quarta-feira, 23 de julho de 2025

.: João Silvério Trevisan para falar sobre ditadura e literatura em palestra on-line


A Universidade do Livro recebe, no dia 19 de agosto, o escritor João Silvério Trevisan para uma palestra da série "Encontro com os Escritores". Ele viveu sob o clima instaurado pela ditadura militar brasileira e produziu sua obra na contramão. Por esse motivo, a palestra "Ditadura e Literatura Brasileira - A Palavra Massacrada" pretende apontar os rastros do autoritarismo deixados em sua produção literária.

Para evidenciar o massacre sofrido na própria linguagem, impõem-se perguntas, num caso eloquente, mas até hoje pouco abordado por estudiosos. Quais caminhos tortuosos a literatura de João Silvério Trevisan inventou para reagir ao sufocamento? Como a palavra massacrada se transfigura em expressão libertária? É o que se pretende investigar. Inscrições neste link.

Série Encontro com os Escritores
Promovida pela Universidade do Livro, vinculada à Fundação Editora da Unesp, em parceria com a Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp e a Biblioteca Mário de Andrade, esta série tem como objetivo aproximar leitores e autores em um diálogo direto e enriquecedor.

Cada encontro oferece ao público a oportunidade de conhecer de perto escritores de destaque, em uma conversa intimista e reveladora. Explorar seu percurso criativo e editorial - desde suas influências literárias até o processo de escrita. Debater temas relevantes do cenário cultural, como tendências editoriais, desafios do mercado livreiro e o papel da literatura na sociedade.


Sobre o autor
João Silvério Trevisan é escritor, dramaturgo, diretor e roteirista de cinema, jornalista, palestrante e coordenador de oficinas literárias. Na década de 1970, iniciou sua produção artística e assumiu-se homossexual, duas facetas que sempre estiveram imbricadas em sua vida. Em 1971, seu polêmico e único longa-metragem, "Orgia ou O Homem que Deu Cria", foi censurado pela ditadura civil-militar, o que o levou ao exílio, por três anos.

Em 1978, foi um dos fundadores/editores do jornal Lampião da Esquina, primeira publicação homossexual do país, e do Somos, primeiro grupo brasileiro de luta pelos direitos LGBTQs. É autor de "Devassos no Paraíso", clássico ensaio multidisciplinar sobre a história da homossexualidade no Brasil, e de "Seis Balas num Buraco Só", ensaio longo sobre a crise do masculino.

Venceu por três vezes os Prêmios Jabuti e A.P.C.A., foi finalista do Jabuti e Oceanos com suas mais recentes obras auto ficcionais "Pai, Pai" (em 2018) e "Meu Irmão, Eu Mesmo" (em 2024). Sua primeira novela, "Os Sete Estágios da Agonia", inédita desde 1979, foi publicada em 2024. Conquistou, entre outras, uma bolsa da Fundação Vitae, para escritura do romance Ana em Veneza, de 1994. Sua produção artística e intelectual conta quinze livros publicados, dos quais dez romances, duas coletâneas de contos e três obras ensaísticas, além de roteiros de cinema, peças teatrais e artigos na mídia de todo o país. Em 2023, recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Uberlândia (MG). Crédito da foto: @Renato_Parada_11. Compre os livros de João Silvério Trevisan neste link.

.: "Território da Luz", de Yuko Tsushima, é tema do Clube de Leitura JHSP + 451


Encontro on-line e gratuito irá discutir obra que narra a vida de uma mulher e sua filha em Tóquio após o abandono do marido


O livro "Território da Luz", da autora japonesa Yuko Tsushima, é o tema do Clube de Leitura Japan House São Paulo + Quatro Cinco Um de julho, que acontece na última quinta-feira do mês, dia 31, às 19h00, via Zoom, e tem como convidada a crítica literária e doutoranda em Letras pela Universidade de São Paulo, Iara Machado Pinheiro. O livro foi publicado no Brasil em maio deste ano pela Alfaguara, selo da Companhia das Letras, com tradução de Rita Kohl.

O romance acompanha a história de uma mulher que, após ser abandonada pelo marido, decide recomeçar a vida com sua filha de dois anos em um apartamento repleto de janelas em Tóquio. A obra, vencedora do prestigioso Prêmio Noma, é um dos romances japoneses mais reveladores e influentes das últimas décadas, explorando temas como solidão, maternidade e resiliência feminina.

Publicado originalmente em episódios, entre 1978 e 1979, na revista literária japonesa Gunzo, a narradora enfrenta a árdua tarefa de reconstruir sua identidade, conviver com a solidão e entender as próprias contradições, impactando os leitores com suas lutas internas, expostas com uma honestidade desprovida de sentimentalismos ou autopiedade. Participantes do clube têm 25% de desconto na compra do livro pelo site da editora Companhia das Letras, por meio do cupom JHSP451JUL25. O cupom fica vigente de 06/07 até 02/08, válido para 1 uso único por CPF. Saiba mais e inscreva-se em https://clubedeleitura.japanhousesp.com.br/.


Convidada do mês
A convidada do mês é Iara Machado Pinheiro, crítica literária, jornalista e doutoranda em Letras pela USP. Ela já colaborou com diversas publicações, incluindo a revista Quatro Cinco Um. Na edição deste mês de julho, Machado Pinheiro resenhou o livro tema do encontro.


Como funciona o Clube de Leitura Japan House São Paulo + Quatro Cinco Um?
Desde sua estreia em 2019, o Clube de Leitura Japan House São Paulo + Quatro Cinco Um recebe grandes profissionais da tradução japonesa no Brasil, além de autores contemporâneos e leitores da literatura nipônica, para discutir obras de nomes como Haruki Murakami, Sayaka Murata, Yoko Tawada, Banana Yoshimoto e Yoshiharu Tsuge.

Natasha Barzaghi Geenen, diretora cultural da Japan House São Paulo, e Paulo Werneck, editor da revista Quatro Cinco Um, compartilham a curadoria e a mediação dos encontros, que acontecem sempre na última quinta-feira do mês. O Clube discute livros de autores japoneses traduzidos diretamente para o português, visando uma cobertura multiplataforma deste universo literário — a parceria entre a revista dos livros e a JHSP traz também uma newsletter editorial mensal com os principais lançamentos.

No site da Japan House São Paulo há uma página exclusiva que reúne todo o conteúdo compartilhado até aqui. Nela, é possível ter acesso a um compilado de todos os títulos já abordados e à agenda dos próximos encontros, além de links para inscrição nas newsletters da Japan House e na newsletter de literatura japonesa da Quatro Cinco Um: https://clubedeleitura.japanhousesp.com.br/


Serviço
"Território da Luz", de Yuko Tsushima, no Clube de Leitura JHSP + Quatro Cinco Um de julho
Quinta-feira, dia 31 de julho, às 19h00
Modalidade: on-line e gratuito, via Zoom
Inscrições: https://www.sympla.com.br/evento-online/clube-de-leitura-jhsp-451-territorio-da-luz-julho/3005630?referrer=quatrocincoum.com.br 
Cupom: Participantes do clube têm 25% de desconto na compra do livro pelo site da editora Companhia das Letras, por meio do cupom JHSP451JUL25. O cupom fica vigente de 06/07 até 02/08, válido para 1 uso único por CPF.
Parceria com a Japan House São Paulo

terça-feira, 22 de julho de 2025

.: Giancarlo Giannelli e a urgência de fotografar o que está desaparecendo


Por 
Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com. Foto: @lukefotografia

Entre a floresta e o esquecimento, um clique. Foi assim que o fotógrafo e jornalista Giancarlo Giannelli escolheu contrariar o silêncio que recobre os rios da Amazônia como uma névoa de abandono. No livro "Amazônia - Rio Tapajós", não há apenas retratos. Ele se envolve e se contradiz para se entregar ao ritmo de uma realidade que a maioria dos brasileiros jamais ousou encarar de perto.

O que surgiu como um projeto de saúde itinerante virou poesia visual, crítica social e uma espécie de elegia à resistência dos povos ribeirinhos e indígenas. Giannelli, que já circulou por bastidores de shows, convenções corporativas e corredores do poder, agora finca os pés na lama - e revela o Brasil que escorre pelas bordas. Nesta entrevista exclusiva ao Resenhando.com, o fotógrafo encara perguntas que vão da ética do olhar à política do esquecimento. O resultado é um retrato em palavras: ora nítido, ora borrado, mas sempre urgente.


