segunda-feira, 21 de julho de 2025

.: Preta Gil: a trajetória multifacetada e o legado que transcende gerações


Preta Gil, a voz que rompeu barreiras e coloriu a cultura brasileira com coragem e autenticidade. Foto: Globo/ Maurício Fidalgo

A morte precoce de Preta Gil aos 50 anos representa um momento de profunda tristeza para a cultura brasileira. Filha do músico Gilberto Gil e da empresária Sandra Gadelha, Preta nunca se deixou limitar pelo peso de um sobrenome histórico. Pelo contrário, criou uma carreira multifacetada, em que a música, a atuação, o ativismo e o empreendedorismo se entrelaçaram para compor a singularidade de sua obra e personalidade.

Preta Maria Gadelha Gil Moreira nasceu no Rio de Janeiro em 8 de agosto de 1974, em um momento histórico singular - dois anos depois do retorno de seu pai do exílio na ditadura militar. O nome da artista carrega a simbologia da resistência: o tabelião que se recusou a registrar apenas “Preta” como nome próprio impôs a inclusão de “Maria”, uma marca das barreiras sociais e raciais que atravessaram sua vida.

Antes de se lançar como cantora, Preta Gil trabalhou nos bastidores da indústria musical, com destaque para a direção de videoclipes de artistas consagradas como Ivete Sangalo e Ana Carolina. O ingresso na carreira artística foi aos 28 anos, com o álbum "Prêt-à-Porter" (2003), cuja capa em que posou nua, fotografada por Vania Toledo, simbolizava um renascimento pessoal e artístico. Apesar da repercussão da imagem, a cantora sempre reforçou que o foco deveria ser a música e a arte, e não o impacto midiático.

A discografia de Preta Gil reúne quatro álbuns de estúdio - "Prêt-à-Porter" (2003), "Preta" (2005), "Sou Como Sou" (2012) e "Todas as Cores" (2017) - que exploram temas como identidade, amor, diversidade e autoaceitação. Além disso, atuou no teatro, televisão e internet, mostrando versatilidade e capacidade de diálogo com diferentes públicos. A experiência como atriz inclui personagens marcantes, como a vilã Helga na novela "Caminhos do Coração" (2007), e o monólogo "Mais Preta que Nunca!" (2019), que consolidou sua presença nos palcos. 

Em televisão, destacou-se como apresentadora e comentarista, aproximando-se ainda mais do público. No carnaval, lançou e consolidou o Bloco da Preta, evento que reuniu multidões e se tornou referência de celebração da diversidade e da cultura popular. Em 2017, Preta Gil cofundou a agência Mynd, que revolucionou o marketing de influência, a gestão de imagem e o entretenimento no Brasil. Com clientes de peso como Natura, Coca-Cola, Itaú e até o "Big Brother Brasil".

Em 2023, Preta Gil revelou seu diagnóstico de câncer no intestino, enfrentando a doença com transparência e coragem. Sua experiência pública contribuiu para desmistificar o tema e fortalecer o diálogo sobre saúde, superação e acolhimento. Além disso, a postura aberta dela em relação à bissexualidade e pansexualidade, bem como o ativismo em defesa dos direitos LGBTQIA+, consolidaram sua posição como uma das vozes mais importantes na luta pela diversidade e pela inclusão no Brasil.

A morte de Preta Gil não significa o fim de sua presença na cultura brasileira. Pelo contrário, a artista e empresária legou um acervo rico e plural que exige cuidado, respeito e compromisso para ser preservado e potencializado. O legado dela é um convite para que a memória cultural do país se fortaleça, reconhecendo a importância de artistas que, como ela, romperam barreiras e abriram espaços.

.: Últimas apresentações da montagem vertiginosa do clássico "7 Gatinhos"


Na imagem, os atores Zizi Yndio do Brasil 
e Marina Wisnik. Foto: Cafira Zoé

As duas últimas apresentações do espetáculo "7 Gatinhos", clássico de Nelson Rodrigues com direção de Joana Medeiros, serão nesta terça e quarta-feira, dias 22 e 23 de julho,  às 20h00, no Teatro Oficina. No espetáculo, o autor sintoniza a hipocrisia das relações no núcleo colonial originário, a Família, instituição patriarcal secular herdada de geração em geração, e nos convida a olhar para as suas entranhas. O teatro se transforma em um cenário de traições e revelações terríveis que culminam em um crime brutal. A peça se passa em um ambiente tenso, onde os membros da família revelam suas verdadeiras faces.

No espetáculo, Seu Noronha, morador do Grajaú, tradicional bairro da Zona Norte carioca é continuo da Câmara dos Deputados, onde serve cafezinho aos parlamentares. Aracy, sua esposa, a quem chama de Gorda, vive na mais completa solidão. O casal tem cinco filhas, quatro das quais prostitutas. Seu Noronha faz vista grossa para o comportamento de Débora, Arlete, Aurora e Hilda, desde que todas contribuam para o enxoval da caçula. Silene com quinze anos, interna num colégio de rígida disciplina, é um símbolo de pureza, mantida fora do ambiente familiar e preservada para o casamento.

Um dia ela é expulsa da escola por ter matado uma gata prenha. Noronha não acredita na versão dada pelo diretor. Mais tarde após muita discussão, a família descobre que Silene está grávida. Noronha abandona a Câmara e transforma o lar num bordel, achando que as filhas ganhariam mais trabalhando em casa. Desmoralizado, o chefe de família torna-se presença incômoda no bordel.

“Nos sete gatinhos, a religião é um disfarce na máscara atarantada das aparências. Lutamos para enxergar nossa verdadeira cara no mundo, nosso nome real na sociedade. Também está presente o sentido de classe: quem se sente humilhado no trabalho humilha em casa. É uma lei humana. O tema da homossexualidade feminina aparece atravessado por um pai abusador. As filhas projetam sua pureza na irmã mais nova que, por sua vez, desenvolve uma liberdade, um ódio profundo, violento e frio por uma estrutura familiar tacanha. Vivemos uma visão tremenda, 1957 se transpõe para 2025. E nós vamos com coragem rasgar nossa loucura velada com o sangue puro selvagem e imutável do desejo!”, diz  Joana Medeiros, diretora do espetáculo.

Joana encenou recentemente "O Ovo e Galinha", de Clarice Lispector, texto visceral e feiticeiro da literatura brasileira em um rito-performático com a atriz Ana Hartmann, e a primeira aparição performática de "7 Gatinhos" no Natal de 2024, em sessão única a partir da encenação do 3º ato dessa dramaturgia tropical macabra, ambas com casa lotada.


