu alimento espiritual, é a minha vida, não poderia mais viver sem literatura, seja lendo, seja escrevendo. 


RESENHANDO - Você já escreveu Boca do Inferno, sobre a vida de Gregório de Matos, A Última Quimera, sobre Augusto dos Anjos, Clarice, sobre Clarice Lispector, e Dias e Dias, sobre o poeta Gonçalves Dias. De onde vem sua paixão por biografias, por que só escritores, e até que ponto é possível romancear a vida de alguém?
ANA - Na verdade não escrevo biografias, são romances, em que poetas ou escritores são personagens, e o foco não é a biografia desses autores, mas o mundo em que eles viveram. Isso nasceu de meu amor pela poesia, e pela palavra, esses poetas que escolhi como tema são fontes literárias muito ricas. Meus personagens não são apenas escritores, são padres, prostitutas,governadores, índios, moças do interior, bandidos, etc, mas parece que o que tem marcado mais meu trabalho, para os leitores, é a presença dos personagens poetas e escritores. Falo sobre mundos em que a história literária é fundamental, sim, em alguns livros, mas há muito mais entre o céu e a terra... As biografias, em geral, mesmo quando objetivas, sempre têm um ar de romance, sempre que se usa a palavra para contar algo, a visão é muito subjetiva, porque a palavra é subjetiva. 


RESENHANDO - Em uma de suas entrevistas, você afirma que seu trabalho deve aparecer mais que sua vida pessoal. Em contrapartida, o fato de ganhar pela segunda vez o prêmio Jabuti de Literatura, e a adaptação de Desmundo para o cinema faz com que ganhe cada vez mais notoriedade. O que isso muda em sua carreira?
ANA - Minha vida continua a mesma de sempre, gosto de escrever, escrever, escrever, e ler, ler, ler, e ficar em casa quieta escrevendo e lendo. Nem os prêmios, nem o filme, mudam minha vida, sinto que estou ficando cada vez mais conhecida, pelo Brasil afora, mas a minha vida continua a mesma.


RESENHANDO - A maioria de suas protagonistas são mulheres vindas de outros continentes e o pano de fundo é quase sempre um momento histórico. Não teme ser considerada escritora de uma só história?
ANA - Não, acho que todos os escritores estão sempre escrevendo o mesmo livro, porque o livro é um retrato da alma de quem o escreveu, e a alma é sempre a mesma, ainda que mudem o cenário, a época, os personagens. Acho bom sentir uma certa unidade em meu trabalho, até busco essa unidade. 


RESENHANDO -Seus personagens são muito ardentes e sensuais. Há algum reflexo de personalidade entre eles e o temperamento da autora?
ANA - Não acho o Braço de Prata ardente ou sensual, nem o padre Vieira, nem a Bernardina Ravasco, nem a Feliciana, nem tantos outros. O que acontece é que o tema de Boca do Inferno é ardente e sensual, é a Bahia colonial, com muita devassidão, muitos pecados. Também a Amina, de Amrik, é muito sensual, pois é uma dançarina libanesa e há a presença da literatura árabe, as Mil e uma noites, o Jardim das delícias, que são livros ardentes e sensuais. Claro que gosto de lidar com essa matéria, tenho um lado sensual e ardente, todos temos, alguns escondem, alguns ignoram, mas todo ser humano é dotado de sensualidade. 


RESENHANDO- Qual a sua opinião sobre a importância que, hoje em dia, o livro exerce sobre a população?
ANA - Não sei medir, sei que os livros são fundamentais, a literatura permeia tudo, desde sempre, e para sempre, não seríamos a humanidade que somos se não houvesse o livro. É uma peça de extraordinária profundidade na história da comunicação humana, um museu da alma, do intelecto, do espírito, do tempo, do sentimento, um museu da humanidade.


RESENHANDO - Quem você acha que são as pessoas que constituem seu público alvo? Por que?
ANA - Não tenho público alvo, escrevo para mim mesma. As pessoas que gostam dos meus livros são as pessoas que têm afinidade comigo, com o que eu escrevo, mas são as mais variadas, só têm em comum o fato de serem alfabetizadas. 


