terça-feira, 2 de agosto de 2022

.: Crítica: "Peles" põe o dedo na cara da sociedade refém do belo


Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em agosto de 2022


"O mundo é horrível. O ser humano é horrível, mas não podemos fugir deles, porque nós é que somos o horror", dispara uma senhora nua para um cliente, o qual se interessa pela pequena Claudia, de 11 anos. Com roteiro e direção de Eduardo Casanova, "Peles" expõe casos até inimagináveis de diferenças físicas, enquanto provoca a refletir sobre o hábito social de julgar o outro, somente pelo o que se vê -por fora. Tal diferença dos padrões que, de certa forma, incomoda a massa, encanta a outros. Assim, um homem externa seu amor compulsivo por uma mulher de rosto deformado.

No entanto, o longa é a ferramenta perfeita não somente para a dura crítica e certeira direcionada a sociedade que venera de modo descontrolado e exclusivamete o visual, mas por ainda abranger com maestria as deformidades internas -que muitos escondem. Um exemplo é o que homem que acaba de ser pai, paga uma cafetina para abusar, num quarto todo em rosa, da menina Laura. 

Assim, o tempo passa e em 2017 é a vez que entrar na história a jovem Samantha (Ana Polvorosa) que tira e posta uma foto no Instagram, mas tem a imagem removida uma vez que não cumpre as normas da comunidade. Pois é! Samantha  que sonha em ter uma boca no rosto, tem uma inversão, com o sistema digestivo de cabeça para baixo. No rosto, ao invés da boca, tem o ânus e vice-versa. Em tempo, a mesma protagonizou o curta "Eat My Shit" (2015), que originou a produção de 1h17. 

Laura agora já é uma mulher e na ausência de olhos, leva no espaço de carne, diamantes rosa. Aliás, o quarto e tudo o que está nele, inclusive as roupas dela, são na cor intermediária entre magenta e vermelho. Noutra casa, a mãe flagra o filho olhando para a foto de uma mulher de longas madeixas, enquanto se masturba. O que a incomoda?! É o fato de ele ser noivo de Ana (Candela Peña), de rosto deslocado. Assim, Ernesto (Secun de la Rosa) é convidado a sair de casa.

Eis que simultaneamente, a noiva, na própria casa, está com um homem, na cama, sendo que ele tem partes do corpo queimado, inclusive no rosto. Na ginecologista, Vanessa (Ana María Ayala), a anã que trabalha dando vida a um urso todo rosa que faz sucesso na TV é informada de que precisa descansar mais para não perder a fertilização in vitro. Em outro lugar, um rapaz numa cadeira de rodas admira uma sereia. Sim! Christian (Eloi Costa) tem transtorno de identidade da integridade corporal, pois não reconhece as próprias pernas, o que o faz comenter loucuras para ficar sem os membros, o que poderia ser uma forma de chamar a atenção dos pais em troca de amor. 

"Peles" aponta o dedo para a sociedade que se restringue a somente uma forma física de beleza e maltrata o diferente. O drama é agil, ainda que retrate várias histórias que se interligam, de uma forma ou de outra. Além de expor um trabalho visual incrível em que os cenários -e roupas dos personagens- geralmente são, de modo predominante, nas cores rosa ou lilás. Imperdível!

Filme: "Peles" ("Pieles")

Gênero: Drama

Classificação: 16 anos

Direção: Eduardo Casanova

Roteiro: Eduardo Casanova

Duração: 1h17

Data de lançamento: 11 de fevereiro de 2017 (mundial)

Elenco: Ana Polvorosa, Candela Peña, Carmen Machi


Mary Ellen Farias dos Santos, editora do portal cultural www.resenhando.com. É jornalista, professora e roteirista. Twitter: @maryellenfsm


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