domingo, 13 de junho de 2004

.: Resenha de "Minha Vida", Suzana Flag (Nelson Rodrigues)

Suzana: O eu-poético feminino de Nelson Rodrigues
Por: Helder Moraes Miranda

Em junho de 2004


Personagem de si mesmo, Nelson Rodrigues nos presenteia com a autobiografia no pseudônimo Suzana Flag, "Minha vida", a misteriosa mulher que havia escrito os folhetins anteriores: "Meu Destino é Pecar" e "Escravas do Amor" (em 1944), os quais fizeram grande sucesso.

Tanto que Suzana virou celebridade nacional, recebendo cartas de homens apaixonados (até mesmo de presidiários). Poucos sabiam que a verdadeira Suzana Flag se barbeava com "Gilette". O alter-ego da personagem era o polêmico escritor que refugiava no pseudônimo feminino para fugir da censura que imperava na época.

Ao contar a história mirabolante da "pobre" escritora, Nelson descreve detalhes da própria vida, como as tragédias que presenciou na juventude. No folhetim mais ousado (porque não?) de Suzana Flag, ele difundiu as idéias mais polêmicas que, até então, eram apresentadas somente em suas peças teatrais. A verdadeira face da "escritora" começa a ser esboçada.

Nunca uma autobiografia de um personagem refletiu tanto o autor. Afinal, como Suzana estava contando a própria vida, tinha a liberdade de contar apenas a verdade nada mais que isto, embora o pseudônimo confesse no início de romance a tentação de criar em cima dos fatos. Essa foi a única menção à escrita de Suzana Flag. Na obra, se tratando de uma "autobiografia" romanceada de uma escritora, ficou faltando explorar mais o assunto.

Era impossível que os leitores acreditassem no que liam. Antes de morrer, a mãe de Suzana lhe roga uma praga: "Você há de encontrar o homem que vai te fazer...", antes de terminar a frase ela morre, para o alívio da filha, assombrada.

Pouco tempo depois, o pai se mata com um tiro na cabeça, nenhuma mulher da família gosta da personagem principal. Todas a consideram uma biscate, como a mãe, e não é raro uma delas dizer: "Você não pode ver rapaz!" Para complicar a situação, Suzana quer vingar a morte dos pais, casando-se com o suposto amante da mãe (Jorge), o qual "teria" causado toda a tragédia no lar.

O que a mocinha não espera é que o seu tio Aristeu, odiado pela calculista avó, planeja levá-la junto com a sua família e a do noivo para uma ilha perdida, em que não há regras e as únicas leis são ditadas por ele. Lá Suzana irá ficar dividida entre três homens: Jorge, Aristeu e Cláudio, melhor amigo do próprio tio. No entanto, a personagem acaba envolvida em uma trama diabólica. Bom para quem quer sentir novamente, ou pela primeira vez, o delicioso sabor de uma época perdida e marcada pela inocência.


Livro: Minha Vida
Autora: Suzana Flag (Nelson Rodrigues)
238 páginas
Editora: Companhia das Letras
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