Resenhando.com - "Amazônia - Rio Tapajós" nasce da urgência de documentar uma Amazônia que está mudando rápido demais. O que mais mudou em você depois de encarar o silêncio profundo da floresta e o barulho ensurdecedor do abandono estatal?
Giancarlo Giannelli - 
Minhas interpretações têm mudado muito desde os 40 anos de idade, o que já soma 14 anos... Encaro o homem como parte do universo, e não o contrário. Logo, a urgência é algo humano, mas não universal. Como alguém que pensa, penso que seja natural aceitar a emergência desses fatos ativados pela ação humana e procurar, mediante uma razoabilidade, manter o status quo original do meio ambiente, digamos que algo de um milênio atrás. Alimentar a vida é também parte do homem, e parece-me que ele tem conseguido criar fome até mesmo ao meio ambiente, que passou a se alimentar de águas poluídas, materiais radioativos dispersos por aí, afora a utilização de águas profundas, que não serão refeitas tão cedo, pelo agrobusiness, que ocasionalmente servem somente ao propósito enriquecedor de um grupo, mas que não garante o sustento de milhares de outros. O silêncio, então, é só uma resposta espontânea daqueles que o homem calou única e exclusivamente por meios que se desenvolveram principalmente a partir do século XX, mas que foram sendo construídos intelectualmente nos séculos anteriores, dentro do pensamento dominantemente higienista. O abandono estatal não deixa de ser também uma ação humana, que, ao invés de servir ao povo, serve ao controle financeiro de uma elite que emprega políticos para trabalharem em benefício desses grupos financeiros, onde os fins justificam os meios... A classe política não é mais uma classe, deixou de ser. Passou a ser somente um meio pelo qual a elite controla o poder e, a este meio, sem nome ou CPF, recai a culpa e a responsabilidade. Nada vai mudar enquanto não houver nome e CPF atribuídos aos mandantes. Os CNPJs parecem ser sérios, mas são somente um subterfúgio dos verdadeiros nomes e CPFs na hierarquia da responsabilização.

Resenhando.com - Ao fotografar comunidades que vivem do rio e da floresta, você se deparou com um Brasil que muitos preferem ignorar. Em algum momento você sentiu vergonha de ser brasileiro?
Giancarlo Giannelli - 
Eu me deparei com povoados que, infelizmente, não possuem acesso à informação, mas, além disso, não possuem sequer o que possuem. Os locais onde estão garantindo a sobrevivência própria não garantem a eles a posse do local, senão até o momento que a tecnologia consiga alcançar aquele espaço e retirá-los, impiedosamente, de lá, sem qualquer pudor. Por enquanto, eles estão garantidos porque a classe política ainda não conseguiu viabilizar estruturas de exploração, como estradas, navegação, escolas e saúde pública. Se, por acaso, a estrutura começar a chegar, acontecerá dessas pessoas terem de sair ou virarem escravos de uma vida quase sem sentido, somente de trabalho para a rentabilidade de alguém que pode até nunca pisar ali. Curiosamente, eu não sinto vergonha de ser brasileiro, pois prefiro ser quem é explorado do que ser quem explora. Não obstante esse pensamento, sei que a minha pele tornou minha vida muito mais fácil que mais de 70% da população. Tenho orgulho do povo brasileiro e de ser brasileiro, porque, antes de ser um criminoso, é necessário saber o que é um crime, por meio de uma educação consensual, alimentação e conscientização de que a sobrevivência tem seu preço. Tenho vergonha é da elite brasileira, que tem uma difícil missão de criar um projeto de país há mais de 200 anos e, simplesmente, vendem esse projeto à exploração dos impérios, admirados primeiro por eles próprios e depois pela educação da mídia que eles financiam publicamente, para depois ser absorvida forçosamente por esse povo maltratado em sua própria casa. Educar dá trabalho e exige estrutura. É mais fácil, para eles, venderem então os recursos que, pela mão deles, passam, sem, no entanto, nunca terem tido merecimento para isso, senão a força hereditária.


Resenhando.com - O projeto Barco da Saúde levou assistência, mas também levou câmeras e olhares externos. Como equilibrar a beleza da imagem com o risco de folclorizar a miséria?
Giancarlo Giannelli - 
De fato, esse é um cuidado que tenho pessoalmente. O tempo todo, reconheço minha hereditariedade a fim de promover mudanças no conceito do que se trata, de fato, o merecimento, palavra tão desgastada e insensata nos últimos tempos. A importância de se haver um olhar externo é compartilhar histórias e condições reais, profundas e, principalmente, muito relevantes no contexto social. Não escondo de ninguém, e acho isso muito importante, que vou onde vou porque me interessa, porque me faz bem, porque é relevante para mim e entendo que, principalmente, para a minha profissão. Dentro do panorama de benfeitorias à minha carreira, sei que é um tipo de comunicação que pode reverberar socialmente a favor de um despertar social para a sociedade. Não tenho, todavia, a ilusão de que o recurso chegará para eles antes do que para mim. Evito, na prática, aproveitar-me de cenas brutas, da miséria alheia. Acho isso desnecessário, pois isso é sabido até por quem não vê essas imagens. Procuro a beleza nos mínimos detalhes da miséria como um fio de esperança e como uma poesia à solidez de caráter, alegria e fé de um povo para lá de esquecido. Penso que essa poesia tem a sutil função de quebrar paredes cardíacas normais e mais resistentes à sensibilidade, e promover o debate e a mudança ao longo do tempo por meio da arte. Fazer da minha vida uma riqueza por meio do uso da imagem da pobreza - aquela social e não financeira - não está em meus planos e acho que nunca estará.

Resenhando.com - Há uma tarja amarela na capa do livro, símbolo solar e brasileiro, segundo você. Mas e se essa cor também sugerisse um alerta? O que há de luminoso - e de perigoso - nesse amarelo?
Giancarlo Giannelli - 
Sim, uma tarja que pode chamar atenção por vários significados absorvidos na natureza, onde o amarelo e preto quase sempre significa perigo. Claro que não podemos nos ater a um significado somente, o mesmo sol que traz alegria traz também a violência, e o azul do frio traz tristeza, mas também calmaria. Vivemos em um mundo cada dia mais semiótico e, prioritariamente, o amarelo é a flora, é a alegria, é o sol, é a natureza de um país vibrante, mas que, ao mesmo tempo, pode vibrar com o mesmo poder para o lado contrário. Devemos estar atentos, sempre!

Resenhando.com - Você viveu entre os dois extremos: o glamur dos grandes eventos corporativos e o chão de terra batida das comunidades do Tapajós. Qual Giannelli te parece mais verdadeiro hoje?
Giancarlo Giannelli - 
Infelizmente, o que vemos de glamouroso nos eventos corporativos é uma construção social daquilo que querem que seja glamouroso, sem contudo o ser naturalmente. Estão todos já com essa semiótica absorvida, e o conjunto das pessoas ali, disponíveis, confere poder aos estereótipos, ratificando-os sem terem dito sim. Mas acabei de voltar da Amazônia, e lá entreguei um exemplar do meu livro ao senhor Adelmo Pimentel Cruz, cuja amizade começou a partir dele, que veio me perguntar a respeito desse trabalho social que todos ali realizavam, e como ele respeitava isso e admirava. Batemos um papo por um tempo, fiz fotos dele sendo atendido nas especialidades e tirei uma foto com ele e sua esposa segurando o livro. O valor disso é um lastro de sinceridade que tem um valor difícil de encontrar em grandes eventos, onde tudo está produzido sem a possibilidade de “falhas”, ou um realismo que deixou de existir fora do eixo íntimo familiar. É bom participar de eventos grandes, corporativos, porque todo o tempo tento resgatar conversas sinceras e mais profundas, ainda que dentro desse cenário. Mas o set de vida real de uma Amazônia nos expõe à vida verdadeira, onde se sente dor, fome, calor, mas, ao mesmo tempo, alegria intensa, prazer em ouvir pássaros e respeitá-los livremente, fora das gaiolas - porque a gaiola deles é muito maior que a nossa... O desequilíbrio produz esse resultado da separação daquilo que importa. Nós estamos presos dentro, e eles estão presos fora, assim como a cena final do filme A igualdade é branca, de Krzysztof Kieslowski. A sociedade adoecida separa e aprisiona as relações sociais, dividindo-as apenas em direita e esquerda. Nós somos muito mais que apenas isso. Mas, obviamente, não é possível dialogar com quem decidiu-se por argumentos que não ultrapassam a infantilidade.


