quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

.: Entrevista: Carla Camurati, a corajosa diretora de "8 Presidentes 1 Juramento"


Carla Camurati, grande nome da retomada do cinema nacional com o filme "Carlota Joaquina", estrelado por Marieta Severo em meados dos anos 90, volta em 2022 com uma série documental necessária para entender os dias de hoje. Foto: Divulgação


Erros, acertos e consequências dos últimos oito governos brasileiros são retratados em "8 Presidentes 1 Juramento - A História de Um Tempo Presente’, minissérie que a TV Globo exibe a partir do dia 2 de janeiro para resgatar a história da política do Brasil desde o processo de redemocratização do país. A série tem como base o filme produzido pela Copacabana Filmes em coprodução com a Globo Filmes, GloboNews e o Globoplay. 

 “A série cumpre a missão de conectar a eleição de 2022 com a história da política brasileira desde a constituinte e trazer as gerações seguintes para uma visita à nossa história viva. Os jovens estão encarregados de construir o nosso futuro. E para isso é fundamental que tenham conhecimento do que passou nas últimas décadas. A exibição aumenta muito a nossa responsabilidade ao propor um debate sobre a nossa política e a história do nosso tempo presente. Ela convida toda a população do país a fazer parte deste debate”, afirma a diretora Carla Camuratti, que fechou o ciclo do filme com o mandato de Jair Bolsonaro e a eleição para o terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.

 A produção tem como fio condutor registros captados pela imprensa nacional e estrangeira ao longo das décadas, além de materiais vindos do cinema, de jornais, revistas e de outras mídias. “Rever os fatos é muito importante. A reprodução deles com atores deixaria de cumprir com a oportunidade de usar o passado recente para entender e transformar o presente e o futuro. A linguagem tinha que ter uma dramaturgia construída com os vários registros do que vivemos nesses anos. Sem opiniões, sem explicações e sem filtro”, explica a diretora. 

 O fim da Ditadura Militar no Brasil e o movimento Diretas Já, em meados dos anos 80, são o ponto de partida da história. A Constituição de 1988 - a oitava do país, concebida a partir da grande participação popular - é um dos destaques desta década em virtude dos avanços sociais que a Carta Magna permitiu desde sua promulgação. Assim como a eleição e posse de Fernando Collor, primeiro presidente eleito pelo voto direto, que marcou o início dos anos 90. A gestão presidencial, marcada pelo confisco das cadernetas de poupança e a alta inflação no Brasil, era uma realidade dos brasileiros nesta época. Ainda no início da década, Collor sofreu impeachment e o então vice, Itamar Franco, assumiu a Presidência.  

 O segundo episódio revisita as disputas eleitorais que culminaram com as vitórias de Fernando Henrique Cardoso, ambas em primeiro turno, e o início do Plano Real, em 1994, que trouxe estabilidade econômica para o país. A virada para os anos 2000, a celebração dos 500 anos do Descobrimento do Brasil e o inédito tratamento brasileiro contra a AIDS encerram o capítulo. Entre os destaques do terceiro e do quarto episódios estão a descoberta do Pré-Sal durante o governo Lula e a chegada da primeira mulher à presidência do Brasil, Dilma Rousseff.

O quinto e último episódio da minissérie começa com a posse de Temer no lugar de Dilma, que sofreu impeachment, e iria até a eleição em que Jair Bolsonaro se tornou presidente do Brasil. Para a versão no canal, o episódio ganhou conteúdo inédito em relação ao filme e inclui momentos marcantes das políticas adotadas pelo governo Bolsonaro até o processo eleitoral de 2022, que resultou na eleição de Lula como presidente da república, e as manifestações ocorridas em diversas partes do Brasil, após a divulgação do resultado das urnas.

“Queria uma mistura entre fatos e emoções e não de opiniões sobre essa vivência. E queria deixar em aberto para que o espectador criasse as suas impressões. Como não existem entrevistas feitas por mim, o filme acontece sempre no presente. Conseguimos um resultado onde é possível observar os protagonistas construindo a história no momento em que ela está acontecendo”, conclui Camurati. "8 Presidentes 1 Juramento - A História de um Tempo Presente" estreia na TV Globo nesta segunda-feira, dia 2 de janeiro, logo depois de "This Is Us".  Confira abaixo a entrevista completa de Carla Camurati.

