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sábado, 25 de outubro de 2025

.: Crítica: musical "Homem com H" reza o evangelho segundo Ney Matogrosso


Por 
Helder Moraes Miranda, jornalista e crítico de cultura, especial para o portal Resenhando.com. Foto: Adriano Doria

Alguns musicais nascem de uma ideia; outros, do fogo. “Ney Matogrosso - Homem com H” é dos que ardem e iluminam. A montagem da Paris Cultural, em cartaz no Teatro Porto até dia 7 de dezembro, não apenas homenageia um artista: celebra uma entidade em vida. Ney é invocado. O palco vira altar e arena, corpo e ferida, em um ritual em que o sagrado e o profano se misturam até perderem fronteira. Entre biografia musicada, liturgia do escândalo e exorcismo contra a caretice, o espetáculo vem lotando plateias e reafirmando o poder de quem transforma a própria existência em arte.

No palco, Renan Mattos é um corpo em combustão, em que arte, dor, prazer e liberdade se confundem. Nesse papel, ele está em estado de graça: o Ney Matogrosso que renasce em cena não é cópia, mas epifania. Há algo de místico no modo como o ator acende o palco - cada nota entoada por ele soa como oração pagã e os gestos dele se impõem como sacramento profano. Nesse espetáculo, o corpo do protagonista torna-se instrumento de fé e transgressão, a serviço de uma história que emerge da coragem de existir. É raro ver entrega assim, tão absoluta que parece abolir o limite entre ator e personagem, carne e mito. 

Renan Mattos canaliza o espírito de Ney Matogrosso como quem ergue um orixá: com respeito, intensidade e vertigem. Do menino tímido de Mato Grosso ao ícone que enfrentou a ditadura com o corpo nu e a voz em brasa; do amante que amou outro homem ao artista que reinventou o amor pelo pai e pela mãe; da sombra da Aids, quando tantos se apagaram, à luz de Cazuza, que começa como amante e termina como companheiro de fé. O espetáculo agrega tudo isso e faz da memória um espaço de comunhão. Cada canção é uma oferenda - não ao passado, mas ao que sobrevive dele, e também ao que restará de todos nós.

A encenação de Marilia Toledo e Fernanda Chamma é de uma inteligência cênica que não se rende ao deslumbramento. É grandiosa, mas não se perde na pirotecnia; é teatral, mas sem afetação. As diretoras compreendem que Ney é, por natureza, uma missa herética - e o espetáculo se estrutura como tal. O público assiste às transformações de figurino e maquiagem em cena como quem testemunha um milagre. Há algo de rito iniciático em ver o ator se pintar, despir-se, erguer-se e se reerguer diante de tantas camadas de si mesmo.

O texto costura vida e mito com ecos de Eduardo Galeano, autor de “As Veias Abertas da América Latina”. O Ney de “Homem com H”, intérprete de “Sangue Latino”, canta sem pudores  e sem reservas as veias expostas, as cicatrizes que não cicatrizam e o erotismo que resiste à moral. A trilha musical, conduzida por Daniel Rocha, é outro acerto. As canções - de “Pro Dia Nascer Feliz” a “Poema”, redescoberta no TikTok - reacendem o fogo de uma época que tentou ser silenciada e acabou virando mito. 

O musical entende que Ney nunca foi um sobrevivente, mas um transfigurador contrário à cultura do mais fácil. O figurino, as luzes e o uso do corpo coletivo do elenco convergem para um estado de celebração. “Homem com H” não se contenta em ser um retrato de uma biografia bem-sucedida: é uma experiência. Ney é o santo laico de uma geração que aprendeu que resistir também é um gesto estético. O espetáculo entende isso com devoção e insolência. É um musical que poderia se acomodar na reverência, mas prefere o risco de despertar a vontade de viver, mesmo quando o mundo insiste em morrer aos poucos. E é por isso que não é triste, mas profundamente vivo. "Homem com H" celebra um homem que caiu muitas vezes e, em todas elas, levantou-se maquiado, luminoso, inteiro, selvagem, livre e humano.


Musical "Ney Matogrosso - Homem com H"

Ficha técnica
Texto: Marilia Toledo e Emílio Boechat
Direção: Fernanda Chamma e Marilia Toledo
Coreografia: Fernanda Chamma
Direção musical: Daniel Rocha
Cenografia: Carmem Guerra
Figurinos: Michelly X
Visagismo: Edgar Cardoso
Desenho de som: Eduardo Pinheiro
Desenho de luz: Fran Barros & Tulio Pezzoni
Preparação vocal: Andréia Vitfer
Realização: Paris Cultural
Patrocínio: Porto Seguro
Produção geral: Paris Cultural

Elenco
Renan Mattos - Ney
Bruno Boer - Ney Cover
Vinícius Loyola e Pedro Arrais - Cazuza, Tonho, Cláudio Tovar e Romildo
Giselle Lima - Beíta, Renate Beija-Flor e Sandra Pera
Hellen de Castro - Rita Lee, Sylvia Orthof, Gilda e Yara Neiva
Enrico Verta - Gerson Conrad, Eugênio, André Midani e Frejat
Abner Debret - Vicente Pereira e Vitor Martins
Matheus Paiva - João Ricardo, Nilton Travesso e Marco de Maria
Dante Paccola - Ney Jovem, Mazzola e Paulnho Mendonça
Maria Clara Manesco - Luli, Lidoka e Fã
Tatiana Toyota - Elvira, Rosinha de Valença
Léo Rommano - Titinho, Moracy do Val, Luiz Fernando Guimarães e Arthur Moreira Lima
Ju Romano - Lena, Regina Chaves
Maurício Reducino – Ensemble
Valffred Souza - Ensemble
Vitor Vieira – Matogrosso e Guilherme Araújo
Oscar Fabião – Dódi e Grey

Banda
Teclado 1 e Regência - Rodrigo Bartsch
Teclado 2 e sub de Regência - Renan Achar
Bateria e percussão - Kiko Andrioli
Trombone, trompete, flugel - Renato Farias
Baixo elétrico, acústico e violão - Eduardo Brasil
Reed (sax tenor, clarinete, clarone, flauta) - Tico Marcio

Serviço
Temporada: 19 de setembro a 7 de dezembro de 2025
Sessões: sextas e sábados às 20h e domingos às 17h.
Duração do espetáculo: 3h (com 15 minutos de intervalo)

Ingressos
Plateia R$ 250,00
Balcão e frisa R$ 200,00
Preço Popular*: 50,00  *Obs. O ingresso PREÇO POPULAR é válido para todos os clientes e segue o plano de democratização da Lei Rouanet e está sujeito à cota estabelecida por Lei para este valor. O comprovante para compras ao valor de meia entrada é obrigatório e deverá ser apresentado na entrada do espetáculo.

Teatro Porto
Al. Barão de Piracicaba, 740 – Campos Elíseos – São Paulo.
Telefone (11) 3366.8700
Capacidade: 508 lugares.
Acessibilidade: 10 lugares para cadeirantes e 5 cadeiras para obesos.
Estacionamento no local: Gratuito para clientes do Teatro Porto.

O Teatro Porto oferece a seus clientes uma van gratuita partindo da Estação da Luz em direção ao prédio do teatro. O local de partida é na saída da estação, na Rua José Paulino/Praça da Luz. No trajeto de volta, a circulação é de até 30 minutos após o término da apresentação. E possui estacionamento gratuito para clientes do teatro.

sábado, 13 de setembro de 2025

.: “Uma Semana, Nada Mais” escancara o amor líquido com humor e inteligência


Por 
Helder Moraes Miranda, jornalista e crítico de cultura, especial para o portal Resenhando.com. Foto: Caio Gallucci
 

O palco do Teatro Uol abre espaço para uma comédia que, sob a leveza do riso, desnuda as contradições das relações contemporâneas. "Uma Semana, Nada Mais", versão brasileira da peça francesa de Clément Michel, dirigida por João Fonseca, é daquelas montagens que parecem conversar diretamente com o diagnóstico de Zygmunt Bauman sobre o amor líquido: vínculos frágeis, sujeitos que evitam o confronto e afetos que se desmancham ao menor sinal de turbulência.

Na trama, Pablo (Leandro Luna) arma um plano mirabolante para terminar o namoro: chama o melhor amigo, Martín (Beto Schultz), para morar com ele e Sofia (Sophia Abrahão) durante uma semana, na esperança de que a convivência insuportável provoque a separação. O que poderia ser apenas um pretexto para o humor físico e os mal-entendidos típicos da comédia de costumes acaba se transformando em um cenário incômodo, no qual o público ri e se vê diante de uma realidade brutal.

O elenco está afiado. Luna e Schultz formam uma dupla carismática, com excelente timing para o jogo cômico. É Beto Schultz, porém, quem merece um destaque especial: seu Martín é o catalisador das reviravoltas e o responsável pelas gargalhadas mais espontâneas da plateia. Sophia Abrahão, por sua vez, vai muito além da doçura inicial que sua personagem sugere. A Sofia interpretada por ela é uma mulher que, enquanto lida com a busca por trabalho e realizações pessoais, tenta manter em pé uma relação que desmorona diante da falta de diálogo com o homem com quem divide a casa.