Ficha técnica
Espetáculo "7 Gatinhos"
De Nelson Rodrigues
Criação Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona
Direção: Joana Medeiros
Ass. de direção: Chico Barbosa, João Estevão
Atuantes: Ana Clara Cantanhede, Bianca Terraza, Gii Lisboa, Henrique Maria, Joana Medeiros, Marina Wisnik, Maurilio Domiciano, Vick Nefertiti, Victor Rosa, Viviane Clara Bomfim, Zizi Yndio do Brasil
O Ponto: Artur Medeiros
Banda: Adriano Salhab, Jefferson Placido
Iluminação: Angel Taize
Operação de foco móvel: Victória Pedrosa, Felipe Soares
Desenho e operação de som: Julia Ávila
Direção de cena: Gii Lisboa
Contrarregras: Mayara Gonçalves, Rafael Castilho
Maquinaria: Maurilio Domiciano
Figurino: Arianne Vitale
Cinegrafia: Cafira Zoé, Diego Arvate, Lufe Bollini
Operação de vídeo: Diego Arvate
Câmera ao vivo: Helena Toledo, Lufe Bollini
Arte gráfica: Bianca Terraza, Bruna Zanqueta, Cafira Zoé, Pedro Martins, Zizi Yndio do Brasil
Redes sociais, vídeo divulgação e mídia tática: Cafira Zoé
Fotografia: Cafira Zoé, Pedro Martins e Antonio Simas
Produção: Sônia Esper, Bruli
Ass. de produção: João Estevão, Zizi Yndio do Brasil
Produtor Associado: Guilherme Gil de Oliveira
Assessoria de imprensa: Adriana Monteiro
Bombeira: Amanda Aguiar
Apoio: Aboud Shawarma Comida Árabe, Viação Cometa
Realização: Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona


Serviço
Espetáculo "7 Gatinhos"
Uma criação Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona
Direção Joana Medeiros
Datas: 10 de junho a 23 de julho (terças e quartas), sempre às 20H
Ingressos à venda pela Sympla: https://bileto.sympla.com.br/event/106243
R$ 70,00 (inteira) e R$ 35 (meia-entrada)
Classificação indicativa: 16 anos
Duração: 2h30

Amantes do Teatro Oficina têm direito à meia-entrada (válido para todos os planos exceto Vento Forte prum Papagaio Subir. compre on-line a meia-entrada pela sympla e apresente sua carteirinha de amante do Teatro Oficina na entrada)

Ainda não é amante? Nunca é tarde: https://www.evoe.cc/parceiro/amantes-do-teatro-oficina/bem-vindo

domingo, 20 de julho de 2025

.: Humberto Werneck desafia o tempo e reencena a crônica como gênero vivo


Por 
Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com. Foto: Luiza Sigulem

Sentado no meio-fio da memória brasileira, Humberto Werneck acende um cigarro imaginário e convida o leitor a conversar - sem pressa, mas com precisão. Aos 80 anos, o mineiro que já rabiscou reportagens, biografias e dicionários de lugares-comuns, lança "Viagem no País da Crônica" e transforma o que era um acervo digital em um passeio literário que atravessa estações, feriados, goleadas e golpes de Estado.

Werneck não só comenta Clarice Lispector, Rubem Braga e Fernando Sabino como se estivesse em um bate-papo informal - ele os costura com o cuidado de quem também é parte do tecido. Entre crônicas sobre uísque, chuva, fotografia e República, o jornalista transforma o gênero “maleável e indefinido” em mapa e espelho de um Brasil realista e fantástico, às vezes no mesmo parágrafo.

Nesta conversa exclusiva ao rés do chão com o Resenhando.com, Werneck fala do patinho feio da literatura, dos jogos de futebol com poetas e das dores e delícias de ser cronista em um país que parece sempre em véspera de alguma coisa. E prova, mais uma vez, que escrever bem é mais que talento: é saber escutar a rua com os ouvidos de quem consegue interpretar as entrelinhas da vida. Compre o livro "Viagem no País da Crônica" neste link.

Resenhando.com - Se a crônica é o patinho feio da literatura, quem seria o cisne da vez - o romance autoficcional ou o livro de autoajuda disfarçado de literatura?
Humberto Werneck - O cisne da vez pode ser um desses dois, ou ambos. O primeiro, tão em moda, me sugere anemia criadora. O segundo, nem isso.

Resenhando.com - Entre o meio-fio e a torre de marfim: como foi sobreviver a décadas de jornalismo sem ceder ao clichê do cronista que vira personagem de si mesmo?
Humberto Werneck - O jornalismo, ao contrário da literatura, busca ser objetivo e impessoal. Talvez isso explique que alguns jornalistas, na hora de serem cronistas, vão à forra, concentrando-se na observação do próprio umbigo. 

Resenhando.com - Tem alguma crônica que você se arrepende de não ter escrito - ou pior, alguma que gostaria de ter assinado no lugar de Clarice Lispector, Rubem Braga ou Fernando Sabino?
Humberto Werneck - Arrependimento? Nenhum. Mas perdi a conta das crônicas alheias que me enchem de inveja benigna. “Viúva na Praia”, de Rubem Braga, por exemplo. “Esquina”, de Mário de Andrade. “O Amor Acaba”, de Paulo Mendes Campos. “O Inventor da Laranja”, de Fernando Sabino. “Canção de Homens e Mulheres Lamentáveis”, de Antônio Maria.
 

Resenhando.com - Ao organizar essa “viagem” literária de janeiro a dezembro, que estação do ano você acha que o Brasil definitivamente não sabe viver?
Humberto Werneck - O Brasil se dá bem com todas as estações do ano, até porque, na barafunda climática cada vez maior, as quatro têm estado muito parecidas.

Resenhando.com - Carnaval, uísque, fé e futebol: qual desses temas envelheceu melhor nas crônicas?
Humberto Werneck - Talvez o futebol tenha envelhecido melhor - embora não me pareça hoje nem remotamente merecedor de um Nelson Rodrigues.

Resenhando.com - Qual foi a maior mentira já contada sobre a crônica brasileira - e por que ela ainda sobrevive?
Humberto Werneck - A crônica sobrevive porque todos nós gostamos de uma conversa boa. Quanto às mentiras... bem, estou pensando aqui em Alceu Amoroso Lima, um crítico para quem “uma crônica, num livro, é como um passarinho afogado”. E tem o Ledo Ivo, que falou da crônica como sendo ”esse gênero anfíbio que, pertencendo simultaneamente ao jornalismo e à literatura, assegura notoriedade e garante o esquecimento”. A frase, aliás, está num livro dele que se chama "O Ajudante de Mentiroso".

 
Resenhando.com - No fim das contas, escrever sobre o cotidiano com humor é mais sobre rir do mundo - ou sobre disfarçar o próprio desespero?
Humberto Werneck - Talvez seja uma tentativa de consertar o mundo e as coisas.

