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sábado, 12 de julho de 2025

.: Crítica: "O Talentoso Ripley": um serial charmoso no divã da moral burguesa


Por 
Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com

Existem livros que se oferecem como enigmas, outros como espelhos. "O Talentoso Ripley", de Patricia Highsmith, tem essas duas características. Lançado originalmente em 1955 - e ainda assim repulsivamente atual -, o romance convida o leitor a um pacto silencioso de admiração e desconforto pelo protagonista: Thomas Ripley, um camaleão social, um falsário de si mesmo, um assassino com elegância de bailarino russo e crise existencial de quem leu demais, mas só para imitar.

Ripley não é exatamente um personagem, mas um sintoma. Patricia Highsmith, com prosa afiada, constrói um romance em que a identidade é uma performance calculada, e o desejo - de ser, de ter, de pertencer - é a verdadeira motivação do crime. Ao contrário do que se espera de um “romance policial”, não se busca justiça, mas um alívio que Highsmith não entrega. Ela quer o leitor como cúmplice.

Logo no início, o leitor é lançado em uma Nova York turva, paranoica, onde Tom já se vê perseguido. Mas não é paranoia gratuita - alguém de fato o segue. E assim começa o jogo de gato e rato em que o leitor jamais sabe ao certo quem é quem. Se Hitchcock tivesse adaptado Ripley (em vez de "Pacto Sinistro", também da autora), teria feito um thriller sobre espelhos, porque Ripley - ao contrário de tantos vilões - não quer destruir o outro. Ele quer ser o outro.

Dickie Greenleaf, a peça central desse desejo projetado, não é apenas uma vítima: é o bilhete dourado para uma vida idealizada que vem com prazo de validade. Highsmith é cruel, mas justa - faz com que Ripley seduza o leitor ao mesmo tempo em que mancha as mãos com sangue. E o mais inquietante? O leitor torce por ele.

A cada capítulo, Highsmith afasta do “quem matou?” e vai direto na pergunta que interessa: “por que nos sentimos tão fascinados por quem matou?”. Ripley, como Gatsby, é um construtor de ilusões; mas onde Fitzgerald deixou a ternura, Highsmith plantou o vazio - e esse abismo é a grandeza do livro. A edição da Intrínseca respeita o clima do texto, com projeto gráfico elegante e tradução competente de José Francisco Botelho. Mas a força continua sendo o texto original, que encara com o mesmo olhar inquisidor que Tom lança aos seus alvos. E, quem sabe, aos leitores.

"O Talentoso Ripley" é um convite para examinar as zonas cinzentas que existem em cada um. Não se trata de amar um anti-herói, mas de reconhecer que a linha entre o que as pessoas são e o que fingem ser é, muitas vezes, tênue como o rastro de um barco milionário no mar de San Remo. Patricia Highsmith, com este romance, escreveu um dos tratados mais perversos e sedutores sobre a identidade como um teatro, o crime como arte, e a moral como um luxo que só os ricos podem bancar - até serem assassinados. Compre o livro "O Talentoso Ripley" neste link.

.: Ricardo Araújo Pereira no Brasil: 23ª Flip e lançamentos no Rio e em SP


Humorista português desembarca no Brasil em agosto para uma série de eventos que contarão com a presença de importantes nomes da cena cultural e intelectual brasileira, como Caetano Galindo, Janaisa Viscardi, Francisco Bosco, Tati Bernardi e Fernando Luna


O humorista, jornalista e escritor português Ricardo Araújo Pereira desembarca no Brasil em agosto para uma série de eventos literários. Além de participar da programação oficial da prestigiada Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), no dia 2 de agosto, o autor também lançará "Coisa que Não Edifica nem Destrói" (Tinta-da-China Brasil) em encontros no Rio de Janeiro e em São Paulo. Os eventos contarão com a presença de importantes nomes da cena cultural e intelectual brasileira, como Caetano Galindo, Janaisa Viscardi, Francisco Bosco, Tati Bernardi e Fernando Luna.

Ricardo Araújo Pereira é jornalista, roteirista e fundador do grupo de humor Gato Fedorento, cocriado com Miguel Góis, Zé Diogo Quintela e Tiago Dores em 2003. Escreve semanalmente no jornal português Expresso e na Folha de S.Paulo, e é um dos integrantes do Programa cujo nome estamos legalmente impedidos de dizer (SIC Notícias). É autor e apresentador do programa de televisão "Isto é Gozar com Quem Trabalha" (SIC) e criador do podcast "Coisa que Não Edifica nem Destrói" (SIC), que deu origem ao livro de mesmo nome, publicado pela Tinta-da-China Brasil. Pela editora publicou ainda "Se Não Entenderes eu Conto de Novo, Pá" (2012), "A Doença, o Sofrimento e a Morte Entram num Bar" (2017) e "Estar Vivo Machuca" (2022). Compre o livro "Coisa que Não Edifica nem Destrói" neste link.


Ricardo Araújo Pereira na 23ª Flip - Festa Literária Internacional de Paraty
Ricardo Araújo Pereira será uma das atrações principais da 23ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), festival literário realizado pela Associação Casa Azul.  No sábado, 2 de agosto, às 21h, o autor e humorista participará da mesa "Roçar a Língua de Camões" com o escritor, tradutor e professor Caetano Galindo. A conversa será mediada pela doutora em linguística Janaisa Viscardi. Além do debate, haverá uma sessão de autógrafos na Livraria da Travessa, proporcionando aos fãs a oportunidade de interagir com o autor e adquirir suas obras.

Caetano Galindo é professor, escritor e tradutor literário premiado. É reconhecido por sua tradução de Ulysses, de James Joyce, que lhe rendeu os prêmios Jabuti, ABL e APCA entre 2012 e 2013. Autor de obras como Sim, eu digo sim e Latim em pó, publicadas pela Companhia das Letras, ele é professor de história da língua portuguesa na UFPR desde 1998, dedicando-se a aproximar o público da complexidade do nosso idioma.

Janaisa Viscardi é pós-doutora em linguística pela Unicamp, professora, pesquisadora e palestrante com foco em linguagem, gênero e inclusão. Autora do livro Escrever sem medo (Planeta), ela produz conteúdo educativo em seu canal do YouTube, abordando temas como discurso político e comunicação social. Com experiência como coordenadora de Cooperação Internacional no Senai (2012–2015), Janaisa atua como comunicadora e formadora de opinião, tornando debates linguísticos mais acessíveis. Compre o livro "Coisa que Não Edifica nem Destrói" neste link.


Serviço
Ricardo Araújo Pereira na 23ª Flip
Mesa: "Roçar a Língua de Camões"
Sábado, 2 de agosto, às 21h00
Auditório da Matriz, Centro Histórico - Paraty/Rio de Janeiro

 
Lançamento de "Coisa que Não Edifica nem Destrói" na Livraria da Travessa Botafogo, no Rio de Janeiro
O lançamento do livro "Coisa que Não Edifica nem Destrói" pela editora Tinta-da-China Brasil acontecerá na Livraria da Travessa Botafogo, no Rio de Janeiro. Ricardo Araújo Pereira apresentará a obra em uma conversa bem-humorada com o filósofo, colunista e ensaísta Francisco Bosco. Após o bate-papo, haverá uma sessão de autógrafos, permitindo que os leitores obtenham seus exemplares autografados e interajam com os autores.

Francisco Bosco é ensaísta e doutor em teoria da literatura pela UFRJ, além de autor de livros como Banalogias (Objetiva) e Meia palavra basta (Record). Reconhecido por sua análise crítica da sociedade e da cultura, Bosco é também colunista e letrista de canção popular. Foi presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte) e apresenta atualmente o programa de TV Papo de Segunda, no GNT. Compre o livro "Coisa que Não Edifica nem Destrói" neste link.


Serviço
Lançamento de "Coisa que Não Edifica nem Destrói" na Livraria da Travessa Botafogo
Segunda-feira, 4 de agosto, às 19h00
Livraria da Travessa Botafogo - Rua Voluntários da Pátria, 97, Botafogo/Rio de Janeiro
 

Lançamento de "Coisa que Não Edifica nem Destrói" no Teatro Cultura Artística, em São Paulo
Em São Paulo, Ricardo Araújo Pereira participará de um bate-papo com a escritora, roteirista e apresentadora Tati Bernardi. Ambos são conhecidos pelo uso marcante do bom humor em suas obras. A mediação do evento ficará a cargo do jornalista e colunista da revista Quatro Cinco Um, Fernando Luna.

Tati Bernardi é escritora, roteirista e colunista da Folha de S.Paulo há 13 anos. É também apresentadora de podcasts e videocasts. Autora de dez livros, incluindo o best-seller "Depois a Louca Sou Eu" (Companhia das Letras), adaptado para o cinema, também assinou roteiros para filmes e colaborou com séries da Rede Globo. Formada em publicidade, Tati estuda psicanálise e possui uma grande base de seguidores nas redes sociais.

Fernando Luna é jornalista e editor com décadas de atuação em redação e curadoria de conteúdo. Foi sócio e diretor editorial da Trip Editora e, posteriormente, contratado pela Editora Globo para supervisionar revistas como Época Negócios e Marie Claire. Atualmente, é colunista da Quatro Cinco Um e da revista Gama.


Serviço
Lançamento de "Coisa que Não Edifica nem Destrói" no Teatro Cultura Artística
Terça-feira, 5 de agosto, às 18h30
Teatro Cultura Artística - Rua Nestor Pestana, 196, Consolação/São Paulo

sexta-feira, 11 de julho de 2025

.: Machado de Assis encontra Bram Stoker em romance de Edson Aran


"Quincas Borba e o Nosferatu"
, o novo romance de Edson Aran, é uma ode ao universo machadiano e à literatura gótica. Aran mistura com fluidez e humor personagens destes dois mundos que, embora pareçam distantes, são contemporâneos. Um exercício que o autor havia iniciado em "Histórias Jamais Contadas da Literatura Brasileira", indicado ao Prêmio Jabuti, mas que agora alcança um patamar ainda mais alto, com uma evidente maturidade literária e consistência narrativa.