Essa inversão - a mulher que age de modo prático e objetivo diante de dois homens perdidos em suas subjetividades - dá à peça uma camada crítica que a aproxima não só das reflexões de Bauman, mas também de Milan Kundera, em "A Insustentável Leveza do Ser". Afinal, o que pesa mais: o compromisso ou a liberdade? O riso, aqui, funciona como a superfície brilhante de uma pergunta muito mais densa.

Há momentos em que o espetáculo parece um filme francês transportado para o palco brasileiro: diálogos rápidos, dilemas sentimentais e uma atmosfera que mistura leveza e melancolia. João Fonseca acerta ao evitar exageros, deixando que a comicidade surja do desconforto natural das situações. A tradução de Priscilla Squeff, ajustada ao ritmo brasileiro, garante que o humor mantenha frescor sem perder a universalidade do texto original. "Uma Semana, Nada Mais" é, no fundo, sobre aquilo que todos já experimentaram: a dificuldade de comunicar o que se sente, o medo de perder e, paradoxalmente, a pressa em encerrar vínculos sem medir as consequências. 


Serviço
"Uma Semana, Nada Mais"
De 6 de setembro a 26 de outubro, sábados e domingos às 18h00
Teatro Uol – Shopping Pátio Higienópolis, São Paulo
Ingressos: R$ 100 (inteira) / R$ 50 (meia)

.: "Drácula: um Terror de Comédia" é um clássico extremamente debochado


Por 
Helder Moraes Miranda, jornalista e crítico de cultura, especial para o portal Resenhando.com. Foto: divulgação

Extremamente debochado e misturando o pop e o cult, o espetáculo "Drácula - Um Terror de Comédia" já chega aos palcos brasileiros com ares de clássico, mesmo sem ter essa intenção. A montagem, que estreou no Teatro Bravos, em São Paulo, e segue até dia 12 de outubro, é uma das produções mais inventivas e bem-acabadas dos últimos tempos, equilibrando humor inteligente, irreverência, sagacidade e um visual de tirar o fôlego. É teatro de primeira grandeza, desses que conquistam pelo riso, pelo cuidado e pelo talento dos artistas envolvidos.

Se Tiago Abravanel assume o papel do conde mais famoso da literatura com fina ironia e um gosto evidente pela liberdade que o teatro proporciona a ele, o elenco ao redor se revela uma engrenagem preciosa e muito bem escolhida. Abravanel poderia ter se acomodado na televisão, mas o palco parece ser o lugar em que ele se reinventa com mais força - e esse Drácula é, sem dúvida, libertador para ele.

O espetáculo também consagra Ludmillah Anjos como um grande nome dos musicais. Dona de uma trajetória construída tijolo por tijolo desde a visibilidade que ganhou no talent show em que estreou, ela mostra, mais uma vez, toda a versatilidade que tem e confirma que chegou ao patamar das estrelas, sem precisar provar mais nada a ninguém. Bruna Guerin, por sua vez, entrega uma mocinha nada óbvia, cheia de nuances, em um papel à altura da carreira sólida que construiu no teatro com espetáculos como "Natasha, Pierre e o Grande Cometa de 1812" e a própria Janet de "Rock Horror Show", que claramente é uma das fontes de inspiração dessa nova montagem de "Drácula".

Lindsay Paulino, na pele de Mina, também brilha. Além de provocar gargalhadas certeiras, ele capta todos os olhares para si, em um jogo de cena em que aparece bem à vontade. Visualmente deslumbrante, com uma trilha sonora moderna irresistível, "Drácula - Um Terror de Comédia" é esperto, sacaninha, sagaz, e inteligente sem jamais soar petulante e sem ter a pretensão de ser um novo clássico, mesmo já sendo. Um espetáculo memorável, daqueles que fazem rir, pensar e aplaudir de pé.


Serviço
"Drácula - Um Terror de Comédia"

Local: Teatro Bravos – Rua Corifeu de Azevedo Marques, 200 – São Paulo/SP
Temporada: até dia 12 de outubro de 2025
Horários: sextas, às 20h00; sábados, às 17h00 e 20h00; domingos, às 18h00
Ingressos: disponíveis na bilheteria do teatro e pelo site Sympla
Classificação etária: 12 anos

sábado, 23 de agosto de 2025

.: Crítica: “Memórias do Vinho”: duelo de talentos transforma palco em brinde


Por 
Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com. Foto: Roberto Setton

Em cartaz até dia 28 de setembro no Teatro Renaissance, o espetáculo “Memórias do Vinho” reúne diversas discussões em uma mesma taça. Com texto inédito de Jandira Martini - escrito em parceria com Maurício Guilherme e finalizado pouco antes da partida dela em 2024 - e direção precisa e sensível de Elias Andreato, a peça segue com as últimas apresentações com Herson Capri e Caio Blat em um verdadeiro duelo de talentos.

O enredo parece simples: pai e filho, distantes há anos, em um reencontro por necessidade. No entanto, a adega do patriarca, repleta de garrafas raras e um diário secreto de vinhos, abre espaço para revelações, mágoas não-verbalizadas e lembranças engarrafadas pelo tempo. No espetáculo, o vinho não é apenas bebida, mas metáfora da memória, do envelhecimento e do que se guarda, às vezes com zelo, às vezes por egoísmo. É justamente nessa simbologia que o espetáculo cresce.

A narrativa, que poderia descambar para o ressentimento, é transformada em uma crônica delicada sobre a passagem do tempo, a carência afetiva e a mágica de celebrar a vida em família, mesmo quando nunca se fala o que se tem a dizer. Herson Capri imprime a maturidade de quem coleciona experiências como quem coleciona rótulos raros; Blat, por sua vez, entrega a intensidade da juventude frustrada, mas ainda capaz de sonhar. O jogo de cena é bonito de se ver: não há vaidade, há partilha. Os dois passam a bola, provocam-se e se escutam - como se o palco fosse também uma mesa de jantar em que o brinde só faz sentido se for coletivo.

Elias Andreato conduz com a sobriedade de quem sabe que menos é mais. O cenário de Rebeca Oliveira é elegante sem exageros, deixando que os atores e o texto sejam a principal safra da noite. A iluminação de Cleber Eli contribui para a atmosfera intimista, quase etílica, em que o público se vê cúmplice daquele acerto de contas. “Memórias do Vinho” é um espetáculo agradável como um bom gole: provoca sorrisos, aquece a alma e convida à reflexão. Mais do que a história de um pai e um filho, é um brinde ao que fica - o amor, os gestos, os vínculos. No final, a peça deixa no ar uma pergunta saborosa: o que guardamos em nossas próprias adegas de lembranças? Nesse caso, cabe levantar a taça e brindar: à vida, ao vinho e ao teatro.

Ficha técnica
Espetáculo "Memórias do Vinho"
Autores: Jandira Martini e Maurício Guilherme
Direção: Elias Andreato
Assistente de direção: Rodrigo Frampton
Cenário: Rebeca Oliveira
Contrarregra: Tico (Agilson dos Santos)
Figurino: Mari Chileni
Camareira: Gisele Pereira
Iluminação: Cleber Eli
Operação de luz: Ian Bessa
Operação de som: Eder Soares
Trilha: Elias Andreato
Fotos: Nana Moraes
Design e identidade visual: Rodolfo Rezende / Estúdio Tostex
Assessoria de imprensa: Pombo Correio
Produção Executiva: Elisangela Monteiro
Direção de produção: Fernando Cardoso e Roberto Monteiro
Realização: Mesa2 Produções


Serviço
Espetáculo "Memórias do Vinho", de Jandira Martini e Maurício Guilherme
Temporada: de 5 a 27 de julho - sábados, às 21h00, e domingos, às 19h00
Teatro Renaissance - Alameda Santos, 2233 - Jardim Paulista / São Paulo
Ingressos: R$ 150,00 (inteira), R$ 75,00 (meia-entrada)
Lotação: 432 lugares
Venda on-line pelo Sampa Ingressos: www.sampaingressos.com.br
Bilheteria (sem taxa de conveniência): aberta 2 horas antes das sessões.
Classificação: 12 anos
Duração: 70 minutos
Capacidade: 432 lugares
Acessibilidade: Teatro é acessível a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida
Bilheteria (sem taxa de conveniência): aberta de sexta a domingo a partir das 14h até o início do espetáculo.
Acessibilidade: o teatro comporta 432 pessoas, sendo 412 poltronas numeradas e oito espaços para cadeirantes. Dentre os 412 lugares fixos, há oito poltronas “Assentos Obeso” e outras oito poltronas para deficientes visuais com espaço reservado para o cão guia.
* O comprovante de meia-entrada deverá ser apresentado na entrada do espetáculo.

sábado, 19 de julho de 2025

.: “A Mulher da Van” ou a sublime arte de não pedir licença, nem desculpas


Por 
Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com. Foto: Priscila Prade

Nathalia Timberg vai além da tarefa de atuar. Ela assombra. E, em "A Mulher da Van", ela retorna não como quem impõe presença, mas como quem finca uma bandeira no tempo e declara: “Estive aqui. E ainda estou”. Aos 96 anos, a Mary Shepherd dela não é somente uma personagem: é um meteoro encardido de humanidade atravessando o palco com odor de mofo e dignidade, acidez e ternura, malcriação e mistério. Tudo ao mesmo tempo. E melhor: sem pedir a opinião alheia sobre isso. É um exemplo para quem ainda se preocupa com a opinião dos outros.

