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sábado, 18 de outubro de 2014

.: Entrevista com Kel Costa, a escritora da "Fortaleza Negra"

“Eu me considero uma psicóloga dos meus personagens”.
Kel Costa

Por Helder Miranda
Em outubro de 2014

Carioca, Kel Costa fez faculdade de Interpretação Cênica. Aficionada por séries, livros e filmes, administra o site It Cultura. Em 2008, sob o pseudônimo “K®”, criou Fanfics da saga “Crepúsculo” e as ambientou em universos diferentes. Fez muito sucesso e, recentemente, após várias fanfics de sucesso na internet, ela se aventurou em história própria, sobre seres sobrenaturais. 

O livro é “Fortaleza Negra, A Chegada da Nova Era”, que pertence ao selo editorial “Jangada”, do “Grupo Editorial Pensamento”, e vem com a responsabilidade de ser o primeiro romance da autora e, além disso, o primeiro de uma trilogia que apresenta um enredo que se apropria da fantasia para tratar de assuntos comuns ao universo real dos jovens: escolhas, romance, muitas descobertas e tomadas de decisões.

Para quem achava que as histórias sobre vampiros já estavam esgotadas, a autora Kel Costa pretende, em seu livro de estreia, provar o contrário. A autora aborda a temática de um jeito, no mínimo, inusitado. Tendo como pano de fundo inicial o período pós-Guerra Fria, a autora recria no planeta Terra uma realidade distópica na qual seres humanos e vampiros precisam conviver em harmonia em prol da sobrevivência de ambas espécies. Na obra, ela conduz o leitor a uma viagem ao mundo da literatura fantástica e propõe uma aventura com doses de romance em meio a uma batalha entre vampiros e seres mitológicos. 

A narrativa começa na Era Reagan, no final da Guerra Fria, em 1985. Nessa época, os vampiros se revelam à humanidade, tomam posse do poder mundial e se estabelecem como senhores absolutos do planeta em todas as esferas do poder. Sob o comando deles, armas de destruição em massa deixam de existir, e os seres da noite acabam com a Guerra Fria – com um exército de vampiros pondo abaixo o Muro de Berlim – em uma cena de tirar o fôlego. Regidos por um novo conjunto de regras, as duas espécies parecem ter um bom convívio. No entanto, um novo caos se instala na Terra no início dos anos 1990, com a chegada de uma terceira espécie: a dos seres mitológicos. Extremamente fortes e mais violentos, centauros e minotauros colocam em risco a existência dos humanos e dos próprios vampiros, que precisam do sangue dos humanos para sobreviver. 

No meio da batalha eminente, está a jovem Aleksandra Baker, protagonista da trama, e sua família. O pai de Aleksandra, biólogo à frente de importante pesquisa em prol da descoberta de algo que coloque fim à existência dos mitológicos, é convidado pela Realeza Vampírica, para deixar sua terra natal, nos EUA, e se mudar, com toda a família para a Rússia, mais precisamente, na impenetrável “Fortaleza Negra”, o quartel general dos Mestres, o único lugar onde é possível viver sem a presença e os ataques constantes dos mitológicos. 

Em prol da segurança da esposa e dos filhos, o convite é aceito e, a partir disso, um mundo completamente diferente de tudo o que a jovem conhece passa então a fazer parte de sua realidade cotidiana.  Vampiros por todos os lados causam estranhamento à Sasha – como é chamada pelos seus convives mais próximos – que se sente incomodada e angustiada por não saber se sua melhor amiga, Helena, que continua nos EUA, sobreviverá à batalha entre vampiros e mitológicos. 

Por outro lado, o novo endereço lhe traz novos amigos e um, em especial, lhe aguçará ainda mais os sentidos. Trata-se de Mestre Mikhail, um dos Mestres mais poderosos da Realeza Vampírica, que no início implica com a jovem e a deixa irritada, mas que, com o desenrolar da trama, vai revelando que tanta implicância gratuita não seria à toa. 

Dividida, Sasha trava uma batalha interna quase tão grande quanto a que assola o planeta. Se por um lado ela se sente atraída pelos jogos de poder e sedução de Mestre Mikhail, por outro, o fim do caos na Terra representaria para ela e sua família o retorno à normalidade de suas vidas. Quem vencerá a batalha? Que rumos serão traçados na vida da protagonista? As dúvidas são muitas e, pelo menos por enquanto, a única certeza é a de que a vida de nenhum dos personagens da Fortaleza Negra jamais será como antes. 



RESENHANDO - Como e por que você começou a escrever fanfics? 
KEL COSTA - Eu estava apaixonada pela saga “Crepúsculo” e comecei a procurar por comunidades e fãs da história lá no (extinto site de rede social) Orkut. Foi quando descobri a existência das fanfics (até aquele momento, eu nunca tinha ouvido essa palavra) e comecei a ler algumas. Depois me deu vontade de criar uma também. 


RESENHANDO - E quando percebeu que era boa fazendo isso?
K.C. - A primeira foi bem curtinha, era sobre a lua de mel de Edward e Bella, pois no livro a autora cortava a “parte boa e quente” da coisa. E aí, quem leu adorou e eu fui criando outras fanfics, empolgadíssima com a aceitação das pessoas. Quando os leitores começaram a aumentar, sempre elogiando minha escrita, minhas ideias, foi que eu percebi que estava mesmo fazendo alguma coisa certa.



RESENHANDO - Por que, depois de fazer sucesso com fanfics, você resolveu investir em um projeto autoral?
K.C. - Porque eles me incentivavam a publicar livros. Queriam que eu adaptasse várias fanfics para que virassem livros, mas isso não era simples (eu até cheguei a fazer esse processo com a fanfic mais famosa, “The Cullen’s Secret”). Porque comecei a perceber que usava muitas ideias legais e originais nas fanfics. Eu estava escrevendo histórias que dariam bons livros e as desperdiçando como fanfics. Então decidi que ia escrever um livro, um enredo original e que não tivesse ligação nenhuma com o universo de “Twilight” e fanfics. Até hoje eu penso como teria me arrependido se tivesse usado a ideia de Fortaleza Negra como uma fanfic de “Crepúsculo” (risos).


RESENHANDO - Neste romance, você se aproxima do universo dos jovens:  escolhas, romance, muitas descobertas e tomadas de decisões... Como você utiliza a linguagem para cativar os leitores que estão iniciando a vida?
K.C. - Eu leio muito e, principalmente, leio muita literatura juvenil e new adult. Tenho 31 anos, mas gosto bastante dos livros voltados para esse público. Também vejo muitos filmes e seriados para esse segmento. Sou fã de bandas e cantores adolescentes, ou seja, gosto de muita coisa que as meninas mais novas curtem. Justamente por escrever para esse público, procuro sempre estar ligada nessas coisas, então acabo me sentindo muito à vontade na hora de escrever para o jovem. Dessa forma, eu consigo saber que tipo de protagonista as meninas de hoje preferem, como é o galã dos sonhos de todo mundo, o que agrada em termos de comédia e piadinhas, etc.. 


