terça-feira, 1 de dezembro de 2009

.: Entrevista com Caio Vecchio, diretor

“Precisamos desenvolver mecanismos que tornem o investimento no cinema brasileiro um bom negócio financeiro.” - Caio Vecchio

Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em dezembro de 2009


Em entrevista ao Resenhando.com o diretor Caio Vecchio comenta detalhes sobre seu primeiro filme, Um Homem Qualquer, sobre o cenário cinematográfico e o que está lendo atualmente. Confira!


O entrevistado do R.G. de dezembro é o diretor de uma tragicomédia metropolitana que discute o que realmente importa, o que não importa e o que é relativo. Caio Vecchio, diretor de Um Homem Qualquer, seu primeiro filme, com previsão de lançamento para o primeiro semestre de 2010, fala ao Resenhando.com sobre o processo de produção deste lançamento nacional, além de falar da importância do cinema na sociedade e seus planos dentro do cenário cinematográfico para até 2011.

O diretor: Estudou Cinema na FAAP, em São Paulo. Iniciou a carreira em 1996, como assistente de produção do filme Cronicamente Inviável, de Sérgio Bianchi. Trabalhou como assistente de direção e produção em inúmeros curtas-metragens, documentários e séries para a TV. Dirigiu os curtas Metástase (2002), Keró (documentário, 2003) e Amor de Mula (2004). Para a TV, dirigiu o documentário Catástrofe de Caraguá (2008). Um Homem Qualquer é seu primeiro longa-metragem.


RESENHANDO – Comente um pouco sobre o filme “Um homem qualquer”. 
CAIO VECCHIO - É um filme que fala sobre o drama de um homem que se encontra perdido e sem rumo. Além disso, ele está desempregado, sua companheira terminou o relacionamento com ele e, por isso, está pensando em se matar. Nesse momento de desespero, Jonas (Eriberto Leão) questiona os dogmas religiosos que aprendeu durante a vida. Muitas coisas tidas como certas passam a virar dúvidas e ele vai em busca de respostas. 


RESENHANDO - Na sua opinião, qual foi o momento mais marcante na produção do filme? 
CAIO VECCHIO - Nas cenas em que Isy (Carlos Vereza) contracena com Jonas no abrigo para moradores de rua. No final de cada take a equipe aplaudia a atuação dos dois. Foi emocionante, mas acho que o momento mais marcante foi depois da gravação da última cena. Depois de muitas dificuldades, havíamos acabado uma etapa importante - as quatro semanas de gravação - e nos abraçamos e comemoramos juntos no bar da Rua Augusta onde gravamos as cenas de Tico (Norival Rizzo) sequestrando o gringo (Javier). 


RESENHANDO - O que o público pode esperar de "Um homem qualquer"? 
CAIO VECCHIO - Uma identificação muito grande. Acho que todos passam por momentos em que a vida parece que não esta dando certo. Momentos de grande questionamento sobre o sentido da vida. Por tratar de temas existenciais, o filme agrada a todos os públicos. O amor, a política e a religião... os caminhos para se questionar a realidade... a dificuldade de ser feliz. Acho que outro diferencial está no fato de tratar alguns questionamentos básicos à Instituição Igreja que poucas vezes são citados no cinema: a invenção do pecado, a divinização do Jesus crucificado e não do Jesus redentor, a eterna dúvida da origem do homem, o conflito do Deus vingativo do antigo testamento ("olho por olho, dente por dente") com o Deus amoroso do novo testamento.


RESENHANDO - Como foi dirigir atores brasileiros importantes como Carlos Vereza, Eriberto Leão, Nanda Costa, Pedro Neschling e Norival Rizzo? 
CAIO VECCHIO - Foi muito tranquilo... uma harmonia muito grande no set. Até hoje nós somos grandes amigos. Estava muito ansioso antes do início das filmagens. Nunca imaginei que teria atores tão talentosos e renomados. Acontece que eles gostaram do roteiro e se dispuseram a entrar nesse processo coletivo de realização, que é o cinema. Cada um com sua forma de interpretar, trouxe para o filme uma carga dramática fantástica e fez o filme criar "corpo". Mesclando essa nova safra de atores - Eriberto Leão, Nanda Costa e Pedro Neschling com atores mais experientes como Carlos Vereza e Norival Rizzo, conseguimos fazer um belo filme! 


RESENHANDO - "Um homem qualquer" é uma tragicomédia metropolitana que discute o que realmente importa, o que não importa, e o que é relativo. Como esse assunto é tratado na película? 
CAIO VECCHIO - O filme trata basicamente dessa busca por respostas, por verdades que nem sempre são absolutas, da busca de si mesmo. Mas trata desse tema com muito amor e humor, por isso se trata de uma tragicomédia. Nela os dramas são apresentados de forma leve e despretensiosa. É como se o filme desse risada dele mesmo.


RESENHANDO - Como você analisa o cenário das produções cinematográficas brasileiras dos últimos anos? 
CAIO VECCHIO - Acho que em termos de qualidade técnica houve uma melhora significativa... Temos bons profissionais e bons equipamentos. O que precisa ser desenvolvido é a indústria do cinema: uma indústria constante e sustentável. Os profissionais precisam de garantias para se dedicarem ao trabalho com mais segurança. Precisamos desenvolver mecanismos que tornem o investimento no cinema brasileiro um bom negócio financeiro. O empresário precisa ver atrativos de retorno financeiro no investimento. Não podemos depender eternamente de subsídios fiscais e os filmes que atingirem o grande público precisam começar a andar com as próprias pernas...


RESENHANDO - Tendo em vista que o Resenhando é um site cultural e publica resenhas de livros, nós queremos saber se você gosta de ler. Há alguma obra que tenha lido e gostado? Qual? Por que? 
CAIO VECCHIO - Gosto muito de ler assuntos ligados a arqueologia antiga. Pesquiso muito as descobertas recentes, trechos de manuscritos antigos e tento traçar um paralelo com a Bíblia. Não vejo a Bíblia unicamente como um livro espiritual e sim com uma coletânea de livros (como biblioteca) que contam a história da origem da humanidade. Entretanto as religiões soberanas de suas épocas escolheram os textos de acordo com seus interesses. Os canônicos foram aceitos e passados para outras gerações e os apócrifos foram tidos como farsas e excluídos da história. A partir dos textos originais (pelo menos até que sejam descobertos outros mais antigos) que foram muito alterados no decorrer do tempo eu busco interpretar e desvendar passagens do nosso longínquo passado. 


RESENHANDO - O que está lendo atualmente?
CAIO VECCHIO - Nesse momento particularmente estou lendo "A epopeia de Gilgamesh", da Editora Martins Fontes. É talvez a história mais antiga registrada na forma escrita pelos Sumérios em cita, pela primeira vez, o caso do dilúvio. Eu fico fascinado!