Baseada no texto autobiográfico de Alan Bennett, adaptado com elegância por Clara Carvalho e conduzida com muita sensibilidade por Ricardo Grasson, a montagem brasileira assume o risco do desencaixe. Não tenta agradar, não se curva ao politicamente correto, tampouco oferece um consolo higienizado para o envelhecimento - ela o escancara, sem filtros ou nenhum tipo de botox narrativo.

Timberg encena uma mulher amarga e, às vezes, mal-agradecida com uma grandeza que beira o indecente. É a atriz em sua forma mais crua, esculpindo silêncios, vociferando feridas, desviando do sentimentalismo fácil com a precisão de quem conhece a anatomia da emoção por dentro. A atuação dela é tão pungente que desidrata o texto e o transforma em gesto, em presença viva, em legado performático. Mas ela não está sozinha nessa empreitada existencial. 

Caco Ciocler entrega um Alan comovente e sem vaidade. É doce, mas também melancólico. Já Nilton Bicudo, ao dividir o personagem com Ciocler, protagoniza uma rara parceria:  juntos, eles tecem uma coreografia afetiva que revela o jogo de espelhos e vozes internas do escritor/personagem, um homem partido entre o acolhimento e a culpa. Juntos, os dois dançam um balé emocional em que o ego se dilui para dar espaço ao outro.

Lilian Blanc, por sua vez, aparece com seu selo habitual de encantamento cênico - é como um bom perfume: não precisa de mais do que uma borrifada para deixar a própria marca. Roberto Arduin mostra sua versatilidade camaleônica ao saltar entre personagens com a leveza de quem sabe que o teatro é, antes de tudo, transformação. E o restante do elenco, formado por nomes como Noemi Marinho, Cléo De Páris, Duda Mamberti e Lara Córdulla, forma uma engrenagem rara: coesa, pulsante e generosa. Ninguém se atropela - todos se erguem para o exato momento em que cada um brilha.

A encenação de Grasson constrói um universo que não pede explicações: a van vira casa, o lar vira prisão, a rua vira espelho. Tudo transita entre o cômico e o trágico com a fluidez de um sonho. A direção é, ao mesmo tempo, respeitosa com o texto e atrevida com a forma. Talvez daí resida o maior acerto dessa produção. O público sai transformado? Talvez. Mas sai, no mínimo, cutucado - e isso já é mais do que se espera da maioria dos espetáculos. Porque o teatro, como bem sabe Nathalia Timberg, não existe para fazer carinho no espectador, mas para deixá-lo acordado. E, se possível, ligeiramente desconfortável.

“A Mulher da Van” é uma peça sobre o tempo. Mas não o tempo como calendário ou sentença - o tempo como abismo e bênção. Semelhante àquilo que escapa e, ainda assim, encaixa na vida do outro como algo que já não descola. É também uma fábula sobre encontros improváveis, sobre o cuidado que damos a estranhos enquanto negligenciamos os íntimos, sobre a beleza caótica da convivência. E é, sobretudo, uma carta de amor à arte de envelhecer com selvageria, e não com docilidade.


Ficha técnica
Espetáculo "A Mulher da Van"
Texto: Alan Bennett
Tradução: Clara Carvalho
Idealização: Nosso Cultural
Direção geral: Ricardo Grasson
Assistente de direção: Heitor Garcia
Elenco: Nathalia Timberg, Caco Ciocler, Nilton Bicudo, Noemi Marinho, Duda Mamberti, Lilian Blanc, Roberto Arduin, Cléo De Páris e Lara Córdulla.
Cenário: Cesar Costa
Desenho de luz: Cesar Pivetti
Trilha sonora e desenho de som: LP Daniel
Figurino: Marichilene Artisevskis
Visagismo: Simone Momo
Assistente de cena: Ligia Fonseca
Camareira: Beth Chagas
Diretor de palco: Victor Ribeiro
Contrarregra: JP Franco
Coordenação de comunicação: André Massa
Comunicação visual e animação: Kelson Spalato
Redes sociais: Gatu Filmes / Gabriel Metzner e Arthur Bronzatto
Estratégia digital: Motisuki PR / Régis Motisuki e Matheus Resende
Fotografia: Priscila Prade
Assessoria de imprensa: Pombo Correio
Direção de produção: Marco Griesi
Coordenação de produção: Bia Izar
Produção executiva: Diogo Pasquim e Tame Louise
Produção geral: Palco7 Produções


Serviço
Espetáculo "A Mulher da Van"
De 4 de julho a 3 de agosto de 2025
Sextas, às 21h00. Sábados, das 17h00 e 21h00. Domingos, às 18h00.
Teatro Bravos - Rua Coropé, 88 - Pinheiros / São Paulo
Ingressos: Plateia Premium - R$ 200,00 (inteira) I R$ 100,00 (meia). Plateia Inferior - R$ 160,00 (inteira) I R$ 80,00 (meia). Mezanino - R$ 120,00 (inteira) i R$ 60,00 (meia). Vendas: https://bileto.sympla.com.br/event/106647.
Classificação: 12 anos.
Duração: 100 minutos.
Capacidade: 611 lugares.
Acessibilidade: teatro acessível a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida.

quinta-feira, 10 de julho de 2025

.: Crítica: musical “Wicked” desafia a gravidade e as expectativas


Por 
Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com. Foto: divulgação/Jairo Goldflus

Existe um momento em que o teatro deixa de ser teatro e passa a ser transcendência, em que a arte deixa de apenas entreter e começa a transformar. “Wicked - A História Não Contada das Bruxas de Oz”, em cartaz no Teatro Renault, é exatamente isso: um salto entre o bom e o inesquecível. E se a palavra “clássico” já pairava sobre essa história nascida nos palcos da Broadway, o que se vê na terceira montagem brasileira é o nascimento de um novo patamar para o teatro musical no país.

Myra Ruiz não interpreta Elphaba - ela É Elphaba. E isso não é apenas um elogio, é um aviso. Prepare-se para testemunhar uma entrega artística de tirar o fôlego, que combina técnica vocal absurda, presença cênica hipnótica e uma força emocional que faz tremer a poltrona. Ver Myra “voar” - literalmente e metaforicamente - enquanto canta “Desafiando a Gravidade” é uma experiência de se guardar talismã verde-esmeralda. Em uma era de performances cada vez mais plastificadas, ela entrega verdade.

Bel Barros, como Glinda, na apresentação que substituiu Fabi Bang, encontra o tom exato entre o carisma solar e a frivolidade encantadora da bruxa boa. A química com Myra é mais do que uma parceria: é a prova de que antagonismos podem gerar beleza. Já Luisa Bresser, como Nessarose, mostra um domínio emocional raro para tanta juventude. A transição da atriz, de doce para amarga, é digna de nota - e, se o futuro da dramaturgia musical brasileira precisa de representantes, ela certamente já está convocada.

Hipólyto, como Fiyero, encontra mais um papel que o desafia e o valoriza. O Fiyero interpretado por ele tem charme, mas também tem camadas - algo raro nesse tipo de papel. E Cleto Baccic, como sempre, é a cereja do bolo: o Mágico de Oz dele destila cinismo com vulnerabilidade, lembrando a todos os espectadores que até o poder pode ser patético. Há algo que diferencia esta montagem das anteriores: ela ouve o tempo. 

Sob a direção de Ronny Dutra e com novos figurinos, efeitos visuais e sistemas de voo que parecem saídos de uma ficção científica glamurosa, o espetáculo conecta-se às angústias e urgências do presente. A mensagem de resistência, identidade e amizade feminina não poderia ser mais atual. “Wicked” não é apenas um musical: é uma alegoria queer, um manifesto feminista, uma crítica às narrativas oficiais. Tudo isso embalado em luz verde e rosa, plumas, vassouras e canções que colam na alma.

Além disso, o projeto extrapola os limites do palco. O leilão de figurinos em prol do GIV, as ações durante o Mês do Orgulho LGBTQIAPN+ e a participação ativa do elenco em iniciativas sociais mostram que esta produção entende o que significa “teatro vivo”. Se o teatro é um espelho, “Wicked” é aquele espelho mágico que nos mostra não só quem somos, mas quem podemos ser.