Resenhando.com - Ao se debruçar sobre rostos anônimos, você capturou histórias que talvez nunca sejam contadas em palavras. Já pensou em abandonar o texto e deixar que a imagem diga tudo?
Giancarlo Giannelli - 
Comecei por isso, o que é o padrão dos livros fotográficos, e mesclei recentemente com o meu pensamento, porque, antes de ser uma obra universal, é uma obra minha. A partir de mim, a pessoa que interagir com a fotografia pode optar por aquilo que lhe convém. A imagem é algo que não se pode ignorar, mesmo que seja esse o desejo. O texto, sim. A partir do texto, pode haver um aprofundamento entre eu e o espectador. A proposta de manter-se no clássico livro com fotos é optar por uma figura geométrica como o quadrado, num mundo rico em formas e curvas. Já perdemos os grãos de prata redondos quando a fotografia se tornou descrita por pixels de formato quadrado. Basta! Precisamos recuperar as curvas.


Resenhando.com - A floresta, como você viu, é viva, complexa e politizada. Se a Amazônia fosse uma personagem, que adjetivos ela teria - e que tipo de governo ela elegeria?
Giancarlo Giannelli - 
O homem, em suas ações, não se sente integrante da natureza; entretanto, o é! Ainda que maltrate o meio-ambiente com todo o requinte de crueldade, o processador ambiental tratará de liquidificar e responder a seu tempo, que é bem diferente do nosso. Se será mais inóspito daqui algumas eras, outras eras tratarão de limpar o dano e reequilibrar o sistema. Pode ser que o sistema já não integre mais o homem, mas daí não nos interessa numa matéria humana. A eleição da natureza provavelmente emposse a liberdade. É muito provável que a multiplicidade de espécies não se aceite sem ressalvas, o que naturalmente nos leve aos desentendimentos, como, por exemplo, utilizar-se do peixe para lazer, de bichos selvagens para desfiles ornamentais que eles sequer compreendem, ou mesmo construir atrações motorizadas que só servem ao prazer de alguns poucos. No fundo, no fundo, se tornou muito simples avaliar a sociedade dominante: é muita falta do que fazer daqueles que nada fazem e ordenam fazerem tudo por eles...

Resenhando.com - Em tempos de redes sociais saturadas por selfies e filtros, lançar um livro de fotografia autoral é quase um ato de resistência. Ainda vale imprimir o invisível?
Giancarlo Giannelli - 
Eu creio que é mais simples que isso. É só uma natureza que não consigo controlar. Se serve a esse propósito, espero que o cumpra com qualidades boas, energizantes e, quem sabe, conscientizadoras. Uma coisa é a minha vida que acontece. A partir dela, é natural o acontecimento dela interferir numa parcela pequena de pessoas relativas a mim, dentre os quais muitos refutarão minha visão, outros irão apenas ignorar, e outros irão dialogar comigo mesmo sem me conhecer. Assim como imprimir o invisível, o diálogo no vácuo pode reverberar numa esfera social pouco atomizada.


Resenhando.com - Você se diz impactado pela forma como aquelas comunidades vivem. Mas o que mais o assustou: o que falta para eles ou o que sobra para nós?
Giancarlo Giannelli - 
Diferentemente de indígenas sem contato com a natureza, eles começam a degustar o sabor da desilusão social ao experimentarem uma vida que não é a deles, cada dia mais digital, até mesmo nesses locais mal urbanizados. As soluções artísticas tratam de filmes de ficção, em romances que não fazem sentido, em troféus que envergonham, em crenças que tiram o toque da mão na realidade e transformam o virtual em pura realidade. A criação da imagem de super-homens ilude, de forma massificada, a sociedade que deveria se preocupar mais com a obscenidade da fome que da pornografia, como disse certa vez José Saramago. Damos nossos lastros à elite em troca de vida virtual, likes. Ou seja, sobra para eles ainda um lastro de vida que, em breve, também lhes será tomado em troca de likes... Na prática, o que acontece é que saúde e educação não chegam para eles. Tomam água do rio, onde a correnteza limpa um pouco as sujeiras, mas nas margens, cheias de motores de barcos eliminando diesel neste momento, ainda com toda a sujeira dos bichos ali dividindo o espaço.


Resenhando.com - Se fosse possível colocar uma única imagem deste livro em todos os painéis de LED do Brasil por um dia, qual seria - e que legenda ela teria?
Giancarlo Giannelli - Creio que esse livro não tem uma grande foto que sintetize o todo. Penso que, de certa maneira, uma fotografia apoia a fluidez da outra e, assim, sucessivamente a cada página. É mais ou menos o caminho da floresta, os pássaros, os rios, os lagos, a água na pele, os sulcos das águas na floresta, o que fica sob a sombra da copa da árvore iluminada pelo sol. Assim sendo, se tivesse de eleger, como me propôs, eu elegeria a fotografia da página 32, na comunidade Enseada do Amorim, onde o senhor Raimundo Alves é exposto com toda essa síntese no rosto: a mata, a alegria, o sol, a noite, a procriação, o vento, a água, os costumes, os afluentes, as estrelas e tudo mais. Para a legenda, eu manteria o meu padrão poético, que mistura a visão da imagem ditada pelas letras sob uma atmosfera onírica, algo como segue na legenda da foto: “Aqui jaz a memória de um momento em que o rio encontrou o oceano, alimentou os seres, fez crescer a mata, enrugou o homem após conhecer o amor, escureceu a pele, mas, infelizmente foi criado, morto e sepultado ao oitavo dia por falta de informação, fraternidade e compaixão".

.: Últimos dias da mostra "Mulheres Atingidas por Barragens" no MASP


Exposição Mulheres Atingidas por Barragens: bordando direitos apresenta técnica têxtil como ferramenta de resistência e denúncia contra violações de direitos humanos e socioambientais. Coletivo Nacional de Mulheres do MAB, Tratores famintos, 2014. Acervo do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Foto: Filipe Berndt


O MASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand apresenta, até 3 de agosto, a exposição "Mulheres Atingidas por Barragens - Bordando Direitos", que reúne 34 arpilleras produzidas pelo Coletivo Nacional de Mulheres do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). As peças foram confeccionadas coletivamente por mulheres de todo o Brasil, em rodas de bordado organizadas pelo coletivo, como expressão de suas vivências e lutas diante dos impactos sociais e ambientais causados pela construção, operação e pelo rompimento de barragens.

As arpilleras, peças têxteis que se tornaram símbolo da memória e da luta por direitos humanos, são composições de retalhos de tecido bordado sobre juta. A técnica surgiu no Chile nos anos 1960 e, durante a ditadura de Augusto Pinochet, tornou-se uma expressão cultural e política de protagonismo feminino. Criadas principalmente por mulheres — muitas delas mães, esposas e familiares de presos políticos e desaparecidos —, essas obras retratam cenas do cotidiano, da repressão e da luta por direitos. O Coletivo Nacional de Mulheres do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) passou a utilizar a técnica em 2013 para abordar temas como a violência doméstica, a ruptura de vínculos entre a terra e a comunidade, a violência contra crianças e adolescentes, a falta de acesso à água potável e à energia elétrica, e os impactos das barragens e da poluição de rios na pesca e na subsistência das famílias, entre outras violações aos direitos humanos e ambientais.

Com curadoria de Glaucea Helena de Britto, curadora assistente, MASP, e Isabella Rjeille, curadora, MASP, esta exposição reúne arpilleras de diferentes regiões do Brasil, produzidas entre 2014 e 2024. Organizadas cronologicamente, essas peças contemplam uma grande diversidade de técnicas e temas. Cada arpillera é contextualizada por uma carta escrita pelas autoras, guardada em um bolso no verso de cada peça, evidenciando o caráter coletivo e de organização popular do processo de realização de cada peça. Na mostra, o público terá acesso à seleção de 6 cartas manuscritas.

“Para muitas pessoas, a arpillera pode parecer apenas uma obra de arte para pendurar na parede. Para nós, o significado político desse testemunho têxtil está na organização das mulheres, na luta pelos seus direitos e na proposição política — dos sonhos, das utopias, daquilo que almejamos. É denúncia, mas também é um projeto de esperança”, diz Daiane Höhn, militante do MAB. 

Sobre a organização das mulheres no MAB
O Coletivo Nacional de Mulheres do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) é um núcleo dentro do movimento que articula a luta das mulheres atingidas em todo o país, fortalecendo sua participação política e promovendo ações de denúncia e resistência. Desde sua criação, tem ampliado a presença feminina nos espaços de decisão e consolidado estratégias para garantir direitos e enfrentar as violações causadas pela construção, operação e pelo rompimento de barragens. No último período, as atingidas também têm promovido debates e fortalecido a organização com mulheres impactadas por desastres climáticos, que, de forma semelhante, geram desestruturação comunitária e familiar, com impactos específicos na vida das mulheres e violações de direitos das famílias.