Lançado pela editora Faria e Silva, do Grupo Editorial Alta Books, o livro tem uma história que leva o leitor ao Rio de Janeiro do Brasil Império e nos coloca diante de um encontro surpreendente entre os personagens machadianos e o demoníaco conde Drácula que se oculta no Paço Imperial. A crônica social de Machado se mistura com naturalidade ao terror epistolar de Bram Stoker. O leitor se diverte com as divertidas incursões de Brás Cubas pelas ruas do então elegante centro do Rio e nos aterrorizamos com as visitas de Drácula à frágil e impulsiva Capitu.

Inteligente, divertido e assustador, "Quincas Borba e o Nosferatu" reflete um longo trabalho de pesquisa de Edson Aran e evidencia sua paixão pela literatura, pelos romances clássicos e, acima de tudo, pela arte de escrever. Compre o livro "Quincas Borba e o Nosferatu" neste link.


Sobre o autor
Edson Aran
é autor de 13 livros de ficção e não-ficção. Entre eles, estão o best-seller "Conspirações" - tudo o que não querem que você saiba, a sátira cyberpunk "Delacroix Escapa das Chamas" e "Histórias Jamais Contadas da Literatura Brasileira", indicado ao Prêmio Jabuti na categoria Crônicas. Aran também atua como jornalista e comandou as principais revistas masculinas do país, incluindo Playboy e VIP. Desde 2013, se dedica aos roteiros de cinema e TV. Compre o livro "Quincas Borba e o Nosferatu" neste link.

.: Evento de leitura revela psicologia oculta nas obras de Machado de Assis


Adelmo Marcos Rossi propõe análise inédita sobre estrutura psicológica dos textos do maior escritor do Brasil. Foto: divulgação


O autor Adelmo Marcos Rossi começa, no dia 26 de julho, uma leitura coletiva e comentada do seu livro "O Imortal Machado de Assis - Autor de Si Mesmo", conduzida ao vivo pelo Google Meet, sempre aos sábados, das 19h às 21h. A proposta é analisar, parágrafo por parágrafo, como a obra revela uma psicologia conceitual presente em Machado de Assis - antecipando até mesmo descobertas que seriam atribuídas, décadas depois, a Freud. 

Durante os encontros, o pesquisador abordará temas como o medo da castração, o riso enquanto defesa, o trágico imprevisível da vida (caiporismo), entre outros conceitos psicológicos. A leitura revela como o Bruxo do Cosme Velho se apoiava em estruturas simbólicas profundas da cultura humana, promovendo uma investigação literária que transcende o tempo e o gênero. Compre o livro "O Imortal Machado de Assis - Autor de Si Mesmo" neste link. 


Sobre o autor
Engenheiro civil (UFES, 1980), mestre em Ciência de Sistemas (Tóquio, 1990), psicólogo (UFES, 2010), mestre em Filosofia (UFES, 2015) e microempresário, Adelmo Marcos Rossi dedica quase 15 anos aos estudos sobre psicanálise. Fundador do Grupo de Pesquisa do Narcisismo, também é autor do livro “A Cruel Filosofia do Narcisismo - Uma Interpretação do Sonho de Freud” (2021). Após um longo período de pesquisa acerca das relações entre as obras machadiana e freudiana, publicou "O Imortal Machado de Assis - Autor de Si Mesmo". Compre o livro "O Imortal Machado de Assis - Autor de Si Mesmo" neste link.

Serviço
Leitura comentada do livro "O Imortal Machado de Assis - Autor de Si Mesmo"

A partir de 26 de julho de 2025, aos sábados, das 19h00 às 21h00
Plataforma Google Meet
Duração: semanal, até a conclusão do livro
Inscrições e informações: Juliana Santa Clara Moreira – (27) 99767-6328

quarta-feira, 9 de julho de 2025

.: Com mais de 40 anos, "Brasil: Nunca Mais" terá primeiro lançamento público


Primeiro lançamento público em 40 anos, terá programação com exposição, parte da equipe que fez o livro e roda de conversa com autógrafos

O Memorial da Resistência de São Paulo, com a Editora Vozes, realiza neste sábado, dia 12 de julho, a partir das 14h00, o evento “Brasil: Nunca Mais - 40 Anos”, em celebração às quatro décadas da publicação da obra que se tornou referência na luta pelos direitos humanos no Brasil. É a 43ª edição do livro e o primeiro lançamento público do livro em 40 anos, com presença de parte da equipe que driblou a ditadura em um trabalho realizado em sigilo absoluto que recebeu o codinome de “Projeto A”.

Entre as presenças confirmadas, estão Paulo Vannuchi -  jornalista, ex-preso político, ex-ministro dos Direitos Humanos e membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos; Frei Betto - Frade Dominicano, jornalista, escritor brasileiro e ex-preso político; e Ricardo Kotscho - jornalista, escritor e secretário de imprensa no governo Lula 1. Conhecido como a mais ampla pesquisa já realizada pela sociedade civil sobre a tortura no Brasil durante a Ditadura Civil-Militar (1964–1985), o livro "Brasil: Nunca Mais", lançado em julho de 1985, ficou 92 semanas na lista dos livros mais vendidos de não ficção no Brasil.

Empreendido entre 1979 e 1985, o projeto "Brasil: Nunca Mais" é a mais ampla pesquisa já realizada pela sociedade civil sobre a tortura no Brasil durante a Ditadura Civil-Militar (1964–1985), o projeto foi conduzido sob sigilo por advogados, jornalistas e defensores de direitos humanos, que acessaram legalmente os arquivos do Superior Tribunal Militar (STM) e fez cópias de mais de 700 mil páginas de processos, nos quais vítimas e testemunhas relataram torturas, prisões arbitrárias e outros crimes cometidos por agentes do Estado.

Com base nesse vasto material documental, o livro revelou ao público nacional e internacional a dimensão das violações sistemáticas dos direitos humanos no Brasil, se tornando um marco na redemocratização e na construção de políticas de memória e justiça. A publicação teve repercussão imediata e "Brasil: Nunca Mais" ficou 92 semanas na lista dos livros mais vendidos de não-ficção no Brasil quando foi lançado, além de ter sido publicado simultaneamente no exterior como estratégia de proteção e visibilidade. A iniciativa inspirou projetos semelhantes em outros países da América Latina e ajudou a consolidar o debate sobre verdade, reparação e justiça de transição.

A programação do evento inicia-se com uma visita mediada pelo curador da exposição, Diego Matos, seguida de uma mesa com convidados que participaram da redação e coordenação editorial do livro, com mediação do jornalista Camilo Vannuchi, que também apresentará seu novo podcast sobre a memória do projeto "Brasil: Nunca Mais". O encerramento terá venda da edição comemorativa da obra (43ª edição) pela Editora Vozes, coquetel de confraternização e sessão de autógrafos do livro.
 

Curiosidades sobre o projeto
O trabalho foi realizado em sigilo absoluto e recebeu o codinome de “Projeto A”. Os documentos copiados foram enviados para fora do Brasil e microfilmados nos Estados Unidos, para garantir sua segurança. A produção contou com o apoio logístico da Arquidiocese de São Paulo, tornando-se um raro caso de cooperação entre igrejas cristãs e movimentos de direitos humanos durante a ditadura. A sistematização dos dados resultou em um dos primeiros grandes bancos de dados sobre violações de direitos humanos na América Latina. “Compre a edição comemorativa de 40 anos de "Brasil: Nunca Mais" neste link.

Equipe do projeto BNM, legenda da Esquerda para a direita: Dom Paulo Evaristo Arns, Reverendo Jaime Wright, Philipe Potter- secretário de Conselho Mundial de Igrejas, Charles Roy Harper Jr.- Pastor brasileiro e membro do Conselho Mundial de Igrejas em Genebra.  Rabino Henry Sobel, o jurista Hélio Bicudo,  Frei Betto, Paulo de Tarso Vannuchi, Luiz Eduardo Greenhalgh, Ricardo Kotscho, Eny Raimundo Moreira, Leda Corazza, Carlos Lichtsztejn, Anivaldo Padilha, Luis Carlos Sigmaringa Seixas, Marco Aurélio Garcia e Petrônio Pereira de Souza 


Programação
Espaço expositivo - 3º andar
14h00 | Visita mediada à exposição temporária Uma Vertigem Visionária — Brasil: Nunca Mais, com o curador Diego Matos
Inscrições abertas: Visita mediada "Uma Vertigem Visionária - Brasil: Nunca Mais" (vagas limitadas)

Auditório - 5º andar
15h00 | Abertura oficial
Com Ana Pato, Diretora Técnica do Memorial da Resistência de São Paulo, e Thiago Alexandre Haykawa, diretor da Editora Vozes.

15h15 | Apresentação e lançamento da série em podcast "Nunca Mais"
Produção pela NAV Reportagens e narrado pelo jornalista e escritor Camilo Vannuchi.

15h30 | Mesa de debate “Brasil: Nunca Mais - 40 Anos”
Com a participação de Paulo Vannuchi, jornalista e cientista político; Ricardo Kotscho, jornalista e escritor; e Frei Betto, frade dominicano e escritor — ambos diretamente envolvidos na elaboração do projeto original. A mediação será conduzida pelo jornalista e escritor Camilo Vannuchi.

16h30 | Confraternização
Coquetel, venda de livros e sessão de autógrafos

16h30 | Coquetel e sessão de autógrafos

Memorial da Resistência de São Paulo
Largo General Osório, 66 – Santa Efigênia / São Paulo - SP

.: Maria Adelaide Amaral autografa "O Bruxo" na Livraria das Perdizes


A consagrada escritora Maria Adelaide Amaral convida o público para o relançamento de "O Bruxo", obra que retorna às livrarias em edição revista, com prefácio inédito da própria dramaturga e apresentação de Andréa del Fuego. O evento acontece neste sábado, dia 12 de julho, das 15h00 às 18h00, na Livraria das Perdizes, em São Paulo, com sessão de autógrafos e encontro com leitores.

O romance acompanha Ana, uma escritora de meia-idade que, diante do fim de um casamento de 25 anos, mergulha em questões existenciais e afetivas. Ao buscar respostas fora da racionalidade com a ajuda de um místico, a protagonista embarca em uma jornada de reencontro consigo mesma, marcada por embates familiares, descobertas e transformações profundas.

