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domingo, 25 de fevereiro de 2024

.: Veronica Botelho lança "Verão", com capa de artista de "Torto Arado"

"Verão", lançado pela editora e-galáxia, é o primeiro romance da piauiense Veronica Botelho, uma autora de literatura que nasceu nos intervalos da escrita de suas teses acadêmicas, sempre exigindo muita leitura e comparações de pontos de vista antes de ganhar forma na tela do computador. Cidadã do mundo e mãe de meninas de dois, 11 e 14 anos, Veronica pegou o diploma de psicologia na Itália e, no momento, faz mestrado em Neurociência da Saúde Mental em Londres, além de vir se especializando em Neurociência Cultural, um braço super novo da Neurociência.

O lançamento será na sexta-feira, dia 1º de março, às 19h00, na Janela Livraria. Haverá um bate papo entre a autora e duas convidadas: Maria Carolina Casati, à frente do projeto Encruzilinhas, focado na pesquisa sobre a importância da história oral para a construção da sociedade, e Tamlyn Ghannam, criadora do perfil de entrevistas LiteraTamy. A artista Aline Bispo foi escolhida para assinar a capa de "Verão". Bispo ficou conhecida no meio editorial pela criação da capa emblemática de "Torto Arado", de Itamar Vieira Jr. e um dos livros responsáveis pelo recente boom da literatura brasileira.

A literatura entrou na vida da autora pela porta do divertimento. "Sempre quis escrever ficção, mas achava impossível. Então, continuei produzindo textos acadêmicos. De vez em quando, o meu companheiro falava que eu deveria investir na ficção para relaxar um pouco. Até que resolvi tentar. Uma amiga me apresentou à dona da e-galáxia. Ela leu os originais e quis publicar o 'Verão', que faz parte da série As Estações", explica Veronica, adiantando que "Inverno" já está nas mãos da sua editora, Sandra Espilotro.

Transitando entre o passado e o presente, a história se desenrola por 21 anos - entre os verões de 1998 e 2021. Rebecca, a protagonista, experimentou o racismo na pele e pouco sabe de sua origem. Ao atingir a maioridade, decide ir atrás dos fatos jamais esclarecidos pelos tios que ficaram com a sua guarda. Quais serão os motivos da ausência da mãe e a verdade sobre a morte do pai? Essa jornada de busca e esperança ocupa o centro da trama.

E não é só nos ponteiros que "Verão" convida os leitores a viajar, mas também no espaço: de Toscana ao nosso Nordeste, da Cataluña à Serra Fluminense. Assim como a personagem, Veronica Botelho está sempre com, ao menos, um bilhete emitido. Isso porque ela mora parte do ano na Espanha e o restante no Brasil, numa casa da família em Miguel Pereira.

"Os personagens foram se construindo de fragmentos de conversas que escutei pelos tantos lugares onde passei. Colocar esse drama psicológico no papel foi muito gostoso. Comecei no verão, mas a escrita mesmo se deu no inverno europeu - ou seja, no verão daí", conta Veronica, da Cataluña. "A narrativa vai e volta para dar a dimensão de vida real. E as estações são como emoções, mesmo quando a gente rejeita uma, ela apresenta nuances que nos agradam", pondera. Compre o livro "Verão", de Veronica Botelho, neste link.

Serviço
Lançamento do romance "Verão", de Verônica Botelho, no Rio de Janeiro.
Dia 1º de março, às 19h00, na Janela Livraria - Rua Maria Angélica, 171 / loja B, no Jardim Botânico.
Entrada gratuita. O livro custa R$ 44,90. Haveerá bate-papo de Veronica Botelho com Maria Carolina Casati e Tamlyn Ghannam.

sábado, 24 de fevereiro de 2024

.: Romance japonês faz reflexão sobre como seria o mundo sem os gatos


Escrito por Genki Kawamuraexpoente da "ficção de cura" ("healing fiction"), o romance "Se os Gatos Desaparecessem do Mundo", lançamento da editora Bertrand Brasil, apresenta uma história espirituosa e emocionante sobre vida, perda e reconciliação. Romance de estreia do autor japonês, o livro foi traduzido para 18 idiomas e já vendeu mais de dois milhões de exemplares no mundo. No Brasil, a tradução é assinada por Tomoko Gaudioso.

O livro conta a história de um jovem carteiro, que mora sozinho com seu gato, recebe o diagnóstico de uma doença em fase terminal e a notícia de que teria pouco tempo de vida. Logo em seguida, o Diabo em pessoa aparece com uma proposta: para cada coisa que ele estiver disposto a fazer desaparecer do mundo, ganha um dia extra na Terra.

Enquanto resolve esse grande dilema, o protagonista de "Se os Gatos Desaparecessem do Mundo" tem uma semana de tormento, em que reflete sobre coisas e pessoas importantes de sua vida. Afinal, como decidir o que faz a vida valer a pena? Como distinguir o que é dispensável daquilo que se ama? Enfrentando essas questões cruciais, embarca em uma jornada que o levará — junto de seu querido gato — aos limites entre a vida e a morte. Genki Kawamura presenteia o público com um romance sensível e fascinante que traz à tona a importância da vida e do mundo que nos cerca, permeado por reflexões primordiais e contundentes. Compre o livro "Se os Gatos Desaparecessem do Mundo", de Genki Kawamura, neste link.


O que disseram sobre o livro

“Uma emocionante história sobre como lidamos com a morte e com nossos erros, que nos faz repensar o que é realmente importante na vida.” — The Herald

“Um romance que reflete sobre a vida, o amor, a separação familiar e o que resta quando partimos.” — The Guardian


Sobre o autor
Genki Kawamura é produtor, diretor, roteirista, showrunner e autor best-seller internacional. Seu romance de estreia, "Se os Gatos Desaparecessem do Mundo", foi traduzido para 18 idiomas e vendeu mais de dois milhões de exemplares no mundo, além de ter sido adaptado para o cinema pelo diretor Akira Nagai. Genki Kawamura também escreveu outros livros, dentre eles cinco romances e oito histórias infantis. Como produtor, trabalhou no homônimo filme de anime "Your Name". Garanta o seu exemplar de "Se os Gatos Desaparecessem do Mundo", escrito por Genki Kawamura, neste link.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

.:"São Paulo nas Alturas": a revolução modernista da arquitetura e do mercado


Em reedição de best-seller, Raul Juste Lores expõe as transformações arquitetônicas que tomaram a cidade de São Paulo entre os anos 1950 e 1960. Com ilustrações de Danilo Zamboni.

Entre 1950 e 1960, uma combinação particular permitiu que a cidade de São Paulo fosse palco de uma revolução até então inédita em sua história — a união de arquitetos criativos, empreendedores ambiciosos e a disponibilidade de capital financeiro possibilitou as condições necessárias para que obras icônicas saíssem das pranchetas e ganhassem as ruas da Pauliceia, modificando seu cenário arquitetônico. 

Sobrevoo sobre projetos como Copan, Conjunto Nacional, Galeria do Rock, edifício Itália, Bretagne, Paquita, entre tantos outros, "São Paulo nas Alturas", escrito por Raul Juste Lores e com ilustrações de Danilo Zamboni, apresenta a trajetória de arquitetos e empreendedores que deixaram sua marca na capital paulista, além de lançar luz sobre os erros e acertos nas escolhas urbanas que desenharam a cidade. Compre o livro "São Paulo nas Alturas", escrito por Raul Juste Lores com ilustrações de Danilo Zamboni, neste link.


O que disseram sobre o livro
“Este livro mostra a cidade que começamos a construir, mas que se perdeu em meio à tecnocracia que privilegiou os carros e afastou os moradores da vida cotidiana, com seus muros, recuos dos prédios e regras de Planos Diretores, promovendo a segregação. Raul Juste Lores escreveu uma obra-prima sobre o nosso urbanismo e, também, sobre a nossa sociedade.— Marcos Lisboa


Sobre o autor
Raul Juste Lores é jornalista, escritor e pesquisador de arquitetura e urbanismo. Foi repórter especial da Folha de S.Paulo, editor do caderno Mercado e correspondente em Washington, Nova Iorque, Pequim e Buenos Aires para o mesmo jornal. Na revista Veja, foi editor de Internacional e, depois, redator-chefe da Vejinha. Em 2011, ganhou o prêmio APCA de Difusão, na categoria Arquitetura. É comentarista diário na rádio CBN. Seu livro São Paulo nas alturas foi finalista do prêmio Jabuti de 2018. Desde 2021, mantém um canal homônimo no YouTube. Garanta o seu exemplar de "São Paulo nas Alturas", escrito por Raul Juste Lores com ilustrações de Danilo Zamboni, neste link.

.: Lucélia Machiavelli em espetáculo que retrata luta por memória na velhice


Com dramaturgia de Ed Anderson, sob direção de Gonzaga Pedrosa, "Ávida - Alguns Instantes com a Mulher Mais Velha do Mundo" propõe reflexão para todas as idades. Foto: Heloísa Bortz


A peça "Ávida - Alguns Instantes com a Mulher Mais Velha do Mundo" promete levar o público a uma experiência envolvente e reflexiva por meio das lentes da memória e da identidade. O espetáculo estreia no Auditório do Sesc Pinheiros no dia 7 de março e segue em cartaz até dia 30, com apresentações de quinta a sábado, às 20h00.

Sob direção de Gonzaga Pedrosa e protagonizada por Lucélia Machiavelli, atriz que atuou em "A Marvada Carne", de André Klotzel, clássico do cinema nacional e na montagem teatral de "Macunaima", de Antunes Filho, a obra conta a história de Ávida, mulher inquieta que luta pela preservação de suas lembranças e pela manutenção de sua identidade. Baseada em uma dramaturgia inédita de Ed Anderson, a trama se desenvolve entre momentos transcendentais e cotidianos da personagem, abordando temas como feminilidade e finitude.

“As fotos e histórias da francesa Jeanne Louise Calment, que viveu 122 anos, foram o ponto de partida desafiador para a escrita, aliadas ao carisma e à vitalidade inspiradores de Lucélia durante os momentos de leituras”, explica o autor. Sua narrativa fragmentada e poética busca questionar valores e promover a inquietação, sem necessariamente oferecer respostas definitivas. Com poucos elementos cênicos, a encenação valoriza a simplicidade, focando na palavra e no gestual para transmitir sua mensagem ao público.

