quarta-feira, 30 de julho de 2014

.: "Daily Míllor" e "Diário da Tarde", em memória à Millôr Fernandes e Paulo Mendes Campos


Homenageado na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que acontece até 3 de agosto, o desenhista e jornalista Millôr Fernandes (1923-2012) será inspiração para um jornal diário, intitulado "Daily Míllor", durante os dias do evento.

Este jornal, que irá abordar os mesmos temas debatidos no evento, terá textos e desenhos feitos por convidados da 12ª edição da Flip, como Ivan Fernandes, filho de Millôr, Antonio Prata, Chico Caruso, Reinaldo (ex-‘Casseta & Planeta’) e Luis Fernando Verissimo,Reinaldo (ex-‘Casseta & Planeta’). A iniciativa integra as ações da exposição “Millôr, 90 anos de nós mesmos", na Casa da Cultura de Paraty, sobre trajetória do escritor, reunindo também as colaborações nas revistas “A Cigarra" e "O Cruzeiro".


Jornais sempre fizeram parte da vida de grandes escritores. Recém-aposentado no início da década de 1980, Paulo Mendes Campos foi cultivar seu jardim em um sítio da serra fluminense. Ali, no sossego da vida rural, longe das pressões da vida diária no Rio de Janeiro, começou a compor um jornal imaginário, o Diário da Tarde, com artigos, crônicas, resenhas futebolísticas, poemas, traduções e aforismos - enfim, as diversas seções que costumam compor uma publicação diária.

Entre notas em seus quase intermináveis blocos e textos já publicados, o mineiro produziu vinte “edições” do seu jornal, que ganharia uma edição em livro em 1981. Este “Diário da Tarde” ganha nova edição, mostrando a incrível gama de talentos do autor para os mais diversos tipos de texto. Diretor de redação e único repórter do seu “jornal”, Paulo Mendes Campos faz, nesta obra relançada pela Companhia das Letras, desde o perfil literário - aqueles de Virginia Woolf, Walt Whitman e Pedro Nava estão entre as melhores apreciações desses autores em nossa língua - à crônica esportiva, passando pelo poema e pela tradução de alguns de seus poetas preferidos e indo à crônica leve e deliciosa sobre a vida na cidade. 

“Este livro pode ser folheado num lindo dia de chuva, à falta duma boa pilha de revistas antigas”, escreve o autor na abertura do volume. Eis um convite irresistível. Se quiser ler um trecho, disponibilizado pelo site da editora Companhia das Letras, clique aqui.


.: Programação Portátil da Flip 2014 (para imprimir e levar)

A programação principal da Flip 2014 conta com 47 autores de 15 nacionalidades, a maioria em participação inédita. A edição homenageia Millôr Fernandes, que esteve entre os convidados da primeira edição da Flip, em 2003, e traz duas novidades: o Show de Abertura, com a cantora Gal Costa, é gratuito, assim como a transmissão ao vivo da programação principal no telão. 

Entre os diversos recortes da programação estão humor, arquitetura, ciência, pensamento indígena e crítica ao poder,característica do homenageado. Há também as  programações da Flipinha, , eixo socioeducativo da festa voltado ao público infantil,  e a FlipMais, com encontros na Casa da Cultura
sobre políticas públicas, literatura, cinema e Millôr Fernandes; e os eventos paralelos Cozinhando com Palavras (de quarta a sábado), com realização do Senac e da Câmara Brasileira do Livro (CBL), que reúne gastronomia, literatura e cultura; e encontro com 25 escritores e mostra de teatro, música e cinema no Centro Cultural Sesc Paraty.

Em Paraty, a transmissão ao vivo da programação principal ocorre em dois locais, ambos de acesso livre e gratuito: na Praça do Telão, localizada na Praça da Santa Casa, e no Telão da Quadra, localizado ao lado da Igreja da Matriz. Mas se você não está em Paraty, ainda dá para acompanhar tudo ao vivo, pelo site http://www.flip.org.br/flip_aovivo_2014.php?idioma_new=P.
A programação está bem pequenininha para você, que está lá, imprimir e levar no bolso.

Quarta-feira, 30 de julho
19h – Conferência de abertura, com o crítico de arte Agnaldo Farias; “Millormaníacos”, com Hubert, Reinaldo e Jaguar
21h30 – Show de abertura na tenda da Flipinha, com Felipe Guaraná e Banda e Gal Costa

Quinta-feira, 31 de julho
9h30 – Mesa "Zé Kleber, Da Cidade à Cidadania", com Paula Miraglia, Jailson de Souza e Silva e Rene Uren - mediação: Guilherme Wisnik
12h – "Poesia & Prosa", com Charles Peixoto, Eliane Brum e Gregorio Duvivier - mediação: Miguel Conde
15h – "Os Possessos", com Elif Batuman e Vladímir Sorókin - mediação: Bruno Gomide
17h15 – "Fabulação e Mistério", com Joël Dicker e Eleanor Catton - mediação: José Luiz Passos
19h30 – "Paraty, Veneza do Atlântico Sul", com Francesco Del Co e Paulo Mendes da Rocha - mediação: Guilherme Wisnik
21h30 – "Porque Era Ele, Porque Era Eu", com Mathieu Lindon e Silviano Santiago - mediação: Paulo Roberto Pires

