Mostrando postagens com marcador Resenhas de livros. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Resenhas de livros. Mostrar todas as postagens

sábado, 12 de julho de 2025

.: Crítica: "O Talentoso Ripley": um serial charmoso no divã da moral burguesa


Por 
Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com

Existem livros que se oferecem como enigmas, outros como espelhos. "O Talentoso Ripley", de Patricia Highsmith, tem essas duas características. Lançado originalmente em 1955 - e ainda assim repulsivamente atual -, o romance convida o leitor a um pacto silencioso de admiração e desconforto pelo protagonista: Thomas Ripley, um camaleão social, um falsário de si mesmo, um assassino com elegância de bailarino russo e crise existencial de quem leu demais, mas só para imitar.

Ripley não é exatamente um personagem, mas um sintoma. Patricia Highsmith, com prosa afiada, constrói um romance em que a identidade é uma performance calculada, e o desejo - de ser, de ter, de pertencer - é a verdadeira motivação do crime. Ao contrário do que se espera de um “romance policial”, não se busca justiça, mas um alívio que Highsmith não entrega. Ela quer o leitor como cúmplice.

Logo no início, o leitor é lançado em uma Nova York turva, paranoica, onde Tom já se vê perseguido. Mas não é paranoia gratuita - alguém de fato o segue. E assim começa o jogo de gato e rato em que o leitor jamais sabe ao certo quem é quem. Se Hitchcock tivesse adaptado Ripley (em vez de "Pacto Sinistro", também da autora), teria feito um thriller sobre espelhos, porque Ripley - ao contrário de tantos vilões - não quer destruir o outro. Ele quer ser o outro.

Dickie Greenleaf, a peça central desse desejo projetado, não é apenas uma vítima: é o bilhete dourado para uma vida idealizada que vem com prazo de validade. Highsmith é cruel, mas justa - faz com que Ripley seduza o leitor ao mesmo tempo em que mancha as mãos com sangue. E o mais inquietante? O leitor torce por ele.

A cada capítulo, Highsmith afasta do “quem matou?” e vai direto na pergunta que interessa: “por que nos sentimos tão fascinados por quem matou?”. Ripley, como Gatsby, é um construtor de ilusões; mas onde Fitzgerald deixou a ternura, Highsmith plantou o vazio - e esse abismo é a grandeza do livro. A edição da Intrínseca respeita o clima do texto, com projeto gráfico elegante e tradução competente de José Francisco Botelho. Mas a força continua sendo o texto original, que encara com o mesmo olhar inquisidor que Tom lança aos seus alvos. E, quem sabe, aos leitores.

"O Talentoso Ripley" é um convite para examinar as zonas cinzentas que existem em cada um. Não se trata de amar um anti-herói, mas de reconhecer que a linha entre o que as pessoas são e o que fingem ser é, muitas vezes, tênue como o rastro de um barco milionário no mar de San Remo. Patricia Highsmith, com este romance, escreveu um dos tratados mais perversos e sedutores sobre a identidade como um teatro, o crime como arte, e a moral como um luxo que só os ricos podem bancar - até serem assassinados. Compre o livro "O Talentoso Ripley" neste link.

terça-feira, 8 de julho de 2025

.: "Cidade Partida - 30 Anos Depois" é o relato de um Brasil que ainda sangra


Por Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com.

Quando Zuenir Ventura lançou "Cidade Partida" em 1994, o Brasil ainda não havia cicatrizado as feridas da chacina da Candelária e do massacre em Vigário Geral. O que o jornalista fez não foi apenas reportar: foi desvelar, palavra que, aliás, aparece com frequência nos depoimentos que compõem esta nova edição-homenagem, organizada por Elisa Ventura, Isabella Rosado Nunes e Mauro Ventura. Trinta anos depois, a expressão que Zuenir criou virou clichê e, pior, realidade permanente.

"Cidade Partida - 30 Anos Depois", publicado pela Pallas Editora, não é uma simples reedição com nova capa ou posfácio requentado. É um mergulho coletivo na ferida aberta por um dos livros-reportagem mais contundentes da história recente. É também um tributo ao ofício do jornalismo que ainda ousa ouvir vozes silenciadas, ao poder da escuta como gesto político e, sobretudo, a um homem de 93 anos que ainda sonha com uma cidade unida.

Com uma entrevista inédita de Zuenir realizada em 2024, e reflexões assinadas por nomes como Luiz Eduardo Soares, Tainá de Paula, Silvia Ramos e Eliana Sousa Silva, o livro atualiza a pergunta que jamais deveria ter sido esquecida: quantas cidades cabem dentro do Rio de Janeiro? Zuenir relata, com a simplicidade que só os grandes dominam, a incursão de dez meses em Vigário Geral após a chacina de 1993. 

Como um homem branco da Zona Sul que ousou atravessar os túneis - físicos e simbólicos - que separam o “asfalto” da favela, ele oferece ao leitor, ainda hoje, uma lição de desconforto. Não o desconforto do medo, mas o do espanto ético: como pode um país suportar tanta desigualdade e ainda fingir normalidade? A crítica que se fazia em 1994 é dolorosamente atual. 

Se antes se falava de uma “cidade partida”, hoje Zuenir admite: existe uma cidade “tripartida”, tomada por narcomilícias, milícias, Estado paralelo e um poder público ausente - ou, pior, conivente. Os textos que acompanham esta edição especial ampliam a obra original. São vozes que vivem e pensam o Rio de Janeiro das múltiplas violências e resistência e questionam o rótulo de “cidade partida” como um reducionismo perigoso. 