Resenhando.com - O que dói mais: a pressa do deadline de um jornal ou a lentidão do reconhecimento da crônica como gênero literário legítimo?
Humberto Werneck - Cronistas como Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Antônio Maria passaram anos escrevendo para o jornal do dia seguinte, e nesse regime brabo produziram textos capazes de atravessar o tempo. Com isso, se deram melhor do que muito contista e romancista que visava a eternidade, e cuja obra acabou não tendo a sobrevida de alguns recortes de jornal ou revista. O reconhecimento está chegando, mas ainda tem muito nariz cronicamente torcido para a crônica...

Resenhando.com - Ao costurar crônicas sobre a Revolução de 30, o golpe de 64 e a construção de Brasília, não deu vontade de escrever também sobre o golpe do PIX, o Enem da redação nula e a CPI do fim do mundo? A crônica ainda dá conta do Brasil de hoje?
Humberto Werneck - Para o bom cronista não há assunto que não sirva. Até mesmo a falta de assunto rendeu pérolas de mestres como Rubem Braga, Drummond ou Vinicius de Moraes. Drummond, aliás, deliciou os leitores com uma crônica sobre o que fazer com os pelos das orelhas. Por que o golpe do PIX, o Enem da redação nula e a CPI do fim do mundo não renderiam coisa boa de ler? A dificuldade não está no tema, mas da capacidade de tratá-lo sem que daí venha, em vez de crônica, um artigo ou editorial.

Resenhando.com - Se a crônica é uma conversa no meio-fio, o que fazer quando o leitor está com fone de ouvido, olhando pro celular e atravessando a rua sem olhar? Ainda dá pra puxar papo?
Humberto Werneck - Assim como acontece com o autor, não é sempre que o leitor está brilhante. Mas pode se dar também uma coincidência feliz, aquela em que, numa ponta e na outra, haja quem adore uma conversa boa.

.: Valter Hugo Mãe lança "Educação da Tristeza", um testemunho íntimo


Um dos escritores mais celebrados da literatura de língua portuguesa, Valter Hugo Mãe apresenta ao público seu novo livro, Educação da tristeza: uma obra visceral, delicadamente ilustrada pelo próprio autor, que faz da ausência matéria-prima para repensar a vida. A escrita de "Educação da Tristeza", lançado pela editora Biblioteca Azul, surge de duas perdas centrais: a morte precoce de seu sobrinho Eduardo - mesma figura que inspirou "O Filho de Mil Homens" - e a morte da grande amiga Isabel Lhano, artista plástica e companheira de geração. Diante dessas ausências, Valter se instala numa antiga casa em reformas: entre paredes abertas e canos expostos, ergue uma narrativa que é também uma tentativa de reconstrução interior.

Mais do que um livro sobre o luto, "Educação da Tristeza" é uma reflexão poderosa sobre envelhecer e encarar a própria mortalidade. Ao relembrar Isabel e Eduardo, Valter fala sobre chegar aos 50 anos - o medo do fim e a urgência de celebrar o tempo que ainda resta. No livro, o cotidiano fragmenta-se em lembranças, confissões, epifanias, observações e diálogos imaginários com quem partiu. São páginas com cheiro de café, rumor de gatos vadios, calor de uma lareira improvisada - tudo se mistura ao tom confessional do autor, que se recusa a deixar que a morte roube a alegria de quem fica.

Entre cartas, sonhos e reflexões que misturam delicadeza e brutalidade, Educação da tristeza toca o essencial: o amor, a saudade e a arte de permanecer humano mesmo quando tudo parece ruir. Um livro que faz da tristeza uma escola - e da memória, um lugar de festa. O livro, que está em pré-venda, marca o retorno de Valter Hugo Mãe à FLIP — a Festa Literária Internacional de Paraty, 14 anos após a estreia histórica no evento. O autor participa de uma mesa mediada por Walter Porto (Folha de S.Paulo) no dia 1º de agosto, com apoio da Netflix, que também celebra a adaptação de "O Filho de Mil Homens". Em seguida, Valter fará um lançamento com sessão de autógrafos em São Paulo. Compre o livro "Educação da Tristeza", de Valter Hugo Mãe, neste link.
 

Serviço
FLIP - Festa Literária Internacional de Paraty
Mesa extra "Escritor de Dois Mundos", com Valter Hugo Mãe. Mediação de Walter Porto, da Folha de S.Paulo
Sexta-feira, 1º de agosto, às 13h30 - Auditório da Matriz
Apoio: Netflix, com destaque para o filme inspirado em "O Filho de Mil Homens" (presença do diretor Daniel Rezende).
Ingressos à venda a partir de 17 de julho no site oficial da FLIP.

Lançamento em São Paulo
Segunda-feira, 4 de agosto, às 19h00
Livraria Martins Fontes Paulista - Av. Paulista, 509 - Bela Vista / São Paulo

.: "O Conto da Ilha Desconhecida", teatro inspirado na obra de José Saramago


Com direção e dramaturgia da premiada Cristiane Paoli Quito, espetáculo é encenado em cima de um quadrado com 4m x 4m e convida o público a pensar sobre o desconhecido. Foto: Caio Oviedo

“Como criar algo que não existe? Como buscar aquilo que já se achou? Como procurar uma ilha desconhecida se não há mais ilhas desconhecidas?”. Inquietações como estas são apresentadas ao público no espetáculo "O Conto da Ilha Desconhecida", com direção e dramaturgia da premiada encenadora Cristiane Paoli Quito, a partir da obra homônima do escritor português José Saramago (1922-2010). O espetáculo está em cartaz no Sesc Ipiranga até dia 7 de setembro.

O trabalho surgiu do encontro da diretora com três ex-alunos na Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo (EAD/ECA/USP): Camila Cohen, Lucas Corbucci e Luiz Felipe Bianchini, que são os intérpretes-criadores. E Josí Neto, que assina a direção musical e toca um piano de meia cauda em cena, completa o time. Esse nosso encontro rendeu outros trabalhos dirigidos por Quito, os espetáculos "Só Eles o Sabem" (2014), com texto de Jean Tardieu; "Idiotxs Magníficxs" (2018). Além disso, o grupo passou a frequentar o treinamento conduzido pela diretora com a máscara de palhaço. 

“A partir dessas experiências e encontros surgiu o desejo de prosseguir vivenciando a poética teatral e práticas artísticas desenvolvidas por  ela, como o compêndio (jogo de palavras), o movimento-imagem-ideia e o treinamento com a máscara do palhaço”, revela a atriz Camila Cohen. "O Conto da Ilha Desconhecida" foi uma proposta trazida por Quito, principalmente pelo fato das palavras de José Saramago apresentarem ritmos e cadências sugestivas ao jogo teatral, bem como pela continuidade do trabalho da diretora com a adaptação literária para o teatro. 