RESENHANDO - O que o cinema representa na sua vida? 
CAIO VECCHIO - O cinema é uma forma de atuação social. Eu gosto muito de trabalhar com histórias próprias e que tratem de questionamentos que levam a mudanças individuais e coletivas. Pelo menos é o que eu tento. Acho que precisamos nos reinventar como indivíduos e como nação. Acredito que precisamos fazer cinema para crianças, intelectuais, para os questionadores e para o grande público. Não é a toa que a indústria cinematográfica do Estados Unidos é uma das mais importantes. Assim como o cinema foi usado nas últimas décadas para vender cigarros e bebidas, jeans, carros luxuosos, justificar guerras e abusos políticos, também pode ser usado para plantar sementes de questionamentos que possam levar a construção de um país e de um mundo melhor.


RESENHANDO - Já tem planos na carreira de diretor cinematográfico? Comente. 
CAIO VECCHIO - Vou dirigir um curta metragem chamado "Gogó da Ema Futebol Clube" em fevereiro. É um projeto infanto-juvenil sobre um time de garotos de 10 a 12 anos que está na última colocação de um campeonato. Também já tenho mais dois roteiros de longas escritos. As coisas não são tão rápidas como planejamos. Caso tudo dê certo, estarei gravando meu próximo longa metragem em 2011.

domingo, 1 de novembro de 2009

.: Entrevista com Fábio Brunelli, escritor de "Elas por ele"

“Talvez o principal (erro) seja ignorar as necessidades femininas. Aqueles corpinhos são bombas de hormônio. Temos que ser pacientes.” - Fábio Brunelli


Por: Helder Miranda
Em novembro de 2009


Em entrevista ao Resenhando.com o escritor Fábio Brunelli fala sobre o livro "Elas por ele" e sua carreira de jornalista. Saiba mais!



No mês em que completa 20 anos de telejornalismo, Fábio Brunelli revela ao site cultural Resenhando detalhes de seu primeiro romance, lançado pela Novo Século. Em outubro, milhões de brasileiros viram na TV a capa de Elas por Ele. O livro foi mostrado por Fausto Silva na vitrine do Domingão do Faustão. Agora, nesta entrevista ao Resenhando, o editor-chefe e apresentador do RJTV produzido pela TV Rio Sul, afiliada da Rede Globo, fala do jornalismo e do universo feminino na visão de um homem.



RESENHANDO – Como conseguiu, aos 20 anos, se tornar o âncora mais jovem da TV brasileira, em rede nacional?
FÁBIO BRUNELLI – Era novembro de 1989. No dia 9, um dos apresentadores do Jornal da Manchete 2ª edição ficou doente. Fui chamado às pressas para a apresentação. Nem tive tempo de sofrer por antecedência. Comecei a trabalhar na Rede Manchete dois meses antes, depois de conhecer o Jayme Monjardim – na época, diretor artístico da TV – e ser convidado para um teste. Nos anos seguintes, apresentei o Rio em Manchete, o Manchete Rural e o programa Free Jazz in Concert. Eventualmente, também apresentei outros telejornais em rede nacional, como o Edição da Tarde. Aprendi muito com toda a equipe: Alice Maria – a diretora de jornalismo, Ronaldo Rosas, Leila Richers, Leda Nagle, Carlos Bianchini e outros colegas com os quais dividi a bancada.


RESENHANDO – O que passou pela sua cabeça quando noticiou a queda do muro de Berlim?
FÁBIO BRUNELLI – 20 anos depois, ainda lembro da sensação de sorriso no meu rosto. Confesso que, talvez, mais pela estreia do que pela notícia. Eu era muito jovem na época. Ainda não tinha noção da dimensão daquele fato na história do mundo moderno. A queda do muro é o grande símbolo do fim da Guerra Fria. 


RESENHANDO – Como o âncora mais jovem da TV brasileira vê a não obrigatoriedade do diploma no curso de Jornalismo?
FÁBIO BRUNELLI – Não creio que o diploma seja ferramenta primordial para formar um bom profissional. No meu ponto de vista, “bom senso”, por exemplo, é mais importante. Com raras exceções, percebo nos jornalistas recém-formados a falta do espírito investigativo, questionador. Essa deveria ser a função das universidades: ensinar os jovens a pensar de forma crítica. Nossas redações precisam desse tipo de profissional.


RESENHANDO – Por que escrever um livro sobre as mulheres de sua vida?
FÁBIO BRUNELLI – No meu ponto de vista, as mulheres são o que há de mais interessante no mundo. Escrever sobre elas é um prazer. Um dia, no fim de uma sessão de análise em que falei muito sobre as mulheres da minha vida, o terapeuta deu um "sorrisinho" e disse que minhas histórias dariam um bom livro. Voltei pra casa, liguei o computador e comecei a escrever.


RESENHANDO – Você acredita que a ótica masculina, sobre o sexo feminino, consegue deixar de ser machista? Por quê?
FÁBIO BRUNELLI – Esse é um grande desafio: entender que não somos melhores, nem piores do que elas. Homens e mulheres são seres complementares. Temos ritmos diferentes, sonhos distintos. “Elas por Ele” descreve várias dessas diferenças. O personagem principal, que já foi casado três vezes e teve inúmeras namoradas, analisa de forma bem humorada as características femininas. Aspectos que tornam as mulheres ainda mais apaixonantes.


RESENHANDO – As experiências das relações anteriores podem levar as pessoas a não cometerem os mesmos erros, em um novo relacionamento?
FÁBIO BRUNELLI – Costumo dizer, brincando, que todo mundo deveria se casar três vezes, pelo menos. A gente só aprende vivendo. Certamente, a experiência das relações anteriores nos ajuda a evitar conflitos, a fazer escolhas cada vez mais conscientes. Com bom humor, o livro aponta caminhos interessantes que podem levar o leitor a uma saudável viagem em direção a autodescoberta. Esse é o nosso primeiro destino: nos perceber. Temos que nos dar conta dos nossos desejos, dos nossos medos. E assim, começar a tomar decisões mais conscientes do que realmente queremos.


RESENHANDO – Você afirmou que para dar realismo ao seu romance, a maioria das frases das personagens femininas foi ouvida ao longo de sua vida. Com base nisso, em que as mulheres se repetem mais?
FÁBIO BRUNELLI – Bem, muitas vão querer me matar agora. Mas, vamos lá: todas querem casar. As que já foram casadas, bem menos, é verdade. Mas se aparecer um homem especial, inteligente, carinhoso e “resolvido”, como elas dizem, por que não? Uma amiga me contou um segredo. Muito íntimo. Disse que só aceita um convite para jantar quando o homem preenche os requisitos necessários de um futuro marido. Mal sabe o anfitrião que a conta pode sair mais cara do que imagina...


