quarta-feira, 1 de julho de 2009

.: Resenha de "O Reacionário", Nelson Rodrigues

Nelson Rodrigues: O homem por trás do mito
Por: Helder Miranda


Obra lançada pela Agir aproxima leitor dos pensamentos de Nelson Rodrigues. Saiba mais de O Reacionário – Memórias e Confissões!


"O Reacionário – Memórias e Confissões", o célebre livro de crônicas de Nelson Rodrigues lançado em 1977, tem o maior mérito de toda a extensa obra do controverso escritor e dramaturgo: aproximar do leitor parte dos pensamentos do homem que está por trás de toda a polêmica de seus textos e ideias neles contidos. Agora, relançado pela Agir, promete superar o feito de quando chegou às livrarias.

À época, ainda vivo, Nelson Rodrigues era visto com certa desconfiança, sob o rótulo de “reacionário”. Agora, anos depois de sua morte, é material de estudo, respeitado e há quem o considere um gênio. Tudo isso muda a maneira de ler as 130 crônicas desta coletânea. Juntas, como um quebra-cabeça, elas dão um panorama sobre quem é Nelson Rodrigues, pergunta difícil de ser respondida em um primeiro momento.

Tornar os pensamentos de Nelson Rodrigues acessíveis é difícil, mas o livro cumpre essa tarefa com maestria. Personagens absolutamente reais, como Otto Lara Resende, o inimigo político Alceu Amoroso Lima, o psicanalista Helio Pelegrino e o jornalista Cláudio Mello de Souza, entre tantos outros perfis conhecidos da vida real surgem, misturados com outros, como a ricaça com nariz de cadáver, a estagiária de sandália e calcanhar sujo, a atriz inteligente, todos reunidos para contar grandes histórias da vida real.

São crônicas, escritas de março de 1967 a dezembro de 1973 para as colunas Memórias (do jornal Correio da Manhã) e Confissões (O Globo), que não perdem em nada para a ficção rodriguiana. Confirmam-se nelas algo que já se desconfiava na ficção: o escritor julgava, e qualificava muito, as pessoas. Há, também, a ideia de que Nelson Rodrigues, discreto e um tanto tímido, passava como testemunha ocular dos fatos, muitas vezes despercebido – encontrando seu lugar, e a merecida notoriedade, nas letras.

Características pouco divulgadas de Nelson Rodrigues, como quanto o assassinato de seu irmão, Roberto Rodrigues, na redação de A Crítica, o deixou traumatizado, ou a delicadeza, ao confessar que sempre teve medo de ser cego, e o mal veio em sua filha, que nasceu sem visão, podem ser vistas. Mais do que a chance de reencontrar, ou redescobrir Nelson Rodrigues em um momento muito mais propício a conhecer alguém que foi vítima do seu tempo e de duas ideias, o livro passa longe de ser um apanhado de frases de efeito.

A reedição, muito bem cuidada – seja pela encadernação luxuosa, pela diagramação de qualidade ou pelas notas de rodapé com informações relevantes – ainda vem complementada por um quadro cronológico, com fatos-chave da época em que as crônicas foram escritas, ajudando, assim, o leitor construir um panorama geral do contexto em que os textos foram elaborados. Reacionário? Não, a temática confessional do livro aponta para apenas uma resposta: um libertário, que não existiria sem as suas repetições, é verdade.



Livro: O Reacionário – Memórias e Confissões
Autor: Nelson Rodrigues
728 páginas
Ano: 2008
Editora: Agir

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