RESENHANDO - Para você, a evolução tecnológica está afastando as pessoas dos livros, da boa leitura?
ANA - Quem gosta de ler sempre vai gostar de ler, a tecnologia não tem nada a ver com isso, apenas ajuda a se escrever mais facilmente um livro, a se imprimir melhor os livros, a se comprar mais facilmente um livro. Mas não há nenhum plano no sentido de usar a tecnologia para aproximar as pessoas dos livros, ou da boa leitura, o que seria muito bom, se acontecesse.


RESENHANDO - O que você sente quando um livro seu é lançado? 
ANA - Sinto alívio quando termino um livro, sinto apreensão quanto ao que vai acontecer, ao que vão dizer, se vão compreender o livro. Mas, em geral, quando o livro é lançado, já estou escrevendo outro, e isso dilui um pouco a minha relação com o lançamento. 


RESENHANDO - Quem são seus ídolos na literatura? Sofreu ou sofre alguma influência deles?
ANA - Não tenho ídolos, nunca tive, vejo os escritores como seres humanos, com suas peculiaridades. Claro, admiro profundamente certos textos, como os de Shakespeare, Kafka, Proust, Borges, etc etc, uma infinidade de autores e livros me encantam. E todos eles me influenciam, sou muito permeável a influências. 


RESENHANDO - Na literatura, tem algum nome da nova safra de escritores que você destaca? Por quais motivos?
ANA - Você está falando da literatura brasileira, certamente. Acho que tenho mais afinidade com o Miltom Hatoum, acho-o maravilhoso, sério e profundo, mas gosto de muitos, muitos, o Cristóvão Tezza, o Bernardo Carvalho, a Patrícia Melo, o Carlos Sussekind, o Marçal Aquino, o Bernardo Ajzenberg, adoro a poesia de Marco Luchesi, acho-o surpreendente e elevado como o infinito, poderia fazer uma lista imensa, são muitos os escritores a destacar. 


RESENHANDO - Fale sobre seus poemas. Continua escrevendo-os? Existe alguma possibilidade de reeditá-los?
ANA - Continuo recebendo poesias em minha cabeça, e anoto, guardo, esqueço. Não penso em publicá-las, não sou boa em poesia. Não gostaria de reeditar meus livros de poesia, não são bons, e não quero ocupar o espaço dos poetas, que é tão restrito, poucas editoras se aventuram a publicar poesia de novos poetas. Louvo as que o fazem. 


RESENHANDO - Você prefere escrever romances, contos ou poemas? Por que? E para ler, prefere qual desses gêneros literários?
ANA - Prefiro escrever romances, sou romancista, sinto mais desenvoltura quando escrevo romance, sinto que estou fazendo o que gosto de fazer, o que aprendi a fazer, não sou boa contista, são coisas muito diferentes. Isso não significa que meus romances excluam os outros gêneros, hoje os limites são muito difusos. Para ler, gosto, primeiro, de poesia, depois de romance, depois de conto, geralmente é assim, mas tem épocas em que só leio contos, e outras em que só leio poesia, e outras em que só leio romances, isso depende de meu estado de espírito.


RESENHANDO - O que sente tendo seus livros publicados em outras línguas?
ANA - Acho horrível, arriscadíssimo, tenho a sensação de que não é mais o meu livro, não escrevi nada daquilo, gostaria que todos aprendessem português para ler os nossos livros no original. Mas sinto orgulho quando olho a minha estante de meus livros traduzidos, sei que isso é bom, mesmo com as deficiências inerentes à tradução. Tenho muita gratidão pelos tradutores, todavia, pois não falo nem árabe nem alemão nem grego nem russo, nem tantas outras línguas, e admiro demais os tradutores, há pessoas que fazem isso de forma genial.


