segunda-feira, 2 de julho de 2018

.: Resenha de "Filhote de Cruz-Credo", de Carpinejar

Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em julho de 2018



"Custou para me reconhecer feio. Não foi assim fácil. Meus pais viviam dizendo que eu era bonitinho", escreve o autor Carpinejar -na 
história quase autobiográfica-, sobre os dilemas do menino Fabrício, apelidado de Panqueca, no livro "Filhote de Cruz-Credo: a triste história alegre de meus apelidos", publicado pela Bertrand Brasil

Há quem diga que beleza não seja um quesito importante, mas, convenhamos, opinião de mãe ou pai não muda em nada a visão dos outros a respeito da gente. É exatamente isso que Fabrício descobre

Os olhares tortos e cochichos para o garoto que carregava uma cabeça enorme não eram tão suaves quanto os apelidos, como por exemplo, "abacate vazio" ou o deboche de que "o médico trocou o feto pela placenta". "O feto é a criança. Afirmavam que eu era o lixo".

Praticando o exercício de rir de si mesmo, o texto aborda profundamente e com uma linguagem fácil para o público infantil, um tema delicado: a prática do bullying e seus efeitos. Desde os olhares, apelidos e implicâncias a toda a dor e angústia causadas nas vítimas. Entretanto, o tom bem humorado dado à trama, a rotula de triste história alegre.

"Filhote de Cruz-Credo" retrata problemas comuns à crianças que enfrentam a fase do autoconhecimento, momento em que a amizade tem um peso importante, principalmente no ambiente escolar. Assim, a solidão o isola, fazendo com que goste de desenhar e colorir. "Eu e minha térmica azul. Eu e minha maçã embrulhada no guardanapo. Eu e meu bolinho de milho. Meus únicos amigos estavam dentro da merendeira. Vivia triste como um cachorro na chuva".

Contudo, o texto de Carpinejar, mesmo voltado ao público infantil, por meio do bom humor, ensina e faz refletir. Além de destacar a importância da aceitação de como somos, deixando claro que, às vezes, é preciso saber rir de si mesmo para que os outros mudem a forma de nos ver.

Já na contra-capa, as palavras do autor destacam a confiança como grande aliada. "Percebi que, ao contar a tristeza, ela diminui. Ao não contar, ela aumenta. Por isso descrevi a minha tristeza para você. Hoje sou bonito porque tenho confiança em mim. A confiança é a maior beleza que existe."

O livro de 40 páginas do poeta, cronista e jornalista, ilustrado pela argentina Sandra Lavandeira, envolve por despertar o interesse do leitor num problema cotidiano que, muitas vezes, é ignorado por pais e membros escolares. "Filhote de Cruz-Credo" é uma leitura de conscientização!

Filhote de Cruz-Credo: Vem encantando leitores de todas as idades, que já sofreram na escola e aprenderam a se defender com inteligência e bom humor. O livro foi eleito o melhor infantojuvenil pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) em 2012 e inspirou duas peças de teatro, adaptadas por Bob Bahlis (RS) e Eduardo Katz (RJ), além de ter gerado uma campanha educacional do Governo do Estado do Rio Grande do Sul contra o bullying em 2014.

Livro: Filhote de Cruz-Credo: a triste história alegre de meus apelidos
Autor: Carpinejar
Ilustradora: Sandra Lavandeira
Editora: Bertrand Brasil
40 páginas


*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura e licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos. Twitter: @maryellenfsm
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4 comentários:

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