Desde 2013, as mulheres do MAB organizam oficinas nas quais, por meio do bordado, constroem narrativas visuais que denunciam injustiças socioambientais, registram memórias e reforçam redes de apoio. As arpilleras tornaram-se um símbolo da resistência das mulheres atingidas. "Mulheres Atingidas por Barragens - Bordando Direitos" integra a programação anual do MASP dedicada às Histórias da ecologia. A programação do ano também inclui mostras de Abel Rodríguez, Clarissa Tossin, Claude Monet, Emilija Škarnulytė, Frans Krajcberg, Hulda Guzmán, Inuk Silis Høegh, Janaina Wagner, Maya Watanabe, Minerva Cuevas, Tania Ximena, Vídeo nas Aldeias e a grande coletiva Histórias da ecologia.


Acessibilidade
Todas as exposições temporárias do MASP possuem recursos de acessibilidade, com entrada gratuita para pessoas com deficiência e seu acompanhante. São oferecidas visitas em Libras ou descritivas, além de textos e legendas em fonte ampliada e produções audiovisuais em linguagem fácil – com narração, legendagem e interpretação em Libras que descrevem e comentam os espaços e as obras. Os conteúdos, disponíveis no site e no canal do YouTube do museu, podem ser utilizados por pessoas com deficiência, públicos escolares, professores, pessoas não alfabetizadas e interessados em geral.

Catálogo
Na ocasião da mostra, será publicado um catálogo bilíngue, em inglês e português, composto por imagens e ensaios comissionados de autores fundamentais para o estudo da obra e luta do MAB. A publicação tem organização de Isabella Rjeille, curadora, MASP, e Glaucea Helena de Britto, curadora assistente, MASP, e textos de Roberta Bacic, Monise Vieira Busquets e Carolina Caycedo, além de uma entrevista com Daiane Höhn, Esther Vital e Louise Löbler. O catálogo conta com a reprodução de 47 arpilleras produzidas pelo coletivo, além de textos que contextualizam cada peça.

Realização e apoio 
"Mulheres Atingidas por Barragens - Bordando Direitos" é realizada por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura e PROAC ICMS. 


Serviço
Exposição "Mulheres Atingidas por Barragens - Bordando Direitos"
Curadoria: Glaucea Helena de Britto, curadora assistente, MASP, e Isabella Rjeille, curadora, MASP.
Até dia 3 de agosto de 2025
Mezanino, 1º subsolo, Edifício Lina Bo Bardi

MASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand
Avenida Paulista, 1578 - Bela Vista / São Paulo
Telefone: (11) 3149-5959
Horários: terças grátis, das 10h00 às 20h00 (entrada até as 19h00); quarta e quinta das 10h00 às 18h00 (entrada até as 17h00); sexta das 10h00 às 21h00 (entrada gratuita das 18h00 às 20h30); sábado e domingo, das 10h00 às 18h00 (entrada até as 17h00); fechado às segundas.
Agendamento on-line obrigatório pelo link masp.org.br/ingressos
Ingressos: R$ 75,00 (entrada); R$ 37,00 (meia-entrada)

.: Cinemateca Brasileira exibe títulos raríssimos da Vera Cruz nos dias 26 e 27


Cartaz Floradas na Serra. Crédito: BCC Acervo Cinemateca Brasileira

Com curadoria de Donny Correia, que fará masterclass sobre a Companhia Cinematográfica Vera Cruz, serão apresentados cinco longas na Cinemateca Brasileira neste fim de semana: "Caiçara", "Ângela", "Appassionata", "Veneno" e "Floradas na Serra" e dois curtas-metragens "Santuário" e "Painel". Há 75 anos, a Companhia Cinematográfica Vera Cruz, idealizada por Francisco Matarazzo Sobrinho e Franco Zampari, lançava no circuito nacional uma nova forma de pensar e fazer filmes. 

Com produções suntuosas, estrelas do calibre de Tônia Carrero, Ziembinski, Eliane Lage, Anselmo Duarte, entre outros, e técnicos internacionais recrutados por Alberto Cavalcanti, o projeto visava a fazer frente aos filmes carnavalescos cariocas que inundavam as salas do Brasil. Em pouco tempo, ficou claro que a megalomania das aspirações de Matarazzo e Zampari faria o enorme complexo de estúdios em São Bernardo do Campo fracassar. Os filmes eram emocionantes, vistosos, imponentes, mas internacionais demais. Não agradavam o público e muito menos a crítica.

Somente por volta de 1952 é que a empresa compreendeu que era preciso trabalhar com ideias menos europeias e mais populares ao gosto do brasileiro. Foi por essa época que surgiu o fenômeno "Mazzaropi e O Cangaceiro", de Lima Barreto, ganhou o mundo. Porém já era tarde. Quatro anos apenas após seu nascimento, a Vera Cruz, como havia sido pensada originalmente, colapsou. Mas, para além das megaproduções e da relativa projeção internacional, a empresa também realizou filmes mais modestos, voltados exclusivamente ao mercado interno e à tentativa de um cinema de gênero, tendo o cosmopolitismo da classe média paulistana como foco.

Esta breve retrospectiva apresenta alguns filmes muito menos lembrados da Vera Cruz, que oferecem um panorama da diversidade e do potencial que este grande momento do cinema brasileiro precisa reverenciar. A cada sessão será apresentado, como aperitivo ao programa principal, um curta-metragem documental de Lima Barreto, para que o espectador sinta um pouco do clima original daquelas sessões nos anos 1950.


Cinemateca Brasileira
Largo Senador Raul Cardoso, 207 – Vila Mariana
Horário de funcionamento
Espaços públicos: de segunda a segunda, das 08 às 18h
Salas de cinema: conforme a grade de programação.
Biblioteca: de segunda a sexta, das 10h00 às 17h00, exceto feriados

Sala Grande Otelo (210 lugares + 4 assentos para cadeirantes)
Sala Oscarito (104 lugares)
Retirada de ingresso uma hora antes do início da sessão

Sábado, 26 de julho
15h00 às 16h30 – Masterclass: Vera Cruz, a epopeia de um cinema interrompido, por Donny Correia
17h00 Caiçara, de Adolfo Celi (1950, 92min)
19h00 Painel, de Lima Barreto (1951, 16min)
Ângela, de Tom Payne e Abílio Pereira de Almeida (1951, 95min)

Domingo, 27 de julho
15h00 Santuário, de Lima Barreto (1952, 19 min)
Appassionata, de Fernando de Barros (1952, 80min)
17h30 Santuário, de Lima Barreto (1952, 19 min)
Veneno, de Gianni Pons (1952, 80min)
20h00 Painel, de Lima Barreto (1951, 16 min.)
Floradas na Serra, de Luciano Salce (1954, 100min)

.: 1ᵃ edição em português de "Estudos Africanos de Gênero" é lançada em SP


Nesta terça-feira, dia 22 de julho, às 19h00, o Itaú Cultural sedia o encontro de lançamento da primeira tradução em português do livro "Estudos Africanos de Gênero" (WMF Martins Fontes), organizado pela socióloga nigeriana de origem iorubá Oyèrónké Oyewùmí. A ação - que leva o selo do Ancestralidades (ancestralidades.org.br), plataforma realizada pelo Itaú Cultural em parceria com a Fundação Tide Setubal - tem como proposta difundir o pensamento e olhares de autores e pesquisadores africanos, trazendo outras perspectivas para os referenciais eurocentristas na maioria das referências bibliográficas.

Além da autora, o lançamento tem a participação da escritora Ana Maria Gonçalves, da filósofa Sueli Carneiro e do músico Tiganá Santana, que integram o conselho do Ancestralidades, e mediação da escritora e jornalista Bianca Santana. O público presente no evento receberá um exemplar da publicação. A programação conta, ainda, com transmissão ao vivo pelo YouTube do Itaú Cultural www.youtube.com/itaucultural em duas modalidades: uma com tradução simultânea para o português e outra com o áudio original, em inglês.

Como todas as atividades do Itaú Cultural, os ingressos podem ser reservados pela plataforma INTI, com acesso pelo site www.itaucultural.org.br. Quem não conseguir fazer a reserva, pode comparecer no dia do evento e tentar adquirir um possível tíquete remanescente. Uma hora antes do início é formada uma fila de espera por ordem de chegada, para distribuir os ingressos que tiveram desistência.Compre o livro "Estudos Africanos de Gênero" neste link.