Eliana Sousa Silva, por exemplo, afirma que não se trata de uma cidade cortada ao meio, mas de uma cidade estruturalmente desigual, onde o racismo, a exclusão e a hierarquização da vida moldam o espaço urbano. O livro acerta ao propor um contraponto geracional, ao mesclar especialistas, ativistas, artistas, educadores e moradores de favelas. A entrevista com DJ Marlboro - ao lado de Juju Rude e Anderson Sá - mostra que o funk, há décadas demonizado, foi e ainda é uma das linguagens que mais conecta as margens ao centro, embora siga sendo desmerecido por isso.

"Cidade Partida - 30 Anos Depois" é um livro necessário e que exige um posicionamento ético. Quem ainda se emociona com a beleza do Rio de Janeiro precisa, antes, encarar a feiura social. Quem sonha com um Brasil mais justo, deve ouvir os ecos entre os muros que separam os ricos dos pobres. O livro-reportagem virou um conceito, uma lente através da qual o Brasil passou a enxergar o Rio de Janeiro - e, por extensão, as próprias contradições.

O que se encontra neste volume é um testemunho coletivo sobre o espanto que persiste. O susto de perceber que a realidade pouco mudou desde as chacinas da Candelária e de Vigário Geral, eventos que motivaram Zuenir a mergulhar por dez meses na favela de Vigário, acompanhado pelo sociólogo Caio Ferraz, na tentativa de entender o que há por trás da violência, da exclusão e da indiferença.

Mais do que denunciar, o livro propôs escuta. A nova edição reflete sobre os avanços, os retrocessos e as permanências da desigualdade urbana. A obra reúne também entrevistas com personagens emblemáticos como Rubem César Fernandes, Manoel Ribeiro, José Junior e João Roberto Ripper. A crítica social que antes soava como alerta agora ecoa como a crônica de uma tragédia anunciada, diante do fortalecimento de milícias e da ausência efetiva do Estado em territórios inteiros.

O mérito maior da publicação está em reconectar o jornalismo literário de Zuenir Ventura à realidade presente, sem perder de vista a complexidade da cidade. O relato do jornalista ao entrevistar o traficante Flávio Negão - com quem conversa tentando entender não apenas os crimes, mas as motivações, a lógica de sobrevivência e o senso de humanidade - continua sendo um dos pontos mais polêmicos e valiosos da obra. Não por glamurizar o criminoso, mas por se recusar a desumanizá-lo.

Trata-se de uma edição que também atualiza o debate sobre representatividade, políticas públicas, cultura periférica, direito à cidade e racismo estrutural. "Cidade Partida - 30 Anos Depois" é, portanto, um documento vivo, provocador e necessário. É o Brasil que se vê dividido e precisa, mais do que nunca, reagir. Talvez o momento mais comovente da obra esteja na voz do próprio autor. 

Quando ele diz, com certa frustração, que ainda não conseguiu escrever o livro sobre a “cidade unida” que tanto sonhou, não se ouve a resignação de um jornalista veterano, mas a persistência de um ideal: o de que narrar o abismo é também uma forma de construir pontes. Compre o livro "Cidade Partida - 30 Anos Depois" neste link.


sexta-feira, 18 de abril de 2025

.: Úrsula Freitas, uma vida em torno da mediação


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. 

A advogada e mediadora de conflitos Úrsula Freitas sempre esteve envolvida com textos jurídicos, até ser provocada por um amigo roteirista que, impressionado com a sua história pessoal e profissional, sugeriu que ela escrevesse um livro. Assim surgiu “Minha Vida Antes e Depois da Mediação", que está sendo lançado neste mês de abril.

A ideia do livro surgiu durante um réveillon de 2019 e se concretizou durante a pandemia, quando Úrsula começou a escrever e percebeu que a obra iria além um registro autobiográfico e poderia servir como apoio para pessoas que enfrentam conflitos e não sabem por onde começar a resolvê-los. Ao longo das 127 páginas, a autora revisita momentos marcantes de sua vida, como sua juventude, a falta de estrutura familiar, o casamento precoce e a maternidade; além de apresentar casos que servem de exemplo de como a comunicação e o diálogo podem ajudar a encontrar uma solução.

"Durante muito tempo, pensei em como poderia ajudar ainda mais as pessoas que vivem em conflito, assim como eu vivi os meus por tantos anos. Neste livro, convido os leitores a refletirem sobre os embates, porque ele vai deixando a gente doente e, se mal administrado, perpetua-se no tempo. O diálogo é uma ferramenta poderosa, só precisamos usá-lo com sabedoria", afirma a autora.

Há mais de 16 anos auxiliando pessoas a encontrarem soluções consensuais para suas divergências, Úrsula, por meio de “Minha Vida Antes e Depois da Mediação”, desmistifica o papel do mediador e mostra uma alternativa eficaz ao modelo tradicional do Judiciário, muitas vezes desgastante e burocrático.

Na apresentação, a autora escreve: “Segundo o Conselho Nacional de Justiça, 80% dos casos que estão na Justiça, não deveriam estar resolvidos de outra forma, mas quem não consegue estabelecer a comunicação, apesar de todo o cuidado do mediador em buscar os interesses comuns, não tem outra opção a não ser brigar.”  Ao compartilhar sua experiência e os desafios enfrentados pela profissão, o livro se torna uma ferramenta de empoderamento para mediadores e para qualquer pessoa que queira compreender melhor essa prática. 