De acordo com o diretor Gonzaga Pedrosa, os temas que a peça toca são fundamentais para pessoas de todas as idades. “São questões com as quais nos deparamos ao longo da vida. Idade, identidade, individualidade, memória, esquecimento, sociabilização. Metaforicamente, são tomados como pedras que guardam uma experiência, uma experiência fragmentada, ora lisa, ora pontiaguda, por vezes deslocada e solitária, outras tantas, em meio a uma multidão. Se o espectador se voltar para dentro de si, para sua própria vida, seu próprio destino e criar narrativas para serem compartilhadas, tanto melhor”, diz.

A composição de cenário e da trilha sonora contribuem para criar uma atmosfera envolvente da peça. Segundo Pedrosa, "a construção do espetáculo se deu junto a pesquisas musicais, de pinturas, fotografias, filmes, registros em desenho; muitas pedras, aterramentos, desconstruções e novas construções de um corpo velho, ressignificado em novas vozes e formas de dizer”.


Ficha técnica
Monólogo "Ávida - Alguns Instantes com a Mulher Mais Velha do Mundo".
Direção: Gonzaga Pedrosa.
Atuação: Lucélia Machiavelli.
Dramaturgia: Ed Anderson.
Trilha sonora original: Natália Machiavelli.
Direção de arte: Telumi Hellen.
Desenho de luz e operação de luz: André Lemes.
Operação de som: Vinicius Scorza.
Caracterização: Beto França.
Fotografia: Heloísa Bortz.
Vídeo: Bruno Lima.
Direção de movimento: Luciana Hoppe.
Preparação vocal: Luciana Borghi.
Aderecista: Viviane Ramos.
Costureira: Lia Couros Galeria do Rock. 
Design gráfico: Maura Hayas.
Assessoria de imprensa: Adriana Balsanelli.
Produção musical: Rafael Thomazini.
Produção executiva: Fernanda Lorenzoni.
Estagiário: Lucas Abdalla.
Direção de produção e administração: Maurício Inafre.
Produção: Uma Arte Produções Artísticas.


Serviço
Monólogo "Ávida - Alguns Instantes com a Mulher Mais Velha do Mundo".
Estreia dia 7 de março, quinta-feira, às 20h00.
Temporada: de 7 a 30 de março - quinta-feira a sábado, às 20h00.
Dia 29 de março não haverá espetáculo (feriado).
Duração: 60 minutos.
Classificação: 14 anos.

Sesc Pinheiros - Auditório – 3º andar
Rua Paes Leme, 195, Pinheiros / São Paulo.
Ingressos: R$ 10,00 (credencial plena). R$ 15,00 (meia-entrada). R$ 30,00 (inteira).
https://www.sescsp.org.br/programacao

.: Especial "Louca" debate a exaustão feminina e vai ao ar no Dia da Mulher


Especial intitulado "Louca" debate a exaustão feminina e vai ao ar na TV Globo no Dia Internacional da Mulher, após o "Big Brother Brasil". Foto: Globo/Manoella Mello


Previsto para o dia 8, Dia Internacional da Mulher, o "Falas Femininas" nunca foi tão literal quanto em 2024. Intitulado ‘Louca’, o programa é inteiro sobre a voz das silenciadas, abandonadas, descredibilizadas, manipuladas, e a urgência de serem ouvidas. Com apresentação de Taís Araújo e Paolla Oliveira, direção de Antonia Prado e autoria de Veronica Debom e Isabela Aquino, o episódio, que vai ao ar na TV Globo logo após o ‘Big Brother Brasil’, debate a exaustão e os diversos fatores que impactam e corroem a saúde mental feminina, abordando temas como assédio, gaslighting e abandono. Ao longo de 45 minutos, as apresentadoras conduzem o espectador numa ágil e provocativa jornada que desperta a reflexão da sociedade como um todo. 

“Durante o processo de criação do ‘Falas Femininas’, conversamos e ouvimos diversas mulheres. De pessoas ‘comuns’ a especialistas, ficamos o tempo todo nos perguntando: ‘como abordar um assunto que seja transversal a todas?’. Sabendo, claro, que os privilégios modulam e criam recortes diferentes para cada experiência. A resposta chegou em uma pesquisa estarrecedora, que revelou que a vasta maioria das brasileiras se sente sobrecarregada. E, se as mulheres estão exaustas, o que está acontecendo? A partir disso, começamos a desenvolver o tema, entendendo causas e efeitos colaterais dessa afirmação”, explica a diretora Antonia Prado.

 O formato escolhido é o experimento social, que será o ponto de partida de todos os especiais "Falas" neste ano. A experiência consiste na captação da reação de brasileiros a simulações de situações comuns, e, não por isso, menos absurdas, vivenciadas no cotidiano de tantos de nós. No caso do "Falas Femininas", alguns contextos com desfechos surpreendentes foram apresentados, como homens recebendo a proposta de um trabalho aparentemente impossível de ser executado. Diversos aprendizados surgem a partir da observação sobre a forma como cada participante é impactado, o que conduz a conversa proposta pelo episódio.

“Através de dinâmicas, entrevistas com público e depoimentos, demonstramos como o trabalho doméstico não é valorizado e sempre recai sobre a mulher, fazendo com que ela viva uma jornada dupla ou tripla na sua rotina. E mostramos como essa sobrecarga está intimamente ligada ao imaginário de que cuidar do outro é uma tarefa exclusivamente feminina. Também destacamos a descredibilização da mulher ligada ao hábito de chamá-la de ‘louca’, uma estratégia antiga e eficiente que mantém as relações tóxicas, o abandono em massa vivido pelas mulheres do Brasil e o assédio no ambiente de trabalho. Mas, se no Dia da Mulher retratamos alguns problemas, também queremos ouvir: ‘O que, afinal, as mulheres querem”, complementa a diretora.   

As apresentadoras celebram a experiência de estarem juntas em um projeto que levanta debates tão necessários. “Com os experimentos, a gente conseguiu perceber como as pessoas se comportam diante de coisas que ocorrem no cotidiano e que, apesar de não serem ‘normais’, são normalizadas. Isso foi uma experiência incrível. Porque a gente mostra, de maneira quase didática, o que as mulheres, infelizmente, passam no cotidiano. E ter a Paolla, – que é uma amiga querida, uma pessoa que eu admiro muito e que tenho acompanhado a jornada muito de perto – ao meu lado nesse projeto, foi muito especial”, declara Taís Araújo.

“Historicamente a mulher é chamada de louca em todos os lugares. Assim como também faz parte da história das mulheres a exaustão, o assédio – os vários nomes que existem para esse assédio velado, como o gaslighting –, o abandono e tudo mais. Tudo isso precisa ser debatido, precisa ser levantado, para que a gente realmente consiga sair de nossas bolhas e falar para o grande público, para o público que a televisão aberta alcança. É importante para que as pessoas consigam talvez ter o primeiro acesso a alguns assuntos, ou se aprofundem em alguns questionamentos feitos nesse especial. Com certeza chegar em tantos lugares é essencial”, destaca Paolla Oliveira. 

 Além dos experimentos, o episódio conta com a participação de especialistas como a advogada Fayda Belo e da psicóloga Jaqueline Gomes de Jesus, que contribuem com suas análises, assim como depoimentos de anônimas e famosas como Preta Gil. A influenciadora digital Ana Terra Oliveira, conhecida por mostrar as diferenças de percepção de mundo entre homens e mulheres, ouve a população nas ruas. O "Falas Femininas" 2024 tem direção de Antonia Prado. O especial tem Veronica Debom e Isabela Aquino como autoras, com pesquisa de Jaqueline Neves e Zilda Raggio e produção de Ana Luisa Miranda. A direção de gênero é de Mariano Boni.

.: EPublik: tudo sobre a plataforma de autopublicação de baixíssimo custo


“Plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro”
. Das três coisas que todas as pessoas devem fazer na vida, elencadas pelo poeta cubano José Marti, a última talvez seja a mais complicada de se realizar, levando em consideração o atual modelo do mercado editorial no Brasil. Publicar um livro por aqui é difícil, concorrido e caro. Foi percebendo essa enorme demanda de pessoas de todo o país por publicar seus próprios  livros e das dificuldades que elas encontram para conseguir seu lugar ao sol na disputa pela atenção das editoras, que Guilherme Baracchini, de 27 anos, teve a ideia de criar a EPublik, plataforma digital para autopublicação.

Vindo de uma família com grande experiência no mercado editorial (Guilherme é filho de Fernando e Milla Baracchini, donos da editora Novo Conceito, responsável pela publicação dos maiores best-sellers no início dos anos 2000), Guilherme via de perto a quantidade de provas de livros que chegavam à editora para avaliação. “Nós recebíamos cerca de 600 manuscritos todo mês, para selecionar no máximo um para publicação. Existe uma demanda enorme de pessoas talentosas que querem escrever seu livro por inúmeras razões: comercial, para guardar memórias de família, para contar a história de uma empresa ou até mesmo por motivações acadêmicas e acabam frustradas pela falta de oportunidade”, explica Guilherme.

Era 2018, quando, recém chegado dos EUA, onde concluiu a graduação, e totalmente antenado com o mundo digital, Guilherme teve a ideia de abrir espaço para a democratização da escrita facilitando todo esse processo exclusivo, burocrático, caro e demorado do modelo das editoras tradicionais. Para isso, idealizou uma plataforma que conseguisse reunir todo o processo de produção, desde a escrita até a escolha da capa, passando pela diagramação, de forma fácil, intuitiva, rápida e o que é melhor, a um baixíssimo custo. Eram os primeiros passos para a criação da EPublik.

O interessante dessa plataforma é que ela é muito fácil de usar e o autor tem total autonomia de todas as etapas do processo de produção do livro dele, sem a necessidade de custos com profissionais e pagamento de royalties, por exemplo. Cada projeto de livro ou de qualquer conteúdo como apostilas ou manuais, custa apenas R$ 49,00.