Base continental
O livro "Estudos Africanos de Gênero" é uma coletânea na qual Oyèrónké Oyewùmí reúne textos sobre a temática de gênero, assinados por autores e autoras africanos, vindos de diferentes etnias, nacionalidades, perspectivas teóricas e idiomas.

Esse panorama mostra diversas reflexões sobre o tema, que vêm sendo feitas no continente africano. As temáticas estão divididas por capítulos, cujas abordagens vão de questões de gênero sob aspectos como corpo e espiritualidade até decolonialidade, pós-colonialidade, epistemologias, matriarcado, cosmologias, identidades, casamento, preconceitos, liderança, sexualidade, cultura impressa, desenvolvimento, teoria, produção acadêmica e as definições de mulher.

O livro teve tradução para o inglês em 2005 e agora ganha a primeira versão em português dentro da coleção Plataforma Ancestralidades. Um dos estímulos para esta iniciativa foi a recorrente citação à versão da obra em inglês nas referências bibliográficas dos projetos selecionados na primeira edição do edital Programa Ancestralidades de Valorização à Pesquisa, de 2022.


Sobre a autora
Oyèrónké Oyewùmíé cientista social, teórica e feminista. De importante linhagem iorubá, nasceu em 1957, na cidade de Ògbọ́mọ̀sọ́, no Estado de Oyó, na Nigéria. É também professora de Sociologia na Faculdade de Artes e Ciências na Stony Brook University, na Califórnia, nos Estados Unidos.

Na academia, fez o curso superior de Ciência Política na University of Ibadan, na Nigéria. Concluiu o doutorado em Sociologia em 1993, na University of California, em Berkeley, defendendo a tese Mothers Not Women: Making an african sense of western gender discourses (Mães e Não Mulheres: Criando um sentido africano para os discursos de gênero ocidentais, em tradução livre do inglês), publicada como The invention of women: making an african sense of western gender discourses (A Invenção das Mulheres: Construindo um sentido africano para os discursos ocidentais de gênero).


Sobre a Ancestralidades
A plataforma Ancestralidades foi criada em 2021 pelo Itaú Cultural e a Fundação Tide Setubal, com a proposta de difundir, gerar intercâmbios e potencializar diversos conteúdos sobre a temática que dá nome ao projeto. Ela é composta pelos eixos temáticos Arte e Cultura, Democracia e Direitos Humanos, Religiosidade e Espiritualidade e Ciência e Tecnologia, disponibilizando, ainda, verbetes sobre as raízes afro-brasileiras em um acervo que será atualizado ao longo do tempo.

Com o objetivo de formar e criar repertórios sobre o assunto, a plataforma apresenta biografias e trajetórias de personalidades negras e suas histórias. Também disponibiliza listagem de marcos históricos desde o início do século XVI e conceitos sobre o tema, como raça, gênero, quilombo e afrofuturismo, entre outros.


Serviço
Lançamento do livro "Estudos Africanos de Gênero" (WMF Martins Fontes)
Com participação da autora Oyèrónké Oyewùmí, e da escritora Ana Maria Gonçalves, a filósofa Sueli Carneiro e o músico Tiganá Santana. Mediação: Bianca Santana
Sala Itaú Cultural (piso térreo)
Classificação indicativa: livre
Transmissão ao vivo pelo YouTube do Itaú Cultural www.youtube.com/itaucultural
Entrada gratuita. Reservas de ingressos a partir do dia 15 de julho (terça-feira), a partir das 12h, na plataforma INTI – acesso pelo site do Itaú Cultural www.itaucultural.org.br
Todos os presentes receberão gratuitamente um exemplar do livro.


Protocolos / Sala Itaú Cultural
- É necessário apresentar o QR Code do ingresso na entrada da atividade até 10 minutos antes do seu início. Após esse período, o ingresso será invalidado e disponibilizado na bilheteria.
- Se os ingressos estiverem esgotados, uma fila de espera presencial começará a ser formada 1 hora antes da atividade. Caso ocorra alguma desistência, os lugares vagos serão ocupados por ordem de chegada.
- O mezanino é liberado mediante ocupação total do piso térreo.
- A bilheteria presencial abre uma hora antes do evento começar.


Devolução de ingresso
Até duas horas antes do início da atividade, é possível cancelar o ingresso diretamente na página da INTI, assim outra pessoa poderá utilizá-lo. Na área do usuário, selecione a opção “Minhas compras” no menu lateral, escolha o evento e solicite o cancelamento no botão disponível.

Programação sujeita a cancelamento
O Itaú Cultural informa que sua programação poderá ser cancelada em virtude de questões extraordinárias. Nesse caso, os ingressos adquiridos perdem a validade. O público que reservou o ingresso será notificado por e-mail. Um eventual reagendamento da programação ficará a exclusivo critério do IC, de acordo com a disponibilidade de agendas, sem preferência para quem adquiriu os ingressos anteriormente.


Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149, próximo à estação Brigadeiro do metrô
De terça-feira a sábado, das 11h00 às 20h00. Domingos e feriados, das 11h00 às 19h00.
Informações: pelo telefone (11) 2168.1777 e wapp (11) 9 6383 1663
E-mail: atendimento@itaucultural.org.br
Acesso para pessoas com deficiência física
Estacionamento: entrada pela Rua Leôncio de Carvalho, 108.
Com manobrista e seguro, gratuito para bicicletas.

.: "Pais & Filhas - Uma Relação Lírica" no Teatro Sérgio Cardoso


Sarau musical une solistas, piano e narração em reflexões líricas sobre vínculos familiares a partir das óperas. Na imagem, Andres Santos Jr. Foto: divulgação

Emoções intensas, afeto, desafios e poesia. O espetáculo "Pais & Filhas - Uma Relação Lírica" chega ao palco do Teatro Sérgio Cardoso, na próxima terça-feira, dia 29 de julho, às 19h00, como parte do projeto Loucos por Criação – Um Sarau Psi. Com formato híbrido entre concerto e performance cênica, a apresentação costura trechos de óperas, narração de palco e música ao vivo para abordar uma das relações mais complexas e universais da existência humana: a entre pais e filhas.

Com direção cênica de Andres Santos Jr. e roteiro de José Paulo Fiks, o sarau traz no elenco os solistas Raquel Paulin (soprano), Johnny França (barítono) e o pianista e preparador musical Flavio Lago. O público é convidado a revisitar grandes obras do repertório operístico sob um olhar afetivo e contemporâneo, que destaca figuras paternas marcantes e as trajetórias de jovens mulheres corajosas, apaixonadas ou desafiadoras, sempre atravessadas por intensas emoções.

Ficha técnica
Espetáculo "Pais & Filhas - Uma Relação Lírica"
Concepção e narração: Andres Santos Jr.
Piano e preparação musical: Flavio Lago
Roteiro e iluminação: José Paulo Fiks
Soprano: Raquel Paulin
Barítono: Johnny França

Serviço
Espetáculo "Pais & Filhas - Uma Relação Lírica"
Projeto Loucos por Criação – Um Sarau Psi
Data: terça-feira, dia 29 de julho, às 19h00
Local: Teatro Sérgio Cardoso – Sala Paschoal Carlos Magno | Rua Rui Barbosa, 153 – Bela Vista / São Paulo
Ingressos: R$ 140,00 (inteira) | R$ 70,00 (meia-entrada) | Sympla
Duração: 90 minutos
Classificação: 10 anos

segunda-feira, 21 de julho de 2025

.: Romeu Benedicto já foi o diabo, salvou animais e leva fúria para a guerra do sol


Por Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com. Foto: Rebecca Wesolowski

Sem filtros, sem retoques e, felizmente, sem medo de sujar os pés em uma indústria que premia o excesso de filtros e o déficit de conteúdo, o ator Romeu Benedicto segue na contramão: atua como quem tem terra debaixo das unhas, suor na memória e um pacto silencioso com a verdade. Agora, ele surge como Tonhão, um militar aposentado e inflamável na novela "Guerreiros do Sol", disponível no Globoplay, provando que ainda há personagens que sangram de verdade e não apenas repetem frases de efeito com cara de comercial de banco.

