segunda-feira, 18 de novembro de 2019

.: Espetáculo "O Ovo de Ouro" comemora os 80 anos de Sérgio Mamberti

Espetáculo "O Ovo de Ouro", de Luccas Papp, traz à tona sonderkommando, figura pouco conhecida no Holocausto. Fotos: Leekyung Kim
O conflito vivido por judeus que eram obrigados a auxiliar na aniquilação de seu próprio povo e, ao mesmo tempo, ter que conviver com o medo da morte é o mote para o espetáculo. Com direção de Ricardo Grasson, peça traz no elenco Sérgio Mamberti, Leonardo Miggiorin, Rita Batata, Ando Camargo, além do próprio autor

A função do Sonderkommando ou comandos especiais, unidades de trabalho formadas por prisioneiros selecionados para trabalhar nas câmaras de gás e nos crematórios dos campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, inspira "O Ovo de Ouro", com texto de Luccas Papp e direção de Ricardo Grasson. A peça estreia no dia 21 de novembro, no Sesc Santo Amaro, onde segue em cartaz até 15 de dezembro.

Obrigados a tomar as atitudes mais atrozes para acelerar a máquina da morte nazista, esses prisioneiros conduziam outros judeus à câmara de gás, queimavam os corpos e ocultavam as provas do Holocausto. Quem se recusava a desempenhar esse papel era morto, quem não conseguia mais desempenhar a função, era exterminado com os demais.

“'Ovo de Ouro' surge da minha necessidade de não deixar morrer esse pedaço tão importante da História que é a Segunda Guerra Mundial, o nazismo e o Holocausto. A ideia de escrever a peça surgiu em 2014, quando eu fui apresentado ao universo do Sonderkommando por meio de um pequeno artigo em uma revista. Essa figura do judeu que tem que auxiliar com o extermínio do próprio povo mexeu muito comigo e minha noção de humanidade, e me incentivou a tentar entender por que eles faziam isso, por que eles não se recusavam. Com este espetáculo temos a oportunidade de falar sobre Segunda Guerra sob o ponto de vista dessa figura pouco conhecida”, explica Luccas Papp. 

Contada em diferentes episódios e tempos, a trama revela a vida de Dasco Nagy (Sérgio Mamberti), que foi Sonderkommando e sobreviveu ao campo de concentração de Auschwitz-Birkenau. Em cena, dois planos são apresentados – a realidade e a alucinação – para retratar a relação do protagonista Dasco Nagy quando jovem (Luccas Papp) com seu melhor amigo Sándor (Leonardo Miggiorin), com a prisioneira Judit (Rita Batata) e com o comandante alemão Weber (Ando Camargo). No presente, Dasco é entrevistado, já em idade avançada, por uma jornalista, narrando os acontecimentos mais horrorosos que viveu no campo de concentração e descrevendo a partir do seu ponto de vista os horrores e tristezas da Segunda Guerra Mundial.

O papel de Dasco é dividido pelos atores Sérgio Mamberti, que dá vida ao personagem no tempo presente/alucinação, e Luccas Papp, que o interpreta no passado/realidade, no plano da memória. “Talvez este seja um dos personagens mais desafiadores na minha carreira por uma série de fatores. Um deles é por representar o mesmo personagem que Sérgio Mamberti, o que é uma honra e uma responsabilidade muito grande. Segundo, é que ele é um sonderkommando vivendo situações de caráter tão absurdo. Eu preciso fazer com que o público acredite na realidade do que acontecia nos campos de concentração. Tenho que trabalhar com elementos obscuros no meu interior para trazer veracidade para essas situações. E como a peça é feita em ordem não cronológica – são nove cenas divididas entre passado e futuro – tenho que organizar minha cabeça para conseguir colocar a emoção certa na hora certa”, esclarece o ator e dramaturgo.

A dualidade interna entre ser obrigado a auxiliar na aniquilação de seu próprio povo e o medo da morte transforma o Sonderkommando em um complexo personagem a ser debatido. Nesse contexto são muitas as questões discutidas, desde o significado real de humanidade, o medo da morte, os limites da mente e da alma humana e a perda da própria identidade.

A dramaturgia foi inspirada em uma pesquisa sobre obras que discutiam os temas do Holocausto e da Segunda Guerra Mundial. Entre elas, destacam-se os livros "Sonderkomamando: no Inferno das Câmaras de Gás", de Shlomo Venezia, e "Depois de Auschwitz", de Eva Schloss; e o filme "O Filho de Saul", de László Nemes, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro de 2016.