Entre os recursos oferecidos pela plataforma estão os modelos de livros e diagramação, banco de imagens licenciadas e layouts prontos para a criação da capa e até mesmo a transcrição de textos narrados através de áudios. Se a pessoa tiver uma ideia enquanto dirige, por exemplo, ela pode gravar um áudio na plataforma e a narrativa é transformada em texto automaticamente.

Quem quiser escrever textos em outros idiomas, pode utilizar a plataforma multilínguas e se o texto for a quatro ou mais mãos, com co-autores, existe a possibilidade de escrita compartilhada. Outro recurso importante para manter a motivação e disciplina durante o processo é um roteiro com dicas de desenvolvimento dos textos, com a meta de palavras escritas por dia e recomendações técnicas para otimização da escrita diária.

Depois do livro escrito, diagramado e com capa, ele precisa ser mostrado. Pensando nisso os usuários da EPublik têm acesso a comunidades literárias associadas à plataforma. Desta forma, é aberto um canal de comunicação entre os autores e pessoas e empresas ligadas ao mercado editorial atuantes na distribuição, venda e divulgação de livros.

Próximos passos e metas de mercado
Embora a plataforma tenha o objetivo de atender a toda e qualquer pessoa que queira escrever um livro, Guilherme tem um foco importante no mercado acadêmico. “Cerca de 1,2 milhão de pessoas se formam por ano nas faculdades brasileiras, em toda as carreiras. Todos eles precisam fazer o projeto final do curso e publicar suas monografias. A EPublik é uma facilitadora imensa para esse tipo de publicação, que oferece recursos para agilizar e otimizar o processo de escrita durante o curso. Nosso próximo passo é criar uma parceria com todas as faculdades do país, implantando a plataforma personalizada com as determinações de cada universidade e acompanhamento em tempo real dos orientadores neste mesmo canal, fazendo as observações e correções na própria plataforma”, explica Baracchini.

Com apena 3 meses de operação, a Epublik já tem 5 mil usuários. As metas para o futuro incluem chegar a 50 mil publicações até o final de 2024 e em seguida, através das plataformas multilinguas, chegar a países como Estados Unidos, China e India.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

.: Documentário "Holocausto Brasileiro", baseado em livro, chega à Netflix


Após o sucesso da minissérie "Todo Dia a Mesma Noite", outra adaptação audiovisual baseada em uma premiada obra de Daniela Arbex chega à Netflix: o documentário "Holocausto Brasileiro" entrará no catálogo da gigante do streaming no domingo, 25 de fevereiro. No livro, a jornalista investigativa relata as condições desumanas a que eram submetidos os pacientes do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena, conhecido como Colônia, onde mais de 60 mil pessoas morreram entre as décadas de 1960 e 1980. A escritora, que acaba de lançar "Longe do Ninho" também pela Intrínseca — obra que investiga o incêndio que matou dez adolescentes no Ninho do Urubu em fevereiro de 2019 —, dirigiu o documentário junto com Armando Mendz.

Originalmente lançada em 2016, em mais de 40 países, a adaptação foi produzida pela HBO e é fruto de um extenso trabalho de apuração da jornalista. O livro que a baseou — o qual ganhou nova edição pela Intrínseca em 2019 — conta com depoimentos de sobreviventes e ex-funcionários da instituição, que permaneceu em pleno funcionamento até o início da década de 1980.

Na obra, Daniela Arbex narra como o Colônia se tornou um depósito para aqueles que viviam à margem da sociedade: homossexuais, prostitutas, mães solo, meninas violentadas pelos patrões, pessoas em situação de rua e mulheres que tinham perdido a virgindade antes do casamento. No manicômio, os pacientes, que muitas vezes nem sequer recebiam diagnósticos, perambulavam nus e eram forçados a ingerir ratos, esgoto e urina, além de dormirem sobre o feno e serem submetidos a sessões de eletrochoques. As torturas aconteciam com o consentimento do Estado, de médicos, dos funcionários e da sociedade. 

Eleito o melhor livro-reportagem de 2013 pela Associação Paulista de Críticos de Arte e segundo colocado na mesma categoria do Prêmio Jabuti em 2014, Holocausto brasileiro se tornou um marco do jornalismo investigativo ao retratar um capítulo lamentável da história do país. O relato também comprovou a potência de Daniela Arbex ao narrar acontecimentos trágicos com sensibilidade e responsabilidade, assim como a autora fez em "Arrastados", "Cova 312", "Todo Dia a Mesma Noite" e, mais recentemente, "Longe do Ninho". Compre o livro "Holocausto Brasileiro", de Daniela Arbex, neste link.


Sobre a autora
Nascida em Minas Gerais, Daniela Arbex é autora premiada de seis livros, todos publicados pela Intrínseca. Sua obra de estreia, "Holocausto Brasileiro" (2013), foi reconhecida como Melhor Livro-Reportagem de 2013 pela Associação Paulista de Críticos de Arte e ficou em segundo lugar no Prêmio Jabuti de 2014. "Cova 312" (2015), seu segundo livro, venceu o Jabuti de Melhor Livro-Reportagem em 2016 e "Todo Dia a Mesma Noite" (2018) ganhou adaptação pela Netflix em 2023. "Os Dois Mundos de Isabel" (2020) foi lançado no mesmo ano em que a autora recebeu o prêmio de Melhor Repórter Investigativa do Brasil pelo Troféu Mulher Imprensa. "Arrastados" (2022) foi agraciado com o Prêmio Vladimir Herzog 2023 e "Longe do Ninho" (2024) é seu título mais recente. Daniela Arbex conquistou ainda outros 20 prêmios nacionais e internacionais, entre eles três prêmios Esso e o americano Knight International Journalism Award. Foi repórter especial do jornal Tribuna de Minas por 23 anos e atualmente dedica-se à literatura. Garanta o seu exemplar de "Holocausto Brasileiro", escrito por Daniela Arbex, neste link.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

.: Romance "Nevada", de Imogen Binnie, é um clássico cult da literatura queer


Lançado pela editora Todavia, o romance "Nevada", escrito por Imogen Binnie, é um clássico cult da literatura queer e acompanha uma mulher trans descontente em uma viagem pelos Estados Unidos. Com tradução de Bianca Baderna, o livro tem capa de Fernanda Abreu.

A história gira em torno de Maria Griffiths, que tem quase 30 anos, vive no Brooklyn, trabalha num sebo no sul de Manhattan, usa uma bicicleta para se locomover e faz o que pode para não se afastar de suas raízes e crenças punk. Ela leva uma vida meticulosamente arquitetada para não precisar pensar ou sentir: evita conversas difíceis, engole pílulas aleatórias que carrega em um saquinho, tem uma rotina matinal orquestrada minuto a minuto, bebe demais e está sempre traçando rotas de fuga.

Além disso, protege-se debaixo de camadas de roupa e maquiagem, na esperança de escapar de diálogos forçadamente simpáticos ou abertamente hostis sobre o fato de ser uma mulher trans. A bolha em que vive estoura com o término do namoro com Steph, e a situação se agrava quando, no dia seguinte, Maria retorna de uma de suas muitas saídas não autorizadas do trabalho e é demitida. Esses dois acontecimentos a levam a uma crise existencial que culmina no roubo do carro de Steph e em uma viagem rumo à Califórnia. Nessa jornada de autodescobrimento, em um Wal-Mart na cidade de Star City, Nevada, ela acaba conhecendo uma pessoa que a faz examinar a própria vida e existência trans.

"Nevada", publicado originalmente em 2013, logo tornou-se um fenômeno entre a comunidade queerImogen Binnie utiliza referências das culturas pop e punk para ilustrar a vivência de uma época — Maria tem um blog e acessa  internet em lan houses —, porém, os dilemas da personagem, seus medos e suas preocupações, reverberam mais de uma década depois. Acompanhamos Maria em suas ponderações sobre a vida adulta, expectativas, memória, transfobia, machismo, carreira e relacionamentos, e seguimos também seu caminho pela estrada tortuosa de amadurecimento em um mundo que não é o que imaginávamos na juventude — e que nos faz sentir sempre aquém do esperado. E ficamos com o impasse entre deixar para trás o que consideramos fundamental para tentar caber em ideais em que não acreditamos, ou agarrar-nos às nossas crenças, vivendo às margens, porém livres. Compre o livro "Nevada", de Imogen Binnie, neste link.

O que disseram sobre o livro
“Nevada entende que, não importa o que a gente faça depois de sair do armário, provavelmente sentiremos que fizemos algo errado... A audácia de Binnie foi dirigir-se a um público — uma comunidade, um nós — que nunca tinha se visto dessa forma antes.” — The New Yorker


Sobre a autora
Imogen Binnie nasceu em Nova Jersey, nos Estados Unidos. É escritora e roteirista. "Nevada", seu livro de estreia, foi finalista do prêmio Lambda para literatura trans em 2014. Ela vive em Vermont com a esposa e os filhos. Garanta o seu exemplar de "Nevada", escrito por Imogen Binnie, neste link.

Trecho do livro
As mulheres trans da vida real não são iguais às mulheres trans da TV. Em primeiro lugar, depois que se tira a mistificação, os mal-entendidos e o mistério, elas são pelo menos tão chatas quanto as outras pessoas. Ah, as minhas neuroses! Ah, os meus traumas! Ah, olha só pra mim, meu passado me traumatizou e eu ainda estou resolvendo isso! Apesar da impressão que se pode ter com base nos programas de televisão e filmes idiotas, não há nada de particularmente interessante nisso. Embora talvez Maria esteja sendo parcial, claro.

Ela queria que as outras pessoas entendessem isso sem ela precisar dizer nada. É sempre impossível saber as suposições das pessoas. Elas tendem a pensar que mulheres trans são drag queens louconas e superengraçadas, ou então homens héteros tristes, patéticos, pervertidos e iludidos, pelo menos até juntarem dinheiro para fazer suas Cirurgias de Mudança de Sexo, quando então passam a ser exatamente iguais a qualquer outra mulher. Ou algo assim? Mas Maria pensa: cara, oi? Ninguém mais me lê como trans. Tiozões héteros flertam comigo quando estou no trabalho, e em todos os meus anos de transição eu não consegui juntar dinheiro nem para comprar um par de botas decente.

