domingo, 24 de fevereiro de 2019

.: Crítica de "A Favorita", do jogo de interesses à plena vingança

Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em fevereiro de 2019


O filme indicado ao Oscar em 10 categorias, "A Favorita", com direção de Yorgos Lanthimos, estrelado por Olivia Colman, intérprete da Rainha Anne, ao lado de Rachel Weisz (Sarah Churchill, a Duquesa de Marlborough) e Emma Stone (Abigail Masham), apresenta uma trama divida em exatas oito partes, que sopram os passos tomados por essas três mulheres de personalidades imprevisíveis e capazes de fazer até o que Deus duvida.

Na Inglaterra do século 18, a Duquesa de Marlborough ocupa um cargo de grande importância na corte: é confidente, conselheira e amante secreta da Rainha. Contudo, uma prima distante, Abigail (Emma Stone), a procura em busca de trabalho e abrigo. Aparentemente inocente, assume o cargo de criada, mas por pouco tempo. 

Astuta, estuda o campo e parte para a guerra. Primeiramente, mostra zelo pela rainha que sofre de gota ao engabela o lacaio para entrar no quarto de Anne. Lá, passa ervas nos ferimentos das pernas -material colhido por ela, ainda fresco. Tal generosidade é que promove o início do declínio do posto privilegiado da Duquesa.

Contudo, o plano de Abigail não sai perfeito. Ao ser flagrada pela prima Sarah tem como consequência do ato "de bondade": chibatadas. Sequência de cenas de grudar os olhos em cada movimento. A jovem Abigail é punida pelo atrevimento, mas tem a pena atenuada e é até recompensada. Eis que, por meio desse passe de entrada, a víbora se mostra, aos poucos, mas sempre longe dos olhos da rainha. De fato, é nas aulas de tiro ao alvo que o veneno entre as primas é disparado sem parcimônia.


Nesse jogo de caça às ratazanas, decisões importantes são tomadas, vinganças realizadas e romances por interesse explodem na tela. "A Favorita" mostra o outro lado de um reinado: o mais obscuro e distante de qualquer idealização possível dos contos de fadas, incluindo as maldades das vilãs.

Sem medir consequências, olhar para trás ou se importar com o outro, Abigail põe em prática o plano perfeito -para ela. Rodeada por servos ardilosos em cada decisão política a ser  tomada, a figura maior do reino é manipulada -descaradamente ou na surdina. Diante de tamanha destreza em fazer a Rainha de gato e sapato, fica impossível esquecer outro indicado ao Oscar de Melhor Filme: "Vice", em que Dick Cheney mexe os pauzinhos para que tudo aconteça a seu modo -até manipula o presidente Bush.

O excelente "A Favorita" é o retrato do jogo da vida regido pelo interesse daqueles que são ávidos por poder ainda no século 18. A produção que tem todos os motivos para ser grande concorrente ao maior prêmio do Oscar 2019, é uma obra harmônica, desde os planos de câmera, figurino, sonoplastia, edição de som e imagem, além das atuações espetaculares de todo o elenco, que visivelmente defende a trama com brilhantismo. 

Afinal, qual delas é a favorita? Talvez, somente os coelhinhos amados pela Rainha saibam essa resposta. Imperdível!


*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura e licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos. Twitter: @maryellenfsm


Trailer:


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