quinta-feira, 2 de julho de 2009

.: Em casa: filmes brasileiros são boa opção de lazer e cultura

Por: Patrick Selvatti
Em julho de 2009


Prata da casa: Enquanto nas salas de exibição novos títulos atraem o interesse do público - como Divã e Jean Charles, por exemplo – filmes que já saíram de cartaz estão disponíveis agora nas melhores locadoras.


O cinema brasileiro está cada vez mais em alta. Enquanto nas salas de exibição novos títulos atraem o interesse do público - como "Divã" e "Jean Charles", por exemplo – para você que prefere o aconchego doméstico às filas de cinema, filmes que já saíram de cartaz estão disponíveis agora nas melhores locadoras. E tem opções para todos os gostos: da comédia ao policial, sempre com muita dose de romance e música.

Para quem deseja dar boas risadas, a melhor pedida é o filme "Se Eu Fosse Você 2". Repetindo a dupla que deu certo na primeira vez, Tony Ramos e Glória Pires retornam a cena ainda mais hilários neste longa de Daniel Filho. Trata-se de um bom filme para reunir a família na sala, mas atente-se para a classificação indicativa de 10 anos. Já o filme "A Casa da Mãe Joana", de Hugo Carvana, é menos engraçado, mas é garantia de algumas risadas, principalmente pelo elenco estelar: José Wilker, Pedro Cardoso, Laura Cardoso, Antonio Pedro Borges, Agildo Ribeiro e Arlete Salles, por exemplo. Neste caso, a classificação indicativa é de 14 anos.

Se o seu estilo é mais romântico, a sugestão mais aplicável é o filme Romance, de Guel Arraes – o mesmo dos sucessos "O Auto da Compadecida" e "Lisbela e o Prisioneiro". Por outro lado, você pode também optar por algo menos açucarado em "Os Desafinados", de Walter Lima Jr. O filme traz muita bossa nova e um elenco “bem afinado”: Rodrigo Santoro, Cláudia Abreu, Selton Mello, Ângelo Paes Leme, Jair de Oliveira e Alessandra Negrini.

Agora, se sua estação é um filme de mais ação, com enfoque social e alguma violência, não deixe de assistir "Última Parada 174". Neste longa, o diretor Bruno Barreto aborda com muita sensibilidade o drama dos personagens envolvidos na tragédia do sequestro do ônibus 174 no Rio de Janeiro – tendo como ponto central não a tragédia, mas o desfecho da vida de pessoas que se cruzam em um ambiente marcado pela violência, pobreza e falta de perspectivas. Já Linha de Passe, de Walter Salles, conta a história de quatro irmãos que vivem na periferia de São Paulo em um clima de mais esperança, apesar das dificuldades sociais. Preste atenção na atriz Sandra Corveloni, que vive a mãe desta família: ela ganhou o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes em 2008.

Sendo assim, prepare a pipoca, porque as opções são variadas e de excelente qualidade.


quarta-feira, 1 de julho de 2009

.: Entrevista com Juliano Cazarré, ator da minissérie da Globo e de Tropa de Elite

“... Não estou pronto pra lidar com assédio nenhum, e se alguém me interromper um jantar num restaurante, vou achar ruim” - Juliano Cazarré


Por: Patrick Selvatti
Em julho de 2009


Resenhando em Fúria: Juliano Cazarré, ator da minissérie da Globo e de Tropa de Elite, desnuda sua alma só para você.



O ator Juliano Cazarré, de 28 anos, é gaúcho de nascimento, e brasiliense de formação. Chegou na capital federal ainda recém-nascido e graduou-se em Artes Cênicas pela UnB (Universidade de Brasília), em 2004. Vive em São Paulo há cerca de três anos, em busca de trabalhos. E o resultado já é bem-sucedido. Neste ano, debuta na TV Globo, em duas séries consecutivas: Força tarefa e Som e fúria. Mas sua experiência já é vasta. Na TV a cabo, atuou no seriado Alice, da HBO, em 2008.