Em "O Bruxo", publicação da editora Instante, a autora trata de temas como amor, envelhecimento, amizade, doença e renascimento, e lança um olhar agudo sobre as contradições humanas. A escrita precisa e sensível de Maria Adelaide Amaral conduz o leitor por uma trama que dialoga com a experiência feminina e os dilemas universais do viver. Com mais de 30 obras publicadas e uma trajetória premiada no teatro, literatura e televisão, a autora é uma das vozes mais potentes da cultura brasileira. Compre o livro "O Bruxo" neste link.


Serviço:
Lançamento do livro "O Bruxo", de Maria Adelaide Amaral
Sábado, dia 12 de julho
Das 15h00 às 18h00
Livraria das Perdizes 
Rua Bartira, 317, Perdizes - São Paulo / SP
Entrada: franca – estacionamento no local 

terça-feira, 8 de julho de 2025

.: Entrevista com Ricardo Martins: a imagem como dívida e ponte


Por 
Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com. Foto: Mara Iga

Em tempos de ruído, Ricardo Martins escolheu escutar. Ouviu a mata pulsando sob os pés, os xapiripë sussurrando entre galhos, e o chamado de um povo que ainda insiste em existir com dignidade onde quase tudo conspira contra. Consagrado por capturar a beleza bruta da natureza brasileira, o fotógrafo e documentarista se jogou em uma das mais radicais experiências da carreira: conviver com os Yanomami, um dos últimos povos originários isolados da floresta amazônica, e registrar a intimidade deles  sem invadi-la.

Surgiram daí o livro “Os Últimos Filhos da Floresta” e a série “Aventura Fotográfica Yanomami”, que estrearam no MIS-SP como um chamado poético, político e urgente. Mas este não é apenas mais um projeto de imagens: é também um gesto de devolução. Parte da renda financia a construção de uma escola na aldeia Hemare Pi Wei, um pedido das lideranças indígenas e um símbolo da ponte possível entre mundos.

Nesta entrevista exclusiva ao Resenhando.com, Ricardo Martins conversa sobre fronteiras éticas, espiritualidade, colonialismo contemporâneo, fotografia como afeto - e sobre o que, mesmo depois de 15 livros, ele ainda não conseguiu traduzir com uma lente. Prepare-se para mergulhar em um território onde o retrato vira reza, a arte vira dívida, e a floresta, enfim, responde. Compre os livros de Ricardo Martins neste link. 

Resenhando.com - Você já fotografou vales, serras, bichos e cidades. Mas e os silêncios dos Yanomami - você conseguiu capturar algum nas imagens? Justifique.
Ricardo Martins - Os silêncios dos Yanomami aparecem no gesto de uma criança que observa quieta, no olhar profundo de um ancião, no intervalo entre uma palavra e outra dita ao redor da fogueira. Eu tentei, com todo respeito, deixar espaço para que esses silêncios respirassem dentro das imagens — sem invadir, sem traduzir demais. Acho que quem vê as fotos com o coração aberto, talvez consiga ouvi-los também.


Resenhando.com - Ao ouvir de um líder indígena que seu nome “ecoou pela floresta”, o que ecoou em você naquele instante? Algum Ricardo ficou pra trás?
Ricardo Martins - Naquela hora, não ecoou só o meu nome — ecoou tudo o que eu vivi até chegar ali. Ecoaram as escolhas, as renúncias, as perguntas que me acompanham desde sempre. Um Ricardo mais apressado, mais urbano, mais ansioso ficou pra trás sim. Porque ali, na floresta, o tempo é outro. O ouvir é outro. E ser chamado de verdade por alguém que carrega a sabedoria do território me fez entender que eu estava sendo visto, mas também sendo acolhido.


Resenhando.com - “Os Últimos Filhos da Floresta” é um título quase apocalíptico. Você o escolheu com tristeza, urgência ou revolta?
Ricardo Martins - Eu escolhi com um pouco de tudo isso: tristeza, urgência e revolta. Mas acima de tudo, com amor. O título não é um fim — é um grito. Um aviso. Os Yanomami são guardiões de um mundo que está desaparecendo, e a gente precisa parar de fingir que isso não está acontecendo. O livro é um tributo, mas também é um alarme.


Resenhando.com - Documentar é escolher o que entra no enquadramento. Do que você teve que abrir mão para respeitar o invisível sagrado dos Yanomami?
Ricardo Martins - Abri mão da pressa. Abri mão da lógica do “conteúdo” que tudo quer mostrar. Não fotografei cerimônias que me pediram para não registrar. Não fiz perguntas que atravessassem barreiras sagradas. Eu estava ali como hóspede, e mais do que documentar, eu precisava escutar — mesmo quando a escuta era em silêncio.


Resenhando.com - Na hora de dormir na mata ou presenciar um ritual, em que momento o fotógrafo cedeu lugar ao homem?
Ricardo Martins - Quando escurece na floresta e o barulho do mundo de fora some, é o homem que sente medo, frio, beleza, presença. Nessas horas, a câmera até pode estar ao lado, mas ela perde força. Eu dormi em rede, me alimentei com eles, vivi o dia como eles vivem. E percebi que fotografar também é um gesto humano, mas ele precisa vir depois da escuta, depois do respeito.


Resenhando.com - Sua contrapartida foi a construção de uma escola. Você acredita que a câmera pode ser um tipo de ponte - ou também pode ser um invasor disfarçado?
Ricardo Martins - Ela pode ser os dois. Tudo depende de como se usa, de onde vem o olhar. Se você entra com a câmera como se ela fosse uma arma ou um troféu, ela vira invasora. Mas se ela vem junto com o coração, com o tempo, com o propósito verdadeiro — ela vira ponte. Minha intenção com o projeto sempre foi devolver algo real, algo que ficasse. A escola é essa devolução concreta. A fotografia, espero, seja também.


Resenhando.com - Os xapiripë, os espíritos brincalhões da floresta, aparecem nas fotos? Ou são justamente aquilo que escapa de toda lente?
Ricardo Martins - Eles escapam, claro. E ainda bem que escapam. A fotografia pode até registrar uma atmosfera, um brilho estranho na neblina, um movimento sutil… Mas os xapiripë vivem num plano que não se deixa capturar. Eles dançam no invisível. E talvez, quem olhar com atenção, sinta a presença deles - mesmo que não veja.


Resenhando.com - Se fosse possível mostrar apenas uma imagem desse projeto ao presidente da República, qual seria — e o que ela gritaria, em silêncio, para ele?
Ricardo Martins - Seria exatamente a fotografia da capa do livro: o retrato direto, firme e silencioso. O olhar dele atravessa quem vê, como se dissesse: “Nós estamos aqui. Seguimos de pé.” Essa imagem não precisa de legenda. Ela carrega dignidade, história e uma força ancestral que não se curva. A pintura no rosto, o cocar, a mão apoiada - tudo ali é resistência e sabedoria. Ela grita em silêncio: “Nos respeite. Nos proteja. Pare de fingir que não vê.” Mostrá-la ao presidente seria como obrigá-lo a encarar o que muitos ainda insistem em ignorar: que os povos originários não são passado. São presente. E precisam de políticas, não de promessas. Essa foto é um espelho. E quem a encara de verdade, precisa se perguntar: de que lado da história eu estou?

Resenhando.com - Você já retratou a Amazônia como paisagem. Agora, a retrata como corpo. Como isso transformou sua forma de existir no mundo?
Ricardo Martins - Antes, a floresta era horizonte. Agora, é pele. É carne. É o cheiro do urucum, o som dos passos leves, o gosto da mandioca. Conviver com os Yanomami me tirou da posição de observador e me colocou num lugar de troca. Hoje, carrego a floresta dentro — não como uma ideia bonita, mas como um compromisso.


Resenhando.com - Depois de 15 livros e tantas expedições, o que a floresta ainda te nega? E o que você ainda não teve coragem de perguntar a ela?
Ricardo Martins - A floresta ainda me nega todas as respostas prontas. E talvez esse seja o maior presente. Eu ainda não tive coragem de perguntar se estou pronto pra parar. Porque acho que no fundo, enquanto houver floresta viva e gente lutando por ela, meu caminho ainda é esse: contar, mostrar, devolver.

.: "Cidade Partida - 30 Anos Depois" é o relato de um Brasil que ainda sangra


Por Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com.

Quando Zuenir Ventura lançou "Cidade Partida" em 1994, o Brasil ainda não havia cicatrizado as feridas da chacina da Candelária e do massacre em Vigário Geral. O que o jornalista fez não foi apenas reportar: foi desvelar, palavra que, aliás, aparece com frequência nos depoimentos que compõem esta nova edição-homenagem, organizada por Elisa Ventura, Isabella Rosado Nunes e Mauro Ventura. Trinta anos depois, a expressão que Zuenir criou virou clichê e, pior, realidade permanente.

"Cidade Partida - 30 Anos Depois", publicado pela Pallas Editora, não é uma simples reedição com nova capa ou posfácio requentado. É um mergulho coletivo na ferida aberta por um dos livros-reportagem mais contundentes da história recente. É também um tributo ao ofício do jornalismo que ainda ousa ouvir vozes silenciadas, ao poder da escuta como gesto político e, sobretudo, a um homem de 93 anos que ainda sonha com uma cidade unida.

Com uma entrevista inédita de Zuenir realizada em 2024, e reflexões assinadas por nomes como Luiz Eduardo Soares, Tainá de Paula, Silvia Ramos e Eliana Sousa Silva, o livro atualiza a pergunta que jamais deveria ter sido esquecida: quantas cidades cabem dentro do Rio de Janeiro? Zuenir relata, com a simplicidade que só os grandes dominam, a incursão de dez meses em Vigário Geral após a chacina de 1993. 

Como um homem branco da Zona Sul que ousou atravessar os túneis - físicos e simbólicos - que separam o “asfalto” da favela, ele oferece ao leitor, ainda hoje, uma lição de desconforto. Não o desconforto do medo, mas o do espanto ético: como pode um país suportar tanta desigualdade e ainda fingir normalidade? A crítica que se fazia em 1994 é dolorosamente atual. 