Ser uma mulher trans é assim: Maria trabalha num sebo imenso no sul de Manhattan. O lugar é um horror. A dona é uma mulher muito rica e muito má que vive ou ausente ou microgerenciando os funcionários. As pessoas da gerência que trabalham para ela levam todas uma vida miserável sob seu comando há vinte ou trinta (ou quarenta ou cinquenta) anos, ou seja, são todas babacas com Maria ou com qualquer outra pessoa que trabalha abaixo delas. É tipo um sebo famoso das antigas que existe há séculos.

Maria trabalha lá tem uns seis anos. As pessoas vivem pedindo as contas, porque nem todo mundo consegue aguentar o abuso inerente ao emprego. Mas Maria é tão emocionalmente fechada e tem tanta dificuldade de sentir qualquer coisa que pensa: bom, o emprego é sindicalizado, estou ganhando o suficiente pra pagar meu apê, e consigo me safar de quase qualquer situação da qual queira me safar. Só vou embora daqui se me demitirem. Só que quando ela começou a trabalhar lá era tipo: oi, eu sou um cara, e meu nome é o mesmo que consta na minha certidão de nascimento. Então, quando já tinha um ou dois anos de casa, teve a intensa e assustadora revelação de que por muito, muito tempo — por mais que dizer isso seja batido e clichê —, até onde sua memória alcançava, ela estava bem fodida da cabeça.

Então começou a escrever sobre isso. Pôs tudo no papel e foi ligando todos os pontos: o ponto eu às vezes quero usar vestidos, o ponto sou viciada em masturbação, o ponto tenho a sensação de levar um soco no estômago toda vez que vejo uma menina despretensiosamente bonita, o ponto eu chorava muito quando pequena e acho que não chorei nenhuma vez desde a puberdade. Um monte de outros pontos. Uma constelação inteira de pontos. O ponto ai, cara, eu sempre fico mais doida do que pretendia quando começo a beber. O ponto talvez eu odeie transar. Então acabou entendendo que era trans, disse a todo mundo que iria mudar de nome, começou a tomar hormônios, e foi muito difícil e recompensador e doloroso.

Enfim. Foi um Episódio Muito Especial. A questão é que tem pessoas no trabalho que se lembram de quando ela era supostamente um menino, que se lembram de quando ela transicionou, e que podem a qualquer momento contar para qualquer uma das pessoas novas que entrarem no trabalho que ela é trans, e aí ela vai ser obrigada a entrar num modo contenção de danos porque, lembrem-se, como ela pode saber que ideias bizarras essas pessoas têm em relação às mulheres trans?

Tipo, e se a pessoa for liberal e quiser demonstrar sua solidariedade? “Eu tenho uma amiga trans”, em vez de: “Ei, amiga trans, gostei de você, bora ter uma relação humana tridimensional?”. Ser uma mulher trans é assim: nunca ter certeza de quem sabe que você é trans, nem do que essa informação poderia significar para a pessoa. Viver pisando num terreno social movediço e esquisito. E o problema não é que importa alguém saber que você é trans. Dane-se. Você só não quer que a sua personalidade engraçada, encantadora, complicada e esquisitona seja apagada pelas ideias que as pessoas têm na própria cabeça e que foram criadas por roteiristas de tv picaretas, por exemplo, ou então por roteiristas de filmes pornô mais picaretas ainda. Mas é bem uó ter que educar as pessoas. Soa familiar? As mulheres trans precisam lidar exatamente com a mesma merdalhada que todas as outras pessoas do mundo que não são brancas, héteros, machos, com plenas capacidades físicas ou detentoras de algum outro tipo de privilégio. Não tem glamour nem mistério. É um puta saco. Maria está completamente exausta e de saco cheio disso, e se você não está, ela lamenta muito. Lamenta de um jeito profundo, consternado, sarcástico, impotente e inútil.

.: Tudo sobre "Tomás Nevinson", o último romance escrito por Javier Marías


"Tomás Nevinson"
é o último romance escrito por Javier Marías, aclamado autor de "Os Enamoramentos" e "Coração Tão Branco". O livro questiona o que esperar de alguém quando tudo é volátil e as pessoas mentem, mesmo quando estão convictas de dizer uma verdade imutável? Após um longo período dedicado ao serviço secreto, Tomás Nevinson acredita que seus dias de espionagem chegaram ao fim. O reencontro com Berta Isla, mulher por quem segue apaixonado apesar de uma ausência de anos, faz Nevinson se acomodar a uma vida pacata em Madri, onde não enfrenta grandes dificuldades, exceto ter de lidar com ocasionais fantasmas de seu passado.

Essa aposentadoria, contudo, é interrompida quando um destes espectros pede para vê-lo. Trata-se de seu ex-chefe Bertram Tupra, agente experiente e insondável, aparentemente desprovido de qualquer culpa. Ignorando os males que causou a seu antigo subordinado, Tupra convoca-o para uma nova missão: identificar e matar a pessoa responsável por um ataque terrorista perpetrado pelo ETA anos antes. A contragosto, Nevinson aceita a missão.

A obra dialoga não apenas com seu livro irmão "Berta Isla", mas também com outras obras consagradas como "Coração Tão Branco" e a trilogia "Seu Rosto Amanhã". Caracterizado pela presença de alguns dos temas mais caros ao autor (as fronteiras da identidade, o papel desempenhado pelos segredos e ocultamentos nas relações afetivas) e por seu estilo inconfundível, marcado por longas frases de estrutura intrincada, este livro é o testamento de um dos mais importantes autores de língua espanhola do último século. Compre o livro  "Tomás Nevinson", de Javier Marías, neste link.


Sobre o autor
Javier Marías
nasceu em Madri em 1951. Formado em letras e especializado em filologia, trabalhou como roteirista e tradutor antes de publicar seu primeiro livro, Los dominios del lobo, em 1971. Entre romances, ensaios e coletâneas de contos, escreveu mais de 30 livros. Dele, a Companhia das Letras publicou, entre outros, "Coração Tão Branco", "Os Enamoramentos", "Assim Começa o Mal", além da trilogia "Seu Rosto Amanhã". Morreu em Madri em 2022, em decorrência de uma pneumonia. Garanta o seu exemplar de  "Tomás Nevinson", escrito por Javier Marías, neste link.

.: Gustavo Tubarão revela em novo livro como se curou da depressão


Com mais de 18 milhões de seguidores nas redes sociais, o influenciador Gustavo Tubarão, que viveu por muito tempo com depressão, ansiedade e ataques de pânico, transformou a batalha com a saúde mental em livro para ajudar outras pessoas com os mesmos problemas. No lançamento "O Trem Tá Feio: como me Curei da Depressão", publicado pela Citadel Grupo Editorial, o mineiro compartilha um relato sincero sobre o próprio processo de cura por trás das câmeras. Com uma escrita leve e sem perder o bom-humor, Gustavo confidencia uma tentativa de suicídio e alerta sobre a importância do auxilio psicológico.

Por trás dos vídeos animados na roça, que arrancam boas risadas dos seguidores nas redes sociais, o criador de conteúdo e humorista mineiro, Gustavo Tubarão, travava uma batalha dolorosa com a própria saúde mental. Diagnosticado com depressão e Síndrome de Borderline, ele encontrou na criação de vídeos um refúgio para não desistir da própria vida e enfrentar as crises de ansiedade e ataques de pânico.

O objetivo é auxiliar mais pessoas a identificarem e buscarem ajuda profissional para tratar a depressão e outros problemas psicológicos. No livro, com uma escrita sincera e bem-humorada, Gustavo Tubarão compartilha as próprias experiências para alertar os leitores de que a saúde mental requer cuidado e atenção, antes que seja tarde demais.

"Eu já tentei suicídio, e minha família só soube quando contei isso na internet. Foi a pior sensação que já tive na vida. Mas tinha uma coisa naquele inferno que me tirava a risada, de que sempre gostei, que era fazer vídeos na internet [...] Antes de ser influencer, o meu sentimento era que eu não servia para nada, principalmente porque tudo o que eu pegava para fazer, logo desistia no meio do caminho. Mas, depois que descobri o que realmente fazia sentido na minha vida, não apenas comemorei 1 milhão de seguidores quando estourei no Instagram, como também vi o tanto que cresci e conquistei em todos os anos seguintes, porque eu nunca parei, nunca desisti", revela o autor nas páginas do livro "O Trem Tá Feio".

Para que cada um tenha o controle da própria vida e saiba que ansiedade e depressão não podem pará-lo, o humorista divide, nesta obra publicada pela Citadel Grupo Editorial, insights inspiradores com o leitor. São dicas de como identificar o que o motiva para seguir em frente; a não fugir das responsabilidades; de qual forma desenvolver a perseverança a fim de enfrentar o medo e emoções conflitantes e, até mesmo, saber dizer “não” para impor limites necessários.

Para além de relatos pessoais e dicas de como dar um passo de cada vez, dia após dia, Tubarão compartilha frases acolhedoras, salmos bíblicos e incentiva que as pessoas busquem por ajuda psicológica. Afinal, mesmo cercado por sentimentos negativos, o autor nunca desistiu: seu propósito é auxiliar o maior número possível de brasileiros que enfrentam a mesma doença a persistirem também, mesmo diante de momentos sombrios. Compre o livro "O Trem Tá Feio: como me Curei da Depressão", de Gustavo Tubarão, neste link.