RESENHANDO – Quais os erros que os homens sempre cometem nas relações amorosas?
FÁBIO BRUNELLI – Talvez o principal seja ignorar as necessidades femininas. Aqueles corpinhos são bombas de hormônio. Temos que ser pacientes. Elas precisam falar, precisam ser elogiadas, surpreendidas. 


RESENHANDO – O que o homem pode aprender com a mulher, e vice e versa?
FÁBIO BRUNELLI – Já que somos seres complementares, só temos a aprender com as mulheres. E elas com a gente. Como numa boa terapia, escrever “Elas por Ele” me ajudou a refletir sobre a minha vida. Hoje, consigo perceber com mais clareza o porquê das escolhas que fiz no passado, e das que faço hoje. Depois de voltar meu olhar, por meses, para a observação das mulheres, me dei conta mais ainda da necessidade de valorizá-las, de respeitá-las, de amá-las.


RESENHANDO – Como foi, para você, conciliar o trabalho de editor-chefe e apresentador de um telejornal, com a literatura?
FÁBIO BRUNELLI – Levei três meses para escrever esse livro. Aproveitei um período em que estava solteiro e passei as madrugadas escrevendo, já que trabalho durante o dia. Mas o maior desafio foi deixar de lado meu olhar de "editor". No telejornal, acabo sendo uma espécie de sensor do trabalho dos repórteres. Quando comecei a escrever "Elas por Ele", fiz um trato comigo: teria que me deixar mais permissivo. Assim, restou apenas o prazer pela criação.


RESENHANDO – Sobre o que é seu próximo livro?
FÁBIO BRUNELLI – Já tenho um esboço do novo romance. Estou escrevendo sobre a vida. Na verdade, sobre a necessidade de se libertar da própria cultura para viver melhor. Mas, no momento, meu desejo é que os leitores se divirtam e se reconheçam nas páginas de "Elas por Ele". Torço para que sintam o mesmo prazer que tive ao escrevê-lo.

Sobre o lançamento da editora Novo Século - Elas por ele: Com bom humor e um olhar apaixonado, o jornalista e escritor Fabio Brunelli descreve o paradisíaco inferno das relações entre homens e mulheres. A história de Leonardo e Carolina, Vitória, Marina, Bruna, Júlia, Nina… mostra do que um homem é capaz na busca do par ideal.

A livraria e o cinema se tornam cenários para encontros amorosos. O romance moderno mergulha no Orkut. Alimenta paixões com e-mails instigantes. Inspira-se na música e no chocolate. O texto contemporâneo nos convida a uma análise pessoal. Os pensamentos de Leonardo o conduzem à autodescoberta, nosso primeiro destino. E, ao viver o presente, segue viagem rumo a novos amores eternos.

A sedução é um dos ingredientes da história. Com a experiência do telejornalismo, o autor livra o leitor da farsa dos adjetivos. Traça perfis e narra fatos num ritmo empolgante. Focaliza os detalhes para escrever a vida e interpretar os sonhos de um homem que acredita no amor.

.: Entrevista com Marco Haurélio, escritor, cordelista, poeta e professor

“Aos seis anos eu já sabia o que queria. Com essa idade, tentei escrever o primeiro cordel” - Marco Haurélio

Por: Imprensa Editora Paulus / Da Redação do Resenhando
Em novembro de 2009


Conheça melhor o escritor baiano que contribui grandemente para a divulgação da cultura popular em formato de literatura de cordel. Saiba mais de Marco Haurélio!


O escritor, cordelista, poeta, professor e pesquisador do folclore brasileiro e da literatura de cordel no Brasil, Marco Haurélio Fernandes Farias, mais conhecido pelo nome duplo, Marco Haurélio, revela em entrevista toda a magia da literatura de cordel. O representante do Brasil que contribui significativamente para a divulgação da cultura popular brasileira, é um baiano nascido em Riacho de Santana, no dia 5 de julho de 1974.

Ele que gosta de filmes como Um Lugar ao Sol, Arizona Nunca Mais, Cidadão Kane, O Colecionador, Ben-Hur e Mary Poppins, tem em sua bibliografia diversos livros, entre eles: Os Três Porquinhos em Cordel, As Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Todos, Breve História da Literatura de Cordel, As Três Folhas da Serpente, Traquinagens de João Grilo, Romance do Príncipe do Reino do Limo Verde, além de seu mais recente lançamento, A Lenda do Saci-Pererê em cordel, publicado pela Editora Paulus. Saiba mais do autor de A Lenda do Saci-Pererê em cordel, Marco Haurélio!




RESENHANDO – Como surgiu a ideia de escrever o livro?
MARCO HAURÉLIO - O Saci é um personagem que fascina crianças e adultos. Ainda hoje existem relatos de pessoas que o avistaram em alguma localidade rural. Há tempos eu queria escrever algo sobre o personagem, mas não queria ficar apenas na descrição de suas características ou de suas peraltices. Daí, pesquisei em vários livros e ouvi alguns relatos da “aparição” do personagem. Recriei-o a partir de várias fontes, todas elas de tradição popular. 


RESENHANDO – O que você espera passar para as crianças com esta obra?
M.H. -As crianças encontrarão no personagem deste livro uma figura simpática, mas que não foge de sua função de atazanar as pessoas. Não quis fugir às suas características, mas também busquei evitar cair no lugar-comum. É um livro infantil que agradará também outros públicos, pois se preocupa, antes de mais nada, em contar uma história.

RESENHANDO – Na sua opinião, o que as crianças mais gostam na história do Saci?
M.H. - O Saci é um personagem que tem DNA africano, indígena e europeu. Entretanto tudo aconteceu espontaneamente, sem interferência consciente. As suas peraltices remetem aos seres do folclore europeu, como duendes e leprechauns. A única perna faz lembrar a lenda do ciápode, um ser mitológico. O gorro também é europeu. A cor e o cachimbo são referências africanas. Em alguns lugares, como no nordeste, ele é retratado como a ave peitica. Acredito que essa mistura facilita a rápida identificação, pois aproxima o personagem de culturas aparentemente tão distintas. Outra coisa a considerar é a peraltice, tão própria das crianças. Embora o Saci exagere em algumas brincadeiras, as crianças acabam se identificando com esse lado traquinas do personagem.



RESENHANDO – Qual outro personagem do folclore você escreveria um livro e por quê?
M.H. - Acho Cobra Norato uma das mais belas lendas, por misturar as tradições indígenas com as crenças europeias. Também escreveria sobre uma lenda urbana, A Moça do Cemitério, que tem forte apelo junto aos jovens, apesar de sua temática ser muito antiga.