Sexta-feira, 1º de agosto
10h – "O Guru do Méier", com Cássio Loredano, Claudius e Sérgio Augusto - mediação: Hugo Sukman
12h – "À Mesa Com", com Michael Pollan - mediação: Lúcia Guimarães
15h – "Marcados, com Claudia Andujar e Davi Kopenawa" - mediação: Eliane Brum
17h15 – "Livre Como um Táxi", com Antonio Prata e Mohsin Hamid -  mediação: Teté Ribeiro
19h30 – "Encontro com Andrew Solomon" - mediação: Otávio Frias Filho
21h30 – "2x Brasil", com Cacá Diegues e Edu Lobo; mediação: João Gabriel de Lima

Sábado, 2 de agosto
10h – "Liberdade, Liberdade", com Charles Ferguson e Glenn Greenwald - mediação: Lúcia Guimarães
12h – "Memórias do Cárcere: 50 Anos do Golpe", com Bernardo Kucinski, Marcelo Rubens Paiva e Persio Arida - mediação: Lilia M. Schwarcz
15h – "A Verdadeira História do Paraíso", com Etgar Keret e Juan Villoro - mediação: Ángel Gurría-Quintana
17h15 – "Tristes Trópicos", com Beto Ricardo e Eduardo Viveiros de Castro - mediação: Eliane Brum
19h30 – "Encontro com Jhumpa Lahiri" - mediação: Ángel Gurría-Quintana
21h30 – "Narradores do Poder", com David Carr e Graciela Mochkofsky - mediação: João Gabriel de Lima

Domingo, 3 de agosto
10h – "Ouvir Estrelas", com Marcelo Gleiser e Paulo Varella - mediação: Bernardo Esteves
12h – "Romance em Dois Atos", com Daniel Alarcón e Fernanda Torres - mediação: Ángel Gurría-Quintana
14h – "Os Sentidos da Paixão", com Almeida Faria e Jorge Edwards - mediação: Paulo Roberto Pires
16h – "Livros de Cabeceira" – convidados da Flip leem e comentam trechos de seus autores favoritos. Com Andrew Solomon, Etgar Keret, Graciela Mochkofsky, Joël Dicker, Juan Villoro, Eduardo Viveiros de Castro, Fernanda Torres e Marcelo Rubens Paiva.

terça-feira, 29 de julho de 2014

.: Luiza Possi canta Stevie Wonder em especial do Projeto Studio62


Cantora participa do especial dedicado ao 62º episódio da série de Rafael Kent.


Completando 62 episódios, o projeto acústico Studio62 de Rafael Kent, da Okent Films, apresenta uma das cantoras mais talentosas de sua geração: Luiza Possi.

Interpretando a canção "Overjoyed", um dos clássicos de Stevie Wonder a música foi lançada originalmente em 1985, se tornando uma das mais famosas do músico. Agora, a filha de Luiza Possi regravou a faixa para o especial dos 62 episódios do Projeto Studio62 , revelando que adora a música e sempre quis cantá-la:

"Eu sempre quis cantar essa música, porque eu a amo! Ensaiava com o Ivan Teixeira (pianista), mas nunca achávamos que estava pronta para ser apresentada. Dessa vez, aqui no Studio62, fiquei tão à vontade que resolvemos gravá-la. O resultado ficou lindo!", completa a cantora.

O projeto Studio62 reúne os maiores artistas da música nacional e internacional em gravações acústicas, no apartamento do diretor Rafael Kent, onde os artistas apresentam canções que marcaram sua vida (ou carreira), de uma maneira bem intimista e sem grandes produções.

O projeto já soma mais de 7 milhões e meio de views e aproximadamente 45 mil inscritos em seu canal do youtube, em menos de dois anos de atividade.

LUIZA POSSI - OVERJOYED - Studio62: https://www.youtube.com/watch?v=nsMj6HaHEpQ

.: Só Vente, de Diego Demanoqua

Por Diego Demanoqua 

Decidira ir até uma torre. Dirigiu-se digerindo as escadas. As palavras ficaram cerradas, nas bordas da boca. Torta era ideia assumida e roca, a provocação.  Nisso, tudo se resumia.

Você não pode, não tem, não irá.

Caminhou até o extremo do cômodo. A lua inexistia, pesava entre o céu a luz do dia. Nada podia arder, entretanto, como aquele frio. No pico do topo. Na extremidade do mais celebrado contorno.

O não foi caindo como sentença falecida, perdendo força e garantia pelo espaço. As estrelas também se mantinham escondidas no formalista ouro pendurado. A luz racionalizava a flor e o mato. Aquele Deus, sendo julgado, assim em luz tão fria, poder não poderia. As sombras eram poucas como doenças em cristais salgados.

Todavia, imóvel se tornou o haver daquele tempo transfigurado em percepção de clima.

Ficou olhando a imagem, rigidamente dissolvida, e nem todo o impacto metódico da luz corrompia... aquela escuta pronunciava um sossego sem medidas. O olho se multiplicou nos braços, cada brisa queimava num lacrimejar de retinas. As pálpebras calculavam os pecados, os cílios discutiam os significados vastos, nas sobrancelhas a significação surgia.

Uma formiga mordeu o lado da unha, na contramão daquela ida nua. E o que sobrou daquela vertigem nula? Uma pergunta:
Sim ou não?

