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sexta-feira, 19 de maio de 2023

.: "More Inspirations": Saxon revisita suas influências musicais em novo CD


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

De tempos em tempos, constatamos bandas buscando mostrar em disco suas influências, responsáveis pela formação musical de seus integrantes. E a história se repete com os britânicos da banda Saxon, que lançaram o CD "More Inspirations", que é continuação do projeto "Inspirations", de 2020. São releituras de bandas que marcaram as carreiras dos músicos lá no início, ainda nos anos 70 e na fase da adolescência.

O grupo é liderado pelo vocalista Biff Byford e mesmo tendo algumas alterações na formação, ainda se mantém na ativa como um dos precursores do estilo heavy metal. Não por acaso a banda se apresenta em vários festivais desse estilo ao redor do mundo, além de realizar shows em arenas com grande capacidade de público.

Nesse segundo volume de regravações, eles selecionaram canções de Alice Cooper ("From The Inside"), ZZ Top ("Chevrolet"), The Who ("Substitute"), Uriah Heep ("Gipsy"), Kiss ("Detroit Rock City") e Nazareth ("Razzamazz"), entre outras. Pela época das gravações originais, é bem provável que os integrantes tenham ouvido isso em seus antigos toca-discos de vinil ou nas jukeboxes que eram disponibilizadas em lanchonetes e bares naquele período.

Mesmo se mantendo fiéis aos arranjos originais, eles fizeram questão de mostrar que era o Saxon que estava tocando. É possível notar a assinatura da banda em vários momentos do disco, como nas faixas "Gipsy", do Uriah Heep, e "Man On The Silver Mountain" (da banda Rainbow). E ficou bem interessante ouvi-los tocando Nazareth, que é uma banda também precursora do hard rock britânico.

"More Inspirations" vai agradar os fãs do gênero hard rock clássico. Sobretudo porque é tocado com aquele toque de autenticidade, indispensável para quem gosta desse estilo musical.

"Razzamanazz"

"We´ve Gotta Get Out Of The Place"

"Detroit Rock City"

sexta-feira, 12 de maio de 2023

.: Susanna Hoffs redescobre pérolas musicais no CD "The Deep End"


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Quem ouve o novo disco solo da cantora Susanna Hoffs, ex-integrante do grupo Bangles, pode imaginar que está ouvindo composições novas. Mas na verdade, trata-se de um ótimo álbum de releituras, algumas bem desconhecidas do grande público. E o resultado ficou acima da média. Gravar releituras, aliás, não é bem uma novidade para Susanna. Ela já tinha feito três discos em parceria com Matthew Sweet, intitulados "Under The Covers", com repertório focado nos anos 60, 70 e 80.

Nesse projeto atual, intitulado "The Deep End", ela ousou um pouco mais. Talvez a canção mais conhecida do disco seja "Under My Thumb," clássico dos Rolling Stones dos anos 60. O restante do set list é composto por canções mais obscuras, do tipo daquelas que ficavam no lado B dos antigos compactos de vinil. 

Susanna teve o cuidado de escolher canções com as quais se identificou perfeitamente. E é preciso destacar a produção do lendário Peter Asher, aquele mesmo que produziu algumas pérolas musicais de James Taylor, Linda Ronstadt e de outros tantos artistas nos anos 70. É um deleite ouvir a bela voz de Susanna cantando a balada "Only You", da banda Yazoo, com um arranjo mais acústico comparado com a versão original. E a igualmente ótima "If You Got a Problem", de Joy Oladokun.

Há canções bem interessantes redescobertas por Susanna, como "Say You Don´t Mind", de Denny Laine (ex-integrante da banda Wings de Paul McCartney), e "You Don´t Own Me", um hit antigo de Lesley Gore dos anos 60.

Da safra mais recente, Susanna traz "Afterglow", de Ed Sheeran, e "When The Party´s Over", da Billie Ellish. Gostei muito também de "Time Moves On" (da banda Phantom Planet) e de "Deep End" (de Holly Humberstone, que acabou dando título ao álbum). Ao trazer canções com as quais se identifica plenamente, Susanna acabou gravando um dos seus melhores trabalhos como intérprete. E a sua voz continua tão bela como nos tempos das Bangles. Vale a pena conferir esse novo trabalho, que também está disponível nas plataformas de streaming.

"Under My Thumb"



"Time Moves On"



"Only You"

terça-feira, 9 de maio de 2023

.: "Valeu, Rita Lee!, pelo crítico musical Luiz Gomes Otero

Rita Lee. Foto: Guilherme Samora/ divulgação

Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.


É, eu sei. Nos anos 70 você já cantava explicando que isso, a partida, faz parte das coisas da vida. Mas para nós, que sempre a admiramos pela sua irreverência e genialidade dentro do rock nacional,sempre tínhamos a esperança de adiar um pouco mais essa saída de cena. Mas não deu. São coisas da vida mesmo.

E pensar que você começou nos anos 60 como uma Mutante dentro da nossa MPB. A aventura de uma banda com os irmãos Baptista durou pouco, é verdade. Mas fez bastante barulho durante os festivais, quando vocês se apresentavam com guitarras elétricas, desafiando o público conservador da MPB. Uma pena que essa aventura tenha terminado de forma brusca, com sua saída em maio de 1972, 

Mas, ao mesmo tempo, essa saída permitiu que você alçasse voos mais altos sozinha. Primeiro como uma cilibrina ao lado da colega Lucinha Turnbull. Depois com um certo sabor Tutti-Frutti, você passou a ser a Ovelha Negra do Rock Nacional. uma festa cheia de entradas e bandeiras que culminou com um passeio pela Babilônia e uma Refestança ao lado do amigo e compadre Gilberto Gil. 

Logo depois você e o companheiro Roberto de Carvalho passaram a produzir uma obra que a colocou em uma espécie de elo entre o pop, o rock e a MPB. A amiga Elis Regina gravou Alo Alo Marciano de forma brilhante.E você cantava um hit atrás do outro. Mania de Você, Lança Perfume, Saúde, Baila Comigo e tantos outros, como o tema do programa TV Mulher, que falava das duas faces de Eva, a bela e a fera. 