RESENHANDO – Você utiliza alguma referência?
K.C. - Tenho um cuidado maior na hora de escrever o livro, para evitar uma linguagem que possa estar ultrapassada para eles (e que não estaria para uma pessoa de 40 anos), assim como sempre procuro usar referências que possam interessá-los. O ideal é que o leitor, ao ler o livro, possa se imaginar vivendo aquela história ou, mesmo que não chegue a tanto, que ele pelo menos se identifique com algum personagem.


RESENHANDO - É uma tendência os autores investirem tanto no universo sobrenatural, principalmente vampiros, e histórias com continuidade - trilogias, quadrilogias - para o público jovem? 
K.C. - As séries e trilogias viraram mesmo tendência. Hoje em dia, raro é o livro que eu pego para ler e descubro que é único. Acho que os autores e editoras descobriram que o jovem gosta de se apegar a uma série, aos personagens... e se deixar ele não larga mais. Basta pegar o caso “Harry Potter”. Se a J. K. (Rowling) quisesse escrever mais uns dez volumes da série, os fãs festejariam (risos). Só que tudo tem dois lados, né? E acho que isso se torna negativo a partir do momento em que o autor enrola, estica dali e daqui, coloca coisa que não precisava colocar, só para poder render mais alguns volumes. Eu, como leitora, fico muito chateada quando começo a ler uma trilogia/série e percebo que não há enredo para uma continuação. Então eu torço para que a tendência continue (porque eu adoro), mas com histórias de qualidade e com estrutura para tal. O foco no universo sobrenatural acho que tende a aumentar cada dia mais. Existe uma gama bem variada de seres que podem ser explorados dentro desse gênero e, se o autor fizer um bom trabalho, dá para fugir do mais do mesmo. Já o mito do vampiro, eu acho que enfraqueceu um pouco. Noto um preconceito grande com livros desse gênero, principalmente aqui no Brasil. Muita gente ainda olha para uma história de vampiro e imagina algo trash, clichê e cafona.


RESENHANDO - Dizem que a juventude hoje em dia não lê. Os livros de uma saga, com várias continuações, desmentem isso? 
K.C. - Com certeza. Claro que não dá para dizer que alcançamos o nível desejado, mas que o jovem hoje lê muito mais do que lia há dez anos, isso não dá para negar. Basta ver como ficam as sessões de autógrafos dos autores de literatura juvenil. Nem precisa citar autor internacional não. Paula Pimenta, Carina Rissi, Thalita Rebouças, Bruna Vieira, o casal Raphael e Carolina... olha quantos jovens esses autores arrastam por onde passam! E claro, acho que esse número só tende a aumentar.


RESENHANDO - Os personagens das sagas são tão bem construídos, a ponto de terem fôlego para serem escritos em vários livros? 
K.C. - Bem, os meus eu considero que sim (risos). Criei personagens que possuem possibilidade de crescimento durante a trilogia. Minha protagonista começa o primeiro livro ainda imatura e inocente e vai traçando uma evolução ao longo da história. É algo bem perceptível ao leitor e acho isso importante, principalmente por ela estar numa fase turbulenta e cheia de descobertas. Os meus vampiros são bem complexos e não entrego todo o ouro no primeiro volume. 


RESENHANDO - O que fazer para manter a coerência da personalidade deles nestes casos?
K.C. - Deixo o leitor saber apenas o que me interessa, pois vou mostrando aos poucos as personalidades de cada um. Acho que o mais importante é: o leitor não pode descobrir tudo no primeiro capítulo, mas o autor precisa conhecer a fundo o seu personagem. Saber como ele agiu no passado, o que o influenciou nas ações do presente e como tudo que ele já viveu vai refletir no futuro. Eu me considero uma psicóloga dos meus personagens (risos). Conhecê-los é uma das coisas mais importantes na hora de escrever um livro.



RESENHANDO - O que você tem da Aleksandra Baker, protagonista de seu livro, e por que os leitores irão se identificar com ela?
K.C. - Eu não tenho nada (risos)! Ok, para não dizerem depois que eu fico mentindo, confesso que gosto muito de cabelos coloridos (já fui ruiva há alguns anos, quase do tom da Aleksandra). Mas nossa semelhança termina aí. Se eu tivesse metade do atrevimento que a Sasha (Aleksandra) tem, eu seria demais! Sério, acharia muito sem graça criar uma personagem parecida comigo. Acho que os leitores se identificam porque ela é aquela típica adolescente-problema. A Sasha não leva desaforo para casa, faz o que tem vontade, é alegre, moderninha e muito gata! Em compensação, apesar dessa imagem de durona que ela transmite, Sasha também é uma menina cheia de dúvidas e indecisões, que está descobrindo o amor pela primeira vez e não sabe direito como se comportar em relação a isso. E eu conheço muitas meninas que adorariam ser poderosa como ela ou que estão passando (ou já passaram) pelos mesmos momentos conturbados. De uma forma ou de outra, alguém sempre acaba se identificando. Tenho leitoras que dão até uma de ombro amigo para a Sasha. Que me escrevem para dar conselhos a ela (risos)!



RESENHANDO - Como surgiu a ideia de criar o site “It Cultura”?
K.C. -
Foi numa época que eu e minha amiga Mayara ficávamos sempre conversando sobre os livros que lemos ou queríamos ler. A gente conversava muito sobre isso e também sobre outros assuntos em comum, como esmaltes, filmes, música, etc. Como os blogs estavam na moda, resolvemos criar o “It Cultura” juntas. O que a gente queria era poder dar nossa opinião e deixar que as pessoas soubessem. Dividir isso com mais alguém, sabe? E foi uma das melhores coisas que já fiz. Amo o “It Cultura”, ele é meu cantinho de fuga, é uma terapia. Hoje a May não contribui mais com o blog, mas eu não consigo me desapegar. Mesmo com o tempo corrido, tento sempre dar um jeito de postar de vez em quando. Só que agora falo somente sobre livros. Deixei os outros assuntos de lado por falta de tempo.



RESENHANDO - Quais são as suas predileções como leitora? 

K.C. - Literatura fantástica e qualquer coisa que envolva o sobrenatural (risos)! Também curto muito distopias e romances voltados para o “new adult”, com pegada mais hot. De autores, sou muito fã de Anne Rice, André Vianco, Richelle Mead, J. R. Ward, Suzanne Collins, Stephen King. E adoro romances mais lights, como os da Fernanda Belém, da Tammy Luciano, Maurício Gomyde, Sophie Kinsella, Meg Cabot... Enfim, deu para ver que é uma mistureba, né?