O nadir floresceu mais rápido que a queda das amoras. O meio do céu colidiu no horizonte esburacado. Mas o buraco estava em subterfúgios passos, aproximando-se lento, plácido. A figura foi adquirindo a cor escura, o cômodo se fez receptáculo. A lua molhou o selo e o contrato. E o sentimento proclamou, entre estrelas, a estréia do arteiro perdão das multidões, dos vários. Pendões pendurando o inexplicável. Cuspindo na tradução de luz criminal. Germinou nos olhos e braços uma centenas de dias e tal alguém se iluminou no mais fundo escuro feito tinta que dizia.

Como era puro aquele sim profuso em nãos di vidas.

Não haveria preço nos valores das cavidades, nem calvos propósitos no extenso das idades. Muito menos no enlaço curto de cada ida.


Sobre Diego Demanoqua
Nascido em Guarujá, São Paulo, desde muito cedo revelou apreço pela leitura e escrita. Fascinado por escritores como Herman Hesse, Machado de Assis, Borges, Rubem Alves, Mia Couto e Saramago, ama, com o verbo na borda do inevitável, os livros teóricos, por motivos que nem a ele foram explicados.  Escreve incessantemente, lê intensivamente e acredita que as palavras não possuem nada de tão incrível quanto as indefinidas coisas que, nos interstícios, comunicam-se. 

.: Agatha Christie em edições de luxo pelos 125 anos


Antecipando as comemorações pelo aniversário de nascimento de Agatha Christie, que completaria 125 anos em 2015, a editora Nova Fronteira relança seis das melhores histórias da eterna Rainha do Crime em edição de luxo.

Nesta coleção, alguns dos casos mais famosos de Hercule Poirot e Miss Marple, os inesquecíveis detetives criados pela escritora, ganham versão de luxo, em capa dura, com preço especial. Serão vendidos, a partir de agosto, individualmente e em dois boxes, com três livros cada. “A Mansão Hollow”, “Assassinato no Expresso do Oriente”, “Morte na Mesopotâmia”, “Morte no Nilo”, “Os Elefantes não Esquecem” e “Um corpo na Biblioteca” foram as tramas escolhidas. Ainda este ano, a Nova Fronteira trará para o Brasil o novo livro da célebre escritora, que será lançado mundialmente no dia 8 setembro.

Mas não se trata de um livro póstumo escrito por Christie. A nova aventura do detetive Poirot está sendo escrita pela britânica Sophie Jordan, autora de oito thrillers psicológicos publicados em mais de 20 países e adaptados para a televisão. Essa é a primeira vez que os herdeiros de Agatha permitiram a publicação de uma nova história com os personagens da Rainha do Crime.

Voltando à coleção lançada pela Nova Fronteira, em projeto gráfico inovador, os livros trazem tramas engenhosamente traçadas para despistar os leitores a todo momento. Como em todas as suas histórias, os astutos investigadores apontam os culpados em meio a espetaculares reviravoltas, atestando a genialidade e o sucesso dessa autora, que se tornou um clássico da literatura de mistério. Na quarta capa, autores best-sellers contam como Agatha os influenciou, provando que ela é, e sempre será, a inspiração máxima para todos os autores do gênero.

Boxe 1
"Assassinato no Expresso do Oriente"
Nada menos que um telegrama aguarda Hercule Poirot na recepção do hotel em que se hospedaria, na Turquia, requisitando seu retorno imediato a Londres. O detetive belga, então, embarca às pressas no Expresso do Oriente, inesperadamente lotado para aquela época do ano. O trem expresso, porém, é detido a meio caminho da Iugoslávia por uma forte nevasca, e um passageiro com muitos inimigos é brutalmente assassinado durante a madrugada. Caberá a Poirot descobrir quem entre os passageiros teria sido capaz de tamanha atrocidade, antes que o criminoso volte a atacar ou escape de suas mãos.

"Morte no Nilo"
Bela, rica e inteligente, a jovem herdeira Linnet Ridgeway parece conseguir tudo o que quer. No entanto, quando rouba o noivo de sua melhor amiga e se casa com ele sem pensar duas vezes, talvez Linnet esteja indo longe demais... Em sua viagem de lua de mel num cruzeiro pelo rio Nilo, no Egito, o casal apaixonado se depara com uma série de antagonistas interessados em sua fortuna e em provocar sua infelicidade. Então Linnet é encontrada morta, com um tiro na cabeça. O detetive Hercule Poirot, que por acaso também estava no navio, entra em ação para tentar montar mais esse quebra-cabeça.

"Um Corpo na Biblioteca"
O corpo de uma jovem é encontrado no tapete da biblioteca dos Bantry, às sete da manhã. A vítima é uma completa desconhecida e o casal Bantry decide chamar as autoridades para investigar o caso — e também, é claro, Miss Marple, detetive amadora e amiga da sra. Bantry. Tudo se complica ainda mais quando chega até eles a notícia de outra adolescente morta, carbonizada dentro de um carro incendiado em uma pedreira. Qual será a possível conexão entre os dois incidentes?