Vi você duas vezes ao vivo. Uma no antigo ginásio do Clube Vasco da Gama e a outra no antigo ginásio do Clube de Regatas Santista. Nas duas ocasiões você estava simplesmente sensacional, assim como as bandas de apoio, que tinham sempre o fiel companheiro Roberto de Carvalho na guitarra.

É verdade que a sua carreira nos anos 90 não teve o mesmo brilho da década anterior, mas você sempre esteve em evidência, seja pelos posicionamentos polêmicos ou pela sua irreverência. Seus hits vem sendo regravados por vários outros intérpretes desde então.

E foi justamente nesse período que você me concedeu muito gentilmente uma entrevista, quando eu trabalhava em um jornal da Baixada Santista, Fiz o contato por e-mail, pensando que havia um assessor de imprensa intermediando o nosso contato. Foi aí que você mandou a real : "- Deixa de ser bobo , que sou eu mesma!" Quando vi as respostas, tive a certeza de que era você, sem dúvida.

Você sempre será muito mais do que um ser mutante, daqueles que em cada canção consegue atingir o inconsciente popular de tal forma, que acaba contagiando a todos. Uma autêntica rainha do rock que levou alegria e irreverência a todos os cantos em que se apresentou. Tenho a mais absoluta  certeza que, onde quer que você esteja agora, continuará arrombando a festa tocando aquele tal de rock and roll.


Agora Só Falta Você


Ovelha Negra


Lança Perfume


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domingo, 7 de maio de 2023

.: "Dark Side Of The Moon": há 50 anos, o Pink Floyd explorava lado escuro da lua


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Impossível dimensionar a importância do álbum "Dark Side Of The Moon", lançado há 50 anos pela banda britânica Pink Floyd. Trata-se do oitavo disco do grupo, que solidificou Roger Waters como compositor e principal condutor da produção musical.  Com ele, a sonoridade da banda passaria por uma pequena mudança, com canções mais curtas e mensagens diretas, mas sem perder aquele famoso “toque espacial” de suas produções.

O álbum saiu no dia 1º de março de 1973 e acabou se tornando um enorme sucesso de venda em todo o mundo, surpreendendo não só os integrantes da banda como os próprios executivos da gravadora (EMI-Odeon) na época. Vendeu mais de quinze milhões de cópias nos Estados Unidos e aparece na lista dos álbuns mais vendidos da história no país, também na Inglaterra e na França, com um total de 50 milhões de cópias comercializadas mundialmente até hoje. Permaneceu na parada da revista Billboard durante 777 semanas - de 1973 a 1988 - sendo o álbum recordista de duração nessa parada americana.

O mais incrível foi o fato de a obra explorar temas pesados, como cobiça, envelhecimento e doença mental. Parte dessa inspiração veio da situação que o ex-integrante da banda, Syd Barrett, enfrentava na época. Ele acabou saindo da banda em 1968 por conta de problemas mentais agravados pelo consumo de drogas.

Além de Roger Waters (baixo e vocais), a banda tinha nessa formação David Gilmour (guitarra e vocais), Richard Wright (teclados e vocais) e Nick Mason (bateria). As sessões de gravação começaram em maio de 1972 e terminaram em janeiro de 1973, no Abbey Road Studios, em Londres, contando com o apoio de Alan Parsons na produção. Parsons já havia trabalhado com a banda no álbum "Atom Heart Mother" e com os Beatles, no álbum "Abbey Road".

O resultado final das gravações impressiona bastante, por causa do contexto em que foi gravado. Não havia os mesmos recursos eletrônicos atuais, como plug-ins e samples, para produzir a parafernália sonora que o disco possui. Há sons de relógios despertando na faixa "Time", enquanto que na faixa "Money" são simulados barulhos de uma caixa registradora e moedas sendo colocadas nela.

A faixa "The Great Gig In The Sky" tem um vocal impressionante da cantora Clare Torry, que buscou transmitir angústia e desespero em sua interpretação, como queriam os músicos. E há outros grandes momentos nas faixas "Breathe" e "Us And Them". A faixa que encerra ("Eclipse") é outro ótimo momento.

Há uma série de teorias a respeito do disco. Uma das mais famosas traz a sincronia que o álbum tem com o filme "O Mágico de Oz", estrelado por Judy Garland em 1939. Os músicos já disseram que tudo não passou de uma incrível coincidência, até porque não haveria como fazer isso naquela época, quando os recursos técnicos eram mais limitados.

E há outras mais absurdas, como a tese que acusa o grupo de apoiar a causa LGBT ao usar as sete cores do arco-íris em uma arte para divulgar os 50 anos do álbum. As mesmas cores, por sinal, que ilustram o desenho da icônica capa original, com o prisma sobre um fundo preto. Roger Waters regravou recentemente as canções do álbum, como forma de homenagear os 50 anos da obra. Mas é claro que o fã mais purista não trocaria a versão original por uma regravação, por melhor que ela fosse.

Não estamos errados ao classificar esse disco como uma obra de arte. Pois passados 50 anos de seu lançamento, o seu impacto, sua dimensão e canções atemporais permanecem inabaláveis. Esse trabalho colocou o Pink Floyd definitivamente na história do rock.

 "Time"

"Money"

"Us and Them"

sexta-feira, 28 de abril de 2023

.: Crítica musical: Claudya canta a Jovem Guarda cheia de Bossa Nova


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Claudya é aquele tipo raro de intérprete que pode se dar ao luxo de cantar o que quiser. Até mesmo os antigos hits da Jovem Guarda em ritmo de bossa nova ficariam bem em sua voz afinada e de rara beleza. E foi exatamente isso que ela fez com a maestria de sempre, contando com o apoio de músicos talentosos.

