terça-feira, 23 de setembro de 2025

.: "Sussurros do Coração", o dorama do Ghibli que teve continuação live-action


Por 
Helder Moraes Miranda, jornalista e crítico de cultura, especial para o portal Resenhando.com.

Se "Nausicaä do Vale do Vento" inaugurou a epopeia ecológica e "Meu Amigo Totoro" eternizou a magia da infância, "Sussurros do Coração" surge, em 1995, como o filme mais moderno do Studio Ghibli. Não pela técnica ou pelos efeitos, mas pela temática. Aqui, Miyazaki (roteiro) e Yoshifumi Kondō (direção) trocam o mato e a floresta por apartamentos, casas, escolas e a selva de concreto de Tóquio. É um filme sobre amadurecer em meio ao barulho da cidade, lidar com os afetos da adolescência e encarar as incertezas do futuro.

A protagonista, Shizuku, sonha em ser escritora e, ao mesmo tempo, enfrenta os dilemas de qualquer adolescente: estudar, pensar no vestibular, arriscar-se em um amor que parece à moda antiga, mas que traz todos os dilemas de uma relação moderna. O resultado é um dorama romântico animado, que fala de amores correspondidos e não-correspondidos, interesses cruzados e pequenas epifanias cotidianas.

Entre os muitos momentos marcantes, dois merecem destaque. Há a clássica cena do metrô, quando Shizuku encontra um gato que parece carregar um chapéu em sua própria pelugem, um felino com vários nomes e várias vidas que funciona como guia e provocação. E há também a inesperada homenagem à "Nausicaä do Vale do Vento", em um devaneio da protagonista, que aparece ruiva e com o mesmo visual da mocinha pioneira, e escancara como as obras do estúdio dialogam entre si, criando uma rede de significados que atravessa décadas.

E a história continuou. Em 2022, o Japão lançou uma versão live-action dirigida por Yūichirō Hirakawa, que funciona como uma espécie de epílogo: mostra Shizuku e Seiji dez anos depois, já adultos, tentando conciliar amor e responsabilidades. A adaptação não tem o frescor poético do original, mas vale como curiosidade: é a prova de que o filme de 1995 permanece vivo no imaginário de toda uma geração, capaz de atravessar décadas e ganhar nova roupagem sem perder sua essência.

O filme ainda encontra espaço para discutir consciência ambiental de maneira sutil. Um exemplo é a cena em que Shizuku leva uma bronca da mãe por aceitar uma sacola plástica descartável, mesmo tendo comprado apenas uma caixa de leite. É detalhe, mas revela a atenção do estúdio aos pequenos gestos que moldam a relação com o planeta.

Em "Sussurros do Coração", os personagens não vivem de sonhos apenas: eles trabalham, enfrentam dificuldades e tentam se afirmar em um mundo competitivo. Isso dá ao filme um caráter quase documental, mesmo envolto em romance e fantasia. É, talvez, o longa mais pé no chão do estúdio, justamente por mostrar que crescer significa escrever a própria história enquanto o mundo insiste em sussurrar que o tempo não espera.

Assistir hoje a "Sussurros do Coração" é descobrir que, mesmo em 1995, o Studio Ghibli já sabia falar de temas adolescentes com uma sensibilidade que soa mais atual do que nunca. Um filme que poderia facilmente ser uma série coreana contemporânea, mas que é, acima de tudo, uma carta de amor à literatura, à amizade e à coragem de sonhar, mesmo quando o futuro parece incerto.


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