Romeu Benedicto é ator, mas poderia ser cronista das entranhas do Brasil. Filho do Mato Grosso profundo, já vendeu manga em carrinho de mão, plantou grama, salvou bichos queimados no Pantanal e teve que se perdoar por ter escolhido a arte em vez da estabilidade. Hoje, aos 59 anos, transforma o sertão em palco e a vingança de Tonhão em um ritual quase ancestral. Nesta entrevista exclusiva para o portal Resenhando.com, ele fala sobre cangaço, bastidores sufocantes, a força do chão queimada pela história - e confessa que sua maior cena talvez ainda esteja por vir. 


Resenhando.com - Você já plantou grama, vendeu manga, campeou gado e hoje interpreta patriarcas tomados por vingança em novelas de época. O que ainda há de selvagem - ou de rural - no Romeu que pisa no set?
Romeu Benedicto - Muito bom. O que há em mim são as experiências vividas, as memórias que tenho, o aprendizado que trago e isso me serve como recursos que posso usar nos personagens quando piso no set. Todas essas memórias fazem parte de mim. 

Resenhando.com - Tonhão entra em “Guerreiros do Sol” com a fúria de um homem que teve tudo arrancado. Qual foi a sua tragédia pessoal mais difícil de não transformar em ódio?
Romeu Benedicto - Graças a Deus não tive nenhuma tragédia pessoal como a do Tonhão ou próximo a isso, ainda bem, mas imaginar a possibilidade é apavorante, e foi nessa possibilidade que eu fui de cabeça. A única coisa que me veio na memória foi quando meu pai morreu: um dia antes eu passei o dia com ele, a Monica, minha esposa, grávida de oito meses da Fernanda, e a noite quando fui pra casa ele me pediu pra dormir com ele... Eu disse que não podia, tinha que dormir na minha casa, e ficar com a Monica. À noite, quando recebi a ligação da minha irmã, saí correndo desesperado pra casa do meu pai, veio uma voz, dizendo "calma, ele está bem, está em paz". Cheguei em casa e a ambulância já tinha saído com ele e minha irmã. Aí fui atras, e no caminho eu encontrei a ambulância parada. O médico me olhou e balançou a cabeça, minha irmã chorando, aí ele me falou que não podia levar o corpo ao pronto-socorro, por quando pegaram ele já estava em óbito. Eu me revoltei com aquilo, tive que carregar meu pai morto, colocá-lo no banco de trás do meu carro, que era um Gol, foi um horror ver aquilo. Só de lembrar, eu me emociono. E levamos eu e minha irmã o corpo dele ao pronto-socorro.

Resenhando.com - No sertão onde a trama foi gravada, o tempo mandava mais que a direção. No teatro da vida, quem manda em você hoje: a intuição ou a necessidade?
Romeu Benedicto - A intuição é um dos meus guias, sempre dá certo quando a ouço. Ela me impulsiona e a razão ajuda a lidar com a incerteza de hoje ter, amanhã não ter, porque a necessidade bate à porta todo mês.


Resenhando.com - Você estudou depoimentos de ex-cangaceiros e vítimas de um Brasil bruto. Qual foi o relato mais cruel - ou mais poético - que ainda ecoa na sua cabeça?
Romeu Benedicto - Quando nós chegamos no local onde a equipe de produção, se não estou enganado, montaram a casa da Rosa ou o QG numa propriedade locada para as gravações. Esse local era onde Corisco executou uma família: mulher, crianças e tinha um local onde ele cortou a cabeça do pai na frente das crianças e depois fez o mesmo com cada um. A energia daquele lugar era brutal de pesada, dava pra sentir um calafrio quando eu olhava pros locais, e imaginar aquelas crianças vendo e esperando sua vez. 

Resenhando.com - Você foi o Diabo de Gil Vicente aos 16 anos. De lá pra cá, já teve que negociar sua arte com algum "Anjo da Barca"?
Romeu Benedicto - Eu acredito que nossa dignidade não tem preço, mas às vezes o mais difícil é perceber quando estamos sendo usados. Eu sou do tipo que prefiro confiar primeiro, eu confio nas pessoas, mas uma vez traída essa confiança não consigo mais ser o mesmo e procuro afastar da minha convivência. Já passei por isso, e não negócio o que eu mais amo fazer. Minha arte é parte de mim e tem que ser feita de forma leve, porque é pra alma. 


Resenhando.com - Seu pai dizia que arte não enche barriga. Se pudesse tê-lo como plateia por uma noite, qual cena da sua carreira você gostaria que ele visse - e o que espera que ele dissesse no fim? 
Romeu Benedicto - Primeiro, eu iria querer que ele conhecesse meus filhos. Ele ia amá-los. Eu gostaria que ele visse esse momento da minha carreira e que ele percebesse que estou mantendo um equilíbrio entre ter e ser e que é possível. Então ele me diria: “Filho siga seu sonho e seja feliz, eu te liberto e te autorizo”. E na primeira fileira ele levantasse e gritasse: “Bravo!”, e falasse: “Esse é meu filho!”


Resenhando.com - Entre um cavalo sem sela e um set em que o tempo fecha como em Londres, qual foi o perrengue mais cinematográfico da sua vida fora das câmeras?
Romeu Benedicto - Foi numa travessia de barco da Barra da Lagoa até a ilha do Campeche em Florianópolis, estávamos eu, minha esposa grávida do meu filho Heitor, e eu com minha filha no colo de um ano e meio. Na ida, foi uma tranquilidade, mas na volta, meu Deus do céu, o tempo fechou, o céu escureceu, e as ondas ficaram gigantescas. Elas cresciam ao lado do barco em uma altura de mais de três metros e jogava o barco para cima e para o lado. Eu agarrava com minha filha e, ao mesmo tempo, segurava minha esposa tentando com que ela não sentisse tanto o baque no barco quando caía. Foi um desespero. Eu vi aquele barco virar, rezei muito pra que chegássemos em terra firme o mais rápido possível. Aquela viagem parecia interminável. Foi aterrorizante, só de falar ainda sinto o frio na barriga. Quando chegamos, foi um alívio. Nunca mais fiz passeio de barco. No cavalo sem cela a gente tem um certo controle, mas do tempo, não temos e ficamos reféns. Reconhecer a grandeza do tempo, da natureza, e sua força é fundamental. Somos pequenos diante dela. 

Resenhando.com - Você já salvou bichos queimados no Pantanal. A atuação, de certa forma, também o salvou?
Romeu Benedicto - Sim, por causa dela sou quem eu sou hoje. Acreditar que é possível e não desistir me salvou de não ser raso, de não ser inteiro. No ofício de ser ator, posso ser pleno.


Resenhando.com - Belarmino guiava o público por caminhos à beira do lago. Se hoje você fosse convidado a fazer um monólogo chamado "Tonhão", qual seria o território cênico ideal: um campo de guerra, um confessionário ou uma mesa de boteco?
Romeu Benedicto - Seria um confessionário (risos). Haja ouvido! Tonhão teria muitos pecados a confessar porque apesar de toda a tragédia em sua vida, ele ainda poderia escolher o caminho do bem. Sempre temos escolhas, mas ele foi tomado pela cegueira do ódio e da vingança. E matou, bateu, aliou-se ao diabo, Arduino, o cavalo Cão.


Resenhando.com - Se a Globo decidisse filmar sua biografia em formato de novela épica, qual seria o título, o seu par romântico ideal e a cena final?
Romeu Benedicto - Nossa que sonho (risos)! Não sei nem o que falar aqui (risos). Mas seria "Do Pantanal Profundo às Telenovelas", com uma mulher de cabelos cacheados, vinda do Paraná, Londrina, e uma cena final com o pôr do sol belíssimo do Pantanal.

.: Preta Gil: a trajetória multifacetada e o legado que transcende gerações


Preta Gil, a voz que rompeu barreiras e coloriu a cultura brasileira com coragem e autenticidade. Foto: Globo/ Maurício Fidalgo

A morte precoce de Preta Gil aos 50 anos representa um momento de profunda tristeza para a cultura brasileira. Filha do músico Gilberto Gil e da empresária Sandra Gadelha, Preta nunca se deixou limitar pelo peso de um sobrenome histórico. Pelo contrário, criou uma carreira multifacetada, em que a música, a atuação, o ativismo e o empreendedorismo se entrelaçaram para compor a singularidade de sua obra e personalidade.

Preta Maria Gadelha Gil Moreira nasceu no Rio de Janeiro em 8 de agosto de 1974, em um momento histórico singular - dois anos depois do retorno de seu pai do exílio na ditadura militar. O nome da artista carrega a simbologia da resistência: o tabelião que se recusou a registrar apenas “Preta” como nome próprio impôs a inclusão de “Maria”, uma marca das barreiras sociais e raciais que atravessaram sua vida.