E que prazer vê-lo em cartaz justamente agora, quando a cultura brasileira parece, mais do que nunca, precisar de esperança, de empatia e de um pouco de feitiçaria também. Não é novidade que "Wicked" sempre será o melhor espetáculo do ano em todas as vezes em que estiver em cartaz. Mas, sem qualquer exagero, também é o melhor espetáculo que você terá a honra de assistir em toda a sua vida.


Serviço
"Wicked - A História Não Contada das Bruxas de Oz"
Quartas, quintas e sextas-feiras, às 20h00. Sábados e domingos, às 15h00 e às 19h30.
Teatro Renault - Av. Brigadeiro Luís Antônio, 411 - República/São Paulo.
Bilheteria oficial no Teatro Renault (sem taxa de conveniência): de terça a domingo, das 12h00 às 20h00 (exceto feriados). Site e app Ticket For Fun: ticketsforfun.com.br.
Temporada estendida até 10 de agosto de 2025.

domingo, 11 de maio de 2025

.: Crítica: "Rita Lee: Uma Autobiografia Musical" é um acontecimento histórico


Por 
Helder Moraes Miranda, editor do portal Resenhando.com. Foto: João Caldas F.º

Há espetáculos bons. Há espetáculos necessários. E há aqueles que, como um disco voador, tornam-se acontecimentos culturais inesquecíveis. "Rita Lee - Uma Autobiografia Musical", em cartaz até 15 de junho no Teatro Porto, é tudo isso e mais um pouco: é o melhor musical brasileiro em cartaz atualmente. Com direção precisa de Marcio Macena e Débora Dubois, roteiro de Guilherme Samora e direção musical de Marco França e Marcio Guimarães, o espetáculo transcende a homenagem biográfica e se transforma em um verdadeiro ritual de celebração da liberdade, da arte e da resistência. A vida de Rita Lee, tão rica em camadas, escândalos, poemas e ousadias, é contada com a mesma honestidade escancarada que fez do livro autobiográfico da cantora um marco editorial.

No centro disso tudo está Mel Lisboa, em um desempenho arrebatador que já lhe valeu o Prêmio Shell de Melhor Atriz - reconhecimento merecido e insuficiente diante da imensidão do que ela entrega no palco. Por vezes, o que se vê é tão potente que esquecemos que Mel Lisboa é Mel Lisboa. Ela se dilui completamente na persona de Rita Lee, tornando-se um big bang cênico: mística, explosiva, hecatômbica, avassaladora. A atriz, que já foi uma fã obsessiva em "Misery", esotérica em Helena Blavatsky e trágica em "Dogville", mais uma vez se reinventa - talvez como nunca - ao dar corpo, alma e voz a Rita Lee. Mais do que desfiar hits, ela encarna o espírito de uma época, passando o Brasil a limpo, especialmente em um momento em que o conservadorismo e os fantasmas da repressão parecem rondar novamente.

A montagem não poupa o espectador de emoção nem de crítica - Rita Lee não é retratada como santa, algo que nem ela gostaria. O texto resgata momentos cruciais da trajetória da artista que vão desde a infância ao Mutantes, do romance com Roberto de Carvalho à prisão durante a ditadura, do ativismo pelos animais à consagração como a maior vendedora de discos do país. Tudo é contado com irreverência e afeto, em um ritmo que costura música, memória e política com rara inteligência - e que não deixa o espectador perceber que o tempo está passando.

Outro destaque nesse mar de cultura é Fabiano Augusto, que surpreende o público ao se despir completamente da imagem de garoto-propaganda para entregar um Ney Matogrosso visceral, sensível e perfeitamente crível. É um momento de redenção artística que precisa ser aplaudido de pé - como tantas vezes acontece durante o espetáculo.

O elenco de apoio brilha em conjunto, trazendo à cena nomes marcantes da cultura nacional como Elis Regina, Gal Costa, Raul Seixas e Hebe Camargo com dignidade e presença cênica. Mas tudo orbita em torno da força gravitacional de Rita Lee - e de Mel Lisboa, que se consagra de vez como o nome artístico de sua geração. Como a própria Rita disse, e é repetido no espetáculo em alto e bom som, "seu maior feito foi fazer as pessoas felizes". E é isso que "Rita Lee - Uma Autobiografia Musical" faz: coloca o público para sorrir, cantar, chorar e dançar, como em um show de rock'n roll, mas também para pensar e se lembrar que liberdade, arte e coragem ainda são atos revolucionários.

"Rita Lee - Uma Autobiografia Musical" não é apenas um espetáculo. É um espelho do Brasil que fomos, somos e ainda podemos ser. Vá enquanto há tempo - e leve sua "ovelha negra" interior com você para que ela, para não ficar por baixo, "coloque as asas para fora".

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domingo, 19 de janeiro de 2025

.: Crítica: "Sweeney Todd", um musical de humor ácido e atuações de outro mundo


Por 
Helder Moraes Miranda, editor do portal Resenhando.com. Foto: Stephan Solan.

Os amantes do teatro musical têm um motivo especial para celebrar: o retorno triunfante de "Sweeney Todd - O Cruel Barbeiro da Rua Fleet" aos palcos paulistanos. Inspirado na obra-prima de Stephen Sondheim, e com a direção sempre inspirada de Zé Henrique de Paula, o musical combina terror psicológico, humor ácido, romance e uma narrativa arrebatadora de vingança que tem encantado plateias ao redor do mundo desde a estreia na Broadway. 

Com uma produção impecável e elenco encabeçado por Saulo Vasconcelos e Andrezza Massei, a montagem brasileira resgata todo o brilho e intensidade dessa história sombria, porém surpreendentemente leve. Apresentado no palco do Teatro Santander em curta temporada, esse espetáculo é um convite para mergulhar no universo vitoriano de Benjamin Barker, um homem consumido pela sede de vingança, e de Dona Lovett, uma confeiteira que transforma o que é nojento em lucro.

Apresentado no Teatro Santander por apenas três semanas, inspirada no livro "O Colar de Pérolas", publicado em 1846 pelos escritores britânicos Thomas Peckett Prest e James Malcom Rymer, a montagem é uma celebração do teatro musical. Com elenco de primeira linha, orquestra ao vivo e uma história inesquecível, o espetáculo oferece uma experiência que emociona, diverte e deixa o público reflexivo. É a oportunidade perfeita para se encantar com performances arrebatadoras, canções marcantes e o equilíbrio entre o sombrio e o cômico. Listamos os dez motivos para você assistir "Sweeney Todd", espetáculo que envolve tortas, vingança e canções de arrepiar.


1. Saulo Vasconcelos como Sweeney Todd: um momento histórico
Saulo Vasconcelos é um dos maiores nomes do teatro musical brasileiro, com uma carreira que inclui protagonizar sucessos como "O Fantasma da Ópera", "Les Misérables" e "A Bela e a Fera". Depois de 25 anos de trajetória, ele finalmente assume o papel de Sweeney Todd, uma interpretação que sempre esteve na lista de sonhos do ator. Saulo domina o palco com presença poderosa e entrega uma performance visceral e emocionante que faz jus à complexidade do personagem. A atuação dele é a espinha dorsal do espetáculo e traduz o tormento interno de Todd, transformando-o em um dos papéis inesquecíveis na galeria de personagens interpretados pelo ator.

2. Andrezza Massei: a alma de Dona Lovett
Nenhuma atriz no Brasil poderia dar vida a Dona Lovett com tanta perfeição quanto Andrezza Massei. Premiada pela entrega que sempre faz em montagens anteriores, Massei equilibra a personalidade excêntrica e oportunista de Lovett com uma vulnerabilidade comovente. Ela domina tanto os momentos cômicos quanto os mais sombrios, criando uma personagem complexa e irresistível. O público ri e se encanta com a brilhante performance da atriz, que é um dos pilares desta montagem.


3. Mateus Ribeiro em um desafio transformador
Conhecido por papéis icônicos como Peter Pan, Bob Esponja e o mexicano Chaves, Mateus Ribeiro agora encara Tobias Ragg, o papel mais desafiador da carreira. Tobias é um jovem cheio de camadas emocionais, oscilando entre a inocência e os traumas que carrega. A entrega de Mateus é comovente, a voz, impecável, e a capacidade de expressar a fragilidade e a intensidade do personagem tornam as cenas que envolvem o ator um dos pontos altos do espetáculo. Mateus Ribeiro cativa o público em cada cena, demonstrando uma maturidade artística impressionante.


4. Romance e química inegável no meio do caos
O romance entre Anthony, vivido por Pedro Silveira, e Johanna, interpretada por Caru Truzzi, é uma luz de pureza em meio à narrativa sombria que se estabelece em todo o espetáculo. Ambos trazem frescor ao musical, com atuações que transbordam emotividade e paixão. As vozes cristalinas e a química entre os personagens criam momentos de tirar o fôlego, transportando o público para um amor genuíno e esperançoso, mesmo em um cenário de tragédia e vingança.