Sobre o autor
Gustavo Tubarão
é um criador de conteúdo que teve sucesso mostrando nas redes sociais o seu dia a dia na roça, na cidade de Cana Verde, no interior de Minas Gerais. Hoje, ele é um símbolo da cultura mineira e faz questão de reforçar por meio dos vídeos, das tatuagens e da forma de se vestir o orgulho que tem da sua região. Além disso, Gustavo se tornou também uma referência quando o assunto é saúde mental, visto que nunca escondeu sua depressão e seus problemas psicológicos e faz questão de usar seu alcance para ajudar pessoas que o acompanham e passam por situações parecidas. Atualmente ele soma, ao todo, mais de 18 milhões de seguidores. Foto: Davi Cardoso. Garanta o seu exemplar de "O Trem Tá Feio: como me Curei da Depressão", escrito por Gustavo Tubarão, , neste link.

domingo, 18 de fevereiro de 2024

.: "Contra Fogo", de Pablo Casella, um romance profundo sobre crise climática


Lançado pela editora Todavia, o livro "Contra Fogo" marca a estreia do analista ambiental Pablo Casella. Com uma linguagem marcada pela oralidade, é um romance profundo sobre o tema urgente da crise climática, com uma prosa bela e original. E de tão natural e cheio de cores locais, parece ter brotado direto do chão da Chapada Diamantina. A capa é assinada por Elisa v. Randow. 

“Fica esperto, contra o fogo não pode ter afobação”, aconselha Deja, o “frente” de um grupo de brigadistas voluntários, para um adolescente em seu primeiro combate contra o dragão, como alguns chamam os incêndios de grandes proporções — muitos causados por ações criminosas — que devoram a fauna, a flora e os rios da Chapada Diamantina, na Bahia.

O grupo liderado por Deja é formado por gente como ele — moradores da região que arriscam a própria vida para deter o avanço descontrolado das chamas. Antes mesmo que as instâncias governamentais adotassem as políticas públicas necessárias, esses brigadistas se lançam a apartar a briga do fogo contra a terra com técnicas criadas instintivamente e sem equipamentos adequados. Sobretudo nos tempos de seca, se enfiam nas matas por dias e dias, sem descanso.

Cunga, Zia, Trote, Jotão, Adobim, Firóso e Abner, mais o cachorro Mutuca, são alguns dos voluntários chefiados por Deja. Cada qual expande ao seu modo esse universo peculiar, mas é a visão do líder, narrador em primeira pessoa, que torna tudo complexo e vivo. Sua linguagem, concisa e marcada pela oralidade, reflete o homem que é: brusco, simples, mas muito sensível à vastidão e aos detalhes de seu mundo — um mundo em que a palavra falada é soberana.

Embrenhado nas serras por longos períodos, Deja padece a aflição de equilibrar sua meta desmedida de combater incêndios com os compromissos cotidianos e familiares, buscando na natureza a mediação entre a realidade prática e uma metafísica de certos fantasmas do passado que só tomam forma na dança das labaredas. Compre o livro "Contra Fogo", de Pablo Casella, neste link.


O que disseram sobre o livro
“Há décadas brigadistas voluntários combatem incêndios na Chapada Diamantina e em outras regiões brasileiras, mas seu empenho continuado é pouco conhecido, mesmo em tempos de emergência climática. Construído com linguajar local perfeitamente calibrado e um profundo conhecimento do tema e do cenário, o romance 'Contra Fogo' mobiliza todos os poderes da prosa de ficção para nos engolfar nesse universo. A narrativa destrói e fecunda, repele e atrai, como o dragão de fogo que insiste em pousar nas serras inóspitas. No centro estão vidas comuns em sua instável busca de afeto e sentido, cativantes e sombrias na mesma medida, ardendo em continuidade com o ambiente em que vivem. Pablo Casella é um talento que estreia na literatura nacional como um ‘vento parido pelo sol’, para usar uma imagem retirada deste livro notável.” – Daniel Galera, escritor.

Sobre o autor
Pablo L. C. Casella nasceu em Guaratinguetá, em São Paulo, em 1978. Formado pela USP - Universidade de São Paulo, atua como analista ambiental no Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, o ICMBio, onde, de 2002 a 2022, fez parte da equipe gestora do Parque Nacional da Chapada Diamantina, na Bahia. "Contra Fogo" é o romance de estreia. Garanta o seu exemplar de "Contra Fogo", escrito por Pablo Casella, neste link.


Trecho do livro
Percebi quando Bel afastou a canga que fechava o vão de entrada do quarto, mó dum vento maneiro que triscou minhas costa. Pela demora dos passo, imaginei que tivesse parada me espiando de longe. Mais certo que pensava na nossa conversa de antes.

Dormiu? — pricurei sem precisão, já sabia a resposta.

Principiou uma caminhada de pisada leve, rumando pro meu lado. A cabeça balangava devagar, mesmo que respondendo: “Sim, que bobagem perguntar”. Não entendi aquela marcha dengosa. Mais cedo naquele dia a gente teve um trupelo brabo. Continuei ajeitando minhas roupa na cadeira. As mãos dela seguraram meus ombro e com os dedão ela dava uns apertos na carne da pá. Isso costumava ser o sinal dela pra apaziguar as peleja de casal.

Desceu as mão como se cada dedo fosse a perna dum bichinho caminhando pesado, fundando os pé na minha pele até triscar no vazio do lombo. Torceu meu tronco e me deixou de frente pr’ela. Pelo jeito das venta não era briga. Segurei a cintura dela.

A ponta de uma bota empurrou o calcanhar da outra e o pé ficou nu.

Não tava brava?

Fico, depois. — Ela se achegou pra perto do meu peito. A perna dela contornou a minha e com o dedão do pé ela empurrou minha outra bota pro chão.

Rumei minha mão por dentro da bata, os dedo grosso lixaram a pele das costa dela até os cabelo do cangote. Uns carocinho de arrupio brotaram no braço dela junto com os ombro que arribaram encolhendo o pescoço. Ela dobrou a cabeça pra baixo e deu uma risada com o nariz quando reparou na corda que amarrava minha calça.

— Esse nó vai dar trabalho — ela brincou.

Com a outra mão tirei minha faca da bainha e ofereci, brincando de volta. As boca ainda riam quando a gente se beijou, um puxava o outro até as barriga se amassar, a bata dela se embolava já passando dos peito até que uma zuada de motor a diesel parou na frente de casa.

— ‘Umbora, Deja! — Jotão gritou da rua.

Não duvidei o que significava aquilo. Pela careta, Bel torceu pra não ser o que ela sabia que era. Puxei a mão de dentro da bata e dei um passo de lado pra rumar até a porta, mas a mão aberta e firme de Bel, virada pra minha cara, lembrou que eu tava em dívida e achei melhor concordar. Naquela manhã ela tinha pirado comigo porque eu cancelei uma guiada pra representar a brigada numa reunião importante.

No caminho pra porta ela ajeitou a bata, os cabelo e a raiva. Dava pra ouvir outras voz gritando e batendo as mão na lataria do carro, do jeito mesmo que os guerreiro faz quando farejam fumaça de incêndio.

— Já falei pra não fumar aqui dentro, xibungo! — Conheci Abner pela voz, fingindo que tava bravo.

— Virge Santa, peraí... — Pela fala mansa, era Cunga tragando com saudade o final do último baseado.

— Tá rolando. Vamo! — insistiu uma voz avexada, qu’eu não identifiquei de quem era.

Pelo abrir da porta deu pra sentir a brutice de Bel.

— Tem criança dormindo, porra! — Ela sussurrou um grito. Chega imaginei as mão dela, nervosa, agitando no ar, mandando falar baixo. — E aí, Jotão, tu tá bem? — cumprimentou nosso compadre, com a voz mais calma. A amizade com Jotão não deixava ela ralhar com ele.

Depois é aquela marofa — Abner ainda dava bronca, talvez em Cunga, que devia mesmo tá fumando no carro. — Boa noite, Bel. Foi mal a zuada!

Cadê Anori, Bel? — Jotão pricurou pelo afilhado.

Se vocês não acordaram ele... tá dormindo.

— É foda, a galera não respeita. — Ouvi a zuada da porta do carro abrindo e a voz de Jotão foi aumentando. — Pessoal, fica quieto aí, vai — trovejou com o vozerão corpulento que nem ele. — E Deja, Bel?

— Tá não, Jotão.

Fiquei confuso. Ou indignado. Bel tava mesmo mentindo assim, na caradura? Mentiu pro amigo, prum compadre, tangida no medo d’eu perder o trabalho que já tava agendado pra manhã seguinte?

— Teve que resolver um negócio na casa de Betânia — ela reforçou a mentira, colocando minha irmã no meio!

Fazia uns dia que eu não pegava um serviço e, nas conta dela, umas semanas que a despensa da casa era abastecida só pelo bisaque dela. No quarto, fiquei de pé, agoniado, feito galinha dos pé queimado andando dum lado pro outro. Não tava certo ficar escondido ali. E depois da mentira de Bel, também não era boa ideia aparecer. ideia aparecer.

De cima da caminhonete um dos brigadista deve ter me enxergado através do vidro da janela do quarto, mó de que ele gritou: “Olha lá”, e em seguida veio a gritaria e o meu vexame. Rumei a gandola por riba do ombro, saí descalço mesmo com os coturno na mão. Bel soltou um bufo raivoso quando percebeu que eu tinha chegado perto da porta e esticou os braço pro chão, um sestro que ela costumava fazer nas vez que ficava contrariada.

sábado, 17 de fevereiro de 2024

.: Grátis: Museu da Língua Portuguesa lança catálogo da exposição "Nhe’ẽ Porã"


Publicação foi distribuída em primeira mão na abertura da itinerância da mostra no Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém do Pará. Versão do material também pode ser baixada em pdf.


O Museu da Língua Portuguesa, instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, lançou o catálogo da exposição "Nhe’ẽ Porã: memória e Transformação". A publicação impressa sobre a mostra foi distribuída em primeira mão no Museu Paraense Emílio Goeldi, onde uma versão itinerante da exposição ficará em cartaz até 28 de julho. O material, em formato PDF, também pode ser encontrado e baixado gratuitamente neste link

A exposição itinerante "Nhe’ẽ Porã: memória e Transformação" conta com articulação e patrocínio máster do Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura - Lei Rouanet.  Além de imagens de obras de artistas como Tamikuã Txihi, Glicéria Tupinambá, Denilson Baniwa e Paula Desana, e de mapas produzidos exclusivamente para o projeto, o catálogo contém textos da curadora da exposição, a artista indígena e mestre em Direitos Humanos Daiara Tukano, e também nas línguas tupi-antigo, xavante, yanomami, dahseaye e mbya.   