A obra está dividida em duas partes: "O Caos" e "A Mediação". Na primeira, ela conta um pouco da sua história e do caminho que a levou a trabalhar com mediação de conflitos, primeiro dentro do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e depois como iniciativa privada. Na segunda parte, ela explica tudo que envolve o trabalho de mediação e os modelos que servem de orientação, baseados em três escolas: o "Tradicional-Linear de Harvard" - em que o mediador é um facilitador da comunicação para conseguir um diálogo -; o "Transformativo de Bush e Folger" - que destaca a importância do aspecto relacional -; e, por último, o "Modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb", que visa permitir diferenciadas conotações e compreensões sobre as ocorrências vivenciadas para a construção de uma outra história. Na segunda parte, estão também 15 casos cuidadosamente selecionados pela autora, sempre preservando a identidade dos envolvidos.

Entre os casos abordados estão o do casal que vive há 40 anos, pais de dois filhos, que resolve se separar depois de um casamento que deu certo a vida inteira; outro sobre uma família que entra em guerra por conta de um inventário que envolve um espólio de R$ 70 milhões, a história de duas amigas de infância e um cachorro feroz e a de um pai em busca de refazer sua relação com a filha.

Satisfeita com o resultado, a escritora acredita que o livro vai orientar as pessoas que não sabem como usar a mediação ou não tem conhecimento da sua importância. Ursula Freitas é formada em direito pela Universidade Cândido Mendes e advoga há 20 anos. Há 16 anos, trabalha com mediação. Atualmente ela faz parte dos profissionais do Centro Brasileiro de Mediação e Arbitragem. Também é professora e supervisora do curso de capacitação da Câmara de Mediação da FGV. E ainda é mediadora e parceira da empresa Mediar 360o. Pré-venda disponível neste link.

sexta-feira, 2 de junho de 2023

.: #Resenhando20Anos: resenha de "Estrelas Tortas, de Walcyr Carrasco


No dia 4 de junho de 2023 o Resenhando.com completa 20 anos. Durante esse mês, matérias emblemáticas que foram destaque no portal editado pelos jornalistas Mary Ellen Farias dos Santos e Helder Moraes Miranda serão republicadas. Ao fazer essa visita ao passado, percebemos que os textos conseguem estar muito atuais. 

Algumas delas, republicadas na íntegra, embora extremamente relevantes, apresentam aspectos datados ou têm marcas de expressões, pensamentos e linguagens que podem estar ultrapassadas, mas são um registro da história deste veículo. A resenha crítica de "Estrelas Tortas", livro escrito pelo novelista Walcyr Carrasco, é uma das mais lidas nos 20 anos de Resenhando.com.


Livro narra a batalha de um  deficiente 
Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em maio de 2005.

A história de uma garota bonita, alta, jogadora de vôlei. Esta é a jovem Marcella. "Estrelas Tortas", de Walcyr Carrasco, narra a batalha de uma adolescente que após um acidente de carro fica paraplégica. A obra publicada em 1997, na Coleção Veredas, pela Editora Moderna, soma 96 páginas de pura emoção.

Contada na visão de vários personagens que convivem ou tentam conviver com a garota. Juntos, familiares e amigos, descobrem o quanto é difícil perder, e o quanto é precioso aprender a ganhar. "'Sua irmã nunca mais vai andar'. Foi assim que papai me deu a notícia. Quando ele falou, fiquei um tempão tentando entender o que queria dizer, exatamente". É desta forma que o irmão de Marcella, Guilherme, chamado carinhosamente de Gui, começa a contar a história.

A sequência da história fica por conta da sua melhor amiga, Mariana. Na terceira parte está a visão de Bira, o garoto mais bonito da escola e namoradinho da jovem. A mãe, Aída e o irmão, são os que falam da atenção e carinho que devem ser dados a um deficiente. A história ganha um toque especial quando Emílio revela como entrou na vida da personagem principal. No capítulo sétimo, o de Bruno, pai de Marcella, fica visível sua insatisfação ao desconfiar que sua filha está namorando Emílio. 

Detalhe: Bruno pensa que a filha tornou-se um vaso que poderia quebrar a qualquer momento e que necessita de de muito cuidado, isto é, Marcella havia tornado-se uma eterna dependente. No oitavo capítulo é que Marcella tem voz. Nele, a adolescente mostra-se capaz e quer vencer todas as barreiras.

No décimo capítulo é Gui quem finaliza a história de sua vida, vida que teve uma grande mudança ao precisar acompanhar a irmã em muitas coisas. "A gente é como um pedaço da noite. De longe, estrelas perfeitas. De perto, estrelas tortas".

"Estrelas Tortas" é um livro o qual mostra a dificuldade e o sofrimento de um deficiente e das pessoas que o rodeiam, ao menos, até acostumar com o problema. O escritor comenta que preferiu falar da vida de uma paraplégica, para mostrar, também, como todos nós somos livres para voar. "Só quem tem força interior supera as dificuldades do dia-a-dia e brilha, enfim, como estrela", diz. 

Você pode comprar "Estrelas Tortas" de Walcyr Carrasco aqui: Amazon neste link.

Livro: "Estrelas Tortas"
Autor: Walcyr Carrasco
96 páginas
Ano: 1997
Coleção: Veredas
Editora: Moderna
Link de venda: amzn.to/3bFCIve

*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura, licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos e formada em Pedagogia pela Universidade Cruzeiro do Sul. Twitter: @maryellenfsm

  

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

.: "O Caderno dos Pesadelos" transforma medos em um coletivo de poesias


Por 
Helder Moraes Miranda, editor do Resenhando. 