5. Humor inteligente que equilibra o terror
Apesar de ser uma história densa e carregada de tragédia, "Sweeney Todd - O Cruel Barbeiro da Rua Fleet" surpreende pela habilidade de arrancar risadas do público. O texto espirituoso de Stephen Sondheim ganha vida nas mãos da direção inspirada de Zé Henrique de Paula, o talentoso elenco, especialmente Pedro Navarro, que interpreta o hilariante Adolfo Pirelli. A performance cômica desse artista é um respiro necessário na narrativa e prova como o espetáculo mistura gêneros com maestria.


6. Rodrigo Mercadante: um vilão memorável
Como o cruel Juiz Turpin, Rodrigo Mercadante traz à vida um dos personagens mais desprezíveis e intrigantes da história. A performance dele transborda autoridade e malícia, criando um antagonista que provoca indignação no público. Ao lado de Davi Novaes, que interpreta Bedel Bamford com competência, Mercadante compõe uma dupla de vilões que dá força à trama.

7. Fabiana Tolentino: o magnetismo de um talento único
Fabiana Tolentino se destaca com uma presença magnética e irresistível em todos os espetáculos que atua. Em "Sweeney Todd - O Cruel Barbeiro da Rua Fleet", como ensemble, a energia em cena da atriz é inconfundível. É impressionante como ela capturando todos os olhares, mesmo quando não está em evidência, provando que sua contribuição é essencial para a grandiosidade de qualquer espetáculo. Ter Fabiana Tolentino em cena é um luxo - e sempre garantia de qualidade e impacto. Ou seja, um presente para o público.

8. Orquestra ao vivo: uma trilha inesquecível
A trilha sonora de "Sweeney Todd", composta pelo gênio Stephen Sondheim, é um espetáculo à parte. Com uma orquestra ao vivo composta por nove músicos, cada canção ganha ainda mais força e emoção. A direção musical de Fernanda Maia é precisa e eleva a experiência sonora a um patamar extraordinário, envolvendo o público em cada nota. Também contribui para que o espetáculo não fique cansativo em nenhum momento.


9. Produção brasileira de nível internacional
Essa montagem de "Sweeney Todd" é um exemplo do quanto o teatro musical brasileiro evoluiu nos últimos anos. Reconhecida com prêmios e aclamação da crítica, a produção combina figurinos luxuosos, cenários impressionantes e uma direção que respeita a essência da obra original, mas adiciona toques únicos e criativos. É uma demonstração do talento e da paixão dos profissionais brasileiros.


10. Uma história sombria, mas cheia de camadas emocionais
O equilíbrio entre o sombrio e o leve é uma das maiores qualidades de "Sweeney Todd - O Cruel Barbeiro da Rua Fleet". O musical mistura terror, comédia, drama e romance em uma narrativa que prende a atenção do público do início ao fim. O talento do elenco e a direção garantem que, mesmo com cenas intensas e temas pesados, o espetáculo seja divertido e envolvente.

Ficha técnica
"Sweeney Todd - O Cruel Barbeiro da Rua Fleet"

Criativos
Música e Letras: Stephen Sondheim
Libretto: Mark Wheeler
Direção geral: Zé Henrique de Paula
Versão e direção Musical: Fernanda Maia
Preparação de elenco: Inês Aranha
Assistência de direção e ensemble: Davi Tápias
Assistência de direção musical e preparação vocal: Rafa Miranda
Cenografia: Zé Henrique de Paula
Assistência de cenografia: Cesar Costa
Ilustrações: Renato Caetano
Figurino: João Pimenta
Assistência de figurino: Dani Kina
Equipe de figurino: Everton Monteiro (auxiliar de corte), Magna Almeida Neto (piloteira), Marcia Almeida (contramestra), Neide Brito (piloteira), Noel Alves (piloteiro) e Wesley Souza (pintura de tecidos)
Visagismo: Dhiego Durso e Feliciano San Roman (peruca Dona Lovett)
Design de luz: Fran Barros
Design de som: João Baracho, Fernando Akio Wada e Guilherme Ramos 


Elenco completo do espetáculo
Sweeney Todd - Saulo Vasconcelos
Dona Lovett - Andrezza Massei
Tobias Ragg - Mateus Ribeiro
Juiz Turpin -Rodrigo Mercadante
Anthony - Pedro Silveira
Johanna - Caru Truzzi
Bedel Bamford - Davi Novaes
Lucy Barker - Amanda Vicente
Adolfo Pirelli - Pedro Navarro
Ensemble - Bel Barros
Ensemble - Paulinho Ocanha
Ensemble - João Attuy
Ensemble - Fabiana Tolentino
Ensemble - Fred Silveira
Ensemble - Vanessa Espósito
Ensemble - Samir Alves

Músicos
Regência e piano: Fernanda Maia
Teclado: Rafa Miranda
Violino 1: Thiago Brisolla
Violino 2: Bruna Zenti
Violoncelo: Leonardo Salles
Contrabaixo: Pedro Macedo
Flauta transversal e flautim: Fábio Ferreira
Flauta e clarinete: Flávio Rubens
Oboé: André Massuia


Técnica
Camareira: Larissa Elis
Perucaria e maquiagem: Feliciano San Roman (Perucas).
Assistência e operação de iluminação: Tulio Pezzoni
Operação de som: Guilherme Ramos
Microfonista: Káthia Akemi
Direção de palco: Diego Machado
Assistência de direção de palco: Matheus França
Contrarregra: Leo Magrão
Cenotécnica: All Arte Cenografia (cortinas e cadeira da barbearia), Armazém, Cenográfico (forno e moedor de carne), Ateliê Thiago Audrá (tortas cênicas), Fabin, Cenografia (pintura de arte), T.C. Cine Cenografia (montagem)


Produção
Produção geral: Del Claro Produções
Gerente de produção: Douglas Costta
Produção executiva:  Laura Sciulli
Assistente de produção: Renato Braz
Financeiro / Administrativo: Pedro Donadio
Diretora comercial: Simone Carneiro
Criação e direção de arte: Gustavo Perrella
Assessoria de Imprensa: Agência Taga e Augusto Tortato
Redes sociais: Felipe Guimarães
Fotografia: Ale Catan e Stephan Solon
Realização: Del Claro Produções e Firma de Teatro


Serviço
"Sweeney Todd - O Cruel Barbeiro da Rua Fleet"
Sessões: curta temporada
Temporada de 9 a 26 de janeiro de 2025 

Quintas: 20h00
Sextas: 20h00
Sábados: 16h00 e 20h00
Domingos: 16h00 e 20h00
Local: Teatro Santander
Endereço: Complexo JK Iguatemi – Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 2041
Capacidade: 1.084 pessoas
Classificação Etária: 16 anos
Duração: 120 minutos (com intervalo de 15 minutos)
Gênero: Teatro Musical
Ingressos: de R$ 21,18 a R$ 300,00
Bilheteria on-line (com taxa de conveniência): https://bileto.sympla.com.br/event/98254/d/278337
Bilheteria física (sem taxa de conveniência): Teatro Santander. Horário de funcionamento: Todos os dias das 12h00 às 18h00. Em dias de espetáculos, a bilheteria permanece aberta até o início da apresentação. A bilheteria do Teatro Santander possui um totem de autoatendimento para compras de ingressos sem taxa de conveniência 24h por dia. Endereço: Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 2041.

Descontos
50% de desconto | Meia-entrada - 
Obrigatória a apresentação do documento previsto em lei que comprove a condição de beneficiário.

30% de desconto | Cliente Santander - Na compra de ingressos realizada por clientes Santander, limitado a 20% da lotação do teatro. Não cumulativo com meia­-entrada. Limitados a 02 (dois) ingressos por CPF. Esta compra deverá ser realizada com cartões do Banco Santander, para compras on-line somente o cartão de crédito Santander, compras na bilheteria e totem, o pagamento com o desconto poderá ser realizado em débito ou crédito. De acordo com o art. 38, inciso I, da Instrução Normativa nº 1, de 20/03/2017 e com base na Lei Federal nº 8.313 (Lei Rouanet) e Decreto nº 5.761, é proibido comercializar o produto cultural (ingressos) em condições diferentes para clientes Santander, das praticadas ao público em geral.

domingo, 8 de dezembro de 2024

.: Musical "Hairspray" deve ser indicado para amigos e inimigos. Saiba o porquê


Por 
Helder Moraes Miranda, editor do portal Resenhando.com. Fotos: João Caldas e Ricardo Brunini 

Um conselho eficaz, que pode servir tanto para amigos quanto para inimigos é: "Vá assistir 'Hairspray'". O espetáculo está nas suas últimas apresentações no Teatro Renault até dia 15 de dezembro - na próxima quinta e sexta-feira, às 20h00, além de sábado e domingos, às 15h00 e às 20h00. As indicações servem para afetos e desafetos porque a esperança em um mundo melhor se renova a cada apresentação de "Hairspray". 

O espetáculo é vibrante, dinâmico, colorido e traz uma mensagem inspiradora para os espectadores, mas vai além disso. Se de boas intenções o mundo está cheio, o musical "Hairspray" também oferece atuações memoráveis em uma sequência de momentos brilhantes em que cada um tem o seu momento de dizer a que veio. Tiago Abravanel, que dirige o espetáculo em conjunto com Tinno Zani e Antonia Prado, além de respeitar todas as temáticas que o espetáculo requer nas entrelinhas, também se destaca pela escolha do elenco. 