O disco "A Nossa Bossa Sempre Jovem" e o EP "Além da Jovem Guarda", ambos disponibilizados nas plataformas de streaming, recriam uma série de canções que marcaram os anos 60 em arranjos produzidos por Alexandre Viana, com quem Claudya já havia trabalhado anteriormente. "O Caderninho", "Ternura", "Meu Bem", "Devolva-me", "Nossa Canção", "Aquele Beijo que Te Dei" e "Ritmo da Chuva" são algumas das canções escolhidas para o repertório desse trabalho.

A balada "Eu Daria Minha Vida", de Martinha, e a canção "Alguém na Multidão", hit dos Golden Boys, ganharam um animado arranjo que mescla a bossa nova com a salsa. Já as baladas "Nossa Canção" e "Devolva-me" se integram com perfeição ao ambiente bossanovístico do arranjo de Alexandre Viana.

Trazer canções de essência pop para o ambiente sofisticado e jazzístico da bossa nova parece até uma tarefa simples. Mas não é. O intérprete corre sempre o risco de soar piegas ao cantar os inocentes versos contidos nessas canções. Mas no caso de Claudya, isso dificilmente acontece. Basta ouvi-la para perceber isso.

Sua voz forte e afinada e um incrível feeling para interpretar os mais variados estilos musicais colocam Claudya em um patamar diferenciado de intérprete. Tudo o que ela canta soa convincente para o ouvinte. Até mesmo a jovem guarda em ritmo de bossa nova.

"Aquele Beijo que Te Dei"

"Eu Daria a Minha Vida"

"Ritmo da Chuva"


sexta-feira, 14 de abril de 2023

.: MPB: Cynara Faria, do Quarteto em Cy, e o voo do sabiá


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Cynara Faria, uma das fundadoras do Quarteto em Cy, referência em grupos vocais na nossa MPB, nos deixou no início da semana, no Rio de Janeiro. Uma perda irreparável para a nossa música autenticamente popular, aquela que se preocupava com as mensagens das canções, com letras e poesias realmente inspiradas e não artificiais.

Cynara tinha 78 anos. E uma trajetória incrivelmente rica e inspiradora para quem é músico. Foi em 1964, por sugestão do poeta Vinícius de Morais, que fundou o Quarteto em Cy com as irmãs Cyva, Cybele e Cylene. Defendeu com a irmã Cybele a canção "Sabiá", de Chico Buarque e Tom Jobim, na segunda edição do Festival Internacional da Canção (FIC), em 1968. E enfrentou injustamente a ira do público, que vaiou a apresentação do início ao fim, por causa da preferência para a canção de Geraldo Vandré, "Caminhando".

Ao longo dos anos, o Quarteto em Cy, teve algumas alterações na formação. Mas Cynara se manteve ativa como uma espécie de fator motivacional do grupo. Ela respondia pelos arranjos vocais e servia sempre como porta-voz do grupo, que sempre prezou pela boa qualidade de seus trabalhos.

Fica difícil até apontar álbuns do Quarteto, pois todos tinham uma qualidade indiscutível. Poderia citar as duas antologias do samba-canção e o Querelas do Brasil como pontos altos de sua produção. Mas teve ainda os discos com canções de Chico Buarque, Vinícius de Morais e o dos clássicos da Bossa Nova. O que poderia sair desses discos? Somente canções com qualidade atemporal, é claro.

A jornalista Inahiá Castro escreveu o livro "As Meninas em CY", contando a história do grupo desde o início, quando elas saíram da Bahia para ir no Rio de Janeiro em busca da conquista de  seu espaço na música. Juntamente com o MPB-4, elevou o patamar de qualidade da música interpretada por grupos vocais e serviu de fonte de inspiração para muitos artistas que vieram nas décadas seguintes.

Ficamos próximos por meio da rede social, onde passei a acompanhar as atividades do grupo. E passei a admirar ainda mais a Cynara e sua vontade de sempre seguir em frente, sem se preocupar em olhar para trás. Não se tratava de esquecer o passado, mas sim de viver intensamente o presente e suas amplas possibilidades em direção ao futuro.

Seus filhos João e Chico Faria também seguem carreira na música, buscando conquistar seu espaço. João é um exímio baixista e compõe canções, enquanto Chico herdou dos pais  (Cynara foi casada com Ruy Faria, do MPB-4) o dom de interpretar composições. Ele já gravou um disco com canções do Chico Buarque, só para citar um exemplo.

Sua irmã Cybele faleceu em 2014. E agora foi a vez de Cynara, o sabiá, partir para encontrá-la, assim como outras figuras queridas como Tom Jobim e Vinícius de Morais. Certamente veremos brilhar mais uma estrela no céu.

Sapato Velho


Salve o Verde

Sabiá


sexta-feira, 7 de abril de 2023

.: MPB em festa: Secos e Molhados e os 50 anos do fenômeno musical


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Há 50 anos, o mundo da música vivenciava um dos fenômenos mais improváveis, proporcionado por um grupo que surgiu em São Paulo influenciado por várias vertentes do rock, da MPB e da literatura. O Secos e Molhados surpreendeu a todos com um emblemático álbum atemporal de estreia, que superou até o Rei Roberto Carlos nas vendas de discos naquela ocasião.

O ano de 1973 traz para nós a lembrança de um período do Brasil com um governo comandado por militares, que mantinha a sua mão de ferro na censura, procurando controlar tudo o que era divulgado em termos musicais. Mas nem mesmo isso foi capaz de impedir o fenômeno Secos e Molhados, que quebrou uma série de tabus e meio que desafiou a censura com um visual andrógino e uma música alicerçada na poesia que se produzia no Brasil e até no exterior.

O grupo foi liderado pelo músico João Ricardo, que começou a concretizar seu sonho influenciado principalmente pelo quarteto Crosby, Stills, Nash e Young e por vertentes de nossa MPB, em especial a Tropicália, além de alguns elementos de rock progressivo. Ele se uniu a Gerson Conrad, um amigo da adolescência e acabou conhecendo Ney Matogrosso, cujo potencial de voz impressionou logo no primeiro encontro.

