domingo, 22 de agosto de 2021

.: Existe espaço para o "Comendador" de "Império" na dramaturgia de hoje?


Abusivo e egoísta, ele forjou a própria morte sem se importar com quem realmente gostava dele. Globo/Alex Carvalho.

Por Helder Moraes Miranda, editor do Resenhando.

Quando passou pela primeira vez, em 2014, a novela "Império" consagrou um personagem: o "Comendador" José Alfredo. Abusivo e egoísta, ele forjou a própria morte sem se importar com quem realmente gostava dele. Além disso, comeu um exame de DNA para não saber se a filha bastarda era realmente biológica (ou não) só porque não tem capacidade para lidar com a verdade. 

Depois, em um plano mirabolante de forjar a própria morte, deixa a "bucha" nas mãos da filha, mas tira todo o dinheiro da empresa - deixando todos, inclusive a filha, sem ter como administrar os negócios da empresa, em uma espécie de sadismo própria dos psicopatas. 

Intérprete do personagem, o ator da novela, Alexandre Nero, mudou de patamar e se tornou astro de primeira grandeza na TV Globo, e o autor da obra, Aguinaldo Silva, ganhou um Emmy Internacional pela novela. Mas será que sete anos depois a novela - que vem patinando na audiência - e principalmente o personagem... teria a mesma aceitação? 

Na novela, João Alfredo, além de tratar todos os filhos como nada, tem um caso com uma moça bem mais jovem do que a filha. A amante, com ares de "ninfetinha", é chamada de "sweet child" ("doce criança"). Ele não abre mão de brincar com os sentimentos da jovem, que chorou a morte de mentirinha dele a troco de quase nada. Também não "amacia" em nada a vida da esposa, com quem se mantém casado e a trai de todas as maneiras. José Alfredo ainda tripudia dos sentimentos da vilã Cora, e em uma das cenas a dopa para não cumprir uma promessa absurda de uma noite com ela em troca de pedras que foram roubadas e que pertenciam a ele. 

"Império" é uma novela péssima que, de tão ruim, fica gostosa de assistir (para tirar sarro, evidente). O "Comendador", por sua vez, é insuportável e ridículo como tudo o que o rodeia. Há uma movimentação de repúdio, mínima, é verdade, mas contundente, nas redes sociais. A maior parte formada por mulheres que condenam o comportamento antiquado do protagonista de "Império". 

Muitos repudiam e questionam as atitudes de um personagem tão controverso. Há uma pesquisa recente nos Estados Unidos que aponta um declínio do protagonista médio dos seriados norte-americanos: o anti-herói de meia idade, com algum conflito que dificultam a vida de todos os que estão ao redor deles. Mulheres estão assumindo este espaço e, ao que tudo indica, vem uma leva de mulheres tão detestáveis quanto personagens masculinos com este perfil na teledramaturgia. Tipos patéticos como os do Comendador parecem, finalmente, estar com os dias contados.

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