Enquanto ator, no entanto, ele demonstra a energia de um artista que está no seu melhor momento. Edna Turnblad, nitidamente, é uma realização pessoal para ele, que desta vez revive o papel que foi de Edson Celulari na lendária montagem anterior, e de John Travolta, nas telas dos cinemas de todo o mundo. 

Para interpretar a personagem, Abravanel fez algo que transcendeu a própria existência e a mágica que ele faz durante todo o musical é impossível de descrever. No vozeirão do artista, há a espinha dorsal de um espetáculo que respira diversidade e diversão em uma mesma toada. Há na garganta de Tiago Abravanel um destilado do tempo que lapida grandes artistas e os credencia para contar histórias cada vez mais desafiadoras. Tiago é dono do tempo nesse espetáculo que toca em temas tão profundos e que consegue ser tão leve quanto a protagonista Tracy Turnblad.

Essa garota fora dos padrões é vivida por Vânia Canto que, no ano passado, era a protagonista substituta do clássico "Funny Girl" - assistimos com ela e publicamos essa crítica. A versatilidade da atriz é tanta que é quase impossível associar uma personagem à outra, embora ambos tenham pontos em comum, como a alegria e a suavidade. O gestual de Vânia é de uma menina cheia de energia e com o carisma do tamanho do mundo. Vânia Canto, nesta temporada, é a estrela mais brilhante dos palcos paulistanos em um papel que extrai tudo o que ela pode entregar, e que não é pouco.

Pâmela Rossini, que interpretou uma Wandinha inesquecível na última montagem do musical "A Família Addams" no Brasil, volta a chamar a atenção. Desta vez na pele de Penny Pingleton, melhor amiga de Tracy, provando que não existe papel pequeno para artistas de tanto calibre feito ela. Como era de se esperar dessa atriz extremamente talentosa, ela transforma uma personagem secundária em uma potência, marcando, mais uma vez, a própria assinatura no teatro musical.

Aplaudida de pé durante a apresentação depois de uma performance emocionante - e que é esperada ao longo do musical - Aline Cunha entrega voz, corpo, alma e coração ao defender a personagem Motormouth Maybelle. É inacreditável o que ela faz no palco, transformando um hino de libertação que se consagrou no teatro e no cinema em uma extensão das dores vividas pelo povo afrodescendente. Parece que a vida e as vivências que ela teve a prepararam para o papel de uma vida inteira. 

Também merecem destaque Ivan Parente, que está irreconhecível como o apresentador Corny Collins, Thales César que, desde a época de "Rua Azusa" (crítica neste link) vem encantando o público, e Liane Maya, irretocável como Velma Von Tuslle, além de Verônica Goeldi,atriz versátil que brilha em todos dos espetáculos que atua, desde a Verônica de "Heathers" (crítica neste link) até a amante de Juan Perón em "Evita Open Air" (crítica neste link). Fica até difícil pensar que esse espetáculo, pensado para antes da pandemia, quase não saiu do papel. Seria um desperdício essa montagem ficar apenas no campo das ideias. Afinal, é um espetáculo que serve tanto para amigos quanto para inimigos. Os amigos sairão felizes. Os inimigos, melhorados.


Musical "Hairspray" se prepara para a despedida dos palcos
Depois de quase três meses em cartaz, recebendo quase 100 mil pessoas, em 100 sessões já realizadas, no lendário Teatro Renault, “Hairspray” entra no último mês de apresentações. A temporada termina no dia 15 de dezembro e ainda há ingressos à venda para conferir o musical idealizado por Tiago Abravanel, Tinno Zani, Antonia Prado e Rafael Villar.

A comédia musical que se passa nos anos 60 conta a história da jovem Tracy (Vânia Canto) que sonha em integrar o elenco de um programa de tv o “ Show do Corny Collins” (Ivan Parente) mas enfrenta desafios por ser uma pessoa gorda. Ao lado de seus amigos Seaweed J. Stubbs (Thales Cesar) e Penny Pingleton (Pâmela Rossini) ela consegue conquistar não só seu lugar na TV como também o coração do galã Link Larkin (Rodrigo Garcia). Tudo isso com o apoio de seus pais Wilbur Turnblad (Lindsay Paulino), Edna Turnblad (Tiago Abravanel) e de Motormouth Maybelle (Aline Cunha) que também luta contra a segregação racial enfrentando as rivais Amber Von Tussle (Verônica Goeldi) e todas as artimanhas de sua mãe e produtora do programa, Velma Von Tussle (Liane Maya).  

O público ainda pode conferir as icônicas músicas do espetáculo como "Good Morning Baltimore", "I Know Where I’ve Been" e "You Can’t Stop the Beat", com a versão brasileira trazida brilhantemente para a atualidade por Victor Mühlethaler. Até agora, "Hairspray" colecionou momentos incríveis no palco e fora dele, abordando questões contemporâneas como racismo, gordofobia, inclusão e amor sem preconceitos, de uma forma divertida e leve. Além disso, é o musical com mais indicações ao Prêmio DID, feito pela imprensa cultural desde 2017, com 12 indicações em 14 categorias.


Ficha técnica
Musical "Hairspray"
Diretores e idealizadores | Antonia Prado, Tiago Abravanel e Tinno Zani
Diretor Musical e idealizador | Rafael Villar
Diretora Musical Associada | Claudia Elizeu
Direção de Casting | Danny Cury
Diretora Assistente | Thais Uessugui
Diretor Coreográfico | Tiago Dias
Versionista | Victor Muhlethaler
Cenógrafo | Rogério Falcão
Figurinos | Bruno Oliveira
Designer de Perucas | Feliciano Sanroman
Designer de Maquiagem | Luciano Paradella
Designer de Som | Paulo Altafim
Designer de Luz | Wagner Antônio
Stage Manager | João Sá
Diretora de Marketing | Roberta Alegretti
Diretora de Produção Executiva | Bia Izar
Diretora de Produção Administrativa | Ligia Abravanel
Programa completo | www.hairspraybrasil.com.br/programa
Instagram | @hairspraybrasil
Patrocinadores: Brasilprev, Karina, Vivo, PwC Brasil, Instituto Yduqs, Estácio e Shell


Serviço
Musical "Hairspray"
Local: Teatro Renault | Av. Brigadeiro Luís Antônio, 411 – Bela Vista
Temporada: de quinta a domingo
Até dia 15 de dezembro. Quinta e sexta-feira, às 20h00. Sábado e domingos, às 15h00 e 20h00


Preços
Plateia Vip | R$ 175,00 (meia) e R$ 350,00 (inteira)
Plateia Premium | R$ 145,00 (meia) e R$ 290,00 (inteira)
Plateia Gold | R$ 130,00 (meia) e R$ 260,00 (inteira)
Plateia Silver | R$ 130,00 (meia) e R$ 260,00 (inteira)
Camarote Superior | R$ 175,00 (meia) R$ 350,00 (inteira)
Balcão Vip | R$ 19,80 (meia) e R$ 39,60 (inteira)
Balcão Premium | R$ 19,80 (meia) e R$ 39,60 (inteira)


Vendas
Sem taxa de conveniência | Bilheteria do Teatro Renault
Horário de funcionamento: de terça a domingo, das 12h às 20h. Segundas e Feriados – Fechado.
Com taxa de conveniência | Pela internet: www.ticketsforfun.com.br
Retirada na bilheteria e E-ticket – taxas de conveniência e de entrega
Informações para grupos: grupos@t4f.com.br
Capacidade: 1578 lugares
Duração: 180 minutos
Classificação indicativa: 12 anos
Apresentação | Lei de Incentivo à Cultura e Brasilprev
Patrocínio | Vivo, Karina
Co-patrocínio | PwC Brasil, Instituto Yduqs e Estácio, Shell
Apoio | UOL
Realização | Ministério da Cultura e Governo Federal União e Reconstrução

sábado, 5 de outubro de 2024

.: Crítica: musical "Legalmente Loira" coloca o dedo nas feridas da sociedade


Por 
Helder Moraes Miranda, editor do portal Resenhando.com. Foto: Andreia Machado.

Com mais duas apresentações no Teatro Claro Mais SP, o musical "Legalmente Loira" é a maior surpresa do ano. Longe de ser panfletário ou didático, o espetáculo aborda de maneira leve temas pertinentes à realidade das mulheres e conduz o público a uma história cheia de camadas. Elle Woods não é somente a "loira legal" que marcou o cinema em 2001. Curiosamente, 23 anos depois os temas abordados no filme continuam atuais, diante de um mundo que retrocedeu no campo das ideias. 