Se antes se falava de uma “cidade partida”, hoje Zuenir admite: existe uma cidade “tripartida”, tomada por narcomilícias, milícias, Estado paralelo e um poder público ausente - ou, pior, conivente. Os textos que acompanham esta edição especial ampliam a obra original. São vozes que vivem e pensam o Rio de Janeiro das múltiplas violências e resistência e questionam o rótulo de “cidade partida” como um reducionismo perigoso. 

Eliana Sousa Silva, por exemplo, afirma que não se trata de uma cidade cortada ao meio, mas de uma cidade estruturalmente desigual, onde o racismo, a exclusão e a hierarquização da vida moldam o espaço urbano. O livro acerta ao propor um contraponto geracional, ao mesclar especialistas, ativistas, artistas, educadores e moradores de favelas. A entrevista com DJ Marlboro - ao lado de Juju Rude e Anderson Sá - mostra que o funk, há décadas demonizado, foi e ainda é uma das linguagens que mais conecta as margens ao centro, embora siga sendo desmerecido por isso.

"Cidade Partida - 30 Anos Depois" é um livro necessário e que exige um posicionamento ético. Quem ainda se emociona com a beleza do Rio de Janeiro precisa, antes, encarar a feiura social. Quem sonha com um Brasil mais justo, deve ouvir os ecos entre os muros que separam os ricos dos pobres. O livro-reportagem virou um conceito, uma lente através da qual o Brasil passou a enxergar o Rio de Janeiro - e, por extensão, as próprias contradições.

O que se encontra neste volume é um testemunho coletivo sobre o espanto que persiste. O susto de perceber que a realidade pouco mudou desde as chacinas da Candelária e de Vigário Geral, eventos que motivaram Zuenir a mergulhar por dez meses na favela de Vigário, acompanhado pelo sociólogo Caio Ferraz, na tentativa de entender o que há por trás da violência, da exclusão e da indiferença.

Mais do que denunciar, o livro propôs escuta. A nova edição reflete sobre os avanços, os retrocessos e as permanências da desigualdade urbana. A obra reúne também entrevistas com personagens emblemáticos como Rubem César Fernandes, Manoel Ribeiro, José Junior e João Roberto Ripper. A crítica social que antes soava como alerta agora ecoa como a crônica de uma tragédia anunciada, diante do fortalecimento de milícias e da ausência efetiva do Estado em territórios inteiros.

O mérito maior da publicação está em reconectar o jornalismo literário de Zuenir Ventura à realidade presente, sem perder de vista a complexidade da cidade. O relato do jornalista ao entrevistar o traficante Flávio Negão - com quem conversa tentando entender não apenas os crimes, mas as motivações, a lógica de sobrevivência e o senso de humanidade - continua sendo um dos pontos mais polêmicos e valiosos da obra. Não por glamurizar o criminoso, mas por se recusar a desumanizá-lo.

Trata-se de uma edição que também atualiza o debate sobre representatividade, políticas públicas, cultura periférica, direito à cidade e racismo estrutural. "Cidade Partida - 30 Anos Depois" é, portanto, um documento vivo, provocador e necessário. É o Brasil que se vê dividido e precisa, mais do que nunca, reagir. Talvez o momento mais comovente da obra esteja na voz do próprio autor. 

Quando ele diz, com certa frustração, que ainda não conseguiu escrever o livro sobre a “cidade unida” que tanto sonhou, não se ouve a resignação de um jornalista veterano, mas a persistência de um ideal: o de que narrar o abismo é também uma forma de construir pontes. Compre o livro "Cidade Partida - 30 Anos Depois" neste link.


.: Escritora premiada aborda dilemas de protagonista da meia idade em romance


"Sanduíche" foi finalista do Goodreads Choice Awards na categoria ficção e também foi selecionado como um dos "Melhores Livros de 2024" pela Barnes & Noble, maior livraria dos Estados Unidos

Sucesso instantâneo logo após a publicação nos Estados Unidos, “Sanduíche”, novo livro da escritora Catherine Newman será lançado no Brasil pela Editora nVersos. Este é o segundo romance dela, que, a exemplo do primeiro, traz como protagonista uma mulher com muitas características da própria autora: alguém que já passou dos 50, mãe, esposa e, segundo ela, pertencente a uma geração “sanduichada” por duas outras: a de seus pais e de seus filhos. 

Quando Rocky, a protagonista, sai de férias com sua família para Cape Cod, não imagina que, desta vez, a tradicional viagem de verão se tornará o gatilho para uma avalanche de memórias. Entre lembranças da infância dos filhos e de sua própria juventude, ela se vê confrontada com o peso do tempo, as mudanças irreversíveis que a menopausa causa ao corpo e as escolhas que moldaram sua vida.

O que era para ser apenas mais uma temporada no chalé da família acaba se transformando em uma jornada íntima de redescoberta e reavaliação do seu casamento e da sua identidade. “Sanduíche” foi concebido com leveza e uma sinceridade desconcertante. A obra nos faz sentir as súbitas oscilações de humor da matriarca, enquanto tenta manter o relacionamento com o marido, lidar com o crescimento dos filhos e encarar o medo de perder os pais.

Rocky é neurótica, sentimental e um pouco desequilibrada aos 54 anos. Alternadamente enfurecida, elogiosa e radiante. Às vezes tudo na mesma página. Ela chora, ri, se preocupa, conversa e alimenta sua família. Nossa heroína percebe que seus pais estão ficando mais frágeis e mais velhos. Ela guarda segredos que são revelados à medida que o livro se desenrola.

“Sanduíche” nos ganha por sua escrita apaixonada, trepidante e ricamente detalhada. Outro tema presente na obra é a passagem do tempo, ou, a perda da juventude. Newman é cirúrgica na abordagem do tema “sexo na menopausa”, onde detalha suas inúmeras frustrações e alegrias ocasionais. Se você busca uma leitura que te faça rir alto, chorar e aproveitar cada segundo disponível para desfrutar de uma leitura visceral, esse livro foi feito pra você. Compre o livro "Sanduíche" neste link.


O que disseram sobre o livro
“'Sanduíche' é a alegria em forma de livro. Ri o tempo todo, exceto nas partes que me fizeram chorar. Catherine Newman faz um trabalho milagroso ao nos lembrar de todas as maravilhas que a vida tem a oferecer.” — Ann Patchett, autora finalista do Prêmio Pulitzer.

“Um deleite total.” — Kate Christensen, autora de 'The Great Man'

“Se você gosta dos meus romances, vai amar, amar, amar este... Estou maravilhada, é simplesmente perfeito.” — Elin Hilderbrand, autora do bestseller 'O Casal Perfeito'


Sobre a autora
Catherine Newman
escreveu inúmeras colunas e artigos para revistas e jornais, e seus ensaios foram amplamente incluídos em antologias. Ela é autora dos romances "Sanduíche", um sucesso instantâneo na lista de bestsellers do jornal The New York Times, "We All Want Impossible Things" e do romance infantojuvenil 'One Mixed-Up Night'. Ela mora em Amherst, Massachusetts. Compre o livro "Sanduíche" neste link.


segunda-feira, 7 de julho de 2025

.:Aos 80 anos, Humberto Werneck lança livro que percorre a história brasileira


O jornalista e cronista Humberto Werneck lança, em junho, o livro "Viagem no País da Crônica", pela editora Tinta-da-China Brasil. A obra celebra os 80 anos de vida dele, completados em fevereiro deste ano. Na obra, Werneck conduz o leitor a uma viagem completa do começo ao fim: de janeiro a dezembro, da infância à morte, comentando crônicas da era de ouro, assinadas por Clarice Lispector, Fernando Sabino, Otto Lara Resende e Rubem Braga.

O livro começou a tomar forma em setembro de 2018, quando o Instituto Moreira Salles, em parceria com a Fundação Casa de Rui Barbosa, inaugurou o Portal da Crônica Brasileira, do qual Humberto Werneck foi editor até 2021. Sete anos depois, seus textos publicados no portal são compilados em "Viagem no País da Crônica".

Werneck brinca ao considerar a crônica como o patinho feio da literatura - comparação ilustrada pela artista portuguesa Vera Tavares na capa do livro. Isso porque a crônica, fusão do jornalismo com a literatura, não é construída com o mesmo esmero que contos e romances, já que tem de cumprir o prazo do jornal. Porém, o autor defende que essa pressa imprime certo frescor e autenticidade ao texto.

Humberto Werneck demonstra que tudo é matéria de crônica — os textos analisados tratam de temas tão variados como o uísque, o mar, a fé, as fotografias e a chuva —, contanto que o tratamento dado à narrativa seja o de uma conversa despretensiosa no meio-fio (ou ao rés do chão, como define Antonio Candido). O autor traz ainda crônicas sobre eventos-chave da história do Brasil, como a Revolução de 30, o golpe de 64, a proclamação da República e a construção de Brasília.

Os autores da era de ouro da crônica brasileira (1950 a 1960), como Paulo Mendes Campos e Rachel de Queiroz, têm suas crônicas examinadas e costuradas com os comentários de Werneck, que faz intervenções, levanta curiosidades e atualiza fatos. O livro também conta com recortes de páginas de jornal, muitas vezes com rabiscos e anotações dos próprios escritores nas crônicas que publicaram à época. Há ainda, ao fim do volume, uma lista das crônicas citadas, para que todos possam se aprofundar nas obras mencionadas ao longo do livro, todas disponíveis no Portal da Crônica Brasileira.

Em "Viagem no País da Crônica", o leitor aprende sobre a nossa literatura e a nossa história a partir da prosa bem-humorada e irreverente de Humberto Werneck, jornalista que faz uma ponte entre a geração que floresceu nos anos 1950 e a contemporânea. Passando por sábados, carnavais, eclipses, golpes, primaveras e maios, este livro ilumina a era de ouro da crônica brasileira e cria um mosaico sensível do Brasil moderno. Compre o livro "Viagem no País da Crônica" neste link.

