segunda-feira, 1 de junho de 2009

.: Entrevista com Renata Dias Gomes, roteirista

“...a cobrança existe com qualquer autor novo, comigo não vai ser diferente”. -  Renata Dias Gomes

Por: Helder Miranda

Em junho de 2009


O Resenhando comemora o aniversário com mate diet, e quem ganha é você. Confira o entrevistão do mês!



Neta de dois grandes nomes da dramaturgia brasileira, Dias Gomes e Janete Clair, o sobrenome de Renata Dias Gomes, a entrevistada dos seis anos do Resenhando, fala muito alto, mas não bastou para abrir as portas para ela, nem para mantê-la na trilha de uma promissora carreira na televisão. “Comecei como todo mundo, não pulei etapas por ter um sobrenome famoso”, afirmou, em recente entrevista.

Como prova irrefutável de que a genética não falha, com só 25 anos foi uma das colaboradoras de Chamas da Vida, novela da TV Record, de Cristianne Fridman, e Alta Estação, de Margareth Boury, da mesma emissora. Muito bonita, simpática e espontânea, a carioca – fã de chá mate diet – foi mãe aos 20 e entrou para o quadro de roteiristas da emissora aos 22 anos. Numa conversa franca, e EXCLUSIVA, fala sobre tudo e revela uma característica tão marcante quanto seu talento: a autenticidade.



RESENHANDO – As novelas ainda sofrem preconceito?
RENATA DIAS GOMES – Com toda certeza. A novela ainda não é uma unanimidade como expressão artística. O preconceito vem mais da classe intelectual, com certeza, porque a novela não é vista por eles como expressão artística. É classificada como um produto menor. 


RESENHANDO – Com o histórico familiar tão importante na dramaturgia brasileira, como você se define?
RDG – Sou uma escritora iniciante e em formação. Com muita vontade de aprender e contar as minhas histórias.


RESENHANDO – A cobrança, para você, é maior do que para os colabores de telenovela que estão iniciando?
RDG – Acho que não. O cargo de colaborador é de muita responsabilidade, mas a pressão da empresa ou do público não existe porque não damos a cara para bater. E as duas autoras com quem trabalhei me cobravam como ao resto da equipe. Eu é que me cobro demais. 


RESENHANDO – Por que essa autocobrança?
RDG – Eu me cobro muito em tudo. Faz parte da minha personalidade. Sempre fui assim. Na escola, no vôlei, na maternidade, no casamento.


RESENHANDO – Ser neta de Dias Gomes e Janete Clair atrapalhou ou ajudou, de alguma maneira, sua carreira como roteirista?
RDG – Só ajudou! Porque eu tive dois grandes exemplos dentro de casa de que era possível chegar lá. E por causa do sucesso deles minha família também sempre viu minha opção como uma coisa natural. Além disso, eu encontrei muito carinho no meu caminho porque muita gente do meio me viu bebê. Ser neta deles não me ajudou diretamente porque eu comecei mandando currículo para literalmente todas as produtoras do Rio de Janeiro. E depois fui parar na TV aberta por intermédio do Tiago Santiago que não foi amigo dos meus avós. Mas com certeza indiretamente ajudou e continua ajudando. 


RESENHANDO – Como era Dias Gomes na intimidade?
RDG – Um super avô! O patriarca da família. Um homem que gostava muito de reunir a família, que fazia questão de comemorar o natal mesmo sendo ateu pra poder reunir todos os muitos filhos e os netos. 


RESENHANDO – Ele tinha o temperamento fácil ou difícil?
RDG – Eu sou neta, né? Com neto é tudo fácil (risos).


RESENHANDO – Com duas novelas no currículo, como colaboradora, o que falta para escrever uma novela própria?
RDG – Falta uma oportunidade (risos). Talvez o ideal para minha formação seja ainda colaborar mais para adquirir mais experiência. Duas novelas não formam um autor titular de novelas. Mas eu ando na fissura de contar as minhas histórias. E se rolar uma oportunidade com a ajuda de um supervisor de texto experiente, ficarei feliz.


RESENHANDO – Antes de uma novela própria, se fosse para fazer um remake, qual obra você escolheria??
RDG – Eu gostaria sinceramente de começar com uma novela minha. Mas se pudesse escolher uma trama histórica para fazer um remake, escolheria Que Rei Sou Eu?.


