terça-feira, 14 de outubro de 2014

.: Perfil do artista plástico Armando Sendin

Por Gisela Kodja
Em outubro de 2014

O artista plástico Armando Sendin, brasileiro radicado na Espanha, fez da Pinacoteca Benedicto Calixto herdeira do seu acêrvo pessoal. O artista plástico assinou o termo de doação em solenidade realizada recentemente e que contou com a presença de autoridades, artistas, da imprensa e do público em geral. Neste ato, Sendin transferiu para o museu santista 127 quadros e 51 cerâmicas, obras que representam cada fase da sua trajetória profissional. 

Não se trata de obras que sobraram das exposições realizadas ao longo do tempo, pelo mundo todo. Segundo Armando Sendin, a cidade onde passou parte da infância e a adolescência já estava nos seus planos. “A cada nova coleção, eu separava um trabalho para o meu acervo particular que, para mim, já tinha destino certo: seria doado para Santos, a cidade que melhor me acolheu, no Brasil”, diz o artista.

Para a presidente da Fundação Pinacoteca Benedicto Calixto, Silvia Teixeira Penteado, “é uma iniciativa que valoriza a Pinacoteca e que vai contribuir de forma inestimável com a política de desenvolvimento de coleções do museu”. 

O projeto de construção do Museu de Arte Moderna da Pinacoteca Benedicto Calixto, de autoria do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, foi o grande responsável pela decisão de Armando Sendin. Segundo ele, Santos precisa de uma grande centro cultural, que tenha condições de apresentar exposições importantes e espera que, quando o prédio estiver pronto, “as novas gerações possam conhecer o meu trabalho e que ele contribua com o trabalho de formação público que vem sendo desenvolvido pelo museu".

Aos 89 anos, Armando Sendin está de volta a sua fase abstrata e continua produzindo com entusiasmo. Sem saber precisar exatamente, este artista que pintou freneticamente e realizou exposições anuais ao longo de toda a sua carreira, imagina ter pintado cerca de 5 mil quadros. Quase todas as suas obras foram vendidas, sendo algumas para colecionadores santistas engajados nos movimentos culturais da época. “ Nas décadas de 70 e 80, o CCBEU  mantinha uma galeria pioneira, com papel de destaque na difusão da arte brasileira e era uma plataforma importante para a revelação de jovens artistas. Além de fazer parte do corpo de jurados do Salão Jovem Primeira Mão, também fiz várias individuais que aproximaram o meu trabalho do público local”, lembra Sendin.


Sobre  Armando Sendin
Filho de espanhóis, Sendin nasceu em 1925 no Rio de Janeiro e, nos últimos anos, vive e trabalha na Espanha.Em 1940, cursou a Escola de Belas Artes de Priego na Espanha. Ao retornar ao Brasil, fez Filosofia na Universidade de São Paulo, entre 1945 a 1949. “Me aproximei dos grandes pensadores para tentar entender o mundo, mas saí da faculdade com a certeza de que jamais saberia muito sobre qualquer coisa”, reconhece.

Em 1950, estudou estética, com Bogumil Jasinowsky, na Universidade do Chile. Como bolsista do governo francês, aprofundou os conhecimentos na Sorbonne, com mestre Souriau e, ainda na França, trabalhou com Gensoli na Manufatura Nacional de Sevres. Durante esta temporada na Europa, também teve e a chance de desenvolver pesquisas com o ceramista Zuloaga e técnicas de cerâmica de origem oriental com Guardiola e com Gonzalez-Marti, mestres espanhóis que estavam em evidência, naquela época.

De volta ao Brasil, Armando Sendin montou um studio no bairro das Perdizes, em São Paulo, onde deu aulas de pintura, cerâmica, escultura e desenho em seu estúdio, de 1964 a 1974.

Como artista, Sendin se define de uma maneira totalmente pessoal, sem atribuir influência a nenhuma tendência ou escola leitura, pela experiência. Procuro ser contemporâneo em tudo e, é por isso, que a minha  arte tem variado com o tempo”, explica. A obra de Armando Sendin passou da abstração à figuração, da figuração ao hiperrealismo e, daí, para um hiperrrealismo muito particular, estilo com o qual ganhou visibilidade e projeção, ao conquistar o primeiro prêmio da 12ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1984.

A vida fora do Brasil
“Saí do Brasil com uma mágoa tremenda”, declarou públicamente, e pela primeira vez, Armando Sendin. “Os artistas contestaram o meu prêmio, acusando o júri internacional de não ter passado por todas as salas da Bienal. Eles fizeram um abaixo assinado que foi entregue ao jornal O Estado de São Paulo. O protesto foi publicado na mesma página em que o diário trazia uma grande matéria elogiando a minha arte”, desabafa.

Ao saber do que havia acontecido na Bienal de São Paulo, a União Panamericana convidou Sendin para uma apresentação individual, em sua sede, nos Estados Unidos, que teve uma repercussão fantástica. “Passados mais de 40 anos, eu resolvi falar sobre o fato, razão pela qual eu fui viver no estrangeiro”.  

Terminada a exposição no museu norte-americano, Sendin viajou para a Espanha a passeio, para conhecer as galerias e os centros culturais, entre eles, o Museu de Arte Contemporânea de Sevilha, o segundo em importância, depois do Museu do Prado. Naquela visita, Sendin foi convidado a fazer uma exposição que mudaria o curso da sua vida. Mesmo morando na Espanha, o artista nunca se desligou do Brasil. Entre os compromissos pelos países do mundo, sempre havia espaço para exposições nas capitais brasileiras.
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