O texto convida a plateia a pensar sobre o desconhecido, por meio da história de um homem que, com notável atrevimento, bate à porta do rei e pede um barco para partir em busca de uma ilha desconhecida. A peça é encenada em um espaço reduzido, um quadrado de 4m x 4m e a poética da encenação explora justamente esse jogo de palavras e os desenhos corporais dos artistas.

E, sobre a encenação, a Quito explica: “A maneira como estamos levando à cena o texto de Saramago busca solucionar as questões de modo muito ‘simples’. Apesar de um cuidado estético bastante apurado e delicado, a ideia é que o corpo, a palavra e o espaço sejam essenciais.  E há o piano de meia cauda, de sonoridade sofisticada, palavras e corpos de sons de nossa pianista a brincar no espaço”

“Inspirados na forma como as crianças brincam com extrema liberdade de serem o que quiserem em uma história inventada, aqui os narradores estabelecem um jogo em um espaço exíguo, com desenhos do corpo e essas relações com o jogo das vozes e imagens criadas pelos corpos no espaço para a comunicação das ideias e da diversão proposta pelo texto. A utilização dos panos e a criação de uma pequena embarcação/ilha são construídas brincando com a possibilidade do ‘faça você mesmo’", acrescenta.

O espetáculo é voltado para pessoas de todas as idades e não busca simplificar o significado de palavras e expressões inusitadas articuladas por Saramago. A ideia é justamente brincar com a sonoridade desses termos e lidar com o material como um parceiro criativo no estabelecimento de jogos cênicos. Compre o livro "O Conto da Ilha Desconhecida", de José Saramago, neste link.


Ficha técnica
Espetáculo "O Conto da Ilha Desconhecida"
Direção geral, concepção e dramaturgia: Cristiane Paoli Quito 
Direção de arte (cenário, figurino e concepção gráfica): Lucas Corbucci
Diretora assistente e preparadora corporal: Ana Noronha 
Intérpretes criadores: Camila Cohen, Lucas Corbucci e Luiz Felipe Bianchini
Direção musical e música de cena: Josí Neto 
Design de luz: Marisa Bentivegna
Produção: Luciana Venâncio (Movicena Produções)
Fotografias: Caio Oviedo e Débora Peccin
Costureiras: Silvana Carvalho e Larissa Slongo
Cenotécnico: Zito Rodrigues 
Agradecimentos: Cristina Mira, Duda Machado, Erica Montanheiro, Flavia Burcatovsky, Gabi Gonçalves, Graciane Diniz Fiori, José Pedro Ferraz, Lu Favoreto, Lucyana Semensatto, Luiz Fernando Marques Lubi, Renato Ghelfond, Vanessa Bruno, Victor Palomo, Turma de Terça e Quarta do palhaço.
Apoio: Espaço Mirabilis e Estúdio Oito Nova Dança


Serviço
Espetáculo "O Conto da Ilha Desconhecida"
Temporada: até dia 7 de setembro*
Domingos, às 11h00
*Sessão do dia 27/7 contará com intérpretes de Libras
Sesc Ipiranga - Rua Bom Pastor, 822, Ipiranga
Ingressos: R$40 (inteira), R$20 (meia-entrada)*, R$12 (credencial plena) e grátis (para crianças de até 12 anos)
Venda on-line em https://www.sescsp.org.br/programacao/o-conto-da-ilha-desconhecida
Venda presencial nas unidades do Sesc
*Têm direito à meia-entrada estudantes, servidores de escola pública, idosos, aposentados e pessoas com deficiência
Classificação: livre
Duração: 60 minutos
Acessibilidade: espaço acessível a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida

.: "Macuco" entrelaça memória e debate socioambiental no Sesc Pinheiros


Montagem com dramaturgia de Victor Nóvoa e direção de Luiz Fernando Marques (Lubi) aborda questão climática e ancestralidade a partir da jornada de um entregador. Foto: Noelia Nájera


Memória, ancestralidade e resistência conduzem a trama de "Macuco", espetáculo que está em cartaz no auditório do Sesc Pinheiros. Com dramaturgia de Victor Nóvoa e direção e cenografia de Luiz Fernando Marques (Lubi), a montagem é protagonizada por Edgar Castro e Vitor Britto, e conta com a participação especial da atriz Cleide Queiroz em vídeos e direção de produção de Helena Cardoso. A temporada segue até 30 de agosto com sessões às quintas, sextas e sábados, às 20h00.

Na peça, Sebastião é um entregador de aplicativo que se aproxima da velhice enquanto carrega memórias que insistem em reaparecer. Um incêndio criminoso ocorrido há mais de 50 anos o forçou a deixar a vila de pescadores onde nasceu. Em sonho, uma revoada de macucos - pássaros da Mata Atlântica ameaçados de extinção - anuncia que sua mãe, Cleide do Ilhote, está em risco por causa de um novo incêndio. A partir daí, ele inicia uma jornada de retorno à ilha onde cresceu, confrontando o apagamento de sua ancestralidade, a destruição de sua comunidade tradicional e as marcas da repressão sofrida na infância, incluindo sua relação homoafetiva com Bernardo.

Com forte preocupação socioambiental, a montagem também se destaca por reunir em sua equipe criativa artistas oriundos de diversas partes do litoral brasileiro, territórios diretamente atravessados pelas questões retratadas em cena. “Das inúmeras urgências do nosso tempo, penso que o teatro precisa refletir os problemas socioambientais - e Macuco discute isso a partir da destruição da Mata Atlântica e das comunidades tradicionais que ali vivem”, afirma o dramaturgo Victor Nóvoa, descendente do bairro Macuco, em Santos, que ficcionaliza memórias de seus familiares caiçaras. “A personagem central é atravessada por camadas de violência, identidade, desejo e pertencimento. É um retorno ao território e à memória afetiva — e também uma crítica à transformação da ilha em um resort.”

A cenografia, também assinada por Lubi, é marcada por um grande mastro com uma vela de barco que gira 360 graus e serve de suporte para projeções. “Essa vela que se movimenta o tempo todo é como o próprio tempo da peça - contínuo, incontrolável, e que nos lembra que precisamos agir antes de sermos levados pela correnteza”, comenta Helena Cardoso, diretora de produção e assistente de direção do espetáculo. A trilha, os sons do mar e o canto do macuco compõem uma ambiência sensorial que dissolve as fronteiras entre sonho e realidade. O desenho de luz é de Matheus Brant; figurinos de Rogério Romualdo; adereços de Beatriz Mendes; e automação de cenário de Djair Guilherme. A filmagem fica a cargo de Paulo Celestino.

