quinta-feira, 29 de setembro de 2016

.: Marian Keyes, “Salva Pelos Bolos”, foi minha professora de culinária

Por Helder Miranda
Em setembro de 2016


Marian Keyes tem um quê de iluminada. Não se sabe exatamente porque, mas estar perto dela é algo que faz perceber o quanto ela é evoluída. E tem tantos faz agradecidos pelo que ela fez por eles sem saber, com os livros publicados e as histórias de superação e empoderamento que é fácil, muito fácil, gostar dela . Tive a oportunidade de estar bem perto dela na Bienal do Livro de São Paulo, quando lançou, pela Bertrand Brasil, a edição comemorativa do romance “Melancia” e o novíssimo “Salva Pelos Bolos”. 

Ao contrário dos anteriores, “Salva Pelos Bolos” não é um romance açucarado. Pelo contrário, é uma biografia. Não a biografia tradicional, que conta a vida dela ou de qualquer outra pessoa que a escritora irlandesa admire ou conviveu. É a história dela mesma que está em jogo, pois trata de um momento muito delicado, quando Marian  passou por um colapse nervoso. A solução encontrada foi se dedicar à gastronomia e, como uma “formiguinha” assumida, resolveu fazer doces. 

Sorte de principiante, ou talento nato, fez com que o contato com as massas, os recheios, os sabores tradicionais e exóticos, mas, principalmente as cores, fez com que Marian se recuperasse e, tais quais as personagens que elabora de sua mente inquieta, voltasse à vida feliz e mais forte.

Sobre a biografia que se faz a partir dos pratos que ela prepara, eu explico: ao mostrar o passo a passo das receitas de mais de 80 doces, Marian Keyes se autobiografa por completo. Ela revela gostos pessoais, conta histórias e os contextos em que as guloseimas ensinadas no livro estão inseridas. Não importa se ela faz o “Pudim de Caramelo ‘Puxa-Puxa’ do John” -aliás, você só vai descobrir quem é ele se ler o livro- , “Broas de Leitelho”,  o“Bolo de Natal Sem Medo” -existe uma história por trás desse nome inusitado-, o “Bolo Brasileiro de Cerveja Preta” ou qualquer outra receita... As palavras que ela escolhe para contar cada saboroso episódio da vida dela antes de ensinar a receita detalhadamente revelam o ser humano por trás das letras. 

Chama atenção o cuidado que a própria Bertrand Brasil tem com as obras de Marian Keyes. Sempre são capas bem coloridas e chamativas. Com “Salva Pelos Bolos”, não é diferente. O livro é todo em papel couché, ricamente ilustrado com fotos coloridíssimas das receitas, que dão água na boca e uma espécie de encorajamento para fazer o que está sendo ensinado.

O que posso dizer sobre as receitas? Fiz o teste de algumas e... dá certo. O que posso dizer é que como homem sem jeito para a cozinha, e inexperiente no ramo de doces, consegui fazer o “Bolo de Aniversário de Cola da Rita Anne”, a “Pavlova de Gengibre e Abacaxi da Shirley” e os “Corações Lebkuchen”. Quem provou, disse que estava ótimo. Claro que, nas primeiras vezes, não ficou tao bonito quanto nas fotos, mas sei, pelos realities culinários que assisto, que cozinha é treino, é dia, é estado de espírito. 

Marian Keyes, para variar, cumpre sua função terapêutica de seus livros sem apelar para a autoajuda sem sutileza. Pelo contrário, ela é tao generosa que compartilha seus dramas pessoais sem medo nenhum de se expor. Deveria haver mais professoras de culinária como Marian Keyes. 

Além disso, é um livro literalmente gostoso de ler, ver e, depois, saborear. Mas é de Marian Keyes, a maior escritora da atualidade e, só por isso, você deveria prestar atenção. Mesmo que não queira cozinhar, ou que não possa com a glicose, ou esteja de dieta. No final das contas, Marian descobre que o “colapso nervoso” que contou no início do livro era medo, muito medo, e que isso estava envenenando o cérebro dela. E isso não é spoiler, é vida real.

"Salva Pelos Bolos"
Marian Keyes
Tradução: Marina Slade
Páginas: 232
Editora: Bertrand Brasil/Grupo Editorial Record
Classificação: Excelente *****

Sobre o autor
Helder Miranda é editor do Resenhando.com há 12 anos. É formado em Comunicação Social - Jornalismo e licenciado em Letras pela UniSantos-Universidade Católica de Santos, e pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura pela USP. Atuou como repórter em vários veículos de comunicação. Lançou, aos 17 anos, o livro independente de poemas "Fuga", que teve duas tiragens esgotadas.

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