sábado, 18 de outubro de 2025

.: "Depois da Caçada" leva Julia Roberts e Andrew Garfield ao inferno acadêmico


Por 
Helder Moraes Miranda, jornalista e crítico de cultura, especial para o portal Resenhando.com.

Em seu mais maduro e inquietante filme até aqui, o cineasta Luca Guadagnino leva ao ambiente acadêmico um tema arenoso - relações de poder, acusações, ambiguidade moral - para construir um drama psicológico que desafia o espectador a questionar quem está contando a verdade - e se todos puderem estar contando-a ao mesmo tempo. “Depois da Caçada” (“After the Hunt” e “Depois da Caça”, em Portugal) é ambientado em uma universidade de elite, e conduz o espectador por um labirinto emocional em que ninguém é completamente inocente. 

Guadagnino filma a partir do desconforto, criando uma atmosfera tensa, quase claustrofóbica, em que as palavras pesam mais do que os gestos e o que os personagens pensam sobre os outros e o que deixam de dizer se tornam armas letais. É um filme sobre as mentiras que acreditamos que contamos e as verdades que fingimos esconder.

No elenco, a vencedora do Oscar Julia Roberts brilha em um papel controverso, talvez o mais complexo das produções recentes em que participou. A personagem dela, Alma, é uma professora que sofre de úlcera nervosa, ferida física que se torna metáfora de uma corrosão moral que atinge todos à volta dela. Há nessa personagem uma elegância contida, mas também uma dor que se manifesta em pequenas atitudes. 

Já Andrew Garfield assume um papel fora de todo o que fez até agora: o colega íntimo da protagonista acusado, cuja amizade transita entre rivalidade e mistério. O personagem dele é, ao mesmo tempo, cúmplice e antagonista, um homem em colapso que busca redenção enquanto tenta preservar o que resta da própria reputação.

Ayo Edebiri no papel da suposta vítima se impõe como uma presença ambígua. Ela interpreta uma jovem que reivindica uma reparação, mas manipula as causas que defende em benefício próprio. A performance da atriz desconcerta, pois obriga o público a encarar o lado menos confortável do discurso sobre feminismo e sororidade - quando a verdade, em vez de libertar, torna-se um instrumento de poder.

A participação breve e decisiva de Michael Stuhlbarg funciona como o fio que amarra esse tecido de tensões. O personagem dele pouco aparece, mas o suficiente para desestabilizar o equilíbrio frágil de todos. A relação entre ele a a protagonista de Julia Roberts, em muitos momentos, lembra o embate moral de “Anatomia de Uma Queda”: há amor, mas também rivalidade; há companheirismo, mas um cansaço existencial que faz o espectador se perguntar se o amor maduro precisa, de fato, da paixão... ou se basta a cumplicidade.

Em “Depois da Caçada”, o diretor questiona nossos próprios pactos com a verdade. O que é lealdade quando se está em jogo o poder? O que é amor quando o desejo está contaminado pela culpa? E o que é feminismo quando a dor alheia se torna moeda de troca? “Depois da Caçada” é cinema de maturidade, desconforto e ambiguidade. Um filme que não quer ser amado, mas pensado, e que desafia o espectador a encontrar beleza no incômodo e a entender que, entre mentiras e verdades, o que resta é a difícil arte de conviver com as próprias feridas.

É um filme que provoca, incomoda, expõe zonas cinzentas da justiça, do feminismo, da amizade, de quem está do lado de quem. Mostra-se como um dos filmes mais densos, arriscados e relevantes da temporada, exigindo do espectador disposição para desconforto e reflexão. Não é um filme fácil. A trilha sonora é densa, incômoda, quase uma extensão dos personagens. A fotografia aposta em tons frios, reforçando a sensação de isolamento e o caráter impessoal do ambiente universitário. Os personagens não são carismáticos, nem fáceis de lidar, mas Guadagnino não quer que sejam. Todos têm razão e são culpados ao mesmo tempo.


Assista no Cineflix mais perto de você
As principais estreias da semana e os melhores filmes em cartaz podem ser assistidos na rede Cineflix CinemasPara acompanhar as novidades da Cineflix mais perto de você, acesse a programação completa da sua cidade no app ou site a partir deste link. No litoral de São Paulo, as estreias dos filmes acontecem no Cineflix Santos, que fica no Miramar Shopping, à rua Euclides da Cunha, 21, no Gonzaga. Consulta de programação e compra de ingressos neste link: https://vendaonline.cineflix.com.br/cinema/SANO Resenhando.com é parceiro da rede Cineflix Cinemas desde 2021.

Ficha técnica
“Depois da Caçada” | “After the Hunt” | “Depois da Caça” (Portugal)
Classificação indicativa:
 16 anos. Ano de produção: 2025. Idioma: inglês. Direção: Luca Guadagnino. Roteiro: Nora Garrett. Elenco: Julia Roberts (Alma Imhoff), Andrew Garfield (Hank Gibson), Ayo Edebiri (Maggie Price), Michael Stuhlbarg (Frederik Olsson), Chloë Sevigny. Distribuição no Brasil: Sony Pictures Brasil. Duração: 139 minutos. Cenas pós-créditos: não há.


Sinopse resumida de “Depois da Caçada”
Uma professora universitária de uma instituição de elite vê sua vida pessoal e profissional virar do avesso quando sua aluna prodígio acusa um colega de corpo docente de má-conduta, e um segredo obscuro do seu próprio passado ameaça vir à tona. Uma curiosidade: o filme teve sua estreia mundial fora de competição na Mostra de Venice em agosto de 2025 e foi escolhido para abrir, em seguida, a edição da New York Film Festival, marcando a força desta nova proposta do diretor. 

Sessões no Cineflix Santos | Sala 3
18/10/2025 - Sábado: 18h10 e 21h00.
19/10/2025 - Domingo: 18h10 e 21h00.
20/10/2025 - Segunda-feira: 18h10 e 21h00.
21/10/2025 - Terça-feira: 118h10 e 21h00.
22/10/2025 - Quarta-feira: 18h10 e 21h00. Ingressos neste link.
← Postagem mais recente Postagem mais antiga → Página inicial

0 comments:

Postar um comentário

Deixe-nos uma mensagem.

Tecnologia do Blogger.