quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

.: Última apresentação de "Annie" leva público ao delírio - e às lágrimas


Por Helder Moraes Miranda, em janeiro de 2019.

A história de uma pequena órfã que luta contra tudo e todos para reencontrar os pais e pela sobrevivência é um argumento que sempre é bem acolhido pelo público. Muitas vezes, a crítica também se rende a esse argumento e a mágica se faz. Na literatura, com Charles Dickens, em "Oliver Twist", ou mesmo em "Sozinha no Mundo", do brasileiro Marcos Rey - sucesso entre os adolescentes, leitores da série Vaga-Lume. A identificação com o personagem gera empatia.

"Annie - O Musical", espetáculo baseado na história em quadrinhos "Little Orphan Annie", de Harold Grayem, é sobre uma órfã cheia de personalidade e otimismo. A obra também rendeu um filme que foi clássico da "Sessão da Tarde" nos anos 80 e, posteriormente, outros dois, e continua atual hoje, até mesmo necessário em tempos em que se precisa, cada vez mais, de esperança.

Quando um milionário resolve adotar essa orfã e oferecer a ela tudo aquilo o que lhe foi privado, a personagem se torna uma espécie de "Cinderela-mirim", com todas as desventuras que o passado de órfã pode oferecer, como impostores e interesseiros dispostos a tirar alguma vantagem da sorte da menina. Do outro lado do palco, no entanto, absolutamente todos um dia quiseram se colocar no lugar dessa heroína tão forte e destemida.

Envolvido por essa atmosfera de empatia e identificação, além de canções que grudam na mente em cenários de encher os olhos, o público que assistiu a última apresentação de "Annie" teve acesso a uma apresentação mais do que especial por vários motivos. 

Todo o teatro Santander estava mobilizado para aquele momento como se as pessoas ali tivessem o mesmo objetivo - atores, plateia e funcionários do espaço: fazer parte daquela história. O destaque da última apresentação foi Ingrid Guimarães, muito mais solta do que na apresentação em que assistimos anteriormente - crítica neste link

No tom de comédia, ela acrescentava no texto coisas que soavam emocionais: "Pela última vez, saiam daqui!", para as órfãs e, em outra cena, dirigindo-se às atrizes-mirins na pele da personagem engraçada e má: "Não é do meu feitio dizer isso, mas vocês são muito talentosas"

Miguel Falabella, diretor e um dos protagonistas, disse, em cena, ainda interpretando o personagem, que as crianças do espetáculo terão a trajetória que merecem após esse espetáculo, que foi um divisor de águas na carreira de muitos ali. A presença dele, colocando improvisos em cena, tornaram tudo mais engraçado e leve.

As três protagonistas, revezando-se no papel de "Annie" deram, cada uma, uma interpretação diferente da personagem, terminaram o espetáculo emocionadíssimas - foi um xororô daqueles. Não teve como se emocionar, porque nas lágrimas dessas meninas havia um misto de emoção por um ciclo concluído e as incertezas típicas do que vem pela frente após a concretização de um projeto tão grandioso. Tudo muito compreensível, já que é difícil se despedir de uma personagem tão emblemática e cheia de mensagens como a própria Annie.

Em comum entre todas as atrizes que interpretaram o papel-título, a afinação e a sensação de que todos ouvirão falar muito delas, crianças que, hoje, são tão dedicadas ao teatro. Isso faz com que ainda se tenha esperança no futuro e, principalmente, na nova geração. 

Luiza Gattai abriu o espetáculo e deu a graça e a melancolia que o papel necessitava - é uma Annie sofrida. Em seguida, Maria Clara Rosis imprimiu a força necessária à personagem e conseguiu emocionar com a sua presença de palco consistente. Sienna Belle, a menor das três é, também, a mais engraçada e, naturalmente, a Annie mais infantil e espontânea da temporada.

Sara Sarres estava impecável como a governanta que faz a história girar. Cleto Baccic, no papel de um trambiqueiro, brilha com o seu vozeirão e mostra versatilidade em papéis diferentes - já que na primeira vez, ele era o substitudo de Falabella. Ludmillah Anjos, que ficou conhecida nacionalmente pela participação na primeira edição do programa "The Voice" sendo uma das finalistas, e em "Ghost - O Musical" foi uma das protagonistas, crava presença com várias personagens pequenas, mas marcantes. 

Entre as orfãs, uma das que mais se destaca é Valentina Oliveira. Na pele da Letícia de "As Aventuras de Poliana", ela é engraçada. Como a órfã que espera por dias melhores, ela demonstra uma energia e uma presença de palco que faz com que seja difícil tirar os olhos dela. Com ela, estamos diante de uma pequena grande atriz que também vem despontando para o estrelato. Miguel Falabella tem o olho clínico para descobrir talentos.


Que o digam as meninas que, selecionadas entre 3.500 crianças, com muita competência, fizeram o espetáculo ser o que é: Ashley Bernardi, Beatriz Kuffel, Maria Clara Bueno, Lili Siqueira, Luíse Nogueira, Rinon Ueyama, Giovana Maciel, Manu Costa, Mafê Mossini, Bia Brumatti, Isabella Daneluz, Nina Medeiros, Ana Clara Martins, Júlia Berlim, Giulia Ferrari, Helô Baumarchi e Isabella Faile. "Annie", além de ser uma bela homenagem à família e à celebração de ser criança no teatro musical, deveria ter, como subtítulo, "Nasce Uma Estrela". Várias delas surgiram a partir desse espetáculo. Tempo ao tempo.

"Annie - O Musical" - 'Vida Dura Irmão' ("It's The Hard Knock Life")

*Helder Moraes Miranda é bacharel em jornalismo e licenciado em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos, pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura, pela USP - Universidade de São Paulo, e graduando em Pedagogia, pela Univesp - Universidade Virtual do Estado de São Paulo. Participou de várias antologias nacionais e internacionais, escreve contos, poemas e romances ainda não publicados. É editor do portal de cultura e entretenimento Resenhando.

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