quinta-feira, 7 de outubro de 2021

.: Capítulo 9: "As Winsherburgs" em "Acenando Através de uma Janela"

Por: Mary Ellen Farias dos Santos

 

Mary sentia muita fome, queria até correr para almoçar com a mãe, mas estava intrigada no nível mais alto da curiosidade que um ser humano pode suportar. Enquanto que a mãe não perdia a paciência e soltava um berro ecoante bem no corredor da casa, a jovem Winsherburg tentou ligar os pontos soltos para entender como que a blogueira descobriu o nome verdadeiro dela uma vez que tinha se identificado como Celeste. Sem contar que tinha entrado em contato por mensagem no blog.

- Como ela descobriu o meu WhatsApp?, perguntou Mary em pensamento.

Não tinha mais como se demorar ou iria ver uma Ellen muito brava na porta do quarto também.

Devorando a refeição como se não houvesse amanhã, Mary fingiu estar bem em relação ao tapa que levou de Ellen, por dentro era consumida pela dupla loucura que acontecera com ela minutos antes. O que era um tapa dado por reflexo perto de uma blogueira saber o nome e o número de telefone dela?

Sorrindo para disfarçar o vulcão em erupção interna, fez a refeição com Ellen como se nada tivesse acontecido. As duas conversaram sobre amenidades e uma pauta que ganhou força foi o seriado “The Big Leap”.

- Não, mãe! Você não pode desligar a TV depois de assistir “9-1-1”. Desde o dia 20 de setembro está rolando a nova série “The Big Leap” que é muito parecida com “Glee” só que não é de canto, mas dança. Tem os desajustados, mas eles requebram para participar do reality show que é o nome da série.

Ellen faz cara de pensativa até que comenta desabafando:

- Fizeram tantas série parecidas... Não sei se estou preparada para me apegar a outras histórias com o segmento similar.

Antes que soltasse mais uma nova desculpa Mary complementa.

- Mãe, sei que a senhora é Ryan Murphete desde o ventre materno e mesmo quase sempre reclamando dos finais decepcionantes das temporadas, mantém total fidelidade a ele. Só acho que vai gostar. E muito. Basta só dar uma chance. Podemos assistir juntas?!

Ellen tombou a cabeça para o lado como quem tinha se dado por vencida na batalha até que disse:

- Ok. Combinado. Podemos ver na sala e faço pipoca!

*  *  *

Samantha e Lolita trabalhavam concentradas na revisão do próximo roteiro para o canal “Mentes em Fuga” quando ouviram alguém reclamando do tapetinho.

Sim! As duas sabiam bem que era Apolo.

Samantha não pensou duas vezes, correu para abrir a porta, mas com o cuidado de antes confirmar se era mesmo o primo, focou no olho mágico e, para surpresa da gêmea, que já estava assustada com as histórias de Lolita, não viu ninguém para entrar. Aterrorizada, não sabia se contava para a irmã que o primo não estava lá ou se tornava a olhar. Sam morria de medo de corredores de prédios, pois nunca tirou a má impressão após assistir “Espíritos – A Morte Está ao Seu Lado”.

*  *  *

Mary não queria envolver Tarissa nessa história da blogueira. Logo ela que era a mais best das best friends. Quanto mais o tempo ia virando passado e o Sol do dia já não brilhava em reflexo no chão de seu quarto, ela não encontrava outra opção. Precisava falar com Tarissa.

Por um segundo, Mary imaginou Melinda como uma agente secreta, não sendo um membro das “Três Espiãs Demais”, mas como uma autêntica James Bond Woman. Seria ela um personagem misterioso de “007: Sem Tempo para Morrer”?

Ao bater a cabeça de lado, na quina da cômoda para pegar o brinco de deixara cair, Mary parou de divagar. Nem tempo de resmungar um “ai” de dor foi capaz. Tinha ido longe demais. Pegou o celular e quando ia selecionar a foto da amiga para contar tudo e ter uma ideia de como lidar com essa nova situação, recebeu uma ligação pelo zap: era Melinda.

Atendeu com a voz trêmula:

- Melinda?!

Do outro lado da linha ela respondeu:

Oi! Sim! Você mandou uma mensagem para mim e eu...

Mary teve a única reação improvável: desligou o aparelho e o jogou na cama.

*  *  *

De costas para a entrada, Samantha procurava uma forma melhor de dizer o que havia acontecido quando foram dadas as típicas batidas na porta por Apollo. Não era algo no estilo Sheldon Cooper, mas a exata marca do primo das Winsherburgs dizer que estava ali e tinha esquecido as chaves.

 Lolita levanta a cabeça para tentar entender como que Samantha ainda não havia deixado ele entrar, mas tudo foi respondido pelo próprio Apollo:

- Bom dia, minhas lindas!, entoou o cumprimento numa grande alegria enquanto beijou a testa de Sam.

- Caraca! Já estava aqui quase batendo à porta, quando ouvi o porteiro me chamando na escadaria. Tem correspondência e não parece ser conta para pagar.

Apollo dá uma risada e coloca o papel em cima da mesa, ao lado do computador. Atento, ele percebe que Lola está revisando um roteiro e rapidamente puxa a cadeira para pertinho dela.

Apollo disfarçava muito bem, mas era apaixonado por Lola. Sempre foi. Parecia coisa de menino, mas aquele sentimento nunca foi passageiro. Ellen e Eva, as mães dos primos sempre diziam para ele, por ser mais velho e entendia, que não podia. E assim, ele foi reprimindo o verdadeiro amor que sentia por Lola e tentava transformar em carinho de irmão mais velho. Contudo, doía em Apollo ver Lola com namorados que sequer a valorizavam. Como era o caso de Leo, com quem Lola estava ainda na parte do flerte e mensagens carinhosas.

Sam volta com uma bandeja de chá preparado com folhas de pitanga colhidas da árvore no quintal de casa e quando, Lola menos espera, a irmã começa a falar sobre a mulher atropelada que sumiu do hospital.

Lolita fica brava a ponto de arquear severamente as sobrancelhas, pois por algum tempo havia esquecido esse ocorrido.

- Não me venha lembrar dessa bizarrice, não!, resmungou Lola.

Contudo, os celulares dos três primos tocam simultaneamente com o seguinte lembrete: “NOVO RECADO! Alguém deixou uma mensagem para você. Para resgatar, ligue *1001 ou responda OK e receba seus recados por SMS! Apenas R$ 1,29/semana.”

Susto? Nada. A surpresa maior ainda estava por vir via interfone quando o porteiro chamou e o primo atendeu.

- Olá, Apollo! Aqui é o Kaliel, da portaria. Tem uma senhora querendo subir. O nome dela é Petra.

*  *  *

No quarto de Mary um clarão toma conta do lugar e a silhueta de uma mulher ganha forma junto de um forte estrondo. Ela cai e tenta fazer um mínimo aceno, grita por socorro, mas ninguém a ouve. Nem mesmo Ellen que está na sala, ali, próximo.

 

I'm waving through a window

I try to speak, but nobody can hear

So I wait around for an answer to appear

While I'm watch, watch, watching people pass

I'm waving through a window, oh

Can anybody see, is anybody waving back at me?

Waving through a window, trilha sonora do musical da Broadway “Dear Evan Hansen”



.: Perdeu algum capítulo? Confira todos aqui!


*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura, licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos e formada em Pedagogia pela Universidade Cruzeiro do Sul. Twitter: @maryellenfsm 


Assista em vídeo como história ilustrada




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