RESENHANDO – Fale um pouco sobre a literatura de cordel no Brasil e seu interesse por esse estilo.
M.H. - Não há, em nenhum outro país, uma literatura popular com o mesmo vigor daquela praticada no Brasil. E o cordel, gênero da poesia popular, é o maior responsável por essa honraria. Entrei em contato com o cordel ainda criança, na Ponta da Serra, localidade rural do sertão baiano, no município de Riacho de Santana. Quem me apresentou à literatura de cordel foi minha avó paterna, Luzia Josefina. Ela era também grande contadora de histórias. Num armário antigo, na sala, estava o baú do tesouro: uma gaveta na qual ela guardava os folhetos e romances de cordel. Aos seis anos eu já sabia o que queria. Com essa idade, tentei escrever o primeiro cordel. Aos oito eu já fazia ABCs (cordéis mnemônicos que seguem a ordem do alfabeto), poemas diversos e vários romances de cordel, espalhados por muitos cadernos que guardo como um tesouro.  

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

.: Entrevista com Umberto Gonçalves, escritor pela Editora Scortecci

“A Literatura como um todo me faz viajar. É onde encontro muita paz, conhecimento e busco a sabedoria que ainda não encontrei.” - Umberto Gonçalves


Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em outubro de 2009


Conheça melhor o escritor Umberto Gonçalves, autor de "Cabo Genaro: Homem de Honra”, publicado pela Editora Scortecci.



Natural de Moreno, Pernambuco, Umberto Gonçalves, um  escritor que acredita no poder do ser humano em enfrentar os problema da vida, fala ao site cultural Resenhando sobre o seu livro Cabo Genaro: Homem de Honra, seus planos literários, o gosto pela leitura e o seu amor pela escrita. Saiba um pouco mais deste verdadeiro HOMEM  DE HONRA!




RESENHANDO – Na sua visão de escritor o que é ser um HOMEM DE HONRA? 
UMBERTO GONÇALVES - Na minha visão, Homem de Honra é todo aquele que tem “vergonha na cara”. Não se trata de valentia no sentido de violência, mas para enfrentar os problemas que a vida apresenta. 


RESENHANDO – Como surgiu a história de “Cabo Genaro: Homem de Honra”, publicado pela Editora Scortecci? Comente um pouco sobre o livro. 
UMBERTO GONÇALVES - A história de Cabo Genaro: Homem de Honra surgiu com o intento de contar sobre coisas e costumes do Nordeste do Brasil, aquela terra tão rica e cheia de coisas pra contar. Melhor saber lendo o livro.


RESENHANDO – Como foi o processo de criação deste livro? Por que você decidiu escrever um livro com uma temática bastante forte? 
UMBERTO GONÇALVES - Ora, o tema não é tão forte assim. Talvez um pouco cru, sem meias palavras. O livro conta algumas histórias. De todas conheço um pouco. O resto tive que inventar com a experiência, com a convivência que tive na Região.


RESENHANDO - Qual o sentimento ao ver um livro publicado?
U. G. – Um sentimento similar ao nascimento de um filho. 


RESENHANDO - Como foi despertado o seu gosto pela leitura, e consequentemente, pela escrita?
U. G. – Uma vez fui redator de um pequeno jornalzinho (redundância proposital). Comecei a escrever e não parei mais.



RESENHANDO - O que gostava de ler durante a sua infância e adolescência?
U. G. – De família pobre, não tinha rádio, TV ou qualquer outro entretenimento que não fosse a revista “O Cruzeiro” e eventuais jornais atrasados. Lembro que meu primeiro livro, afora os didáticos, foi Antologia dos Poetas Brasileiros. Ainda o tenho. Foi o primeiro... Responde também a parte da última pergunta.


RESENHANDO - Atualmente, na hora da leitura, qual o seu estilo preferido? 
U. G. – Continuo um sonhador. Amo ficção. Sei que não é verdade hoje. Amanhã, quem sabe? Gosto mais da prosa.


RESENHANDO - O que a literatura representa em sua vida?
U. G. – A Literatura como um todo me faz viajar. É onde encontro muita paz, conhecimento e busco a sabedoria que ainda não encontrei. 


RESENHANDO - Quais seus planos no meio literário?
U. G. – Depois de publicar o “Dr. Zezinho e o Cabo Genaro – Homem de Honra, tenho pronto, no prelo, Zapadojna, uma história passada no Rio de Janeiro, na época da ditadura. Neste, também escrevi sobre os costumes daquele povo maravilhoso que é o Carioca. Atualmente escrevo uma história que ocorre em São Paulo, Santos e São Sebastião, ainda sem título. No mais, é deixar que o Grande Arquiteto do Universo, que é Deus, nos ilumine e guarde.


PING-PONG
Gosto de: Amigos e Sashimi.
Detesto: Falsos amigos e Limão.
Meus escritores favoritos são: José Lins do Rêgo (Meu Pé de Laranja Lima), Jorge Amado (Capitães de Areia), Margot Morrell  (Sharckleton), entre tantos outros bons autores.
Escrevo por: Amor
Mensagem para o público: Como tímido que sou, espero que este meio traga entretenimento a todos. Me comprometo a trazer aqui, antes que qualquer lugar, o próximo trabalho (ZAPADOJNA). Que Deus os abençoe!

.: Entrevista com Ildi Silva, atriz cosmopolita

“Fizeram teste a partir da saliva e detectaram a proporção de europeu, negro e ameríndio no meu sangue, coisa que nunca tinha imaginado.” - Ildi Silva


Por: Renato Krausz
Em outubro de 2009


A bela e as feras: capa da revista VIP de outubro e aprendiz de vilã em novela, Ildi Silva, a mulher mais bonita da TV na atualidade, fala sobre tudo, inclusive de Caetano Veloso.



A atriz Ildi Silva é mesmo cosmopolita. A influência genética de diferentes raças a transformou num tipo de mulher ideal, como você pode comprovar no ensaio da revista Vip de outubro. Além disso, Ildi costuma dizer que é bapaioca, uma junção de baiana, paulista e carioca: nasceu e morou até os 16 anos em Salvador, e nos últimos 10 anos se dividiu entre São Paulo e Rio e de Janeiro. Ela adora as três cidades.

Anote aí a receita: misture código genético na proporção 75% europeu, 19% negro e 6% ameríndio. Acrescente um pouco de energia baiana diluída com agito paulista e tempere com astral carioca a gosto. Leve às passarelas e deixe desfilar por uns quatro anos. Depois mergulhe em cursos de teatro nacionais e internacionais e ponha à prova em telenovelas das três maiores emissoras do país. Espere completar 27 anos (em 8 de outubro) e pronto: você criou uma Ildi Silva, essa morena de olhos verdes cuja beleza e talento são impossíveis de reproduzir numa receita que não seja exatamente esta. 

