quinta-feira, 18 de abril de 2024

.: Isabelle, a amazonense: entrevista com a terceira colocada do BBB 24

Isabelle - Foto: Globo/João Cotta


"Meu maior objetivo era, de fato, ser campeã. E eu consegui alcançar. Essa vitória vem independentemente do pódio, em um sentimento de merecimento com o carinho do povo, os trabalhos que já estão chegando. Eu entrei com o interesse de ser campeã, e saio campeã". É com esta afirmação que Isabelle celebra, com muito entusiasmo, a terceira colocação do "Big Brother Brasil 24" (com 14,98% dos votos). A amazonense entrou no jogo decidida a honrar sua cultura e seguir seu coração, e não desviou desta rota em nenhum momento. Também por isso, se arriscou em um jogo solo que a levou até a final, não sem antes gerar críticas e desconfiança nos adversários. Foi a fiel-escudeira de Davi, manteve amizades com outros participantes com os quais também não jogou junto, engatou um romance no finalzinho da competição com Matteus – que começou a temporada como um de seus principais oponentes – e concluiu a participação no BBB com o sentimento de dever cumprido.

Nesta entrevista, Isabelle revisita os momentos que passou no jogo e fala, também, sobre a força de sua participação fora da casa, que uniu os bois Caprichoso e Garantido, do Festival de Parintins, em prol de sua permanência.

 

Você chegou à grande final da temporada e saiu com o 3º lugar. Na sua visão, o que te levou a esse título?

Acho que o que me trouxe esse título foi ter uma personalidade única, apesar de não ter agradado a todos, e uma forma muito íntegra de jogar. Outra coisa que também pode ter me levado a essa grande final foi meu carisma, minha alegria, essa luz toda que irradia vinda dessa ancestralidade cultural que tenho muito orgulho, que é de Parintins. Unificando isso à força do povo amazônica, que fortalece todo mundo que sai do Amazonas em busca de uma oportunidade. Então, acho que a minha torcida e o meu povo me fortaleceram muito para chegar até aqui. Também acredito que nos primeiros paredões, logo no início do jogo, a minha amizade com o Davi. Nós dois jogávamos de forma unilateral, o que nos fortaleceu como jogadores e como amigos e irmãos lá dentro. Então, acho que esses pontos contribuíram para que eu chegasse na final. E muito jejum e oração, orei muito lá dentro (risos).


Como foi chegar à final com o Davi, seu grande amigo, e o Matteus, seu crush na casa?

O Davi nunca deixou de ser meu top 2, desde o começo do jogo, e eu era o dele. Do fundo do meu coração, sem pavulagem, fico muito feliz com a vitória do Davi porque eu conheço a história dele e sei o sufoco que ele passou lá dentro, acompanhei desde o começo. Obviamente eu queria sair milionária e conseguir realizar o sonho da minha família de uma vez por todas, mas me alegra a vitória dele. Fico feliz como se fosse eu. Já o Matteus foi algo improvável porque ele não era meu top, éramos adversários, mas o finalzinho teve uma grande virada. Tanto que ele me mandou para o paredão nesses últimos dias. A gente deixou o coração de lado e foi jogar. Isso é jogo também. O Matteus foi uma grande surpresa, mas foi muito legal porque a gente pôde ficar se cheirando um pouquinho mais (risos).

 

Há diferenças entre a Isabelle de antes do ‘BBB 24’ e a de hoje? Quais foram as mudanças?

Acho que agora eu consigo considerar a minha resiliência porque lá dentro a gente se renova a cada dia. A dinâmica faz você se renovar. Eu entrei cheia de alegria, empolgação, extrovertida como eu sou, porém sem certeza das minhas fraquezas. E hoje saio muito alegre, grata, empolgada e resiliente, mas certa de que eu tenho fraquezas como todo mundo, como qualquer ser humano, principalmente estando em um confinamento. Quando eu entrei, tinha certeza de que eu não ia ter fraquezas e medos. E lá dentro eu tive medos, carência, muita saudade e fraquezas. Saio com a certeza de que eu sou um ser humano comum, principalmente dentro de um confinamento.

 

Qual era o seu maior objetivo ao entrar no reality? Acredita ter conseguido alcançá-lo?