Eles passaram o ano de 1972 ensaiando e se apresentando em São Paulo com relativo sucesso. E chamaram a atenção do empresário Moracy do Val, que trabalhou para levá-los até a gravadora Continental em 1973, para gravar o disco de estreia da banda. Por incrível que pareça, as demais gravadoras da época não se interessaram em lançar o material.

Quando entraram em estúdio, eles já tinham uma série de canções prontas. Se uniram com uma banda com Willy Verdaguer, Marcelo Frias e Johnny Flavin, entre outros. E os arranjos foram tomando forma em estúdio graças a atuação desses músicos. "Sangue Latino", "O Vira", "Rosa de Hiroshima", "Fala" (que tem arranjo de cordas feito por Zé Rodrix), "Amor" e "Primavera nos Dentes" são canções que até hoje são cultuadas por críticos e pelo público em geral, das mais variadas idades. As crianças e os mais idosos se identificaram com o som e as performances da banda.

"Rosa de Hiroshima", cuja letra é uma poesia de Vinicius de Moraes, logo virou um hit instantâneo, emocionando até mesmo o eterno poetinha da MPB. "O Vira" e a emblemática "Sangue Latino", esta última de João Ricardo com letra de Paulinho Mendonça, foram outros hits.

A capa do primeiro álbum foi outro fator que provocou impacto junto ao público. Foi ideia do fotógrafo Antônio Carlos Rodrigues fazer a foto dos integrantes com as cabeças na mesa, como se estivesse servindo a banda para o ouvinte. Na mesa foram colocados produtos que são encontrados nos antigos armazéns de secos e molhados.

O lançamento do grupo provocou um inexplicável fenômeno de massa. Talvez um dos últimos originados de forma espontânea na música. Além de vender mais discos naquele período do que o Rei Roberto Carlos, a banda ainda fez shows lotados no ginásio do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro. E causava um frenesi onde quer que fosse se apresentar.

Eles usavam uma maquiagem inspirada no teatro kabuki do Japão. E vestiam roupas bem chamativas. Ney Matogrosso já dava os primeiros passos com danças e rebolados provocativos, muito embora sua voz fosse o elemento mágico que prendia realmente a atenção do público. Era impossível ficar indiferente ao ouvir as canções interpretadas por ele.

Essa formação ainda gravaria mais um ótimo disco em 1974, mas logo se separaria por questões internas e problemas de relacionamento entre os integrantes. Dos três, Ney Matogrosso foi quem desenvolveu uma carreira solo mais bem sucedida. João Ricardo ainda tentou reativar o grupo com outras formações. Mas nunca conseguiu repetir o incrível sucesso do início. Não por acaso, o disco de estreia é frequentemente citado por críticos como um dos melhores álbuns lançados no Brasil. E esse caráter atemporal do disco confirma que o trio estava certo na direção que decidiu tomar no estúdio, ao gravar as canções.

"Sangue Latino"

"O Vira"

"Rosa de Hiroshima"

.: Clara Nunes eterna: há 40 anos, Brasil presenciava a partida da guerreira


Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Há 40 anos, o Brasil perdia uma de suas maiores intérpretes. Clara Nunes não só deixou uma obra musical impecável, como também foi importante na divulgação de nossos ritmos tradicionais, que se fundiam com as influências das religiões de matiz africana e com a cultura afro-brasileira.

Clara Nunes nasceu em 12 de agosto de 1942 em Minas Gerais, na antiga cidade de Cedro (atual Caetanópolis). Ficou órfã de pai e mãe com apenas seis anos de idade e foi criada pelos irmãos mais velhos. Anos mais tarde, passou a trabalhar como tecelã para ajudar nas despesas de casa.

Após se mudar para a capital, Belo Horizonte, passou a cursar o normal para se formar professora. E começou a cantar no coro da igreja do bairro. Foi nessa época que conheceu Aurino Araújo, que a apresentou para diversos artistas da cidade. Nesse período participou de vários eventos musicais e adotou o nome artístico de Clara Nunes, por sugestão do produtor musical Cid Carvalho. A partir de 1965, sua carreira teve um impulso ao se mudar para o Rio de Janeiro e gravar seu primeiro LP. Participou de festivais e se destacou classificando canções em alguns deles.

Sua carreira deslanchou depois do quarto disco, no início dos anos 70. Ela emplacou vários hits que tocaram bastante nas rádios na época. "Conto de Areia", "O Mar Serenou", "Tristeza Pé no Chão", "Quando Vim de Minas", "Meu Sapato Furou", "Canto das Três Raças", "Coração Leviano", "Guerreira" e "Feira de Mangaio" são apenas alguns exemplos de canções marcantes de sua trajetória.

Engana-se quem imagina Clara Nunes apenas como uma intérprete de sambas. Ela era extremamente versátil. Sua voz era afinada e potente, mas também transmitia um ar de suavidade. Ela era capaz de interpretar outros estilos com extrema maestria.

Também ajudou a popularizar temas relacionados com o candomblé e umbanda, incluindo várias canções como esse tipo de temática. Canções como "Deusa dos Orixás", "Coroa de Areia" e "Guerreira" têm uma relação direta com as religiões de matiz africana.

Quando cantava um samba, transformava a canção de tal forma, que parecia sempre uma exaltação ao tema citado pelos compositores. Em "Nação", canção de João Bosco e Aldir Blanc, ela parecia transformar o samba em uma obra que lembrava os grandes momentos de Ary Barroso nos anos 40 e 50. "Canção das Três Raças", de Paulo Cesar Pinheiro, parece até um inspirado samba enredo de escola de samba em sua voz.

No início dos anos 80 ela lançaria ainda outras canções com sucesso nas rádios, como "Portela na Avenida", "Morena de Angola" e "Ijexá". E só interrompeu a carreira de forma precoce ao falecer no dia 2 de abril de 1983, depois de sofrer um choque anafilático antes de uma simples cirurgia de varizes. Uma fatalidade que acabou calando uma das vozes mais bonitas da nossa MPB.