A proporção genética não é chute: foi aferida por um teste de DNA encomendado pela BBC de Londres. Seus traços desconcertantes lhe renderam uma música de Caetano Veloso (Musa Híbrida, do álbum Cê, de 2006), com quem ela teve um affair, sobre o qual não gosta de comentar. Hoje, na pele da secretária Dinorá Melo, Ildi diverte o público na cômica novela Bela, a Feia, da TV Record.




Explica essa história de a BBC fazer teste de DNA com você. 
ILDI SILVA – Me ligaram dizendo que estavam fazendo uma pesquisa no Brasil sobre mistura de raças. Fizeram teste a partir da saliva e detectaram a proporção de europeu, negro e ameríndio no meu sangue, coisa que nunca tinha imaginado. Minha avó paterna é negra. Meu avô era branco e tinha olho claro. A família da minha mãe descende de holandeses, mas tem misturas também. 


E onde o índio entrou nessa história. De gaiato?
I.S. – Ah, é. Uma das duas famílias deve antepassados ameríndios. Ou as duas. É uma mistura boa.


Dá para separar algumas partes? Por exemplo: o olho vem dos holandeses...
I.S. – Poxa, brasileira, baiana... O quadril não tem jeito. É mais avantajado, uma influência dos negros. A pessoa malha, corre, mas não adianta. Agora até que entrei nos eixos. O formato do meu rosto é igual ao do meu pai, mas os traços são iguais aos da minha mãe, com o nariz mais fino. É uma mistura mesmo. Fico imaginando como serão os meus filhos...


Como você entrou nos eixos?
I.S. – Corro seis quilômetros todos os dias. Também vou à academia. E acertei a alimentação também. Antes eu fechava a boca por dois dias e depois comia um monte de porcaria. Hoje gosto de comida orgânica e aprendi a cozinhar.


Onde você corre?
I.S. – Na academia ou na praia. Vou do Arpoador até o final do Leblon e volto.


Você trabalhou nas três maiores emissoras do país. Como você as compara?
I.S. – Todas me agregaram experiências muito boas. No SBT fiz uma novela de época, coisa que eu nunca tinha feito. Me senti muito privilegiada. A Globo foi onde eu trabalhei mais, lá é maravilhoso. Agora na Record estou no meu primeiro trabalho. Estou adorando, eles estão com uma ótima estrutura, estão investindo muito para atingir um patamar muito bacana de dramaturgia. Tudo é muito bem tratado, a direção, a iluminação, tudo. 



Você acha que o bom-humor é o motivo principal do sucesso da novela?
I.S. – Eu acho, a novela tem um lado cômico que eu gosto muito. A Dinorá, minha personagem, tem um sarcasmo bem engraçado.


Ela é uma secretária bajuladora ou alpinista?
I.S. – Acho que as duas coisas e eu ainda colocaria mais uma, ela é uma aprendiz de vilã. O primeiro momento em que ela tiver oportunidade de fazer algo para se dar bem, ela vai fazer, seja coisa boa ou má. Ela também maltrata muito a Bela.


Você maltratava as meninas feias na escola?
I.S. – Não, isso nunca. Aliás, pelo contrário. Às vezes eu chegava com o cabelo bagunçado, sem as tranças, com o braço roxo. Havia umas meninas na escola que queriam me bater, fazer algum mal, só porque eu era bonita. Eu me sentia acuada.


Hoje morando no Rio, do que você mais sente falta em São Paulo?
I.S. – Quando eu vim morar no Rio, há cinco anos, eu sentia muita falta de São Paulo. Eu brinco que eu sou bapaioca, mistura de baiana, paulista e carioca. Em São Paulo sinto falta de andar na Oscar Freire, de usar roupas de frio, de ir a restaurante a qualquer hora do dia ou da noite. Mas fui me acostumando com o Rio, até porque tem o mar, como na Bahia, e hoje amo morar aqui.


E de Salvador, o que você mais sente falta. Não vale dizer que é da família porque seria muito óbvio.
I.S. – Da energia que tem lá. É diferente de qualquer outro lugar. Já viajei muito, mas quando chego a Salvador, eu não sei explicar, não sei se é espiritual ou o quê, mas existe uma coisa que me conecta, que me dá força. Eu me sinto revitalizada, como se eu fosse uma bateria que colocassem na tomada. É uma vibração muito diferente.


Quais restaurantes você mais gosta nessas três cidades?
I.S. – Em Salvador, o Soho, na Marina, onde a gente come na varanda, olhando o mar. No Rio, tem vários, gosto muito do Market, em Ipanema, que tem comidas orgânicas deliciosas. E, em são Paulo, eu adoro o Spot.


Quando você veio a São Paulo, você fez curso de teatro no Wolf Maya, né? O que você aprendeu lá?
I.S. – O foco maior lá era televisão, não teatro. Foi muito importante, não tanto na parte prática, mas na teórica. Conheci muitos dramaturgos, li muitas peças. Também estudamos questões corporais. Na parte prática foi legal porque me preparou para a TV. Eles têm um cenário lá que reproduz uma rotina de emissora.



O cinema está entre os seus planos?
I.S. – Quero muito fazer cinema. A preparação para um filme é bem diferente da TV, mais demorada, é um pouco parecida com a do teatro. Na TV tudo é mais imediato. No ano passado fui para Los Angeles fazer um curso de interpretação com o Aaron Speiser, que foi coach do Will Smith e da Jennifer Aniston. Era para ficar um mês, mas fiquei seis. Foi incrível. O curso me amadureceu muito como atriz.


E não pintou uma chance de fazer filme por lá?
I.S. – Fiz ótimos contatos com pessoas do cinema de lá. Mas tive de voltar por causa do meu visto, que não era de estudante. E também houve o convite do (Edson) Spinello (diretor de Bela, a Feia) para trabalhar na Record. Mas minha vontade é voltar para os EUA assim que puder.


Você casou com 19 anos, certo? Não era muito adolescente?
I.S. – Fui morar junto quando tinha 20 anos. Eu estava em São Paulo sozinha, trabalhava como modelo, e ele também morava sozinho e trabalhava como modelo. Ir morar junto foi natural. Foi bacana, vivemos muitas coisas juntos.


Depois que você se separou, que lição tirou da vida a dois?
I.S. – Para um relacionamento dar certo é preciso aprender a fazer concessões e a querer estar junto. 


Você já se definiu como romântica. O que você faz quando quer muito agradar um namorado ou pretendente?
I.S. – Gosto de fazer surpresas e de ser surpreendida.


Qual a maior surpresa que você já fez?
I.S. – Estar muito longe, em outro estado trabalhando, e voltar só para almoçar com a pessoa.