Antes de se lançar como cantora, Preta Gil trabalhou nos bastidores da indústria musical, com destaque para a direção de videoclipes de artistas consagradas como Ivete Sangalo e Ana Carolina. O ingresso na carreira artística foi aos 28 anos, com o álbum "Prêt-à-Porter" (2003), cuja capa em que posou nua, fotografada por Vania Toledo, simbolizava um renascimento pessoal e artístico. Apesar da repercussão da imagem, a cantora sempre reforçou que o foco deveria ser a música e a arte, e não o impacto midiático.

A discografia de Preta Gil reúne quatro álbuns de estúdio - "Prêt-à-Porter" (2003), "Preta" (2005), "Sou Como Sou" (2012) e "Todas as Cores" (2017) - que exploram temas como identidade, amor, diversidade e autoaceitação. Além disso, atuou no teatro, televisão e internet, mostrando versatilidade e capacidade de diálogo com diferentes públicos. A experiência como atriz inclui personagens marcantes, como a vilã Helga na novela "Caminhos do Coração" (2007), e o monólogo "Mais Preta que Nunca!" (2019), que consolidou sua presença nos palcos. 

Em televisão, destacou-se como apresentadora e comentarista, aproximando-se ainda mais do público. No carnaval, lançou e consolidou o Bloco da Preta, evento que reuniu multidões e se tornou referência de celebração da diversidade e da cultura popular. Em 2017, Preta Gil cofundou a agência Mynd, que revolucionou o marketing de influência, a gestão de imagem e o entretenimento no Brasil. Com clientes de peso como Natura, Coca-Cola, Itaú e até o "Big Brother Brasil".

Em 2023, Preta Gil revelou seu diagnóstico de câncer no intestino, enfrentando a doença com transparência e coragem. Sua experiência pública contribuiu para desmistificar o tema e fortalecer o diálogo sobre saúde, superação e acolhimento. Além disso, a postura aberta dela em relação à bissexualidade e pansexualidade, bem como o ativismo em defesa dos direitos LGBTQIA+, consolidaram sua posição como uma das vozes mais importantes na luta pela diversidade e pela inclusão no Brasil.

A morte de Preta Gil não significa o fim de sua presença na cultura brasileira. Pelo contrário, a artista e empresária legou um acervo rico e plural que exige cuidado, respeito e compromisso para ser preservado e potencializado. O legado dela é um convite para que a memória cultural do país se fortaleça, reconhecendo a importância de artistas que, como ela, romperam barreiras e abriram espaços.

.: Últimas apresentações da montagem vertiginosa do clássico "7 Gatinhos"


Na imagem, os atores Zizi Yndio do Brasil 
e Marina Wisnik. Foto: Cafira Zoé

As duas últimas apresentações do espetáculo "7 Gatinhos", clássico de Nelson Rodrigues com direção de Joana Medeiros, serão nesta terça e quarta-feira, dias 22 e 23 de julho,  às 20h00, no Teatro Oficina. No espetáculo, o autor sintoniza a hipocrisia das relações no núcleo colonial originário, a Família, instituição patriarcal secular herdada de geração em geração, e nos convida a olhar para as suas entranhas. O teatro se transforma em um cenário de traições e revelações terríveis que culminam em um crime brutal. A peça se passa em um ambiente tenso, onde os membros da família revelam suas verdadeiras faces.

No espetáculo, Seu Noronha, morador do Grajaú, tradicional bairro da Zona Norte carioca é continuo da Câmara dos Deputados, onde serve cafezinho aos parlamentares. Aracy, sua esposa, a quem chama de Gorda, vive na mais completa solidão. O casal tem cinco filhas, quatro das quais prostitutas. Seu Noronha faz vista grossa para o comportamento de Débora, Arlete, Aurora e Hilda, desde que todas contribuam para o enxoval da caçula. Silene com quinze anos, interna num colégio de rígida disciplina, é um símbolo de pureza, mantida fora do ambiente familiar e preservada para o casamento.

Um dia ela é expulsa da escola por ter matado uma gata prenha. Noronha não acredita na versão dada pelo diretor. Mais tarde após muita discussão, a família descobre que Silene está grávida. Noronha abandona a Câmara e transforma o lar num bordel, achando que as filhas ganhariam mais trabalhando em casa. Desmoralizado, o chefe de família torna-se presença incômoda no bordel.

“Nos sete gatinhos, a religião é um disfarce na máscara atarantada das aparências. Lutamos para enxergar nossa verdadeira cara no mundo, nosso nome real na sociedade. Também está presente o sentido de classe: quem se sente humilhado no trabalho humilha em casa. É uma lei humana. O tema da homossexualidade feminina aparece atravessado por um pai abusador. As filhas projetam sua pureza na irmã mais nova que, por sua vez, desenvolve uma liberdade, um ódio profundo, violento e frio por uma estrutura familiar tacanha. Vivemos uma visão tremenda, 1957 se transpõe para 2025. E nós vamos com coragem rasgar nossa loucura velada com o sangue puro selvagem e imutável do desejo!”, diz  Joana Medeiros, diretora do espetáculo.

Joana encenou recentemente "O Ovo e Galinha", de Clarice Lispector, texto visceral e feiticeiro da literatura brasileira em um rito-performático com a atriz Ana Hartmann, e a primeira aparição performática de "7 Gatinhos" no Natal de 2024, em sessão única a partir da encenação do 3º ato dessa dramaturgia tropical macabra, ambas com casa lotada.


Ficha técnica
Espetáculo "7 Gatinhos"
De Nelson Rodrigues
Criação Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona
Direção: Joana Medeiros
Ass. de direção: Chico Barbosa, João Estevão
Atuantes: Ana Clara Cantanhede, Bianca Terraza, Gii Lisboa, Henrique Maria, Joana Medeiros, Marina Wisnik, Maurilio Domiciano, Vick Nefertiti, Victor Rosa, Viviane Clara Bomfim, Zizi Yndio do Brasil
O Ponto: Artur Medeiros
Banda: Adriano Salhab, Jefferson Placido
Iluminação: Angel Taize
Operação de foco móvel: Victória Pedrosa, Felipe Soares
Desenho e operação de som: Julia Ávila
Direção de cena: Gii Lisboa
Contrarregras: Mayara Gonçalves, Rafael Castilho
Maquinaria: Maurilio Domiciano
Figurino: Arianne Vitale
Cinegrafia: Cafira Zoé, Diego Arvate, Lufe Bollini
Operação de vídeo: Diego Arvate
Câmera ao vivo: Helena Toledo, Lufe Bollini
Arte gráfica: Bianca Terraza, Bruna Zanqueta, Cafira Zoé, Pedro Martins, Zizi Yndio do Brasil
Redes sociais, vídeo divulgação e mídia tática: Cafira Zoé
Fotografia: Cafira Zoé, Pedro Martins e Antonio Simas
Produção: Sônia Esper, Bruli
Ass. de produção: João Estevão, Zizi Yndio do Brasil
Produtor Associado: Guilherme Gil de Oliveira
Assessoria de imprensa: Adriana Monteiro
Bombeira: Amanda Aguiar
Apoio: Aboud Shawarma Comida Árabe, Viação Cometa
Realização: Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona


Serviço
Espetáculo "7 Gatinhos"
Uma criação Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona
Direção Joana Medeiros
Datas: 10 de junho a 23 de julho (terças e quartas), sempre às 20H
Ingressos à venda pela Sympla: https://bileto.sympla.com.br/event/106243
R$ 70,00 (inteira) e R$ 35 (meia-entrada)
Classificação indicativa: 16 anos
Duração: 2h30

Amantes do Teatro Oficina têm direito à meia-entrada (válido para todos os planos exceto Vento Forte prum Papagaio Subir. compre on-line a meia-entrada pela sympla e apresente sua carteirinha de amante do Teatro Oficina na entrada)

Ainda não é amante? Nunca é tarde: https://www.evoe.cc/parceiro/amantes-do-teatro-oficina/bem-vindo

domingo, 20 de julho de 2025

.: Humberto Werneck desafia o tempo e reencena a crônica como gênero vivo


Por 
Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com. Foto: Luiza Sigulem

Sentado no meio-fio da memória brasileira, Humberto Werneck acende um cigarro imaginário e convida o leitor a conversar - sem pressa, mas com precisão. Aos 80 anos, o mineiro que já rabiscou reportagens, biografias e dicionários de lugares-comuns, lança "Viagem no País da Crônica" e transforma o que era um acervo digital em um passeio literário que atravessa estações, feriados, goleadas e golpes de Estado.