RESENHANDO - Explique seu conceito de invisibilidade.
ANA - Não entendi essa pergunta. Há diversas invisibilidades. O Mandrake fica invisível, e eu adorava sonhar que eu também tinha esse poder, quando lia as suas histórias em quadrinhos. E às vezes quase consigo, gosto de uma posição discreta, de observadora. Mas há outras espécies de invisibilidade. 


RESENHANDO - Descreva todos os seus talentos na infância. Por que escolheu a literatura?
ANA - Nasci, como todas as crianças, com todas as aptidões da sensibilidade, para desenho, música, movimento, ritmo, cor, teatro, fantasia, sonho, mas tive a sorte de ver as minhas aptidões desenvolvidas, sou uma pessoa versátil, e isso sempre foi uma faca de dois gumes, atrapalhou e ajudou, mas consegui solucionar esse problema, hoje convivo melhor com isso. 


RESENHANDO - Como foi a sua experiência como atriz? Pretende voltar a atuar, por que?
ANA - Foi uma ótima experiência, aprendi muito, principalmente sobre o Brasil, pois pude viajar e penetrar muitas realidades de nosso país, conheci muitas pessoas inesquecíveis, adoro cinema. Mas não sei se posso chamar minha experiência de um trabalho de atriz, eu apenas estava por ali, e me convocavam a participar dos filmes, au gostava de viajar com as equipes de cinema, era um tempo em que se fazia cinema por amor, mas a minha compulsão sempre foi autoral, jamais soube interpretar, não gosto de ser olhada. 


RESENHANDO - Todo escritor escreve sobre relações humanas. Como você analisa o relacionamento das pessoas nos dias de hoje. Dá para comparar as relações atuais e as do passado?
ANA - Estão muito mais complexas, a sociedade está mais complexa. Antigamente você conhecia umas vinte, cinqüenta, cem pessoas em sua vida, e se relacionava com poucas. Hoje conhecemos milhares de pessoas, de culturas diferentes, o mundo está pequenino, pega-se um avião e no dia seguinte tudo mudou, e os grupos familiares são os mais inesperados, e a vida íntima das pessoas hoje é pública, tudo isso complica as relações. Mas os seres humanos continuam os mesmos, com seus sentimentos, amor, ódio, ciúme, inveja, traição, desejo de poder, etc etc. 


RESENHANDO - Se pudesse voltar no tempo, reescreveria algo, achando que poderia ter feito melhor?
ANA - Tenho sempre reescrito meus livros, faço revisões em livros publicados, acabo de fazer uma revisão de Boca do Inferno, tomada de uma visão mais ampla, sempre se pode fazer melhor, sempre. 


RESENHANDO - A mídia explorou bastante um suposto romance seu com o senador Eduardo Suplicy. O que acha sobre esse tipo de informação? Existe alguma verdade nestas notícias?
ANA - Sempre preservei a minha vida pessoal. Não gosto desse tipo de publicidade. O Eduardo e eu somos amigos, e nos gostamos muito. 


RESENHANDO - Comente essa frase, dita em uma entrevista para a revista Caros Amigos: "estou sempre a favor do mais fraco, mesmo que ele esteja errado".
ANA - Essa frase resume a minha atitude política, e ética. Tenho muito amor pelo pobre, pelo oprimido, por aquele que não tem oportunidade, pelo abandonado, pelo frágil, pelo fraco, um sentimento meio maternal. Não posso ver alguém em dificuldade, quero ajudar. Isso me faz sofrer muito. 


RESENHANDO - Para você, qual o real significado da palavra solidão?
ANA - Faz parte da condição humana, a solidão. Todos somos solitários, e vivemos em busca do outro, mas sempre somos apenas nós mesmos, e ninguém, jamais, tem o poder de compreender totalmente o outro, a compreensão, a afinidade, a conjunção, são apenas um desejo de fugir à solidão. A natureza de nosso trabalho, de escritores, nos põe em contato direto e constante com a solidão. Mas gosto de me iludir, achando que a solidão pode ser substituída pela comunhão, mas a comunhão se dá em momentos, momentos sublimes, mas fugazes.

.: Fanfic invade o Brasil

Por: Elaine Serra 

Em junho de 2004


A liberdade da escrita está no fanfic!