RESENHANDO - Pensa em escrever para o público adulto? Pode nos adiantar algo?
K.C. - Não vou dizer “nunca”, mas por enquanto não. Eu gosto muito de escrever para o público jovem ou no máximo jovem adulto (o famoso new adult) e só publicaria algo fora desse universo se surgisse uma história daquele tipo que não deixa o autor em paz, entende? Quando a gente sonha, dorme, acorda, escova os dentes, sempre pensando na história e precisa colocar tudo no papel. Mas não tenho planos para isso no momento e depois da trilogia “Fortaleza Negra”, já tenho outro livro esperando para ser escrito. Para os jovens (risos)...

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

.: Crítica: "Nosferatu" impressiona com clássico para se ver na telona

Por: Mary Ellen Farias dos Santos, editora do Resenhando.com

Em janeiro de 2025


"Nosferatu", produção moderna e com pinta de clássico, faz a primeira ida ao cinema em 2025 ser uma experiência maravilhosa. O longa dirigido por Robert Eggers ("A Bruxa", "O Homem do Norte") traz Bill Skarsgård, o inesquecível It, de "It, a coisa" na pele da criatura nefasta Nosferatu, vampiro decrépito de longas unhas pontiagudas obcecado pela jovem Ellen Hutter (Lily-Rose Depp, de "A Última Noite"), recém-casada com Thomas (Nicholas Hoult, de "Renfield", "O Menu").

A jovem perturbada durante pesadelos encontra em Thomas a paz para seus ataques. No entanto, a distância do marido diante de um trabalho, deixa a moça desprotegida para que a criatura das trevas realize seu desejo. A trama de um terceiro elemento numa relação recente entre jovens, entrega uma fotografia belíssima, sem muitas cores, soturna, usando bastante as sombras. 

Sem pressa para acontecer, em 2 horas e 12 minutos, cada personagem tem seu perfil traçado, assim como sua importância definida para o desfecho impactante. Com figurinos impecáveis, "Nosferatu" resgata a essência vampiresca sombria de Bram Stocker e, nitidamente, faz história no cinema, entregando um novo clássico do gênero.

Contudo, a boa trilha sonora, por não caminhar pelo clássico dos filmes do gênero terror vampiresco, por vezes, deixa a sensação de que a tensão poderia ter sido maior caso a sonoplastia fosse mais cadenciada em silêncios e sons de quebra. De toda forma, garante bons sustos, ainda mais com a excelente atuação de Lily-Rose Depp em ataques assustadores ou a figura estranha do protagonista de bigodes brilhantemente defendido por Bill Skarsgård.

No elenco de "Nosferatuainda estão Willem Dafoe ("Homem-Aranha", "Os Fantasmas Ainda Se Divertem"), Aaron Taylor-Johnson ("Kraven, o Caçador", "Trem-Bala"), Emma Corrin ("Deadpool e Wolverine") e Ralph Ineson ("A Primeira Profecia" e "A Bruxa"). Filmaço imperdível para ser assistido na telona!

O Resenhando.com é parceiro da rede Cineflix Cinemas desde 2021. Para acompanhar as novidades da Cineflix mais perto de você, acesse a programação completa da sua cidade no app ou site a partir deste link. No litoral de São Paulo, as estreias dos filmes acontecem no Cineflix Santos, que fica no Miramar Shopping, à rua Euclides da Cunha, 21, no Gonzaga. Consulta de programação e compra de ingressos neste link: https://vendaonline.cineflix.com.br/cinema/SAN


"Nosferatu" ("Nosferatu"). Ingressos on-line neste linkGênero: terror, dramaClassificação: 14 anos. Duração: 2h12. Ano: 2024. Distribuidora: Universal Pictures. Direção: Robert Eggers. Roteiro: Robert Eggers. Elenco: Bill Skarsgård (Nosferatu), Lily-Rose Depp (Ellen Hutter), Nicholas Hoult (Thomas), Aaron Taylor-Johnson (Friedrich Harding), Willem Dafoe (Pr. Albin). Sinopse: Um vampiro antigo da Transilvânia persegue uma jovem atormentada na Alemanha do século 19. Confira os horários: neste link

Trailer "Nosferatu"




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sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

.: Entrevista com Luiz Marcondes, escritor e tradutor de revista musical

“Duvido muito que uma tradução possa transformar um ‘mau’ livro num ‘bom’ livro, mas o contrário é bem possível”. - Luiz Marcondes

Por: Helder Miranda 

Em janeiro de 2010


Blá-blá-blá Cibernético: Twitteiro, escritor de primeira viagem e tradutor de uma famosa revista sobre música fala sobre os personagens que cria em torno de si mesmo, lista as cinco canções mais importantes de sua vida e muito mais.


A entrevista do mês começou de maneira inusitada, o que me fez pensar que talvez a abordagem, em um tempo completamente informatizado, pode (e deve) ser mais rápida, sem desmerecer o trabalho dos assessores de imprensa. Luiz Marcondes, escritor principiante, divulgava que responderia perguntas feitas a ele no Formspring, site de perguntas e respostas ligadas ao Twitter. 

Juro que procurei os diálogos que sucederam a partir daí, como não encontrei, segue uma reconstituição, meia boca, com menos que os 140 caracteres permitidos pelo Twitter: “@luizmarcondes, Já que vai responder no Formspring, me dá uma entrevista para o site cultural Resenhando?”. “@heldermm Claro! Manda as perguntas!”.

A partir daí, uma série de e-mails formaram um pouco do que é o entrevistado do mês. Mais do que um escritor de primeira viagem que tem o objetivo de divulgar o livro de contos A Fase Azul, Marcondes comprovou que tem maturidade literária, mostrando, assim, que não é tão estreante assim. A vida, também, o assinala: foi redator e acumula passagens em multinacionais como Motorola, Telefônica e Volkswagen, mas vai além disso. 

Formado em Comunicação Social pela ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), teve a ousadia de apresentar, pela internet, um programa cuja temática era arte e cultura (http://www.youtube.com/loungecultural). Hoje, traduz uma famosa revista sobre música que é ícone no exterior. Também é colunista de duas revistas mensais online, Results On e Pix.


RESENHANDO – O que é luxo e lixo na literatura da atualidade?
LUIZ MARCONDES – Da atualidade, a única autora que li foi a Mayra Dias Gomes, mas ela não é nem luxo, nem lixo: é uma moça inteligente, talentosa. Creio que ainda está longe de desenvolver todo seu potencial – o que, aliás, deve ser até natural, considerando que ela mal completou 22 anos. Do lixo, não sei, fico longe desse tipo de coisa, percebo pelo cheiro. Tem gente que gosta de chafurdar nisso aí, adora falar mal, se lambuzar na merda, eu não. Se está fedendo, saio de perto. É só. 