Há uns três anos só se falava no seu affair com Caetano Veloso. É difícil para duas pessoas famosas se conhecerem e iniciarem um relacionamento em paz?
I.S. – Todo mundo, de qualquer área, tem uma vida particular. Para nós é diferente porque estamos muito expostos. Estamos dentro da casa dos outros, nas novelas, nas revistas, então é comum querer saber da nossa vida. Minha única saída é ser uma pessoa muito reservada, tento ao máximo preservar minha vida pessoal.



É por isso que até hoje você não fala sobre o Caetano?
I.S. – Nunca falei sobre isso. Não faz diferença, eu acho. O que eu digo é que somos muito amigos, temos muito carinho um pelo outro.


Que trecho você mais gosta de Musa Híbrida, a música que ele fez para você?
I.S. – Gosto da música como um todo. Acho linda a música. O Caetano é genial.


Você tem planos de ser mãe?
I.S. – Tenho. Sou muito família, acho muito legal ter uma família. As pessoas na minha área acabam dando um peso maior para a profissão. Mas não há coisa melhor que ter uma família, ter um marido, ter filhos, acho que isso só ajuda, só agrega coisas, não atrapalha. Lá em Los Angeles eu via muitos atores novos, talentosos, bem-sucedidos, todos com família. Eu quero isso para mim. Não é para já, mas não vou perder de vista nem deixar passar quando for a hora.


Você está namorando? 
I.S. – Estou.


Pode falar quem? 
I.S. – Um empresário mineiro, Régis Campos. Estou muito feliz.


Então você corre o risco de virar bapaiocaeira?
I.S. – Ai, ai, é verdade. 

Fonte – Revista Vip (http://vip.abril.com.br)

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

.: Resenha de "Asfalto Selvagem - Engraçadinha", Nelson Rodrigues

Engraçadinha é eterna
Por: Helder Miranda

Em outubro de 2009


Releitura: O que esperar de um livro que se relê 13 anos depois? Engraçadinha, de Nelson Rodrigues, pode superar as suas expectativas!


Intrigante reler um livro depois de muito tempo. Assustador, ao mesmo tempo. Não sei se porque 13 anos depois, quase a idade com que li o livro a primeira vez, aos 14, sou outro, ou porque "Asfalto Selvagem – Engraçadinha, Seus Amores e Seus Pecados", que reúne em um só exemplar as duas partes do folhetim, relançado em uma impecável edição da Agir, continua exercendo o mesmo fascínio.

Explico: quando li a obra pela primeira vez, entre a minha casa e as carteiras do primeiro colegial, conheci, sobre um primeiro olhar, quem era Engraçadinha. Enigmática, talvez seja a personagem que sintetize toda a essência da obra do controverso autor, que vem sendo republicado pela Agir com edições que remetem a um merecido reconhecimento.

A história, originalmente publicada como folhetim de 112 capítulos no jornal Última Hora, entre agosto de 1959 e fevereiro de 1960, gira em torno da trajetória de Engraçadinha, uma mulher traumatizada por uma tragédia em sua adolescência, quando pertencia à alta sociedade, e supostamente regenerada, já em um subúrbio carioca. Enquanto tenta, de maneira autoritária e, ás vezes, desesperada, fazer com que a filha caçula, a sensual Silene, não repita os mesmos erros de sua juventude, que a marcaram e destruiram sua vida, Engraçadinha reencontra personalidades que fizeram parte de seu passado nebuloso, que tenta esquecer a todo custo.

Só pelos termos propostos no livro – incesto, lesbianismo e estupro – em uma época em que o moralismo imperava, Nelson já pode ser considerado um visionário e, principalmente, um corajoso. Asfalto Selvagem é um livro que, embora tenha sobrevivido ao tempo, é daqueles que tem a marca de uma época, muito doce, que já não volta mais.

Se os títulos da coleção são capazes de atrair o interesse das novas gerações, justamente pelo cuidado com que são produzidas e diagramadas, fato raro quando se trata de Nelson Rodrigues, na época em que li pela primeira vez não havia exemplares novos disponíveis nas livrarias, o que me fez recorrer a sebos. Leia Asfalto Selvagem – Engraçadinha, Seus Amores e Seus Pecados, de Nelson Rodrigues e viva intensamente cada palavra desta obra rodrigueana!

Livro: Asfalto Selvagem – Engraçadinha, Seus Amores e Seus Pecados
Autor: Nelson Rodrigues
655 páginas
Ano: 2008
Editora: Agir

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

.: Resenha crítica do longa "O Sequestro do Metrô 1 2 3"

Edição favorece a adrenalina em longa com Travolta e Washington
Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em setembro de 2009


Sequestro inusitado dá a Travolta a chance de ser um grande vilão. Saiba mais de "O Sequestro do Metrô 1 2 3"!


Um ser humano sem dó e piedade de tudo o que está além dele. Estes são alguns traços de Ryder (John Travolta), líder de um grupo de sequestradores que ataca o metrô Pelham. Do outro lado da balança está o controlador de tráfego do metrô da cidade de Nova York, Walter Garber (Denzel Washington). Inicialmente Ryder é o bandido, enquanto que Garber é o mocinho, mas, no decorrer da história, descobre-se que nem todo mundo é tão perfeito quanto parece ser.

Ryder dá início ao sequestro às 01h23, quando o metrô parte da estação de Pelham, no Brooklyn, em direção a Manhatan. Esperto e rápido, seu plano, embora seja complexo e muito bem executado, cria tensão em todos os moradores de Nova York que acompanham tudo "ao vivo" pela televisão, graças ao notebook de um garoto que teclava com a namorada enquanto tentava fazer o seu caminho. É por meio da tecnologia que o bando acaba sendo reconhecido por ex-colegas de trabalho. Entretanto, todo cuidado é pouco, pois Ryder sabe muito bem o que quer e adora fazer joguinhos psicológicos com as pessoas.

Após render o maquinista e parar em um ponto estratégico, Ryder faz contato com a central do metrô nova-iorquino e pede a bagatela de 10 milhões de dólares. Com o prazo de uma hora para a entrega da quantia, cada minuto de atraso equivale a um refém morto. É então que Ryder, junto de sua equipe, não pensa duas vezes em acabar com a vida do azarado que estiver por perto.

Enquanto, a tensão cresce entre Garber e Ryder, o público fica no meio deste "fogo cruzado" com a adrenalina a mil. A diminuição de tempo para cumprir o trato é lembrada na telona, o que contribui para que a ansiedade cresça e envolva o espectador. Contudo, o melhor do longa está reservado para a atuação marcante de Travolta na pele de um criminoso irracionável. 

O desfecho da história pode não ser convincente. Afinal, como Garber foi sair justamente diante de nosso vilão e, assim, dar início ao embate esperado entre "mocinho" e bandido? No entanto, temos novamente a história do bom americano que defende a sua nação com unhas e dentes e, até, colocando a próxima vida em risco, sem nem se quer pensar na família que o espera em casa.