Boxe 2
"A Mansão Hollow"
Um inofensivo convite para almoçar na Mansão Hollow logo se transforma em mais um caso a ser desvendado por Hercule Poirot. A cena do crime parece um tanto artificial: o corpo de um homem agonizando na beira da piscina, sua mulher logo ao lado segurando um revólver, e ainda três testemunhas. Seria na verdade uma encenação, uma brincadeira de mau gosto para provocar o detetive? Infelizmente, para a vítima, não. Indo contra todas as evidências, Poirot não demora a descobrir que a arma que aquela mulher tinha nas mãos não era a mesma que matou seu marido. O que aconteceu, então?

"Morte na Mesopotâmia"
A enfermeira Amy Leatheran é contratada para se juntar a uma expedição arqueológica no Iraque. Mas sua função ali tem bem pouco a ver com ruínas e artefatos: ela deve vigiar de perto a bela Louise Leidner, que está cada vez mais apavorada com a ideia de que talvez seu ex-marido não esteja tão morto quanto acreditava. Louise pode estar imaginando coisas. Mas o fato é que, uma semana após a chegada da enfermeira, a mulher é encontrada morta no próprio quarto, e agora cabe a Hercule Poirot identificar o assassino. Quem terá sido? Tudo indica que o culpado está entre os membros da equipe de cientistas...

"Os Elefantes Não Esquecem"Perguntada a respeito da intrigante morte dos pais de sua afilhada, ocorrida há catorze anos, a escritora Ariadne Oliver não vê outra alternativa senão pedir ajuda a seu velho amigo, o detetive Hercule Poirot. Afinal, o que exatamente aconteceu no penhasco onde o casal foi encontrado? Será que um atirou no outro e, em seguida, tirou a própria vida? Ou teria sido um pacto suicida? É chegado o momento de desenterrar velhas lembranças e tentar dar algum sentido a essa surpreendente história.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

.: Sobre morte, sexo, maldade, política, jardinagem, Chicó e João Grilo

Por Helder Miranda
Em julho de 2014


O que você precisa saber sobre mim é que sou um jovem senhor de 31 anos cujo nome tem significado de guardião da sabedoria, ou ancião. Logo, eu sou um jovem velho cuja contradição é carregar entre os significados do nome um nome de sábio e ter rompantes de imaturidade, como qualquer cara da minha idade que já não é tão jovem, mas não tem idade suficiente para ser chamado de velho, como pontua aquela contemporânea canção da Sandy.Mas é um blog sobre tudo e sobre nada. Sobre literatura, música, filmes ou o que eu quiser falar.É sobre o que eu vejo e o que quero que você veja, concordando ou discordando. É sobre eu e sobre você. De senhor para senhor e senhora contemporâneos.

E começar o blog falando de morte mostra outra pequena contradição. A morte não é o fim de tudo, principalmente para escritores, os imortais. Sexta, 18 de julho, morreu João Ubaldo Ribeiro, autor de um pequeno clássico para mim, “A Casa dos Budas Ditosos”, de 1999, que integrava a coleção “Sete Pecados” da editora Objetiva. Se fosse para indicar uma leitura, entre tantas, seria a deste livro e “Diário do Farol”, de 2002, que tem como foco a maldade. A maldade e o sexo compõe, para mim, as obras mais representativas deste homem, conhecido pela simplicidade, gentilezas sinceras e um sorriso aberto. Escritores deveriam ser proibidos de fumar ou beber, ou talvez isso prejudicasse o talento deles, então melhor deixar como está. Foi enterrado no sábado, dia 18 de julho, no mausoléu da ABL - Academia Brasileira de Letras, talvez a maior honraria para um escritor.



Sábado, dia 19 de julho, às 11h50, no Hospital Centro Médico de Campinas, foi a vez do escritor Rubem Alves, alguém que nasceu para transmitir sabedoria e conhecimento. Em seu texto “Sobre a Morte e o Morrer”, disse: "permanecemos humanos enquanto existe em nós a esperança da beleza e da alegria". Alguns diziam que era muito mais que escritor, era um sábio, um filósofo que compartilhou textos, experiências e caminhos para sermos felizes e entendermos um pouco mais da vida. Ele era uma das referências do país em temas relacionados à educação. Além de educador e escritor, cronista, pedagogo, poeta, filósofo, contador de histórias, ensaísta, teólogo, acadêmico, autor de livros infantis e psicanalista.

Sobre ele, seria leviano destacar alguma coisa, pois não conheço a obra, mas um amigo indicou o texto "Sobre Política e Jardinagem", que conheceu logo que entrou na faculdade, que o marcou demais. Para quem tiver um tempinho, e até quem não tiver, vale a pena acessar clicando aqui.

Agora, vem a notícia de que Ariano Suassuna acabou de falecer. Apesar da torcida, a padroeira permitiu que o autor de “O Auto da Compadecida” fosse levado por um AVC. Há de se compreender, embora seja difícil aceitar. Aliás, 2014 não está sendo um ano fácil para a literatura brasileira. Mas, como político Cristovam Buarque: “Um dia João Ubaldo no outro Rubem Alves e o mundo insiste em prosseguir”.




* Helder Miranda escreve desde os seis anos e publicou um livro de poemas, "Fuga", aos 17. Participou de várias antologias nacionais e internacionais, escreve contos, poemas e romances ainda não publicados. É editor do portal de cultura Resenhando.com, do blog Televizinha.blogspot.com e roteirista de seriados e novelas do site Photonovelas.com.br.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

.: Breve análise estilística da canção Sapato Velho"

Por: Mary Ellen Farias dos Santos* e Jéssyka Alves da Silva
Em junho de 2014


Uma relação da vida humana com um objeto de uso que está em condição final de uso. Confira o estudo sobre a letra da música interpretada pelo grupo Roupa Nova. 