Nunca desconfie da capacidade de um livro em criar memórias afetivas. Este é o caso de "O Caderno dos Pesadelos", livro de Ricardo Chávez Castañeda, com ilustrações de Israel Barrón, lançado no Brasil em uma edição caprichada e em capa dura pela editora SESI-SP. Um livro que traz uma série de questionamentos e, se o leitor estiver aberto ao novo, promove encontros inimagináveis.

A partir de quantos pesadelos se faz um grande livro? Se você pensar em "O Caderno dos Pesadelos", 15 contos, acompanhados de ilustrações que são verdadeiras obras de arte, são o suficiente. O livro chega para preencher uma lacuna: a maneira poética de fazer com que as crianças lidem com o medo e o transformem em algo positivo. Será tarefa fácil para o público infantil? Além disso... "O Caderno dos Pesadelos" é realmente um livro para crianças?

A analisar pelo cuidado na escolha do tradutor - o talentosíssimo André Caramuru Aubert, autor de vários livros e colaborador do jornal literário Rascunho - é possível acreditar que "O Caderno dos Pesadelos" ultrapassa a linha tênue de ser algo voltado para pessoas de uma só faixa etária - mas, sim, é para crianças (desde que elas tenham todas as idades). 

É para a criança interna de todos, para aquelas que ficaram abandonadas para alguém poder viver a vida adulta, e é para aqueleas que podem encontrar neste livro um abrigo para voltar e ficar confortável nele. "O Caderno dos Pesadelos" é um livro para conectar os adultos com as crianças que foram um dia, e também com as crianças que têm em casa. Então, por que não lerem juntos para, quem sabe, sentirem medo no plural e se protegerem? 

Lidos em sequência, os 15 contos da obra, que contém meninos de vidro, cães gigantes, ladrões de crianças, pode até ter sido pensado para ser um apanhado de pesadelos aterrorizantes, mas também é um ciclo incessante de imagens e construções de frases e textos poéticos que resultam em duas coisas: encarar o medo e superá-lo. Entre os melhores livros do ano, para aqueles que não têm medo. Você pode comprar "O Caderno dos Pesadelos", de Ricardo Chávez Castañeda, neste link.


quinta-feira, 9 de setembro de 2021

.: "Upstate" acrescenta uma dose a mais de humanidade aos dramas familiares


Por 
Helder Moraes Miranda, editor do Resenhando.

Escrever um romance deve ter uma dose a mais de exposição para o crítico literário James Wood, autor do emblemático livro "Upstate", lançado recentemente no Brasil pela SESI-SP Editora. Qualquer deslize ou passo em falso pode ser um atrativo para as críticas mais contundentes. Em um livro fala sobre relações familiares em rota de colisão, o risco é ainda maior.

Felizmente, não é o que acontece em "Upstate", e a diferença está na sutileza do texto e dos detalhes que permeiam a obra. Não se sabe se o livro é tão bom porque Wood, entre os mais influentes críticos da língua inglesa, sabe as técnicas para encantar, emocionar e prender o leitor, ou se o autor é realmente este poço de sensibilidade que emana em cada uma das 248 páginas que saltam aos olhos dos leitores. 

A impressão é que James Wood uma mistura alguém que sabe todas as técnicas, mas tem um diferencial: tem sensibilidade e talento - sem essas características, não adiantaria nada ter todas as técnicas disponíveis. Mas não é só isso. O autor dos livros "A Coisa Mais Próxima da Vida" e "Como Funciona a Ficção" acrescenta em "Upstate" uma dose a mais de humanidade aos dramas familiares. É por isso que os personagens são tão profundos e críveis. 

Há um drama famliliar e um clima de tensão que ronda as histórias e o inconsciente de cada personagem, mas existe, também, uma catarse que faz com que o leitor, que torce para que a bomba exploda e os conflitos apareçam, passe a se identificar e queira colocar a própria vida em pratos limpos. 

Longe de ser um livro de autoajuda, "Upstate" conduz o leitor a uma jornada interna e paralela aos conflitos do livro. Enquanto lê, é possível questionar dúvidas existenciais e rir de si mesmo, já que o livro não é um dramalhão - mas uma espécie de catalisador de mudanças. Há uma maneira fácil de viver a vida? Por que não vivê-la, então? Há dramas que são desnecessários ou é preciso vivê-los com toda a intensidade possível? Quando a tristeza em doses cavalares torna as pessoas insuportáveis?

O livro gira em torno do investidor imobiliário bem-sucedido Allan Querry que, já em idade avançada, precisa enfrentar uma crise familiar em uma viagem com as filhas ao longo de seis dias. Confinados em um mesmo espaço, eles precisam se enfrentar. Nada é o que parece, pois há diversas camadas entre o personagem principal e as filhas Vanessa, uma filósofa com depressão desde a adolescência, e Helen, executiva de uma gravadora. Apesar de bem-sucedidas, as irmãs nunca se recuperaram do divórcio amargo dos pais e da morte precoce da mãe. Mais do que um romance, "Upstate" é um livro para aqueles que precisam enfrentar questões e resolver as próprias dores para seguir em frente. 

Você pode comprar o livro "Upstate", de James Wood, publicado pela SESI-SP Editora, neste link.