Werneck não só comenta Clarice Lispector, Rubem Braga e Fernando Sabino como se estivesse em um bate-papo informal - ele os costura com o cuidado de quem também é parte do tecido. Entre crônicas sobre uísque, chuva, fotografia e República, o jornalista transforma o gênero “maleável e indefinido” em mapa e espelho de um Brasil realista e fantástico, às vezes no mesmo parágrafo.

Nesta conversa exclusiva ao rés do chão com o Resenhando.com, Werneck fala do patinho feio da literatura, dos jogos de futebol com poetas e das dores e delícias de ser cronista em um país que parece sempre em véspera de alguma coisa. E prova, mais uma vez, que escrever bem é mais que talento: é saber escutar a rua com os ouvidos de quem consegue interpretar as entrelinhas da vida. Compre o livro "Viagem no País da Crônica" neste link.

Resenhando.com - Se a crônica é o patinho feio da literatura, quem seria o cisne da vez - o romance autoficcional ou o livro de autoajuda disfarçado de literatura?
Humberto Werneck - O cisne da vez pode ser um desses dois, ou ambos. O primeiro, tão em moda, me sugere anemia criadora. O segundo, nem isso.

Resenhando.com - Entre o meio-fio e a torre de marfim: como foi sobreviver a décadas de jornalismo sem ceder ao clichê do cronista que vira personagem de si mesmo?
Humberto Werneck - O jornalismo, ao contrário da literatura, busca ser objetivo e impessoal. Talvez isso explique que alguns jornalistas, na hora de serem cronistas, vão à forra, concentrando-se na observação do próprio umbigo. 

Resenhando.com - Tem alguma crônica que você se arrepende de não ter escrito - ou pior, alguma que gostaria de ter assinado no lugar de Clarice Lispector, Rubem Braga ou Fernando Sabino?
Humberto Werneck - Arrependimento? Nenhum. Mas perdi a conta das crônicas alheias que me enchem de inveja benigna. “Viúva na Praia”, de Rubem Braga, por exemplo. “Esquina”, de Mário de Andrade. “O Amor Acaba”, de Paulo Mendes Campos. “O Inventor da Laranja”, de Fernando Sabino. “Canção de Homens e Mulheres Lamentáveis”, de Antônio Maria.
 

Resenhando.com - Ao organizar essa “viagem” literária de janeiro a dezembro, que estação do ano você acha que o Brasil definitivamente não sabe viver?
Humberto Werneck - O Brasil se dá bem com todas as estações do ano, até porque, na barafunda climática cada vez maior, as quatro têm estado muito parecidas.

Resenhando.com - Carnaval, uísque, fé e futebol: qual desses temas envelheceu melhor nas crônicas?
Humberto Werneck - Talvez o futebol tenha envelhecido melhor - embora não me pareça hoje nem remotamente merecedor de um Nelson Rodrigues.

Resenhando.com - Qual foi a maior mentira já contada sobre a crônica brasileira - e por que ela ainda sobrevive?
Humberto Werneck - A crônica sobrevive porque todos nós gostamos de uma conversa boa. Quanto às mentiras... bem, estou pensando aqui em Alceu Amoroso Lima, um crítico para quem “uma crônica, num livro, é como um passarinho afogado”. E tem o Ledo Ivo, que falou da crônica como sendo ”esse gênero anfíbio que, pertencendo simultaneamente ao jornalismo e à literatura, assegura notoriedade e garante o esquecimento”. A frase, aliás, está num livro dele que se chama "O Ajudante de Mentiroso".

 
Resenhando.com - No fim das contas, escrever sobre o cotidiano com humor é mais sobre rir do mundo - ou sobre disfarçar o próprio desespero?
Humberto Werneck - Talvez seja uma tentativa de consertar o mundo e as coisas.

Resenhando.com - O que dói mais: a pressa do deadline de um jornal ou a lentidão do reconhecimento da crônica como gênero literário legítimo?
Humberto Werneck - Cronistas como Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Antônio Maria passaram anos escrevendo para o jornal do dia seguinte, e nesse regime brabo produziram textos capazes de atravessar o tempo. Com isso, se deram melhor do que muito contista e romancista que visava a eternidade, e cuja obra acabou não tendo a sobrevida de alguns recortes de jornal ou revista. O reconhecimento está chegando, mas ainda tem muito nariz cronicamente torcido para a crônica...

Resenhando.com - Ao costurar crônicas sobre a Revolução de 30, o golpe de 64 e a construção de Brasília, não deu vontade de escrever também sobre o golpe do PIX, o Enem da redação nula e a CPI do fim do mundo? A crônica ainda dá conta do Brasil de hoje?
Humberto Werneck - Para o bom cronista não há assunto que não sirva. Até mesmo a falta de assunto rendeu pérolas de mestres como Rubem Braga, Drummond ou Vinicius de Moraes. Drummond, aliás, deliciou os leitores com uma crônica sobre o que fazer com os pelos das orelhas. Por que o golpe do PIX, o Enem da redação nula e a CPI do fim do mundo não renderiam coisa boa de ler? A dificuldade não está no tema, mas da capacidade de tratá-lo sem que daí venha, em vez de crônica, um artigo ou editorial.

Resenhando.com - Se a crônica é uma conversa no meio-fio, o que fazer quando o leitor está com fone de ouvido, olhando pro celular e atravessando a rua sem olhar? Ainda dá pra puxar papo?
Humberto Werneck - Assim como acontece com o autor, não é sempre que o leitor está brilhante. Mas pode se dar também uma coincidência feliz, aquela em que, numa ponta e na outra, haja quem adore uma conversa boa.

.: Valter Hugo Mãe lança "Educação da Tristeza", um testemunho íntimo


Um dos escritores mais celebrados da literatura de língua portuguesa, Valter Hugo Mãe apresenta ao público seu novo livro, Educação da tristeza: uma obra visceral, delicadamente ilustrada pelo próprio autor, que faz da ausência matéria-prima para repensar a vida. A escrita de "Educação da Tristeza", lançado pela editora Biblioteca Azul, surge de duas perdas centrais: a morte precoce de seu sobrinho Eduardo - mesma figura que inspirou "O Filho de Mil Homens" - e a morte da grande amiga Isabel Lhano, artista plástica e companheira de geração. Diante dessas ausências, Valter se instala numa antiga casa em reformas: entre paredes abertas e canos expostos, ergue uma narrativa que é também uma tentativa de reconstrução interior.

Mais do que um livro sobre o luto, "Educação da Tristeza" é uma reflexão poderosa sobre envelhecer e encarar a própria mortalidade. Ao relembrar Isabel e Eduardo, Valter fala sobre chegar aos 50 anos - o medo do fim e a urgência de celebrar o tempo que ainda resta. No livro, o cotidiano fragmenta-se em lembranças, confissões, epifanias, observações e diálogos imaginários com quem partiu. São páginas com cheiro de café, rumor de gatos vadios, calor de uma lareira improvisada - tudo se mistura ao tom confessional do autor, que se recusa a deixar que a morte roube a alegria de quem fica.

Entre cartas, sonhos e reflexões que misturam delicadeza e brutalidade, Educação da tristeza toca o essencial: o amor, a saudade e a arte de permanecer humano mesmo quando tudo parece ruir. Um livro que faz da tristeza uma escola - e da memória, um lugar de festa. O livro, que está em pré-venda, marca o retorno de Valter Hugo Mãe à FLIP — a Festa Literária Internacional de Paraty, 14 anos após a estreia histórica no evento. O autor participa de uma mesa mediada por Walter Porto (Folha de S.Paulo) no dia 1º de agosto, com apoio da Netflix, que também celebra a adaptação de "O Filho de Mil Homens". Em seguida, Valter fará um lançamento com sessão de autógrafos em São Paulo. Compre o livro "Educação da Tristeza", de Valter Hugo Mãe, neste link.
 

Serviço
FLIP - Festa Literária Internacional de Paraty
Mesa extra "Escritor de Dois Mundos", com Valter Hugo Mãe. Mediação de Walter Porto, da Folha de S.Paulo
Sexta-feira, 1º de agosto, às 13h30 - Auditório da Matriz
Apoio: Netflix, com destaque para o filme inspirado em "O Filho de Mil Homens" (presença do diretor Daniel Rezende).
Ingressos à venda a partir de 17 de julho no site oficial da FLIP.

Lançamento em São Paulo
Segunda-feira, 4 de agosto, às 19h00
Livraria Martins Fontes Paulista - Av. Paulista, 509 - Bela Vista / São Paulo

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