Meu maior objetivo era, de fato, ser campeã. E eu consegui alcançar. Essa vitória vem independentemente do pódio, em um sentimento de merecimento com o carinho do povo, os trabalhos que já estão chegando. O valor do prêmio eu vou trabalhar aqui fora para conseguir fazer e acredito que, em nome de Jesus, vou conseguir em breve. E todos os sonhos que eu tenho vão se realizar, como o da casa própria, de tirar minha mãe do aluguel e dar a ela uma vida melhor. Eu entrei com o interesse de ser campeã, e saio campeã.

 

E qual foi o seu maior medo lá dentro?

Meu maior medo foi sobrecarregar as pessoas dentro e fora da casa levando emoções minhas. Porque você fica muito carente, triste, nervoso, e isso acontece sem querer. Então, eu acabei me sobrecarregando, guardando muitas coisas para mim. Por um lado, isso me deixava com a consciência tranquila, mas por outro fiquei um pouco triste. Mesmo tendo companheiros e aliados, eu não conseguia desabafar alguns sentimentos. Foi um grande desafio. Outro medo era a possibilidade de votar em pessoas que eu gostava. Na reta final, por exemplo, tive que pensar em votar na Giovanna, de quem eu já tinha sido próxima um dia. Estava distante naquele momento, mas não queria ter que votar nela por ter essa gratidão de que um dia ela me ajudou. Isso pesou muito para mim.

 

Durante o programa, você deu grande visibilidade ao festival de Parintins e à cultura amazonense. Como se sente ao saber que essa representação alcançou todo o Brasil através da sua participação no reality?

Esse é um dos motivos de eu ter entrado, para ser campeã e para levar um pouco da minha cultura nortista e amazonense de Parintins, da qual eu tenho muito orgulho. Eu sou o Festival de Parintins porque vivo isso desde cunhatã. Poder falar um pouco do valor que é o Festival de Parintins, que é do Norte, do Brasil, mas que muitas pessoas ainda não conhecem, me alegra muito. É uma festa, mas também uma fonte de renda para muitas pessoas. Por exemplo, alguns pescadores na época do Festival de Parintins viram pintores das alegorias. Ganham uma renda extra e sustentam suas famílias com isso. É uma festa que movimenta muitas vidas não só em Parintins e Manaus, mas no Amazonas e no Norte. Pessoas de Belém e Santarém, no Pará, de Roraima e outros estados vão para Parintins também. É uma grande fonte de renda para o povo que vive da arte. Fora essa paixão de dividir um pouco da cultura que fala dos povos indígenas, dessa magia que a floresta tem quando a gente a preserva, sobre a mãe natureza e os animais. Me sinto engrandecida e uma porta-voz de muitas outras vozes que podem ser ouvidas, mas estão camufladas.

 

Com a repercussão do programa, os bois Garantido e o Caprichoso se uniram para torcerem por você. O que isso representa?

Eu sou uma gota nesse oceano. O nosso Festival de Parintins já existe há mais de 50 anos e os bois, há mais de 100. A gente vive uma rivalidade saudável e essa unificação acontece quando alguma voz do Amazonas sai para ganhar o mundo. Sou muito grata e muito feliz, jamais em toda a minha vida apostei que isso aconteceria. Eu falaria de Parintins mil vezes, como falei, tanto do Boi Garantido quanto do Boi Caprichoso, porque um não existe sem o outro. É por isso que saio do programa me sentindo uma campeã. Eu não me vejo num pódio inferior. De verdade, me sinto muito campeã.

 

Você chegou a vencer uma prova do líder, mas cedeu o privilégio para a Beatriz. Depois de um grande impasse, por que tomou essa decisão?

É aí que entra essa questão de eu me colocar no lugar do outro. Dentro do jogo é necessário, muitas das vezes, você se priorizar, e aquele momento foi mais um dos que eu me coloquei no lugar dela. Ela falou muito sobre a festa, sobre o quanto ela precisava da imunidade porque estaria mais no alvo do que eu. Então, aquilo tudo mexeu muito comigo. Eu poderia ter sido mais incisiva, mas acho que foi como tinha que ser. A gente podia entrar num impasse e eu fiquei com medo de o Tadeu tirar a liderança de nós duas e dar para outra pessoa, então eu cedi para resolver a situação. Óbvio que o dinheiro me adianta muito, mas não nego que naquele momento queria muito ter vivido o sabor da liderança, para administrar o jogo e para ter a minha festa. Mas Deus sabe o que faz, aquele momento foi necessário.