Ficha técnica
Livro: "Upstate" | Autor: James Wood | Tradutor: Leonardo Fróes | Editora: SESI-SP Editora | 
Páginas: 248 | Formato: 14 x 21 cm | Link na Amazon: https://amzn.to/2Vk4WpW

terça-feira, 15 de junho de 2021

.: Resenha de "Black Dog: Os Sonhos de Paul Nash", de Dave McKean


Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em junho de 2020

Uma graphic novel de encher os olhos. Assim é "Black Dog: Os Sonhos de Paul Nash", o livro em capa dura sobre a vida do pintor surrealista britânico, um dos mais influentes e importantes de seu tempo, sob o olhar do premiadíssimo Dave Mckean, editado pela Darkside Books é um primor na montagem visual e o conteúdo apresentado em 120 páginas.

Dave McKean, muito conhecido por ser colaborador do escritor de "Coraline", Neil Gaiman, na série "Sandman", apresenta uma programação de cinco anos de novas obras culturais em comemoração ao centenário da Primeira Guerra Mundial. Com esse tema de pano de fundo, Dave McKean, assombra o universo dos quadrinhos mais uma vez -o que faz desde a estreia nos anos 80. 

Assim, o mestre dos quadrinhos modernos cria por meio das lembranças de Nash e sua vivência, em pinturas, influenciadas pela época em que combateu a guerra, aos 25 anos, a refletir a respeito do que pode ser definitivo para mudar o ser humano: a perda, a dor e o trauma. A obra apresenta jóias em quadros como que painéis fantásticos e multifacetados os quais provocam inquietação no leitor das mais diversas formas, seja causando perturbação ou encantamento.

Descrito como um artista romântico, Paul Nash, por meio de diversas técnicas e estilos,  expõe as explosões internas geradas durante sua atuação na guerra, usando de genialidade na criação de imagens que também narram de forma atemporal. Ao mostrar fragilidade, cria o cão negro (Black Dog), que ao ser a personificação da depressão e o presságio da morte, permeia os caminhos da trama, tal qual um fio condutor que segue pela loucura e os devaneios do artista britânico. 

Black Dog: Os Sonhos de Paul Nash, de Dave McKean é uma verdadeira obra-prima.

“Quando me deparo com a obra de Paul Nash, sempre me sinto como se estivesse assistindo a um sonho. É como se estivéssemos olhando para o mundo real através do filtro de sua imaginação. Tantas e tantas pessoas afastam e escondem suas experiências de guerra e não querem falar a respeito – mas artistas como Nash conseguem transmitir suas impressões das pessoas e do panorama e refletir sobre a psicologia daquela experiência”, comentou o escritor Dave McKean ao jornal britânico The Guardian. 


Você pode comprar Black Dog: Os Sonhos de Paul Nash, de Dave McKean aqui: amzn.to/3wwjyjO

Livro: Black Dog: Os Sonhos de Paul Nash
Título original: 
Black Dog: The Dreams of Paul Nash
Autor: 
Dave McKean
Editora: Darkside Books
120 páginas

*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura e licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos. Twitter: @maryellenfsm

terça-feira, 25 de maio de 2021

.: Resenha: "Criança Zumbi", de Ko Moon-young, publicado pela Intrínseca



Por: Mary Ellen Farias dos Santos


"Era alimento 
o que a criança queria?
Ou o calor da mãe?"


Em "Criança Zumbi", escrito pela sul-coreana Jo Young e ilustrado por Jam San, o segundo livro da coleção "It´s okay not to be okay"Ko Moon-young prova que interpretar sentimentos não é uma ação simples, inclusive para mães. A publicação em capa-dura, da Editora Intrínseca, apresenta um novo conto de fadas às avessas

Na trama tudo acontece num pequeno vilarejo, quando nasce um menino de pele pálida e olhos bem grandes. A mãe nota que faltava qualquer sentimento nele, enquanto que sobrava uma fome insaciável. Para garantir o crescimento do pequeno, ela adapta a forma de vida para ofertar o melhor a ele. 

Afinal, quase todos animais se foram devido a uma pandemia. Mergulhada no custe o que custar, a mãe esgota os próprios recursos. Contudo, ao descobrir o calor da mãe, a criança zumbi fala pela primeira vez na vida. Assim, a mãe tem nas lágrimas uma fonte de calor ao filho faminto do mais sublime sentimento. 

Em 24 páginas, a obra de ficção infantojuvenil coreana provoca uma profunda reflexão a respeito do maior sentimento: o amor. Seria amor desmedido aquele impensado a ponto de deixar esvair a vida em favro de outro?! Em meio a provocações, "Criança Zumbi" faz refletir a respeito do que pais precisam, de fato, oferecer a seus filhos. 

Ko Moon-young e suas obras são criações ficcionais do universo do k-drama "It´s Okay Not Be Okay". Você pode comprar "Criança Zumbi", Ko Moon-young aqui: Amazon neste link.

Livro: "Criança Zumbi"
Autor: Ko Moon-young
24 páginas
Ano: 2021
Coleção: It´s OK not to be okay, Livro 2
Editora: Intrínseca
Link de venda: https://amzn.to/3feDFMW


*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura, licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos e formada em Pedagogia pela Universidade Cruzeiro do Sul. Twitter: @maryellenfsm

segunda-feira, 24 de maio de 2021

.: Crítica: "O Menino Que se Alimentava de Pesadelos", Ko Moon-young


Por: Mary Ellen Farias dos Santos


"Todas as noites, lembranças ruins que o menino queria esquecer ressurgiam em seus sonhos e o atormentavam sem parar"


"O Menino Que se Alimentava de Pesadelos", de Ko Moon-young, escrito pela sul-coreana Jo Young e ilustrado por Jam San, da Editora Intrínseca, é mais do que um conto de fadas às avessas. Já no título, o livro de 24 páginas provoca e na evolução da história, reflexões diversas são semeadas. 

