No vasto catálogo do Estúdio Ghibli, "Vidas ao Vento", uma das atrações do Ghibli Fest, no Cineflix Santos, é provavelmente o filme mais controverso - não por polêmicas externas, mas pela própria natureza. Inspirado na vida do engenheiro aeronáutico Jirô Horikoshi, responsável por projetar aviões de guerra no Japão do início do século XX, o longa-metragem reflete sobre sonhos, amor e sacrifícios em meio a um país em transformação. Na prática, porém, o resultado soa mais como um extenso vídeo institucional do que como a poesia animada que tornou Hayao Miyazaki um mestre universal da animação.
O filme é belíssimo em cada quadro, como era de se esperar. As paisagens rurais, os cenários urbanos em modernização e as máquinas voadoras são pintados com a delicadeza característica do estúdio. A trilha sonora de Joe Hisaishi também cumpre seu papel, trazendo melancolia e grandiosidade na medida certa. No entanto, a narrativa não consegue decolar. Ao tentar documentar praticamente toda a trajetória de Horikoshi, Miyazaki entrega um épico arrastado, em que a beleza visual não basta para compensar o ritmo lento e o excesso de didatismo.
Em vez da leveza mágica de "Meu Amigo Totoro" ou da força arrebatadora de "A Viagem de Chihiro", "Vidas ao Vento" aposta em um realismo quase austero. Os personagens parecem sufocados por uma sucessão de eventos que mais informam do que emocionam. O espectador, ao longo das mais de duas horas de projeção, tem a sensação de estar diante de um documentário ilustrado - primoroso, mas que não dialoga com a mesma intensidade afetiva das outras obras do estúdio. É como se Miyazaki tivesse trocado o encantamento pela cartilha histórica, resultando em um filme que respeita seu homenageado, mas dificilmente cativa quem busca a alma vibrante do Ghibli.
Ainda assim, não se trata de um fracasso completo. Há momentos de lirismo - especialmente nos sonhos do protagonista, em que a aviação volta a ter o brilho da fantasia. E há também o amor trágico vivido por Jirô com Naoko, que injeta alguma humanidade em meio à rigidez da biografia e traz a tona o dilema clássico do estúdio: viver entre o dever e o desejo. Porém, como um todo, o longa parece perder a mão. Belo, cuidadoso, mas cansativo, "Vidas ao Vento" é talvez o filme mais difícil de rever do Ghibli.
Curiosamente, pela densidade e tom sóbrio, "Vidas ao Vento" pode interessar mais a estudiosos de história, engenharia ou mesmo da trajetória de Miyazaki, que sempre se confessou fascinado pela aviação. O público que chega esperando mais uma experiência emocionalmente arrebatadora, no entanto, corre o risco de sair da sessão com a sensação de ter assistido a uma obra de enorme valor estético, mas sem alma. Se em outros títulos o estúdio mostra como é possível voar mesmo sem asas, aqui, paradoxalmente, as asas estão lá - mas o voo é pesado demais.
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