No palco, defendendo o papel que levou Reese Witherspoon, ao estrelato, Myra Ruiz, que havia acabado de sair da sra. Wormwood em "Matilda", aparece diferente de todas as personagens que já interpretou e acrescenta um toque todo especial ao emblemático papel da loira inteligente que é subestimada por ser bonita. Ela distribui carisma, feminilidade e senso de humor em uma atuação memorável. Para os desavisados, é preciso dizer que "Legalmente Loira - O Musical ", com direção geral de John Stefaniuk e direção musical de Andréia Vitfer, não é apenas bom entretenimento. Esteticamente lindo, o espetáculo também é profundo, sensível e mágico.

Passam pela personagem tudo o que uma mulher nos dias de hoje precisa enfrentar, desde o assédio no ambiente de trabalho até a necessidade de se impor e se colocar à prova o tempo todo para conquistar o respeito dos outros, até mesmo de outras mulheres. É um espetáculo ancorado na figura de três figuras femininas fortes. Na pele da personagem icônica, Myra aparenta estar se divertindo nesse que é mais um grande momento na carreira. Ela vem marcando a história do teatro musical e lembra a trajetória de Kiara Sasso, atriz que nos anos 2000, com muita elegância, protagonizou montagens históricas de "A Bela e a Fera" (2002/2003), "O Fantasma da Ópera" (2005/2006), "A Noviça Rebelde" (2008/2009), "Jekyll & Hyde, o Médico e o Monstro" (2010) e "Mamma Mia!" (2010/2011).

Gigi Debei, com uma Vivienne Kensington brilhante, é o contraponto de Elle Woods no espetáculo. Desde a montagem memorável de "Heathers" no Teatro Viradalata (crítica neste link), a atriz vem se destacando com atuações marcantes. Esther Arieiv, que substituiu Leilah Moreno no papel de Paulette Bonafonté na apresentação que assistimos, entrega dignidade. Hypolyto, na pele de Emmett Forrest, vem como uma promessa no musical que ainda rende boas atuações de Fábio Galvão, como Warner Huntington III e Danilo Moura, como o professor Callahan. De tão leve, o espetáculo coloca o dedo nas feridas da sociedade sem assustar.


Elenco completo de "Legalmente Loira - O Musical"
Myra Ruiz - Elle Woods
Renan Rosiq - Warner Huntington III
Hipólyto - Emmett Forrest
Leilah Moreno - Paulette Bonafonté
Danilo Moura - Professor Callahan
Gigi Debei - Vivienne Kensington
Amanda Döring - Brooke Wyndham
Giselle Alfano - Ensemble 
Thaiane Chuvas - Ensemble
Gabriela Gatti - Ensemble
Mariana Ramires - Ensemble
Vinnycias - Ensemble
Lara Gomes - Ensemble
Esther Arieiv - Ensemble
Vivian Bugno - Ensemble
Bia Vasconcellos - Ensemble
Paulo Grossi - Ensemble
Fábio Galvão - Ensemble
Rafael Pucca - Ensemble
Danilo Martho - Ensemble
Vitor Loschiavo - Ensemble
Ricke Hadachi - Ensemble
Nina Sato - Swing e Dance Captain
André Ximenes - Swing
Andreina Szoboszlai - Swing


Equipe criativa de "Legalmente Loira - O Musical"
Direção geral: John Stefaniuk
Direção musical: Andréia Vitfer
Cenário: Duda Arruk
Figurino: Ligia Rocha, Marco Pacheco e Jemima Tuany
Coreografia: Floriano Nogueira
Design de som: Gabriel D'Angelo
Design de luz: Guilherme Paterno
Design de perucas: Feliciano San Roman
Design de maquiagem: Cris Tákkahashi
Versão brasileira: Victor Mühlethaler
Produtor: Baccic


Serviço
"Legalmente Loira - O Musical"
Até dia 6 de outubro de 2024
Local: Teatro Claro SP – Shopping Vila Olímpia - R. Olimpíadas, 360 - Vila Olímpia / São Paulo
Gênero: Teatro Musical
Local: Teatro Claro SP – Shopping Vila Olímpia


Sessões de "Legalmente Loira - O Musical"
Quarta-feira, 19h30
Quinta-feira, 19h30
Sexta-feira, 19h30
Sábado, 15h00
Sábado, 19h30
Domingo, 15h00
Domingo, 19h30
Endereço: R. Olimpíadas, 360 - Vila Olímpia, São Paulo - SP, 04551-000
Capacidade: 801 pessoas
Classificação Etária: Livre. Menores de 12 anos devem estar acompanhados dos pais e/ou responsáveis legais. A determinação da classificação etária poderá a qualquer momento ser alterada pelo Juiz de Direito da Vara da Infância e Juventude da Comarca de São Paulo - SP.
Duração do espetáculo: 150 minutos com 15 minutos de intervalo
Ingressos de R$19,80 a R$370,00
A programação do Teatro Claro mais SP conta com acessibilidade física e de conteúdo.


Bilheteria on-line
Garanta seu ingresso em: https://uhuu.com 


Bilheteria física – sem taxa de conveniência
Bilheteria aberta das 10h às 22h de segunda a sábado e das 12h às 20h domingos e feriados.
Local: Shopping Vila Olímpia - R. Olimpíadas, 360 - Vila Olímpia, São Paulo - SP, 04551-000 - 1 Piso - Acesso A
Telefone: (11) 3448-5061

domingo, 15 de setembro de 2024

.: Crítica: "Querido Evan Hansen": as mentiras piedosas em musical sensível


Produzido pela Estamos Aqui Produções, de “A Cor Púrpura”, e Touché Entretenimento, de “Beetlejuice”, o espetáculo vencedor de 6 Prêmios Tony chega ao Brasil para, além de entreter, sensibilizar e apoiar a saúde mental dos jovens. Gab Lara é Evan Hansen em "Querido Evan Hansen" | Foto: Carlos Costa

Por Helder Moraes Miranda, editor do portal Resenhando.com. 

Evan Hansen é, talvez, o personagem mais controverso dos musicais lançados na Broadway. Certeza, no entanto, é que ele é o mais abnegado de todos. No musical "Querido Evan Hansen", em cartaz até dia 22 no Teatro Liberdade, defendido pelo talento de Gab Lara - o personagem brilha em cada apresentação, tudo pela entrega do intérprete - que tem a maturidade e as nuances certas para cada passo do personagem. É correto afirmar, também, que o Brasil encontrou o ator ideal para defender personagem tão emblemático. Tudo em Gabs grita Evan Hansen e a sua voz afinada, e os seus olhos de mar, transmitem pureza a um personagem que, de tão politicamente incorreto, também é o mais humano de todos os que o público está habituado.

A abnegação vem do fato de Evan Hansen mentir o tempo todo para proteger os outros de uma realidade duríssima. E esse desprendimento, a partir de "mentiras piedosas" que ele distribui à torto e à direita durante todo o espetáculo, fazem do personagem alguém que mata a si próprio por dentro para agradar os outros. Ele abre mão do que ele é para dizerem o que as pessoas querem ouvir - o problema é começar a se beneficiar, e a gostar disso. 

Versão brasileira da Estamos Aqui Produções e Touché Entretenimento, "Querido Evan Hansen", que faz barulho no mundo inteiro, já pode ser considerado um clássico contemporâneo, tendo em vista que é composto por alguns elementos que fazem a cabeça da juventude moderna - a viralização pela internet que tira alguém do completo anonimato para alçar a fama e realizar grandes feitos é tudo o que a maioria almeja e é experimentado por Evan Hansen, o que pode gerar identificação com ele. 

Do outro lado da história, está Vanessa Gerbelli, intérprete da mãe do protagonista. Ela é destaque absoluto no espetáculo e, ao mesmo tempo, um chamariz. Rosto conhecido nas telenovelas brasileiras, ela surpreende ao público ao misturar o carisma de uma personagem que tem dilemas reais, e uma voz cristalina. Thati Lopes, mais conhecida pela comédia, surpreende em um papel dramático. Além de convencer como uma adolescente que busca recomeçar após uma situação de luto, também entrega uma bela voz afinada e, ao mesmo tempo, desconcertante. 

Hugo Bonemer empresta seu talento ao personagem que é a chave de tudo o que acontece na trama. É a partir da história dele que a história avança e tê-lo em qualquer espetáculo é, hoje, uma espécie de selo de qualidade. Sobre a direção delicada de Tadeu Aguiar, capaz de abordar com certa leveza um tema tão perene e indigesto, "Querido Evan Hansen" vai crescendo sustentado por grandes interpretações. Gui Figueiredo e Tati Christine dão leveza ao espetáculo e rendem bons momentos. Mouhamed Harfouch e Flávia Santana adicionam drama na medida certa na tarefa árdua de interpretar pais que perderam um filho. 

"Querido Evan Hansen" é daquelas obras em que tudo colabora para que seja inesquecível. Das músicas à escalação do elenco, dos cenários à orquestra ao vivo, o espetáculo faz refletir sobre o peso das escolhas que são assumidas pelo caminho e a importância de ser genuíno consigo mesmo e com os outros. Também aponta para saídas mais verdadeiras, como mudar de ideia no meio do percurso.