A publicação em capa-dura é sobre um garotinho com um problema que insistia em não abandoná-lo. O pequeno não conseguia esquecer as memórias ruins, que, inclusive, ressurgiam em terríveis pesadelos e o atormentavam sem parar. Todas as noites. 

Eis que, por sorte, ele cruza com uma bruxa e faz uma negociação. Por outro lado, combinados têm seus preços e quando não são cumpridos, podem custar caro -para nós. Afinal, qual o preço da felicidade?

A trama do primeiro livro da coleção "It´s okay not to be okay" serve de alerta para os pequenos que tem tudo para serem felizes, enquanto que para os adultos é pura reflexão a respeito de sonhos e realizações e a eterna busca pela felicidade.

Ko Moon-young e suas obras são criações ficcionais do universo do k-drama "It´s Okay Not Be Okay". Você pode comprar "O Menino Que se Alimentava de Pesadelos", Ko Moon-young aqui: Amazon neste link: amzn.to/3xQ4hLC.

Livro: "O Menino Que se Alimentava de Pesadelos"
Autor: Ko Moon-young
24 páginas
Ano: 2021
Coleção: It´s OK not to be okay, Livro 1
Editora: Intrínseca
Link de venda: amzn.to/3xQ4hLC

*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura, licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos e formada em Pedagogia pela Universidade Cruzeiro do Sul. Twitter: @maryellenfsm

#ResenhaRápida



segunda-feira, 19 de abril de 2021

.: Resenha de "A Máfia dos Mendigos: Como a Caridade Aumenta a Miséria"

 

Por: Mary Ellen Farias dos Santos


O livro "A Máfia dos Mendigos: Como a Caridade Aumenta a Miséria", escrito pelo pastor Yago Martins e publicado pela Editora Record em 252 páginas incomoda ao trazer à tona a realidade dos moradores de rua, fato para o qual muitos insistem em tapar os olhos. Martins foi além ao se disfarçar de mendigo para entender como é a vida que ninguém deseja ter. Assim, retrata também a economia que mantém essa roda problemática a girar sem parar.

O livro dividido em três partes: "As Duas Filhas da Sanguessuga", "As Ruas Escuras da Alma" e "O Cadáver da Fé", é composto por sete capítulos, além de apresentar um texto de introdução e conclusão. "A Máfia dos Mendigos: Como a Caridade Aumenta a Miséria" expõe em letras garrafais que a miséria de um, na verdade "uns", pode ser o ganha-pão do outro. "Claro que nem toda pessoa que paga suas contas através do gerenciamento de ações de caridade possui sentimentos oportunistas, mas é de espantar que existem tantos profissionais da caridade que se esforçam em propagar as ideias políticas mais famosas por manter pessoas na pobreza durante mais tempo. Se, nestes casos, isto for mesmo proposital e pensado, há uma genialidade macabra na indústria da generosidade", expõe o autor.

Escrita pela ótica do pastor, a obra também apresenta relatos como o de Soares, policial militar de 59 anos, que vive na rua há três. "A mulher morreu de leptospirose. Ele não teve coragem de ir ao enterro. Diz que pegou o carro do filho, acelerou o máximo que pôde e bateu em um poste. Dias de coma e algumas cirurgias. [...] Foi do hospital direto para a rua porque não aguentava olhar para os filhos.

Yago Martins registra em "A Máfia dos Mendigos: Como a Caridade Aumenta a Miséria" que tentou comer lixo, mas vomitou. "Vomitei por comer o que para outros é dejeto. Vomitei pelo que aquilo representava, não pela alimentação em si. Tenho ânsias de vômito só de escrever isto". Contudo, o morador de rua Marcelo revela comer lixo e não vomitar. "Para ele é natural. O que precisa acontecer no psicológico de uma pessoa para que ela consiga se contentar em comer dejetos domésticos?"

A obra é um estudo que retrata a vida do homem nas ruas e conscientiza a respeito das variantes que levam a essa sobrevivência. "Não somos tão diferentes de mendigos. A tentativa humana de fugir da inevitabilidade da morte através de um apego cada vez maior à existência terrena é tão fútil e fracassada quanto as braçadas de desespero de quem tenta se agarrar às ondas para evitar o afogamento. Todos vamos morrer. Mais que isso, todos já estamos morrendo. E, considerando a brevidade da vida humana, sempre é mais cedo, nunca mais tarde. Numa perspectiva a longo prazo, todas as expectativas de vida tendem a zero."

"A Máfia dos Mendigos: Como a Caridade Aumenta a Miséria" é um livro que expõe um problema que, geralmente, insiste em ser jogado para debaixo do tapete. A publicação destaca a brevidade da vida humana, o apego excessivo à futilidade e a necessidade de ver o próximo como alguém que pode precisar de sua ajuda. No entanto, usa a ideia do trabalho de entidades religiosas voltado a esse público, ainda que o Brasil seja um país laico. "O trabalho e sua teologia podem ser úteis no estabelecimento so senso humano de dignidade cósmica".

Ao analisar os efeitos colaterais da caridade durante o ano em que viveu nas ruas, mesmo sem muita fundamentação teórica, o autor apega-se a própria visão diante do que experienciou. Por outro lado, Yago Martins lança luz a um tema esquecido. 