RESENHANDO – Em uma telenovela própria, qual será o estilo de Renata Dias Gomes?
RDG – Ainda não sei. Só vou saber quando fizer minha novela. Gosto de temas engajados, de política, de social. Mas me preocupo principalmente em ter uma boa história para contar e contá-la da melhor forma possível. Não gosto de levantar bandeiras, mas de contar boas histórias e levar o público a pensar sobre elas. Acredito também que o humor será uma característica forte no meu trabalho porque está presente em boa parte do que eu escrevo.


RESENHANDO – Qual a linha tênue que pode transformar o merchandising social utilizado nas novelas em chatice, demagogia?
RDG – Quando o merchandising social foge do contexto e não está inserido na história, vira panfletarismo e aí acho que fica chato.


RESENHANDO – Quando escrever uma, você acredita que o sobrenome vai se refletir em cobrança dos telespectadores e, sobretudo, da emissora?
RDG – Talvez. Não dá pra prever. Eu acho que o sobrenome gera uma expectativa. Mas até aqui essa expectativa veio convertida em carinho e não em cobrança. Mas a cobrança existe com qualquer autor novo, comigo não vai ser diferente. O que eu pretendo é ter uma boa história para contar e fazer isso da melhor forma possível.


RESENHANDO – Como você descobriu a vocação, para escrever?
RDG – Não sei! Não lembro exatamente quando eu descobri. Mas foi muito pequena. Tenho lembranças bem antigas das minhas primeiras histórias. Aprendi a ler e escrever sozinha com 3 pra 4 anos. Não sei se já contava histórias antes, mas depois que aprendi a colocá-las no papel não parei mais. Com cinco anos uma redação que escrevi foi publicada no jornalzinho do colégio. Ali eu já sabia que seria escritora. Lembro de também por volta dessa idade escrever num caderninho as "Aventuras de Dênis e Denise". Escrevia um pouco a cada dia sempre deixando um gancho para continuar no dia seguinte. 


RESENHANDO – Ao mesmo tempo em que escreve, você também orienta outros profissionais em cursos sobre teledramaturgia. O que fazer para conseguir um lugar ao sol, na área de roteiros?
RDG – Não sei dizer um caminho específico. Porque não conheço pessoas que seguiram o mesmo caminho. O que eu posso dizer é que telenovela é um gênero muito restrito. Então o sonho de um roteirista ou de um escritor não deve se limitar a isso. Existe um mercado que não é fácil , mas é bem maior se pensarmos em televisão fechada, cinema, produtoras de conteúdo, teatro. Eu sempre falo para quem quer se tornar roteirista que então escreva roteiros. A maioria das pessoas pensa em desenvolver sinopses, mas não sabe como escrever uma cena, um capítulo. E precisa disso pra se tornar roteirista. As novelas são um produto comercial. Então é natural que a empresa que está bancando a produção cobre resultados satisfatórios. 


RESENHANDO – Joaquim Ferreira dos Santos, autor do livro "Leila Diniz - Uma Revolução na Praia" afirma que Leila Diniz foi afastada da TV Globo, porque Janete Clair alegou que não havia papel de prostituta em suas novelas seguintes. Você acredita que isso determinou a queda de Leila Diniz?
RDG – Não faço ideia. Nem conhecia essa história, não tenho como comentar. Não li o livro, não conheci a minha avó e nem a Leila Diniz (risos). 


RESENHANDO – Qual contribuição de livros, músicas e vivências para a construção de cenas e diálogos de qualidade para televisão e cinema?
RDG – É muito importante que o autor tenha um grande conhecimento de arte e cultura em geral. Ler é fundamental pra quem quer escrever. Ler jornal e ter experiências de vida também ajuda bastante. O autor precisa de uma boa base de referências pra poder escrever bem. 


RESENHANDO – Falando nisso, qual é seu livro e autor preferidos?
RDG – Não tenho um livro preferido. Sou de fases. Tive uma época fanática pelo Rubem Fonseca, outra pela Clarice Lispector. Se você me fizesse essa pergunta há um tempo atrás eu certamente escolheria uma obra de um desses autores. Mas hoje estou (novamente) numa fase Gabriel García Márquez. Então escolho Cem Anos de Solidão.


RESENHANDO – O que o público pode esperar de "Vende-se Um Véu de Noiva", folhetim radiofônico de sua avó, agora no SBT?
RDG – Não sei responder, porque vai ser adaptado, mas a história original é sensacional! Um folhetim típico de Janete Clair.
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