RESENHANDO – Sua imagem foge do estereótipo que as pessoas ainda têm de escritores – geralmente senhores ou nerds. Isso interfere em sua credibilidade como escritor?
LM – Clara Averbuck não é nada disso, é uma mulher toda tatuada e, que eu saiba, não é nerd. Fernanda Young também não é nerd. Mayra Dias Gomes é uma gata e super roqueira e tal. Carol Teixeira é linda, deslumbrante, tatuada e gostosa pra caralho. O mais perto de um senhor, que eu saiba, talvez seja o Mirisola. Agora... Credibilidade... Nem sei, lancei o livro em 13 de novembro! Não sei se tenho credibilidade. Tenho? Não sei. 


RESENHANDO – Explique o que é “a fase azul”?
LM – Uma fase depressiva, de paixões idealizadas, impossíveis. De muita solidão do pior e mais verdadeiro tipo, a existencial, quando se está sozinho, mesmo cercado de gente. Não é pra qualquer um, meu amigo. Nem eu sei como escapei. Às vezes me sinto como um sobrevivente de alguma guerra, mas o conflito é interior, sempre. 


RESENHANDO – Por que você, como publicitário, resolveu se lançar na literatura? 
LM – Eu escrevo desde os dez anos. Publicitário veio depois. Eu sempre inventei histórias. Comecei a escrever “a sério” (ou seja, com pretensões de ser lido) aos 22 anos, no último ano da faculdade de publicidade. Eu não estou nem aí pra publicidade, mas tenho contas a pagar, como (quase) todo mundo. 


RESENHANDO – Quais as diferenças e semelhanças entre as criações publicitária e literária?
LM – São imensas! Criar para um cliente, que está pagando, criar para um produto, marca, serviço. Criar para um público bem definido. Isso é publicidade. Criação literária: o público sou eu. A motivação vem do subconsciente, ou da alma. Nem seu sei por que escolho escrever isto e não aquilo. Quem manda é minha cabeça, não eu, eis aí um paradoxo interessante! 


RESENHANDO – Dos contos de seu livro, qual considera o melhor?
LM – O último. Porque ele tem suspense, fala de temas existenciais interessantes sem encher o saco do leitor e prende a atenção do começo ao fim (dizem). Além disso, só o desfecho dele, se tomado isoladamente, já é uma obra-prima, coisa de gente grande, nem eu sei como cheguei àquilo, sinceramente. Aponta talvez para o escritor que virei a ser nas próximas décadas, se Deus permitir. 


RESENHANDO – Em que você se inspirou para criar os personagens e situações do livro, como o sujeito que acredita que sua vida está sendo encenada, uma vila no deserto em que só vivem mulheres grávidas e a empresa que vende morte e ressurreição?
LM – As mulheres grávidas vi num videoclipe, nem lembro de que banda, em 2003, mais ou menos. O sujeito que acredita que sua vida está sendo encenada... Não sei de onde saiu isso, mas depois descobri que existe um episódio de Twilight Zone com um tema parecido, embora bem mais simplificado. A empresa que vende morte e ressurreição... bom, eu penso nisso o tempo todo. Vida, morte, ressurreição (ressurreição mesmo em vida, isto é, renovação de energias e de propósitos). Acho que são temas básicos para um ser humano, uma vez que a nossa vida um dia acaba. Penso nisso o tempo todo e me espanta muito que mais gente não fale sobre esses temas, acho o básico do básico da condição humana. 


RESENHANDO - Você tem algum ritual antes de começar a escrever?
LM – Tenho: viver. Só isso. Escrevo dentro da minha cabeça, não na hora que sento na frente do micro; nessa hora, só ponho no papel, ou melhor, na tela. Já escrevi contos no ônibus, indo pro trabalho. É só ir pensando. 


RESENHANDO - O que diferencia o homem Luiz Marcondes, do personagem que se mostra na internet? 
LM – Ah, se eu contar perde a graça. Digamos apenas que o homem é mil vezes mais doce e gentil que a “persona” ou personagem. E fisicamente mais bonito também (risos). 


RESENHANDO - O que faz você querer escrever mais, e o que trava seu processo criativo?
LM – Quando escrevo sou tomado por isso, pela “Mão do Diabo”, que desce sobre mim. Nem paro pra pensar, é algo necessário. Essa pergunta pra mim é a mais difícil, não consigo encarar a questão com objetividade, nem quero. Paro por aqui. Sorry. 


RESENHANDO – Você declarou que se considera um solitário e seu livro é sobre a relação homem-mulher e paixões não correspondidas. Também fala de depressão e solidão numa cidade gigantesca, como São Paulo. Como viver em uma metrópole interfere na maneira de pensar e agir das pessoas?
LM – Não sei, mas já morei num lugar muito menor, na praia, e aqui em São Paulo as pessoas têm neuroses mais interessantes. Só isso. 


RESENHANDO – Por que Jorge Luis Borges é seu autor preferido? 
LM – Não sei exatamente, mas foi o único escritor até hoje que me deu vontade de ler a obra toda e li mesmo, todos os contos e boa parte dos ensaios. Ele me transmite superioridade espiritual quando escreve, não é um autor de picuinhas nem mágoas, nem raivinhas. Quando fala de literatura, fala com amor. Quando escreve, é distante. Só há uma cena de sexo em toda a obra dele, que me lembre, apenas mencionada, no conto Ulrica. Esse distanciamento me encanta. É intelectual, quase espiritual. 


RESENHANDO – No blog de seu livro (www.afaseazul.blogspot.com), há um conto dividido em vários textos sobre os anos 90. O que essa década representa para você?
LM – Uma década cansativa, uma década perdida, de tentar montar bandas que não deram em nada, uma década em que perdi muito tempo deprimido, bêbado ou dormindo. A diferença é que agora estou acordado, em mais de um sentido. É doloroso estar lúcido e de pé, mas é o único jeito. A consciência é um monstro que uma vez desperto, não volta mais a dormir. O lado bom da década de 90 ficou no seu início, tempo de faculdade. Época divertida. A partir de 95, a coisa ficou preta, ou melhor azul, porque meu pai faleceu etc. e tal. Há um conto sobre isso, também. Ele se chama Um Minuto de Silêncio.


