quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

.: “A Tabacaria” e o difícil amadurecer dos relacionamentos humanos


Por Oscar D’Ambrosiojornalista e crítico de arte.

Relacionamentos humanos sempre são um desafio. Entender o que motiva uma pessoa a se aproximar de outra e como a sociedade pode enxergar esses caminhos é uma incógnita sob diversos aspectos. Um filme que ajuda a pensar esse universo de uma maneira muito rica intelectualmente e com beleza plástica é “A Tabacaria”, dirigido por Nikolaus Leytner.

Ao ficar órfão de pai, falecido numa lagoa do interior da Áustria, um jovem de 17 anos se muda para Viena e começa a trabalhar numa tabacaria. A narrativa trata da sua passagem da adolescência ao mundo adulto, que inclui aprender a lidar com os clientes, descobrir o amor e conviver com a ascensão do nazismo e a perseguição aos judeus.

Quem rouba a cena, porém, são os personagens secundários, todos eles brilhantes em suas atuações. A bela e talentosa Emma Drogunova interpreta a dançarina de cabaré que se faz passar por menina ingênua; e Bruno Ganz dá vida ao célebre Sigmund Freud, que aconselha o jovem a superar seus dilemas existenciais, incluindo a prática da anotação de sonhos.

No entanto é no dono da tabacaria, o excepcional ator Johannes Krisch, que o filme encontra a sua melhor expressão. Veterano que perdeu uma das pernas na Primeira Guerra Mundial, é preso pelos nazistas e, em uma das cenas mais impressionantes, tem a sua única perna chutada para cair e não levantar mais.


É esse universo de personagens que torna o filme um amplo retrato da humanidade. O jovem circula entre eles tentando se encontrar entre aquela que ama e o decepciona; o professor que idolatra, mas que precisa fugir para Londres pelo momento político; e o patrão e mentor que admira e que o sistema lhe rouba. Assim, entre frustrações, como todos nós, amadurece.

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