A viagem na crônica de outros cronistas
“Mas que diabo, afinal, vem a ser a crônica? ‘Se não é aguda, é crônica…’, esquivou-se o Braga certa vez, quando lhe perguntaram. Tantas décadas depois, definir o gênero segue sendo um desafio”, é um trecho em que Werneck satiriza, com a ajuda de Rubem Braga, o próprio ofício de escrever crônicas.

É por meio de construções coletivas como essa que o livro ganha forma. São muitos os temas que surgem e para cada tema há uma série de pérolas pinceladas por Werneck na produção nacional, como esta de Rachel de Queiroz sobre o Carnaval: “O Carnaval já não foi inventado expressamente como preparativo da Quaresma, fornecendo ao fiel o pecado, para que ele tenha do que se arrepender?”.

O futebol é outro tema que aparece aqui e ali. Entre as anedotas citadas, está a do memorável jogo Copacabana x Ipanema-Leblon que rolou nas areias do Rio em dezembro de 1945. Os jogadores incluíam Vinicius de Moraes, Fernando Sabino, Aníbal Machado, Paulo Mendes Campos, Augusto Frederico Schmidt e Rubem Braga, que registrou a partida na crônica “Ultimamente Têm Passado Muitos Anos”. Com seu humor característico, Werneck comenta que, nessa rara partida, “todo gol seria necessariamente um gol de letras…”.

"Viagem no País da Crônica" se estrutura na escrita espirituosa e informada de Werneck, que compõe suas próprias crônicas ao mesmo tempo que dialoga com a tradição literária do gênero. Compre o livro "Viagem no País da Crônica" neste link.


Crônica sobre crônica, crônica ao quadrado
“Para falar de crônica, esse gênero maleável de definições imprecisas, Humberto costuma evocar, como sua aspiração máxima, a imagem de um bate-papo no meio-fio — leitor e cronista jogando conversa fora ‘em clima de deleitosa cumplicidade’. Por isso, a rigor, estes escritos de Humberto não são crônicas, pois prestam um serviço ao nos conduzir a outras leituras. Mas têm a leveza, o humor e o espírito que só alguém com catorze anos de labuta como cronista, dez dos quais em O Estado de S. Paulo, poderia empenhar. São conversas ao meio-fio e, portanto, podem muito bem passar por crônicas, sim. Crônica sobre crônica, crônica ao quadrado”, sintetiza o atual editor e colunista do Portal da Crônica Brasileira, Guilherme Tauil, que assina a orelha do livro.

A crônica, como Werneck ressalta, não se distancia do cotidiano: “Nada de procurá‑lo, portanto, no topo do edifício, ou mesmo num segundo andar: é pelo rés do chão que você vai chegar a seu cronista — a um punhado deles, na verdade”.


Sobre o autor
Humberto Werneck, escritor, cronista e jornalista, é mineiro de Belo Horizonte (1945) e vive em São Paulo desde 1970. Repórter e editor, trabalhou em publicações como Suplemento Literário do Minas Gerais, Jornal da Tarde, Jornal do Brasil, Veja, IstoÉ e Playboy. Por dez anos, foi cronista semanal em O Estado de S. Paulo, de 2010 a 2020, e, de setembro de 2018 a dezembro de 2021, editor do Portal da Crônica Brasileira, do Instituto Moreira Salles. Desde 2017 é editor sênior da revista de livros Quatro Cinco Um.

É autor, entre outros livros, de "O Desatino da Rapaziada" (1992), "O Santo Sujo: a Vida de Jayme Ovalle" (2008), "Pequenos Fantasmas" (2005, contos), "O Pai dos Burros: dicionário de Lugares-comuns e Frases Feitas" (2009), "O Espalhador de Passarinhos" (2021), "Esse Inferno Vai Acabar" (2011) e "Sonhos Rebobinados" (2014), os três últimos de crônicas.

Organizou, entre outras coletâneas, "Boa Companhia: crônicas" (2005), "Bom Dia para Nascer" (2011), seleção de crônicas de Otto Lara Resende, e "Minérios Domados" (1993), primeira reunião da poesia de Hélio Pellegrino. É membro da Academia Mineira de Letras. Compre o livro "Viagem no País da Crônica" neste link.

.: :Encontro com os Escritores" promove debate sobre memória e resistência


Lançamento do livro "Esquecer? Nunca Mais!" ganha reflexões sobre justiça e história

Na próxima quinta-feira, dia 10 de julho, a Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo, recebe uma edição especial da série "Encontro com os Escritores", dedicada ao lançamento da segunda edição do livro "Esquecer? Nunca Mais! - A Saga de Meu Filho Marcos Arruda", escrito por Lina Penna Sattamini e organizado por James Green e Marcos Arruda.

O evento vai além do lançamento literário, transformando-se em um espaço de debate sobre memória e resistência da ditadura militar no Brasil. A autora, Lina Penna Sattamini, morava e trabalhava nos Estados Unidos quando o filho foi sequestrado e torturado por agentes da ditadura, motivando a luta da mãe para libertar o filho preso. O "Encontro com os Escritores" tem entrada gratuita. A inscrição prévia pode ser feita pelo site da Universidade do Livro, braço educacional da Fundação Editora da Unesp.

A obra relançada pela Editora Unesp narra a história de Marcos Arruda, ativista e operário sequestrado em maio de 1970, durante os chamados "anos de chumbo", período mais violento da ditadura militar brasileira. Sua mãe, Lina Penna Sattamini, registra não só a dor da perseguição política, mas também a luta incansável por Justiça, em um documento histórico e um manifesto contra o esquecimento.

O debate terá um formato diferente das edições anteriores, com mais participantes. Será mediado pelo brasilianista James Green, professor da Brown University e co-organizador da obra, e contará com a presença de Marlene Soccas, ex-presa política que viveu na pele a violência do regime militar e hoje se dedica a preservar a memória dos que resistiram; José Pedro da Silva, ex-líder sindical e figura central nas lutas operárias durante a ditadura; Fernanda Maia, diretora musical, dramaturga e roteirista, que explora em seu trabalho as relações entre arte, política e memória; e do próprio Marcos Arruda, economista, educador do Instituto de Políticas Alternativas para o Cone Sul (Pacs) e protagonista do livro, que compartilhará sua experiência pessoal e sua visão sobre os desafios da democracia hoje.

Promovida pela Universidade do Livro, vinculada à Fundação Editora da Unesp, em parceria com a Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp e a Biblioteca Municipal Mário de Andrade, a série "Encontro com os Escritores" tem como objetivo aproximar leitores e autores em um diálogo direto e enriquecedor. No final, haverá sessão de autógrafos. Compre o livro "Esquecer? Nunca Mais! - A Saga de Meu Filho Marcos Arruda" neste link.

Serviço
Encontro com os Escritores: Memória e Resistência
Debate e lançamento de "Esquecer? Nunca Mais!"
Data: 10 de julho de 2025 (quinta-feira)
Horário: das 19h00 às 21h00
Local: Biblioteca Mário de Andrade
Endereço: Rua da Consolação, 94 – Praça Dom José Gaspar – Centro – São Paulo/SP
Estações de metrô mais próximas: Anhangabaú (linha vermelha) e República (linhas vermelha e amarela)
Entrada gratuita. Inscrições neste link.
Realização: Universidade do Livro | Fundação Editora da Unesp | Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp | Biblioteca Municipal Mário de Andrade

sexta-feira, 4 de julho de 2025

.: "Campo Formoso", um romance com todos os ingredientes



Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: Rodrigo Azevedo

"Campo Formoso" é um romance que tem como base, histórias sobre a família da autora Maria Victoria Oliveira. Através de personagens complexos e uma narrativa que alterna perspectivas e incorpora elementos de realismo mágico, o livro explora temas universais como família, identidade, superação e o peso do passado. Uma verdadeira saga, escrita ao longo de oito anos, que chega às livrarias pela Editora Lacre, com noite de autógrafos dia 8 de julho, terça-feira, a partir das 18h30, na Livraria Argumento. 

A narrativa mergulha na complexa história da família Borges, em Campo Formoso, uma cidade no Planalto Central que espelha o interior do Brasil. A trama central gira em torno do Coronel Adauto Borges e sua esposa Maria Pia. O casamento é abalado pela chegada de Bento, filho ilegítimo do Coronel, personagem principal do livro. Ao longo de suas 460 páginas, a obra apresenta uma prosa rica, em que a autora alterna perspectivas para revelar as múltiplas faces da verdade: da rigidez do Coronel até a resistência silenciosa da esposa e a busca de identidade do filho bastardo.  A trama é marcada por um ato simbólico de ruptura com o passado e celebração das transformações que o tempo impõe.

O romance é inspirado em histórias que Victoria escutou do seu pai, Benedicto, neto bastardo de um coronel em Goiás. Embora o livro seja uma obra de ficção, incorpora elementos verídicos, como a infância, a história da fazenda Fim do Mundo e sua viagem aos Estados Unidos. A autora criou personagens baseados em parentes, mas com características e experiências ficcionais..

Maria Victoria Oliveira é formada em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), onde foi revisora e tradutora no Instituto de Documentação, Maria Victoria Oliveira resolveu dar uma guinada em sua vida em 1994 e seguir o sonho de ser cozinheira profissional. Deu aulas, abriu um restaurante e trabalhou como chef executiva em redes de hotelaria, como Windsor Hotel. Ao todo, foram 26 anos dedicados à gastronomia. 

Em 2017 começou a escrever o romance "Campo Formoso", e desde então, não parou mais. Victoria ingressou na Oficina Literária do professor Ivan Proença e hoje faz parte, também, da Oficina Literária do jornalista e cronista Eduardo Affonso. Como contista, participou de duas  antologias comemorativas de aniversários da oficina.  Em 2020, ano da pandemia da Covid-19, deixou de lado as panelas e resolveu se dedicar ao seu sonho antigo que é ser escritora.  Em 2023, publicou o seu primeiro livro de contos, pela editora Francisco Alves, intitulado “Vestido Vermelho e Outras Histórias”

terça-feira, 1 de julho de 2025

.: "O 8 de Janeiro que o Brasil Não Viu", de Ricardo Cappelli, é um relato inédito


O livro "O 8 de Janeiro que o Brasil Não Viu", que chega às livrarias em julho pelo selo História Real da Intrínseca, é o testemunho inédito e candente de um gestor público que, quando menos esperava, foi chamado a exercer um papel crítico na defesa das nossas instituições democráticas. Ricardo Cappelli, que foi interventor da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, revela os bastidores desse período crucial em que a democracia brasileira correu grave risco. Ao transportar o leitor até os episódios dramáticos do dia 8 de janeiro e das semanas seguintes, Cappelli relembra as terríveis pressões e insistentes tentativas de sabotagem que enfrentou, numa guerra de nervos sem trégua.