O processo de aculturação é a assimilação de cultura que resulta do contato entre dois ou mais grupos sociais distintos. Isto explica o surgimento do fanfic no Brasil que, criado nos Estados Unidos, significa uma história fictícia envolvendo certos personagens, conhecidos ou não, em aventuras inéditas criadas por seus fãs. Daí vem a abreviação da palavra fanfiction, que no português significa ficção criada por fãs. No Brasil, esta moda começou há cerca de três anos. 

Esta ideia foi desenvolvida a partir da insatisfação de um grupo de amigos com os rumos dados a vários super-heróis de histórias em quadrinhos, pelas suas editoras oficiais. Em vez de ficar reclamando, o grupo, decidiu "partir para a briga" e escrever suas próprias histórias de graça. 

Não existe uma regra a ser seguida para iniciar este tipo de redação, pois tudo depende da criatividade do autor, que seleciona os personagens e os ambientes que farão parte da história. Na maioria dos casos, a ficção é baseada nas séries transmitidas pela televisão. 

O que fazer? Para fazer parte desta mais nova mania o interessado deve enviar sua proposta para um dos editores, de acordo com o personagem que quer escrever. Tudo via e-mail,  porém é necessário definir tudo o que será produzido seja uma edição especial (one-shot), mini-série ou título regular. 

É fundamental que o autor envie também um resumo da trama, dividida por edições (no caso de séries e minis), detalhando o que acontece em cada uma, quais os personagens (heróis, vilões e coadjuvantes) que pretende usar. Não queira fazer suspense ao apresentar sua ideia. Explique exatamente as ações e motivações de cada personagem, como começa e termina cada história. Sua ideia será analisada pelos editores após uma discussão prévia, submetida ao grupo de escritores do Hyperfan.

.: Resenha de "O Livro da Valorização da Família", Linda e Richard Eyre



Leis da natureza para enriquecer a vida em família
Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em junho de 2004


"O Livro da Valorização da Família", de Linda e Richard Eyre, publicado pela M. Books (2004, 190 páginas) traz muitas mensagens positivas e tem um intuito: unir as famílias do século XXI.

A obra do casal Eyre mostra a necessidade de valorizar os princípios para que a relação pai e filho seja consolidada, tendo em vista que o lar é o lugar mais seguro para viver, pois para preservar uma família é preciso ter: cuidado, compromisso, elogio, comunicação, coerência, disciplina, segurança, responsabilidade, consciência e liberdade. Para fazer bonito nesta lição é preciso ignorar frases como "Nós não conversamos. Eles não me ouvem", "Não tenho tempo" ou "Eu nem sei o que estão fazendo ou onde estão à noite - e eles não me dizem".

Dar amor com inteligência. Este livro ensina aos novos pais e aos pais do futuro, como ter uma família com um alicerce firme e cheio de carinho, de respeito e de cumplicidade. "O Livro da Valorização da Família" chegou às prateleiras em bom tempo, já que a falta de comunicação, respeito e o excesso de violência estão afastando cada vez mais os pais dos filhos e vice-versa.

Linda e Richard Eyre não são didáticos ao falar sobre a família, mas usam alegorias como gansos, elefantes, tartarugas entre outros animais, para ensinar as leis de uma família. Em uma das histórias contadas no livro há muito o que aprender. Como por exemplo, no capítulo da Natureza do Elogio está a história de uma família que começou a tradição no jantar de domingo: eles davam a volta na mesa e cada um dizia uma coisa positiva que havia admirado ou apreciado em um membro da família durante a semana.

A leitura desta obra é indicada a pais e filhos que querem ser unidos, independente de viver no mesmo teto ou distantes. O incentivo à união familiar é o aroma deste livro, ou seja, nele há uma atmosfera de cuidados.


Livro: O Livro da Valorização da Família
Título Original: The Book of Nurturing
Autores: Linda e Richard Eyre
190 páginas
Ano: 2003
Tradução: Tatiana Kassner
Editora: M. Books
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