Macuco reúne elementos do teatro narrativo e da experimentação audiovisual para construir uma encenação contemporânea composta por memórias pessoais e coletivas, ancestralidade e fabulação. Para Lubi, a proposta estética também é um gesto político. “O cinema nasceu do teatro. Hoje, ele virou símbolo da era das telas - passiva, individual. Quando misturo os dois, crio atrito, falha, espaço para o público se reposicionar e reconstruir a experiência. Não quero só a atenção de quem assiste, quero a participação”, explica o diretor. Essa fricção entre linguagens serve como metáfora para o convite coletivo que o espetáculo propõe. “A questão climática é uma tirania do homem sobre a natureza que volta contra nós. O teatro nos permite provocar o ‘ai de mim’ coletivo, que leva à ação: quem colocamos no poder, o que valorizamos, como reagimos. Só o coletivo nos tira desse sufocamento”


Ficha técnica
Espetáculo "Macuco"
 
Idealização e dramaturgia: Victor Nóvoa
Direção e cenografia: Luiz Fernando Marques (Lubi)
Direção de produção e assistência de direção: Helena Cardoso
Elenco: Edgar Castro e Vitor Britto
Atriz convidada (em vídeo): Cleide Queiroz
Figurinos: Rogério Romualdo
Aderecista: Beatriz Mendes
Cenotécnica: Ronaldo Gonçalves Alves (Colab Ateliê)
Automação de cenário: Djair Guilherme
Desenho de luz: Matheus Brant
Assistência de iluminação: Letícia Nanni
Música instrumental: Marcos Coin
Colaboração de movimento: Ana Vitória Bella
Imagens projetadas: excertos das obras "Homenagem a Turner" (2002), "Herança" (2007) e "Ocean/Atlas" (2014) de Thiago Rocha Pitta
Registros na Ilha Diana: filmagem de Paulo Celestino e montagem de Luiz Fernando Marques (Lubi)
Assistente de produção - Filmagem: Giuliana Maria
Fotos: Noelia Nájera
Assessoria de imprensa: Adriana Balsanelli
Redes sociais: Jorge Ferreira
Espaço de ensaio: Vila Ouro Preto


Serviço
Espetáculo "Macuco"
 
De 17 de julho a 30 de agosto, de quinta a sábado, às 20h00.
Duração: 70 minutos
Classificação indicativa: 12 anos
Ingressos: R$ 50,00 (inteira); R$ 25,00 (meia) e R$ 15,00 (credencial plena)
Sesc Pinheiros – Rua Paes Leme, 195   
Estacionamento com manobrista: Terça a sexta, das 10h00 às 21h30; sábados das 10h00 às 21h00; domingos e feriados das 10h00 às 18h00. Mais informações: www.sescsp.org.br

.: "Argila" questiona herança violenta das invasões coloniais aos colapsos


Projeto Teatro Mínimo recebe “Argila”, obra-instalação que escava as urgências do presente, espetáculo de Áurea Maranhão tem como ponto de partida provocações trazidas pelo livro “Sonho Manifesto”, do escritor e neurocientista Sidarta Ribeiro. Foto: Chuseto


Em “Argila”, uma atriz, uma musicista e uma cidade em miniatura em cena contam histórias de ancestralidade e uma sociedade adoecidas pelo sistema, com direção, dramaturgia e performance de Áurea Maranhão. O espetáculo, trazido de São Luís do Maranhão, é atração do projeto Teatro Mínimo do Sesc Ipiranga e tem sua temporada de estreia até dia 10 de agosto, com sessões às sextas-feiras, às 21h30; e aos sábados e domingos, às 18h30.

A peça é protagonizada por uma equipe diversa de artistas residentes em São Luís do Maranhão. Além da diretora, dramaturga e performer, estão no time Valda Lino, responsável pela direção musical e performance musical; Luty Barteix, pela direção de movimento e assistência de direção; Renato Guterres, pelo desenho de luz; Eli Barros, pela direção de arte e figurino: Tathy Yazigi, pela provocação e orientação; e Amanda Travassos, identidade visual e designer (projeto); social media.

O trabalho é uma espécie de ritual cênico, no qual palavra, barro e música respiram juntos. Essa travessia sensorial começa na penumbra de um símbolo de justiça e termina num grito coletivo por reinvenção. Cada gesto sobre o barro questiona a herança violenta que carregamos, e propõe uma ética radical do cuidado. A dramaturgia é livremente inspirada em obras literárias que abordam questões cruciais da existência humana e do futuro do planeta, como "Sonho Manifesto", do neurocientista Sidarta Ribeiro, e os livros de Ailton Krenak, como "O Amanhã Não Está à Venda""A Vida Não É Útil" e "Ideias Para Adiar o Fim do Mundo"

Esses trabalhos oferecem reflexões profundas sobre a importância da reconexão com a natureza e a sabedoria ancestral para uma vida mais sustentável, criticando o paradigma do progresso a qualquer custo e destacam a necessidade de uma abordagem mais consciente e inclusiva para o desenvolvimento humano. “Apesar dos desafios apresentados, tanto Ribeiro quanto Krenak oferecem perspectivas otimistas e inspiradoras, convidando à ação e à transformação social. Suas vozes ressoam como faróis de esperança e inspiração, apontando para um caminho de renovação e transformação em meio aos desafios e incertezas do presente”, revela a idealizadora da montagem Áurea Maranhão.

Com um cenário de cidade em miniatura feito de argila, e complementado por uma iluminação e trilha sonora original, a peça convida o público a refletir sobre a transformação pessoal e coletiva necessária para nossa sobrevivência e prosperidade. A argila não é apenas um mineral, mas foi trazida como um símbolo poderoso de resiliência, adaptação e renascimento. “Nosso trabalho com a argila busca ser uma ferramenta visceral para recuperar a escuta do corpo e curar as mazelas da contemporaneidade, como a solidão causada pelo excesso de virtualidade e a falta de intimidade com nossos próprios desejos”.

A produtora-coletivo Terra Upaon Açu Filmes, sediada em São Luís do Maranhão, nasce desse mesmo impulso: valorizar a criação autoral, a força artística do Norte e Nordeste e a conexão entre memória, território e futuro. Em "Argila", moldar a matéria é também reimaginar o mundo, gesto por gesto, cena por cena, reflete Maranhão.

Essa narrativa costura texto falado, narrativas em off, trilha original percutida ao vivo por Valda Lino (que também assina a direção musical) e uma coreografia de luz que lentamente “escava” o palco. Em cena, a performer alterna narrativa épica e confissão íntima, atravessando temas como sonho coletivo, justiça climática e resistência feminina. Poesia física, som imersivo e discurso afiado, "Argila" transforma sala, auditório ou palco italiano em arena de diálogo entre espectadores e as grandes perguntas do nosso tempo: quem fomos? quem somos? e quem ainda podemos ser, se ousarmos sonhar juntos?