“Nisso, o major da Silva, que estava comigo lá, me toca e fala: ‘Coronel, olha para trás.’ Quando eu olhei para trás, tinha uma linha de choque do Exército, montada com blindados, e, por interessante que parecesse, eles não estavam voltados para o acampamento. Eles estavam voltados para a PM, protegendo o acampamento”, ressaltaria Naime (coronel Jorge Eduardo Naime Barreto - chefe do Departamento Operacional da PM). Em meio a tudo isso, o general Dutra e eu tivemos uma discussão muito dura, apesar de formalmente respeitosa. Eu enfatizei a gravidade do que estava acontecendo e disse que medidas enérgicas precisavam ser tomadas. Dutra tentou contemporizar, argumentando que o quadro não era tão crítico assim. Quando percebeu que eu não retrocederia, o general, numa tentativa final de impedir a minha ação, disse que se a PM entrasse teríamos um banho de sangue. 

"Banho de sangue por quê, general? O senhor está me dizendo que tem manifestantes armados dentro do acampamento, em uma área militar, e que eles estão sendo protegidos pelo Exército brasileiro?”. Relatos impactantes como este permeiam toda a obra que aborda também o impacto das fake news durante este período conturbado. É emblemático o caso da suposta morte de uma manifestante presa no acampamento em frente ao Quartel-General (QG) do Exército. A notícia falsa reverberou na Câmara dos Deputados.

“Quando recebi a notícia da morte de uma manifestante, corri para o hospital. Lá, verifiquei que se tratava de mais uma mentira. Uma mentira perigosa, que poderia provocar reações extremas e gerar conflitos. Uma senhora havia se sentido mal e fora transferida para uma unidade hospitalar do DF. A deputada federal Bia Kicis (PL-DF) denunciou a ocorrência da suposta morte em discurso no plenário da Câmara dos Deputados, causando comoção e indignação. Segundo o portal de notícias G1, a parlamentar chegou a dizer que o caso tinha sido confirmado pela Ordem dos Advogados do Brasil no DF, mas depois disse que cometeu um ‘equívoco’”, relembra o autor.

Ao longo de toda a narrativa, Ricardo Cappelli demonstra como sempre procurou tomar decisões técnicas para se afastar da polarização política que assola o Brasil. Após conversas com policiais feridos no dia 8 de janeiro, o autor chegou à conclusão que o desfecho poderia ter sido ainda mais trágico. “Ficou claro para mim que os extremistas queriam ter em mãos o cadáver de um policial. Isso poderia desestabilizar as forças de segurança. A estratégia era transformar a manifestação em um gatilho para uma crise institucional ainda mais grave do que a que fora realmente provocada”, conclui. Compre o livro "O 8 de Janeiro que o Brasil Não Viu" neste link.


A sessão de autógrafos em Brasília vai ocorrer no dia 08 de julho (terça-feira), a partir das 19h, na Livraria Travessa do Casa Park. Foto: Jerônimo Gonzalez

Sobre o autor
Ricardo Cappelli é gestor público desde 1999 e especialista em administração pública pela Fundação Getulio Vargas. Foi interventor federal da Segurança Pública no Distrito Federal, ministro interino do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República e ministro em exercício da Justiça e Segurança Pública, funções exercidas no fatídico, intenso e histórico ano de 2023. Atualmente preside a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial. Ex-presidente da União Nacional dos Estudantes, é carioca de nascimento e brasiliense de coração desde 2003. Define-se como um nacionalista e democrata convicto marcado por um dia. Compre o livro "O 8 de Janeiro que o Brasil Não Viu" neste link.

.: A biografia de Mario Sergio Cortella, o mestre que levou a escola para o mundo


Na biografia "Cortella, o Professor que Levou a Sala de Aula para o Mundo", a escritora de livros infantojuvenis, Silmara Rascalha Casadei, reúne os principais acontecimentos que marcam a vida e os 50 anos de carreira do professor, palestrante, filósofo e escritor. Com ilustrações de Ednei Marx, a publicação da Cortez Editora diverte e encanta, e conta com as contribuições do próprio homenageado: frases selecionadas por ele com pensamentos, ensinamentos e curiosidades. Quem imaginaria que o pequeno Mario Sergio teria uma aranha-caranguejeira, chamada Matilde, como animal de estimação? 

Em 1954, nascia Mario Sergio Cortella, batizado com o nome do galã da época.  Alegre e curioso, sempre foi muito sociável. Mas, aos sete anos, a hepatite o levou ao hospital. Foram 100 dias de internação e o menino falante se viu solitário e entediado. Quando acabaram os gibis, mergulhou na literatura e, junto a Monteiro Lobato, Alexandre Dumas, Miguel de Cervantes, Dostoiévski e Dante Alighieri, deu início a uma jornada sem volta. 

A biografia ilustrada retrata a partida de Londrina (PR) para São Paulo, aos 13 anos, junto à família. Na capital paulista, Cortella comprou o primeiro livro de filosofia, Meditações Metafísicas, de Descartes. Em 1972, decidiu cursar Filosofia na Faculdade Anchieta para transformar-se em um “amigo da sabedoria”. Dois anos depois, deu início à carreira de docente, que surgiu paralela à experiência na vida religiosa, no convento Ordem dos Carmelitas Descalços, onde viveu por três anos.  

Inspiração para jovens leitores, professores e público em geral, Cortella, o professor que levou a sala de aula para o mundo reúne as conquistas, alegrias, perdas e desafios de um dos pensadores brasileiros mais influentes da atualidade. Apoiada por uma linha do tempo com fotografias que marcam os principais acontecimentos, a autora detalha a história do escritor que acumula mais de 50 livros publicados e alcançou 23 milhões de seguidores em seus canais digitais. 

Silmara Rascalha Casadei destaca a inteligência brilhante e humanizada de Mario Sergio Cortella, propagada na voz forte e melodiosa, com sotaque do Sul do Brasil, que dissemina ensinamentos a milhares e milhares de pessoas. Conhecimento que, segundo o texto de abertura do livro, flui despido de arrogância, porque “gente grande sabe que é pequena”, mas consegue, com sabedoria, imprimir sua marca por onde passa. Compre o livro "Cortella, o Professor que Levou a Sala de Aula para o Mundo" neste link. 

Sobre a autora
Silmara Rascalha Casadei é Mestre e Doutora em Educação e psicanalista, mentora do Saber Ampliado. Escreve muito desde criança, sempre se interessando por livros, histórias de vida inspiradoras e pela educação. Foi professora e diretora de escola por mais de 30 anos. É autora de 34 livros infanto-juvenis, dentre os quais muitas biografias ilustradas; a "Coleção A Menina e Seus Pontinhos"; "Chinelinhos Brasileiros"; "O Pequeno Mundo Criativo"; "O Que É a Pergunta?", com Mario Sergio Cortella, com o qual coordenou a "Coleção ‘Tá Sabendo?" - todos pela Cortez Editora.  

Sobre o ilustrador
Ednei Marx descobriu seu gosto pelo desenho na infância e desde então seguiu seu sonho de tornar-se ilustrador. Iniciou a carreira como caricaturista ao vivo e, ao profissionalizar-se como ilustrador, fundou o Studio58 em 2002, em São Paulo. Graduou-se em Artes Visuais com extensão em Linguagem Cinematográfica. E em mais de 30 anos de trabalho, especializou-se em criação de personagens, linguagem de histórias em quadrinhos e ilustração científica. Seu portfólio diversificado inclui ilustrações para livros didáticos, paradidáticos, campanhas publicitárias e projetos de turismo. Notavelmente, é o ilustrador das tirinhas do Professor Cortella & Philó. Compre o livro "Cortella, o Professor que Levou a Sala de Aula para o Mundo" neste link.

domingo, 22 de junho de 2025

.: Camila Anllelini apresenta livro de crônicas sobre relação entre mãe e filha


Radicada no Rio há cerca de 20 anos, psicanalista leva obra “De Amor e Outros Ódios, também finalista no Prêmio Minuano de Literatura 2024, para a Bienal nos dias 15 e 21 de junho

O primeiro elo de uma pessoa é com a mãe. Pela literalidade do cordão umbilical, passando pela conexão da amamentação, a relação simbiótica de construção de si física e psicologicamente nunca passa incólume à figura materna. Em “De Amor e Outros Ódios”, publicado pela editora Patuá, Camila Anllelini apresenta uma personagem recorte de suas próprias experiências em uma série de crônicas e cartas à mãe.

O livro, que foi semifinalista no Prêmio Jabuti 2024, na categoria de crônicas e também finalista no Prêmio Minuano de Literatura 2024 na categoria narrativas curtas, vem do desejo da autora de que as pessoas possam fazer as pazes com suas contradições. “Cada leitor ou leitora que me procura para dizer que encontrou nas páginas desse livro algo da sua singularidade me faz acreditar um pouco mais nesse trabalho”, explica.

Escritora e psicanalista, Camila relata a dificuldade de definir um estilo para seu livro. “Tenho como fio condutor a poesia.” A construção de uma linguagem poética que perpassa toda sua escrita, independente do gênero textual. Para a autora, "este livro representa uma dose de coragem na qual antes dele me parecia selvagem e depois dele passou a ser bonita.”


A contradição no amor de mãe e filha
Sigmund Freud reconhece a relação primitiva entre uma menina e a mãe como uma fase fundamental permeada por uma combinação de sentimentos como amor e ódio. Camila Anllelini traduz essa ambivalência em “De Amor e Outros Ódios” com uma personagem que está emaranhada na figura materna no que ama, mas também no que repele e rejeita dessa mãe.