Autor: Yago Martins é pastor batista e autor de cinco obras sobre cristianismo. Dá aulas de teologia e de economia em níveis de graduação e pós-graduação em Fortaleza, São Paulo e Brasília, além de palestras por todo o Brasil e América Latina. É formado em Teologia pela Faculdade Teológica Sul-Americana (Londrina/PR), especialista em Escola Austríaca de Economia pelo Centro Universitário Ítalo Brasileiro (São Paulo/SP) e estudante do Sacrae Theologiae Magister (Th.M) em Teologia Sistemática do Instituto Aubrey Clark (Fortaleza/CE). É presidente do Conselho da Missão GAP, membro do corpo de especialistas do Instituto Ludwig von Mises Brasil e apresentador do canal Dois Dedos de Teologia no YouTube.

Livro: A Máfia dos Mendigos: Como a Caridade Aumenta a Miséria, O Pastor que Fingiu Ser Morador de Rua Explica Por Que Nossas Tentativas de Vencer a Pobreza Continuam Fracassando

Autor: Yago Martins

Editora Record

252 páginas

Venda na Amazon: amzn.to/3aaJPLa


*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura, licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos e formada em Pedagogia pela Universidade Cruzeiro do Sul. Twitter: @maryellenfsm

sexta-feira, 16 de abril de 2021

.: Resenha: "Escravidão Contemporânea", organizado por Leonardo Sakamoto

Por: Mary Ellen Farias dos Santos


Em resumo, de acordo com o Dicionário Michaelis, "escravidão" é um substantivo feminino, definido como "condição daquele que é escravo; cativeiro, escravaria, escravatura. Condição de falta de liberdade; submissão a uma autoridade despótica. Situação, atividade ou qualquer outra coisa que, pelo seu caráter repressivo, impõe alguma restrição ou constrangimento". No livro organizado pelo jornalista e conselheiro da ONU Leonardo Sakamoto, intitulado "Escravidão Contemporânea", publicado pela Editora Contexto, o tema é analisado por vários vieses focando na modernidade, as nomenclaturas recebidas ao redor do mundo, a dificuldade para o combate e o que se é feito para erradicar tal prática.

O livro sobre a escravidão, abolida desde o século XIX, retrata como a escravidão continua enraizada no Brasil e no mundo. Esbarrando no tráfico humano, cerceamento de liberdade, condições degradantes de trabalho, além da impossibilidade de romper a relação com o empregador, o que implica em ameaças com torturas psicológicas a espancamentos e, findando, em assassinatos. Confirmando assim, dados obtidos de 1995 a setembro de 2019, que totalizam mais de 54 mil pessoas encontradas em regime de escravidão em fazendas de gado, soja, algodão, café, laranja, batata e cana-de-açúcar, assim como carvoarias, canteiros de obras, oficinas de costura, bordéis, entre outras unidades produtivas no Brasil. 

Na orelha da publicação, o leitor é informado de que o volume reúne um grupo de autoridades mundiais para tratar do assunto que "é um problema de regiões de fronteira agropecuária, mas também de grandes centros urbanos". O livro de 192 páginas tem a introdução de Leonardo Sakamoto em "O Trabalho Escravo Contemporâneo". Na sequência, em oito artigos assinados, a realidade brasileira é focada, embora não deixe de tratar as formas de combate ao trabalho escravo pelo mundo.

Os oito textos que compõem "Escravidão Contemporânea" são: "Histórias de Liberdade", por André Esposito Roston; "A História da Proibição da Escravidão", por Mike Dottridge; "O Trabalho Escravo Após a Lei Áurea", por Ricardo Rezende Figueira; "Como o Brasil Enfrenta o Trabalho Escravo Contemporâneo", por Tiago Muniz Cavalcanti; "O Perfil dos Sobreviventes", por Natália Suzuki e Xavier Plassat; "Como o Mundo Enfrenta o Trabalho Escravo Contemporâneo", por Renato Bignami; "Trabalho Escravo Contemporâneo: Um Negócio Lucrativo e Global", por Siobhán Mcgrath e Fabiola Mieres e "O Impacto da Escravidão nas Mudanças Climáticas", por Kevin Bales, além de um pósfacio intitulado "A Herança do Racismo", por Raissa Roussenq Alves.

Num trecho do texto de introdução, Leornado Sakamoto informa:

"Como o Estado brasileiro já não admite a possibilidade de uma pessoas ser 'dona' de outra, também não reconhece o trabalho escravo como relação legítima ou legal. Por isso, quando nosso Código Penal foi aprovado, em 1940, esse crime ficou conhecido como 'redução à condição análoga à de escravo'. Do ponto de vista técnico e jurídico, essa é a nomenclatura para definir tal forma de exploração. Na prática, é o mesmo que trabalho escravo contemporâneo."

"Escravidão Contemporânea" é mais do que um livro, mas um estudo que retrata um problema crônico e abusivo que insiste resistir, inclusive, à aplicação de leis. No entanto, é uma bandeira de alerta para que tal abuso tenha fim. E para que a vivência do leitor seja completa, segue o desejo de Sakamato: "Que a luz da dignidade e os bons ventos da liberdade acompanhem sua leitura."

Autor: Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Professor de Jornalismo na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York. É diretor da Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e foi comissário da Liechtenstein Initiative – Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É colunista do portal UOL, onde escreve diariamente sobre política. 