Ficha técnica
Espetáculo "Argila"
Direção geral, dramaturgia e performance: Áurea Maranhão (@aurea.maranhao)
Direção e performance musical: Valda Lino (@valdalinoartista)
Direção de movimento: Luty Barteix (@lutybarteix)
Desenho de luz: Renato Guterres (@renatoguterres)
Operação de luz: Bruno Garcia
Direção de arte, figurino e assistência de produção: Eliane Barros (@eelibarros)
Contrarregragem: Guira Bará, Mateus Rodrigues e Julia Calegari
Designer e identidade visual (projeto); social media: Amanda Travassos (@amandatravassos)
Provocação e orientação artística: Tathy Yazigi (@tathyyazigi)
Fotos: Chuseto (@chuseto) e Taciano Brito (@tacianodbrito)
Produção (São Luis): Terra Upaon Açú Filmes LTDA (@terraupaonfilmes)
Produção (São Paulo): Ricardo Henrique (@richenriques)
Assessoria de imprensa: Pombo Correio Assessoria de Comunicação - Douglas Picchetti e Helô Cintra 


Serviço
Espetáculo "Argila"
Temporada: até dia 10 de agosto de 2025
Às sextas-feiras, às 21h30; e aos sábados e domingos, às 18h30
Sesc Ipiranga - Rua Bom Pastor, 822, Ipiranga
Ingressos: R$ 50,00 (inteira), R$ 25,00 (meia-entrada) e R$ 15,00 (credencial plena)
Vendas on-line pelo site sescsp.org.br
Classificação: 12 anos
Duração: 55 minutos
Capacidade: 60 lugares
Acessibilidade: teatro acessível a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida

.: "xs CULPADXS" em temporada gratuita no Teatro Arthur Azevedo


Espetáculo volta em cartaz de 10 a 27 de julho e questiona a linguagem teatral a partir de um thriller violento, regado a música sertaneja dos anos 1980; Carlos Canhameiro assina a encenação e dramaturgia. Foto: Mari Chama


Um cenário que divide o palco em dois andares: embaixo um bar, onde se passa o drama da cidadezinha e, em cima, num ambiente familiar, de aparência refinada, ficam músicos que costuram a trama com canções sertanejas femininas de sucesso. Uma família se muda para uma pequena cidade do interior e é vítima de um massacre após ser acusada de infectar os habitantes daquela localidade com uma doença fatal. Esse é o argumento do novo espetáculo adulto de Carlos Canhameiro, "xs CULPADXS", que faz apresentações gratuitas no Teatro Arthur Azevedo, até dia 27 de julho de 2025, com apresentações de quinta a sábado, às 21h00, e aos domingos, às 19h00. No elenco estão Daniel Gonzalez, Marilene Grama, Nilcéia Vicente, Yantó, Rui Barossi e Paula Mirhan.

A dramaturgia, assinada por Canhameiro, nasceu em maio de 2020 e foi publicada pela editora Mireveja em 2022. “Minha intenção não era refletir sobre a pandemia de Covid-19, até porque ela ainda estava muito no começo, mas sim escrever uma espécie de thriller sobre o horror do desconhecido e ao mesmo tempo sobre as diversas formas de se fazer teatro, entre o drama, o épico e o pastelão!”, comenta.

A peça "xs CULPADXS" acompanha a chegada de um casal com três filhos a uma pequena cidade. Aos poucos, o ambiente se torna tenso: a suspeita de que uma das filhas está gripada desencadeia o medo nos vizinhos, levando a uma série de acontecimentos trágicos. O que se segue é uma sucessão de mortes, tentativas frustradas de acalmar os ânimos e, por fim, uma onda de violência extrema que culmina na morte dos pais e de um dos filhos.

O público acompanha o andamento das investigações e como todos esses acontecimentos impactam os envolvidos e a vida das crianças sobreviventes. Em paralelo, vez por outra os atores assumem um certo papel de ombudsman e fazem comentários sobre as cenas, criticando as estruturas da peça. “Eu gostaria de mostrar como o teatro dramático não dá conta de retratar uma realidade tão complexa, como o de uma pandemia, por exemplo. Na verdade, mostrar como o teatro não precisa se render às representações de situações reais como uma forma de explicá-las", diz o dramaturgo.

No fim das contas, é um espetáculo centrado na culpa. Canhameiro sente-se culpado por escrever um drama, os policiais procuram um culpado para os assassinatos e os habitantes da cidade buscam um culpado pelas mortes que começam a ocorrer quando os novos vizinhos chegam. E para embalar tanta culpa a escolha da trilha sonora executada ao vivo é por músicas sertanejas femininas que fazem sucesso desde a década de 1980. Tem canções de As Marcianas, as Irmãs Galvão, Roberta Miranda, Sula Miranda, Marília Mendonça, Simone & Simaria e outras.

“Há algo nessas músicas, no modo como elas são cantadas, nos tipos de culpa que apresentam: ciúmes, a acusação do outro pelo fim de um relacionamento, a infidelidade, o ressentimento... Há algo que embala uma maneira de ser, de se relacionar, de amar que me parece dialogar com a peça”, defende Canhameiro, que também dirige "xs CULPADXS". “A música não é culpada de nada nessa peça, ela cria uma fricção entre as condições narrativas e suas autocríticas explícitas”.

O cenário de José Valdir Albuquerque é formado por dois andares. Na parte de cima estão os músicos, numa espécie de ambiente doméstico de aparência refinada, na parte de baixo há um bar dos anos 80, onde se desenrola todas as cenas dramáticas da peça. Atores e músicos transitam pelos dois ambientes. O bar, elemento constituinte da sociabilidade brasileira, vira palco para uma tentativa de confrontar o medo do que não se entende.


