quinta-feira, 25 de julho de 2019

.: "Sylvia", papel que foi de Sarah Jéssica Parker, faz autocrítica ao ser humano


Por Helder Moraes Miranda, em julho de 2019.


Nos primeiros minutos de "Sylvia", o público percebe que irá acompanhar uma relação inusitada e diferente de tudo o que já assistiu no teatro - e é uma ousadia. Mais que uma história de amor off-Broadway, "Sylvia", o espetáculo em cartaz no Teatro das Artes até 1º de setembro, faz uma autocrítica ao ser humano. 

Escrito pelo dramaturgo norte-americano A. R. Gurney, o espetáculo é sobre um homem que, para suprir a "Síndrome do Ninho Vazio" causada pela ausência dos filhos, adota, alimenta, interage e protege um animal... Seria este homem capaz de abandonar aquele que -em algum momento- não foi visto como algo descartável? Por que, para o homem moderno, tudo, até os sentimentos despertados por outro ser, pode ser efêmero? E se essa efemeridade seja pano de fundo para tratar da relação entre homens e bichos? Os laços não deveriam ser indissolúveis?

Dirigido por Gustavo Wabner, a peça teatral é apresentada como uma comédia romântica, e não deixa de ter alguma razão, pois há momentos engraçados em meio a um drama que envolve um triângulo entre um homem, uma cachorrinha e a esposa dele. Mas é sobre o drama de "Sylvia" e seus algozes que o espetáculo cresce e se torna saboroso e, ao mesmo tempo, perturbador. 

Esse trisal é pautado, de um lado, pelo afeto e, de outro, pelo ressentimento. No centro do embate entre razão e emoção está um animal de quatro patas. Sylvia, ao mesmo tempo em que é o abismo entre o casal, também é o caminho para a redenção de um relacionamento que só pode existir se um respeitar o querer do outro. 
Se por um lado essa convivência entre o homem e a cachorrinha desperta os melhores sentimentos nele, na mulher essa relação mostra a cara da intolerância ao querer do outro. Mas e se esse querer interfere diretamente na contrariedade do outro, como resolver? Existem pontos de vista errados nessa verdade de três lados? 

Rejeição e competitividade são mostradas a partir da ótica de Kate, uma bem-sucedida professora de literatura, interpretada por Françoise Forton em mais um bom momento no teatro. Segura e imponente no palco, Françoise é o contraponto e a locomotiva que move a história.

A interpretação contida e suave de Cassio Scapin dá credibilidade a Greg, o homem que facilmente poderia cair no patológico não fosse a competência do ator, que se reinventa em cena e em nada lembra os papéis infantis que o consagraram e o colocaram em uma espécie de pedestal na memória afetiva de crianças que já cresceram.

Rodrigo Fagundes mostra toda a versatilidade nos papéis hilariantes e antagônicos de Tom, Sônia e Nadir. Mas quem brilha, mesmo, é a atriz Simone Zucato que, além de assinar a tradução do espetáculo, está em um papel que mistura candura com rompantes de sensatez, quando joga verdades na cara de quem a confronta. Ou será a consciência dos outros que a julgam como alguém indigno de  ser tratada com dignidade?

No papel que já foi de Sarah Jessica Parker, ela está no meio de tudo e domina todos os assuntos do espetáculo em um papel que parece ter sido escrito sob medida para as nuances de uma atriz que desponta como uma das maiores promessas do teatro brasileiro. Ela ensina, ela cobra, ela é especial de várias maneiras. Uma das personagens mais carismáticas da temporada no teatro paulistano, a "Sylvia" de Simone Zucato é uma força da natureza.


"Sylvia"
Ficha Técnica
Texto: A. R. Gurney
Tradução: Simone Zucato
Direção: Gustavo Wabner
Elenco: Françoise Forton, Cassio Scapin, Simone Zucato e Rodrigo Fagundes
Cenário: Camila Schimtz
Figurino: Marcelo Marques
Iluminação: Wagner Freire
Trilha sonora: Daniel Maia
Preparação Vocal: Edi Montecchi
Direção de movimento: Sueli Guerra
Visagismo: Tainá Lasmar
Social Media: Deivid Andrade
Programação visual: Victor Hugo Cecatto
Assessoria de imprensa: Morente Forte
Assistente de direção: Chris Penna
Assistente de cenografia: Sheila Zago
Administração Financeira: Victor Fioravanti
Produtora Assistente: Amanda Leones
Diretora Técnica: Débora Zatz
Camareiras: Elaine Danieli e Cristiane Félix
Operador de Som: Rafael Junqueira
Captação de recursos: Rumo Cultural
Leis de Incentivo: Sodila Projetos Culturais
Contabilidade: Beltrame Contabilidade
Direção de Produção: Jorge Elali e Simone Zucato
Idealização: Simone Zucato
Realização: SPZ Produções Artísticas e Jorge Elali Produções
Apresentado por: Eurofarma
Copatrocínio: Ourofino Saúde Animal

Serviço
"Sylvia"
Teatro das Artes (769 lugares)
Avenida Rebouças, 3970 – Shopping Eldorado, 3º piso
Bilheteria: terças e quartas das 14h às 20h; de quinta a domingo, das 14h até o início do espetáculo. Aceita cartão de débito e crédito. Não aceita cheque.
Informações: (11) 3034-0075
Vendas pela internet: www.sympla.com.br
Sexta e sábado às 21h | Domingo às 19h
Ingressos:
De R$ 50 (balcão fundo e lateral) | R$ 70 (Balcão meio) | R$ 90 (plateia)

Duração: 80 minutos
Recomendação: 12 anos
Gênero: comédia romântica
Estreou dia 12 de julho de 2019
Temporada: até 1º de setembro

*Helder Moraes Miranda é bacharel em jornalismo e licenciado em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos, pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura, pela USP - Universidade de São Paulo, e graduando em Pedagogia, pela Univesp - Universidade Virtual do Estado de São Paulo. Participou de várias antologias nacionais e internacionais, escreve contos, poemas e romances ainda não publicados. É editor do portal de cultura e entretenimento Resenhando.


Encerramento do espetáculo



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