Filme: O Sequestro do Metrô 1 2 3 (Taking of Pelham 1 2 3, EUA)
Ano: 2009
Gênero: Aventura / Ação
Duração: 121 minutos
Direção: Tony Scott 
Roteiro: Brian Helgeland
Elenco: Denzel Washington, John Travolta, John Turturro, Luis Guzman, Michael Rispoli, James Gandolfini, Ramon Rodriguez

.: Resenha crítica de "Up - Altas Aventuras", animação Disney Pixar

A redenção de um tremendo rabugento
Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em setembro de 2009


Um velhinho que sempre está de mal com o mundo e um garoto curioso rumo ao desconhecido. Saiba mais de Up - Altas Aventuras!


Um senhor rabugento que gosta de se isolar em casa e um garotinho que está em busca da sua derradeira medalha de escoteiro. Ao brincar com os contrastes e semelhanças entre Carl Fredricksen (Edward Asner) e Russell (Jordan Nagai), a Disney-Pixar dá o seu recado e convence mais uma vez. "Up - Altas Aventuras" é simplesmente perfeito e com grande folga garante o seu espaço entre os melhores filmes exibidos na telona em 2009.

Como encantar-se com um senhor sem paciência e, por muitas vezes, grosseiro? Eis que a animação cheia de detalhes e um colorido de dar inveja nos outros estúdios, consegue tal proeza. Embora Carl seja a antipatia ambulante do desenho, fica fácil aceitá-lo e, até, estabelecer alguma identificação com ele. Resultado: Protagonista e público criam um elo emocional.

 Consequentemente fica fácil embarcar, literalmente, na história do vendedor de balões de 78 anos. Afinal, Carl está prestes a perder a casa em que sempre viveu com sua esposa, a falecida Ellie. Tudo porque a casa dele está no lugar errado, ou melhor, está "atrapalhando" um empresário na construção de um moderno edifício. Fato muito corriqueiro nos dias atuais, isto é, mais um ponto positivo para o protagonista de "Up - Altas Aventuras". De fato, envolver-se com a história de Carl é somente uma questão de alguns minutinhos de película.

Para piorar toda a situação, ao defender a sua moradia, o senhor Carl perde o controle de sua bengala, arruma uma grande confusão (que inclui um homem ferido) e, ao ser considerado ameaça pública, acaba não tendo escolha: terá que deixar sua casa e viver no asilo. Na tentativa desesperada de salvar sua casa e todas as lembranças de sua finada esposa, Carl enche milhares de balões em sua casa, fazendo com que ela levante vôo. 


Ao obter total sucesso na execução de seu plano, ele segue rumo a uma floresta na América do Sul, local em que Carl e Ellie sempre desejaram morar. Contudo, já no início do trajeto o senhor descobre não estar sozinho, mas ter a companhia do escoteiro de 8 anos, Russel. Ao tentar resolver este "probleminha" de percurso, o vendedor de balões chega até a imaginar o que fazer para se livrar do garotinho (cena hilária).

"Up - Altas Aventuras" não só proporciona minutos agradáveis em família. O longa de animação aborda com maestria alguns dilemas da vida, como por exemplo, a dor da perda, a inevitável passagem do tempo e a busca pela renovação. Sem deixar de comentar a redenção do protagonista, esta que acontece de modo envolvente e eletrizante, tornando Up - Alta Aventuras simplesmente imperdível!

Filme: Up - Altas Aventuras (Up, EUA)
Ano: 2009
Gênero: Aventura / Animação
Duração: 96 minutos
Direção: Pete Docter, Bob Peterson
Roteiro: Pete Docter, Bob Peterson, Thomas McCarthy
Elenco: Edward Asner, Christopher Plummer, Jordan Nagai, Bob Peterson, Delroy Lindo, John Ratzenberger


.: Resenha crítica de "A Verdade Nua e Crua", com Gerard Butler

A guerra dos sexos modernizada
Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em setembro de 2009


Uma mulher controladora e um homem despojado mostram detalhes sobre A Verdade Nua e Crua. Saiba mais desta comédia romântica!


Abby Ritcher (Katherine Heigl), produtora de televisão, é uma mocinha que vive integralmente para o trabalho e pensa que os relacionamentos devem acontecer de modo metódico e milimetricamente do seu jeito. Mike Chadway (Gerard Butler) é um machão que, com muita criatividade e ousadia, deu vida a um programa na TV a cabo para falar a verdade e seu lado negro nos relacionamentos entre homem e mulher. Essencialmente, este é "A Verdade Nua e Crua" (The Ugly Truth). Contudo, o tempero a mais do longa metragem dirigido por Robert Luketic está na atuação de Butler.

Tudo acontece entre uma produtora de programa de TV e um conselheiro amoroso às avessas. Embora não se conheçam pessoalmente, Abby e Mike trocam farpas por telefone, após, o gatinho da moça, acidentalmente, pisar no controle remoto da televisão e "colocar" no programa A Verdade Nua e Crua (The Ugly Truth). Para piorar a situação, o programa em que Abby é produtora está perdendo audiência e a moça corre o risco de ficar desempregada. Em uma solução relâmpago Mike ganha espaço no programa em que Abby comanda por trás das câmeras. Entretanto, os atritos entre os dois somente cresce, afinal ela espera demais dos homens, enquanto que ele sabe o que os homens querem. 

O ex-Fantasma da Ópera domina todas as cenas e torna as peripécias de Mike cada vez mais convincentes. Embora esteja um pouco fora de forma física (há um certo volume em seu abdômen), o galã usa e abusa de todo o seu poder de sedução e, sempre, deixa um gostinho de quero mais! É impossível não notar que Butler está totalmente seguro na pele deste mulherengo de plantão!

Enquanto isso, a verdade é que Katherine Heigl teve a oportunidade de mostrar seus talento na pele de Abby, mas não conseguiu atingir todas as expectativas, talvez por Butler roubar as cenas em grande estilo. No entanto, talento não se perde, mesmo diante de um showman, mas Heigl terá muitas chances de mostrar a que veio. O negócio é esperar que isso aconteça!

Esta comédia romântica, embora dê um toque de frescor no gênero, acaba se tornando um tanto que pesadinha, devido ao tom sensual em seus diálogos e algumas piadas picantes, algo que se torna mais ameno na versão dublada. Pelo sim e pelo não, todos sabemos que tais piadas são verdadeiras. 


"A Verdade Nua e Crua" é imperdível para aqueles que gostam de uma história de amor cheia de provocações. É claro que o longa de Robert Luketic tem grandes chances de não ser o filme da sua vida, mas conseguirá deixar o seu dia muito mais alegre, seja pelas piadas "saidinhas" ou pela presença marcante de Gerard Butler. Confira!

