domingo, 5 de abril de 2020

.: Entrevista: Raul Ellwanger, a voz da resistência cultural - Por Luiz Otero


Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico musical.


O músico e compositor gaúcho Raul Ellwanger tem uma trajetória singular dentro da nossa música. Revelado no final dos anos 60, época dos festivais, ele acabou se exilando no período do Governo Militar, com passagens pelo Chile e Argentina, onde se tornou uma referência para os músicos brasileiros que lá se apresentavam. 



Ao retornar para o Brasil, em 1977, passou a desenvolver uma carreira musical com forte influência da música latino-americana e das raízes culturais do Rio Grande do Sul. Um de seus trabalhos mais recentes foi a "Cantata Sete Povos", uma obra composta para vozes e pequena orquestra em memória dos índios guarani e dos jesuítas que conviveram nos chamados Sete Povos das Missões Orientais do Rio Uruguai. 

Também acabou de lançar o livro "Nas Velas de Um Violão", com crônicas, letras de canções e partituras de sua autoria. Nessa entrevista concedida para o portal Resenhando, Raul conta um pouco sobre esses projetos e relembra histórias sobre a sua carreira


RESENHANDO – Você surgiu na época dos festivais e acabou tendo que sair do país em função da postura combativa nas letras. Com foi a experiência no exílio?
RAUL ELLWANGER – Eu fiz parte daquele contexto dos festivais. Minha canção, "O Gaúcho", ficou em segundo lugar no I Festival Sul-brasileiro da Canção em 1968. Em 1970 viajei para o Chile, onde permaneci até 1974. Com a queda do governo de Salvador Allende e o início do governo Pinochet, acabei viajando para a Argentina, onde fixei residência em Buenos Aires. Ingressei no Conservatório Municipal de Buenos Aires, estudando vários instrumentos, mas com especialização em violão clássico. Passei a tocar na noite portenha e acabei me tornando uma espécie de referência para os músicos brasileiros que iam à Argentina naquele período. Reencontrei Vinícius de Moraes, Joyce, Toquinho, Mutinho e Gilberto Gil, entre outros. Foi uma experiência muito interessante.


RESENHANDO – Ao retornar a Brasil, você passou a desenvolver uma carreira musical que acabou tendo boa receptividade da crítica especializada e fez parcerias com nomes conhecidos na música latina, como Mercedes Sosa. Como foi esse processo?
RAUL ELLWANGER – Tive oportunidade de lançar discos autoriais e ainda participei do Festival MPB Shell nos anos 80. Tive canções gravadas por Mercedes Sosa, León Giecco, Pablo Milanes, Antonio Tarragô Ros, Renato Borghetti e Beth Carvalho. Elis Regina, que é gaúcha de nascimento, participou da gravação da canção "Pequeno Exilado", no disco que lancei em 1980. Foi um período de muito aprendizado e de ótimas experiências. Manter contato e estreitar relações com gente como Mercedes Sosa foi mais do que um presente. Uma dádiva divina. Abriu novos horizontes para mim.



RESENHANDO – Recentemente você lançou o livro "Nas Velas de Um Violão". Como foi esse projeto?
RAUL ELLWANGER – "Nas Velas do Violão" reuniu, na verdade, dois projetos pessoais. Primeiro, o desejo de escrever memórias. Eu sempre fui muito cobrado por pessoas próximas para fazer isso. Em segundo lugar, transmitir um pouco do que aprendi sobre o ofício de criar canções. Tentei encaixar as duas coisas. Foi algo muito gratificante ver o resultado final desse trabalho. Cada letra de canção tem sua crônica e partitura.


RESENHANDO – Seu projeto mais recente foi a "Cantata Sete Povos". Essa peça musical ainda vai ser lançada em disco?
RAUL ELLWANGER – Por enquanto, ela está disponibilizada para audição em meu site oficial (www.raulellwanger.com.br). Trata-se de uma suíte popular de 12 canções que conta a saga das comunidades Guaraní e padres jesuítas nos séculos XVII e XVIII na região das chamadas “Misiones”, no Noroeste do atual Rio Grande do Sul.


RESENHANDO – O que você está programando para o futuro?
RAUL ELLWANGER – Tenho intenção de produzir um disco com canções do compositor cubano Sylvio Rodrigues, que sempre foi uma referência importante para mim e para muitos músicos de minha geração.


"Pealo de Sangue" (com Mercedes Sosa)

 "Eu Só Peço a Deus"

"Pequeno Exilado" (com Elis Regina)

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