Felizmente sua obra permanece viva, permitindo que novas gerações pudessem ter acesso a sua genialidade como intérprete. Sua influência é notada em nomes da nova geração como Luciana Mello e Vanessa da Mata. Para mim, a voz de Clara Nunes traduz as forças da natureza de tal forma, que é impossível ficar alheio a sua interpretação. Conto de Areia, por exemplo, até hoje mexe com a memória afetiva de minha adolescência. E somente os grandes intérpretes conseguem isso.

"Tristeza Pé no Chão"

"Canto das Três Raças"

"Ijexá"

sexta-feira, 31 de março de 2023

.: Zé Renato revisita clássicos em novo CD, por Luiz Gomes Otero

Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.


O cantor e compositor Zé Renato está lançando “Quando a noite vem”, álbum que ganha as plataformas de streaming e chega também em formato CD, via selo Biscoito Fino. O trabalho confirma a sua versatilidade como intérprete ao revisitar clássicos do nosso cancioneiro e da música internacional.

O repertório do CD está relacionado com a memória afetiva do cantor, mais precisamente com a fase da infância e adolescência. A atriz e diretora Patrícia Pillar assina a direção artística e divide a escolha do repertório, feita a quatro mãos com Zé Renato, que integrou o grupo vocal Boca Livre, além de desenvolver sua carreira solo.

O álbum começa com “I Can't Stop Loving You”, sucesso na voz de Ray Charles lançado no Brasil no começo dos anos 1960. Já “Arrivederci Roma”, tema do filme de mesmo nome, de 1958, ganhou arranjo “totalmente inspirado em João Gilberto”, segundo Zé Renato.

“Bom dia, tristeza”, de Adoniran Barbosa, surge com novo arranjo do próprio músico. “Suave é a Noite” (versão para o português para “Tender is the night”) inspirou o título do disco, extraído do verso “tudo tem suave encanto, quando a noite vem”. Para o dueto no xote “O Seu Olhar Não Mente”, Zé Renato convidou a cantora Céu. E esse encontro é um dos pontos altos do disco.

O clima do disco é de absoluta leveza, com arranjos que criam uma ambientação agradável para o ouvinte. Zé Renato demonstra estar à vontade interpretando canções que marcaram a sua formação como músico.

O disco conta com Cristóvão Bastos (pianos e arranjo), Dori Caymmi (violão e arranjo), Jaques Morelenbaum (violoncelo e arranjo), Jorge Helder (baixo), Marcelo Costa (bateria), Carlos Malta (flauta), Pedro Sá (guitarra), Ricardo Pontes (sax alto), Dirceu Leite (flauta), Rui Alvim (clarinete), Aquiles Moraes (trompete e flughelhorn) e Vanessa Rodrigues (orgão Hammond). Completam o time Bernardo Couto (guitarra portuguesa) e a St. Petersburg Studio Orchestra, com direção de Kleber Augusto.

“Quando a Noite Vem” é um disco que merece ser conferido pelo ouvinte amante da boa música. Aquele do tipo que preza arranjos bem produzidos e interpretações de extremo bom gosto como as de Zé Renato.


I Can´t Stop Loving You


O Seu Olhar Não Mente


Suave é a Noite

sexta-feira, 24 de março de 2023

.: "Cássia Eller & Victor Biglione In Blues", um disco acima da média

Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.


Gravado em 1991, esse projeto musical reunindo Cássia Eller e o guitarrista Victor Biglione chegou finalmente nas plataformas de streaming e em disco. Trata-se de um trabalho com releituras de clássicos do blues. E ao conferir o seu resultado acima da média, fica difícil compreender porque demoraram tanto tempo para lançá-lo.

Na época, Cássia havia lançado apenas um disco enquanto que Biglione já era um músico experiente, com passagens marcantes no grupo "A Cor do Som" e em projetos instrumentais solos mais próximos do jazz rock.

A sintonia entre Biglione e Cássia fica nítida logo de cara para o ouvinte. Ela foi uma grande vocalista que tinha o blues e rock como referências importantes em sua formação. E ele é um dos grandes nomes da guitarra de sua geração, sem sombra de dúvida.

A banda de acompanhamento foi formada por André Gomes (baixo), André Tandeta (bateria) e dois tecladistas: Marcos Nimrichter e Ricardo Leão. Nico Assumpção toca baixo acústico na faixa “When Sunny Gets Blue”. O grupo ainda contava com um experiente naipe de metais formado por Zé Nogueira (sax alto e soprano), Zé Carlos Ramos, o Bigorna (sax alto), Chico Sá (sax tenor), Bidinho (trompete) e Serginho Trombone (trombone).

A reunião desses experientes músicos com Biglione e Cássia no estúdio rendeu um ótimo disco. Diria até que é um dos melhores com a voz dela. Há versões seminais de clássicos como "I´m a Hoochie Coochie Man" (de Muddy Waters), "I Ain´t Supertitious" (clássico de Howlin Wolf que o Jeff Beck Group regravou no final dos anos 60) e "Prision Blues" (do disco solo de Jimmy Page chamado Outrider). Há também uma faixa de autoria de Jimmi Hendrix (If Six Was Nine), que ganhou um arranjo focado no blues.

Ela também canta "Got to Get You Into My Life" (dos Beatles) de forma brilhante, sustentada pelo ótimo naipe de metais. E os solos de Biglione jamais se sobrepõem ao vocal da Cássia. Pelo contrário: valorizaram ainda mais a interpretação dela.

O lançamento do disco, que aconteceu em dezembro de 2022, quando Cássia teria completado 60 anos (ela faleceu em 2001), acabou sendo uma bela homenagem para a cantora. E foi importante para mostrar o quanto de talento que ela tinha em sua arte de interpretar música. Vale muito a audição, do início ao fim. 


Got to Get You Into My Life


I´m a Hoochie Coochie Man


 Prision Blues



sexta-feira, 17 de março de 2023

.: Crítica musical: Consuelo de Paula traz Maryakoré para o palco


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

A cantora e compositora Consuelo de Paula está realizando uma série de shows em cidades paulistas, baseados no seu último disco, intitulado "Maryakoré". Um trabalho de qualidade e extremo bom gosto, com fonte de inspiração em diversos ritmos tradicionais brasileiros.