 

Desde a entrada na casa, você permaneceu ao lado do Davi, mesmo quando a maioria dos participantes se voltou contra ele. Como avalia essa relação e que impactos a sua decisão por estar com o Davi levou para o seu jogo?

Não foi uma coisa que eu decidi, aconteceu naturalmente. A gente tinha alguns alvos em comum no jogo. Eu conheci o Davi no puxadinho e ele já veio para mim com um sorriso e conversas incríveis. Era um menino, um curumim muito feliz, alegre e gente boa. Quando começou o jogo, com a personalidade dele de jogador, eu vi que as pessoas não queriam ter a oportunidade de conhecê-lo. Elas queriam ter opções de voto e ele foi um voto confortável por muito tempo para a casa. Eu via aquilo e pensava que a pessoa de quem elas estavam falando não era a mesma que eu conhecia, mas eles também não queriam conhecer. Eu o via muito sozinho e excluído, e aquilo me deixava triste. Não queria que ele se sentisse assim, é uma sensação que ninguém merece ter. Eu o incentivava muito a ter outros amigos para não ficar tão isolado e por uma questão de jogo, porque é uma dinâmica de convivência. Muitos conselhos meus ele ouvia e vice-versa. A gente às vezes divergia, mas se respeitava no posicionamento. Entre subidas e descidas, não me arrependo de absolutamente nada. Voltaria e faria tudo exatamente do jeito como foi.

 

Vocês dois construíram uma grande amizade no confinamento, mas o jogo não foi tão afinado assim. O que acha que faltou nessa parceria para que pudessem formar uma aliança de game também?

É que ele pensava no jogo de uma forma muito incisiva e eu já era mais coração. Por exemplo, quando ele tinha uma questão com alguém, ele ia lá e resolvia na hora, e eu não, tento dar um pouco mais de espaço. Nesse ponto não tinha essa conexão, mas eu queria o conhecer além do jogador porque ele tem uma história de vida incrível. E a gente sempre teve alvos em comum, como o Bin, Nizan, Rodriguinho, Fernanda, o que aconteceu de forma natural, não foi algo que a gente combinou.

 

Apesar da aproximação com os integrantes do Puxadinho – Michel, Giovanna e Raquele – você também optou por não jogar com eles e isso acabou gerando um certo afastamento entre vocês. Por que essas amizades também não se transformaram em uma aliança na competição?

Porque eles tinham os meus alvos como aliados e isso dificultou para mim, não tinha como voltar atrás. Não tinha como mudar o Buda [Lucas Henrique], Bin e Fernanda de alvos para aliados. Mas eu acho que nós poderíamos ter, sim, sido amigos e deixado o jogo um pouco de lado. Eu fiquei triste da forma que as coisas aconteceram, me sentia muito sozinha, sentia falta de ter amigas mulheres dentro da casa, mas a gente acabou se afastando. Vi que eu não era prioridade e aconteceu.

 

Você defendia que jogava sozinha e tomava suas próprias decisões em relação às movimentações na casa. Qual era sua estratégia para chegar à final do BBB?

Em dia de votação, eu ouvia muito as pessoas, observava os cenários e votava conforme eu acreditava, tanto para mim quanto para a harmonia da casa. A minha estratégia para chegar à final, de verdade, sempre foi entender a dinâmica do jogo e viver tudo o que estava acontecendo. Eu nunca pensei em me aliar a alguém porque x ou y iam me ajudar a chegar á final. Sempre imaginei que as coisas iam acontecer naturalmente, como aconteceram na minha entrada no grupo Fadas. Meu interesse maior ali era ganhar provas. Infelizmente não fui líder, mas acho que o jogo foi acontecendo e eu não fugi dos embates. As pessoas falam que eu era planta, mas senti que fugiam muito de um embate comigo. Tanto que eu fui indicada ao paredão por líderes, nunca foi a casa se unindo para votar em mim. Eu ficava me questionando “de onde eu vou tirar embate com essas pessoas que não querem um embate comigo?”. A pessoa que não tem embates acaba ficando de fora dessas situações que também fazem parte da dinâmica, o dedo na cara. Eu não tinha como brigar sozinha por coisas que não faziam sentido para mim.