Em sua estrutura textual “Sapato Velho”, a letra da música que é interpretada pelo grupo Roupa Nova, apresenta ritmo, o uso de figuras de linguagem, repetição de palavras, metáforas, hipérbole e comparação, que imprime uma declaração de amor, ou seja, possui uma estrutura poética. Nesta canção, o eu-lírico expressa grande desejo de permanecer ao lado de sua amada, o que remete às promessas/juramento dos noivos na cerimônia de casamento: “Prometo-te ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-te e respeitando-te todos os dias de minha vida”. No trecho “É! Talvez eu seja/ Simplesmente/Como um sapato velho/ Mas ainda sirvo/ Se você quiser”, embora o eu-lírico se menospreze, ele ainda evidência seu forte amor.

Considerando que a metáfora tem um caráter subjetivo e momentâneo, para intensificar o seu amor, o eu-lírico faz uso de metáforas. No terceiro verso da primeira estrofe ele diz que “tinha estrelas nos olhos”, ou seja, seus olhos brilhavam tanto quanto as estrelas do céu. Outro exemplo está no sexto verso da quarta estrofe em que o eu-lírico diz “basta você me calçar”, ora, não é possível calçar (no sentido literal da palavra) um ser humano, ele quer dizer que ele, embora ainda esteja velho, ainda pode servir para aquecê-la.

O autor cria uma relação da vida humana com um simples objeto, o sapato, que no caso, está em sua condição final de uso. Neste jogo, ele utiliza-se de comparações, que nos conduz a possibilidade de identificar que o eu-lírico já estava em idade avançada, senil. Tal afirmação está implícita na quinta estrofe em que diz: “Água da fonte/ Cansei de beber/ Prá não envelhecer/ Como quisesse/ Roubar da manhã/ Um lindo pôr-de-sol/ Hoje não colho mais/ As flores-de-maio/ Nem sou mais veloz/ Como os heróis...”. Neste trecho é possível identificar que o eu-lírico já havia sido jovem, porém, com a idade avançada está limitado, ou seja, já não é “mais veloz como os heróis”.

A música “Sapato Velho”, de 1979 (lançada no LP "A história se repete"), pode ser definida como um poema, pois apresenta ritmo, métrica, metáforas e exprime um desejo profundo do eu-lírico de continuar sendo útil, mesmo sendo senil.
Ao lembrar dos seus tempos dourados de jovialidade o eu-lírico faz uso da comparação para demonstrar o seu atual estágio de vida. Por esse motivo, é possível dizer que a música funciona como um grande pedido de companheirismo do eu-lírico para a sua amada. Ao colocar-se como um sapato velho que ainda consegue aquecer o frio, este, utiliza-se da antítese, pois uma palavra é contrária a outra.


*Editora do site cultural www.resenhando.com. É jornalista, professora e roteirista. Twitter: @maryellenfsm

sábado, 7 de junho de 2014

.: Resenha crítica de "O lobo atrás da porta"

Quem realmente é o lobo atrás da porta?
Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em junho de 2014


Primeiro longa de Fernando Coimbra retrata um desejo carnal que vai além de qualquer limite.


Romance mesclado com suspense e um toque de comédia. Assim pode ser resumida a trama de "O lobo atrás da porta", dirigido por Fernando Coimbra. Longa inspirado em um crime passional que chamou a atenção da imprensa brasileira nos anos 60, conhecido como “A Fera da Penha“, caso em que uma jovem apaixonada por seu amante, comete um ato que ultrapassa o humano e o racional.

Diante do sequestro de uma menininha, a principal acusada por Bernardo (Milhem Cortaz), é a senhorita Rosa Maria Correia (Leandra Leal), que aparece na delegacia pela primeira vez. Embora a situação seja de completa tensão, a moça de semblante sereno e postura angelical, afirma não saber do que se trata. Após convincentes argumentações do delegado desbocado (Juliano Cazarré), ela confessa ter se passado por uma amiga da família e retirado a garotinha da escola, sem levantar suspeitas. Até porque, o fato só chega na polícia quando Silvia, a mãe, constata que a professora entregou a filha para uma outra mulher.

Na maluca adrenalina de "caça ao rato" -ou ao lobo?- é que se entende todo o envolvimento perigoso de Rosa e seu amante Bernardo. Enquanto que a bela moça assume o posto de amante, a esposa (Fabiula Nascimento) é a personificação do drama matrimonial. Ali, na delegacia, diante de cada interrogatório, o enredo avança e cada peça vai completando o quebra-cabeça da narrativa. No entanto, há pistas falsas que embaralham o que, em algum momento, parecia claro.

Com um desfecho marcante, o longa não beira ao mau gosto, pois preserva o público de cenas chocantes, embora deixe tudo subentendido. O que é estampado no filme, claramente, é o questionamento de quem é o verdadeiro lobo atrás da porta. Pode ser a esposa mal amada, a amante que nunca assumirá a posição de esposa ou o homem que não respeita a família.