RESENHANDO – Como faz para conciliar os quadrinhos, a música, a escrita, e as atividades pela internet?
LM – Quadrinhos é coisa que tem mais a ver com minha adolescência, não leio mais hoje em dia. Música, escuto o tempo todo, é meu suprimento de oxigênio. A escrita é menos frequente, não sou prolífico, levei 14 anos pra escrever o livro. O problema mesmo são as atividades na internet, um vício, uma perda de tempo divertida. 


RESENHANDO – Falando em internet, por que seu programa acabou? Pretende voltar com ele?
LM – Acabou por falta de patrocínio. Adoraria continuar, se tivesse patrocinador. 


RESENHANDO – Na revista em que você trabalha, em vez de traduzir reportagens, ou artigos, não seria mais interessante publicar reportagens elaboradas por aqui?
LM – Também tem matérias elaboradas aqui, mas preferia que fosse inteira traduzida de ponta a ponta, pra eu poder ganhar mais. 


RESENHANDO – Ter na capa Roberto Carlos e Ivete Sangalo não foram escolhas óbvias demais?
LM – Eu não tenho nada a ver com a linha editorial da revista. Mas Ok, se pudesse mudar algo: colocaria a Ivete Sangalo, porém pelada. E o Rei é o Rei, sei lá. Pra mim, está legal. 


RESENHANDO – Em sua opinião, o que pensa do nível das traduções que são feitas de best-sellers internacionais?
LM – Graças a Deus, não tenho lido esse tipo de coisa, acabo de ler O Jogo da Amarelinha, de Julio Cortázar. É chato, muito chato, mas é bom. Se é que me entende. 


RESENHANDO – Dizem que Paulo Coelho é bem visto pela crítica internacional porque os tradutores são bons. O que tem a dizer sobre isso?
LM – Desejo sucesso a ele, prazer a seus leitores; sigo lendo o que bem entendo, não acho o assunto relevante. 


RESENHANDO – Nesse sentido, a tradução pode elevar, ou destruir, um livro?
LM – Duvido muito que uma tradução possa transformar um "mau" livro num "bom" livro, mas o contrário é bem possível. 


RESENHANDO – Se fosse fazer uma lista dos cinco cantores/bandas, e das cinco músicas favoritas, quais seriam?
LM – Jane´s Addiction, “Three Days”. Soundgarden, “Room a Thousand Years Wide”. Queen, “Under Pressure”. David Bowie, “Sweet Head”. Red Hot Chili Peppers, “Give It Away”.

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

.: The Used lança novo clipe, “Rise Up Lights”

O The Used lançou o vídeo oficial para "Rise Up Lights", do álbum “The Canyon”. A interpretação visual é o par perfeito para a música que a Alternative Press chamou de "hino distópico de vanguarda". A música é intensa desde o início, com os ​​vocais icônicos do cantor Bert McCracken e a força da guitarra de Justin Shekoski que o atingem em cheio. Os fãs podem conferir o clipe em http://smarturl.it/RiseUpLightsOfficial.

Na última semana, a Rolling Stone lançou uma sessão de vídeo acústica íntima. A banda apresentou o sucesso "On My Own", do disco homônimo de 2002, e de “The Canyon”, "Over and Over Again" e "For You". A Rolling Stone compartilhou que "McCracken entregou um desempenho vocal notável, no qual ele saltou de um suave tom baixo para gritos agudos”. O vídeo ganhou mais de 365 mil visualizações em menos de 24 horas.

No dia 27 de outubro, a banda lançou seu 7º álbum de estúdio, “The Canyon”, via Hopeless Records. Escrito a partir da dor e da perda, “The Canyon” é trágico e assustador, ao mesmo tempo que tem uma sensação de luz e energia que é diferente de qualquer coisa que a banda tenha apresentado. "Este não é apenas um álbum nascido de uma morte, é um álbum cujos criadores encontraram uma nova perspectiva sobre a vida", disse a Nylon em uma entrevista exclusiva e uma sessão acústica com a banda.

Produzido por Ross Robinson (The Cure, At The Drive In), este álbum de 17 faixas foi gravado inteiramente em fita, com apenas 3 tomadas sendo usadas ​​em cada música. Sobre o novo disco, a Billboard afirmou que "é o seu maior trabalho até hoje, e de muitas maneiras, o mais importante". Os fãs podem ouvir o álbum agora em todas as plataformas de streaming ou fazer download no iTunes.

O The Used está atualmente na estrada com a banda de abertura Glassjaw, com shows nos Estados Unidos. The Used é Bert McCracken (vocal), Jeph Howard (baixo), Dan Whitesides (bateria) e Justin Shekoski (guitarra).

Assista o clipe “Rise Up Lights”: http://smarturl.it/RiseUpLightsOfficial.

Ouça “The Canyon”:

Apple Music: http://smarturl.it/TheCanyonAM
iTunes: http://smarturl.it/TheCanyonIT
Spotify: http://smarturl.it/TheCanyonSpotify
Deezer: http://smarturl.it/TheCanyonDeezer

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

.: Com primor, série alemã, "Dark" brinca no espaço e tempo

Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em janeiro de 2018



Vez ou outra nos arrependemos por ter dito ou não algo em determinado momento. Assim, refletimos e concluímos que seria maravilhoso voltar no tempo. Eis que "Dark", de origem alemã, nova série de ficção científica e suspense -sem ser forçada- da Netflix, brinca com perfeição ao trazer, facilmente, personagens do futuro para o passado e vice-versa. 

A criação de Baran bo Odar e Jantje Friese é um misto de vários sucessos. "Stranger Things", por também usar e abusar da magia -e músicas- de 1986. De "Lost", carrega o suspense -inclusive na sonoplastia- e a brincadeira de que cada personagem tem dentro de si o bom e o ruim. O visual escurecido e o desejo de personagens em dar fim ao mal e seus monstros -humanos ou não- de "Supernatural". Ainda casa muito bem com a narrativa que, por vezes, lembra a série antológica "American Horror Story", fugindo bastante da escatologia.

Outro elemento que grita na lembrança é a capa de chuva amarela muito usada por Jonas, igual a da primeira vítima do palhaço Pennywise no filme "It: A Coisa". Outra similaridade ao sucesso de terror dos cinemas de 2017, é o desaparecimento misterioso de Eric e Mikkel. 



Em "Dark", há também um quarto excessivamente misterioso que, embora seja bem iluminado, de bonita aparência e pintado na cor verde, lembrando os cenários do seriado "Pushing Daisies - Um Toque de Vida", termina por remeter a dois filmes de terror. Ali, há uma cadeira fora do convencional, permitindo ligação aos filmes de terror "O Albergue" e "O Massacre da Serra Elétrica". Contudo, não é possível estabelecer grandes ligações da série alemã com os dois filmes ou a série americana encerrada em 2009.