 

Fora da casa, o fato de “jogar sozinha” foi visto por algumas pessoas como falta de movimentação. Como enxerga esse apontamento?

Não só fora, mas também dentro da casa. Isso começou a me agoniar um pouco, as pessoas falando que eu tinha que me movimentar. Está errado, não existe um padrão para ganhar o 'Big Brother Brasil'. As pessoas faziam tanta pressão que eu acabei, quando entrei no grupo Fadas, me precipitando em algumas falas. Por exemplo, montar um pódio. Eu não estava preparada, naquele momento, para formar um pódio e acabei me precipitando numa conversa no quarto. Esse desespero de ter que formar uma opinião rápido para agradar as pessoas, para mim, foi um dos meus erros. Eu não deveria ter feito isso. Se eu comecei o jogo de forma unilateral e os rumos estão seguindo por uma forma que eu não concordo, eu tenho que seguir unilateral. Não afetou meu jogo, porque eu cheguei à final, mas lá dentro fiquei um pouco agoniada. O que é movimentação de jogo, é arrumar briga com alguém? Essa é a única forma de movimentação de jogo? Não existe uma fórmula para ganhar o programa, movimentação certa ou errada, não existe verdade absoluta. Lá dentro são personalidades, culturas e criações completamente diferentes. Cada um joga do jeito que achar que tem que ser. Não existe chegar à final sendo planta, ninguém passa despercebido pelo 'Big Brother', ainda mais nessa edição que teve várias dinâmicas, paredão turbo, 26 jogadores. Como é que alguém chega a uma final sem jogar? Eu vivi o meu jogo, não foi o de outra pessoa.

 

Nos últimos dias, você se entregou ao romance com o Matteus. Depois de hesitar, por que decidiu viver essa relação na casa?

Eu hesitei muito por conta do que ele tinha vivido no começo com a Anny [Deniziane], respeito muito ela como mulher e me coloquei no lugar dela. O Matteus era um alvo meu declarado por vários motivos. Depois a gente começou a ter uma conexão dançando juntos, mas tínhamos essa rixa de adversários. Quando comecei a andar com o grupo Fadas, percebi que ele não podia mais ser uma opção de voto porque a gente andava juntos. Conversando com as meninas, eu vi que existia um carinho que não era só da minha parte. Então, a gente conversou, ele falou que queria já tinha um tempo e explicou que não sentia mais como se tivesse um compromisso porque ela tinha terminado o relacionamento. Como eu tinha falado que eu não ia ficar com ele, me senti incoerente, mas como é que mantém a coerência dançando com um homem desse? (risos) A família dele veio falar comigo já, vou lá para o Alegrete conhecer o sofá que a avó dele gravava os vídeos do anjo (mais risos). Bora ver!

 

Enxerga a possibilidade de manter o relacionamento com ele fora da casa?

Eu trabalho muito, tenho que ajudar a minha mãe, e a gente vive muito longe um do outro. Eu já tive um relacionamento à distância anos atrás e foi uma experiência gostosa, mas teve algumas marcas não tão boas. Mas eu vou lá conhecer a terra dele e ele com certeza também vai lá no Amazonas visitar.

 

Quais os planos para daqui para frente, pós-BBB? Pretende voltar para o Amazonas e continuar sendo a cunhã-poranga do Garantido?

A gente vai ter o Festival de Parintins agora em junho. Tem ensaio, correria e uma grande loucura já acontecendo e vou me preparar para o festival. Quero muito trabalhar e conquistar aqui fora o dinheiro do prêmio do programa. Gostaria muito de trabalhar com comunicação, eu gosto muito de falar. Queria ter a experiência de trabalhar na TV, mas não me vejo como atriz. Não sei se a Globo me daria uma oportunidade dessa, mas se tiver que estudar, estou preparada para isso. Vou ver o que Deus tem para mim, para trabalhar e ajudar minha mãe.

 

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