terça-feira, 17 de maio de 2016

.: Mammy, de “...E o Vento Levou”, ganha uma história só dela

Fiel ao universo do clássico, autor recria origem, família e vida da babá de Scarlet O’hara, narrando também parte da formação dos Estados Unidos no pré-guerra da Secessão

Durante a revolução que transformou São Domingos, uma colônia francesa, no independente Haiti, em fins do século XXVII, um ataque cruel a uma família deixou uma única sobrevivente, que se salvou dos rebeldes ao se esconder num cesto de mandioca. A menina é descoberta por um capitão francês, que a leva para casa e sua esposa, Solange, lhe dá o nome de Ruth.

O casal e a menina conseguem fugir das batalhas sangrentas na ilha e zarpam para os Estados Unidos. Ruth é a criada Mammy, de “...E o Vento Levou”, que agora ganha sua própria narrativa neste livro escrito por Donald McCaig, autor premiado por suas obras sobre a Guerra Civil americana e também escolhido pelos herdeiros de Margareth Mitchell para escrever “O Clã de Rhett Butler”, a sequência autorizada do clássico que eternizou a história de Scarlet O’Hara.

Em “A jornada de Ruth”, o leitor acompanha a vida de Ruth e da família de Solange, avó de Scarlet, ao mesmo tempo em que vê a formação dos Estados Unidos, a sua economia algodoeira do Sul, a convivência e os conflitos entre os americanos, imigrantes franceses e irlandeses, os ianques do Norte e os escravos. Ruth vive como escrava de Solange até ser comprada por um marceneiro negro, liberto, e os dois vão viver em outra cidade. Com Jehu, ela tem uma filha, Martine. Seu segundo drama começa quando Jehu passa a conspirar, na igreja da cidade, com o pastor e outros negros contra as ofensas e humilhações do homem branco.

Ruth, que acaba voltando para a casa de Solange e passa a viver novamente como aia da família, tem o dom de ver o futuro e os espíritos das pessoas – tanto das que já se foram quanto dos que estão prestes a morrer. Apesar de ser protagonista nesta história, respeitada na casa em que trabalha e uma das vozes narradoras do livro, ela nunca contesta sua condição nem a dos negros. Vive com as agruras e pequenas felicidades que o destino lhe impõe, aceitando, não sem deixar de sofrer, o que está por vir. No primeiro encontro entre Rhet Butler e Scarlet O’Hara, casal vivido por Clark Gable e Vivien Leigh no cinema, ela antevê o futuro dos dois. No livro, Rhett é filho do homem que mandou enforcar o marido de Ruth.

A obra é dedicada a Hattie McDaniel, a primeira negra a ganhar um Oscar de melhor atriz coadjuvante em 1939 por sua interpretação de Mammy no filme. A atriz era criticada pelo movimento negro nos Estados Unidos por somente aceitar o papel de empregadas domésticas ou escravas. Ela respondia dizendo que preferia ganhar bem para interpretar esses papéis que ganhar mal interpretando-os na vida real.

McCaig foi quem deu a ideia de escrever, em vez de mais uma sequência, a vida pregressa de Mammy. Ao jornal The New York Times, ele disse que precisava escrever sobre Mammy por achar que, junto com Scarlet e Rhett, ela era uma das principais personagens da trama. “Não sabíamos onde ela tinha nascido, se tinha sido casada, se tinha tido filho, nem mesmo seu nome”. O autor afirmou ainda que outra de suas pretensões era jogar luz sobre a matriarca do clã, Ellen Robillard O’Hara, mãe de Scarlet e filha de Solange. A tradução é de Marilene Tombini.

Trecho:
“Assim que a luz do sol dourou a relva do pântano, um mulato muito magro e uma mulher muito preta partiram de Savannah pela antiga Estrada Real. Ela se equilibrava sobre um baú de ferramentas numa carroça decrépita ao lado de tábuas de cerejeira, nogueira e mogno de diferentes tamanhos. O homem conduzia a mula velha, que tendia muito a inclinar.

Ruth se maravilhava com as flores da primavera, o coaxar das rãs minúsculas e dos sapos grandes, além de todos aqueles pássaros arremetendo e mergulhando sobre as tábuas e o capim alto. Ruth entendia exatamente como eles se sentiam, pois era como ela também se sentia!”

Sobre o autor:
Donald McCaig é o consagrado autor de "Canaan", de "Jacob’s Ladder" e o vencedor do Prêmio Michael Shaara por Excelência em Ficção sobre a Guerra Civil, além do Prêmio Literário da Biblioteca da Virgínia por Ficção. Ele foi escolhido pelos herdeiros do espólio de Margaret Mitchell para escrever "O Clã de Rhett Butler", a sequência autorizada de "...E o Vento Levou".

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