É fato que quem conta um conto, aumenta um ponto. Entretanto, a estrutura narrativa de "Dark" não é uma cópia de sucessos de TV ou cinema e nem é mais do mesmo. É excelente, pois vai muito além. Não gira em torno apenas do sumiço de Eric ou Mikkel, que acontece em 2019, mas retoma a história de Mads, desaparecido em 1986.

Num emaranhado, quatro famílias distintas -mas com muito em comum-, vivem na "pacata" cidade de Winden. Na tentativa de desvendar o desaparecimento de Mads (1986) e Mikkel (2019), desenterram os segredos obscuros dos próprios ancestrais. Assim, percebe-se o quanto tudo está conectado, embora entregue muito do protagonismo aos personagens Ulrich e Jonas.

Em tamanha escuridão, a presença da floresta enobrece ainda mais a narrativa. Tendo em vista que na literatura, árvores e florestas representam a parte inconsciente da mente humana, permitindo que a alma adentre os perigos do desconhecido, assim como o reino da morte, os segredos da natureza, ou do mundo espiritual que o homem deve penetrar para encontrar o significado, a transformação.

Para perpetuar a jogada de mestre, é na floresta que existe uma "caverna", responsável por "esconder" caminhos que permitem fazer viagens em 33 anos, seja para o passado (1986, até para 1953) ou para o futuro (2052). Vale destacar a forma que os produtores brincam com as "viagens no tempo" realizando o encontro entre os próprios personagens durante diferentes idades. Incrível!



Qual é o simbolismo da caverna na literatura? Da contenção, da clausura e do submundo mitológico. Conforme o psiquiatra Carl Jung, em “Psicologia e Alquimia”, representa a segurança e impregnabilidade da inconsciência. Logo, o lugar secreto, de entrada escondida para um labirinto, exige força e oposição. Características exatas de Ulrich, o pai de Mikkel e Jonas, jovem que estava junto ao menino quando desapareceu.

Antigamente, a caverna era o berço para a magia. Desta forma, passar pela caverna representa uma mudança de estado, o que esbarra na teoria de Einstein: o buraco de minhoca, que é um “atalho” através do espaço e do tempo. Embora a caverna seja popular em histórias de aventura, em "Dark", a função é de dar sentido aos diversos acontecimentos misteriosos. Afinal, a localização desta é próxima a uma usina nuclear.

Em uma forte pegada de contos de fadas -na forma originalmente bruta e fantástica-, "Dark" consegue ser maravilhosamente provocante e instrutiva. 
Só erra feio pelo didatismo ao colocar lado a lado, os personagens no passado e futuro, o que não diminui a produção como um todo. A segunda temporada já foi confirmada pelo Netflix, em 20 de dezembro de 2017. Que venha a sequência logo, por favor!


Primeiro episódio: 1 de dezembro de 2017
Idioma: Língua alemã
Número de episódios: 10
Número de temporadas: 1

Gêneros: Mistério, Sobrenatural, Drama


* Mary Ellen é editora do site cultural www.resenhando.com, jornalista, professora e roteirista, além de criadora do www.photonovelas.com.br. Twitter: @maryellenfsm 



Teaser de "Dark"





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terça-feira, 30 de junho de 2020

.: Entrevista exclusiva: Mathew Ajjarapu, vocalista da banda The Devonns


Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico musical.

“A música brasileira tem sido extremamente 
influente nos últimos 70 anos”

Originário de Chicago, nos Estados Unidos, o grupo The Devonns, uma das revelações recentes da música soul, acaba de lançar o seu álbum de estreia. E já vem obtendo boa repercussão junto a crítica especializada com canções que tem como forte inspiração a produção da música negra norteamericana dos anos 60 e 70. 

O vocalista e principal compositor da banda, Mathew Ajjarapu, concedeu uma entrevista para o Resenhando para falar como se deu o início da banda. Ele comenta o atual panorama da música e ainda disse que aprecia a nossa música. “A música brasileira tem sido extremamente influente nos últimos 70 anos”.

Como foi o início da banda Devonns?
Mathew Ajjarapu - Bem, é uma resposta um pouco complicada. Antes de começar o Devonns, eu tinha estudado um pouco na faculdade de Medicina (para fazer meus pais felizes). Mas eu não era um bom aluno e desisti rapidamente. Depois disso, eu não consegui um emprego por um longo tempo, então fiquei apenas ouvindo música ou lendo enquanto esperava alguém me dar uma entrevista de emprego. Meus irmãos haviam me mostrado alguns álbuns antigos que eu tinha perdido... "Jim", de Jamie Lidell, e "The Way I See It", de Raphael Saadiq. Mesmo que fazer a coisa retrô em um contexto moderno não seja novo de forma alguma (a soul passa por um reavivamento de tempos em tempos)... o que realmente ressoou comigo nesses dois álbuns foi que Jamie Lidell e Raphael Saadiq fizeram a maior parte da escrita e produção por conta própria. Os dois álbuns eram uma exibição monumental do virtuosismo individual em várias áreas muito difíceis (letras, músicas, etc.). Muitas pessoas não percebem que grande parte da música que você ouve no rádio é realmente escrita por compositores profissionais. A pessoa que a canta é apenas um cantor. Essa pessoa geralmente não faz muita escrita ou produção e pode nem tocar um instrumento. Então, para fazer da maneira que Raphael ou Jamie fizeram, leva muito mais tempo e é realmente um trabalho árduo e lento. Eu também me deparei com o álbum de estréia de Remy Shand, "The Way I Feel", e ele se aproximou ainda mais do ideal de Prince ( que escreveu todas as músicas e letras e basicamente tocava a maioria dos instrumentos). Voltando à história... nessa época, eu havia passado por dois rompimentos muito dolorosos, um após o outro... e estava muito deprimido. Aqui estava eu... eu havia abandonado a escola, não conseguia emprego, não tinha namorada ... e, com toda essa emoção, escrevi algumas músicas que achei muito boas. Gravei algumas demos por conta própria e depois as toquei para alguns amigos, e outras pessoas pensaram que havia definitivamente algo lá. Isso me fez pensar que eu poderia querer tocar ao vivo. Eventualmente, eu conheci um ótimo baixista através do Soundcloud, e então seu colega de quarto tocou bateria, o que foi ainda melhor. Foi assim que tudo começou. Nós éramos originalmente chamados de "The Signatures", quando eu estava cantando originalmente para um som dos anos 50/60 ... eu queria que começássemos com o estilo doo-wop ("I Only Have Eyes For You ", do The Flamingos, é minha música favorita de todos os tempos). Mas então, quando reunimos todos para o primeiro ensaio (incluindo um guitarrista que conheci no Craigslist) ... em cinco minutos, ficou claro que ninguém conseguia cantar. Eu também gostava muito de soul dos anos 60, grupo feminino, soul do norte e funk dos anos 70 (em particular), então imaginei que focássemos mais no soul / funk, talvez aprenderia a cantar bem o suficiente para, eventualmente, adicionar alguns vocais doo-wop no repertório mais tarde.