Além de assinar todas as composições, Consuelo é responsável pela direção, pelos arranjos e violões e por algumas percussões no disco. Ao interpretar letras carregadas de imagens e sensações, ao dedilhar os ritmos que passam por Minas Gerais e pelos sons dos diversos “brasis”, nota-se a artista imersa em sua história: vida e a arte integrada às canções.

O violão, seu instrumento de composição, nesse trabalho funciona como parte de seu corpo; tamanha a sincronia que comanda e orienta os ritmos que dão originalidade à obra. Consuelo gravou o violão e a voz juntos, ao vivo no estúdio, transpondo para o disco a naturalidade e a energia original das canções. O belo resultado pode ser conferido em faixas como "Arvoredo", "Chamamento" e a que deu título ao disco ("Maryakoré"). É nítida a influência de ritmos ligados a tradição indígena e africana em sua obra.

Em alguns momentos o violão silencia as cordas para servir de tambor. Em outros se ausenta para deixar fluir a voz à capela. E as cordas produzem somente um pizzicato para acompanhar o movimento da melodia e, às vezes, soa como percussão e instrumento harmônico.

A voz de Consuelo de Paula é um capítulo à parte. Dona de um timbre forte e agradável, ela consegue transmitir uma emoção que cativa o ouvinte logo na primeira audição. E ainda é capaz de compor canções carregadas de imagens e mensagens fortes.

Com oito discos gravados, Consuelo de Paula é cantora, compositora, poetisa, diretora artística e produtora musical. Possui músicas gravadas por Maria Bethânia (“Sete Trovas” - CD Encanteria, também lançada em single, em 2021) e Alaíde Costa (“Bem-me-quer” - CD Porcelana, com Gonzaga Leal). Apresentou-se no Gran Rex, em Buenos Aires, foi destaque na capa do Guia Brasilian Music (Japão), que elegeu os 100 melhores discos da música brasileira, e gravou o programa "Ensaio", de Fernando Faro (TV Cultura). 

Sua discografia teve início com a trilogia "Samba, Seresta e Baião" (1988), "Tambor e Flor" (2002) e "Dança das Rosas" (2004), da qual foi lançada a coletânea "Patchworck", no Japão. Em 2011, lançou o DVD "Negra", seguido pelos CDs: "Casa" (2012), "O Tempo e O Branco" (2015), "Maryakoré" (2019) e "Beira de Folha" (2020, em parceria com o violeiro João Arruda). Consuelo também lançou o livro "A Poesia dos Descuidos", com cartões de arte de Lúcia Arrais Morales.

Estas apresentações integram o projeto "Maryákoré", de Consuelo de Paula, contemplado pelo ProAC, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo, no Edital Nº 16/2022 - Música Popular / Circulação de Espetáculo.  As demais datas da circulação serão divulgadas oportunamente.

Serviço
Show:
Consuelo de Paula em "Maryákoré"
Consuelo de Paula (voz, violão) e Guilherme Ribeiro (piano e acordeon).
Duração: 60 minutos. Classificação: livre.

Campinas
30 de março. Quinta, às 20h
Centro Cultural Casarão
R. Maria Ribeiro Sampaio Reginato, s/n -  Barão Geraldo. Campinas/SP
Gratuito. Retirar até 1h antes do espetáculo.

Jundiaí
31 de março. Sexta, às 20h
Teatro Polytheama
Rua Barão de Jundiaí, 255. Jundiaí/SP.
Gratuito. Retirar na bilheteria a partir de 30/3 (limite de 2 ingressos por pessoa).

"Andamento"

"Maryakoré"

"Chamamento"

terça-feira, 14 de março de 2023

.: Entrevista: Natascha Falcão e a essência da arte de cantar e atuar


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

O que move um artista no sentido de desenvolver sua arte de forma plural? Para alguns, trata-se da eterna busca de mostrar a sua essência como pessoa nos personagens e cantando as músicas. É o que diz a jovem e talentosa Natascha Falcão, que além de estrear em novelas da Rede Globo, acaba de lançar um disco autoral, intitulado "Ave Mulher", que já chama a atenção da crítica especializada. Em entrevista para o portal Resenhando.com, ela explica como foi o processo de criação do disco e revela suas referências no campo da atuação como atriz e na música. “Eu divago tudo o que eu sou na música”.


Resenhando.com - Seu trabalho na música parece se fundir com o de atriz. A canção título de seu disco ("Ave Mulher") mostra um lado performático forte, com gestos e mensagem contundentes. Como foi que você chegou nessa forma de interpretação na música?
Natascha Falcão -
Eu acho que divago tudo o que sou na música. Toda a minha trajetória artística, que vem do teatro, da dança, buscando revelar tudo o que há de mais íntimo, verdadeiro, o que tem a ver com a nossa alma. Eu acho que a música nos dá essa possibilidade. É um campo fértil. Cantar uma música é uma forma de expressão muito completa. No caso do vídeo da canção Ave Mulher, teve muita pesquisa. A direção de movimento foi do Renan Martins, um grande amigo que volta a meia está na Europa. Tudo isso contribuiu para o que resultou no vídeo que está postado no youtube. Fiquei muito contente com o resultado.

Resenhando.com - Pernambuco revelou nomes importantes como Alceu Valença e Lenine. Fale sobre as suas principais influências na seara da música.
Natascha Falcão -
Eu escuto tanta coisa. Ouço muita música nordestina, feita pelo Alceu Valença. Curto muito o grupo Baco Exu do Blues. Amo música espanhola. E as cantoras que praticamente era atrizes no palco, como Elis Regina e Maria Bethânia. Minha avó gostava de ouvir Carmen Miranda, que nem é da minha época, mas gostava de ouvir suas interpretações. Gal Costa é outra referência importante. Isso sem contar a música pop que curtia na minha infância, com as cantoras Britney Spears, Christina Aguilera, Beyonce e Lady Gaga entre outras. Todas me inspiraram muito na minha formação.

