sexta-feira, 19 de setembro de 2025

.: "Ponyo: uma Amizade que Veio do Mar" é uma fábula com história de amor


Por Helder Moraes Miranda, jornalista e crítico de cultura, especial para o portal Resenhando.com.

Há quem diga que "Ponyo: uma Amizade que Veio do Mar" seja apenas a versão japonesa do conto de "A Pequena Sereia", de Hans Christian Andersen. Mas reduzir o filme de Hayao Miyazaki a isso é ignorar o que pulsa na tela: um mergulho no imaginário nipônico, no poder da amizade infantil e na própria consciência ecológica de um país que vive entre o mar e o concreto. Ponyo, a peixinha de rosto humano que sente uma afeição espontânea e imediata pelo menino Sosuke, não é apenas sobre uma sereia que deseja ser menina, mas sobre alguém que é um símbolo da transformação e da delicadeza que atravessa fronteiras entre vida e morte, humano e natureza.

O que encanta em Ponyo é a forma como Miyazaki subverte a ideia clássica da sereia que abre mão de tudo para conquistar o amor. Não há sacrifício romântico, nem dor melodramática. O que existe é afeto genuíno entre duas crianças que se reconhecem no olhar e nos gestos, como se a amizade fosse o pacto mais forte e revolucionário possível. O oceano, os ventos, a lua cheia - todos parecem reagir a esse encontro, como se a natureza fosse personagem e testemunha ao mesmo tempo. É nesse detalhe que o filme se distancia do ocidente e se aproxima do pensamento japonês: não existe separação entre humano e ambiente, apenas o fluxo contínuo da vida.

Visualmente, o filme é um banquete. As ondas que se levantam como criaturas vivas, as cores aquáticas que se transformam em espetáculo pictórico, a simplicidade do traço que esconde uma profundidade quase filosófica - tudo reforça a ideia de que Miyazaki pinta o mar como se fosse memória e sonho ao mesmo tempo. E, como todo sonho, há algo de inquietante. A transformação de Ponyo pode ser lida como a celebração da vida, mas também como lembrança da fragilidade da própria existência.

O pai da protagonista é um capítulo à parte. O figurino, os trejeitos e a aura andrógina dele lembram David Bowie na fase camaleônica, mas também evocam as vilanias espalhafatosas das rivais do desenho animado "Jem e as Hologramas". É uma mistura improvável que só Miyazaki ousaria colocar no coração de uma fábula para crianças. O resultado é uma figura que fascina e estranha ao mesmo tempo, uma autoridade deslocada, quase caricata, mas que ajuda a reforçar o tom de conto de fadas moderno.

"Ponyo", exibido agora no Ghibli Fest 2025, no Cineflix Santos, é mais do que um clássico revisitado. É uma fábula sobre amizade verdadeira e responsabilidade ambiental, mas sem lições de moral. Miyazaki não entrega respostas prontas, apenas imagens que se fixam como memórias de infância. E talvez esteja aí o segredo: em tempos em que buscamos explicações para tudo, ele nos lembra que acreditar no improvável - como uma menina-peixe que corre sobre as ondas - pode ser capaz de promover milagres.


Ghibli Fest no Cinfelix Santos
Até dia 1º de outubro, os fãs da animação japonesa terão a oportunidade de revisitar alguns dos maiores sucessos do Studio Ghibli, em uma mostra especial que celebra os 40 anos do estúdio. O evento, batizado de Ghibli Fest, reúne 22 longas-metragens que marcaram gerações, em sessões que prometem transportar o público para universos de fantasia, delicadeza e crítica social. O Cineflix Miramar, em Santos, está entre os cinemas que irá exibir os longas-metragens.

Entre os títulos que compõem a programação estão obras consagradas como "A Viagem de Chihiro", vencedor do Oscar de Melhor Animação em 2003, "Meu Amigo Totoro", um dos símbolos mais reconhecíveis da cultura pop japonesa, e "Princesa Mononoke", marco da carreira de Hayao Miyazaki por sua abordagem madura e ecológica. Filmes como "O Castelo Animado", "O Serviço de Entregas da Kiki", "Ponyo e Túmulo dos Vagalumes" também estão confirmados, formando um panorama da sensibilidade e da força criativa que tornaram o estúdio uma referência mundial.

Fundado em 1985 por Hayao Miyazaki, Isao Takahata e Toshio Suzuki, o Studio Ghibli construiu uma filmografia que alia poesia visual, personagens memoráveis e narrativas atemporais. O Ghibli Fest não só homenageia essas quatro décadas de produção, como também oferece a chance de uma nova geração conhecer os clássicos na tela grande. 

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As principais estreias da semana e os melhores filmes em cartaz podem ser assistidos na rede Cineflix CinemasPara acompanhar as novidades da Cineflix mais perto de você, acesse a programação completa da sua cidade no app ou site a partir deste link. No litoral de São Paulo, as estreias dos filmes acontecem no Cineflix Santos, que fica no Miramar Shopping, à rua Euclides da Cunha, 21, no Gonzaga. Consulta de programação e compra de ingressos neste link: https://vendaonline.cineflix.com.br/cinema/SANO Resenhando.com é parceiro da rede Cineflix Cinemas desde 2021.

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