A verdade é que "O Lobo Atrás da Porta" envolve a cada minuto, devido a edição de som e imagem apresentarem enquadramentos perfeitamente alinhados. Nas cenas mais fechadas em cenários internos, é possível sentir-se como um lobo à espreita. Assim, a brilhante atuação do elenco salta aos olhos. Seja a incrível versatilidade de Leandra Leal, que como Rosa pode ser a mocinha ou a vilã; a brutalidade de Milhem Cortaz na pele de Bernardo ou a passividade e inocência de Fabiula Nascimento, como Silvia. Enfim, foi merecido o longa de Coimbra ser contemplado, ano passado, com o prêmio Horizontes Latinos na 61ª edição do Festival Internacional de Cinema de San Sebatián, na Espanha. Não deixe de saber quem é "O lobo atrás da porta"!




Filme: O Lobo Atrás da Porta ( O Lobo Atrás da Porta, Brasil)
Ano: 2013
Gênero: Drama / Policial / Suspense
Duração: 100 minutos
Direção: Fernando Coimbra
Roteiro: Fernando Coimbra
Elenco: Leandra Leal, Milhem Cortaz, Fabiula Nascimento, Tamara Taxman, Juliano Cazarré, Paulo Tiefenthaler, Thalita Carauta, Isabelle Ribas  




sábado, 10 de maio de 2014

.: Resenha crítica do documentário "Berlim - Sinfonia da Metrópole"

“Berlim - Sinfonia da Metrópole”, o documentário alemão mudo
Por: Helder Miranda

Em maio de 2014


Película começa com os operários, que levantam cedo para o trabalho nas fábricas e termina com a agitada vida noturna berlinense dos anos 20.


Berlim – Sinfonia da Metrópole“ é o lendário documentário mudo de 1927, dirigido por Walter Ruttmann, sobre o dia-a-dia da Berlim de sua época. A versão do final dos anos 20 foi realizada com o compositor Edmund Meisel, que acabou por criar uma trilha sonora em perfeita sintonia com o filme.

A película começa com os operários, que levantam cedo para o trabalho nas fábricas e termina com a agitada vida noturna berlinense dos anos 20. No decorrer de um dia, temos uma visão multifacetada da sociedade da época, desde a pobreza e a vida de operário, até a riqueza e o luxo. A edição foi realizada juntamente com o compositor Edmund Meisel, permitindo o mesmo criar uma trilha sonora em perfeita sintonia com o filme. Esse verdadeiro poema musico-visual nos possibilita uma impressionante e inesquecível viagem no tempo à essa importante época da história de Berlim.

Em 2010, Hans Brandner preparou uma nova orquestração da obra original, por meio de uma encomenda em comemoração ao jubileu de 200 anos da Universidade Humboldt de Berlim, numa formação para orquestra de câmara. Esta nova versão foi lançada em 2011 pela editora especializada em cinema-mudo Ries & Erler e já foi apresentada com grande sucesso em cinemas da capital alemã, recebendo críticas positivas de, entre outros, Ian Wekwerth, pianista da Max Raabe Palast Orchester (famosa orquestra berlinense especializada no repertório dos anos 20 e 30). Em Berlim, Hans Brandner e o maestro brasileiro Marcelo Falcão se conheceram e tiveram juntos a idéia, de apresentar essa mesma versão numa série de concertos no Brasil.

Sobre os artistas
Hans Brander estudou piano com a Prof. Natalia Gussewa, recebendo seu diploma pela Associated Board of the Royal Schools of Music de Londres e é musicólogo pela Universidade Humboldt, em Berlim. Em 2010 realizou um novo arranjo da trilha do filme “Berlim – Sinfonia da Metrópole” em comemoração aos 200 anos da Universidade Humboldt de Berlim. Em 2012 apresentou esta nova versão em concertos na China. Uma suíte para piano solo desta mesma trilha foi lançada no mesmo ano. Além de sua relação com cinema-mudo, Hans Brandner dedica-se também à pedagogia do piano, lançando em 2012 o livro “Motion Lines of Music”, sobre a história da técnica pianística em sintonia com movimentos do corpo.

Já Marcelo Falcão estudou regência em Berlim, onde vive desde 2008. Em 2010, estreou no Brasil com a Camerata Independente do Rio de Janeiro em concerto no mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro e a gravação do mesmo transmitida pela Rádio Mec FM. Em Berlim foi assistente de Kristiina Poska e Catherine Larsen-Maguire. Já regeu também orquestras na Alemanha, Rússia, Itália, Geórgia, Suíça e Brasil. Marcelo Falcão é também compositor, tendo suas obras estreadas no Brasil, Espanha e Alemanha e é musicólogo pela Universidade Humboldt de Berlim. Em 2014, está em turnê no Brasil com o Ensemble de Solistas, apresentando a trilha original com exibição do filme-mudo “Berlim – Sinfonia da Metrópole”.

Filme: Berlim - Sinfonia da Metrópole
Ano: 1927
Gênero: Mudo

quarta-feira, 7 de maio de 2014

.: Entrevista com Mateus Solano, ator da Rede Globo

“Isso é a parte mais triste, essa visibilidade tão grande. É eu não poder ser eu. Eu tenho que montar algum personagem para viver a minha própria vida”. - Mateus Solano


Por: Marcelo Nogueira
Em maio de 2014


Mateus Solano, com saudade de Félix, tem que montar algum personagem para viver a própria vida.