Com uma narrativa em primeira pessoa, as personagens não têm nomes, mas as personalidades bem marcadas. A mãe é uma sobrevivente de um acidente que quase a matou e também por isso valoriza a vida de forma muito vibrante. Uma “mulher ao revés”, como explica a filha. Esta que se define de forma quase sempre contrária, como alguém que precisa conferir ordem ao mundo, para compensar o espírito livre da mãe.

Há um olhar de preocupação e às vezes quase de rancor por essa mãe tão “diferente”, mas também uma admiração genuína por parte da filha que também costuma esquecer sua própria rigidez para se deslumbrar com a forma bonita que a mãe escolhe existir. Como se os papeis pudessem se inverter, a filha encontra nessa mãe a criança, que ela muitas vezes reprimiu em si mesma em um movimento de compensar na família as funções de cada um. Compre o livro "De Amor e Outros Ódios", de Camila Anllelini, neste link.


Literatura com uma dose de psicanálise
Camila Anllelini sempre nutriu uma admiração por cronistas. Desde menina alimentava a imaginação com a ideia de autores com estante que cobriam paredes, como nos filmes, que demandam uma escada para acessar livros que chegam até o teto. Sonhava em assinar uma coluna de jornal enquanto admirava o trabalho de autores de Martha Medeiros a Luis Fernando Veríssimo, assim como a descoberta dos que vieram antes como Clarice Lispector, Cecília Meireles e Carlos Drummond de Andrade. “Admiro o trabalho de costura para alcançar a concisão necessária às narrativas curtas, não há tempo para rodeios em uma crônica.”

Natural de Pelotas, Rio Grande do Sul, Camila Anllelini apresenta em “De Amor e Outros Ódios” um emaranhado da complexidade com a relação materna, a partir da franqueza transparente de uma psicanalista. Radicada no Rio de Janeiro desde os 15 anos, a autora de 35 anos passou por diversas áreas incluindo administração, moda e dança, antes de se encontrar na psicanálise. Com mestrado em Resolução de Conflitos e Mediação pela Faculdade de Psicologia da Universidad Europea del Atlántico, da Espanha, posteriormente seguiu sua formação junto ao Corpo Freudiano Escola de Psicanálise e no fim de 2024 concluiu uma pós graduação em Psicanálise, Arte e Literatura pelo Instituto ESPE. Atualmente é associada ao Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro.

“De Amor e Outros Ódios” é o primeiro livro dela publicado, após algumas experiências de publicações com coletivos virtuais. Foi a partir do momento que decidiu fazer da escrita um ofício que ela iniciou as publicações autônomas. A autora aponta que esse processo ajudou a entender a necessidade de distanciar do texto para publicá-lo. “Quando estamos muito enroscados nele não conseguimos entregá-lo a outros olhares.” Camila acredita que é importante se destituir parcialmente do narcisismo para escrever, porque não se pode prever o que acontecerá com o escrito após se tornar público. “Um texto publicado passa a ser de quem o lê.”

Na sua escrita, a leitura de outras mulheres é inspiradora para o seu fazer artístico. Camila tem um apreço por ler autoras vivas e valoriza o trabalho de autoras como Socorro Acioli, Carla Madeira, Aline Bei, Liana Ferraz e Mariana Salomão Carrara. Mas valoriza também aquelas que abriram as páginas dos livros como possibilidade para mulheres como Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles, Hilda Hilst, Adélia Prado e Lúcia Berlin. A autora também reforça a importância de outras linguagens artísticas no seu processo de inspiração. Nas esculturas de Maria Martins, assim como nas obras de Lygia Pape, Adriana Varejão e Claudia Andujar. “Há a música, o cinema, o teatro. Há a vida acontecendo pelas ruas. Todas as formas de linguagem são influências em mim e para mim.”

O processo de escrita de Camila se divide em dois momentos principais: a escrita sem compromisso com forma e estilo, a partir de uma centelha criativa que pode vir de suas leituras, de uma frase, de uma palavra. Após esse despertar do texto, a autora precisa deixá-lo descansar por um tempo. É depois disso que começa o trabalho realmente braçal, com as metas de edição. “Acredito que um texto deve ser reescrito e editado quantas vezes forem necessárias até chegar na forma intencionalmente desejada.”

Em “De Amor e Outros Ódios”, esse processo foi longo, levando quase três anos. A autora conta que precisou esperar a própria ebulição da história, até o ponto que fosse impossível guardá-la unicamente para si mesma. “Mesmo quando eu não estava sentada escrevendo, essa história estava sendo escrita em mim.” Atualmente está trabalhando em dois projetos, provavelmente o primeiro a ser desenvolvido será um romance, mas ainda sem previsão de publicação. Compre o livro "De Amor e Outros Ódios", de Camila Anllelini, neste link.

.: Vilãs dos contos de fadas ganham versão cristã e prometem surpreender

Quatro contos cristãos reimaginam anti-heroínas dos contos de fadas clássicos e as coloca como protagonistas de suas próprias jornadas de redenção e fé


E se as famosas vilãs dos clássicos contos de fadas fossem adolescentes repletas de problemas da vida real? É nesse cenário que as autoras do best-seller "Corajosas", Arlene Diniz, Queren Ane, Thaís Oliveira e Maria A. Martin, apresentam a nova ficção cristã "Redimidas: os Contos das Princesas Vilãs Desencantadas". As escritoras se unem para dar voz a quatro personagens que não são verdadeiramente más, porém se perderam em meio ao caos e desejam encontrar na fé uma forma para recomeçar a vida.

Cada história é inspirada nas icônicas Rainha de Copas ("Alice no País das Maravilhas"), Úrsula ("A Pequena Sereia"), Rainha Má ("Branca de Neve") e Bruxa Má do Oeste ("O Mágico de Oz"). Porém, neste lançamento da Mundo Cristão, em vez de espelhos mágicos, poções e maçãs envenenadas, as antagonistas vivem dilemas contemporâneos comuns da juventude, como: bullying, abandono, crises de identidade, vaidade, competitividade, traumas emocionais, orgulho e carência afetiva.

Os contos "A Cartada Final", "O Tesouro Mais Precioso", "Sapatilhas de Vidro" e "Oceano de Graça", são protagonizados por adolescentes que, mesmo diante dos próprios erros, arrogância ou mágoas, são profundamente humanas e buscam por redenção em Cristo. A virada acontece quando as meninas se deparam com a Graça de Deus: um tipo de amor que confronta, perdoa e transforma cada alma. Por meio das aventuras e desventuras dessas jovens, Arlene, Thaís, Queren e Maria transmitem princípios bíblicos e mostram que Deus é o roteirista de cada narrativa, ainda que o dia a dia não seja um verdadeiro conto de fadas.

"Redimidas" é um convite aos jovens leitores para reconhecer e lidar com os erros, além de refletir que mesmo aquelas consideradas “vilãs” têm potencial para viver uma transformação profunda. Afinal, a mensagem é clara: todos aqueles que carregam sombras e medos são alvos da redenção. Este é um lembrete de que não importa qual tenha sido o papel que cada um assumiu na história até hoje. Compre o livro "Redimidas: os Contos das Princesas Vilãs Desencantadas" neste link.


Sobre as autoras
Thaís Oliveira e Maria A. Martin, Arlene Diniz e Queren Ane são escritoras apaixonadas por literatura cristã juvenil. Em 2018, decidiram unir seus dons e experiências para criar histórias que tocassem o coração de adolescentes de forma leve, profunda e cheia de propósito. Assim nasceu "Corajosas", livro best-seller de ficção cristã pela Mundo Cristão que marcou o início dessa parceria literária. Agora, em "Redimidas", elas voltam a se reunir para mostrar que até as vilãs podem encontrar um novo começo. Compre o livro "Redimidas: os Contos das Princesas Vilãs Desencantadas" neste link.

sexta-feira, 20 de junho de 2025

.: Fotógrafo Ricardo Martins lança livro e série sobre o povo Yanomami no MIS


Evento acontece no dia 26 de junho e contará com exibição de um episódio da série, bate-papo com o autor

Retratar com sensibilidade e profundidade um dos últimos povos indígenas da Amazônia, os Yanomami. Este foi o objetivo do fotógrafo e documentarista Ricardo Martins, ao registrar o cotidiano de um dos maiores povos indígenas do Brasil. Por isso, no dia 26 de junho, ele lançará seu 15º livro de fotografia, intitulado “Os Últimos Filhos da Floresta”, e sua 5ª série documental, “Aventura Fotográfica Yanomami”, no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo.

O evento gratuito terá início com uma exibição especial do documentário, seguida de uma conversa com o autor e convidados, onde serão compartilhadas as experiências e desafios enfrentados durante a expedição à aldeia Yanomami. O evento culminará com uma sessão de autógrafos do livro, que homenageia os povos originários e celebra a conexão profunda entre a fotografia e a floresta. Além disso, algumas fotos serão exibidas no MIS, com a impressão das imagens realizada pela Canon do Brasil, uma das apoiadoras do evento.

Reconhecido por seu trabalho visual que exalta a natureza brasileira, Ricardo Martins mergulhou em uma experiência imersiva na Amazônia, convivendo por dias com os Yanomami. A aproximação com o povo originário se deu por meio de Regiane, uma indígena que já havia pertencido à aldeia e facilitou o contato do fotógrafo. Lá, Ricardo foi acolhido pelo líder Maciel, que lhe disse em sua chegada: “É seu Ricardo, seu nome ecoou pela floresta e chegou aos nossos corações”, disse ele.

“O projeto nasceu enquanto eu sobrevoava a Amazônia e assistia a um documentário que mencionava os Yanomami como os últimos filhos da floresta. Aquilo me tocou profundamente. Percebi que era hora de registrar essa história de forma visual, humana e respeitosa”, afirma o autor.

Durante a produção, Ricardo dormiu na mata e viveu o dia a dia da aldeia, acompanhando os rituais, caçadas e rotinas dos indígenas. O resultado é um livro com imagens potentes e uma série documental que deve chegar em breve a plataformas de streaming - como já ocorre com outras produções do autor disponíveis no Amazon Prime, BandPlay e CNBC. Outro fator importante é que a contrapartida desta produção realizada com o povo Yanomami será a construção de uma escola na aldeia Hemare Pi Wei, onde tudo aconteceu. Esse foi um pedido das lideranças feito a Ricardo.