Ficha técnica
Musical "Querido Evan Hansen"
Elenco: Gab Lara, Vannessa Gerbelli, Mouhamed Harfouch, Flavia Santana, Hugo Bonemer, Thati Lopes, Gui Figueiredo e Tati Christine.
Produzido por Estamos Aqui Produções e Touché Entretenimento
Concepção, tradução e direção original: Tadeu Aguiar
Produção geral: Renata Borges Pimenta e Eduardo Bakr
Direção musical: Liliane Secco
Direção de movimento e Coreografias: Suely Guerra
Cenografia: Natália Lana
Figurinos: Ney Madeira e Dani Vidal
Design de luz: Dani Sanchez
Design de som: Gabriel D’Angelo
Conteúdo e imagens: Agência Control+
Assessoria de imprensa: GPress Comunicação > Grazy Pisacane


Serviço
Musical "Querido Evan Hansen"
Teatro Liberdade - R. São Joaquim, 129, São Paulo - São Paulo
Até dia 22 de setembro
Sessões: às sextas-feiras, às 21h00, sábados, às 16h00 e às 20h00, domingos, às 16h00
Valor: R$ 60,00 e R$ 280,00
Vendas: Site Sympla (com taxa de conveniência) | Bilheteria do Teatro
Duração: 2h30min (com intervalo de 15min)
Gênero: Musical
Classificação: 14 anos
*Desconto 35%: Obtenha 35% de desconto no ingresso inteiro ao preencher o formulário durante o processo de compra.
Obs: Para comprar mais de um ingresso nessa modalidade, basta preencher um formulário por ingresso conforme será solicitado. Desconto disponível para todos os públicos.
*Clientes Glesp:  Clientes Glesp tem 25% de desconto nos ingressos inteiros mediante a aplicação do cupom, limitado a 4 ingressos por cupom. Válido para todos os setores.


Horário de funcionamento de bilheteria
Atendimento presencial: de terça à sábado das 13h00 às 19h00. Domingos e feriados apenas em dias de espetáculos até o início da apresentação.


domingo, 1 de setembro de 2024

.: Crítica: musical "Priscilla, A Rainha do Deserto" é um sopro de liberdade

Por Helder Moraes Miranda, editor do portal Resenhando.com. Na imagem, Reynaldo Gianecchini, teatro, Teatro Bradesco, Verónica Valenttino e Wallie Ruy no sucesso mundial nos palcos e no cinema. Foto: Pedro Dimitrow / Divulgação: @Priscillaratnhadodesertobr

O último dia do musical "Priscilla, A Rainha do Deserto - O Musical da Broadway", em cartaz neste domingo, dia 1° de setembro, no Teatro Bradesco, marca também a passagem de um espetáculo que marcou época e será lembrado por gerações. O espetáculo é um sopro de liberdade em meio a um país que retrocede para o conservadorismo da boca pra fora - aquele de gente que critica nos outros o que faz de pior às escondidas. Para os artistas que se apresentam no palco, sib a direção precisa de Stephan Elliott, simbolizam aspectos diferentes. Se para cada personagem que atravessa o deserto à bordo do ônibus Priscila há uma motivação, para os artistas o espetáculo é a materialização de muitas coisas.

Para Reynaldo Gianecchini, representa a libertação de alguém que fez inúmeros galãs nas telenovelas brasileiras e agora se arrisca em papéis mais difíceis, como a drag queen que atravessa o deserto para conhecer o filho. Ele ainda se arrisca a cantar. Para Diego Martins, o papel da drag inexperiente é ávida para experimentar a vida representa uma realização pessoal. Percebe-se o prazer do jovem artista, que brilhou em uma temporada de "Beatles num Céu de Diamantes" bem antes de estourar na novela das nove,  em interpretar o personagem. Para Verônica Valenttino (assistimos ao espetáculo com ela), é a consagração de alguém com muito talento e história para contar e que, finalmente, e de maneira muito justa, consegue interpretar um papel à altura de sua grandiosidade. 

Há ainda a participação luxuosa de Andrezza Massei e a figura sempre marcante de Fabrizio Gorziza - um nome que despontou em "O Guarda-Costas" interpretando o papel que foi de Kevin Costner no cinema e vem se destacando a cada papel pela versatilidade. Tatiana Toyota, e seu carisma, dão comicidade a uma peça que trata de assuntos espinhosos, mas consegue ser leve. 

Não bastassem todas essas qualidades, o visual parece uma pintura desenhada à mão repleta de detalhes. A cena de Diego Martins em cima do ônibus envolto a um pano prateado esvoaçante, recriando a cena clássica do cinema, é para ficar na memória do teatro paulistano. Tudo isso embalado por clássicos da música na era disco. Tiveram a proeza, e a ousadia, de colocar um microônibus no palco. A Priscila da peça é linda e representa mais do que um simples veículo. Ela é o caminho, a direção e, possivelmente, dará um final feliz a todos aqueles que passarem por ela. Sejam os intérpretes ou o próprio público. Ninguém sai ileso de um espetáculo assim. 

sábado, 24 de agosto de 2024

.: Por que não perder "Priscilla, A Rainha do Deserto - O Musical da Broadway"?

Por: Mary Ellen Farias dos Santos, editora do Resenhando.com

Em agosto de 2024


Uma montagem teatral capaz de elevar o ânimo da plateia -por dias-, ainda que entregue cenas de pura emoção (de pai e filho). "Priscilla, A Rainha do Deserto - O Musical da Broadway", que coloca Reynaldo Gianecchini na pele de Anthony “Tick” Belrose, performer e drag queen chamada Mitzi Mitosis, ao lado de Diego Martins como Adam Whiteley,  que vive a drag queen Felicia, assim como as atrizes Verónica Valenttino e Wallie Ruy em revezamento no papel de Bernadette Bassenger, é completamente imperdível.

Em cartaz no Teatro Bradesco, em São Paulo, o espetáculo esbanja alegria visual, assim como no texto com tiradas bastante adaptadas ao Brasil, cabendo menção à novela "Laços de Família", o que rapidamente cria um elo do público com cada personagem. Seja entre as drags e a trans até o meio valentão, Bob, de Fabrizio Gorziza ou a valentona de Andrezza Massei. A produção ainda tem uma trilha sonora impecável, incluindo "I Will Survive", “I Say A Little Prayer”, “Go West”, “Can’t Get You Out Of My Head”, “True Colors”, “I Love The Nightlife”, “Girls Just Wanna Have Fun”, e muito mais.

Tudo na montagem faz os olhos brilharem. Não por somente alimentar a alegria no público enquanto desfruta da apresentação, mas por usar tudo a favor em cada cena e mostrar que as diferenças são belas, enriquecedoras e devem ser respeitadas sempre. Enquanto Reynaldo Gianecchini mostra seu lado mais livre, sem amarras, levando-o a voltar cantar, com direito a danças coreografadas. 

Diego Martins entrega o vocal impecável -que remete, inclusive ao seu destaque em "Beatles, Num Céu de Diamantes" (2017), garantindo boas sequências de humor. Verónica Valenttino, a atriz cearense, transexual (a primeira a vencer o Prêmio Shell de Teatro, pelo musical "Brenda Lee e o Palácio das Princesas"), que interpreta Bernadette Bassenger, canta, dança e é o real toque feminino na viagem das drags Tick e Felicia. O trio em cena é um grande presente.

"Priscilla, A Rainha do Deserto - O Musical da Broadway" tem ainda três divas soltando o vozeirão -fazendo arrepiar, por vezes- com canções que conectam a trama e fazem a narrativa ganhar agilidade. O trio em cena também remete ao clássico Disney, "Hércules", em que há interferências musicais das musas, que complementam a história. É tão lindo quanto ou, até mais, uma vez que tudo acontece ao vivo no palco do Teatro Bradesco.

A montagem tem como enredo a viagem de duas drag queens e uma mulher transexual que vão a bordo do ônibus que recebe o nome de Priscilla, em pleno deserto australiano, para fazer um show. Contudo, para chegar até a parada final, juntas encaram diversos desafios e aventuras durante até o destino. Baseado no filme clássico de 1994, do diretor Stephan Elliott, o espetáculo que estreou dia 07 de junho, no Teatro Bradesco, em São Paulo, fica em cartaz até 1 de setembro. Não perca!


"Priscilla, A Rainha do Deserto - O Musical da Broadway"

Teatro Bradesco

Endereço: R. Palestra Itália, 500 - 3° Piso - Perdizes, São Paulo

Capacidade: 1.439

O espetáculo, com sessões todas as quintas e sextas, às 20h; sábados e domingos às 16h e 20h

Direção de Mariano Detry. Direção musical de Jorge de Godoy. Coreografias de Mariana Barros. Cenografia de Matt Kinley. Figurino de Fábio Namatame. Design de Luz de Warren Letton. Design de Som de Tocko Michelazzo. Design de peruca de Feliciano San Roman. Design de maquiagem de Alisson Rodrigues. Produção geral de Stephanie Mayorkis.


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