Resenhando.com - Nesse disco de estreia você já tem quatro composições autorais feitas em parceria com outros músicos. Como funciona o seu processo de elaboração na música?
Natascha Falcão - 
Meu processo de criação na música é bem variado. Em Banho de Flor, por exemplo, eu estava em casa ouvindo Bethânia e comecei a cantarolar o refrão. Depois pedi auxílio para minha amiga, Marina Duarte, que ajudou a dar sequência para a canção. Mas não tem uma regra específica não. Na maioria das vezes a letra vem junto com a melodia, ou vice e versa.


Resenhando.com - Fale sobre sua experiência como atriz na Rede Globo. E quais são as suas referências na seara da interpretação?
Natascha Falcão - 
As primeiras referências que vêm na minha mente são Fernanda Montenegro e Meryl Streep. Eu acho elas muito fortes. Os atores emprestam suas almas para os personagens. Eu acho muito bonito quem consegue mostrar a sua identidade, a sua alma. E eu acho que elas fazem isso.de uma maneira muito preciosa.

Resenhando.com -Como estão os planos para divulgação do disco? Pretende realizar shows pelo País?
Natascha Falcão - 
Estou fazendo shows pelo Sesc, em cinco cidades do Rio de Janeiro. Estou programando shows para Pernambuco, também em cinco cidades. Tem uma perspectiva de show em Santa Catarina. E também quero muito ir para São Paulo mostrar esse trabalho. Estou muito contente com a recepção do público ao trabalho, que como disse no início da entrevista, mostra muito da minha essência como pessoa. Agradeço muito pela oportunidade de poder falar sobre o disco.


"Ave Mulher"

"Por que"

"Banho de Flor"


sexta-feira, 10 de março de 2023

.: O voo musical de Natascha Falcão, por Luiz Gomes Otero

Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

“Ave Mulher” é o título do álbum que a pernambucana Natascha Falcão lançou pela gravadora Biscoito Fino. Nesse trabalho ela investe em uma sonoridade com forte influência dos ritmos musicais do Nordeste, que se mesclam com sons da MPB e da música pop internacional.

Nascida em Recife, Natascha fez sua estreia na carreira artística como atriz, em 2006. Em 2015 integrou uma banda, experiência que lhe abriu novos horizontes: “Apesar de sempre ter cantado, foi ali que a música entrou mais forte na minha vida, nesse lugar de performance e expressão”, pontua a artista.

“Ave Mulher” revela ainda a faceta compositora de Natascha Falcão em quatro faixas: “Banho de flor (com Marina Duarte); “Mastigar estrelas” (com Rafael Duarte); “Feito vento” (com Marina Duarte) e “Mapa da alegria” (com Beto Lemos e Marco Axé).

Foto: divulgação

A música pernambucana faz parte da influência de Natascha, como o coco, maracatu, frevo, ciranda, forró e o mangue beat.  Mas como sempre ouviu muita MPB e música internacional, ela acabou incorporando esses sons também em seu trabalho.

Canção que dá nome ao álbum, “Ave mulher” é inspirada em uma lenda do agreste pernambucano, na qual a ave em questão simboliza abundância, entrega e alegria.  Com produção musical de Beto Lemos e Carlos do Complexo, o álbum cria uma narrativa que mistura fantasia e realidade para expressar um arquétipo feminino contemporâneo. Através da poesia e do conceito visual que o amarra, o álbum fala de mistério, liberdade, vulnerabilidade e força.

No repertório do álbum está “Por que”, uma bela canção composta por Otto, outro músico pernambucano que contribuiu para abrir espaço para novos músicos nordestinos.

O trabalho como atriz também acaba de ganhar novo impulso. Depois de participar de oficinas para atores da Rede Globo, Natascha foi convidada para participar de duas produções. Em “Mar do Sertão”, novela das 18 horas, cantou no casamento dos personagens Candoca e Zé Paulino, a convite do diretor Allan Fiterman. Em “Vai na Fé”, da faixa das 19 horas, Natascha vive Carmem, affair do personagem de José Loretto, em participação especial.

Como cantora e artista da música, brilhou na edição de 2021 do Festival Mimo, em uma performance arrebatadora que amplificou a curiosidade sobre o seu trabalho.

O álbum “Ave Mulher” pode ser ouvido nas plataformas de música. Ao mesmo tempo raiz e renovação, a música de Natascha Falcão pode ser classificada como pós mangue beat. “Ser nordestina é uma parte muito importante da minha identidade e construção, mas é engraçado como a gente se sente mais do Nordeste quando sai de lá”, conclui a artista, radicada no Rio de Janeiro há 10 anos. 

Foto: divulgação

Ouça o álbum: https://orcd.co/avemulher_nataschafalcao 


Ave Mulher


Banho de flor




sexta-feira, 3 de março de 2023

.: Alceu Valença visita o erudito em "Valencianas II", por Luiz Gomes Otero

Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Alceu Valença voltou a se reunir com a Orquestra Ouro Preto para revisitar sua extensa obra musical em uma apresentação ao vivo. O show aconteceu em 2020 em Portugal e a exemplo do disco anterior, lançado em 2012, apresenta um resultado acima da média.

"Valencianas II" foi gravado em um show realizado na Casa da Musica na Cidade do Porto, em Portugal. E de uma certa forma complementa o repertório do primeiro volume. Alceu tem uma vasta obra que permanece atual e rica em poesia e musicalidade.

Nesse set list foram incluídas canções como "Tomara", "Solidão", "Pelas Ruas Que Andei", "Na Primeira Manhã" e "Como Dois Animais", que se mesclam com perfeição com outras menos conhecidas de seu repertório, como "Samba do Tempo" e "Tesoura do Desejo". A inserção de arranjos com orquestra sinfônica deixou ainda melhor as suas inspiradas composições. A regência é do maestro Rodrigo Toffolo e os arranjos são de Mateus Freire, que foi fiel a essência da obra do músico pernambucano.