No teatro, seu berço, já percorreu o País com a peça Adubo Ou A Sutil Arte de Escoar Pelo Ralo, dirigida por Hugo Rodas e aprovada com louvor por Fernanda Montenegro. Já no cinema, Cazarré estreou há pouco seu sexto longa-metragem, A Festa da Menina Morta, de Matheus Nachtergaele. Anteriormente, atuou em A concepção e Meu mundo em perigo, de José Eduardo Belmonte, Tropa de Elite, de José Padilha, Nome Próprio, de Murilo Salles – pelo qual foi indicado ao prêmio de melhor ator no festival de Gramado, em 2008 – e O Magnata, de Chorão e Jonnhy Araújo. E ainda estará nos longas Salve geral, de Sérgio Rezende, e Augustas, de Francisco César Filho. 

Nesta entrevista EXCLUSIVA para o Resenhando, Juliano fala sobre sua paixão pelo cinema, a relação de amor com os palcos e sua insegurança em relação à televisão.




RESENHANDO – Você faz parte de uma nova geração de atores que saíram de Brasília para alcançar o sucesso no País. Como é a sua relação com a Capital Federal, já tão reconhecida como celeiro de grandes nomes da cultura brasileira?
JULIANO CAZARRÉ – Fui criado em Brasília, amo a cidade e sinto falta da qualidade de vida e dos amigos que tinha por lá. Mas me parece que, nesse momento, é melhor ficar por aqui, Sampa, mesmo. Brasília é uma cidade excelente para criar, mas o mercado para atores é fraco.


RESENHANDO – No cinema, sua carreira é marcada pela atuação como personagens densos, vestidos de muito naturalismo, como vemos em A concepção e A festa da menina morta. Isso foi proposital?
JC – Eu gosto de filmes e diretores arriscados, e desde A Concepção um trabalho vem puxando outro nesse campo. Estou feliz e surpreso com isso. Já o naturalismo é uma coisa que eu gosto de buscar e acho que o cinema é o lugar pra isso. Mas gosto de outras linguagens e adoraria fazer um filme mais expressionista, mais estilizado. Infelizmente só o Zé do Caixão faz isso no cinema nacional...


RESENHANDO – Em recente entrevista, você declarou que, se não tivesse fazendo esse cinema mais visceral, você estaria fazendo teatro em Brasília. Qual é a sua relação com o teatro, que é onde você fez escola?
JC – Amo o teatro e gostaria de fazer um teatro de pesquisa corporal e vocal, e de escrever pra teatro também. Mas ainda não consegui entrar no teatro em São Paulo. Isso se deve também ao fato de eu gostar e valorizar tanto o teatro que não quero fazer qualquer coisa. Dá muito trabalho criar uma peça, então estou esperando para fazer a coisa certa. 


RESENHANDO – Como você está lidando com a chegada à televisão? O que você sente de diferente em comparação ao teatro e ao cinema e como você coloca cada um em seus planos?
JC – Espero conseguir fazer bons personagens nos três veículos. O que me move, na verdade, o que eu quero é o bom personagem. 



RESENHANDO – Dentro de pouco tempo, surgirão só papéis em novelas e você certamente chegará ao posto de galã que a televisão sempre rotula. Está preparado para lidar com esse assédio?
JC – Espero que não surjam só papéis em novelas, e acho que não vai ser assim. Agora, não estou pronto pra lidar com assédio nenhum, e se alguém me interromper um jantar num restaurante, vou achar ruim. Eu sou ator porque gosto de atuar, não tenho a menor vocação para celebridade. Mas penso que o meu estilo de atuação não é um estilo que cative o grande público da TV, sei lá.


RESENHANDO – Você é um artista completo, que também escreve e dirige. Filho de escritor e irmão de cineasta, pretende investir também na escrita e na direção? 
JC – Um conto meu (Ana Beatriz) foi adaptado para um curta-metragem, que, inclusive, foi premiado no último Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Eu também roteirizei e dirigi um média-metragem, Véi. Aí respondo: sim, eu gostaria de ir para esses lados, mas preciso me qualificar para tal. Sou novo e tenho muito que aprender. 


RESENHANDO – Quem são os atores que te inspiram e o que você procura trazer de cada um deles para seu ofício?
JC – Marlon Brando, Osmar Prado e Wagner Moura, pela verdade. Selton Melo, pelo carisma. Matheus Nachtergaele pela técnica apurada. Daniel de Oliveira, pela entrega. Johnny Depp, pela maneira lúdica com que constrói seus tipos. Daniel Day Lewis por reunir todas essas características. E Meryl Streep, porque é perfeita, infalível, sobre-humana, divina quase.