Livro: Escravidão Contemporânea

Organizado por  Leonardo Sakamoto

Editora Contexto

192 páginas

Venda na Amazon: amzn.to/3dkj1Kh


*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura, licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos e formada em Pedagogia pela Universidade Cruzeiro do Sul. Twitter: @maryellenfsm




segunda-feira, 12 de abril de 2021

.: Resenha de "Coraline", de Neil Gaiman, livro para ler e reler

Por: Mary Ellen Farias dos Santos


Em "Coraline", de Neil Gaiman, a garota que dá nome ao livro, protagoniza 224 páginas, por ser dona de uma mente criativa. Filha única e tendo ao lado os pais que vivem trabalhando -verdadeiros workaholics homeoffice-, para sair do tédio, ela tenta encontrar diversão na casa nova a ponto de conhecer os vizinhos excêntricos. Embora seja chamada erroneamente de Caroline, a menina faz amizade com um treinador de ratos circenses e duas irmãs que fisicamente parecem tão diferentes, mas se completam.

Contudo, no livro tudo começa com uma portinha e sua chave. Curiosa, Coraline mergulha num universo paralelo que, no decorrer da trama, percebe ser super do mal. Lá estão, inclusive, os pais dela que fazem as vontades dela. Totalmente diferentes dos que estão do outro lado da porta na parede. Como ela os diferencia? Não apenas pelo tratamento recebido, mas por cada um, no lugar dos olhos, ter botões.

Imagem sem legenda

Transitando entre duas formas diferentes de viver, Coraline, pelas mãos de Neil Gaiman, leva o leitor numa escrita deliciosa que envolve de modo orgânico e sempre desperta o desejo de "ler só mais um pouquinho" a cada fim de capítulo. A missão da pausa acaba sendo impossível, pois a curiosidade de Coraline faz a leitura fluir e permitir que o entretenimento não pare. 

"Coraline" é um livro voltado ao público infantil?! Também. No entanto, diria ser uma leitura obrigatória para o leitor, do mais jovem ao adulto. Em capa dura, as páginas com letras graúdas, facilitam a leitura. A publicação também tem as bordas das páginas na cor roxa, com divisórias ilustradas por Chris Riddell, assim como a capa e contracapa, a cada novo capítulo. A edição ainda acompanha um marcador especial do livro.


"Coraline", de Neil Gaiman é o tipo de livro para ler e reler. Não somente pela história incrivelmente inventiva e ágil, mas pela apresentação caprichada dada pela Editora Intrínseca. A edição especial que é um verdadeiro convite visual para a leitura de qualidade, já foi pauta aqui no Resenhando.com, em "Dez motivos para ler "Coraline", de Neil Gaiman, em edição especial" e até tema do "#ResenhandoQuiz: sabe tudo de "Coraline"? Descubra!". Isso que é livro para ter em destaque na estante para futuras releituras!!

Você pode comprar "Coraline", de Neil Gaiman aqui: Amazon neste link.


Livro: "Coraline"
Autor: Neil Gaiman
Ilustrador: Chris Riddell 
Tradutora: Bruna Beber 
224 páginas
Ano: 2020
Editora: Intrínseca
Link de venda: amzn.to/3bJoud3

*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura, licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos e formada em Pedagogia pela Universidade Cruzeiro do Sul. Twitter: @maryellenfsm

sábado, 2 de janeiro de 2021

.: "Laura Dean Vive Terminando Comigo" não é historinha água com açúcar

Por: Mary Ellen Farias dos Santos*


Nem toda relação é pura e simplesmente linda. Na história em quadrinhos "Laura Dean Vive Terminado Comigo", da dupla Mariko Tamaki e Rosemary Valero-O´Connell, publicado pela Intrínseca, duas meninas, Freddy Riley e Laura Dean, caem de amores numa ciranda durante uma atividade física escolar. Enquanto Riley é emoção, Dean é razão. Desta forma, o relacionamento entre as duas fica mais para uma amizade com benefícios, o que não é tão claro para Frederica.

Por outro lado, Riley vai se cansando da forma que é tratada pela popular Laura Dean, desde bolos em encontros ou descobertas desagradáveis -Laura estar com outra pessoa. Nesse trajeto, ao lado, tem grandes amigos, como por exemplo, Doodle, mas também faz uma amizade especial com Vi, desconhecida que testemunhou o vexame que Freddy deu após beber além da conta na festa do Dia dos Namorados.

De fato, "Laura Dean Vive Terminado Comigonão é mais uma historinha de final feliz e previsível. O livro estampa um recorte da relação de Freddy com os que a cercam e, claro, com foco em Laura Dean. Dessa forma, surge a temática do relacionamento abusivo e diante de cada diminuição da autoestima de Freddy, o leitor que se deixa envolver pela trama, pensa em um título alternativo ao livro: "Eu odeio Laura Dean".

A publicação de 304 páginas, das premiadas quadrinistas Mariko Tamaki e Rosemary Valero-O’Connell é de encher os olhos diante dos quadrinhos em preto e branco, com detalhes nas imagens na cor rosa, dando todo um toque delicado ao livro, o que inclui a belíssima capa. "Laura Dean Vive Terminado Comigovenceu três Eisner Awards, maior prêmio do universo dos quadrinhos, nas categorias Melhor Roteirista, Melhor Artista e Melhor Publicação Para Adolescentes. Você pode comprar "Laura Dean Vive Terminando Comigo", de Mariko Tamaki e Rosemary Valero-O’Connell, neste link: amzn.to/2LhfXD9

Livro: Laura Dean Vive Terminando Comigo

Autoras: Mariko Tamaki e Rosemary Valero-O’Connell

304 páginas

Editora Intrínseca


*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura, licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos e formada em Pedagogia pela Universidade Cruzeiro do Sul. Twitter: @maryellenfsm

Postagens mais antigas → Página inicial
Tecnologia do Blogger.