A encenação
A encenação tem como inspiração e referência, a sétima arte, em todos os seus desdobramentos, nuances e dezenas de relatos deixados pelos sobreviventes dos campos de extermínio. “Apontamos no tempo presente, o encontro entre a jornalista e o sobrevivente, de forma fantasmagórica, alucinógena, imprimindo uma atmosfera vibratória, de vida pulsante às cenas e aos personagens. Quando nos transportamos, ilusoriamente, ao campo de concentração, ao passado concreto, vivido pelos personagens apontamos uma atmosfera fria, enclausurada, suspensa e sem vida, que nos conduz imageticamente àquelas sensações de crueldade. Luz, som, cenografia e figurino conversam com essa estética e nos conduzem à proposta de encenação. A ideia é fazer com que as sensações criadas por estes elementos no espaço cênico atinjam o espectador de maneira intensa. Como encenador, entendo que a cenografia, o figurino, a iluminação, a trilha sonora não são panos de fundo ou cama para um espetáculo, juntos eles atuam concretamente fusos ao texto, formando assim uma narrativa dramatúrgica única”, revela o diretor Ricardo Grasson.

Para que não se repita
“Em tempos de pouco diálogo, imposição de ideias e ideologias, censura e extremismos é fundamental debatermos esses temas tão duros e atrozes para que os erros que provocaram tanto sofrimento no passado não se repitam. É necessário e quase que um dever recordarmos as atrocidades do holocausto nazista, para que a história vivida no final dos anos trinta e início dos quarenta, não volte a nos assombrar. Para que as novas gerações, não testemunhas deste período da história, saibam o que aconteceu e onde a intolerância pode nos conduzir. Auschwitz e outras tristes lembranças do holocausto, podem até escapar da memória, mas jamais deixarão os corações de quem viveu a tragédia, especialmente de quem se atribui a responsabilidade de manter viva, por gerações, as imagens da perversidade humana. Uma das formas de evitar a repetição de tais tragédias coletivas é recordá-la, para que não ressurjam no horizonte, sinais do restabelecimento de ódios raciais, extremismos comportamentais e ideologias sectárias, formando o caldo cultural do qual o nazismo se alimentou e  cresceu”, completa Ricardo Grasson.

"... É fácil esquecer para quem tem memória; difícil esquecer para quem tem coração”..."
Gabriel Garcia Marques

Ficha Técnica
Texto: Luccas Papp.
Direção: Ricardo Grasson.
Elenco: Sérgio Mamberti, Leonardo Miggiorin, Rita Batata, Ando Camargo e Luccas Papp.
Voz em off: Eric Lenate.
Cenografia e visagismo: Kleber Montanheiro.
Desenho de Som e Trilha sonora original: L.P. Daniel.
Desenho de luz: Wagner Freire.
Figurinos e adereços: Rosângela Ribeiro.
Assistente de Direção: Heitor Garcia.
Assistente de Figurino: Eduardo Dourado.
Aderecista: Ronaldo Dimer.
Costureiras: Vera Luz e Noeme Costa.
Alfaiataria: JC.
Posticeria Facial: Feliciano San Roman.
Operação de Som: Rodrigo Florentino.
Operação de Luz: João Delle Piagge.
Camareira: Elizabeth Chagas.
Contra Regra: Roberto Oliveira.
Cenotécnico: Alicio Silva
Supervisão de Conteúdo: Vinicius Britto.
Textos do Programa: Lucia Chermont, Marcio Pitliuk
Franthiesco Ballerini e Priscila Perazzo.
Comunicação Visual: Tua Agencia
Idealização: Luccas Papp e Ricardo Grasson.
Produção: LPB Produções e NOSSO cultural.    
Direção de produção: Ricardo Grasson.
Produção Executiva: Laís Bittencourt e Heitor Garcia.
Gestão de Projeto: Lumus Entretenimento.
Assessoria de Imprensa: Adriana Balsanelli e Renato Fernandes.
Fotos: Leekyung Kim.

Serviço
Espetáculo "O Ovo de Ouro"
Quando: de 21 de novembro a 15 de dezembro
Horário: Quintas e sextas, às 21h. Sábados, às 20h e domingos, às 18h.
Local: Teatro (1º andar | 279 lugares)
Classificação: 14 anos.

Duração: 90 minutos.
Ingressos: R$ 30,00 (inteira). R$ 15,00 (estudantes, +60 anos e aposentados, pessoas com deficiência e servidores da escola pública). R$ 9,00 (Credencial Plena válida: trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo credenciados no Sesc e dependentes). 

Sesc Santo Amaro
Endereço: Rua Amador Bueno, 505, Santo Amaro
Acessibilidade: universal.
Horário de funcionamento da unidade e bilheteria: Terça a sexta, das 10h às 21h30. Sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h30.
Estacionamento da unidade: R$ 5,50 a primeira hora e R$ 2,00 por hora adicional (Credencial Plena); R$ 12,00 a primeira hora e R$ 3,00 por hora adicional (outros).
Disponibilidade: 158 vagas para carros e 36 para motos. A unidade possui bicicletário gratuito.

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