Em entrevista ao programa “Arte do Artista”, a TV Brasil, o ator Mateus Solano, depois de viver um dos maiores vilões da teledramaturgia brasileira, Mateus Solano, reencontrou o apresentador Aderbal Freire-Filho, que já foi seu diretor na peça “Hamlet”, e relembrou outros trabalhos, cantou, interpretou e fez grandes revelações para o apresentador.

Mateus começou o programa numa cena em busca do Príncipe Hamlet. Passeou pelo cenário e declamou trechos da peça, que é relembrada com imagens dos personagens de Mateus Solano e Wagner Moura. Com essa interseção de imagens, o ator Mateus Solano surgiu no camarim mágico e iniciou o bate-papo falando sobre as muitas vidas de um ator, e o que aprendeu com cada uma dessas vivências, seja no teatro, no cinema ou na televisão.

“Hoje em dia está tudo muito efêmero. As pessoas esquecem as coisas muito rapidamente. A televisão e o cinema trouxeram uma perpetuação do trabalho da gente. O grande barato é visitar aquilo sempre, com um olhar diferente e com o público diferente. Mas, por mais efêmera que seja a nossa profissão, o importante é ficar perpetuado no coração de quem assiste. Isso é o que eu acho mágico e funcional da arte.”, explica Solano.

Aderbal aciona a “Máquina de Pensar/te” e apresentou o livro “O Mito de Sísifo, Ensaio Sobre o Absurdo”, do escritor francês Albert Camus. O apresentador traz uma epígrafe que cai como uma luva quando se trata do fazer artístico: “Ó, minha alma, não aspira à imortalidade, mas esgota o campo do possível”.

Aderbal Freire-Filho - Como ficou a vida fazendo este personagem, Félix, que fez tanto sucesso na televisão brasileira?
Mateus Solano – Você começa a viver dentro do que o outro espera que você seja. Isso é muito complicado, principalmente pra mim que gosta de gente. Eu gosto de gente. Eu gosto de ir aos lugares, ver as pessoas. Mas eu não vejo, eu não assisto, eu sou assistido em qualquer lugar que eu vá. Isso é a parte mais triste, essa visibilidade tão grande. É eu não poder ser eu. Eu tenho que montar algum personagem para viver a minha própria vida.

AFF – E como é o processo e voltar para o Mateus? Quando você pega a taça de vinho o teu gesto ainda é do personagem? O teu corpo ainda está regulado pelo personagem ou você já se livrou dele?
MS - Acho que não. Acho que isso faz parte até da profissão, esse entra e sai esquizofrênico. Na televisão, eu tive a oportunidade de fazer gêmeos. E, para fazer gêmeos na televisão, eu tinha que sair de um, trocar de roupa e entrar em outro, imediatamente porque os dois estavam gravando juntos na mesma cena. Eu lembro que eles brigavam. Era um trabalho esquizofrênico. E, se eu levasse o personagem para a cama, digamos assim, eu estaria numa suruba.



O ator também contou, entre tantas revelações, pérolas pessoais. “No último Carnaval, fui levar a minha filha ao bloco infantil. E aí me vem um animador anão, me reconhece e, lá do carro de som grita para todos no microfone: o ator Mateus Solano está aqui com a gente!. Resultado: saí de fininho”. E quando o papo vai para a música, Solano revela: “Eu voltei a estudar violino. Estou fascinado em voltar a estudar porque eu fiz um pouco quando eu tinha seis ou sete anos, mas fui massacrado pela repetição. Quando eu vi que o meu negócio não era a repetição, e sim o improviso, eu fui para o teatro”.

Na conversa com Aderbal Freire-Filho, Mateus Solano lembrou as sessões de análise que fez e diz que cada personagem é como se fosse um filho. Aderbal, então, perguntou sobre o personagem Félix, e Solano disparou: “Estou com saudades dele. Espero que ele esteja bem”.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

.: Resenha de "A Mentira", Nelson Rodrigues

Nelson Rodrigues, entre segredos e mentiras

Por: Helder Miranda
Em maio de 2014 


Para manter satisfatórias as relações, a mentira cumpre o seu papel, justifica o autor, sobre folhetim lançado pela Agir.


Nelson Rodrigues disse, em entrevista para a edição número 9 do “Flan - O Jornal da Semana”, que circulou de 7 a 13 de junho de 1953, que somos amados não pelo que somos, mas pelo que aparentamos ser. Caso contrário, seríamos rejeitados por nossas mães, irmãos, noivas ou esposas. 

Para ele, era preciso usar um disfarce – e, a partir desse acessório, de acordo com ele, para manter satisfatórias as relações, a mentira cumpre o seu papel. “Sejamos mentirosos”, sugeria Rodrigues, no texto assinado pelo repórter Hélio Pellegrino.

A entrevista foi republicada como um texto bônus na edição mais recente do folhetim “A Mentira”, lançada pela editora “Agir”, que supre o desejo de colecionadores em encontrar esta obra, publicada pela primeira vez há poucos anos, pela Companhia das Letras, e esgotadíssima, tendo sorte aqueles leitores que a encontrassem em sebos. 

Neste romance publicado em 18 capítulos no semanário “Flan”, a partir de junho de 53, estão todos os elementos que fazem o leitor mais desavisado se encontrar com o universo rodrigueano.Há mais que isso, há Lúcia: a maquiavélica – ou não? - adolescente que enlouquece os homens à sua volta. 