Quem quiser saber mais sobre a exposição, outra dica é conhecer a versão on-line da mostra que esteve em São Paulo entre outubro de 2022 e abril de 2023, atraindo mais de 189 mil visitantes. O acesso ocorre por meio da exposição virtual https://nheepora.mlp.org.br.

 "Nhe’ẽ Porã: memória e Transformação" propõe um mergulho na história, memória e realidade atual das línguas dos povos indígenas do Brasil, através de objetos etnográficos, arqueológicos, instalações audiovisuais e obras de arte. A exposição busca mostrar outros pontos de vista sobre os territórios materiais e imateriais, histórias, memórias e identidades desses povos, trazendo à tona suas trajetórias de luta e resistência, assim como os cantos e encantos de suas culturas. Daiara Tukano assina a curadoria, e a antropóloga Majoí Gongora é a cocuradora.  

Patrocinadores e parceiros
A mostra itinerante  "Nhe’ẽ Porã: memória e Transformação" conta com articulação e patrocínio máster do Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet e é correalizada pelo Museu Paraense Emílio Goeldi, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. O projeto tem cooperação da UNESCO no contexto da Década Internacional das Línguas Indígenas (2022-2032) e parceria do Instituto Socioambiental, Museu de Arqueologia e Etnologia da USP e Museu do Índio da FUNAI. A realização é do Museu da Língua Portuguesa, instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo, do Ministério da Cultura e do Governo Federal.  

Serviço
Catálogo da exposição "Nhe’ẽ Porã: memória e Transformação"
Disponível e baixado gratuitamente neste link

Exposição itinerante "Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação" – Belém (PA) 
Museu Paraense Emílio Goeldi - Centro de Exposições Eduardo Galvão.  
Av. Magalhães Barata, 376 - São Braz - Belém (PA).  
Até dia 28 de julho de 2024.
De quarta a domingo, inclusive feriados.  
Até maio - das 9h às 14h, com bilheteria até 13h.  
Depois de junho – 9h às 16h, com bilheteria até 15h.  
R$ 3,00 (inteira) e R$ 1,50 (meia) e gratuidades garantidas por Lei.

.: Em SP, Mauricio Stycer lança "Gilberto Braga, o Balzac da Globo" em bate-papo


Após o sucesso do lançamento no Rio de Janeiro, a Livraria da Vila Fradique recebe o jornalista e escritor Mauricio Stycer para sessão de autógrafos do livro "Gilberto Braga, o Balzac da Globo" e bate-papo com o dramaturgo Alcides Nogueira na próxima terça-feira, 20 de fevereiro. O evento terá início às 18h30. Na obra, Mauricio e Artur Xexéo, falecido em 2021, retratam a trajetória de um dos maiores novelistas da história da televisão brasileira. 

As histórias contadas por Xexéo e Stycer sobre a infância e a juventude de Gilberto Braga, que se dividiu entre a Tijuca e a Zona Sul do Rio de Janeiro, explicam o porquê de o autor ter se tornado um retratista tão prolífico das classes média e alta. Muitas narrativas presentes nas novelas de Gilberto foram baseadas nas vivências dele, que nunca abandonou o olhar crítico porém sensível. 

A obra remonta aos primeiros anos da carreira de Gilberto, quando foi professor da Aliança Francesa e crítico de teatro de O Globo. As páginas também relatam como teve início o trabalho do dramaturgo na televisão, após um convite de Daniel Filho, além das dificuldades que enfrentou ao longo de sua jornada profissional. 

O livro é, ainda, um tributo às novelas de Gilberto por parte dos autores, que dão ao leitor a chance de relembrar tramas e conhecer muitas curiosidades sobre as produções. A biografia conta com depoimentos de artistas que puderam trabalhar ao lado do mestre, conhecido pelo pioneirismo na TV ao tratar de temas considerados tabus, como racismo e sexualidade. Compre o livro "Gilberto Braga, o Balzac da Globo", de Artur Xexéo e Mauricio Stycer, neste link.


Sobre o livro:
“Balzac da Globo”
 é como Artur Xexéo e Mauricio Stycer se referem a Gilberto Braga, que era assim chamado por causa das temáticas abordadas pelo dramaturgo em suas novelas, que incluíam dinheiro, ambição e vingança. A mente fértil de Gilberto para criar histórias tem raízes nos acontecimentos de sua própria vida - que daria, por si só, uma novela, como a dupla de jornalistas nos apresenta na biografia, lançada em janeiro pela Intrínseca.  

“Muitas qualidades foram atribuídas a Anos dourados, mas o que ficou para Malu Mader, ‘além do forte traço feminista’, foi ‘o elogio à bondade dos personagens’, segundo ela, algo incomum na obra de Gilberto. A atriz tem razão ao observar que o novelista é mais festejado como um grande criador de vilãs e vilões. Marcos e Lurdinha, apesar de bons, eram cativantes e interessantes. ‘Me orgulha ter feito uma personagem por onde ele expressou tão bem a transformação pelo amor.’ Malu conta que, assim como Lurdinha, ela própria foi se transformando ao longo da história. Durante as gravações da minissérie, decidiu sair da casa dos pais e morar sozinha. ‘Anos dourados me mostrou a dimensão mais profunda e mágica da profissão.’”

Além de homenagear o dramaturgo, a biografia celebra o trabalho de Artur Xexéo, falecido em 2021, aos 69 anos. A voz do jornalista é amplificada por Mauricio Stycer, que recebeu a missão de finalizar o manuscrito. Garanta o seu exemplar de "Gilberto Braga, o Balzac da Globo", escrito por Artur Xexéo e Mauricio Stycer, neste link.

Foto: Paulo Severo

Mauricio Stycer nasceu no Rio de Janeiro em 1961. É jornalista especializado em televisão e atualmente é colunista da Folha de S.Paulo. Publicou os livros "História do Lance!" (Alameda, 2009), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), "Topa Tudo por Dinheiro" (Todavia, 2018) e "O Homem do Sapato Branco" (Todavia, 2023).

Artur Xexéo passou pelas redações de Veja, IstoÉ, Jornal do Brasil e O Globo. Escreveu as biografias de Janete Clair, Hebe Camargo e sua autobiografia sobre as coberturas das Copas do Mundo das quais participou. Foi comentarista de cultura da GloboNews no programa Estúdio i e da rádio CBN no programa Liberdade de expressão. 

.: “Um Palco para Narcisa”, de Cilene Guedes, reconstrói trajetória literária


O livro "Um Palco para Narcisa", publicado pela editora Funilaria, reúne a dramaturgia “Narcisa”, de Cilene Guedes, e artigos sobre a primeira etapa de experimentos do que viria a ser o espetáculo teatral “Narcisa”, que estreou em 2023. O texto dramático sobre a poeta Narcisa Amália reconstrói a trajetória da escritora com base em poemas, cartas, artigos de jornais, músicas e outros documentos produzidos no Rio de Janeiro do final do século XIX e início do século XX. O livro também traz os poemas do livro "Nebulosas", que deram fama a Narcisa Amália.

Narcisa Amália, poeta romântica fluminense, comparada a Gonçalves Dias e Castro Alves, foi considerada primeira mulher a tornar-se jornalista profissional no Brasil. Ganhou prêmios e alcançou fama na corte imperial ao lançar seu primeiro livro de poemas, aos 20 anos. Era republicana, abolicionista e árdua defensora dos direitos e da liberdade da mulher. Teve sua memória e obra sujeitas ao sistemático silenciamento das vozes femininas na história literária brasileira. Compre o livro "Um Palco para Narcisa", de Cilene Guedes, neste link.


Narcisa Amália na Fuvest
A Fuvest, vestibular da USP, anunciou que a partir de 2026 vai ter pela primeira vez na história uma lista de leitura obrigatória só com obras escritas por mulheres autoras da língua portuguesa. Uma das escritoras é Narcisa Amália, que conta com a obra "Nebulosas" na lista.

"Nebulosas", de Narcisa Amália, é um dos livros cobrados pela Fuvest em 2026. Corajosa, erudita, sensível a questões humanitárias e ligadas ao universo feminino, a autora escreveu um único livro. À época de sua publicação, em 1872, pela mítica editora Garnier, essa obra fez com que seu talento fosse celebrado por ninguém menos que Machado de Assis e também pelo imperador Dom Pedro II

A obra foi escrita pela autora quando ela tinha 20 anos. No livro, a “jovem e bela poetisa”, como definiu Machado de Assis, declama poemas de exaltação à natureza, à pátria e de lembranças da sua infância. O livro foi publicado pela mais famosa editora brasileira à época, a Garnier, que patrocinou todos os gastos da impressão. 

A editora deu relevância ao livro, segundo Maria de Lourdes Eleutério, pelo fato incomum à época de uma mulher publicar um livro. Conforme relata Maria de Lourdes Eleutério “para as mulheres da República o sonho de publicar um livro era um projeto distante, a expressão feminina nesse período permanece circunscrita ao espaço privado”.

Em 1873, Narcisa recebeu o Prêmio Lira de Ouro por conta dessa obra. Em setembro de 1874, Narcisa recebeu o prêmio da Mocidade Acadêmica do Rio de Janeiro, uma pena de ouro entregue pelas mãos do conselheiro Saldanha Marinho. No livro, estão reunidos os 44 poemas originais. Alguns poemas líricos, com temas intimistas, femininos, e relacionados à natureza, outros de cunho social, em prol da abolição da escravatura. Compre o livro "Nebulosas", de Narcisa Amália, neste link. 


Sobre a autora
Narcisa Amália de Campos foi tradutora, poeta, escritora, crítica literária, jornalista brasileira e professora. Foi a primeira mulher a trabalhar como jornalista profissional no Brasil, além de abolicionista, republicana e feminista. Movida por forte sensibilidade social, combateu a opressão da mulher e o regime escravista. Segundo Sílvia Paixão, “um dos raros nomes femininos que falam de identidade nacional" e busca sua própria identidade “numa poética uterina que imprime o retorno ao lugar de origem”. Colaborou na revista A Leitura (1894-1896) e, bem a frente de seu tempo, escreveu muitos artigos de cunho feminista e republicano.