Em "Pelas Ruas Que Andei", Alceu canta a capela o refrão com o público, mostrando que sua obra continua cativando fãs de várias gerações. E no final, ele faz uma ótima releitura de "Taxi Lunar", do amigo Geraldo Azevedo, outro expoente nordestino da nossa música.

Mesclar a música de Alceu Valença com arranjos de orquestra deixou ainda melhor o que já era bom de se ouvir. É sempre um prazer redescobrir o trabalho desse que é um dos maiores talentos que o nordeste produziu para a nossa música.


Na Primeira Manhã


Tomara


Solidão



sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

.: Entrevista: Filó Machado comemora 60 anos de carreira


Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

O cantor e compositor Filó Machado está completando 60 anos de carreira em plena atividade. Dono de um currículo invejável, que inclui parcerias com nomes como Michel Legrand, Djavan, João Donato e Jorge Vercilo, só para citar alguns exemplos, ele segue produzindo novas canções e se diz sempre aberto para novas parcerias que surgirem no futuro.

Em entrevista para o Resenhando, ele fala sobre o início da carreira, quando pavimentou o caminho da música nos bailes e lembra algumas passagens marcantes, como os shows no exterior e a sua rápida experiência como jogador de futebol. “A música sempre norteou e continua direcionando a minha vida”.

Resenhando.com – Como foi o seu início na música?
Filó Machado – Eu vim de uma família de músicos de Ribeirão Preto. Então, seguir nessa linha foi algo até natural. Mas o curioso é que também gostava de futebol. Cheguei a jogar profissionalmente na segunda divisão do campeonato paulista. Fui colega do Sócrates, que depois se consagraria no Corínthians e na seleção brasileira. Mas o fato é que, mesmo jogando, nunca abandonei a música. Sempre saia da concentração para tocar a noite nos bailes, que foram a minha escola como músico e intérprete.

Resenhando.com – Foi difícil chegar até o seu primeiro disco, de 1978?
Filó Machado – As portas foram abrindo de forma natural. Fiz uma parceria com o Djavan e até toquei no álbum dele, o Seduzir. Ele colocou letra na canção Jogral, que eu tinha feito originalmente como uma peça instrumental, em homenagem a uma casa de shows de São Paulo onde eu e tantos outros tocaram. De uma certa forma essa parceria contribuiu para chamar a atenção de pessoas do meio musical nas gravadoras.

Resenhando.com – Seu currículo chama a atenção pela diversidade de estilos. Vai do jazz a MPB com trabalhos feitos com nomes consagrados daqui e do exterior. Como você conseguiu fazer isso?
Filó Machado – Eu sempre coloquei a música em primeiro plano. Sempre estive aberto para parcerias. O Michel Legrand, por exemplo, me viu tocar no exterior e quis me conhecer. Ele já era um nome consagrado naquela ocasião. Acabamos virando parceiros. Recentemente fiz uma parceria com o Jorge Vercilo que surgiu quase que naturalmente. Nós nos encontramos e percebemos que tínhamos muitas coisas em comum na música. Eu sempre fui aberto para a música. Nunca coloquei barreiras para as eventuais parcerias que foram surgindo ao longo dos anos. Creio que isso facilitou essa mescla de estilos que você citou.

Resenhando.com – Seus filhos também seguiram a carreira musical?
Filó Machado – Sim. Meu filho Sérgio Machado é baterista e já tocou comigo, assim como meu neto, Felipe Machado. Como você pode perceber, a saga continua (risos).

Resenhando.com – Como estão os planos para shows?
Filó Machado – Temos um show programado para o Sesc Pompeia, na Capital Paulista, nos dias 25 e 26 deste mês. A pianista Léa Freire, o cantor Dom Paulinho Lima e a cantora Liv Moraes são convidados especiais nas duas noites, ao lado de artistas integrantes da “Família Machado” - Alessandro Machado (violão e voz),  Isabela Mestriner (voz), Victor Machado (beats) e Marcelo Machado (artista visual que irá criar uma obra durante as apresentações). O grupo de apoio conta com  Felipe Machado (violão e voz), Carlinhos Noronha (baixo), Vitor Cabral e Sérgio Machado (bateria), João Paulo Ramos Barbosa (sax e flauta) e Fábio Leandro (piano e teclados). Todos os artistas envolvidos no espetáculo fazem parte da minha história, assim como Pitchu Borelli, que assina a direção musical, e Camila Machado, na idealização.

Resenhando.com – Mesmo tendo lançado discos, você não teve a mesma projeção que tiveram outros nomes na música. Na sua opinião, a que se deve isso?
Filó Machado – Eu lancei discos por gravadoras menores, sem muito espaço nas rádios. Esse pode ter sido um fator que contribuiu para isso. Mas nunca tive problema. Os shows que fiz sempre tiveram boa aceitação do público. E no meio musical sempre tive espaço e respeito. Estou vendo como posso utilizar melhor as redes sociais para divulgar meu trabalho. Esse é um ponto que posso e devo aprimorar na divulgação.

Resenhando.com – Que mensagem você deixaria para quem está iniciando na música?
Filó Machado – Meu conselho é para que todos nunca deixem de se dedicar ao seu instrumento. Pratiquem bastante e procurem sempre se aprimorar como músicos. A dedicação é um fator fundamental para o sucesso na música.

Serviço
Show Filó Machado Sexteto e Convidados
Data:
25 e 26 de fevereiro de 2023
Horários: Sábado, às 21h | Domingo, às 18h
Ingressos: R$ 40 (inteira), 20 (meia-entrada) e R$ 12 (Credencial Plena do Sesc)
Ingressos disponíveis no Portal Sesc e nas bilheterias das unidades.
Duração: 60 minutos. Classificação: livre. Local: Teatro do Sesc Pompeia.


Sesc Pompeia
Rua Clélia, 93 - Pompeia. São Paulo/SP.
Telefone:
(11) 3871-7700
Não possui estacionamento.
Para informações sobre outras programações, acesse o portal.
sescsp.org.br/pompeia | Nas redes: @sescpompeia.


"Jogral"

"Esse Mundo É Meu"

"Maracangalha"


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