Ficha técnica
Espetáculo "xs CULPADXS"
Encenação e dramaturgia: Carlos Canhameiro
Elenco: Daniel Gonzalez, Marilene Grama, Nilcéia Vicente, Yantó, Rui Barossi e Paula Mirhan
Trilha Sonora e música ao vivo: Paula Mirhan, Rui Barossi e Yantó
Cenário: José Valdir Albuquerque e Carlos Canhameiro
Figurinos: Bianca Scorza (acervo Godê)
Técnico de som: Pedro Canales
Técnico de luz: Cauê Gouveia
Produção: Corpo Rastreado
Assessoria de imprensa: Canal Aberto
Prêmio Zé Renato de Teatro - Prefeitura de São Paulo


Serviço
Espetáculo "xs CULPADXS"
Duração: 90 minutos | Classificação: 14 anos
Teatro Arthur Azevedo
Data: 10 a 27 de julho, quinta a sábado, às 21h e aos domingos, às 19h.
Av. Paes de Barros, 955 - Alto da Mooca, São Paulo - SP
Ingressos: gratuitos | Retirada com 1 hora de antecedência

sábado, 19 de julho de 2025

.: "Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado" é bom, mas não supera o de 97

Por: Mary Ellen Farias dos Santos, editora do Resenhando.com

Em julho de 2025


"Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado", reboot do clássico filme de terror slash de 1997, chega ao "Cineflix Cinemas", entregando uma pegada do filme original, mas adaptada aos moldes das produções modernas. O longa de 1 hora e 51 minutos é muito bom, ainda que subverta drasticamente um personagem queridinho da primeira produção com o intuito de criar uma gigante reviravolta para o desfecho.

Com cena pós-crédito, o longa traz de volta o casal amado da franquia, Julie James (Jennifer Love Hewitt, da série "9-1-1") e Ray Bronson (Freddie Prinze Jr., "Ela é Demais"), garantindo uma piadinha sobre "Scoody-Doo", além da rainha Helen Shivers (Sarah Michelle Gellar, "Buffy, a Caça-Vampiros"), deixando de fora o retorno do ator Ryan Phillippe na reprise do papel do jovem Barry William Cox. 

As mortes conseguem impactar também, porém não há tanto mistério envolvente, essência do filme. Apesar de pecar na não exploração das mortes, algumas acontecem rapidamente, chegando com agilidade ao resultado apresentado pelo matador de Southport. Aliás, a produção embarca numa característica marcante do assassino Ghostface, da franquia "Pânico", quando se trata da revelação de quem está por trás de tudo e colocando o plano maquiavélico em prática.

Em contrapartida, há muita nostalgia com o resgate de personagens importantes do filme original, ainda que em nome de uma reviravolta chocante estrague a história de um deles, ainda mais após tantos anos. Em tempo, "Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado" é atrativo enquanto circula pelos antigos personagens, uma vez que os jovens de agora, Danica Richards (Madelyn Cline, "The Originals"), Ava Brucks (Chase Sui Wonders, "Morte, Morte, Morte"), Teddy Spencer (Tyriq Withers, "De Volta Ao Baile") e Stevie Ward (Sarah Pidgeon, "Thw Wilds: Vida Selvagem") sejam bastante insossos, bloqueando o envolvimento automático do público para que se apeguem a algum deles. 

A nova produção segue o visual dos anos 90 de filmes slashers, principalmente o da franquia "Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado", entretém, surpreende e garante sustos, porém não consegue superar uma produção de quase 30 anos com tão poucos recursos da época. Ainda assim, vale a pena conferir a novidade na telona! 

Do quarteto original, somente ator Ryan Phillippe não retorna

O Resenhando.com é parceiro da rede Cineflix Cinemas desde 2021. Para acompanhar as novidades da Cineflix mais perto de você, acesse a programação completa da sua cidade no app ou site a partir deste link. No litoral de São Paulo, as estreias dos filmes acontecem no Cineflix Santos, que fica no Miramar Shopping, à rua Euclides da Cunha, 21, no Gonzaga. Consulta de programação e compra de ingressos neste link: https://vendaonline.cineflix.com.br/cinema/SAN



"Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado" ("I Know What You Did Last Summer"). Ingressos on-line neste linkGênero: suspense, terrorClassificação: 16 anos. Duração: 1h51. Direção: Jennifer Kaytin Robinson. Roteiro: Jennifer Kaytin Robinson, Leah McKendrick, Sam LanskyElenco: Madelyn Cline, Chase Sui Wonders, Jonah Hauer-King, Tyriq WithersSinopse: Cinco amigos causam um acidente de carro fatal e encobrem seu envolvimento mantendo segredo em vez de enfrentar as consequências. Um ano depois, eles se veem perseguidos por um assassino misterioso que sabe o que eles fizeram no verão passado.. Confira os horários: neste link

Trailer "Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado"





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Por 
Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com. Foto: Priscila Prade

Nathalia Timberg vai além da tarefa de atuar. Ela assombra. E, em "A Mulher da Van", ela retorna não como quem impõe presença, mas como quem finca uma bandeira no tempo e declara: “Estive aqui. E ainda estou”. Aos 96 anos, a Mary Shepherd dela não é somente uma personagem: é um meteoro encardido de humanidade atravessando o palco com odor de mofo e dignidade, acidez e ternura, malcriação e mistério. Tudo ao mesmo tempo. E melhor: sem pedir a opinião alheia sobre isso. É um exemplo para quem ainda se preocupa com a opinião dos outros.

Baseada no texto autobiográfico de Alan Bennett, adaptado com elegância por Clara Carvalho e conduzida com muita sensibilidade por Ricardo Grasson, a montagem brasileira assume o risco do desencaixe. Não tenta agradar, não se curva ao politicamente correto, tampouco oferece um consolo higienizado para o envelhecimento - ela o escancara, sem filtros ou nenhum tipo de botox narrativo.

Timberg encena uma mulher amarga e, às vezes, mal-agradecida com uma grandeza que beira o indecente. É a atriz em sua forma mais crua, esculpindo silêncios, vociferando feridas, desviando do sentimentalismo fácil com a precisão de quem conhece a anatomia da emoção por dentro. A atuação dela é tão pungente que desidrata o texto e o transforma em gesto, em presença viva, em legado performático. Mas ela não está sozinha nessa empreitada existencial. 

Caco Ciocler entrega um Alan comovente e sem vaidade. É doce, mas também melancólico. Já Nilton Bicudo, ao dividir o personagem com Ciocler, protagoniza uma rara parceria:  juntos, eles tecem uma coreografia afetiva que revela o jogo de espelhos e vozes internas do escritor/personagem, um homem partido entre o acolhimento e a culpa. Juntos, os dois dançam um balé emocional em que o ego se dilui para dar espaço ao outro.

Lilian Blanc, por sua vez, aparece com seu selo habitual de encantamento cênico - é como um bom perfume: não precisa de mais do que uma borrifada para deixar a própria marca. Roberto Arduin mostra sua versatilidade camaleônica ao saltar entre personagens com a leveza de quem sabe que o teatro é, antes de tudo, transformação. E o restante do elenco, formado por nomes como Noemi Marinho, Cléo De Páris, Duda Mamberti e Lara Córdulla, forma uma engrenagem rara: coesa, pulsante e generosa. Ninguém se atropela - todos se erguem para o exato momento em que cada um brilha.