Quais foram as suas principais influências?
Mathew Ajjarapu - Essa é outra pergunta muito difícil de responder. Por muitos anos, quando comecei a fazer / tocar música, eu queria tocar um instrumento "legal". Por causa disso, mesmo tendo estudado piano por muitos anos desde que eu era criança ... tive o trabalho de me ensinar a tocar primeiro o baixo e depois a guitarra durante o ensino médio. Então, durante esse período, minhas primeiras influências musicais foram realmente mais "tocadores" do que escritores. No baixo, eu realmente idolatrei Stuart Zender (de Jamiroquai), Bootsy Collins (outro artista que meu irmão me mostrou) e, claro, James Jamerson. E na guitarra, eu realmente idolatrava a maneira como Jimmy Page tocava, porque ele era capaz de fazer blues, slide e folk, e muitas de suas músicas tinham uma qualidade mística ou triste (para meus ouvidos). Eu também gostei muito do Nick Zinner (do grupo Yeah Yeah Yeahs) porque em muitas músicas, ele basicamente faz seu violão tocar o ritmo e as partes principais do instrumento, bem como o baixo, e ainda o mantém cativante e cinético. Menciono todos esses instrumentistas, porque sempre que escrevo músicas para o The Devonns, costumo escrever muitas no baixo ou na guitarra primeiro, mesmo que eu toque teclas no The Devonns. Eu acho que faço isso porque passei muitos anos tocando guitarra e baixo para outras pessoas, e é realmente fácil abordar esses instrumentos como instrumentos melódicos e de percussão ao mesmo tempo ... você pode simplesmente definir um ritmo com as duas mãos literalmente. Mais tarde (depois que eu me cansei de tocar para outras pessoas e comecei a tentar escrever), eu realmente comecei a gravitar em torno dos escritores, especialmente as pessoas que faziam a maioria de suas próprias composições. Os heróis realmente importantes para mim foram Burt Bacharach, Carole King, Lamont Dozier + Brian e Eddie Holland, Smokey Robinson, Nickolas Ashford + Valerie Simpson, Curtis Mayfield, Leroy Hutson, Leon Ware ... pessoas assim. Todas essas pessoas são músicas, mas eu realmente penso nelas como escritores PRIMEIRO, uma vez que criariam música e letra, o que é significativamente mais difícil do que fazer por si só. E todas essas pessoas tinham tantos ganchos incríveis... ganchos musicais, líricos... se você os trancasse em uma sala com nada além de piano ou violão, provavelmente devolveriam ouro musical sólido. Eu também devo mencionar a profunda influência que Prince teve em mim, porque ele meio que incorporou todas as possibilidades: ele escreveu tantas músicas que estava dando hits para outras pessoas... ele podia superar e cantar a maioria das pessoas ... e ele era o artista consumado no palco. Você assiste a vídeos dele, e seu magnetismo e confiança são completamente de outro mundo. Eu ouvi praticamente todo o seu catálogo disponível (incluindo coisas de seus pseudônimos, atos para os quais ele escreveu, demos)... e sua proporção de suspense por filme é chocantemente boa para a quantidade de material que ele escreveu. Acho que se você quisesse uma resposta mais curta (em nenhuma ordem específica): Prince, The Isley Brothers; Terra, Vento e Fogo; Leroy Hutson; Curtis Mayfield; Os Bar-Kays; Willie Hutch; O sistema; Rufus e Chaka Khan; Aretha Franklin; Stevie Wonder; Remy Shand; Jamie Lidell; Raphael Saadiq; Norman Connors; Leon Ware; Phyllis Hyman; Rick James; Jimmy Jam e Terry Lewis; Bryce Wilson (da teoria de Groove). Além dos compositores que eu mencionei antes (Burt Bacharach, Carole King, Holanda-Dozier-Holland, Smokey Robinson, Ashford & Simpson, etc). Provavelmente estou deixando alguém de fora, mas esses são todos os escritores cujas músicas eu realmente ouvi bastante nos últimos cinco anos e procurei aprender.

Como funciona o processo de criação musical da banda?
Mathew Ajjarapu - Eu faço toda a composição sozinho. Eu sei que algumas bandas gostam de tocar ou escrever juntas, mas eu pessoalmente sempre odeio tentar fazer isso. Simplesmente não funciona para mim. Em vez disso, escrevo a música, as letras, tudo e, em seguida, geralmente gravo uma demo e trago essa faixa demo básica para a banda, para descobrir exatamente como a faremos ao vivo. Meu processo exato quando escrevo músicas é espontâneo. Normalmente, o que vai acontecer é que vou fazer alguma coisa (como tomar banho ou dirigir)... e ouvirei um gancho na minha cabeça. Pode ser um gancho lírico, pode ser uma linha de baixo... apenas algo que serve como um ponto de partida. Vou anotá-la ou cantarolá-la no meu telefone para não esquecer... e mais tarde, quando estiver em casa, basicamente transformarei em uma ideia musical. Normalmente, quando ouço um gancho na minha cabeça, ouço as partes da música juntas (por exemplo, eu nunca ouço apenas uma linha de baixo por si só ... geralmente é uma linha de baixo mais um riff de guitarra ou talvez um de guitarra linha sobre como a bateria seria tocada). Vou usar meu computador e um microfone e basicamente acompanhar cada parte uma de cada vez para criar uma faixa demo básica (como tocarei a parte das teclas... depois tocarei um riff básico de guitarra sobre isso... então eu tocarei a linha do baixo... etc, uma de cada vez, manualmente). E é daí que a música vem, de qualquer maneira. Essa é a parte mais fácil. Quanto às letras, isso é muito mais difícil. Eu realmente não tento forçar as letras, pois isso não funciona para mim. Em vez disso, se eu gostar de uma ideia musical, apenas participarei dessa demonstração até que a letra chegue até mim. Às vezes, leva muito tempo (como mais de um ano). Outras vezes, é muito rápido. “Come Back” eu escrevi em dez ou quinze minutos (então eu provavelmente estava muito deprimido quando a idéia veio à minha mente, já que a letra veio para mim totalmente completa, com quase nenhuma revisão necessária). Mais tarde, quando conheci minha namorada atual, escrevi "Tell Me" e "Think I'm Falling In Love" sobre ela, e isso também veio muito rápido liricamente (provavelmente porque me senti muito forte com nossas emoções um pelo outro). Ou uma vez, ela e eu brigamos, e isso se tornou a música "More" porque eu estava extremamente bravo com ela.