"Nossos jovens precisam se orgulhar da nossa cultura e dos nossos costumes. Precisam ter orgulho de serem indígenas. Também precisam aprender a língua e a cultura do Napo (homem branco), pois isso será a defesa deles. Esse é o objetivo dessa escola”, afirma Maciel, umas das lideranças da aldeia Hemare Pi Wei.

“Convivendo com os Yanomami, vi um modo de vida conectado à terra, onde tudo é respeitado. Enquanto os povos originários existirem, a floresta estará em pé. Resolvemos abraçar o projeto, inclusive a construção da escola, que já começou a ser erguida e será um marco”, afirma Ricardo. Parte da verba arrecadada com a venda dos livros e da coleção FineArt criada por Martins está sendo revertida para a construção da escola na comunidade Yanomami, tornando esse sonho uma realidade.

Com distribuição nacional, o livro poderá ser encontrado nas maiores varejistas do Brasil e pelo site do autor www.ricardomartins.org alcançando leitores de todas as regiões após o lançamento oficial.


Serviço
Lançamento do livro e série "Os Últimos Filhos da Floresta"
Data: 26 de junho de 2025
Horário: a partir das 18h00
Local: MIS – Museu da Imagem e do Som
Av. Europa, 158 – Jardim Europa, São Paulo/SP
Entrada gratuita

Teaser "Os Últimos Filhos da Floresta"

segunda-feira, 16 de junho de 2025

.: Leonardo Simões: identidade, crise e poesia no Brasil do ornitorrinco


Por Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com. Foto: Fabio Audi

“Pretinho é camaleão, sabe?” Com essa frase que ecoa como verso e diagnóstico, Leonardo Simões sintetiza o espírito de seu livro de estreia, "Folha de Rosto", publicado pela Mondru Editora. Mineiro de nascença, paulista por adoção e poeta por combustão interna, o autor mergulha nas contradições do Brasil recente para transformar identidade, afeto e política em matéria literária. É um autor consciente de que escrever hoje é, também, um ato de sobrevivência.

Escrito entre 2018 e 2022, período em que “o Brasil virou um meme de si mesmo”, o livro assume a forma de um romance em poemas, um dossiê lírico sobre um país onde apelidos machucam, onde relações desmoronam por ideologia e onde “a identidade, que antes era criada a partir da autenticidade, virou um tipo de produto”. Para Leonardo, escrever "Folha de Rosto" foi mais do que publicar versos: foi enfrentar seus próprios estilhaços e decidir “quais tradições, costumes e relacionamentos você vai dar o sangue pra não perder nunca”.

Nesta entrevista exclusiva ao portal Resenhando.com, o autor fala sobre racismo, arte como resistência, a tensão entre forma e conteúdo e o perigo de se perder no personagem. Com franqueza e delicadeza, ele convida o leitor a olhar o país pelo reflexo torto de um espelho onde, talvez, o que apareça seja um ornitorrinco.

Resenhando.com - “Folha de Rosto” é um romance em poemas, mas também soa como um dossiê emocional da vida no Brasil recente. Escrever poesia em tempos de polarização é um ato de ingenuidade, resistência ou desespero?
Leonardo Simões - 
Acho que é um pouco dos três. Recentemente, assisti uma peça - chamada “Poema” - que parte dessa mesma pergunta. O certo é que a arte é um ponto cardeal quando o caos se instala. Não por acaso, a arte é a primeira coisa a ser limada e atacada por qualquer regime totalitarista. A polarização não pode resistir à poesia, ao teatro, ao cinema e aos demais processos criativos.


Resenhando.com - Em um país onde "pretinho" ainda vem carregado de camadas - do afeto disfarçado ao racismo não admitido - como foi para você transformar essa palavra em literatura sem diluir sua dor?
Leonardo Simões - O distanciamento é necessário para se criar uma imagem que absorva mais de uma dor. A poesia, de certa forma, é uma imagem. Para trabalhar o afeto e o racismo nesta tão tensa como a palavra “pretinho” sugere, para mim, foi importante não somente traduzir experiências pessoais, mas encontrar o ponto que está fora desse raio de visão, algo que atraia outros afetos, sejam eles bons ou ruins.


Resenhando.com - Seu livro começa com um apelido. Num país que adora apelidar tudo - do presidente ao entregador -, você diria que o Brasil tem vocação para batizar ou para reduzir alguém?
Leonardo Simões - 
Acho que sim. Faz parte do nosso jeitinho ser “cordial”. Mas a redução - ou os apelidos, como você citou - não demonstram carinho. Ao contrário, podem ser mecanismos para reduzir, para tirar a identidade do indivíduo. Veja “neguinho", por exemplo, o modo como essa palavra, dependendo do contexto, atinge níveis distintos de compreensão.


Resenhando.com - A fragmentação da identidade do protagonista ecoa a de muitos brasileiros. Mas... e você, Leonardo: ainda se sente às vezes um “camaleão de classe média preta em crise permanente”?
Leonardo Simões - 
Não um “camaleão de classe média”, mas sim “em crise permanente". Com as redes sociais, pulverizar sua própria identidade ficou fácil demais. Você apaga defeitos, edita falas, assume lados sem se aprofundar e pode ignorar tudo isso apenas descendo o feed por horas e rindo de memes. A identidade, que antes era criada a partir da autenticidade, virou um tipo de produto. Então, fica cada vez mais difícil entender o que se é, já que há mais influências e referências do que tempo para absorver a experiência. Para o camaleão, a camuflagem é seu mecanismo de defesa. Para gente, não usar todas essas camuflagens é que te livra do perigo de se perder no personagem. Manter a forma original, de certa forma, é estar em crise permanente. Consigo e com o mundo.


Resenhando.com - Entre Ferreira Gullar e o caos das redes sociais, onde você encontra mais material para escrever: nos clássicos da literatura ou nos comentários do YouTube?
Leonardo Simões - 
É impossível não ser cercado pelas redes sociais. E há diversos canais que colaboram para que os clássicos sejam conhecidos e lidos. Eu tento não me fechar em uma única, mas ficar sempre atento para aparecer e de certo modo me abastecer. Para mim, nesse momento, a fonte de pesquisa está conectada ao objetivo do trabalho. Para fazer “Folha de Rosto", reli a obra inteira do Ferreira Gullar algumas vezes durante o processo. O TikTok tem sido meu reduto. Finalizei uma dissertação de mestrado sobre o app, que se tornou um livro de ensaio, e também para a criação de outro livro. O que estou fazendo agora pede isso. Mas o valor dos clássicos está acima de tudo. É importantíssimo estar por dentro do que já foi escrito.


Resenhando.com - Seu livro pergunta se os casais terminam por amor ou por política. Quantos relacionamentos você perdeu entre 2018 e 2022?
Leonardo Simões - 
Acho que uns cinco, mais ou menos. O número parece pequeno, mas eram pessoas que estavam no convívio. Quando você se vê em lados tão opostos, ou o rompimento é definitivo ou dá pra ser moderado, encontrar um caminho mais próximo do meio… o importante, acredito, não é bem quantos relacionamentos foram perdidos, mas quais foram mantidos. Perder relacionamentos, seja pela política ou não, faz parte da vida. Vai acontecer. As coisas sempre vão mudar. A batalha mesmo é escolher o que vai ser mantido, quais tradições, costumes e relacionamentos você vai dar o sangue pra não perder nunca.


Resenhando.com - "Folha de Rosto" poderia ser lido como um diário íntimo ou um relatório sociológico - mas você o chama de romance. Isso foi uma decisão estética, afetiva ou política?
Leonardo Simões - 
Fico feliz pelo “relatório sociológico", mas essa nunca foi a intenção. A decisão por chamá-lo assim se dá por sua forma esguia, já que é um livro cujo conteúdo foca em alguém na busca por compreender sua identidade. Para isso, prosa e poesia parecem disputar o espaço dessa “voz”. Então, a forma tenta se conectar ao conteúdo. Ou o conteúdo busca delimitar a forma. A dúvida também faz parte dessa “decisão”.


Resenhando.com - O Brasil de 2018 a 2022 foi um laboratório de distorções. Ao escrever nesse intervalo, você teve mais medo de parecer panfletário ou de ser lido como neutro?
Leonardo Simões - 
Ótima pergunta. Mas não tive medo de ser lido como panfletário. O livro foge disso. No poema “ex-filho", por exemplo, a "voz” está muito mais próxima de alguém egoísta, abominável e narcisista. Criar essa tensão parecia importante para mostrar que mesmo as pessoas engajadas politicamente tem suas contradições. “Sobre Isto", livro do poeta Maiakovski, é uma briga feia dele com sua esposa, relatada em versos ferinos. O poema, Inclusive, serve de referência para “banho”, um texto do livro que também fala de uma desavença entre o casal. Sobre ser neutro, também não tive esse medo porque “Folha de Rosto” não defende uma ideia política, mas poética. A partir daí, cada um escolhe o “estilhaço” que vai usar para se defender (ou atacar).


Resenhando.com - Você transita entre a criação publicitária e a literatura. O que dá mais trabalho: vender um carro ou convencer um leitor a sentir?
Leonardo Simões - 
Vender um carro dá mais trabalho porque trabalha em uma única chave: convencer alguém a comprar alguma coisa. Na literatura, você pode frustrar, contrariar, irritar e uma infinidade de outras possibilidades sem que “agradar" seja prioridade. Aliás, não é. Se a literatura só quer agradar o cliente, aí vira publicidade…


Resenhando.com - Você escreveu “Pretinho é camaleão, sabe?”. E se hoje o Brasil se olhasse no espelho, que bicho ele veria?
Leonardo Simões - Um ornitorrinco: um mamífero que põe ovos, semiaquático, que não é ave, mas tem bico de pato e rabo de esquilo. Hoje, a política, a cultura e os relacionamentos no Brasil nunca foram tão confusos quanto olhar para um ornitorrinco.


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