 
O que representa a exibição desta produção logo após um importante processo eleitoral pelo qual o país passou?
Carla Camurati - 
Podemos dizer que a série nasce no mesmo ano em que já precisa passar no vestibular. O processo eleitoral que nos conduziu ao terceiro mandato do Presidente Lula já veio carregado de relevância histórica. A série cumpre, portanto, a missão de conectar a eleição de 2022 com a história da política brasileira desde a constituinte. A exibição aumenta muito a nossa responsabilidade ao propor um debate sobre a nossa política e a história do nosso tempo presente. A decisão da Globo de exibir essa série sobre a política é muito positiva e corajosa. Ela convida toda a população do país a fazer parte deste debate e, com isso, crescem as chances de a população ter uma visão ampla e histórica dos movimentos políticos.


Acredita que os brasileiros acabam por esquecer da própria história enquanto nação?
Carla Camurati - 
Temos uma história política muito rica, intensa e às vezes difícil de lembrar...  Quem viveu o governo militar, a constituinte e a redemocratização não se esquecerá nunca dessa etapa da história. A série busca trazer as gerações seguintes para uma visita à nossa história. Os jovens estão encarregados de construir o nosso futuro. E para cumprir essa missão que a vida lhes reserva é fundamental que eles tenham o conhecimento do que passou nas últimas décadas.

 
Como surgiu a ideia de fazer este filme ?
Carla Camurati - 
Às vezes, durmo com um problema e acordo com uma ideia... Estávamos em 2015, eu andava consumida com a condução da política brasileira. O comportamento de boa parte dos políticos era constrangedor... Aliás, tem sido muito difícil assistir como o Legislativo tem se comportado frente ao país. A mentira virou moeda corrente e o interesse público desapareceu, cedendo lugar ao interesse pessoal. Comecei a ter a sensação de que os jovens não tinham a menor ideia do que havia acontecido no país. Falta conhecimento sobre o passado recente. Trata-se de um passado que influi muito no presente. Um tempo ainda ao nosso alcance. Vejo isso como um conhecimento central se quisermos mudar o rumo da nossa História.

 
Por que se aventurar no formato do cinema documental e qual é a grande diferença para o formato ficcional?
Carla Camurati - 
Eu precisava fazer esse filme. E este trabalho precisava ter as imagens reais do que vivemos. Rever os fatos é muito importante. A reprodução deles com atores deixaria de cumprir com a missão de usar o passado recente para entender e transformar o presente e o futuro. A linguagem que eu pensei para esse filme tinha que ter uma dramaturgia construída com os vários registros do que vivemos nesses anos ... Sem opiniões, sem explicações e sem filtro.


Qual parte do documentário você gosta mais?
Carla Camurati - 
O que eu mais gosto neste trabalho é o conjunto. Sempre gostei de História e há algum tempo venho estudando a história do tempo presente. Fiz filmes sobre histórias passadas, mortas no tempo. E, nessa série, vemos a História viva, aquela que ainda podemos mudar o curso. Grande parte das pessoas estão vivas e/os fatos que acabamos de viver ainda estão repercutindo no presente. Hoje podemos reviver 30 anos da história política brasileira com todos os fatos e seus protagonistas. Está tudo registrado. E quando colocamos a História do Brasil na mesa, sem versões e narrativas, aprendemos muito sobre o que somos, sobre a nossa diversidade. É isso que eu mais gosto na série: ela oferece uma visão ampla dos principais movimentos da nossa vida política. Nos mostra o caminho que percorremos na construção da nossa democracia.

 
O documentário, basicamente, se utiliza de materiais jornalísticos (imagens, entrevistas, recortes de jornais e capas de revistas). Na sua visão, qual a missão do jornalismo brasileiro?
Carla Camurati - 
O jornalismo brasileiro na sua pluralidade cumpre muito bem a missão de nos manter informados sobre tudo o que acontece ou pode acontecer. Podemos observar também, ao longo da série, como a comunicação mudou nesse período, não só pela quantidade e pluralidade de registros, mas também na sua forma de narrar os fatos. Os jornalistas têm sido os nossos olhos e ouvidos no universo da política e, com certeza, se a democracia brasileira segue viva, apesar de todos os percalços, o jornalismo desempenhou um papel importante.



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