Criada dois anos antes da personagem Lolita, que seria um sucesso estrondoso – e um escândalo – do russo Vladimir Nabokov, ela é a irmã caçula de uma família com quatro mulheres criadas por um pai repressor do subúrbio do Rio de Janeiro no início da década de 50. 

Entre segredos e mentiras que vão se revelando aos poucos, a tragédia começa a ser tecida quando descobre-se que Lúcia está grávida. E os únicos suspeitos são os cunhados, maridos das irmãs mais velhas, que vivem sob a tutela do chefe de família, debaixo do mesmo teto. 

A história já foi explorada em outros textos do mesmo autor, ele próprio sabia e transformava o ato de se repetir como algo que não o desabonasse, pois os temas abordados por ele, a cada repetição, vinham carregados de novas nuances.

Mas no livro descoberto há pouco tempo pelas novas gerações, encontramos um Nelson Rodrigues mais vibrante do que nunca, e é adorável, pois ele é um autor que traz todo um sabor do passado, aquele que volta mais, repleto de mocinhas inatingíveis e nem tão inocentes, como foram nossas avós. Os livros de Nelson Rodrigues falam a linguagem do povo, trazem gírias antigas, mas chega a ser impressionante como ainda são atuais os temas que ele propôs décadas atrás. 

A impressão é que se lê algo empoeirado, mas novo, porque nunca foi realmente mexido ou aprofundado. Talvez os poucos debates que foram colocados na boca da sociedade – há mais atualidade do que a mulher ser culpada por um estupro, segundo a opinião pública, se o tamanho da roupa não for suficientemente grande? 

Os debates que Nelson propôs a partir de seus personagens sempre foram significativos demais para gerar algum debate que trouxesse um elemento a mais para que os assuntos evoluíssem ou, pelo menos, deixassem de ser tabu. Mas a unanimidade, como ele mesmo já disse, burra, não o acompanhou. É uma pena, mas o livro é excelente. Leia.

Livro: A Mentira
Autor: Nelson Rodrigues

.: Resenha crítica do filme "Praia do Futuro", de Karim Aïnouz

Um amor trazido pelo mar
Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em maio de 2014


História de amor sem amarras, que foge do estereótipo do relacionamento gay, recentemente, pregado nas telenovelas.


A forte afeição de Donato (Wagner Moura) e Konrad (Clemens Schick) é o elo de todas as ramificações do enredo do filme brasileiro, "Praia do Futuro". O novo longa com direção de Karim Aïnouz, que também dirigiu grandes sucessos do cinema nacional como "Abril Despedaçado" e "Madame Satã", divide em fases a história de Donato, mantendo focado os altos e baixos do romance gay.

"Praia do Futuro" apresenta Donato, um militar do corpo de bombeiros que atua como salva-vidas e trabalha na bela praia que dá o nome do filme, localizada no Ceará, Brasil. Lá, ao prestar o primeiro socorro em que perde uma vida, conhece o alemão de olhos azuis, Konrad. Com o turista salvo, as buscas pelo amigo aumenta a proximidade entre o salvador e o resgatado. Resultado: Konrad conhece melhor o salva-vidas e os dois se apaixonam.

Após tentar convencer o turista a viver no Brasil, Donato acaba partindo para Berlim com o seu verdadeiro amor. Assim, abandona a mãe e o irmão ainda caçula, Ayrton (Jesuita Barbosa, na fase adulta). Atitude que é uma grande decepção para o irmão mais novo, que tanto admirava aquele que se atirava nas águas do mar para salvar desconhecidos e chegava a ser visto como um super-herói. Em contrapartida, o menino, que se tornou um rapaz, segue para a fria Berlim, em busca de Donato.

O ponto mais interessante do filme está na força da figura masculina e seus vários aspectos conflituosos. Ou centrado no amor entre Donato e Konrad, ou no amor de Ayrton e Donato. De fato, a imagem da mulher tem apenas pequenas participações. Por outro lado, a narrativa mantém o público afastado, apenas como observador, pois ao longo de seus 106 minutos não defende qualquer rumo das personagens. Ali, tudo acontece e ponto. Logo, é função de quem assiste compreender e desenvolver seu próprio ponto de vista a respeito de cada personagem. 

Apesar da criatividade e da provocação em fazer com que o outro reflita e forme opiniões diante das sementinhas plantadas a cada conflito, há cenas em que a pouca edição anula o ritmo do longa. Sempre que a trama começa a engatilhar, uma cena longa e lenta, promove uma quebra. E a atuação do Wagner Moura? É indiscutivelmente excelente! 


Como o próprio diretor define, "Praia do Futuro" é um filme de partidas e possibilidades, de liberdade e amor. Apoiado nisso, o lançamento do cinema nacional exibe cenas de sexo entre Donato e Konrad e até nu frontal. Afinal, assim como os personagens da trama, ter identidade é encarar os problemas e resolver seus medos mais obscuros.

Filme: Praia do Futuro ( Praia do Futuro, Brasil / Alemanha)
Ano: 2014
Gênero: Drama
Duração: 106 minutos
Direção: Karim Aïnouz
Roteiro: Felipe Bragança e Karim Aïnouz
Elenco:  Wagner Moura, Clemens Schick e Jesuíta Barbosa  


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