Filme: A Verdade Nua e Crua (The Ugly Truth, EUA) 
Ano: 2009
Gênero: Romance / Comédia
Duração: 96 minutos
Direção: Robert Luketic
Roteiro: Nicole Eastman, Karen McCullah Lutz, Kirsten Smith
Elenco: Katherine Heigl, Gerard Butler, Bree Turner, Eric Winter, Nick Searcy, Cheryl Hines

terça-feira, 1 de setembro de 2009

.: Entrevista com Paula Fernandes, cantora de sucessos da teledramaturgia

“Quero agora colher o que eu plantei até agora. Os primeiros frutos estão sendo deliciosos e nutritivos.” - Paula Fernandes


Por: Patrick Selvatti
Em setembro de 2009


Intérprete de canções que embalaram e embalam casais da teledramaturgia brasileira, cantora jovem, representa a ala feminina no sertanejo. Saiba tudo de Paula Fernandes!


Com apenas 25 anos e já no seu quinto disco, Paula Fernandes, mineira de Sete Lagoas, é dona de voz impressionante e uma das poucas compositoras brasileiras dedicadas ao gênero sertanejo – ou pop rural, como prefere frisar - com jeitão de MPB, com doses de rock/folk e atmosfera new age. Seu atual CD, Pássaro de Fogo, possui 14 canções com assinatura própria, sozinha ou com parceiros como Victor Chaves (da dupla Victor e Léo) e Marcus Vianna. 

É de Paula Fernandes a voz que embala, ao lado de Almir Sater, a canção Jeito do Mato, tema dos protagonistas da novela global Paraíso. Assim como também na canção Ave Maria natureza - tema da novela América e que, durante muitos anos, cantou pelos rodeios do Brasil afora – e em Dust in the wind, que entrou na trilha da novela Páginas da vida. 

Pássaro de Fogo é o quinto trabalho e o quarto CD de Paula Fernandes, que começou a cantar com 8 anos e, aos 10, já atuava profissionalmente, lançando, à época, disco de vinil. Aos 12, se mudou com a família para São Paulo, atrás do sonho de se tornar cantora sertaneja. Viajou pelo Brasil com grupo de rodeios durante cinco anos, cantando inclusive a Ave Maria que abre as competições. Inspirada no sucesso da novela Ana Raio e Zé Trovão, lançou o CD Voarei. Muitos obstáculos no caminho fizeram com que, aos 18 anos, desistisse da carreira artística e voltasse para Minas Gerais. Faz curso de geografia e, paralelamente, tocava e cantava em barzinhos. 

Sou totalmente pé vermelho”, brinca a artista, valendo-se de expressão usada para definir quem gosta da roça e, especialmente, de terra que tem minério no solo. “O que faço é versão feminina da canção sertaneja, que ganha um toque especial pelo modo diferente de a mulher se colocar no mundo. Sei que as mulheres vão se identificar com o mundo brejeiro, romântico, falando do que esperamos dos homens”.




RESENHANDO - Como você define, de fato, o seu trabalho?
PAULA FERNANDES - A minha raiz é totalmente sertaneja. Eu fui criada no interior, ouvi moda de viola, mas, na medida em que fui crescendo, essa questão da personalidade musical foi fluindo o lado de compositora. Eu me considero pop rural, uso elementos do campo, falo sobre o amor puro, como eu acho que deveria ser, não banalizado como está. O que faço é versão feminina da canção sertaneja, que ganha um toque especial pelo modo diferente de a mulher se colocar no mundo. Sei que as mulheres vão se identificar com o mundo brejeiro, romântico, falando do que esperamos dos homens. É uma mistura, mas eu não posso perder a essência, que é sertaneja. Mas acho importante essa renovação, para sair do repetitivo.


RESENHANDO - A música brasileira está passando por nova releitura?
PAULA FERNANDES -As pessoas estão se ligando na boa música brasileira novamente. Esse mercado onde estou entrando é tipicamente masculino, mas é um momento bacana para as mulheres, tanto cantando como compondo, porque se trata de uma linguagem diferente. Acredito que haverá, sim, uma grande renovação.


RESENHANDO - Como a música entrou na sua vida?
PAULA FERNANDES - Foi tudo muito naturalmente. A música faz parte da minha vida desde que me entendo por gente. Eu não escolhi: fui escolhida pela música. É profissão como qualquer outra, a diferença vem de ser atividade envolvida em magia.


RESENHANDO - A letra da canção Jeito do mato foi escrita especialmente para você como uma declaração. Como você recebeu isso e decidiu transformá-la em música?
PAULA FERNANDES - Em resumo, eu estava fazendo uma matéria para um jornal e esse amigo, o jornalista Maurício Santini, sabendo da minha história real, e não aquela que é contada pelos outros, ficou muito inspirado, muito emocionado e escreveu a poesia, da forma dele, para aqueles olhos tristes, para a menina da voz doce... A poesia chegou para mim ainda sem nome e eu coloquei melodia nela e batizei de “Jeito de mato”. Depois disso, a coisa fluiu, o Almir [Sater] gravou comigo, antes mesmo do contrato com a Universal Music e, depois, foi uma grande surpresa, porque a música de trabalho nem ia ser ela, mas ela acabou entrando na novela, casou perfeitamente com a personagem Santinha e a coisa está aí, do jeito que está...



RESENHANDO - Essa não é a primeira música sua que entra na trilha de uma novela, mas, certamente, é a que faz mais sucesso. Como isso afeta sua carreira?
P.F. - Eu acho que este é um momento ímpar, porque é a primeira vez que eu estou numa multinacional, fui independente até o ano passado. Então, já gravar um disco, que é uma grande responsabilidade para a gravadora, ter uma canção que é tema do casal protagonista de uma novela da Rede Globo, tudo isso foi um presentão da vida. Eu só tenho a agradecer...


RESENHANDO - Quem são os seus maiores ídolos na música? 
P.F. - Eu ouço de tudo, desde Tião Carreiro & Pardinho até Simon & Garfunkel, Bee Gees, adoro Almir Sater, Victor & Léo, Shania Twain, Roberta Miranda, Ana Carolina. Acho que a música deve ser explorada em seus mais diversos estilos. Sendo boa, eu ouço de tudo. Eu gosto muito da música folk, mas aqui no Brasil não se usa muito esse termo. E, fazendo trilhas, acho impressionante a sensibilidade de Marcus Vianna...


RESENHANDO - Apesar da pouca idade, você já tem alguns anos de estrada, mas ainda é uma cantora jovem. Qual é o seu maior sonho? 
P.F. - Eu acho que já me considero uma pessoa vitoriosa por tudo que já passei desde os oito anos de idade. Estou num momento em que tudo o que vier será muito bem-vindo. Quero agora colher o que eu plantei até agora e os primeiros frutos estão sendo deliciosos e nutritivos. O que vier a partir de agora, será lucro.
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