Filha do poeta Jácome de Campos e da professora primária Narcisa Inácia de Campos, Narcisa Amália nasceu em São João da Barra, no Rio de Janeiro, em 3 de abril de 1852. Ainda em São João da Barra, estudou latim e francês com o padre Joaquim Francisco da Cruz Paula, e recebeu aulas de retórica de seu pai. 

Aos 11 anos, mudou com a família para o município fluminense de Resende, onde, aos 14, se casa com João Batista da Silveira, artista ambulante de vida irregular, de quem se separou alguns anos mais tarde. Aos 28 anos, em 1880, se casou novamente com Francisco Cleto da Rocha, mas a união não durou e o casal se separou pouco tempo depois, obrigando-a a deixar Resende, em especial por conta dos boatos espalhados por seu marido na cidade. Por ter sido casada e divorciada em duas ocasiões, isso gerava forte estigma social na época.

O sucesso de Narcisa passou a incomodar o marido que, depois de separado, passou a difamar a escritora declarando que seus versos não eram de sua autoria, mas escritos por poetas com quem teria tido casos de amor. O escritor Múcio Teixeira fez coro à campanha contra Narcisa declarando que o livro “Nebulosas” tinha sido escrito por um homem com pseudônimo de mulher.

Narcisa iniciou sua carreira como tradutora de contos e ensaios de autores franceses, como a escritora George Sand (pseudônimo masculino da autora Amandine Aurore Lucile Dupin) e o paleobotânico Gaston de Saporta. Único livro da autora, "Nebulosas" foi publicado em 1872, em nova edição em 2017 pela Gradiva Editorial e a Fundação Biblioteca Nacional. A obra foi muito bem recebida na época de seu lançamento, tendo sido inclusive bastante comentado por Machado de Assis e Dom Pedro II. Em 1874, 1888 e 1917, ela contribui com o "Novo Almanaque de Lembranças", que era uma coletânea de textos diversos que tinha grande circulação em Portugal e no Brasil.

Com problema cardíaco e cansada das difamações em Resende, em 1888, com apenas 33 anos, foi para o Rio de Janeiro, no bairro de São Cristóvão. Ainda na vida carioca continuou a escrever, mas cada vez menos e foi lecionar em uma escola pública. Narcisa Amália faleceu aos 72 anos, em 24 de julho de 1924, no Rio de Janeiro, vitimada por um diabetes. Ela já estava cega, pobre e com problemas de mobilidade. Além disso, sua obra foi praticamente esquecida depois de sua morte.

Antes de sua morte, deixou um apelo: “Eu diria à mulher inteligente [...] molha a pena no sangue do teu coração e insufla nas tuas criações a alma enamorada que te anima. Assim deixarás como vestígio ressonância em todos os sentidos”Garanta o seu exemplar de "Nebulosas", escrito por Narcisa Amália, neste link.

Fuvest 2026

"Opúsculo Humanitário" (1853) - Nísia Floresta Brasileira Augusta

"Nebulosas" (1872) - Narcisa Amália

"Memórias de Martha" (1899) – Julia Lopes de Almeida

"Caminho de Pedras" (1937) – Rachel de Queiroz

"O Cristo Cigano" (1961) – Sophia de Mello Breyner Andresen

"As Meninas" (1973) – Lygia Fagundes Telles

"Balada de Amor ao Vento" (1990) – Paulina Chiziane

"Canção para Ninar Menino Grande" (2018) – Conceição Evaristo

"A Visão das Plantas" (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

.: Fernando Pinheiro analisa 3 escritores em "O Mago, o Santo, a Esfinge"


Por Luís Augusto Fischer.

Um mago, um santo e uma esfinge entram num bar. Os três são escritores. Mas, alto lá, vistos bem de perto é muito fácil diferenciá-los, porque ostentam distinções importantes. Considere que o mago se chama Paulo Coelho; o santo é Manuel Bandeira; a esfinge atende pelo nome de Clarice Lispector. São muitos os contrastes que qualquer leitor encontrará entre eles, mesmo num bar escuro. Sem esse tom de piada, e com os sentidos analíticos em riste, Fernando Pinheiro traz no livro "O Mago, o Santo, a Esfinge", lançado pela editora Todavia, esses três escritores para o centro do palco, diante do leitor brasileiro, que os conhece, nem que seja pela fama genérica. A capa é de Ana Heloisa Santiago.

O primeiro é figura inevitável no horizonte brasileiro e ocidental na geração atual, e os outros dois gozam de prestígio literário enorme, seja pela fama escolar (Bandeira), seja pela leitura de seus textos, na íntegra ou em drops, nas redes (Clarice). Tendo por referência, entre outros, Pierre Bourdieu e Erving Goffman, e uma forte tradição local de sociologia da cultura, Pinheiro examina não apenas a obra publicada dos três, mas também seus depoimentos, suas memórias e sua trajetória concreta sobre o chão. Seu foco é indagar como se construiu, em cada uma das trajetórias, a figura de escritor(a), e como cada um(a) lidou com a imagem pública que lhe tocou viver.

Trata-se de três casos bastante diversos, que não se conectam nem por geração, nem por um mesmo gênero textual dominante, nem mesmo na relação que cada um estabeleceu com sua imagem pública, resultante tanto de sua deliberada ação quanto das expectativas e demandas em torno de si. Mas aqui eles se vizinham, porque, para além dessas diferenças, os três representam casos notáveis de relação entre o plano das convicções, expresso em textos e entrevistas, e o fundo social em que repousa o valor atribuído à literatura, ao autor, aos livros.

Como um desconfiado profissional, Fernando Pinheiro ilumina os objetos que estuda medindo-os sempre contra certa convenção naturalizada, que atribui alto valor à “leitura literária”, desinteressada, ausente de qualquer dimensão pragmática — leitura que por sinal em nossos dias tem perdido força e espaço para o que se poderá chamar de “leitura identitária”. Também essa mudança difusa e lenta faz valer muito este estudo, para conhecer a chegada do Mago, do Santo e da Esfinge ao balcão do bar das letras. Compre o livro "O Mago, o Santo, a Esfinge", de Fernando Pinheiro, neste link.

O que disseram sobre o livro
“Os ensaios de Fernando Pinheiro miram recessos do trabalho de figuras-chave da história literária nativa. A análise em combustão derruba clichês, escarnece do proselitismo pedante, escrutina subentendidos, a modelar respiros incômodos de interpretação. Paulo Coelho, o autor dito ‘menor’, faz jus a coordenadas contextuais propícias a matizar um retrato contingente e amigável. Os consagrados Manuel Bandeira e Clarice Lispector recuperam feições e escaninhos expressivos na  contramão de vereditos no limiar da apologia. Eis o sumo da empreitada: uma incursão de fôlego apta a esquadrinhar as vulgatas ao cânon.” – Sergio Miceli


Sobre o autor
Fernando Antonio Pinheiro Filho é professor livre-docente de sociologia na Usp (Universidade de São Paulo). É autor de "Lasar Segall: arte em Sociedade" (Cosac Naify, 2008). Garanta o seu exemplar de "O Mago, o Santo, a Esfinge", escrito por Fernando Pinheiro, neste link.


Trecho do livro

Temos assim nessa ponta do arco o escritor colado ao que escreve, e com reservas a tudo que ultrapassa essa relação, o que inclui a indiferença à sua figura pública, que não chega sequer a constituir-se plenamente — Kafka representaria um tipo ideal no sentido de Weber se retivermos apenas esses traços centrais, deixando em suspenso as ambiguidades exploradas na interpretação de sua postura empírica como escritor. Passando agora à outra ponta do arco, habitada por uma postura de escritor antípoda desta (também no plano típico-ideal), os depoimentos citados parecem autoexplicativos, dada sua crueza em revelar artifícios na construção da imagem (simbólica e física) do escritor pondo inteiramente de lado seu trabalho propriamente literário; no entanto, há alguns aspectos que precisam ser um pouco mais desenvolvidos.

“Embelezar” escritores e escritoras como assumida estratégia de marketing editorial representa o epítome de um processo de midiatização que tem uma longa história, que não cabe retraçar aqui, até chegar à interferência no corpo do artista para adequá-lo a certa figura pública previamente calculada. No exemplo quase caricatural de Meg Cabot, ostensivamente louvado pela diretora de marketing de sua editora, destaca-se a fusão entre a escritora e a heroína de seu romance devida à destreza de sua encenação, que potencializa a proximidade simbólica com seu público leitor. 

A unidade assim urdida, no entanto, difere radicalmente do caso de Kafka, cingindo-se à adesão da escritora à imagem de si que ela representa (aqui no sentido cênico) como emblema do que escreve, facilitando a identificação projetiva dos leitores e abrindo caminho para a vendagem do livro, que seguramente deve harmonizar-se, como objeto material, aos marcos postos por esse emblema (em seu projeto gráfico, paratextos de capas e orelha etc.). Esse procedimento ameaça inclusive tomar a frente daquilo a que se refere — como se ao texto bastasse não quebrar a unidade da figuração. 

O depoimento de Olivier Gay indica uma variante dessa postura que inclui alguma crítica irônica na identificação entre a figura de autor desenhada institucionalmente (também nesse caso pela casa de edição) e o produto de seu métier. Ao expor os procedimentos a que se submete para aceder a uma figura de seriedade “de autor”, cria um distanciamento que é parte mesmo dessa figura, adicionando rebeldia retórica e índole transgressiva (olheiras como o “cerne de uma vida dissoluta”) como tempero especialmente apropriados a um escritor de romances policiais — insubmissão tornada modalidade de submissão institucional.

Entre os dois casos típicos assim construídos é possível localizar na história social da literatura um sem-número de casos empíricos de escritores, conforme a distância entre o autor que está no texto e sua existência diante dos outros, como encarnação de uma figura de literato para além do texto dirigida ao público — seus leitores, ou o conjunto dos que têm acesso à sua imagem pública — ou mesmo como um duplo autoconstituído, que pode inclusive se imiscuir na criação. 