Como tem sido a divulgação do álbum em meio a pandemia da Covid 19
Mathew Ajjarapu - Infelizmente, a pandemia do Covid-19 acabou com uma série de atividades típicas do músico. Eu não sei como é em outras partes do mundo, mas aqui em Chicago, nenhuma banda está tocando em nenhum lugar, ninguém está em turnê... nada. Suponho que os Devonns tenham sorte por termos assinado um pequeno contrato de gravação; na verdade, terminamos nosso álbum e o submetemos antes que a pandemia se tornasse um grande problema mundial. Nossa gravadora (Record Kicks) realmente teve o trabalho difícil de promover um álbum sem shows ou turnê. Caramba, é difícil até ir a algum lugar de Chicago para tirar fotos promocionais neste momento. Por causa disso, a gravadora nos organizou com várias entrevistas como esta, bem como algumas na BBC Radio London (agradeço a Robert Elms, Karen Gabay e Anne Frankenstein no Reino Unido!). Admito... não poder sair em turnê foi um pouco de alívio para mim. Atualmente, estou de volta à escola e trabalho meio que horas loucas (8 a 12 horas por dia), por isso teria sido muito difícil adiar meus outros compromissos de vida.

Qual a sua opinião sobre o streaming?
Mathew Ajjarapu - Eu meio que tenho sentimentos mistos sobre streaming. É uma plataforma tremenda e oferece a muitos artistas uma voz e uma voz que talvez não tenham recursos ou meios para seguir a rota tradicional (digamos, por meio de uma gravadora). O streaming tem sido um processo muito democratizante para os músicos; você pode se tornar tão famoso por meio de reproduções de streaming quanto conseguir uma grande gravadora como a Capitol (e muitos músicos fizeram exatamente isso). Não só isso… o streaming tem sido absolutamente ótimo para ouvintes de música. Agora, os ouvintes têm inúmeras opções e escolhas na ponta dos dedos, e acho que isso levou muito mais ouvintes a encontrar o que gostam ou explorar músicas que possam interessar. Heck, eu uso principalmente os serviços de streaming do Google Play e do Youtube Red, e foi apenas por causa desses serviços que consegui encontrar muitos raros ringtones de soul e funk que realmente me ajudaram a me desenvolver como escritor e músico. Portanto, direi que o streaming é bom por esses motivos e não estaria onde estou hoje sem ele. Talvez o lado ruim seja que isso contribuiu para a morte lenta das estações de rádio tradicionais e das listas de reprodução criadas por DJs. Algumas empresas gigantes possuem muitas estações de rádio em todo o mundo, e elas têm playlists corporativas razoáveis que alguns executivos ou grupos focais criaram (provavelmente girando na maioria das vezes entre os Top 40 atuais ou o mesmo rock clássico antigo). A outra coisa ruim sobre o streaming é que ... do ponto de vista dos músicos, simplesmente não paga muito bem. Eu acho que essa última crítica se aplica a todas as etapas da indústria da música ... em todos os níveis, de cima para baixo, as pessoas geralmente se ferram mais são músicos. Para dar um exemplo… o primeiro cheque de royalties que recebi (no ano passado) foi de US $ 6 (cerca de R $ 30,00). Resumindo ... acho que o streaming geralmente é bom, mas, caramba, eu gostaria que pagasse melhor.

Como você viu o movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam)?
Mathew Ajjarapu - Eu acho que o movimento Black Lives Matter é uma coisa ótima e chegou muito atrasada. Na América, os negros foram marginalizados, vitimados, maltratados, difamados, ignorados, abusados, encarcerados e assassinados pelas mãos de autoridades que remontam a centenas de anos. A América sempre foi assim... nas décadas de 1700, 1800, 1900 e continuando no século XXI. Especificamente em relação à brutalidade policial, esse não foi um fenômeno novo. O que há de novo, no entanto, é a capacidade dos telefones celulares de registrar evidências indiscutíveis de brutalidade policial. É lamentável que, durante décadas e décadas, pessoas de cor tenham reclamado de tratamento desproporcionalmente injusto nas mãos das autoridades e sido completamente ignorado pelo público americano. Mas também é lamentável que, mesmo com todas essas evidências em vídeo aparecendo constantemente, muitos americanos ainda não querem admitir a possibilidade de que o racismo ainda esteja vivo nos Estados Unidos. Se não é totalmente óbvio pelo que estou dizendo... acho que o movimento Black Lives Matter é ótimo, e apoio completamente eles. Lembro-me de como fiquei triste quando o assassino de Trayvon Martin não foi enviado para a prisão; como fiquei triste por o assassino de Aiyana Jones ter saído completamente de graça; como fiquei triste quando Ahmaud Arbery foi caçado e executado; Sandra Bland; Botham Jean; Philando Castile; Amadou Diallo; e incontáveis, incontáveis outros. Foi essa tristeza e frustração que me levou a escrever uma música sobre ela (Blood Red Blues), que aborda a disparidade racial e econômica, bem como a violência armada. Eu acho que a agitação social e os protestos que estamos testemunhando nos Estados Unidos são uma coisa boa, pois está forçando muitas pessoas a pelo menos admitir que talvez haja algo errado com os EUA. Eu gostaria de dizer que as reformas policiais ou as mudanças sociais virão de tudo isso, mas sempre fui um pessimista e temo que muitas pessoas no poder (assim como cidadãos comuns) fechem seus ouvidos e olhos.

Você conhece a música brasileira?
Mathew Ajjarapu - Eu absolutamente amo música brasileira. Sou um ouvinte de longa data da música brasileira e até toquei teclas em uma banda de jazz brasileira até recentemente. A música brasileira tem sido tão rica e extremamente influente nos últimos 70 anos. Você ouve sua influência em todos os lugares, mesmo em músicas que não são explicitamente jazz, samba ou bossa nova. É claro que é impossível não expressar um profundo amor e apreciação de algumas figuras muito grandes na música brasileira como Antonio Carlos Jobim, Ivan Lins, Os Cariocas e, especialmente, Sergio Mendes. No entanto, meus músicos brasileiros favoritos são na verdade Walter Wanderley (organista e pianista), Marcos Valle e Sylvia Telles. Como tocador de órgão, tentei adaptar meu estilo de tocar para arrancar a técnica e o tom de Walter. Como escritor, eu amo a escrita de Marcos, particularmente o período entre os anos 60 e 80. E há algo na voz de Sylvia que realmente me emociona. Existem tantas cantoras brasileiras fantásticas... mas eu realmente acho que Sylvia Telles tinha uma voz com uma qualidade muito atemporal. Pode ser divertida, triste, bem-humorada e paqueradora, tudo ao mesmo tempo. Ela é uma das minhas cantoras favoritas.




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