RESENHANDO – Qual é seu livro de cabeceira e as músicas que marcaram sua história?
JC – O Apanhador no Campo de Centeio, talvez. Mas tem tanto livro que eu amo!!! Música, talvez os álbuns Cantoria 1 e 2, com Elomar, Xangai, Vital Farias e Geraldo Azevedo.


RESENHANDO – Pode adiantar quais são os seus planos para o futuro?
JC – Estou em Sampa, fazendo testes como sempre. Lendo os gregos como sempre. Vamos ver o que as fiandeiras me reservam. A todos, um abração. Axé.

.: Resenha de "O Reacionário", Nelson Rodrigues

Nelson Rodrigues: O homem por trás do mito
Por: Helder Miranda


Obra lançada pela Agir aproxima leitor dos pensamentos de Nelson Rodrigues. Saiba mais de O Reacionário – Memórias e Confissões!


"O Reacionário – Memórias e Confissões", o célebre livro de crônicas de Nelson Rodrigues lançado em 1977, tem o maior mérito de toda a extensa obra do controverso escritor e dramaturgo: aproximar do leitor parte dos pensamentos do homem que está por trás de toda a polêmica de seus textos e ideias neles contidos. Agora, relançado pela Agir, promete superar o feito de quando chegou às livrarias.

À época, ainda vivo, Nelson Rodrigues era visto com certa desconfiança, sob o rótulo de “reacionário”. Agora, anos depois de sua morte, é material de estudo, respeitado e há quem o considere um gênio. Tudo isso muda a maneira de ler as 130 crônicas desta coletânea. Juntas, como um quebra-cabeça, elas dão um panorama sobre quem é Nelson Rodrigues, pergunta difícil de ser respondida em um primeiro momento.

Tornar os pensamentos de Nelson Rodrigues acessíveis é difícil, mas o livro cumpre essa tarefa com maestria. Personagens absolutamente reais, como Otto Lara Resende, o inimigo político Alceu Amoroso Lima, o psicanalista Helio Pelegrino e o jornalista Cláudio Mello de Souza, entre tantos outros perfis conhecidos da vida real surgem, misturados com outros, como a ricaça com nariz de cadáver, a estagiária de sandália e calcanhar sujo, a atriz inteligente, todos reunidos para contar grandes histórias da vida real.

São crônicas, escritas de março de 1967 a dezembro de 1973 para as colunas Memórias (do jornal Correio da Manhã) e Confissões (O Globo), que não perdem em nada para a ficção rodriguiana. Confirmam-se nelas algo que já se desconfiava na ficção: o escritor julgava, e qualificava muito, as pessoas. Há, também, a ideia de que Nelson Rodrigues, discreto e um tanto tímido, passava como testemunha ocular dos fatos, muitas vezes despercebido – encontrando seu lugar, e a merecida notoriedade, nas letras.

Características pouco divulgadas de Nelson Rodrigues, como quanto o assassinato de seu irmão, Roberto Rodrigues, na redação de A Crítica, o deixou traumatizado, ou a delicadeza, ao confessar que sempre teve medo de ser cego, e o mal veio em sua filha, que nasceu sem visão, podem ser vistas. Mais do que a chance de reencontrar, ou redescobrir Nelson Rodrigues em um momento muito mais propício a conhecer alguém que foi vítima do seu tempo e de duas ideias, o livro passa longe de ser um apanhado de frases de efeito.

A reedição, muito bem cuidada – seja pela encadernação luxuosa, pela diagramação de qualidade ou pelas notas de rodapé com informações relevantes – ainda vem complementada por um quadro cronológico, com fatos-chave da época em que as crônicas foram escritas, ajudando, assim, o leitor construir um panorama geral do contexto em que os textos foram elaborados. Reacionário? Não, a temática confessional do livro aponta para apenas uma resposta: um libertário, que não existiria sem as suas repetições, é verdade.



Livro: O Reacionário – Memórias e Confissões
Autor: Nelson Rodrigues
728 páginas
Ano: 2008
Editora: Agir

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