De modo mais amplo, o que se sugere então é uma diferença entre texto e obra, considerando que o autor maneja, com maior ou menor controle, consciência e êxito, essa figuração pública e a modula de acordo com o que pretende com o texto — de modo que a obra seria a somatória do escrito com o que ficou encriptado na representação de autor oferecida ao público, que se interpõe entre o escrito e o lido. 

Em Kafka a figuração pública está virtualmente ausente, sobrando o texto como representação imediata do autor — ou quase isso, se lembrarmos a postura (ou impostura, descontada a carga moral do termo) representada pela autodepreciação e hesitação em publicar. No simétrico oposto o texto está presente, mas sob ameaça de ver-se englobado pela encenação de si produzida por seu autor; ou, como nos casos extremos que serviram de exemplo, a partir de uma estratégia editorial de caráter comercial a que adere. 

Não surpreende que o reconhecimento literário e o pertencimento aos cânones nacionais ou mesmo mundiais levam os escritores a uma postura mais próxima do “modo Kafka”, ao passo que o sucesso apenas ou predominantemente comercial, aliado ao fracasso crítico, tenderia a aproximá-los do polo marcado pelo “embelezamento”; no entanto, haverá sempre algo de “embelezamento”, como metáfora para a adequação figurativa, nos escritores mais “puros” (mais afeitos às proezas estritamente literárias) e vice-versa, isto é, a procura por renome literário lastreado no texto entre aqueles cuja performance fora das linhas desse texto lhes proporcionou um tipo mais instável, e contestável, de renome.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

.: "Nasci na América…: Uma Vida em 101 Conversas": Italo Calvino por ele mesmo


"Nasci na América…: Uma Vida em 101 Conversas (1951-1985)"
, lançado pela Companhia das Letras, Italo Calvino por ele mesmo. Um volume monumental de entrevistas feitas com o autor de "As Cidades Invisíveis", espalhadas ao longo de mais de três décadas e reunidas pela primeira vez em livro. Uma janela para uma das mentes mais fascinantes do século XX. Organizado por Luca Baranelli, o livro tem tradução de Federico Carotti.

Organizadas em ordem cronológica, estas 101 entrevistas de Italo Calvino abarcam o período que vai de 1951 a 1985. No diálogo com seus interlocutores - em muitos casos, com perguntas possivelmente elaboradas pelo próprio Calvino -, o autor trata dos mais variados temas: a situação da literatura italiana e estrangeira; a relação entre língua e dialeto; a paixão pelo cinema e pelo teatro; os escritores favoritos, tanto clássicos quanto contemporâneos; sua juventude e seu envolvimento político; a descoberta dos Estados Unidos; o terrorismo dos anos 1970 e o “neoindividualismo” dos anos 1980; sua relação com cidades como Sanremo, Turim, Veneza, Paris e Nova York; o futuro do homem e do universo.

São textos que, apesar da brevidade, carregam o rigor e a elegância de Calvino e oferecem uma compreensão inédita de aspectos que permaneceram em segundo plano em sua produção narrativa. O resultado, para Mario Barenghi, que assina a introdução deste livro, é o de uma autobiografia em construção e multifacetada. Compre o livro "Nasci na América…: Uma Vida em 101 Conversas (1951-1985)" neste link.


Sobre o escritor
Italo Calvino
nasceu em Santiago de Las Vegas, Cuba, e foi para a Itália logo após o nascimento. Participou da resistência ao fascismo durante a guerra e foi membro do Partido Comunista até 1956. Em 1946 instalou-se em Turim, onde se doutorou com uma tese sobre Joseph Conrad. Lançou sua primeira obra, "A Trilha dos Ninhos de Aranha", em 1947. A Companhia das Letras está publicando a obra completa do autor. Garanta o seu exemplar de "Nasci na América…: Uma Vida em 101 Conversas (1951-1985)" neste link.

.: "Novas Cartas Portuguesas", a obra transgressora que marcou a revolução


"Novas Cartas Portuguesas" é uma obra transgressora que marcou a Revolução dos Cravos e a vida das mulheres em Portugal e no mundo. Lançado pela editora Todavia, o livro de Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno Maria Velho da Costa tem prefácio de Tatiana Salem Levy e capa de Julia Custodio.

O livro, por Dulce Maria Cardoso

"Novas Cartas Portuguesas" tem tanto de gênio literário quanto de resistência ao Portugal fascista de 1971. Partindo de Lettres Portugaises - cinco belas missivas amorosamente sofridas que a abandonada soror Mariana Alcoforado teria escrito ao oficial francês Noel Bouton de Chamilly —, as “Três Marias”, Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, reclamam o direito à plenitude da existência política, econômica, social, cultural e sexual das mulheres.

Fazem-no de uma forma, a todos os níveis, revolucionária. Subvertendo o conceito tradicional de autoria - ainda hoje não se sabe quem escreveu o quê -, as três amigas vão se escrevendo cartas, contos, ficções, poemas, ensaios, que compõem um todo dificilmente categorizável e extremamente inovador. Os textos enfrentam, para ofensa dos beatos poderes, o gasto Império de cinco séculos, a exaurida guerra colonial com os seus horrores e mortos, a inefável Censura, a hipócrita subordinação dos cidadãos ao ideal salazarista de “Deus, pátria e família”, a violência sobre o corpo das mulheres e a sua submissão e secundarização na sociedade, no trabalho e no âmbito doméstico.

Considerada pornográfica e atentatória à moral pública, a obra foi proibida e as autoras, processadas. A solidariedade de resistentes antifascistas e o apoio de prestigiados intelectuais estrangeiros deram ao caso dimensão internacional e tornou-o um dos símbolos da luta pela liberdade, que a revolução de 25 de Abril resgatou três anos depois. Neste tempo em que, um pouco por todo o mundo, nos tentam convencer de que é inevitável o lento morrer das instituições democráticas, em que tenebrosas forças reacionárias põem em perigo importantes conquistas civilizacionais, um tempo em que se vai instalando a ideia de que a literatura pouco ou nada pode contra a desesperança que vai minando a humanidade, conhecer ou regressar a Novas cartas portuguesas é uma experiência arrebatadora. Um grito de coragem e de esperança. Compre o livro "Novas Cartas Portuguesas", de Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, neste link.


Sobre as autoras
Maria Teresa Horta
nasceu em 1937 em Lisboa. É jornalista, poeta e militante feminista. Seu segundo livro, "Minha Senhora de Mim" (1971), foi censurado pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado (Pide). Com uma obra extensa, tem mais de 40 livros publicados. Em 2017, recebeu o Prêmio Camões, mas se recusou a recebê-lo.

Maria Isabel Barreno nasceu em 1939, em Lisboa, e faleceu em 2016 na mesma cidade. Foi escritora, ensaísta, artista plástica e jornalista. Dedicou-se à causa feminista em todas as suas atividades. Depois de seu primeiro livro, "De Noite as Árvores São Negras" (1968), teve mais de vinte obras publicadas.

Maria Velho da Costa nasceu em 1938, em Lisboa, e faleceu em 2020 na mesma cidade. Um dos nomes mais reconhecidos da literatura portuguesa, foi presidente da Associação Portuguesa de Escritores entre 1975 e 1977. Deixou uma obra vasta que inclui ficção, poesia, roteiros de cinema, peças de teatro e ensaios. Recebeu o Prêmio Camões em 2002. Garanta o seu exemplar de "Novas Cartas Portuguesas", escrito por Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, neste link.

Trecho do livro
Mais do que a paixão:
os seus motivos; a construção dela. — Motivos que, peça por peça, a elaboram como um vitral com as suas imagens à transparência? Não —, antes no seu interior visceral de vidro inteiro. Pensemos o amor no seu jogo através do contentamento: as palavras uma por uma no bordado empolgante dos sentimentos e dos gestos. A mão sobre o papel traça com precisão as ideias na carta que, mais do que para o outro, escrevemos para nosso próprio alimento: o doce alimento da ternura, da invenção do passado ou o envenenamento da acusação e da vingança, elas próprias principais elementos da paixão na reconstrução do nosso corpo sempre pronto a ceder à emoção inventada, mas não falsa. — Não é falso se te escrevo:

“Repara, sequiosa é a faca do teu silêncio a revolver-se-me bem no interior do ventre... Cobre com os teus dedos os meus olhos a fim de eu não ver ou não me veja, que te perco e não me odeio.”

Eis o ódio, outro principal elemento do amor. Amor cujo objecto nunca será em si a principal causa, mas apenas o motivo, o ponto de partida, jamais o único objectivo ou mesmo o fulcro, o outro. E se não acredito em mim o amor como sentimento totalmente verdadeiro a não ser a partir da minha imperativa necessidade em inventá-lo (logo já ele é verdadeiro mas tu não), recuso-me a negá-lo no entanto pois na realidade existe, é em si mesmo: vício, urgência, precipício, enquanto tu serves apenas de motivação, de início, de peça envolvente em que te arrasto neste meu muito maior prazer em me sentir apaixonada do que em amar-te. Neste meu muito maior prazer em dizer que te amo do que na verdade em querer-te.

Não é falso, então, se te escrevo: 

“Sei que te perdi e me afundo, me perco também dentro da minha total ausência de poder em que me queiras”.

E assim sofro, aparentemente porque te amo, mas antes porque perco o motivo de alimento da minha paixão, a quem talvez bem mais queira do que a ti. 

Do desvario não me curo, nem da ansiosa vontade de te ver. Mas aqui por certo será já o desejo e não o amor a causa deste outro sentimento ou alimento de uma emoção que pode ser tomada apenas por amor e erradamente entendida de outra maneira que não pelo simples exercício do corpo, que realmente é.

Não nego, portanto, o exercício do amor. O sofrimento como exercício do mesmo e o mesmo amor como exercício da paixão, qualquer que seja.

Que dou eu então em troca do que me dás?

— O meu amor. Mais exactamente: o meu amor por ti.

E jamais, pois, nenhuma de nós três: mulher, se entregará sem dano de si própria e de outrem. Ramificação oculta que transportamos na voragem de nos sabermos, de nos descobrirmos, na viagem que premeditadamente empreendemos através de nós próprias na procura ou na entrega. Na sistemática dissecação do que nos resta? Ou do muito que possuímos?

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