A encenação de Grasson constrói um universo que não pede explicações: a van vira casa, o lar vira prisão, a rua vira espelho. Tudo transita entre o cômico e o trágico com a fluidez de um sonho. A direção é, ao mesmo tempo, respeitosa com o texto e atrevida com a forma. Talvez daí resida o maior acerto dessa produção. O público sai transformado? Talvez. Mas sai, no mínimo, cutucado - e isso já é mais do que se espera da maioria dos espetáculos. Porque o teatro, como bem sabe Nathalia Timberg, não existe para fazer carinho no espectador, mas para deixá-lo acordado. E, se possível, ligeiramente desconfortável.

“A Mulher da Van” é uma peça sobre o tempo. Mas não o tempo como calendário ou sentença - o tempo como abismo e bênção. Semelhante àquilo que escapa e, ainda assim, encaixa na vida do outro como algo que já não descola. É também uma fábula sobre encontros improváveis, sobre o cuidado que damos a estranhos enquanto negligenciamos os íntimos, sobre a beleza caótica da convivência. E é, sobretudo, uma carta de amor à arte de envelhecer com selvageria, e não com docilidade.


Ficha técnica
Espetáculo "A Mulher da Van"
Texto: Alan Bennett
Tradução: Clara Carvalho
Idealização: Nosso Cultural
Direção geral: Ricardo Grasson
Assistente de direção: Heitor Garcia
Elenco: Nathalia Timberg, Caco Ciocler, Nilton Bicudo, Noemi Marinho, Duda Mamberti, Lilian Blanc, Roberto Arduin, Cléo De Páris e Lara Córdulla.
Cenário: Cesar Costa
Desenho de luz: Cesar Pivetti
Trilha sonora e desenho de som: LP Daniel
Figurino: Marichilene Artisevskis
Visagismo: Simone Momo
Assistente de cena: Ligia Fonseca
Camareira: Beth Chagas
Diretor de palco: Victor Ribeiro
Contrarregra: JP Franco
Coordenação de comunicação: André Massa
Comunicação visual e animação: Kelson Spalato
Redes sociais: Gatu Filmes / Gabriel Metzner e Arthur Bronzatto
Estratégia digital: Motisuki PR / Régis Motisuki e Matheus Resende
Fotografia: Priscila Prade
Assessoria de imprensa: Pombo Correio
Direção de produção: Marco Griesi
Coordenação de produção: Bia Izar
Produção executiva: Diogo Pasquim e Tame Louise
Produção geral: Palco7 Produções


Serviço
Espetáculo "A Mulher da Van"
De 4 de julho a 3 de agosto de 2025
Sextas, às 21h00. Sábados, das 17h00 e 21h00. Domingos, às 18h00.
Teatro Bravos - Rua Coropé, 88 - Pinheiros / São Paulo
Ingressos: Plateia Premium - R$ 200,00 (inteira) I R$ 100,00 (meia). Plateia Inferior - R$ 160,00 (inteira) I R$ 80,00 (meia). Mezanino - R$ 120,00 (inteira) i R$ 60,00 (meia). Vendas: https://bileto.sympla.com.br/event/106647.
Classificação: 12 anos.
Duração: 100 minutos.
Capacidade: 611 lugares.
Acessibilidade: teatro acessível a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida.

.: "Forever Tango", sucesso mundial há 31 anos, ganha palco brasileiro em 2025


Com 12 dançarinos, um vocalista e uma orquestra formada por seis músicos, o espetáculo conta a história do nascimento do tango na Argentina do século XIX. Foto: divulgação

Criado e dirigido pelo argentino Luis Bravo, aclamado espetáculo "Forever Tango" estreia no Brasil no Teatro B32 no dia 19 de julho de 2025, com produção da Black&Red. Indicado ao Tony Award de Melhor Coreografia em 1998, o espetáculo foi eleito o melhor musical de turnê pelo Bay Area Theatre Critics Circle em San Francisco, onde esteve em cartaz por 92 semanas no Theatre on the Square. Reconhecido internacionalmente, o "Forever Tango" também recebeu o cobiçado Prêmio Simpatia no Festival de Spoleto, na Itália, em 1996.

Com 12 dançarinos, um vocalista e uma orquestra formada por seis músicos - incluindo o instrumento símbolo do tango, o bandoneón -, o espetáculo conta a história do nascimento do tango na Argentina do século XIX. As danças, executadas ao som de músicas originais e tradicionais, são resultado da colaboração entre cada casal e o idealizador e criador Luis Bravo.

Criador e diretor de "Forever Tango", o argentino Luis Bravo (que também assina a iluminação) é um violoncelista de renome mundial que já se apresentou com as principais orquestras sinfônicas do mundo. Seus créditos mais destacados incluem aparições com a Filarmônica de Los Angeles, o Teatro Colón de Buenos Aires, a Filarmônica de Buenos Aires e outros conjuntos de prestígio ao redor do mundo.

A equipe conta, ainda, com Argemira Affonso (figurino), Mike Miller (responsável pelo som), Jean-Luc Don Vito (maquiagem) e Víctor Lavallén (direção musical). A produção brasileira é da Black & Red, renomada companhia de teatro musical liderada pelo diretor Billy Bond, reconhecida por suas grandiosas montagens.

Luis Bravo estreou na Broadway em junho de 1997 para uma temporada de oito semanas. O sucesso foi tanto, que o espetáculo ficou em cartaz por 14 meses e desde então voltou a Nova York na Broadway em três ocasiões distintas. 

O espetáculo conta a história do nascimento do tango na Argentina do século XIX, quando milhares de homens, abandonando uma Europa em desintegração para emigrar à América do Sul, se encontraram nos matadouros lotados, nos bares, nas esquinas dos arrabaldes e nas enramadas. O tango nasceu dessa existência solitária e violenta. Originalmente evitado pela sociedade argentina como indecente, o tango tornou-se uma mania da noite para o dia na alta sociedade parisiense, quando intelectuais argentinos o ensinaram durante suas viagens ao exterior. O tango rapidamente se espalhou pela Europa e América, sendo posteriormente reimportado para a sociedade argentina, embora em forma modificada. Nascido nos bordéis de Buenos Aires, o tango pode ser o produto de exportação mais conhecido da Argentina.


Serviço
"Forever Tango", de Luis Bravo 
Teatro B32: Avenida Brigadeiro Faria Lima, 3.732
Temporada: de 19 de julho a 3 de agosto
Aos sábados, às 20h30 e aos domingos, às 18h30
R$ 200,00 a R$ 400,00
Classificação indicativa: livre
Duração: 130 minutos 
Lotação: 490 lugares
Acessibilidade: teatro acessível para cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida.

Bilheteria
Internet (com taxa de conveniência):  https://www.sympla.com.br/
Bilheteria física (sem taxa de conveniência): apenas em dias de espetáculos até o início da apresentação
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